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Espanha no Coração 2020

Federico Garcia Lorca

Garcia Lorca, irmão


Sou eu, mais uma vez…
Venho negar à humana condição
A humana pequenez
Da ingratidão.

Venho e virei enquanto houver poesia,


Povo e sonho na Ibéria.
Venho e virei à tua romaria
Oferecer-te a miséria
Duma oração lusíada e sombria.

Venho, talefe branco da Nevada,


Filho novo de Espanha!
Venho, e não diga nada;
Deixa um pobre poeta da montanha
Trazer torgas á roa de Granada.

Indomável cigano
Dos caminhos do tempo e da ventura,
sensual e profano,
O teu génio floresce cada ano…
Venho ver-te crescer da sepultura!

Bruxo das trevas onde alguém te quis,


Nelas arde a paixão do que escreveste!
sete palmos de terra, e nenhum diz
Que secou a raiz,
Que partiste ou morreste!

Uma luz que é o aceno da verdade


Abre-se onde os teus versos vão abrindo…
A eternidade,
Na pureza da sua claridade,
sobre o teu nome, universal, caindo…

E o peregrino vem.
Reza devotamente,
Põe no altar o que tem,
E regressa mais livre e mais contente…
Assim o faço eu, também!

Samuel Moura A BARRACA


Espanha no Coração 2020

Canção de Inverno

Cantam. Cantam.
Onde cantam os pássaros que cantam?

Choveu. Ainda os ramos


estão sem folhas novas. Cantam. Cantam
os pássaros. Onde cantam
os pássaros que cantam?

Não tenho pássaros presos.


Não há meninos que os vendam. Cantam.
O vale fica distante. Nada…

Eu não sei onde cantam


os pássaros – cantam, cantam -,
os pássaros que cantam.

Samuel Moura A BARRACA

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