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O impacto da Alergia Alimentar na Asma

Renato Nogueira Campos*


23 de junho de 2021

Introdução

A alergia alimentar é uma resposta imunológica potencialmente séria aos alimentos ou aditivos
alimentares. Embora a maioria das alergias alimentares das crianças desapareçam na fase adulta,
algumas crianças podem enfrentar problemas para o resto da vida. Nos países ocidentais, a prevalência
de alergias alimentares e outras doenças atópicas, como a asma, está aumentando. Portanto, é comum
observar a coexistência de alergia alimentar e asma no mesmo paciente.

Como Ocorre a Perda de Tolerancia Oral

Muitas pessoas com alergia alimentar podem desenvolver asma no futuro. Cada uma afetará
adversamente o outra. Pessoas com alergia alimentar e asma têm maior risco de reações induzidas por
alimentos com risco de vida.

Em 2007, três milhões de crianças menores de 18 anos (3,9%) relataram ter uma alergia alimentar
nos 12 meses anteriores e, de 1997 a 2007, a prevalência de alergia alimentar relatada aumentou 18% neste
grupo. Os alérgenos alimentares mais comuns em crianças pequenas são leite (2,5%), ovo (1,3%),
amendoim (0,8%), trigo (0,4%), soja (0,4%), nozes (0,2%), peixe (0,1%) e marisco (0,1%)
(KEWALRAMANI; BOLLIGER, 2010).

Um teste cutâneo foi realizado com um painel de 24 alimentos comumente consumidos em 800
pacientes (410 homens e 390 mulheres) com idades entre 5 e 60 anos na Unidade de Alergia do Instituto
de Saúde da Criança, em Calcutá na Índia, onde 684 pacientes (85,5%) relataram ter história de alergia
alimentar, a ovo, leite, trigo, leguminosas, vegetais, peixes e frutas (MANDAL at al., 2009). Sporik et
al descobriram que todos os pacientes com teste cutâneo negativo, mas com um tamanho de pápula de
pelo menos 7 mm para ovo e 8 mm para amendoim e leite reprovariam em desafios alimentares orais.
A terapia inalatória é o tratamento tradicional da asma, composta por controlador
(corticosteroide inalado); apaziguador (Beta-2-agonistas de curta ação, anticolinérgicos de curta ação);
e terapia add-on (Terapia anti-IgE, anti-IL5, Corticosteroides sistêmicos/orais) (HORAK at al., 2016).
A tolerância a alérgenos alimentares ocorre no intestino e no tecido linfóide associado ao
intestino, onde residem a maior quantidade de células do sistema imunológico do corpo. Os linfonodos
mesentéricos (LNM) e as placas de Peyer são os principais componentes do tecido linfóide associado
ao intestino, constituídas de folículos de células B e áreas de células T. Acima dos folículos de células
* Bacharel em Tecnólogo em Processamento de Dados pelas Faculdades Integradas Anglo-Americano em 1991, Curso de extensão em
Epignética, Nutrigenética e Nutrigenômica pelo SENAC em 2018, Pós-Graduação em Docência do Ensino Superior pela Estácio de Sá em 2018,
e-mail: renatocamp65@gmail.com.
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B estão as células microfold (M), em rosa na figura. As proteínas dos alimentos são quebradas em
pequenos peptídeos e aminoácidos que, serão absorvidos pelas células epiteliais intestinais. No entanto,
proteínas imunologicamente ativas podem escapar do processo de digestão, como a alfa-lactoalbumina
e beta-lactoglobulina, que não existem no leite materno. No intestino, existem 3 tipos de células
especializadas na captação de antígenos: células M, células epiteliais intestinais e células dendríticas
(CD). As células M transportam o antígeno para CD apresentadoras de antígeno. Os antígenos
alimentares são adquiridos pelo sistema imunológico por meio de vários mecanismos diferentes. As CD
que expressam CX3CR1 e CD11b e estendem os processos dendríticos entre as células epiteliais para
apanharem amostras dos antígenos do lúmen
(1). Além disso, as células M localizadas nas
placas de Payer (2), células intestinais por via
paracelular (3) ou transcelular (4) e células
caliciformes (5) podem contribuir para a
amostragem de antígeno. Os antígenos são
captados por CD11C + CD103 + DC (2). As
DC que expressam CD11c e CD103 co-
expressam CCR7 e migram para o LNM,
produzido TGF-beta, IL-10, RALDH, e IDO contribuindo para a promoção ativa do desenvolvimento
de células Treg e Breg. Em uma resposta não alérgica a um antígeno alimentar, IL-10 + IgG4 das células
Breg suprimem a inflamação alérgica dependente de Th2 diminuindo ativação de mastócitos. Porém
quando ocorre a perda da tolerância oral, ocorre a ativação de mastócitos, produção de IL-4 / IL-5 / IL-
13 a partir de células ILC2 e Th2 e produção de IgE a partir de células plasmáticas. (WAWRZYNIAK;
O'MAHONY; AKDIS, 2016).
A exposição intestinal à gliadina, uma das proteínas do glúten, leva ao aumento da zonulina, a
abertura das junções estreitas e o aumento da permeabilidade intestinal. O aumento da permeabilidade
intestinal após a exposição à gliadina ocorre em todos os indivíduos (HOLLON at al., 2015).

Conclusão
Alergias alimentares e asma costumam coexistir. Como a asma pode causar reações fatais aos
alimentos, o controle ativo da asma é essencial. Embora as alergias alimentares ainda não sejam
consideradas como causa da asma, é importante monitorar os pacientes com alergia alimentar porque
eles apresentam maior risco de desenvolverem asma mais grave. A retirada do glúten que causa a perda
da tolerância oral, e do leite, parece ser a solução para a remissão da asma. Mais pesquisas são
necessárias para determinar se certas mudanças na dieta do paciente podem alterar os resultados da
asma. Educar os pacientes e suas famílias sobre o manejo da alergia alimentar e avaliar o risco de asma
é essencial.
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Referências

HOLLON, J.; at al. Effect of Gliadin on Permeability of Intestinal Biopsy Explants from
Celiac Disease Patients and Patients with Non-Celiac Gluten Sensitivity. Basel: MDPI
Publishing, 2015. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4377866/>.
Acesso em: 23 jun. 2021.

HORAK, J.; at al. Diagnosis and management of asthma – Statement on the 2015 GINA
Guidelines. New York: Springer, 2016. Disponível em:
<https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5010591/>. Acesso em: 23 jun. 2021.

KEWALRAMANI, A.; BOLLIGER, M. E. The impact of food allergy on asthma. Auckland:


Dove Medical Press, 2010. Disponível em:
<https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3047906/>. Acesso em: 23 jun. 2021.

MANDAL, J.; at al. Immediate hypersensitivity to common food allergens: an investigation on


food sensitization in respiratory allergic patients of Calcutta, India. Philadelphia: Lippincott
Williams & Wilkins, 2009. Disponível em:
<https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3650995/>. Acesso em: 23 jun. 2021.

SPORIK, R.; at al. Specificity of allergen skin testing in predicting positive open food challenges
to milk, egg and peanut in children. Oxford: Blackwell Scientific Publications, 2000. Disponível
em: < https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/11069561/>. Acesso em: 23 jun. 2021.

WAWRZYNIAK, M.; O'MAHONY, L.; AKDIS, M. Role of Regulatory Cells in Oral


Tolerance. Seoul: Korean Academy of Asthma, Allergy and Clinical Immunology: Korean
Academy of Pediatric Allergy and Respiratory Disease, 2016. Disponível em:
<https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5266108/>. Acesso em: 23 jun. 2021.

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