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Dina Baptista | www.sebentadigital.

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EB 2,3/S de Vale de Cambra
2010 /2011

| Português – 10º ano | Poetas do Séc. XX

Poesia do Século XX
Objectivos a alcançar:

. Poesia e Poeta: tentativas de definição


. Contextualização: Modernismo/Geração de
Orpheu/Fernando Pessoa; Presencialismo e Neo-realismo
. Conhecer vários poetas portugueses e de expressão
lusófona
. Identificar várias temáticas
. Identificar recursos estilísticos e saber evidenciar o seu
valor expressivo
. Saber analisar a estrutura formal de um poema
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Definir POESIA
nome feminino
3.arte que se distingue tradicionalmente da prosa pela
composição em verso e pela organização rítmica das
palavras, aliada a recursos estilísticos e imagéticos
próprios
2. composição literária em verso
3. conjunto das obras em verso, escritas numa língua ou próprias de
uma época, de uma escola literária, de um autor, etc.
4. característica poética que pode estar presente em qualquer obra de
arte
5. carácter daquilo que, por ser considerado belo ou ideal, desperta uma
emoção ou sentimento estético
6. figurado harmonia
7. figurado inspiração
(Do gr. poíesis, «acção de fazer alguma coisa», pelo it. poesia, «poesia»)

In Dicionário de íngua portuguesa, 2011, Porto Editora


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Poeta, sim, poeta...


É o meu nome.
Um nome de baptismo
Sem padrinhos...
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior O nome do meu próprio nascimento...
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja O nome que ouvi sempre nos caminhos
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor! Por onde me levava o sofrimento...

É ter de mil desejos o esplendor


E não saber sequer que se deseja! Poeta, sem mais nada.
É ter cá dentro um astro que flameja, Sem nenhum apelido.
É ter garras e asas de condor!
Um nome temerário,
É ter fome, é ter sede de Infinito! Que enfrenta, solitário,
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
A solidão.
É condensar o mundo num só grito!
Uma estranha mistura
E é amar-te, assim, perdidamente... De praga e de gemido à mesma altura.
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente! O eco de uma surda vibração.
Florbela Espanca Miguel Torga
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O que é a Poesia?
Lavoisier

Ver Claro
Toda a poesia é luminosa, até Na poesia,
a mais obscura.
O leitor é que tem às vezes, natureza variável
em lugar de sol, nevoeiro dentro de si. das palavras,
E o nevoeiro nunca deixa ver claro.
nada se perde
Se regressar
outra vez e outra vez ou cria,
e outra vez tudo se transforma:
a essas sílabas acesas
ficará cego de tanta claridade. cada poema
Abençoado seja se lá chegar. no seu perfil
Eugénio de Andrade, Os Sulcos da Sede incerto
Conselho e caligráfico,
Sê paciente; espera já sonha

Que a palavra amadureça outra forma.

E se desprenda como um fruto Carlos de Oliveira

Ao passar o vento que a ameaça.


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Eugénio de Andrade, Poesia
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CARAVELAS

Cheguei a meio da vida já cansada Vila Viçosa


De tanto caminhar! Já me perdi! 1894 - 1930
Dum estranho país que nunca vi
Sou neste mundo imenso a exilada.
Ideias-Chave
Tanto tenho aprendido e não sei nada. . Sofrimento, solidão e
E as torres de marfim que construí desencanto;
Em trágica loucura as destruí . Imensa ternura e um desejo de
Por minhas próprias mãos de malfadada! felicidade e plenitude que só
poderão ser alcançados no
Se eu sempre fui assim este Mar morto: absoluto, no infinito;
Mar sem marés, sem vagas e sem porto . carácter confessional,
Onde velas de sonhos se rasgaram! sentimental;
. Poetisa de excessos, cultivou
Caravelas doiradas a bailar... exacerbadamente a paixão, com
Ai quem me dera as que eu deitei ao Mar! voz marcadamente feminina
As que eu lancei à vida, e não voltaram!... (na qual alguns críticos encontram
Florbela Espanca, «Charneca em Flor», 1930 dom-joanismo no feminino).
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"Viver sempre também cansa!


Porto
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
1900-1985
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinza, negro, quase verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.
O Mundo não se modifica. Ideias-Chave:
As árvores dão flores, . “Poeta Militante”: representante do
folhas, frutos e pássaros artista social e politicamente
como máquinas verdes. empenhado nas suas reacções e
As paisagens também não se revoltas face aos problemas e
transformam. injustiças do mundo.
Não cai neve vermelha, . Influências variadas:
não há flores que voem, - empenhamento neo-realista;
a lua não tem olhos -visionarismo surrealista;
e ninguém vai pintar olhos à lua. -saudosismo
Tudo é igual, mecânico e exacto. . Dialéctica constante entre a
Ainda por cima os homens são os homens. irrealidade e a realidade, entre as
Soluçam, bebem, riem e digerem suas tendências individualistas e a
sem imaginação. necessidade de partilhar o
(…) sofrimento dos outros.
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José Gomes Ferreira
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Ignoto Deo
Vila do Conde
Desisti de saber qual é o Teu nome, 1901-1969
Se tens ou não tens nome que Te demos,
Ou que rosto é que toma, se algum tome,
Teu sopro tão além de quanto vemos.
Ideias-Chave:
Desisti de Te amar, por mais que a fome . Fundador da revista
Do Teu amor nos seja o mais que temos, "Presença"
E empenhei-me em domar, nem que os não dome, . Conflitos entre Deus e o
Meus, por Ti, passionais e vãos extremos. Homem, o espírito e a carne,
o indivíduo e a sociedade;
Chamar-Te amante ou pai... grotesco engano . Consciência da frustração
Que por demais tresanda a gosto humano! de todo o amor humano;
Grotesco engano o dar-te forma! E enfim, . Orgulhoso recurso à
solidão;
Desisti de Te achar no quer que seja, . Problemática da
De Te dar nome, rosto, culto, ou igreja... sinceridade e do logro perante
– Tu é que não desistirás de mim! os outros e perante a si
José Régio, in 'Biografia' mesmos.
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Encontro
Porto
Felicidade, agarrei-te 1904-1984
Como um cão, pelo cachaço!
E, contigo, em mar de azeite
Afoguei-me, passo a passo...
Dei à minha alma a preguiça
Que o meu corpo não tivera. Ideias-Chave:
E foi, assim, que, submissa, . Tenta conciliar:
Vi chegar a Primavera... -a expressão metafórica elaborada
Quem a colher que a arrecade com a tradição popular;
(Há, nela, um segredo lento...) - o paganismo com a formação
Ó frágil felicidade! católica;
— Palavra que leva o vento, -a expressão do corpo - às vezes
E, depois, como se a ideia erótica - com valores religiosos.
De, nos dedos, a ter tido . Usa uma linguagem próxima da
Bastasse, por fim, larguei-a, oralidade e com bastante força
Sem ficar arrependido... telúrica;
. Manifestou interesse pelo folclore
Pedro Homem de Mello, in "Eu Hei-de Voltar um e pelas danças populares.
Dia" 8
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Pedra filosofal
Lisboa
Eles não sabem que o sonho 1906-1997
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso, Ideias-Chave:
como este ribeiro manso . Figura de referência incontornável no
em serenos sobressaltos, imaginário colectivo do povo português,
como estes pinheiros altos principalmente para toda a geração da
que em verde e oiro se agitam, "Pedra Filosofal”;
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul. . Sonha a harmonia do mundo:
igualdade na desigualdade; fraternidade
Eles não sabem que o sonho na competição ou na luta de instintos; a
é vinho, é espuma, é fermento, liberdade íntima e cívica;
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo, . Crença no aperfeiçoamento
que fossa através de tudo incessante e progressivo da espécie
num perpétuo movimento. (…) humana. 9
António Gedeão
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Orfeu rebelde, canto como sou:


Canto como um possesso S. Martinho de Anta-
Que na casca do tempo, a canivete, Sabrosa
1907-1995
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade do meu sofrimento.

Outros, felizes, sejam os rouxinóis... Ideias-Chave:


Eu ergo a voz assim, num desafio: . Poeta do mundo rural, das
Que o céu e a terra, pedras conjugadas forças telúricas, ancestrais, que
Do moinho cruel que me tritura, animam o instinto humano na sua
Saibam que há gritos como há nortadas, luta dramática contra as leis que o
Violências famintas de ternura. aprisionam.
. A missão do poeta:
Bicho instintivo que adivinha a morte -violência com que acusa a tirania
No corpo dum poeta que a recusa, divina e terrestre;
Canto como quem usa -ternura franciscana que estende,
Os versos em legítima defesa. de forma vibrante, a todas as
Canto, sem perguntar à Musa criaturas no seu sofrimento.
Se o canto é de terror ou de beleza.
Miguel Torga 10
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Fontes:
http://www.astormentas.com/
http://alfarrabio.di.uminho.pt/
http://cvc.instituto-camoes.pt/index.php

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