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Práticas Assistenciais em Pediatria e Neonatologia
Práticas Assistenciais em Pediatria e Neonatologia
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..................................................................................... 7
2
6.1.2 Gânglios ....................................................................................... 35
6.1.4 Musculatura.................................................................................. 36
7.10.1 Inspeção..................................................................................... 48
7.12 Ânus............................................................................................ 53
3
8.2 Fatores de risco para ih .............................................................. 58
9 ALEITAMENTO MATERNO............................................................... 74
4
9.5 Técnica de amamentação ........................................................... 80
10.5.3 Antropometria............................................................................. 98
5
12 A INTERNAÇÃO DOMICILIAR COMO ESTRATÉGIA DE ATENÇÃO
AO RECÉM-NASCIDO ........................................................................................ 127
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
7
2 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA)
8
Por “absoluta prioridade” significa que a criança e o adolescente terá
preferência para receber proteção e socorro, assim como a
precedência de atendimento nos serviços públicos.
Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.
Cabe aos pais o dever de sustento, guarda e educação dos filhos
menores. Igualmente, os pais têm a obrigação de matricular seus
filhos na rede regular de ensino.
O dever do Estado em assegurar à criança e ao adolescente o ensino
fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para aqueles que não
tiveram acesso na idade própria.
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VI. Garantir e fiscalizar os direitos e deveres da criança e do adolescente
VII. Participar de ações que combata a violência, a discriminação no
ambiente escolar, familiar e comunitário.
2.2 Sanções
2.3 Origem
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3 LEI DO ACOMPANHANTE
3.1 Direitos
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4 ATENÇÃO HUMANIZADA AO RECÉM - NASCIDO DE BAIXO PESO
(MÉTODO CANGURU)
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com luz, som, dor); o acolhimento à família; a promoção do vínculo mãe/ bebê e do
aleitamento materno; e o acompanhamento ambulatorial após a alta
Foi sob essa perspectiva de minimizar os efeitos negativos da internação
neonatal sobre os bebês e suas famílias que a Área da Criança do Ministério da
Saúde adotou o Método Canguru como uma Política Nacional de Saúde, inserido
no contexto da humanização da assistência neonatal. A Norma de Atenção
Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso – Método Canguru foi lançada em
dezembro de 1999.
Para compreendermos a trajetória do Método Canguru como Política
Nacional de Saúde, no Brasil, é necessário destacar que a humanização no
ambiente da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) é uma questão de
importância crescente na qualidade da atenção ao recém-nascido. Portanto,
humanização e qualidade da assistência não podem ser vistas como fenômenos
dissociados
Essa ampliação do olhar sobre o método foi de fundamental importância
para a sua disseminação no Brasil. Entretanto, outros dois fenômenos também
estão inseridos nesse contexto. Primeiro, o crescente reconhecimento, por parte
das equipes de neonatologia, da importância dos cuidados maternos para a
recuperação dos bebês e, em segundo lugar, o momento atual no qual a
humanização da assistência tem sido apresentada como política nacional do
Ministério da Saúde
Todos os anos nascem no mundo 20 milhões de recém-nascidos de baixo
peso, muitos em conseqüência de um parto prematuro. Isso contribui de maneira
substancial para a elevada taxa de mortalidade neonatal ainda existente em várias
regiões, principalmente nos países pobres (OMS, 2004). No Brasil, desde o início
da década de 1990, a Mortalidade Neonatal passou a ser o principal componente
da Mortalidade Infantil, em função, principalmente, da redução proporcional de
óbitos pós-neonatais e da manutenção do componente neonatal precoce (Lansky
et al., 2002).
Essa maior visibilidade dos óbitos neonatais em nosso meio, decorrente até
mesmo da melhoria dos sistemas de informação, condicionou a inclusão da
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assistência obstétrica e neonatal, em seus diferentes níveis de complexidade, na
agenda de prioridades das políticas de saúde nos três âmbitos de gestão do nosso
sistema de saúde (Gomes, 2004).
Embora a redução da morbimortalidade neonatal esteja atrelada a uma
série de intervenções que buscam a melhoria das condições do pré-natal e da
atenção ao parto e nascimento, uma intervenção que se mostrou relevante nos
últimos anos foi a implantação de leitos neonatais capazes de atender recém-natos
de baixo peso, prematuros e/ou gravemente enfermos (Gomes, 2002).
A necessidade de ampliação de leitos para atendimento de recém-nascidos
de risco torna indispensável uma maior compreensão do ambiente de internação
neonatal. Nesse contexto, temos observado a crescente produção de estudos sobre
as especificidades desse período e do impacto do ambiente da terapia intensiva
sobre o desenvolvimento infantil nas múltiplas dimensões da vida futura do bebê e
sua família (Lamy, 2000; Santoro & Santoro, 2002).
Os trabalhos pioneiros de Klaus & Kennell (2000), destacando a importância
dos cuidados maternos para o melhor desenvolvimento do bebê, chamam a atenção
para os efeitos que a separação precoce e prolongada entre mãe e bebê podem
trazer como fator de risco para atraso no desenvolvimento e seqüelas neurológicas
14
do Método Canguru em outros países foi também obtido através dos relatos de
experiências por ocasião dos encontros mundiais voltados para a discussão dessa
temática (International Workshop on Kangaroo Mother Care).
O Método Mãe-Canguru (MMC) foi criado em 1978 pelo dr. Edgar Rey
Sanabria, no Instituto Materno-Infantil (IMI) de Bogotá, na Colômbia. O método
consistia em colocar o bebê entre os seios maternos, em contato pele a pele, na
posição supina (postura preventiva para refluxo gastroesofágico e aspiração
pulmonar). Desta forma, mantendo-se aquecidos com o calor do corpo de sua mãe,
os bebês poderiam sair mais cedo da incubadora e, conseqüentemente, ir mais
cedo para casa, minimizando um grave problema da época: superlotação e
infecção.
Além dessas vantagens, observou-se, desde o início, que o contato pele a
pele precoce e duradouro entre a mãe e o seu filho também favorecia a formação
de vínculos afetivos e um melhor desenvolvimento do bebê, o que despertou
interesse do Unicef por pesquisas e observações desta nova prática. O trabalho
inicial teve continuidade com o dr. Hector Martinez Gómez e, posteriormente, com
o dr. Luis Navarrete Pérez, médicos pediatras da mesma instituição colombiana
(Charpak et al., 1999).
Em 1993 as pediatras dra. Nathalie Charpak e dra. Zita Figueroa
implantaram o Programa Mãe-Canguru na Clínica del Niño do Instituto de la
Seguridad Social (ISS) da Colômbia, com a colaboração de um grupo
multiprofissional. Reunido na Fundação Canguru, que conta com o apoio de uma
ONG suíça (World Laboratory) e da Unión Europea (EED), o grupo difundiu a
técnica, realizando também muitas pesquisas para estudo do Método
Na Colômbia, o programa é predominantemente ambulatorial, com especial
ênfase em um rigoroso acompanhamento do crescimento e desenvolvimento do
bebê (Botero, 2000). O Método Canguru é praticado no domicílio materno,
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inicialmente com acompanhamento diário no ambulatório de seguimento – Casita
Canguro.
Na Colômbia não existe uma Unidade Canguru hospitalar onde mães e
bebês possam permanecer juntos diuturnamente. A fase hospitalar do método tem
como objetivo principal preparar a díade para a prática domiciliar. Nesse período,
denominado de apego, é dada ênfase especial ao aleitamento materno, ao
reconhecimento de sinais de alerta do bebê e à alta precoce.
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publicadas discutem o Método Canguru como uma forma de atenção que ultrapassa
a posição canguru.
Na experiência de Israel os bebês ficam em pele a pele com suas mães
durante uma hora por dia, no mínimo. Os estudos publicados apontaram o cuidado
canguru como uma intervenção que facilita o desenvolvimento sensorial do recém-
nascido promovendo o vínculo com a mãe (Feldman et al., 2002).
Na Índia, em estudos relacionando ganho de peso, aleitamento materno,
tempo de internação e cuidado canguru, o tempo de permanência em posição
canguru é de cerca de quatro horas, e os resultados demonstram que o aleitamento
e o ganho ponderal são melhores nos bebês que permanecem em posição canguru
(Ramanathan et al., 2001).
Uma experiência publicada na África destaca, além dos benefícios na
amamentação, vantagens também quanto à estabilidade fisiológica, diminuição da
infecção e aumento do vínculo nas crianças que estão sob o cuidado canguru
(Kirsten et al., 2001).
Países como a Itália, Alemanha, França, Reino Unido, Espanha,
Dinamarca, Noruega e Suécia, sem dificuldades para alocação de recursos na
atenção à saúde perinatal, o que os diferencia em muito da experiência dos países
menos favorecidos, apresentaram experiências visando, sobretudo, aumentar o
vínculo mãe-filho, desenvolver maior segurança da família no manuseio do seu
bebê prematuro e estimular o aleitamento materno (Wallin et al., 2004; Tallandini et
al., 2004).
Na Alemanha, onde o KMC foi introduzido em 1982, com rápida
disseminação até 1996, dos 175 serviços de Neonatologia investigados, 91% já o
utilizam (Silva, 2003). Na Inglaterra e na Alemanha, estudos voltados para as
repercussões da posição canguru em aspectos fisiológicos como temperatura e
oxigenação concluem que a estratégia é segura e deve ser implementada nas
unidades neonatais (Bauer et al., 1997; Acolet et al., 1989). Outra possível forma de
utilização do Método Canguru é o transporte neonatal. Sontheimer et al. (2004)
dizem que o transporte entre hospitais pode ser seguro quando feito com o recém-
17
nascido em posição canguru – não havendo efeitos fisiológicos deletérios e
apontando vantagens em relação ao transporte em incubadora
Diferentemente da experiência da Colômbia, na Europa o cuidado canguru
está centrado nas unidades neonatais e não são encontradas descrições de práticas
domiciliares. Estudos realizados na Itália e na Espanha reforçam o valor para o
desenvolvimento do bebê, para o aleitamento e para a formação de vínculo. Os
relatos são de tempo curto em contato pele a pele, variando em média de 30 a 90
minutos por dia (Monasterolo et al., 1998).
Na Escandinávia, onde o índice de desenvolvimento humano é alto, o
cuidado canguru também é utilizado nas unidades neonatais, com duração de uma
hora por dia. As publicações analisam parâmetros fisiológicos – temperatura e
alterações metabólicas (Christensson et al., 1992).
Vários estudos realizados nos Estados Unidos em unidades neonatais
comparam o Método Canguru com o cuidado tradicional (incubadoras) em relação
a parâmetros fisiológicos e concluem que o método é seguro para os bebês e
permite maior contato com os pais. Têm sido também estudadas temáticas como
benefício da posição canguru em bebês entubados, efeitos no sono, amamentação
e desenvolvimento (Legault et al., 1995; Ludington-Hoe et al., 2000).
Os trabalhos apresentados no 5o Workshop Mundial do Método Canguru
discutiram as estratégias de difusão e avaliação do método nos diferentes países,
as dificuldades geográficas, as barreiras culturais e, fundamentalmente, a falta de
recursos financeiros dedicados aos cuidados com a saúde nos países em
desenvolvimento.
Nga et al. (2004) em um estudo realizado no Vietnã descreveram a
estratégia de treinamento das equipes de saúde e da difusão da atenção médica,
utilizando-se do Cuidado Canguru em todo o país, como uma ação para diminuir a
morbimortalidade neonatal.
18
4.4 Método canguru no Brasil
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4.5 Estratégias de disseminação
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novos centros de referências: o Hospital Regional de Taguatinga, no Distrito
Federal, e o Hospital Geral de Itapecerica da Serra, em São Paulo.
O processo de capacitação ofereceu aos profissionais a possibilidade de
reflexão acerca de sua prática diária e de construção de uma prática assistencial
pautada no cuidado. Segundo Boff (1999), cuidado representa uma atitude de
ocupação, de envolvimento e de responsabilização com o outro. A partir desta ótica,
a humanização proposta abrange atenção individualizada ao bebê e sua família,
adequação do ambiente, cuidados com o cuidador. Técnicas de manuseio,
vigilância quanto aos sinais de risco, estimulação sensorial positiva através do
contato pele a pele e o acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento
dessas crianças são abordadas nesse curso. A metodologia é calcada em aulas
expositivas, leituras de textos, dinâmica de grupo, dramatizações, debates e
exercícios práticos.
No período de agosto de 2000 a dezembro de 2002, foram realizados 59
cursos com um total de 1.850 profissionais, de 269 maternidades, capacitados no
método (MS, 2003).
21
do acolhimento à família, da construção de rede social e da atenção individualizada
ao bebê.
O Programa, no Brasil, não tem como objetivo a substituição de incubadora
ou de qualquer outra tecnologia ou recursos humanos e sim a promoção de uma
mudança institucional na busca de atenção à saúde, centrada na humanização da
assistência e no princípio de cidadania da família (MS, 2002).
Venâncio & Almeida (2004), em seu trabalho de revisão, citam que a
associação de medidas protetoras como adequação postural, atenuação de ruído e
luminosidade, o contato pele a pele e a participação dos pais no cuidado trazem
novas perspectivas para o desenvolvimento neurocomportamental de bebês
egressos de UTI Neonatal.
A mudança na forma do cuidado neonatal proposta pelo Método Canguru
está baseada em quatro fundamentos básicos: acolhimento do bebê e sua família;
respeito às individualidades; promoção do contato pele a pele o mais precoce
possível; envolvimento da mãe nos cuidados do bebê (Lamy, 2003).
Com sua aplicação dividida em três etapas, a primeira destas está focada
nos aspectos psico-afetivos que cercam o nascimento de um recém-nascido
prematuro ou gravemente enfermo, envolvendo o atendimento de uma equipe
multiprofissional através de intervenção interdisciplinar. Neste momento, aos
cuidados técnicos relativos ao atendimento do RN inclui-se o cuidado à mãe e à
família, no sentido não só de orientar quanto às condições de saúde da criança,
mas também de estimular o livre acesso dos pais à UTI favorecendo o contato tátil
com o RN, assim como a co-participação da mãe nos cuidados com o bebê,
promovendo um processo contínuo na formação da ligação afetiva entre bebês e
seus pais.
O conhecimento sobre estes aspectos vem despertando interesse de vários
pesquisadores, como Klaus et al. (2000), que, na revisão de 17 estudos sobre o
assunto, demonstraram que as primeiras horas e dias após o parto são um período
facilitador da vinculação mãe-bebê.
Winnicott (1990) considera que o holding (relação direta entre os pais e o
bebê, no sentido de reter, conter, sustentar, segurar) é indispensável para o
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desenvolvimento inicial do potencial do bebê, abrangendo tudo aquilo que uma mãe
faz por seu bebê. No caso dos RN prematuros, na UTI, poderíamos dizer: tudo
aquilo que é possível para esta mãe fazer por seu bebê.
Esta etapa exige da equipe neonatal instrumentos que permitam reflexão
sobre suas práticas junto do RN e a sua família, não só quanto aos aspectos
psicossociais, mas também aos cuidados com o ambiente físico da UTI, questão
contemporânea na discussão sobre a boa prática neonatal.
Tem sido muito estudado o impacto do ambiente de terapia intensiva,
repleto de estímulos estressantes e de procedimentos invasivos, que, embora
essenciais para a sobrevivência do RN, têm impacto negativo no seu
desenvolvimento (Hoath, 2001; Bhutta & Anand, 2002). Importantes estratégias
visando minimizar os efeitos do excesso de som, luminosidade e estímulos táteis
vêm sendo utilizadas
No Brasil, a proposta de humanização no cuidado neonatal recebeu
influência da Pediatria do Desenvolvimento e do Newborn Development Care and
Assessment Program (NIDCAP), que propõem uma abordagem de cuidados
individualizados, por meio da atuação interdisciplinar, favorecendo o
desenvolvimento do RN e agindo como facilitador do vínculo mãe-bebê (MS, 2002).
Os estudos de Als et al. (2004) mostram que os prematuros que receberam
cuidados individualizados, isto é, modificação e adaptação dos cuidados fornecidos
em resposta ao reconhecimento individual de suas necessidades, apresentaram
melhor desempenho no desenvolvimento cortical, observado através de uma maior
auto-regulação e comportamento calmo ao longo de intervenções.
O Método Canguru, conforme apresentado em suas diretrizes operacionais,
tem perspectiva interdisciplinar revelando (...) um momento de amadurecimento da
assistência neonatal em que se compreende que o tratamento do RN envolve muito
mais do que apenas a utilização de procedimentos e técnicas (MS, 2002).
A segunda etapa acontece após a estabilidade clínica do bebê e se
caracteriza pelo acompanhamento contínuo da mãe na enfermaria canguru. O
enfoque desta etapa é para a efetiva participação da mãe nos cuidados do bebê e
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no seu desenvolvimento psicoafetivo, base das interações entre a criança e seus
pais.
A formação do vínculo não é um acontecimento imediato, ocorre por meio
de interações sucessivas. Quanto mais oportunidades de interação entre mãe e
bebê mais forte será o vínculo e, conseqüentemente, melhor a resposta materna às
necessidades do filho e menor a probabilidade de negligência, maus-tratos e
abandono
Os trabalhos de Charpak (2001) e os de Anderson et al. (2004) também
mostraram que o contato pele a pele precoce entre a mãe e o RN favorece o senso
de controle (domínio) e autoconhecimento, resultando numa maior confiança e
melhor vínculo mãe-bebê, fator preditivo para uma amamentação duradoura e
cuidados adequados.
A terceira etapa objetiva a continuidade da assistência através do
acompanhamento ambulatorial, individualizado, buscando observar o
desenvolvimento global do bebê, através de um programa de acompanhamento
(follow up).
A importância da identificação precoce de fatores de risco para alterações
no desenvolvimento é largamente descrita na literatura, através de protocolos,
screenings e testes avaliativos específicos para o acompanhamento de bebês de
risco.
Vários estudos confirmam a importância de programas interdisciplinares
preventivos de follow up de prematuros, especialmente no primeiro ano de vida,
com o intuito de promover o desenvolvimento da criança e minimizar as possíveis
seqüelas de saúde do período neonatal (Brofenbrenner, 1996; Charpak, 2001;
Nobre et al., 2004; Oliveira, 2002).
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alimentação complementar adequada e no momento oportuno (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2010).
Seus Critérios Globais compreendem a adesão aos “Dez Passos Para o
Sucesso do Aleitamento Materno” e, no caso do Brasil, à Norma Brasileira de
Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância,
Bicos, Chupetas e Mamadeiras (NBCAL). Os Dez Passos são recomendações que
favorecem a amamentação a partir de práticas e orientações no período pré-natal,
no atendimento à mãe e ao recém-nascido ao longo do trabalho do parto e parto,
durante a internação após o parto e nascimento e no retorno ao domicílio, com apoio
da comunidade. Os Dez Passos são úteis também para capacitar a equipe
hospitalar que trabalha com mães e bebês para informar sobre as vantagens e o
correto manejo do aleitamento materno e sobre as desvantagens do uso dos
substitutos do leite materno, das mamadeiras e das chupetas, entre outros. Estudos
realizados em diferentes países, incluindo o Brasil, concluem que a IHAC é uma
estratégia efetiva e confirmam a coerência e viabilidade dos Dez Passos para o
Sucesso do Aleitamento Materno (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
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6. Não oferecer aos recém-nascidos bebida ou alimento que não seja o
leite materno, a não ser que haja indicação médica
7. Praticar o alojamento conjunto – permitir que mães e bebês
permaneçam juntos - 24 horas por dia
8. Incentivar o aleitamento materno sob livre demanda
9. Não oferecer bicos artificiais ou chupetas a crianças amamentadas
10. Promover grupos de apoio à amamentação e encaminhar as mães a
esses grupos na alta da maternidade
6 EXAME FÍSICO
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relação entre médico e familiares, permitindo o esclarecimento de eventuais dúvidas
dos genitores (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
Portadores de doenças infectocontagiosas não devem entrar em contato
com a criança. Deve-se estar sempre atento ao controle térmico, cuidando para que
o ambiente, as mãos e os instrumentos estejam em temperatura adequada. Lembrar
que o RN tem pouca capacidade de tolerar alterações térmicas ambientais, não
devendo ser exposto nem ao frio nem às temperaturas elevadas (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2012).
Devem-se respeitar as condições da criança e atentar para as
oportunidades apresentadas para se obter as informações. Como regra, o RN como
um todo ou em seus segmentos corporais admite um exame que vai do externo
para o interno e no sentido crânio-caudal. Inspeção, palpação, percussão e ausculta
devem ser aplicadas nos diversos segmentos examinados (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2012).
Se a criança estiver dormindo, essa é uma excelente condição para se aferir
as frequências respiratória e cardíaca, sem interromper seu sono. Essas avaliações,
se obtidas com o RN chorando, terão seu significado clínico prejudicado. A palpação
do abdome também é mais bem executada com o RN dormindo, e torna-se muito
difícil, se não impossível, com ele chorando. Quando a criança abre os olhos, pode-
se examiná-los sem forçar sua abertura; o mesmo se aplica quando abre a boca.
Dessa forma, o exame físico será feito em uma sequência de oportunidades que
devem ser aproveitadas à medida que se apresentem. Por outro lado, é importante
que o registro do exame seja completo no atendimento ao protocolo proposto,
seguindo a sequência do geral para o especial e crânio-caudal, inclusive para se
evitar o esquecimento do registro de algum detalhe. Por vezes, é necessário
complementar o exame em outro momento, por exemplo, quando não foi possível
a palpação cuidadosa do abdome em um bebê que chorava muito no exame
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
O choro intenso da criança, além de atrapalhar o exame clínico, também
perturba os pais e o próprio examinador. É recomendável que se tente confortar o
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RN, interrompendo-se o exame e procurando-se detectar as eventuais causas do
choro prolongado (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
6.1.1 Pele
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Textura.
Umidade.
Cor.
Presença de milium.
Presença de lanugo.
Presença de vérnix.
Presença de mancha mongólica.
Presença de icterícia.
Presença de anomalias.
6.1.1.2 Cor
Fonte: MS/SAS.
31
eritema tóxico, hemangiomas e icterícia devem ser mais bem avaliados quanto ao
diagnóstico diferencial e, eventualmente, à adoção de medidas (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2012).
Milium sebáceo está presente em 40% dos RNs. Manifesta-se por
pequenos pontos brancos (menor que 1mm), localizados na base do nariz, queixo
e fronte, devido à distensão e obstrução das glândulas sebáceas, decorrentes da
ação do estrógeno materno; desaparecem em poucas semanas (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2012).
Lanugo é a denominação dada aos pelos finos que costumam recobrir a
região do ombro e da escápula, encontrados de forma mais abundante nos RNs
prematuros; desaparecem em alguns dias. (Figura 2).
Fonte: MS/SAS.
32
Manchas mongólicas são manchas azul-acinzentadas localizadas
preferencialmente no dorso e nas regiões glútea e lombossacra, podendo ser
disseminadas; traduz imaturidade da pele na migração dos melanócitos,
relacionada a fatores raciais. São mais comuns nas raças negra e oriental e
regridem nos primeiros 4 anos de idade. Essa mancha costuma despertar o
interesse das mães (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
Fonte: MS/SAS.
Eritema tóxico geralmente aparece nos primeiros dias de vida sob a forma
de lesões eritematosas multiformes (pápulas, máculas e até algumas vesículas),
esparsas ou confluentes. O exame microscópico da secreção contida nas lesões
mostra migração eosinofílica. Possui causa desconhecida e pode ser
desencadeado por estímulos mecânicos de atrito ou pressão na pele. Regride
espontaneamente, muitas vezes em poucas horas. Tem aspecto facilmente
confundível com impetigo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
Impetigo é a infecção piogênica, mais comumente causada por
Staphylococcus aureus. Inicia-se com lesões eritematosas puntiformes que em um
ou dois dias evoluem para vesículas, que a seguir se pustulizam ou tornam-se
33
bolhas (impetigo bolhoso). As lesões se propagam por inoculação e, quando se
rompem, formam crostas amarelo-acastanhadas. Deve-se tomar cuidado para não
contaminar outras crianças próximas. O tratamento pode ser tópico com soluções
antissépticas e cremes antibióticos, chegando, nos casos mais graves, a ser
necessária antibioticoterapia sistêmica (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
Máculas vasculares são manchas de cor salmão que desaparecem à
pressão, e estão presentes principalmente na nuca, pálpebra superior e fronte. Não
possuem importância clínica ou estética. As máculas de face desaparecem em
alguns meses, e as da nuca podem persistir por mais tempo. Estão presentes em
25% dos adultos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
Hemangiomas são formas vasculares mais extensas e elevadas que podem
ter significado patológico. Por exemplo, quando localizadas em segmento cefálico
e face, com coloração vinhosa, podem estar associadas a angiomas das
leptomeninges (síndrome de Sturge-Weber), estando relacionadas a convulsões e
hemiplegias. Outra eventualidade é a presença de hemangioma cavernoso,
composto de elementos vasculares maduros e grandes, que na maioria dos casos
cresce durante o primeiro ano de vida, regredindo a seguir. Aproximadamente 50%
dos hemangiomas desaparecem até os 5 anos de idade e 70% até os 7 anos
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
Icterícia, síndrome caracterizada pela cor amarelada da pele decorrente de
sua impregnação por bilirrubina, é achado comum, especialmente nas crianças com
idades entre 48 e 120 horas de vida. Para melhor detecção o exame deve ser feito
sob luz natural. Deve-se descrever a intensidade da coloração amarelada detectada
e sua distribuição nos diferentes segmentos do corpo, haja vista a icterícia evoluir
no sentido crânio-caudal. A icterícia sempre deve ter sua causa investigada se
detectada nas primeiras 24h de vida ou quando apresentar-se de forma intensa.
Quando detectada mais tardiamente, após 24h de vida, pode ser fisiológica ou
patológica (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
Equimosessão manchas comuns nos RNs, sobretudo nos RNs prematuros,
e sua localização depende da apresentação e dos traumas sofridos, especialmente
durante o parto (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
34
Petéquias localizadas, especialmente se restritas ao rosto, não são motivo
de preocupação, mas quando generalizadas devem ser investigadas. A reabsorção
do sangue extravasado pode contribuir para o aumento tardio dos níveis de
bilirrubina (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
6.1.1.3 Subcutâneo
6.1.2 Gânglios
35
6.1.3 Mucosas
6.1.4 Musculatura
36
eixo), agenesias (de rádio, fêmur, tíbia, úmero etc.) devem ser atentamente
procuradas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
No exame das mãos, atentar para as pregas palmares. Prega palmar única
em ambas as mãos associada à ausência de prega falangiana no quinto quirodáctilo
(dedo mínimo) é observada em situações de hipotonia fetal, como na síndrome de
Down (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
A simetria e a adequação da movimentação dos membros devem ser bem
avaliadas. Atenção especial deve ser dada à movimentação dos membros
superiores, que pode estar comprometida por lesões traumáticas do parto
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
As paralisias decorrentes do estiramento exagerado do plexo braquial
durante o parto podem apresentar-se de formas diversas, a depender do grau e
topografia da lesão. O RN fica com o membro superior paralisado, em rotação
interna, devendo ser descartadas fraturas de clavícula ou da região proximal do
úmero, que podem coexistir com a lesão neurológica ou simulá-la (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2012).
As lesões neurológicas podem ser leves (neuropraxia) quando o distúrbio
motor é devido ao edema da raiz nervosa, e desaparece entre uma e duas semanas,
com recuperação completa da função. Felizmente essa é a forma mais comum.
Entretanto, quando há ruptura das fibras nervosas (axonotmese), a recuperação é
mais lenta e incompleta. Nos casos mais graves, há ruptura completa da raiz
(neurotmese) e a recuperação espontânea nunca ocorre (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2012).
A manifestação clínica da paralisia vai depender da topografia da lesão.
Quando ocorre nas raízes C5-C6 (paralisia de Erb-Duchenne) afeta
preferencialmente os músculos do ombro e o cotovelo, preservando a mão. Quando
a mão é afetada e a musculatura do ombro é preservada, a lesão encontra-se nas
raízes C7-C8-T1 (paralisia de Klümpke). Na lesão total, todas as raízes são lesadas
e o membro superior é balouçante, podendo inclusive haver paralisia diafragmática
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
37
A fratura de clavícula, intercorrência ainda mais frequente que as paralisias,
pode causar restrições de movimentação do membro correspondente devido à
intensa dor, podendo mimetizar uma paralisia obstétrica. O diagnóstico é feito pela
palpação da clavícula; se houver fratura, pode-se sentir crepitação local e observar
manifestação de dor no RN. A evolução clínica da fratura de clavícula costuma ser
benigna e a simples utilização de tipoia e a manipulação cuidadosa do membro
envolvido já é suficiente para o seu tratamento. Não é necessária realização de
exame radiológico, já que o achado não muda a conduta clínica (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2012).
A articulação coxo-femural deve receber atenção especial. É importante
que se afaste a presença de displasia do desenvolvimento do quadril. Nessa
condição, há instabilidade da articulação coxo-femural ao nascimento devido ao fato
de o acetábulo ser mais raso e a cápsula mais frouxa, o que permite mobilização
inadequada da cabeça do fêmur que fica parcialmente desencaixada do acetábulo.
Se não for adequadamente tratada no período neonatal por simples imobilização, a
lesão poderá levar a graves limitações na deambulação futura e poderá até haver
necessidade de correção cirúrgica. Pode-se encontrar assimetria das pregas
glúteas e encurtamento do membro afetado no caso de displasia unilateral; porém,
mais frequentemente a alteração não provoca deformidades, não limita os
movimentos e é indolor, ou seja, o RN é aparentemente normal. Isso significa que
a displasia só será diagnosticada se pesquisada. As manobras de Barlow e de
Ortolani, além do exame ultrassonográfico, podem auxiliar no diagnóstico
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
Na manobra de Ortolani, a criança é colocada em decúbito dorsal,
segurando-se os membros inferiores com os joelhos dobrados, e quadris fletidos a
90º e aduzidos (juntos à linha média). A partir dessa posição, faz-se a abdução das
coxas com leve pressão nos joelhos. A manobra deve ser repetida várias vezes,
simultaneamente, para os dois lados dos quadris ou fixando-se um lado e testando-
se o outro, aplicando-se diferentes pressões (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
O achado de pequenos estalidos (clicks) causados pela movimentação e
pelo deslize de fáscia ou tendão sobre saliências ósseas é considerado normal.
38
O tratamento consiste em fazer uma manobra de Ortolani, encaixar o quadril
e manter-se a posição de abdução e flexão do quadril com o uso de aparelhos
ortopédicos por três meses ininterruptamente. Obtém-se sucesso em 97% dos
casos (ver capítulo 38 – volume 3 desta obra) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
No exame dos pés deve-se estar atento a seu posicionamento. Não é
infrequente a detecção de pés tortos. É necessário diferenciar o pé torto posicional,
decorrente da posição intrauterina, do pé torto congênito (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2012).
Assim, trata-se de caso benigno, cuja resolução se dá por meio de
fisioterapia por manipulação diária. Por outro lado, o pé torto congênito, que em
50% dos casos é bilateral e simétrico, não é redutível por manobras e necessita de
tratamento ortopédico. As deformidades encontradas no pé torto congênito são
complexas e diversas. Assim, no pé equino, o calcanhar está elevado e o antepé
caído; no pé varo, há torção do pé fazendo com que sua face plantar fique voltada
medialmente; no pé aduto o antepé está desviado medialmente; e no pé cavo forma-
se uma prega transversal na planta do pé. Para mais detalhes sobre problemas
ortopédicos, ver capítulo 38 – volume 3 desta obra (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2012).
Ainda fazendo parte do exame osteoarticular, deve-se apalpar a linha média
da coluna vertebral na busca de espinha bífida, meningocele e outros defeitos,
especialmente na região sacrolombar (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
Algumas lesões da coluna não são óbvias ao exame do RN e são chamadas
de disrafismos ocultos da espinha. Em 25% desses casos existem manifestações
cutâneas associadas como pilosidades locais, hemangiomas capilares, fossetas ou
acúmulo anormal de gordura. É importante que se verifique a integridade da pele
no fundo da fosseta, para se afastar a possibilidade de contaminação da espinha.
É importante a determinação do sentido (cranial ou caudal) da fixação da fosseta,
pois as fixadas no sentido cranial apresentam muito maior risco de possuírem
extensão intraespinhal ou intradural. Por outro lado, quando o sentido da fixação é
caudal há pouca significância clínica (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
39
7 EXAME FÍSICO ESPECIAL
7.1 Crânio
40
Na palpação do couro cabeludo detectam-se abaulamentos com relativa
frequência, como na bossa serossanguínea e no céfalo-hematoma (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2012).
O tamanho do céfalo-hematoma deve ser acompanhado, mas é raríssimo
ser necessária alguma intervenção para estancar o sangramento ou drenar eventual
abscesso decorrente de contaminação (Figura abaixo).
Fonte: MS/SAS.
41
7.2 Olhos
42
7.3 Ouvidos
7.4 Nariz
43
Deformidades ou malformações, quando presentes, ocorrem por defeitos
intrínsecos do osso próprio do nariz (observados nas trissomias 18 e 21) ou por
pressão extrínseca intraútero ou no momento do parto. A presença de coriza
mucoide, mucopurulenta ou mucopiossanguinolenta é rara e sugere o diagnóstico
de lues congênita (geralmente em torno da segunda semana de vida) (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2012).
7.5 Boca
44
extraídos, devido ao risco de aspiração. O tamanho e a mobilidade da língua devem
ser avaliados; macroglossia sugere hipotireoidismo ou síndrome de Beckwith-
Wiedemann (macroglossia, gigantismo, onfalocele e hipoglicemia grave)
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
Deve também ser avaliado o tamanho da mandíbula. Micrognatia ocorre
isoladamente ou fazendo parte de alteração genética (sequência de Pierre Robin).
Nessa situação, pode ocorrer glossoptose (queda da língua) com obstrução de vias
aéreas e consequente cianose (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
7.6 Pescoço
7.7 Tórax
45
das glândulas mamárias decorrente de estímulo estrogênico materno. Em algumas
dessas crianças, meninos ou meninas, pode-se observar secreção de leite. Deve-
se evitar a expressão das glândulas hipertrofiadas devido ao risco de contaminação
e ao desenvolvimento de mastite, que é uma condição grave (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2012).
46
7.9 Aparelho cardiocirculatório
47
desaparece nos 3 primeiros meses de vida. Por outro lado, a ausência de sopros
não afasta cardiopatia, já que em cerca de 20% das cardiopatias congênitas graves
não se auscultam sopros de imediato. É importante lembrar que no útero o
ventrículo direito é mais requisitado que o esquerdo e, por isso, encontra- -se
hipertrofiado ao nascimento. Assim, por exemplo, nas comunicações
intraventriculares pode não se auscultar sopro nos primeiros dias de vida
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
Pulsos cheios em RN prematuro sugerem persistência do canal arterial;
pulsos femorais débeis ou ausentes apontam para coarctação da aorta
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
A pressão arterial é de difícil determinação, podendo ser aferida com mais
facilidade por meio de aparelhos que se valem do efeito Doppler. Mais detalhes
sobre problemas cardiológicos podem ser encontrados no volume 3 desta obra
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
7.10 Abdome
7.10.1 Inspeção
48
umbilical única pode estar associada a anomalias renais ou a problemas genéticos,
principalmente trissomia do 18. É importante pesquisar a presença de secreções na
base do coto umbilical ou de eritema da pele ao redor da implantação umbilical
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
A higiene da região umbilical com álcool a 70% é um importante fator de
proteção contra infecção. Imediatamente após a limpeza pode-se observar
hiperemia transitória da pele, o que não apresenta risco para o RN (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2012).
Na inspeção, pode-se ainda detectar defeitos da parede abdominal, como
a onfalocele e a gastrosquise. Na onfalocele ocorre herniação na linha média,
recoberta por saco peritoneal, com o cordão umbilical inserido no centro dessa
massa. Pode estar associada a trissomias ou a outras anomalias congênitas. Na
gastrosquise o defeito encontra-se à direita do umbigo, com as alças intestinais e
outros órgãos abdominais podendo exteriorizar-se através dessa abertura, sem
membrana peritoneal recobrindo o conteúdo exposto (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2012).
A eliminação de mecônio costuma ocorrer nas primeiras 24 a 36 horas de
vida. Trata-se de material viscoso, verde escuro, composto por sais biliares, células
epiteliais de descamação, sucos digestivos e lanugo, sendo eliminado nos primeiros
3 a 4 dias de vida. Após esse período, as fezes, denominadas de transição, têm
coloração amarelo-esverdeada, liquefeitas, podendo até ser confundidas com
diarreia. O reflexo gastrocólico exacerbado, isto é, o relaxamento do esfíncter anal
que ocorre com a distensão do estômago, aumenta o número de evacuações
diárias, sobretudo no RN em aleitamento materno exclusivo sob livre demanda, que
pode evacuar em cada mamada (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
7.10.2 Percussão
49
timpânico no resto do abdome. Eventualmente, consegue-se delimitar o tamanho
do baço, especialmente quando aumentado (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
7.10.3 Palpação
50
descrever a localização, a forma, o tamanho, a mobilidade, a consistência e as
eventuais irregularidades de superfície (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
Ao auscultar o abdome, verifica-se que no RN os ruídos hidroaéreos são
bem frequentes. Ruídos aumentados, que ocorrem nas situações de luta contra
obstrução, ou ausência de ruídos são sinais preocupantes que indicam doença
grave (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
51
A bolsa escrotal é rugosa no RN a termo. Sua palpação permite verificar a
presença dos testículos, assim como sua sensibilidade, tamanho e consistência. Os
testículos migram da cavidade abdominal para o escroto através do canal inguinal
durante o final da gestação, sendo que no RN a termo os testículos são
habitualmente encontrados dentro da bolsa escrotal. A não palpação dos testículos
na bolsa pode significar criptorquidia. Quando a criptorquidia é bilateral e os
testículos não são palpáveis nem na bolsa escrotal nem no canal inguinal, deve-se
suspeitar de genitália ambígua (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
Os testículos têm consistência firme, parenquimatosa, com tamanho de
cerca de 1cm, e não são hipersensíveis. O aumento dos testículos à palpação
frequentemente é decorrente de hidrocele. Essa condição é comum e a reabsorção
do líquido se dá nos primeiros meses de vida. Deve-se fazer a prova da
transiluminação para confirmação do diagnóstico. Deve-se estar atento para o
diagnóstico de genitália ambígua, torção testicular (coloração azulada e
hipersensibilidade), assimetrias testiculares, malformações anorretais com fístula e
eliminação de mecônio pela uretra ou períneo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
52
ocorrer discreto sangramento vaginal. A imperfuração do hímen leva a hidrocolpos,
que se manifesta por hímen abaulado, em forma de bolsa, sendo necessária
intervenção cirúrgica no período neonatal. A hipertrofia do hímen, com prolapso da
parte distal para fora dos grandes lábios, é um achado comum e sem significado
clínico (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
Fonte: MS/SAS.
7.12 Ânus
53
ou introdução de sonda retal para verificação de sua permeabilidade (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2012).
54
meses de vida é atribuído ao desenvolvimento de mecanismos corticais inibitórios
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
São diversos os reflexos primitivos encontrados no RN, porém não há
necessidade de avaliação de todos durante o exame físico rotineiro do RN a termo.
Os que habitualmente devem ser avaliados são:
55
Fuga à asfixia. O reflexo de fuga à asfixia é avaliado colocando-se
a criança em decúbito ventral no leito, com a face voltada para o
colchão. Em alguns segundos o RN deverá virar o rosto liberando o
nariz para respirar adequadamente.
56
reflexo de Babkin é uma reação à pressão simultânea das palmas
das mãos do bebê. Com esse estímulo, a criança abre a boca e
mantém a cabeça na linha média levantando sua cabeça. Pode
também haver fechamento dos olhos e flexão do antebraço do bebê.
57
8.1 Mecanismos de contaminação do RN
Para melhor prevenir as IHs, é importante conhecer como elas ocorrem nas
unidades neonatais. As principais formas de contaminação ou infecção do RN são:
58
Peso ao nascer – quanto menor for o peso, maior é o risco de IH.
Estima-se que a cada 100g a menos de peso de nascimento, o risco
de IH aumenta 9%.2
59
de todos os procedimentos invasivos utilizando técnica adequada (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2012).
Profissionais de enfermagem necessários:
60
As infecções precoces geralmente são decorrentes da contaminação do RN
por bactérias do canal de parto, ou secundárias a bacteremias maternas. Os
exemplos mais clássicos são infecções por Streptococcus agalactiae, Listeria
monocitogenes e Escherichia coli (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
As infecções tardias, com aparecimento após 48 horas de vida, geralmente
são decorrentes da contaminação do RN por micro-organismos da microbiota
própria de cada serviço. Em países da América do Sul, incluindo o Brasil, bactérias
Gram-negativas e Staphylococcus aureus ainda são os principais agentes de
infecção em grande parte dos hospitais.3,4,5 No entanto, em alguns hospitais
brasileiros, a microbiota vem se tornando semelhante a de países desenvolvidos,
onde o estafilococo coagulase-negativa é o principal agente de infecção nas UTIs
neonatais e os fungos vêm assumindo importância cada vez maior (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2012).
O Quadro 1 lista os micro-organismos mais prováveis de acordo com o
momento de manifestação da infecção.
Fonte: MS/SAS.
61
8.4 Diagnóstico
8.5 Prevenção
62
8.5.1.1 Higienização das mãos
63
seguir com compressa estéril. Dar preferência a antissépticos à base
de clorexidina.
64
• Álcool 70%: exerce função bactericida sobre todos os
agentes patogênicos comuns, tem ação fungicida e virucida,
porém é inativo contra esporos.
65
Antissepsia para irrigação de canal de parto, nos processos de
prevenção da transmissão periparto do estreptococo do grupo B.
Antissepsia para passagem de sonda vesical.
Fonte: MS/SAS.
66
8.5.3.2 Procedimentos cirúrgicos
67
de inserção periférica (PICC) e passagem de cateter central por
flebotomia, devendo essa última ser evitada nas UTIs neonatais.
Na cateterização de veia ou artéria umbilical, realizar fixação com fita
cirúrgica em forma de ponte e curativo diário com solução alcoólica
de clorexidina (ver procedimento de fixação com detalhes no capítulo
10 – volume 2 desta obra. Diversos serviços recomendam o uso de
placa de hidrocoloide sob o curativo do cateter umbilical, que
funciona como “segunda pele”, para proteger a pele do RN da ação
abrasiva das soluções antissépticas e da própria fita adesiva.
O curativo do PICC e da flebotomia deve ser feito com gaze no
momento de sua inserção e, depois, preferencialmente com curativo
transparente. A troca do curativo transparente deve ser realizada
caso haja presença de sangue, umidade, ou descolamento do filme
transparente. Atualmente não há recomendação de troca de curativo
preestabelecido. Guideline CDC 2011. Na impossibilidade do uso de
curativo transparente, recomenda-se o uso de gaze estéril para
cobertura do curativo, com troca a cada 48h, ou antes, se necessário
A cultura da ponta do cateter está indicada somente nos casos de
suspeita de infecção relacionada aos cateteres vasculares. Nesses
casos, sugere-se coleta concomitante de hemoculturas, idealmente
duas.
Realizar desinfecção da conexão (Hub) do cateter vascular central
ou periférico com álcool a 70% antes da administração de drogas e
por ocasião da troca de equipos.
O equipo utilizado para nutrição parenteral total deve ser trocado a
cada 24 horas.
Os equipos utilizados para passagem de hemoderivados devem ser
removidos imediatamente após o uso.
68
8.5.3.4 Prevenção de infecções respiratórias
69
A aspiração do tubo traqueal deve ser realizada somente quando
necessária, com técnica asséptica, de preferência com a participação de dois
profissionais, utilizando luvas e cateter de aspiração estéreis e descartando-os após
o uso. Deve-se proteger os olhos do RN durante esse procedimento, evitando assim
a contaminação por secreção pulmonar, que pode levar à ocorrência de conjuntivite
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
O conteúdo dos frascos do aspirador deve ser desprezado no expurgo,
sempre que possível, de acordo com a quantidade de secreção depositada
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
O frasco de aspiração deve ser trocado, assim como a extensão de látex, a
cada 24 horas, ou menos, se necessário (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
70
Clorexidina mostrou ser eficaz na redução da colonização e infecção do
coto, porém retarda a mumificação.
Álcool a 70% acelera a mumificação, mas não interfere na colonização
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
71
O uso empírico de cefalosporinas de terceira e quarta gerações deve ser
evitado, sendo recomendadas no tratamento de meningite, infecções em RN com
insuficiência renal e infecções por bactérias resistentes aos aminoglicosídeos
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
Outros esquemas de tratamento empírico para infecções precoces e tardias
podem ser definidos de acordo com a orientação CCIH de cada hospital
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
Se o RN tem dificuldade de acesso vascular, está clinicamente estável e
faltam um ou dois dias ou mesmo horas para o término da antibioticoterapia, avaliar
a possibilidade de suspender a droga antes do tempo previsto. Essa medida irá
prevenir novas complicações infecciosas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
Definir caso.
Revisar a literatura.
73
Implantar medidas de controle.
Montar tabela com todos os fatores comuns aos RNs envolvidos.
Desenhar curva epidêmica com o provável caso índice e os casos
secundários.
Comparar dados e formular hipóteses sobre a provável fonte
causadora do surto.
Provar ou conhecer estatisticamente a hipótese, por meio de estudo
de caso controle.
Manter vigilância nas áreas envolvidas para documentar o término
do surto.
Fazer relatório descritivo do surto e das medidas de controle
estabelecidas, e distribuir às chefias de unidades e à diretoria
9 ALEITAMENTO MATERNO
74
sucedido se ele não tiver um olhar atento, abrangente, sempre levando em
consideração os aspectos emocionais, a cultura familiar, a rede social de apoio à
mulher, entre outros . Esse olhar necessariamente deve reconhecer a mulher como
protagonista do seu processo de amamentar, valorizando-a, escutando-a e
empoderando-a (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).
Portanto, cabe ao profissional de saúde identificar e compreender o
processo do aleitamento materno no contexto sociocultural e familiar e, a partir
dessa compreensão, cuidar tanto da dupla mãe/bebê como de sua família. É
necessário que busque formas de interagir com a população para informá-la sobre
a importância de adotar uma prática saudável de aleitamento materno. O
profissional precisa estar preparado para prestar uma assistência eficaz, solidária,
integral e contextualizada, que respeite o saber e a história de vida de cada mulher
e que a ajude a superar medos, dificuldades e inseguranças. (CASTRO; ARAÚJO,
2006)
Apesar de a maioria dos profissionais de saúde considerar-se favorável ao
aleitamento materno, muitas mulheres se mostram insatisfeitas com o tipo de apoio
recebido. Isso pode ser devido às discrepâncias entre percepções do que é apoio
na amamentação. As mães que estão amamentando querem suporte ativo
(inclusive o emocional), bem como informações precisas, para se sentirem confi
antes, mas o suporte oferecido pelos profissionais costuma ser mais passivo,
reativo. Se o profissional de saúde realmente quer apoiar o aleitamento materno,
ele precisa entender que tipo de apoio, informação e interação as mães desejam,
precisam ou esperam dele (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).
75
Aleitamento materno exclusivo - quando a criança recebe somente
leite materno, direto da mama ou ordenhado, ou leite humano de
outra fonte, sem outros líquidos ou sólidos, com exceção de gotas ou
xaropes contendo vitaminas, sais de reidratação oral, suplementos
minerais ou medicamentos.
Aleitamento materno predominante - quando a criança recebe,
além do leite materno, água ou bebidas à base de água (água
adocicada, chás, infusões), sucos de frutas e fluidos rituais.
Aleitamento materno - quando a criança recebe leite materno
(direto da mama ou ordenhado), independentemente de receber ou
não outros alimentos.
Aleitamento materno complementado - quando a criança recebe,
além do leite materno, qualquer alimento sólido ou semi-sólido com
a finalidade de complementá-lo, e não de substituí-lo. Nessa
categoria a criança pode receber, além do leite materno, outro tipo
de leite, mas este não é considerado alimento complementar.
Aleitamento materno misto ou parcial - quando a criança recebe
leite materno e outros tipos de leite.
76
Maior número de episódios de diarréia;
Mero de hospitalizações por doença respiratória;
Risco de desnutrição se os alimentos introduzidos forem
nutricionalmente inferiores ao leite materno, como, por exemplo,
quando os alimentos são muito diluídos;
Menor absorção de nutrientes importantes do leite materno, como o
ferro e o zinco;
Menor eficácia da lactação como método anticoncepcional;
Menor duração do aleitamento materno;
78
Tabela 2 – Composição do colostro e do leite materno maduro de mães de
crianças a termo e pré-termo e do leite de vaca
Fonte: MS/SAS.
79
patogênica que acidifica as fezes, dificultando a instalação de bactérias que causam
diarréia, tais como Shigella, Salmonella e Escherichia coli (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2009).
Alguns dos fatores de proteção do leite materno são total ou parcialmente
destruídos pelo calor, razão pela qual o leite humano pasteurizado (submetido a
uma temperatura de 62,5 o C por 30 minutos) não tem o mesmo valor biológico que
o leite cru (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).
80
para que o bebê consiga retirar, de maneira eficiente, o leite da mama e também
para não machucar os mamilos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).
Uma posição inadequada da mãe e/ou do bebê na amamentação dificulta
o posicionamento correto da boca do bebê em relação ao mamilo e à aréola,
resultando no que se denomina de “má pega”. A má pega dificulta o esvaziamento
da mama, levando a uma diminuição da produção do leite. Muitas vezes, o bebê
com pega inadequada não ganha o peso esperado apesar de permanecer longo
tempo no peito. Isso ocorre porque, nessa situação, ele é capaz de obter o leite
anterior, mas tem dificuldade de retirar o leite posterior, mais calórico (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2009).
Fonte: MS/SAS.
Fonte: MS/SAS.
81
Além de dificultar a retirada do leite, a má pega machuca os mamilos.
Quando o bebê tem uma boa pega, o mamilo fica em uma posição dentro da boca
da criança que o protege da fricção e compressão, prevenindo, assim, lesões
mamilares (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).
Todo profissional de saúde que faz assistência a mães e bebês deve saber
observar criticamente uma mamada. A seguir são apresentados os diversos itens
que os profissionais de saúde devem conferir na observação de uma mamada:
82
A mãe espera o bebê abrir bem a boca e abaixar a língua antes de
colocá-lo no peito?
O bebê abocanha, além do mamilo, parte da aréola
(aproximadamente 2cm além do mamilo)? É importante lembrar que
o bebê retira o leite comprimindo os seios lactíferos com as gengivas
e a língua.
O queixo do bebê toca a mama?
As narinas do bebê estão livres?
O bebê mantém a boca bem aberta colada na mama, sem apertar os
lábios?
Os lábios do bebê estão curvados para fora, formando um lacre?
Para visualizar o lábio inferior do bebê, muitas vezes é necessário
pressionar a mama com as mãos.
A língua do bebê encontra-se sobre a gengiva inferior? Algumas
vezes a língua é visível; no entanto, na maioria das vezes, é
necessário abaixar suavemente o lábio inferior para visualizar a
língua.
A língua do bebê está curvada para cima nas bordas laterais?
O bebê mantém-se fixado à mama, sem escorregar ou largar o
mamilo?
As mandíbulas do bebê estão se movimentando?
A deglutição é visível e/ou audível?
É sempre útil lembrar a mãe de que é o bebê que vai à mama e não a mama
que vai ao bebê. Para isso, a mãe pode, com um rápido movimento, levar o bebê
ao peito quando ambos estiverem prontos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca quatro pontos-chave que
caracterizam o posicionamento e pega adequados:
Figura 8 - Amamentação
Fonte: MS/SAS.
84
Mamilos com estrias vermelhas ou áreas esbranquiçadas ou
achatadas quando o bebê solta a mama;
Dor na amamentação;
Quando a mama está muito cheia, a aréola pode estar tensa, endurecida,
dificultando a pega. Em tais casos, recomenda-se, antes da mamada, retirar
manualmente um pouco de leite da aréola ingurgitada (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2009).
86
possíveis dificuldades ou problemas relacionados ao posicionamento, pega e
sucção durante a amamentação. Ainda, sobre a alimentação, é importante saber se
o aleitamento materno é exclusivo e de livre demanda ou se o bebê já recebe,
equivocadamente, algum outro tipo de alimento (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
PEDIATRIA, 2009).
87
10.3 Antropometria
88
justificam um crescimento intrauterino insuficiente, como por exemplo o cigarro,
álcool, entre outras drogas, hipertensão arterial, doenças infecciosas, idade
materna, estado nutricional alterado da gestante, curto intervalo entre partos, entre
outras (MIRANDA, 2019).
Com relação à prematuridade, esta é assim chamada, quando a gestação
não ocorre dentro do tempo previsto como normal para uma gestação (abaixo de
37 semanas). Por isso, recém-nascidos prematuros ou pré-termos podem ser
classificados como pequenos para a idade gestacional, já que não houve tempo
suficiente para o crescimento adequado. Aqueles prematuros que atingem um peso
satisfatório para a idade gestacional apresentam melhor prognóstico de saúde
(MIRANDA, 2019).
Os recém-nascidos considerados a termo (gestação igual ou superior a 37
semanas), também, podem apresentar crescimento restrito no útero e, portanto,
acabam classificados como pequenos para a idade gestacional. Eles necessitam de
maiores cuidados, pois demonstram maior risco de distúrbios nutricionais, seja de
curto ou longo prazo (LOPEZ; CAMPOS JÚNIOR, 2007).
O peso ao nascer é reduzido de 5 para 10% logo após o nascimento,
contudo, o reestabelecimento do peso perdido ocorre de 8 a 10 dias. Para se ter um
bom acompanhamento do ganho de peso, no primeiro mês de vida, é preciso estar
atento às variações de peso do recém-nascido sendo importante o conhecimento,
também, do peso da alta hospitalar (VITOLO, 2008).
O perímetro cefálico é medido ao redor da cabeça com fita métrica
inelástica, sobre o occipício (parte posterior da cabeça), em seu ponto mais
proeminente, acima da crista supra-orbitária (parte frontal da cabeça). Valores de
referência relativos à mediana (percentil 50) do perímetro cefálico são
demonstradas no Quadro 2. Alterações de dois desvios padrões para baixo ou para
cima, nesta variável, podem indicar problemas de cunho nutricional ou não
nutricional. Esta medida é, geralmente, utilizada até o 2º ano de vida e diagnostica
patologias, como a microcefalia e a hidrocefalias, bem como retardo no crescimento
e desenvolvimento provenientes de prematuridade e má nutrição (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2009; VITOLO, 2008).
89
O perímetro torácico pode ser utilizado de maneira isolada, mas é também
uma medida associada ao perímetro cefálico como indicador de desnutrição. Com
o uso de fita métrica inelástica, o tórax é mensurado na altura dos mamilos, de modo
que se forme um ângulo reto com a coluna vertebral. A relação entre perímetro
torácico e perímetro cefálico, basicamente, é igual a um até os seis meses de vida.
Uma relação inferior a um é indicativo de desnutrição energético-proteica (VITOLO,
2008; VASCONCELOS, 2008).
A interpretação da avaliação antropométrica para medidas como peso,
estatura e perímetro cefálico em recém-nascidos prematuros, necessita de um
ajuste com relação ao tempo gestacional, até que atinjam 24 meses de vida,
devendo-se corrigir a idade com base nas 40 semanas (SOCIEDADE BRASILEIRA
DE PEDIATRIA, 2009).
90
Quadro 3 -Valores de referência do percentil 50 para peso, estatura,
perímetro cefálico (PC) e índice de massa corporal (IMC) em crianças de 0 a 2
91
10.4 Exame bioquímico
92
10.5.1 História nutricional e alimentar
O exame físico nutricional empregado nesta fase diz respeito aos possíveis
sinais e sintomas apresentados pelo lactente e que possam ter correlação com o
estado de alimentação e nutrição. Com relação à desnutrição, a mais predominante
é a do tipo marasmo, que é caracterizada por deficiência energético- -proteica
93
equilibrada acompanhada de deficiência no crescimento e no peso, atrofia
muscular, ausência de gordura subcutânea e caquexia (MIRANDA, 2019).
Considerando a obesidade, o excesso de peso é a característica mais
marcante e passa a ser comum nesta fase, em que há a introdução de alimento
sólidos, muitas vezes, ultraprocessados, como aqueles consumidos pelos adultos
da família (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2009). Os distúrbios
nutricionais relacionados às vitaminas e aos minerais podem ser mais ou menos
aparentes dependendo da gravidade relativa à deficiência ou ao excesso. O Quadro
abaixo apresenta uma série de possíveis diagnósticos que podem ser sugeridos, de
acordo com os sinais e sintomas apresentados (MIRANDA, 2019).
94
Quadro 4 - Sinais clínicos do exame físico e seus respectivos diagnósticos
95
96
Fonte: Adaptado de Sociedade Brasileira de Pediatria (2009)
97
10.5.3 Antropometria
98
crescimento desenvolvidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) preveem os
seguintes indicadores para fim de diagnóstico nutricional: peso por idade, estatura
por idade, peso por estatura e Índice de Massa Corporal (IMC) por idade.
Para expressar a situação nutricional e de desenvolvimento da criança,
pode-se utilizar duas medidas estatísticas, o percentil e o escore-z. O percentil é um
termo estatístico e se refere à posição ocupada por determinada medida, índice ou
indicador antropométrico no interior de uma distribuição. Assumindo-se uma curva
gaussiana de distribuição normal (forma de sino), o valor considerado ideal é aquele
que coincide com a mediana da população (50º percentil), ou seja, em que a maior
parte da população está concentrada. As variações em torno da mediana são
consideradas desvios-padrão. Quando um parâmetro avaliado apresenta
determinado número de desvios-padrão, acima ou abaixo da mediana, configura-
se, portanto, algum grau de inadequação.
O termo estatístico escore-z quantifica a distância entre o valor observado
e a mediana da medida antropométrica (escore-z 0) na população de referência,
levando em consideração o desvio-padrão. Cada valor de escore-z apresenta um
valor de percentil correspondente e vice-versa, por isso, pode-se fazer conversões
desses valores com o uso de fórmulas apropriadas. Atualmente, a classificação do
estado nutricional pelo Ministério da Saúde, a partir da utilização das curvas de
crescimento que estão, inclusive, presentes na caderneta de saúde da criança, são
definidas em escore-z.
No que diz respeito, especificamente, à faixa etária do lactente, tem-se as
curvas de peso por comprimento para meninos e meninas. Estas curvas foram
propostas para ser utilizadas em crianças de zero a dois anos de idade, já que a
estatura é medida em posição deitada e denominada comprimento. Para esse
indicador, há uma situação de eutrofia (peso adequado para o comprimento). Por
exemplo, quando o escore-z do lactente se encontra entre a faixa ≥ –2 e ≤ +1
(BRASIL, 2011).
Quanto ao perímetro cefálico, este continua sendo medido com o uso de
fita métrica inelástica da mesma maneira como é mensurado em recém- -nascidos.
O mesmo ocorre a respeito da medição do perímetro torácico. No que diz respeito
99
à classificação do estado nutricional com base na relação entre o perímetro torácico
e o perímetro cefálico, a partir dos seis meses de vida até os cinco anos, a relação
será sempre superior a 1. Valores inferiores a 1 caracterizam-se como indicativo de
desnutrição proteica e energética (VITOLO, 2008; VASCONCELOS, 2008).
A partir do primeiro ano de vida, contemplando, portanto, os lactentes, são
previstos valores de referência relativos à medida de circunferência do braço ou
circunferência braquial. Segundo a circunferência do braço, é possível determinar a
área muscular, com base, também, na utilização de dobras cutâneas, como a dobra
tricipital (VITOLO, 2008; FRISANCHO, 1981).
Valores de normalidade para a dobra cutânea subescapular, além da dobra
cutânea tricipital foram estabelecidos pela OMS para crianças a partir dos três
meses de idade (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1995).
100
clínicas e de saúde da criança antes da prescrição do exame, já que situações,
como a presença de resposta inflamatória ou desequilíbrio hídrico podem alterar,
consideravelmente, os resultados dos biomarcadores solicitados (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2009; VITOLO, 2008).
101
performance na creche, o contato social com outras crianças e com a própria
família.
A anamnese alimentar na fase da infância aborda, principalmente, os
hábitos alimentares, a partir da utilização de questionários alimentares respondidos
pelos pais e cuidadores. Aspectos relacionados à alimentação seja em quantidade,
como em qualidade devem ser explorados, inclusive, os relativos à alimentação
realizada no período fora de casa (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA,
2009).
O exame físico deve ser bem detalhado e contemplar, sempre que possível,
a aferição da pressão arterial para crianças a partir dos três anos de idade. A
pressão arterial nesta etapa da vida possui valores de classificação diferenciados,
que levam em consideração variáveis como sexo, estatura e idade. A sua
mensuração é realizada com o uso de um manguito apropriado, de menor tamanho,
quando comparado ao utilizado para a mensuração da pressão arterial de adultos
Com relação aos sinais e sintomas relacionados à presença de desnutrição
em pré-escolares, o tipo mais comum de desnutrição passa a ser o Kwashiorkor, de
origem proteica. Portanto, torna-se mais adequada a observação de características
relativas ao edema na região abdominal (ascite) ou por todo o corpo (anasarca),
inclusive na face, hepatomegalia, alterações na pele e cabelos, entre outras.
A obesidade nesta faixa etária é, ainda, mais comum de acontecer, logo, a
observação de sinais clínicos que extrapolem a presença excessiva de massa
adiposa se faz relevante. A distribuição abdominal de gordura demarca risco de
síndrome metabólica e de doenças cardiovasculares. A presença de acanthosis
nigricans (manchas escurecidas em dobras corporais) e hirsutismo (pelos de
característica masculina em excesso no sexo feminino) são características
presentes em indivíduos obesos por desequilíbrios hormonais que apontam para
um quadro de resistência insulínica, merecendo atenção.
102
No que corresponde à anemia ferropriva, a observação de palidez na pele
e nas mucosas pode indicar uma deficiência grave de ferro. Sintomas como apatia,
perda de força muscular, alterações na memória e na atenção podem ser melhor
percebidos a partir dessa faixa etária.
A hipovitaminose A, considerada um problema de saúde pública, assim
como a anemia, acomete, principalmente, crianças em fase pré-escolar. Em sua
fase clínica, seguida da fase silenciosa, ocorre a alteração do crescimento, quadros
recorrentes de infecção e alterações cutâneas e oculares, podendo progredir de
cegueira noturna à cegueira irreversível.
10.6.3 Antropometria
103
No link do box anterior, há o indicador peso por estatura. Este indicador
dispensa a informação relativa à idade, expressando a harmonia entre as
dimensões de massa corporal e estatura. É utilizado tanto para identificar o
emagrecimento da criança, como o excesso de peso (TADDEI, 2011).
O índice comprimento/estatura por idade, que está disponível no box link
anterior, expressa o crescimento linear da criança, sendo o índice que melhor indica
o efeito cumulativo de situações adversas sobre o crescimento da criança, como a
desnutrição crônica. Por isso, é considerado o indicador mais sensível para aferir a
qualidade de vida de uma população (TADDEI, 2011).
O IMC proposto por Quetelet, considerado o pai da antropometria, expressa
a relação entre o peso corporal (kg) e o quadrado da estatura (m). Ele é
internacionalmente utilizado para identificar o estado nutricional em todas as fases
da vida. Nas crianças e adolescentes, o IMC por idade, relaciona o índice em
questão à idade cronológica do indivíduo.
Após a marcação do indicador no cartão da criança, se tem uma perspectiva
em relação à evolução de seu crescimento e desenvolvimento. A classificação do
estado nutricional é determinada conforme os pontos de corte propostos
internacionalmente, variando de um estado de muito baixo peso ou estatura (<
percentil 0,1 ou < escore-z –3) até um estado de excesso de peso (sobrepeso e
obesidade) ou adequada estatura (> percentil 99,9 ou > escore-z +2). O Quadro 4
apresenta um resumo dos pontos de corte propostos para interpretação e
diagnóstico do estado nutricional baseando-se nos indicadores das curvas de
crescimento.
Apesar de pouco utilizado, o perímetro braquial continua sendo passível de
avaliação nesta etapa da vida, de acordo com a necessidade. As dobras cutâneas
tricipital e subscapular são utilizadas individualmente e avaliadas segundo a
adequação, podendo, inclusive, serem utilizadas como medidas seriadas (VITOLO,
2008; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1995; FRISANCHO, 1981).
Uma circunferência que começa a ganhar destaque, a partir desta fase da
vida, é a circunferência de cintura, que se correlaciona positivamente ao risco de
104
doenças cardiovasculares. Alguns estudos determinaram pontos de corte para pré-
escolares, escolares e adolescentes. Esta medida pode ser associada, ainda, à
circunferência de quadril e à estatura corporal (FREEDMAN et al., 1999; TAYLOR
et al., 2000).
Com relação à composição corporal, é possível utilizar metodologias, como
a absorciometria por dupla emissão de raios X (DXA), pletismografia de
deslocamento de ar (Bod Pod) e Bioimpedância Elétrica (BIA) para avaliar a gordura
corporal de crianças de diversas faixas etárias, principalmente, a partir da fase pré-
escolar (VITOLO, 2008).
105
Quadro 5 - Classificação dos indicadores de estado nutricional para
crianças menores de 5 anos
106
científicas, desde o pré-natal até após o nascimento, garantindo a todos os recém-
nascidos boas práticas de atenção à saúde, com o mínimo de intervenções
possíveis, porém efetivas quando necessário.
Nesse capítulo, você vai estudar os procedimentos para recepção e
reanimação do recém-nascido em sala de parto — identificando aqueles que
precisarão de ajuda no processo de adaptação fisiológica na primeira hora de vida
—, as diferentes classificações (idade gestacional, peso, crescimento intrauterino)
e o exame físico do bebê, além dos cuidados adequados a serem prestados ao
recém-nascido antes da alta hospitalar.
107
o sistema de comunicação materno-fetal. A placenta e, em extensão, as membranas
amnióticas fornecem todos os materiais necessários para o crescimento fetal e a
produção de energia, além de removerem produtos do catabolismo fetal.
Como quase todos os nutrientes necessários para o crescimento e a
maturação fetais são fornecidos ao feto pela placenta através da veia umbilical, a
circulação fetal difere da circulação do adulto. A veia umbilical única transporta
sangue oxigenado com nutrientes da placenta para o feto, ascendendo ao longo da
parede abdominal em direção ao fígado. A veia divide-se em veia porta e ducto
venoso, com o primeiro transportando sangue para as veias hepáticas e o ducto ou
ramo principal da veia umbilical atravessando o fígado em direção à veia cava
inferior. O sangue relativamente desoxigenado, originado no fígado, retorna à veia
cava inferior, que também recebe sangue menos oxigenado da parte inferior do
corpo. Portanto, o sangue fluindo para o coração fetal a partir da veia cava inferior
é formado por uma mistura de sangue do tipo arterial, que passa diretamente
através do ducto venoso, e de sangue menos oxigenado das veias inferiores.
Consequentemente, o conteúdo de oxigênio do sangue da veia cava inferior é
menor que o do sangue que deixa a placenta.
Diferente do que ocorre na vida pós-natal, os ventrículos do coração fetal
trabalham em paralelo e não em série. As duas circulações são mantidas pela
estrutura do átrio direito, que efetivamente direciona o sangue que nele penetra para
o átrio esquerdo ou para o ventrículo direito, dependendo do conteúdo de oxigênio.
A comunicação entre os dois átrios é feita pelo forame oval, que direciona o sangue
oxigenado para o átrio esquerdo e, posteriormente, para o ventrículo esquerdo e
circulação cerebral. O fluxo sanguíneo preferencial da veia cava inferior através do
forame oval até o átrio esquerdo não passa pelo ventrículo direito nem pela
circulação pulmonar, e permite oferta de sangue mais oxigenado ao cérebro.
Quase 90% do sangue que deixa o ventrículo direito são desviados pelo
canal arterial para a aorta descendente. A resistência vascular elevada do pulmão
e a resistência menor do canal arterial asseguram que cerca de 10% do débito
ventricular direito dirijam-se aos pulmões (CUNNINGHAM et al., 2016). O restante
retorna à placenta através das duas artérias hipogástricas que se tornam as artérias
108
umbilicais. Na placenta, esse sangue recebe oxigênio e outros nutrientes para entrar
novamente na circulação fetal através da veia umbilical.
Nessa fase da vida, a resistência vascular placentária é muito baixa,
enquanto a circulação pulmonar é de alta resistência e baixo fluxo, fazendo com
que o pulmão não tenha nenhum papel relativo às trocas gasosas durante a
gestação.
Após o nascimento, os vasos umbilicais, canal arterial, forame oval e ducto
venoso normalmente sofrem contração ou colapso e, consequentemente, a
hemodinâmica da circulação fetal sofre alterações (SEGRE; COSTA; LIPPI, 2009).
O clampeamento do cordão umbilical e a expansão dos pulmões fetais, seja por
respiração espontânea ou artificial, induzem imediatamente alterações
hemodinâmicas. Com o fechamento funcional do canal arterial e a expansão
pulmonar, o sangue que deixa o ventrículo direito entra preferencialmente na
vasculatura pulmonar para ser oxigenado. Ou seja, os ventrículos, que trabalhavam
na vida fetal em paralelo, passam a trabalhar em série (Figura abaixo).
109
Figura 8 - Circulação cardiorrespiratória do recém-nascido.
110
para proteger o pulmão de uma possível lesão induzida pelo oxigênio no início da
respiração. O surfactante diminui a tensão superficial dos fluidos pulmonares e evita
o colapso alveolar, facilitando as trocas gasosas e diminuindo o esforço respiratório.
Logo após o nascimento, o padrão respiratório passa de inspirações
episódicas superficiais, características do feto, para inspirações mais profundas e
regulares. Com a primeira respiração, há aumento abrupto da expansão pulmonar,
levando ao reflexo de vasodilatação e consequente diminuição da resistência
vascular e aumento do fluxo pulmonar. A aeração do pulmão do recém-nascido
consiste na rápida substituição de líquido brônquico e alveolar por ar. À medida que
o líquido é substituído por ar, há considerável redução da compressão vascular
pulmonar e, por sua vez, redução da resistência ao fluxo sanguíneo (CUNNINGHAM
et al., 2016).
São necessárias altas pressões intratorácicas negativas para produzir a
entrada inicial de ar nos alvéolos cheios de líquido. Normalmente, desde a primeira
respiração, há acúmulo progressivamente maior de ar residual no pulmão e, a cada
respiração sucessiva, é necessário menor pressão de abertura pulmonar. No
lactente normal, aproximadamente na quinta respiração, as alterações de pressão–
volume atingidas a cada respiração são muito semelhantes àquelas do adulto
normal.
Durante a gestação, o feto depende integralmente de sua mãe como fonte
fornecedora de glicose para o metabolismo energético. Com o nascimento, há
brusca interrupção do fornecimento, de modo que a glicemia do RN cai, atingindo
os menores níveis com 1–2 horas de vida, aumentando gradativamente nos dias
subsequentes. Dentro do útero, o feto produz calor, derivado de seu intenso
metabolismo. Ao nascer, o RN é imediatamente exposto a um ambiente úmido e
frio, o que provoca grande perda de calor por convecção e evaporação, levando à
queda da temperatura corporal se nenhuma medida for tomada para evitar essa
perda.
111
11.2 Avaliação da idade gestacional
112
desenvolvimento do bebê, além de possibilitar a avaliação quanto ao risco de
mortalidade e morbidade.
O peso de nascimento não pode ser considerado o único parâmetro na
classificação do RN, pois não leva em consideração fatores clínicos importantes,
quando comparamos pesos iguais e idades gestacionais diferentes.
Os RN podem ser classificados de acordo com três parâmetros: peso ao
nascer, IG e relação entre IG/peso. A primeira classificação é baseada no peso ao
nascimento.
113
O terceiro parâmetro analisado relaciona o peso de nascimento à IG, sendo
o RN classificado segundo o seu crescimento intrauterino (CIU), salientando-se a
necessidade de determinar tabelas de crescimento fetal padronizadas para detectar
o crescimento antenatal normal e anormal. O CIU se caracteriza por crescimento e
maturação orgânica e obedece a padrões reconhecidos, sendo determinado
individualmente pelo potencial genético e pela ação de fatores que regulam a
utilização de nutrientes. Atualmente, o acompanhamento do crescimento fetal
tornou-se a principal questão na vigilância pré-natal, não somente por traduzir a
condição de bem-estar fetal, como por identificar a potente associação existente
entre restrição do crescimento intrauterino (RCIU) e natimortalidade (Figura 2)
(SEGRE; COSTA; LIPPI, 2009).
114
Figura 9 - Curvas de crescimento intrauterina.
115
ao parto por profissionais de saúde habilitados possa reduzir em 20 a 30% as taxas
de mortalidade neonatal, enquanto o emprego de técnicas de reanimação neonatal
padronizadas e de maneira correta resulta em diminuição adicional de 5 a 20%
nessas taxas, levando à redução de até 45% das mortes neonatais por asfixia
(SEGRE; COSTA; LIPPI, 2009).
A assistência ao RN pode ser dividida como imediata e mediata. A
assistência imediata é aquela prestada logo após o nascimento, nas duas primeiras
horas de vida, ou seja, com procedimentos realizados ainda na sala de parto.
O preparo para atender o RN na sala de parto inclui necessariamente:
116
Considerando-se a frequência de RNs que precisam de algum
procedimento de reanimação e a rapidez com que tais manobras devem ser
iniciadas, é fundamental que em todo e qualquer parto esteja presente pelo menos
um profissional de saúde capaz de realizar os passos iniciais e a ventilação com
pressão positiva por meio de máscara facial. A única responsabilidade desse
profissional deve ser o atendimento ao RN. Quando, na anamnese, identificam- -se
fatores de risco perinatais, podem ser necessários 2–3 profissionais treinados e
capacitados a reanimar o RN de maneira rápida e efetiva. Desse grupo de
profissionais, pelo menos um médico apto a intubar e indicar massagem cardíaca e
medicações precisa estar presente na sala de parto (ALMEIDA; GUINSBURG,
2016). No caso do nascimento de gemelares, deve-se dispor de material e equipe
para cada um dos bebês.
Imediatamente após o nascimento, a necessidade de reanimação depende
da avaliação rápida de três situações referentes à vitalidade do concepto, sendo
feitas as seguintes perguntas (BRASIL, 2014):
Gestação a termo?
Respirando ou chorando?
Tônus muscular bom?
117
aos passos iniciais da reanimação, que incluem secagem e estimulação. Uma
porcentagem muito menor, menos de 10%, requer intervenções de reanimação
mais ativas para estabelecer uma respiração regular. Ou seja, na maioria dos casos,
a reanimação pode ser realizada mesmo com o clampeamento tardio do cordão
umbilical (BRASIL, 2011).
Na sala de parto, enquanto o RN está junto à mãe, deve-se prover calor,
manter suas vias aéreas pérvias e avaliar a sua vitalidade de maneira continuada.
As medidas para se evitar as perdas calóricas do RN incluem o controle da
temperatura ambiente na sala de parto e a secagem e envolvimento em campos
aquecidos, lembrando de manter o RN em contato pele a pele, usando o corpo da
mãe como fonte de calor. Esse contato pele a pele deve ocorrer por pelo menos
uma hora após o parto, por tratar-se de um período em que o RN está alerta,
desperto e tem maior probabilidade de iniciar a amamentação com pouca ou até
mesmo nenhuma intervenção profissional. Os cuidados de rotina ao RN devem ser
postergados pelo menos na primeira hora de vida ou ser realizados com o RN em
seio materno, de preferência amamentando.
A avaliação da vitalidade deve ser feita considerando-se dois parâmetros
principais: frequência cardíaca e respiração. A avaliação da coloração da pele e das
mucosas do RN não é mais utilizada para decidir procedimentos na sala de parto,
já que RNs com respiração e frequência cardíaca adequadas podem demorar
alguns minutos para ficarem corados (BRASIL, 2014). Utiliza-se o escore de Apgar
para avaliação da vitalidade ao nascer, uma nota dada ao RN no 1o e 5o minuto de
vida, de 0 a 10 (Figura 3). Entretanto, é importante lembrar que o escore de Apgar
não deve ser utilizado para determinar o início da reanimação, e sim para avaliar a
resposta do RN às manobras de reanimação, no 1o e 5o minutos de vida e, se
necessário, no 10o , 15o e 20o minutos (SEGRE; COSTA; LIPPI, 2009).
118
Quadro 06 - Escore de Apgar ampliado
119
A frequência cardíaca é o principal determinante da decisão de indicar as
diversas manobras de reanimação. Logo após o nascimento, o RN deve respirar de
maneira regular e suficiente para manter a frequência cardíaca acima de 100 bpm.
Se o RN não apresenta boa vitalidade — ou seja, se após o nascimento,
sendo secado e estimulado, não apresentar movimentos respiratórios eficientes,
estar hipotônico e/ou frequência cardíaca < 100 bpm — ele deve ser retirado da
mãe e encaminhado para mesa de reanimação, sob calor radiante, para início das
manobras por profissional capacitado.
Em no máximo 30 segundos, devem ser realizados os primeiros passos de
reanimação, incluindo-se prover calor através do berço aquecido, promover a
permeabilidade das vias aéreas através de leve extensão da cabeça e aspiração de
vias aéreas superiores, se necessário, e evitar a perda de calor por meio da
secagem do RN e retirada de campos úmidos.
A aspiração está reservada aos pacientes que apresentam obstrução de
vias aéreas por excesso de secreções. Nesses casos, deve-se aspirar
delicadamente a boca e depois as narinas com sonda traqueal nº. 8–10 conectada
ao aspirador a vácuo, sob pressão máxima de 100 mmHg (ALMEIDA; GUINSBURG,
2016). Na presença de líquido amniótico meconial, independentemente de sua
viscosidade, o médico não deve realizar a aspiração de rotina das vias aéreas e
deve levar em consideração a vitalidade do RN, pois esse procedimento não diminui
a incidência de Síndrome de Aspiração Meconial, a necessidade de ventilação
mecânica nos RN que desenvolvem pneumonia aspirativa, nem o tempo de
oxigenoterapia ou de hospitalização (BRASIL, 2014).
Uma vez realizados os passos iniciais, avalia-se a respiração e a frequência
cardíaca. Se houver vitalidade adequada, com frequência cardíaca > 100 bpm e
respiração rítmica e regular, o RN deve receber os cuidados de rotina na sala de
parto. Se o RN, após os passos iniciais, não apresentar melhora, indica-se a
ventilação com pressão positiva, que deve ser iniciada nos primeiros 60 segundos
de vida, no considerado “minuto de ouro”.
120
11.5 Cuidados de enfermagem ao recém-nascido
121
período anterior se dissipa. Caem as frequências cardíaca e respiratória e a
atividade motora diminui. Esse sono pode variar de alguns minutos a 3–4 horas
(SEGRE; COSTA; LIPPI, 2009).
Após essa primeira hora, o RN pode ser retirado da mãe para realização
dos primeiros cuidados, incluindo o exame físico detalhado, explicando-se todos os
procedimentos a serem realizados para mãe e acompanhante presente no
momento. Não há uma ordem correta para realização desses procedimentos;
entretanto, eles devem ser realizados antes do encaminhamento do binômio para o
alojamento conjunto.
122
16 Cuidados de enfermagem ao recém-nascido de colírio no fundo
do saco lacrimal inferior de cada olho. A seguir, massagear
suavemente as pálpebras, deslizando-as sobre o globo ocular para
fazer com que o nitrato de prata banhe toda a conjuntiva. Limpar com
gaze seca o excesso que ficar na pele. O nitrato de prata causa uma
conjuntivite química, levando a uma resposta inflamatória com efeito
antibiótico secundário. A profilaxia é recomendada para todos os RN,
independente da via de parto (vaginal ou cesariana), até uma hora
de vida. O procedimento pode ser realizado com o bebê no colo da
mãe (BRASIL, 2014).
e) Administração de vitamina K intramuscular para prevenção da
doença hemorrágica do recém-nascido. Aplicar 1mg de vitamina K
intramuscular em vasto lateral da coxa esquerda. A vitamina K é
necessária para a coagulação normal do sangue, evitando-se
quadros hemorrágicos (SEGRE; COSTA; LIPPI, 2009). Deve ser
realizada em todos os RNs em até uma hora de vida, podendo
também ser realizado no colo da mãe em contato pele a pele.
f) Identificar o RN com pulseira contendo dados como nome da mãe,
data e hora do nascimento, peso ao nascer, Apgar, sexo e registro
hospitalar. A pulseira pode ser colocada no pulso ou no tornozelo. A
mãe deve conter uma pulseira com as mesmas informações da
pulseira do RN. Os dados das pulseiras devem ser conferidos com a
mãe antes de colocadas no binômio.
g) Colher impressão plantar do RN e do polegar direito da mãe e
registrar em impresso próprio do hospital.
h) Coleta de sangue do cordão umbilical para tipagem (ABO) e
sorologias. As sorologias da mãe também devem estar disponíveis
antes do parto, principalmente HIV e sífilis. Se não houver sorologias
recentes, realizar teste rápido na admissão hospitalar. O resultado
das sorologias é importante para início precoce da amamentação.
123
Após a realização dos cuidados de rotina na sala de parto, o RN em boas
condições clínicas deve ser encaminhado juntamente com a mãe ao alojamento
conjunto.
124
Monitorização e registro dos sinais vitais (frequência cardíaca,
frequência respiratória, temperatura corpórea), eliminações
fisiológicas, presença de náuseas, sialorreia e vômitos, com intervalo
máximo de 6 horas.
Administração de vacina contra hepatite B, importante
imunoprofilaxia perinatal, reduzindo o risco de infecção crônica. Deve
ser realizada em todos os RNs até 12 horas de vida por via
intramuscular, em vasto lateral da coxa direita.
Realização de medidas antropométricas e exame físico completo.
Aferir os perímetros cefálico, torácico e abdominal e estatura. O
perímetro cefálico deve ser aferido utilizando como marcadores a
região frontal, occiptal e acima da inserção da orelha. O perímetro
torácico situa-se na altura dos mamilos e o abdominal, na linha do
coto umbilical. O perímetro cefálico deve ser maior de 2–3 cm em
relação ao torácico em RN a termo (SOUZA, 2011). Mensurar a
estatura com o RN deitado em superfície plana, mantendo os joelhos
em extensão e pés apoiados, utilizando fita métrica ou,
preferencialmente, régua de medição. O exame físico completo deve
ser feito com o objetivo de avaliar coloração da pele, hidratação,
reflexos, padrão respiratório e cardíaco e malformações aparentes.
Normalmente, tais procedimentos são realizados após o primeiro
banho.
Realização do primeiro banho após o RN atingir a estabilidade
térmica, cerca de 6–12 horas após o nascimento. O RN com
transição normal pode ser higienizado com água e sabão, não
tomando muito tempo nesse procedimento para evitar perda
excessiva de calor. Orientar mãe e acompanhante, incentivando a
sua participação nos cuidados do bebê.
Orientação e supervisão quanto aos cuidados de higienização do
RN, como banho, troca de fraldas e cuidados com o coto umbilical.
A troca de fraldas deve ser feita sempre que o RN tiver defecado ou
125
urinado em média ou grande quantidade. Higienizar o períneo de
preferência com água morna e evitar o uso de lenços perfumados
devido ao risco de desenvolvimento de alergia nos primeiros dias de
vida. Orientar a realização da higiene do coto umbilical a cada troca
de fralda com álcool a 70%, tomando cuidado com as roupas para
deixá-lo exposto para facilitar a mumificação.
Aplicação da vacina BCG (contra tuberculose) antes da alta.
Promoção do aleitamento materno exclusivo e em livre demanda,
explicando suas vantagens e benefícios para mãe e bebê, orientando
sobre possíveis dificuldades, cuidados com a mama e como realizar
a ordenha manual, se necessário. Observar a qualidade da sucção,
pega e posição no seio materno, com o objetivo de identificar a
técnica incorreta e corrigi-la, aumentando os índices de sucesso do
aleitamento materno e prevenindo a ocorrência de traumas nos
mamilos. Contraindicar o uso de mamadeiras e chupetas e a
introdução de outros alimentos e/ou outros leites antes dos seis
meses de vida (SÃO PAULO, 2019).
Realização do teste do pezinho com mais de 48 horas de vida, de
preferência antes da alta hospitalar, evitando-se perdas de
seguimento.
126
12 A INTERNAÇÃO DOMICILIAR COMO ESTRATÉGIA DE ATENÇÃO AO
RECÉM-NASCIDO
127
Ao longo da década de 1970, nova geração de neonatos passou a
sobreviver à internação nas UTINs em decorrência do suporte tecnológico para a
sustentação prolongada da vida. Inicialmente, essas crianças foram cuidadas e
mantidas nas UTINs nos hospitais pela ausência de alternativas institucionais
fundamentadas no cuidado no domicílio (Goldberg, 2002).
Autores como Collins (2004), Díaz e colaboradores (2002) e Walls e
colaboradores (2004) descrevem estudos de internação domiciliar na assistência
neonatal e pediátrica que ocorreram em espaços públicos e privados e em
programas com populações específicas, tais como neonatos com alta precoce com
sonda gástrica; recém-nascidos a termo com icterícia, inclusive casos mais
complexos, como crianças dependentes de tecnologias como a ventilação
mecânica. O’Donnell e O’Keiff (2002) afirmam que a melhoria dos equipamentos
que se tornaram portáteis e mais fáceis de manusear, aliada à maior disponibilidade
dos profissionais em promover a educação dos pais são fatores que facilitaram essa
iniciativa.
Hummel e Cronin (2004) classificam as crianças que demandam cuidados
domiciliares em três grupos: crianças que necessitam de cuidados paliativos,
crianças dependentes de tecnologias e prematuros estáveis que têm alta precoce
para ganho de peso em casa. Para essas autoras, o primeiro grupo engloba
crianças com um diagnóstico terminal e que demandam cuidados mais paliativos do
que curativos, tendo como objetivo promover a qualidade de vida da criança e de
seus familiares coerentes com seus valores e crenças, considerando-os o centro do
cuidado. O segundo grupo de crianças inclui aquelas dependentes de tecnologias,
como ventilação mecânica, nutrição parenteral ou medicação, ou seja, que
demandarão assistência médica ou de enfermagem por um longo período de tempo.
E o terceiro grupo é formado por lactentes, incluindo prematuros estáveis que não
necessitam de manejo intensivo diário mas continuam a demandar observação e
cuidados de enfermagem, podendo estar associado a suporte tecnológico tais como
oxigenoterapia, alimentação por sonda nasogástrica.
Vários estudos conduzidos com crianças egressas de UTIN apresentaram
resultados positivos em relação à segurança e à redução dos custos na assistência
128
à saúde dessa população (Kotagal et al., 1995; Brooten et al., 1986; Spinner et al.,
1998).
Berg e Salisbury (1971) evidenciaram a tentativa de não condicionarem a
alta do bebê prematuro e de baixo peso ao critério ponderal. Em decorrência disso
foi conduzido um estudo no Beth Israel Hospital, nos Estados Unidos, durante o
período de dois anos, em que 167 bebês com maturidade fisiológica e cujos pais
apresentaram habilidades com o cuidado receberam alta 12 dias antes do previsto,
em média. Esses autores constataram que nenhum dos bebês do estudo havia
morrido dois meses depois da alta, sendo que somente uma apresentou pneumonia
e duas foram internadas novamente com hérnia inguinal. Esse estudo apontou que
as mães manifestaram prazer e satisfação, apesar de apreensão de terem que
cuidar do bebê.
Outro trabalho conduzido por Brooten e colaboradores (1986) evidenciou
que crianças com peso inferior a 2.200 gramas poderiam ter alta com segurança
caso os pais estivessem vinculados a um programa de educação para o cuidado
com a criança e recebessem o acompanhamento de enfermeiras especialistas no
domicilio. Nesse trabalho, os autores demonstraram uma diminuição de 27% dos
custos hospitalares.
Spinner e colaboradores (1998), nos Estados Unidos, conduziram um
estudo com crianças dependentes de oxigênio, antibióticos intravenosos,
alimentação por gavagem, participantes de um programa de atenção domiciliar com
assistência de enfermagem 24 horas no domicílio e o suporte de um médico
neonatologista para intecorrencias. Os autores verificaram a redução média de 10,6
dias na permanência hospitalar e na necessidade de reinternações, resultando em
uma economia de sete mil dólares por criança.
Em uma revisão sistemática sobre alta precoce para o domicílio de
prematuros estáveis com alimentação via nasoentérica, Collins e colaboradores
(2004) identificaram uma média de redução de 9,3 dias na permanência hospitalar,
além de uma redução do risco de infecção no grupo que teve alta precoce. Os
autores enfatizam que os potenciais benefícios desse modelo de atenção está
relacionado ao vínculo mais rápido com a família, refletindo positivamente no
129
desenvolvimento dos recém-nascidos e na redução dos custos para o serviço de
saúde e a família. Em contrapartida, os autores apontam como desvantagem desse
modelo o possível aumento da sobrecarga da família, já que seria necessário um
nível de cuidado mais complexo, tendo em vista as possíveis complicações que
poderiam decorrer desse cuidado.
Walls e colaboradores (2004), ao conduzirem um programa de internação
domiciliar na Inglaterra para tratamento de icterícia com o uso de fototerapia no
domicilio com 28 recém-nascidos a termo, constatou que todos os pais relataram
preferência por essa modalidade de tratamento.
Segre e colaboradores (1986) analisaram, em um hospital em São Paulo,
os efeitos das modificações de critérios para alta de recém-nascidos de baixo peso.
A alta ocorria quando a criança atingia 2.300 g e era acompanhada por um
Programa de Assistência Domiciliar (PAD), até completar 12 meses de idade. Os
objetivos do Programa eram: acompanhar e controlar o estado de saúde da criança
durante esse período, proceder com a vacinação completa, priorizar o retorno ao
hospital somente nos casos de real necessidade e antecipar a alta da unidade
neonatal. Foram atendidas uma média de 205 crianças por ano, tendo sido
reinternadas cerca de 20% dos assistidos no programa. Dessas, 90%
correspondiam a problemas clínicos e 10% a problemas cirúrgicos. As autoras
concluem que a alta hospitalar precoce do recém-nascido deve ser condicionada a
um programa de assistência domiciliar efetivo, a cargo de uma equipe
multiprofissional.
Segundo Raddish e Merrit (1998), muitas questões relacionadas à alta de
crianças prematuras ainda permanecem desconhecidas, como o período
considerado ideal para a alta hospitalar, além das técnicas de manejo no domicílio
e o impacto sobre a família.
Sabe-se que, depois da alta, pais de crianças que permaneceram sob
tratamento em UTIN apresentam sentimentos de ansiedade, frustração e medo. Ao
mesmo tempo, em um programa de alta precoce, espera-se que eles estejam
preparados para tomar decisões sobre o cuidado de seus filhos e aprendam a
coordenar este cuidado de forma independente. Para tal, torna-se necessária a
130
capacitação dos indivíduos e da comunidade para assumirem maior controle sobre
os valores pessoais, socioeconômicos e ambientais que afetam a saúde. Para Sícoli
e Nascimento (2003), a disseminação de informações e a educação na tomada de
decisões são princípios importantes ligados ao empoderamento. Esse movimento
no sentido da potencialização das pessoas tem como objetivo fortalecer os
indivíduos por meio do desenvolvimento da autoconfiança.
Hummel e Conin (2004) assinalam que nesse tipo de modalidade
assistencial espera-se que os pais sejam os principais cuidadores da criança e que
a equipe seja um suporte. Em decorrência disso, o empoderamento dos pais é o
principal objetivo, e atitudes de dependência devem ser desestimuladas e os pais
encorajados a desenvolver suas habilidades no cuidado.
O’Donnell e O’Keiff (2002) identificaram alguns fatores que podem dificultar
a aceitação da assistência domiciliar. Um diz respeito à aceitação pelo pediatra
responsável no hospital, que pode se sentir desconfortável pelo monitoramento em
um ambiente não convencional. Outro fator é o desconhecimento do funcionamento
dessa modalidade de assistência, e outra dificuldade está relacionada à
insegurança dos pais que podem temer a ocorrência de situações emergenciais.
Esses autores destacam, também, as dificuldades que podem ocorrer na
coordenação dos serviços envolvidos na articulação da rede de cuidados.
Ao abordar os aspectos éticos do cuidado domiciliar em neonatos
dependentes de tecnologia, Sudia-Robinson (1998) afirma que os pais se vêem na
necessidade de se ajustar a um estilo de vida que eles não estavam preparados e
a uma mudança causada no ambiente domiciliar, já que a privacidade passa a ser
limitada pela presença dos profissionais de saúde. Segundo essa autora, os
profissionais de saúde devem estar atentos às fontes apropriadas de suporte de
cuidado disponíveis na comunidade antes da alta da criança.
No Brasil, as experiências na assistência domiciliar de crianças egressas
de UTIN no Sistema Único de Saúde (SUS) ainda tem sido incipientes. Como
exemplo, citam-se as experiências do Instituto Fernandes Figueira no Rio de
Janeiro, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais e do
PID-Neo no Hospital Sofia Feldman.
131
Silva e colaboradores (2005), ao estudarem programas de internação
domiciliar (PID) na população adulta, no âmbito do SUS, evidenciaram a
necessidade de ampliar e qualificar a comunicação e os sistemas de informação
entre a atenção básica e os programas. As autoras identificaram que o PID organiza
o processo de trabalho com ênfase nas tecnologias leves, já que as relações
cuidador/usuário/equipe são otimizadas pelo vínculo cotidiano que se estabelece e
é vislumbrado como positivo pela implementação do cuidado e melhora do usuário.
Entretanto, para essas autoras, a internação domiciliar é uma estratégia ainda frágil,
com pequena capacidade de induzir mudanças no modelo de atenção vigente.
A hospitalização prolongada é considerada preocupante porque, em alguns
casos, tem conseqüências desastrosas; primeiro, porque a privação materna afeta
o crescimento e o desenvolvimento da criança, podendo comprometer, inclusive, a
habilidade da mãe em cuidar do seu filho; segundo, porque se reconhece que a
distância por tempo prolongado é um dos maiores inimigos da amamentação; e
terceiro, porque os berçários estão freqüentemente superlotados, aumentando o
risco de infecção hospitalar (Scochi, 2000).
Bernbaun e colaboradores (1989), ao focalizarem crianças que saíam de
alta com cuidados especiais, algumas delas dependentes de algum tipo de
tecnologia, relataram que, em decorrência das necessidades de saúde da criança,
elas tendiam a ser o centro da família, tornando as atividades do dia-a-dia mais
difíceis. Autores apontam que os critérios para a alta precoce de prematuros devem
estar atrelados à maturidade fisiológica e baseados nas habilidades dos pais que
devem estar instruídos em todos os aspectos do cuidado da criança e cientes da
importância do acompanhamento em um serviço de saúde (Berg; Salisbury, 1971).
Evidencia-se que o atendimento domiciliar representa uma estratégia de
atenção à saúde que engloba muito mais do que o simples fornecimento de um
tratamento médico residencial padronizado. É um método aplicado ao cliente, que
enfatiza sua autonomia e esforça-se em realçar as suas habilidades funcionais no
seu próprio ambiente, o que envolve o planejamento, a coordenação e o
fornecimento de vários serviços.
132
Segundo Campos (1989), modelo assistencial ou de atenção é o modo
como são produzidas as ações de saúde e como os serviços se organizam para
produzi-las e distribuí-las em uma dada área e num determinado tempo para uma
população.
No processo de desenvolvimento e intervenção das ações em saúde, deve-
se considerar que para a execução do trabalho torna-se necessário um grau de
tecnologia. Nesse sentido, Merhy (2000) define tecnologia como o conjunto de
conhecimentos e ações aplicados para a execução do trabalho e classifica as
tecnologias existentes no processo de trabalho em saúde em: leve, leves-duras e
duras.
O modelo assistencial organiza as tecnologias disponíveis para garantir a
promoção da saúde, a prevenção de agravos, o tratamento da população acometida
por uma enfermidade e a reabilitação. Portanto, será constituído pelos serviços de
atenção básica, secundária e terciária, que devem funcionar de forma articulada e
complementar para garantir a integralidade do cuidado (Silva, 1999). Estes
modelos, por sua vez, devem garantir a concretização dos princípios doutrinários
do SUS: integralidade, universalidade e eqüidade, que foram declarados na
Constituição Brasileira de 1988, no artigo 196:
133
O cuidado domiciliar deve, assim, ser considerado uma modalidade do
modelo assistencial, garantindo uma co-responsabilidade da família na assistência,
sem desresponsabilizar o Sistema de Saúde.
Segundo Andrade e colaboradores (1997), a família, de maneira geral, é a
que arca com a responsabilidade de continuar cuidando da saúde de seus
membros. Dessa maneira, verifica-se que o Estado tem, ainda, disponibilizado
poucos recursos no sentido de diminuir a sobrecarga financeira, física e emocional
desses cuidadores.
O domicílio e as pessoas que o constituem são partes fundamentais na
instalação do cuidado domiciliar, pois a família influencia sob diversos aspectos o
processo saúdedoença dos indivíduos. Corroborando com isso, Sena e
colaboradores (1999) afirmam que o cuidado no domicílio vem sendo realizado
pelas pessoas que ali residem, na maioria das vezes por uma mulher – mãe, familiar
ou pessoa da comunidade.
Pinheiro (2001) advoga que as práticas de acompanhamento domiciliar que
visam à humanização e à melhoria dos serviços hospitalares trazem à tona a
necessidade de refletir sobre os níveis de complexidade e de atenção, isso porque
esses níveis são comumente denominados de baixa, média e alta complexidade.
Entretanto, deve-se observar que na própria atenção primária podem ser exigidas
habilidades e práticas de alta complexidade que reúnem diversos campos, como a
antropologia, a economia e a sociologia, dentre outros.
Não se trabalha o contexto domiciliar reproduzindo padrões, normas e
rotinas que se empregam em outros contextos como o hospital, afirma Lacerda
(1996). O cuidado no domicílio precisa ser abordado sob nova visão, já que envolve
diferentes modos de viver da família e dos indivíduos.
A alta de uma criança de uma UTIN é um processo complexo para os
cuidadores, as famílias e o sistema de saúde. Os pais de crianças saudáveis sentem
o aumento das demandas sociais, emocionais e físicas, e essa demanda é
aumentada quando se trata de uma criança com necessidades especiais.
Neste trabalho, buscou-se analisar o trabalho das cuidadoras domiciliares
de crianças em um modelo de internação domiciliar. Verifica-se, no entanto, que
134
isso requer adentrar na intimidade das famílias não apenas para obter as
informações necessárias sobre o objeto de pesquisa, mas também no sentido de
contribuir para que a complexidade do cuidado domiciliar tenha visibilidade nos
modelos assistenciais.
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