Você está na página 1de 2

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO

CEARÁ- IFCE – CAMPUS TIANGUÁ


Curso de Licenciatura em Letras
Disciplina: Literatura Brasileira IV
Professor (a): Maria Aparecida Munhoz de Omena
Considerações sobre o conto: A menor mulher do mundo.
O conto A menor mulher do mundo foi escrito no ano de 1960 pela escritora Clarice
Lispector, pertencente a Geração de 45 tendo como uma das temáticas o engajamento
político, pois os escritores dessa geração abordavam temas como justiça social e lutas de
classes. Sobre a perspectiva de crítica social Clarice escreveu o texto a menor mulher do
mundo.
O texto começa descrevendo o local a ser explorado pelo francês Marcel Petre: as
profundezas da África Equatorial, ele estava em busca de algo novo que pudesse ser
utilizado de alguma forma pelos europeus. Sobre este pensamento de buscar algo novo
para o seu povo Marcel acaba se defrontado uma tribo de pigmeus onde teria uma
grande surpresa.
(...) “Marcel Pretre defrontou-se com uma mulher de quarenta e cinco centímetros,
madura, negra, calada. “Escura como um macaco”, informaria ele à imprensa, e que
vivia no topo de uma árvore com seu pequeno concubino”.
Nesse trecho é possível notar a relação entre o colonizador e o colonizado, pois a partir
do momento em que Petre tem contato com aquela tribo, mas de forma mais específica
com a menor mulher do mundo se torna notória a sua posição de superioridade em
relação A menor mulher do mundo ao seu ponto de vista, pois ele começa a comparar
aquela mulher a seres que ele conhece (macaco), como uma forma indireta de
inferiorizá-la a partir de sua cor e consequentemente comparar o seu modo de vida a
seres primitivos como o macaco.
Logo após observar a pequena mulher e notar que ela estava grávida o explorador sente
a necessidade de nomeá-la: “Sentindo necessidade imediata de ordem, e de dar nome ao
que existe, apelidou-a de Pequena Flor. Ele a nomeia como se estivesse fazendo um
favor á ela, não apenas com esse intuito, mas também com a finalidade de classificá-la
dentro do rol de coisas conhecidas pela sociedade europeia.
Após nomear a mulher, o explorador vai observar a linguagem dos povos pertencentes
aos pigmeus: “(...) a linguagem que a criança aprende é breve e simples, apenas
essencial. Os Likoualas usam poucos nomes, chamam as coisas por gestos e sons
animais. Como avanço espiritual, têm um tambor. Enquanto dançam ao som do tambor,
um machado pequeno fica de guarda contra os Bantos, que virão não se sabe de onde.
Nesse trecho do texto o caçador e explorador Marcel Petre faz uma análise sobre a
forma como os pigmeus se comunicam, eles falam apenas o necessário para que haja
comunicação a nível verbal, e também ficam com um pequeno machado como forma de
prevenir ataques dos povos Bantos os quais compõem uma tribo de povos canibais,
dando a entender que aquele povo era tão primitivo a ponto de não possuir um acordo
político com os seus adversários que no caso seriam os Bantos.
E como o explorador tinha visto a pequena flor como algo exótico decidiu colocá-la no
jornal, e as reações das famílias foram diversas, mas sempre com o mesmo viés de que a
pequena mulher era como um objeto inanimado ou até mesmo um ser irracional.
Nessa obra de Clarice há um recurso comum da literatura fantástica, que é a substituição
do personagem pelo seu duplo, que aparece dentro de uma situação plausível. Nessa
obra esse duplo é representado pela fotografia dela exposta nos jornais, o fato de a foto
ser colocada em tamanho natural, ainda aumenta a proximidade entre imagem e
original.
E como se a foto ganhasse autonomia, provocando " assombramento" nas pessoas, é
como se estivessem de frente com a original, e isso fez criar nas pessoas os sentimentos
mais perversos.
(...) Em uma casa, na sagração da primavera, a moça noiva teve um êxtase de piedade:
- Mamãe, olhe o retratinho dela, coitadinha! olhe como ela é tristinha!
- Mas-disse a mãe, dura e derrotada e orgulhosa- mas é tristeza de bicho, não é tristeza
humana.
(...) Foi em outra casa que um menino esperto teve uma ideia esperta:
- Mamãe, e se eu botasse essa mulherzinha africana na cama de Paulinho enquanto ele
está dormindo? Quando ele acordasse, que susto, hein! Quando sua imagem chega nas
casas, as pessoas começam a ter o que chamamos de racismo recreativo, que é quando
as pessoas fazem piada, camuflagem de comentários maldosos, tornando assim uma
forma suave e engraçada de julgar.
Em suma, a obra retrata o quanto que nós só amamos o que consideramos “belo” dentro
dos padrões de uma sociedade dada como superior, achamos que podemos tratar como
uma "coisa" uma pessoa tendo como fundamentação a sua cor, etnia ou cultura dada
como inferior, e esse conto traz a lição de que tudo existe por um motivo , e que tudo
que Deus faz é bem feito, ou seja, cada individuo tem sua funcionalidade dentro de uma
sociedade independentemente do seu nível de comparação com as grandes potências
mundiais.

Você também pode gostar