Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Silvia Kochen
Crises e síndromes
epilépticas
2a Edição
ETIOLOGIA
GENÉTICA DESCONHECIDA
ESTRUTURAL INFECCIOSA
METABÓLICA IMUNE
COMORBIDADES
Apoio:
Crises e síndromes
epilépticas
2a Edição
Silvia Kochen
Crises e síndromes epilépticas
Copyright © 2023 – Elza Márcia Targas Yacubian e Silvia Kochen
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio ou sistema, sem prévio
consentimento da editora, ficando os infratores sujeitos às penas previstas em lei.
Bibliografia
1. Epilepsia 2. Sintomatologia I. Yacubian, Elza Márcia Targas II. Kochen,
Silvia. III. Título
Impresso no Brasil
2023
Profa. Dra. Elza Márcia Targas Yacubian
Unidade de Pesquisa e Tratamento das Epilepsias,
Hospital São Paulo da Universidade Federal de
São Paulo, Brasil.
As últimas décadas testemunharam avanço considerável nos conhecimentos das crises epi-
lépticas e das epilepsias mediante a contribuição da videoeletroencefalografia, dos estudos
estruturais e funcionais do sistema nervoso, como ressonância magnética, tomografia por
emissão de fóton único, tomografia por emissão de pósitrons e aplicação de técnicas gené-
ticas.
A classificação do(s) tipo(s) de crise(s) epiléptica(s) e das epilepsias é o passo inicial e
fundamental na avaliação de eventos de natureza epiléptica. Em 2017 foram publicadas
oficialmente pela International League Against Epilepsy (ILAE) a Classificação das Crises
Epilépticas e a Classificação das Epilepsias e, em 2022, a Classificação e Definição das
Síndromes Epilépticas.
A proposta deste texto é atualizar os conhecimentos dos estudantes, residentes e profissio-
nais interessados na área de Classificação das Crises Epilépticas e das Epilepsias, estágio
fundamental para a programação de exames complementares e instituição terapêutica. Na
nossa forma de entender, embora existam propostas para a classificação das crises epi-
lépticas com base na fenomenologia comportamental, acreditamos que o EEG representa
um instrumento importante e, algumas vezes, fundamental para estabelecer o diagnóstico
correto. Assim, na presente abordagem não poderíamos nos restringir puramente à análise
semiológica dos eventos críticos e optamos por utilizar, sempre que necessário, o conceito
clássico de correlação eletroclínica.
Em um futuro próximo, é possível que tenhamos a nova ou as novas classificações oficiais
da ILAE. Estão sendo discutidos formatos modulares de classificação para vários propósi-
tos, como ensino, ensaios clínicos, estudos epidemiológicos e tratamento cirúrgico. Muito
provavelmente tais esquemas exigirão tempo considerável até que sejam testados e aceitos
internacionalmente.
8
Seção 1
Classificação
das crises
epilépticas
Crises epilépticas
Crise epiléptica é definida como a ocorrência transitória de sinais e/ou sintomas decor-
rentes de atividade neuronal síncrona ou excessiva no cérebro.1 Esses sinais ou sintomas
incluem fenômenos anormais súbitos e transitórios, como alterações da consciência, ou
eventos motores, sensitivos/sensoriais, autonômicos ou psíquicos involuntários percebidos
pelo paciente ou por um observador.2
Epilepsia é a predisposição persistente do cérebro para gerar crises epilépticas recorrentes.
Tradicionalmente, epilepsia é definida pela ocorrência de duas crises epilépticas não pro-
vocadas, separadas por um intervalo de mais de 24 horas. Quando essas crises recorrem
dentro deste tempo, mesmo que assumam a forma de crises subentrantes ou estado de
mal epiléptico, não são suficientes para o diagnóstico de epilepsia.3 A ocorrência de duas
crises epilépticas não provocadas autorizaria o médico a propor o início do tratamento
da epilepsia. Atualmente, a International League Against Epilepsy (ILAE) preconiza duas
definições de epilepsia: uma definição conceitual (científica) e outra operacional (prática).4
Em 2005, um grupo de trabalho da ILAE propôs uma definição conceitual (científica) de
epilepsia como um distúrbio cerebral caracterizado pela predisposição persistente do cére-
bro para gerar crises epilépticas e pelas consequências neurobiológicas, cognitivas, psico-
lógicas e sociais dessa condição. Segundo essa proposição, a definição de epilepsia requer
a ocorrência de pelo menos uma crise epiléptica desde que seja demonstrada uma condição
que predisponha o cérebro a gerar crises, como uma anormalidade eletroencefalográfica ou
uma lesão cerebral às quais a ocorrência da crise possa ser atribuída.1
Em 2014, a ILAE propôs uma definição operacional (prática) de epilepsia como uma doen-
ça do cérebro caracterizada por uma das seguintes condições:4
• Pelo menos duas crises não provocadas (ou duas crises reflexas) ocorrendo em um
intervalo superior a 24 horas.
• Uma crise não provocada (ou uma crise reflexa) e chance de ocorrência de uma nova
crise estimada em pelo menos 60%.
• Diagnóstico de uma síndrome epiléptica.4
A compreensão dessa definição requer a clarificação de vários termos nela utilizados.
Epilepsia como doença: tradicionalmente referida como um distúrbio cerebral funcional, em
2014 epilepsia foi definida como doença. Esse termo implica que há uma desestruturação du-
radoura da função cerebral normal. Como o câncer, condição reconhecidamente aceita como
doença, a qual se manifesta sob várias formas e exige múltiplas modalidades terapêuticas
cursando com prognósticos variados, a epilepsia também deve ser considerada uma doença.4
10
Classificação das crises epilépticas
Crises reflexas: uma crise é denominada reflexa quando sua ocorrência está claramente
relacionada a um estímulo externo ou a uma atividade do indivíduo. O estímulo precipi-
tante pode ser simples (lampejos luminosos, por exemplo) ou elaborado (uma música, por
exemplo). Da mesma forma, a atividade também pode ser simples (um movimento, por
exemplo), elaborada (ler, jogar xadrez, por exemplo) ou ambas (ler em voz alta, por exem-
plo).5 É importante distinguir fatores facilitadores de crises, que são elementos endógenos
(como privação de sono) e exógenos (como uso de cocaína) capazes de provocar crises em
pessoas com epilepsia crônica ou evocar crises em indivíduos susceptíveis sem epilepsia,
de fatores precipitantes (ou seja, precipitantes específicos de crises reflexas).6
Risco de recorrência de 60%: um risco de recorrência de 60% após a primeira crise teria o
mesmo significado que a definição tradicionalmente utilizada para iniciar o tratamento da
epilepsia, ou seja, a ocorrência de duas crises não provocadas. Um estudo importante sobre
o risco de recorrência de crises epilépticas não provocadas foi feito por Hauser et al.7 Neste,
os autores seguiram 204 indivíduos que apresentaram uma primeira crise epiléptica por até
72 meses para verificação do risco de recorrência de novas crises. Foi observado que após
uma primeira crise, o risco de recorrência de uma segunda foi de 26% a 40%. Após duas
crises, o risco de uma terceira foi de 60% a 87%, e após a terceira crise, o risco de uma
quarta foi aproximadamente o mesmo (61% a 90%) e manteve-se estável (Figura 1). Por
essa razão, preconizou-se, a critério médico, o início do tratamento após a segunda crise.
Em 2014, o grupo de trabalho da ILAE concluiu que, se após a primeira crise o médico
julgar que há risco de recorrência para uma segunda de aproximadamente 60%, ele deverá
definir a condição como epilepsia.
Figura 1. Risco de recorrência após a segunda, terceira e quarta crises não provocadas.7
11
Crises epilépticas
Não há como aferir o risco de recorrência de 60% já por ocasião da primeira crise epiléptica
para todos os pacientes, pois o risco para crises é individual. Certamente, a demonstração
de uma lesão estrutural definida e/ou a presença de uma alteração eletroencefalográfica
indubitável por ocasião da primeira crise representam elementos que autorizam o médico a
postular o início do tratamento.4
Síndrome epiléptica: é definida por um agrupamento distinto de características clínicas e ele-
troencefalográficas, muitas vezes apoiadas por achados etiológicos específicos (estruturais, gené-
ticos, metabólicos, imunológicos ou infecciosos).8 Os sinais e sintomas podem ser clínicos (por
exemplo, história, tipos de crises, modos de ocorrência das crises e achados neurológicos e psico-
lógicos) ou alterações detectadas por exames complementares (eletroencefalograma, tomografia
computadorizada e ressonância magnética do encéfalo, bases genéticas).9 Exemplos: síndrome
dos espasmos epilépticos infantis, epilepsia autolimitada com descargas centrotemporais.
Finalmente, o termo condição persistente utilizado na definição conceitual de epilepsia
não define a duração da doença. Em 2014, o Grupo de Trabalho da ILAE cunhou o termo
epilepsia resolvida, o qual deverá ser utilizado para descrever a condição de indivíduos que
tiveram uma epilepsia relacionada a uma determinada faixa etária e que agora ultrapassa-
ram essa idade ou a condição de indivíduos que tiveram a última crise há mais de dez anos
e estão há pelo menos cinco anos sem tratamento com fármacos anticrises.4 Essa definição
terá implicações práticas importantes na vida dos pacientes com epilepsia, como redução
do estigma relacionado à doença, bem como repercussões sociais e econômicas relaciona-
das a seguros de saúde e direção veicular, entre outras.
Zona epileptogênica
Durante uma crise epiléptica, a rede neuronal mostra oscilações típicas que frequentemente
se propagam através do cérebro, envolvendo progressivamente a maior parte dele. Tais os-
cilações podem ser observadas através de potenciais de campo locais, por exemplo, como
vemos no EEG. A expressão clínica dessas alterações são reveladoras da zona epileptogê-
nica (ZE). Os limites da ZE não podem ser definidos diretamente com qualquer instrumen-
to de avaliação e seu conceito é teórico. É a região cortical que produz as crises epilépticas,
cuja remoção cirúrgica tornará o paciente livre de crises.
A ZE se comporta como rede em contato com numerosas estruturas corticais através de
contatos privilegiados a partir do reforço sináptico e é um conjunto de cinco zonas: 1. zona
irritativa; 2. zona de início ictal; 3. zona sintomatogênica; 4. zona lesional; e 5. zona de
déficit funcional. A ZE pode ser representada em um “modelo” no qual: 1. a zona irritativa
12
Classificação das crises epilépticas
Lesão epileptogênica
Zona de déficit
funcional
Zona de
início ictal
13
Crises epilépticas
Esquema simplificado
1
Definições, outros tipos de crises e descritores estão listados no artigo e no glossário de termos12,13
2
Por informação inadequada ou impossibilidade de inserir nas outras categorias
14
Classificação das crises epilépticas
Segundo a Classificação Internacional das Crises Epilépticas de 2017 (Figura 4), crises
de início focal são definidas como aquelas em que as primeiras manifestações clínicas e
eletroencefalográficas indicam a ativação inicial de um sistema de neurônios limitado a
uma parte de um hemisfério cerebral.12,13,14 Elas podem evoluir para crises tônico-clônicas
bilaterais.12,13
Esquema expandido
1
Definições, outros tipos de crises e descritores são listados no artigo e glossário de termos12,13
2
Estas podem ser focais ou generalizadas, com ou sem alteração da perceptividade
3
Por informação inadequada ou impossibilidade de inserir nas outras categorias
15
Crises epilépticas
As crises de início generalizado são aquelas que se originam em algum ponto de uma rede
neuronal e rapidamente envolvem e se distribuem em redes neuronais bilaterais.12,13,14
Crises focais são divididas em perceptivas, quando a percepção de si próprio e do meio
ambiente é preservada e disperceptivas ou com comprometimento da percepção quando a
percepção é comprometida. As crises focais, podem ser motoras (7 subtipos) ou não moto-
ras (5 subtipos), e ambos os tipos podem evoluir para crises tônico-clônicas bilaterais.
Crises generalizadas são também subdivididas em crises motoras e não motoras (ausên-
cias). Há 8 subtipos de crises generalizadas motoras e 4 subtipos de ausências como não
motoras. A diferenciação destes subtipos de ausências é fundamental para o estabelecimen-
to do diagnóstico sindrômico e do prognóstico.
Crises de início desconhecido por não terem sido integralmente testemunhadas, porém com
indícios de que se tratou inquestionavelmente de crises de natureza epiléptica, seriam re-
feridas, na Classificação de 1981, pela simples palavra “não classificadas”.15 Agora elas
recebem características adicionais, incluindo motoras e não motoras. Um tipo de crise de
início desconhecido pode ulteriormente ser classificado tanto como de início focal, quanto
de início generalizado, quando estiverem disponíveis exames complementares como EEG,
neuroimagem ou testes genéticos.
Finalmente, pode ser impossível classificar uma crise epiléptica, tanto por informações
incompletas como pela natureza incomum da crise; nesse caso deverá ser chamada de crise
epiléptica não classificável. Categorização como não classificada deve ser feita somente em
situações excepcionais, quando o clínico está seguro de que o evento é uma crise epiléptica,
mas não consegue prosseguir na classificação do evento.12,13
Na apresentação da semiologia das crises epilépticas, abordaremos inicialmente as crises
focais, por serem as mais frequentes e terem características semiológicas que permitem a
caracterização da zona sintomatogênica e, com ela, a programação dos exames comple-
mentares. Em seguida, apresentaremos a semiologia das crises generalizadas.
Não consideraremos aqui a classificação dos diferentes tipos de estado de mal epiléptico.
16
Seção 2
Semiologia das
crises focais
Crises epilépticas
18
Semiologia das crises focais
Somatossensitivos
Vertiginosos
Visuais
Gustativos
Auditivos
Cognitivos Abdominais
Autonômicos Cognitivos
Olfativos
Autonômicos
Figura 5. Os sintomas das crises de início focal perceptivas não motoras constituem um sinal
importante na caracterização da zona epileptogênica das crises epilépticas, uma vez que
muitos deles têm valor localizatório.
19
Crises epilépticas
20
Semiologia das crises focais
No entanto, esses fenômenos sensitivos podem ser menos localizados ou mesmo bilaterais,
envolvendo ambas as mãos ou os pés, quando resultantes da ativação da área somatossen-
sitiva secundária (localizada no opérculo frontoparietal, em que são representados ambos
os lados do corpo), ou da área sensitivo-motora suplementar (Figura 7). Sintomas mais
difusos da área somatossensitiva secundária são sucedidos por fenômenos motores na
boca ou face pela proximidade com a região rolândica dessas partes do corpo. Por sua vez,
as auras da área sensitivo-motora suplementar são muito menos definidas, sendo descritas
como sensações corporais gerais, em que as auras são muito pouco localizadas, envolvendo
os dois lados do corpo, como ambas as extremidades proximais dos membros superiores.
Corpo caloso
Área sensitivo-motora
suplementar
Área motora
primária Área somatossensitiva
primária
Área somatossensitiva
secundária
2. Sintomas visuais são, em geral, alucinações visuais simples, em lampejos coloridos, não
estáticos, se movimentado no campo visual, algumas vezes culminando em amaurose, pelo
comprometimento de amplas áreas occipitais quando o ritmo ictal envolve completamente
as áreas posteriores de ambos os hemisférios cerebrais.
21
Crises epilépticas
22
Semiologia das crises focais
23
Crises epilépticas
8. Sintomas experienciais são crises de início focal não motor cognitivas e cursam com
sintomas que revivem experiências previamente vivenciadas pelo paciente, ou seja, são
fenômenos complexos que incluem sentimentos experimentados ao longo da vida, embora
sejam reconhecidos pelo indivíduo como uma sensação fora do contexto real. Esses even-
tos incluem: 8.1 sensações afetivas; 8.2 mnemônicas e 8.3 alucinações e ilusões.
8.1. Sintomas afetivos são constituídos por diferentes componentes, como medo, depres-
são, alegria e (raramente) raiva. Sensação de medo é uma manifestação comum na ativação
da amígdala. O medo ictal geralmente tem início quando o paciente ainda está consciente,
tem duração breve (0,5 a 2 minutos), é acompanhado de outras auras cognitivas, como déjà
vu e outros fenômenos alucinatórios, e não é precedido por ansiedade antecipatória como
ocorre nos ataques de pânico.
8.2. Sintomas mnemônicos são constituídos por diferentes modalidades dos fenômenos
mnésticos de déjà vu/jamais vu (já visto/nunca visto), déjà vecu/jamais vecu (já vivido/
nunca vivido), déjà entendu/jamais entendu (já ouvido/nunca ouvido), entre outros. Ainda
podem incluir alucinações ou ilusões visuais ou auditivas, geralmente complexas, sempre
com alguma conotação emocional.
8.3. Sintomas alucinatórios ou ilusórios. Alucinação é a percepção real de um objeto
inexistente, ou seja, são percepções sem um estímulo externo que envolvem fenômenos
visuais, auditivos, somatossensitivos, olfatórios e/ou gustatórios. Ilusão é uma alteração
de uma percepção real envolvendo os sistemas visuais, auditivos, somatossensitivos, olfa-
tórios e gustatórios. Auras de êxtase, semelhantes às clássicas descrições de Dostoiévski
(Quadro 2), vêm sendo descritas na literatura, com dados sugestivos de que seriam origi-
nadas no lobo temporal não dominante.23,24,25
24
Semiologia das crises focais
Quadro 2. A aura de êxtase do príncipe Michkin. Fiodor Mikhailovitch Dostoievski (1821- 1881).23-25
25
Crises epilépticas
As crises com expressão motora são constituídas por componentes motores simples ou
mais elaborados. O Quadro 3 enumera as crises com fenomenologia motora.
26
Semiologia das crises focais
1. Espasmos epilépticos. Espasmos epilépticos são definidos como uma contração súbita em
flexão, em extensão ou mista de predomínio em músculos proximais e do tronco usualmente
mais mantida que um movimento mioclônico mas não tão mantida como uma crise tônica.
Formas limitadas podem ocorrer: careteamento, queda da cabeça, ou movimentos oculares
súbitos. Frequentemente ocorrem em grupos. Os espasmos infantis são a forma mais conhe-
cida, mas espasmos podem ocorrer em qualquer idade.12,13 O predomínio da contração de
músculos axiais proximais ocasiona a flexão do tronco e abdução e elevação de ambos os
membros superiores numa posição saudatória (tic de salaam). O movimento inicial tende a
ser relativamente rápido, como uma contração mioclônica. O paciente permanece na atitude
saudatória por poucos segundos antes de cada relaxamento. Esses espasmos tendem a ocorrer
em salvas, ao adormecer ou ao despertar. Classicamente divididos em espasmos em flexão
e em extensão, ou mistos, essa subdivisão não deve ser valorizada, pois é dependente da po-
sição do eixo corpóreo e da cabeça quando da sua ocorrência. No entanto, espasmos consis-
tentemente assimétricos são indicativos de comprometimento assimétrico do córtex cerebral.
2. Crises tônicas. Definida simplesmente como um aumento mantido da contração muscular
que dura poucos segundos a minutos,12,13 a crise tônica consiste na contração muscular axial,
axorrizomélica ou global mantida, usualmente com duração superior a cinco a dez segundos.
As crises tônicas podem ser muito breves, perceptivas ou mais longas e disperceptivas. No pri-
meiro caso, são manifestações da área motora suplementar, enquanto, no segundo, tratam-se de
crises generalizadas. As crises tônicas focais da área sensitivo-motora suplementar geralmente
são assimétricas. É importante ressaltar que, neste caso, a lateralização da cabeça e a assimetria
dos membros superiores (postura de esgrimista) não apresentam valor lateralizatório (Figura 9).
27
Crises epilépticas
3. Crises clônicas. A crise clônica consiste na ocorrência de abalos musculares que recor-
rem a intervalos regulares, rítmicos, de menos de um a dois segundos (ou seja, são mio-
clonias rítmicas).12,13 Movimentos clônicos no território inferior da face, na mão e no pé
permitem a determinação muito confiável da zona sintomatogênica no giro pré-central do
hemisfério contralateral (córtex somatomotor primário) (Figura 10).
Figura 10. John Hughlings Jackson (1835-1911) investigou as crises unilaterais que se ini-
ciam em parte de um dimídio corporal progredindo sucessivamente para partes adjacentes,
com preservação da consciência e que mais frequentemente começavam na face, mão ou pé
(crises jacksoninanas), que se devem à propagação da descarga epiléptica na área motora.
Homúnculo de Penfield e Rasmussen, no qual a representação cortical é proporcional à rique-
za de movimentos voluntários.
28
Semiologia das crises focais
togênica em 90% dos casos.26 Entretanto, este sinal, assim como a versão oculocefálica,
esteve presente na série de 26 pacientes com uma síndrome epiléptica classificada como
generalizada, a epilepsia mioclônica juvenil, em um número significativo de casos, ou seja,
cinco (19%) dos pacientes.27 A fase tônica dura de cinco a dez segundos e é seguida por
um tremor sutil produzido pelas flexões pequenas e rápidas ao nível do cotovelo (fenômeno
vibratório). As flexões dos braços aumentam gradativamente em amplitude para, então,
diminuir (fase clônica). Esta é seguida de coma pós-ictal com duração de vários minutos,
seguido de recuperação lenta e progressiva. O termo coma, sempre presente, deve ser usado
apenas para descrever a perda de consciência que ocorre nas crises tônico-clônicas.28
5. Crises mioclônicas. São contrações involuntárias únicas, súbitas e breves de mús-
culos ou grupos musculares de topografia variável (axial, membro proximal, distal). As
mioclonias são menos regularmente repetidas e menos sustentadas do que as clonias e
podem afetar grupos musculares diferentes em um dado momento sendo, por este mo-
tivo, denominadas mioclonias multirregionais, como as que ocorrem na síndrome de
Rasmussen.6,13
6. Crises focais motoras tônicas versivas. Nas crises versivas, o fenômeno fundamental
são manifestações motoras clônicas sutis sacádicas e clônicas que culminam com a rotação
mantida e não natural dos olhos e da cabeça para um dos lados. Usualmente, tanto os olhos
como a cabeça também se movem discretamente para cima. Inicialmente os globos ocu-
lares se lateralizam em um movimento entrecortado (sacádico) muito característico e, em
seguida, elevam-se, sendo seguidos pela elevação e lateralização da mandíbula e da cabeça
e depois do ombro, chegando até ao movimento giratório de todo o corpo. Crises versivas
podem ser perceptivas ou disperceptivas. Em geral, as originadas nas proximidades da área
motora primária são conscientes, enquanto aquelas originadas nas porções mais anteriores
do lobo frontal cursam com versão inconsciente. A versão dos olhos e da cabeça que ocorre
antes da evolução para crise tônico-clônica bilateral é um sinal confiável para a lateraliza-
ção da origem da crise no hemisfério contralateral ao lado da versão.29
7. Crises de início focal com automatismos do lobo temporal [previamente crises
parciais complexas, crises psicomotoras ou crises automotoras].30 Precedida mais fre-
quentemente por aura autonômica ou psíquica, a crise de início focal com automatismos
do lobo temporal, outrora denominada crise parcial complexa do lobo temporal ou crise
psicomotora, é caracterizada pelos seguintes sinais: 1. reação de parada; 2. staring, as-
pecto ocular característico decorrente da retração das pálpebras; 3. automatismos de vá-
rios tipos, mais comumente orais e manuais; 4. postura distônica; e 5. comprometimento
da perceptividade em graus variáveis.
29
Crises epilépticas
Nas crises de início focal com automatismos do lobo temporal, o paciente apresenta um esta-
do muito diferente do coma. Classicamente verificado quando há propagação do ritmo ictal
ao lobo temporal contralateral, o comprometimento da consciência nesse tipo de crise é pro-
vavelmente decorrente de dois fatos: 1. da inabilidade de formar qualquer traço de memória
pela desorganização funcional das estruturas mesiais dos lobos temporais, implicadas no pro-
cessamento da memória; 2. pela desorganização, pelo ritmo ictal, das áreas de linguagem no
hemisfério dominante, ou seja, das áreas de Wernicke, Broca e ainda da área temporal basal,
responsável pela nomeação. Esse é o motivo pelo qual as crises que envolvem inicialmente o
hemisfério dominante cursam com “dispercepção” (termo substitutivo ou comprometimento
da ‘consciência’) muito mais acentuada do que a verificada nas crises do hemisfério não
dominante, nas quais esse comprometimento pode ser muito sutil ou, até mesmo, se mostrar
ausente. O comprometimento da percepção em crises do lobo temporal é o resultado, portan-
to, de uma disfunção primária de estruturas corticais arqui e neocorticais. Da mesma forma,
nas crises generalizadas de ausências típicas acompanhadas de complexos de espícula-onda
ritmados a 3/s de projeção difusa, bilateral e síncrona, há acentuada desorganização de es-
truturas neocorticais de ambos os hemisférios cerebrais, e não perda de consciência e coma.
A presença dessas descargas produzirá disfunção cortical em diferentes graus de diversas
funções, produzindo um estado de ‘demência momentânea e transitória’.31
30
Semiologia das crises focais
• A postura distônica (Figura 11) consiste na postura não natural de um membro com
componente rotatório.21 Embora todo o membro superior possa ser afetado, o fenômeno
fundamental é a postura tônica da mão com rotação desta, ou seja, um componente de
torção, com duração de pelo menos cinco segundos. Quando associado a automatismos no
membro superior contralateral, esse sinal é altamente sugestivo de epilepsia das estruturas
mesiais do lobo temporal.32 A zona sintomatogênica desse sinal lateralizatório é provavel-
mente os gânglios da base ipsilaterais à ZE.
Figura 11. Postura distônica da mão esquerda. Postura não natural de um membro com com-
ponente rotatório; ombro em abdução/rotação, cotovelo em extensão/flexão, punho e arti-
culações metacarpofalangianas em flexão, extensão dos dedos, com ou sem componente
coreoatetósico. A associação de postura distônica com automatismos manuais contralaterais
sugere fortemente sua origem em estruturas mesiais do lobo temporal.21,32
31
Crises epilépticas
Crises hipercinéticas
Mais comuns em epilepsia do lobo frontal, mas podem ocorrer em crises do lobo tem-
poral e insulares
32
Semiologia das crises focais
Quadro 5. Um exemplo de crises focais iniciadas em estruturas subcorticais são aquelas ori-
ginadas no hamartoma hipotalâmico
33
Crises epilépticas
1. Crises atônicas
2. Crises de parada comportamental
3. Crises afásicas
1. Crises atônicas. É a perda do tônus postural, ocasionando queda. Na maioria das vezes,
a crise atônica é precedida por mioclonia maciça que projeta o paciente ao solo.
2. Crises de parada comportamental. Trata-se de um tipo de crise não motora, focal ou
de início desconhecido, caracterizado por imobilidade ou incapacidade de se movimentar.
Comumente observado em crianças pequenas ou em pacientes com acentuada deficiência
intelectual. Nelas, não há como se certificar da ocorrência de comprometimento da cons-
ciência, impossibilidade de se movimentar, distratibilidade pela ocorrência de aura etc.
Constitui cerca de 30% das crises observadas em crianças e mais comumente crises de
parada comportamental constituem sintomas das crises originadas na região têmporo-pa-
rieto-occipital.34 O termo acinético define um fenômeno epiléptico caracterizado por inca-
pacidade de movimentação sem paralisia. Durante episódios acinéticos, o paciente é inca-
34
Semiologia das crises focais
Áreas da linguagem
Anterior
Posterior
Superior
Basal temporal
Figura 13. Áreas de linguagem definidas por estimulação elétrica: área anterior da fala, área
de Broca; área posterior da fala, área de Wernicke; área superior da fala, na área sensitivo-
motora suplementar; e área temporal basal da fala.
35
Crises epilépticas
36
Semiologia das crises focais
A Região pré-frontal
dorsolateral: automatismos
complexos, comportamento
semiadequado, atitudes
forçadas e também
ausências frontais
Área de expressão da
fala (áreas 44 e 45 de
Brodmann) - hemisfério
dominante
Região pré-motora:
Opérculo frontal: Área pré-central (área
área sensitivo-motora
contração facial, somatomotora primária)
suplementar (área 6 de
hipersalivação (representação da perna):
Brodmann): postura tônica
movimentos clônicos,
assimétrica e algumas
algumas vezes postura
vezes fenômenos motores
tônica ou mioclonia cortical
Área frontal dos olhos (área mais complexos
8 de Brodmann): rotação
dos olhos e/ou da cabeça
Região pré-frontal
ventromesial:
conduta motora
hipercinética,
expressão ictal
emocional de
medo
Figura 14. Divisão anatômica do lobo frontal com elementos de semiologia das crises frontais
em relação às regiões pré-central, pré-motora e pré-frontal: A. vista dorsolateral; B. vista me-
dial. Modificado de McGonigal e Chauvel.42
37
Crises epilépticas
gião pré-central inclui o córtex motor primário (área 4 de Brodmann). O córtex pré-motor
inclui os componentes laterais e mediais, a área 6, a área motora suplementar (AMS) e a
representação da linguagem (inclui a região conhecida como área de Broca) no hemisfério
dominante (área 44). A área frontal dos olhos, que contribui para o desvio ictal da cabeça e
dos olhos, está localizada no córtex dorsolateral (área 8) na região onde o córtex pré-motor
e pré-central se encontram.
Chauvel et al.35 propuseram uma classificação da ELF, dividindo as crises naquelas de ori-
gem central, pré-motoras e pré-frontais, fazendo a distinção entre as predominantemente
dorsolaterais e medioventrais em cada uma das categorias descritas. Este modelo é clini-
camente útil porque reflete a tendência de atividade motora tônica e postural na maioria
dos subtipos posteriores (central, pré-central) e condutas motoras complexas com mani-
festações autonômicas e emocionais associadas à região pré-frontal. A distinção entre os
padrões dorsais e mesiais também é possível, especialmente nas crises da área motora.
Crises pré-centrais
A descrição de Jackson17 há mais de 100 anos continua válida até a atualidade. Ele definiu
as crises que se originam na região pré-central (área motora primária) como crises focais
com movimentos clônicos contralaterais à ZE. Uma de suas características é a progressão
lenta de uma parte do corpo a outro segmento adjacente, a denominada “marcha jacksonia-
na”. A parte do corpo afetada durante a crise indica a região do córtex motor que tem repre-
sentação somatotópica, permitindo distinguir as crises originadas na região dorsal daquelas
da região pré-central medial.
Outra forma de epilepsia que se origina nessa área e na região pós-central parietal é a epi-
lepsia reflexa. É um fenômeno crítico raro, que corresponde a cerca de 1% das epilepsias
focais, caracterizada por crises desencadeadas por estímulos cutâneos ou por movimentos
de uma parte do corpo. Manifesta-se por posturas tônicas, frequentemente assimétricas, e
por abalos clônicos. A etiologia está relacionada à hiperexcitabilidade do córtex rolândico
sensitivo-motor.
Outro tipo de crise que pode se originar dessa área é a epilepsia parcial contínua. Nela, as
crises permanecem por horas, dias, semanas ou meses. O processo subjacente a essa forma
de epilepsia é um processo autoimune, denominado encefalite de Rasmussen, ou lesões
vasculares, malformativas e/ou tumorais.
Crises pré-motoras
As crises que se originam na AMS são caracterizadas por sinais posturais tônicos, com pre-
domínio proximal, em geral bilaterais e assimétricos. Os membros superiores são frequente-
38
Semiologia das crises focais
Crises pré-frontais
A semiologia das crises pré-frontais é variável e ainda necessita de caracterização com-
pleta. É possível distinguir as crises originadas em nível dorsal das originadas em nível
ventral.11,41
39
Crises epilépticas
Definição
Em junho de 2004 foram publicadas as conclusões de um consenso de especialistas que,
pela primeira vez em tempos atuais, caracterizaram a síndrome constituída pelo conjunto
de características clínicas, eletrofisiológicas, anatomopatológicas e imagenológicas que
definem a epilepsia temporal mesial com esclerose hipocampal.45 Em 2022 a síndrome
foi incluída na nosologia das Síndromes Epilépticas com Idades de Início Variáveis.46 Foi
descrita a presença de crises de inicio focal não motoras com sintomas característicos
(mal-estar epigástrico ascendente, medo, sensação cefálica, sintomas experienciais e neu-
rovegetativos) seguidos por imobilidade à qual se sucedem automatismos simples.47 Esses
fenômenos consistem em condutas motoras involuntárias coordenadas e adaptadas que
ocorrem durante uma crise e se acompanham de comprometimento da percepção. Tais
características clínicas se associam a alterações eletroencefalográficas frequentes (alente-
cimento temporal, ondas agudas localizadas na região frontotemporal e, especificamente,
na imagem de RM, a presença de atrofia do hipocampo uni ou bilateral).48 O diagnóstico
de atrofia do hipocampo ou esclerose hipocampal (mais precisamente esclerose mesial
temporal) na RM se baseia na presença de alterações de sinal, redução do tamanho e
desorganização da estrutura interna no hipocampo e outras estruturas mesiais da região
temporal mesial.49
40
Semiologia das crises focais
A epilepsia do lobo temporal (ELT) constitui 65% das epilepsias focais.50 As crises se ori-
ginam em uma ou em várias estruturas anatômicas do lobo temporal e se propagam dentro
e/ou fora desse lobo, através de redes neuronais interconectadas.
Podem se manifestar como crises focais perceptivas, crises focais disperceptivas, crises
focais perceptivas evoluindo para crises focais disperceptivas e cerca de 60% dos pacientes
também apresentam crises tônico-clônicas bilaterais.
A ELT é classificada em dois subtipos principais:9 epilepsia temporal mesial e epilepsia
temporal lateral ou neocortical.
Na epilepsia temporal mesial, as crises focais não motoras autonômicas e/ou cognitivas
são associadas ou não a fenômenos sensoriais (incluindo ilusões). A presença de sensação
epigástrica ascendente é frequente. As crises focais disperceptivas têm início usualmente
com interrupção da atividade motora seguida de automatismos oroalimentares. Outros
automatismos podem seguir-se a estes. A duração da crise é de cerca de um minuto. Há
frequentemente confusão pós-ictal seguida de amnésia; a recuperação é progressiva.
Na epilepsia temporal lateral ou neocortical, há crises focais perceptivas que se manifes-
tam por ilusões ou alucinações auditivas, estados de sonho, ilusões visuais ou comprome-
timento da linguagem se a ZE está situada no hemisfério dominante. Secundariamente,
podem transformar-se em crises focais disperceptivas, quando há propagação a estruturas
temporais mesiais contralaterais ou extratemporais.
Bartolomei et al.51 classificaram as redes epileptogênicas da ELT em quatro subtipos: me-
sial; mesio-lateral; latero-mesial e lateral. Nas últimas décadas, os subtipos temporo-po-
lar e temporal plus foram agregados aos quatro reconhecidos inicialmente52 (Figura 15).
Nos subtipos mesio-lateral e latero-mesial, as estruturas mesiais e o neocórtex temporal
anterior são coativados no início das crises.
Wieser53 realizou uma análise dos sintomas e da sequência de apresentação de 213 crises
focais disperceptivas, identificando cinco subtipos segundo o início e a propagação das
descargas elétricas registradas com eletrodos de profundidade inseridos nos lobos frontal
e temporal. Estes foram definidos como crises com início: temporo basal límbico, amigda-
liana ou temporal polar, frontobasal cingular, opercular e temporal posterior neocortical.53
A epilepsia do lobo temporal mesial com esclerose do hipocampo é a forma mesial da ELT
e envolve redes epileptogênicas localizadas nas estruturas mediais e basais (daí a denomi-
nação mesiais) do lobo temporal, sendo representada pelos subtipos temporobasal límbico
e amigdaliano ou temporal polar (Quadro 7).
41
Crises epilépticas
Subtipo
temporal
plus
Subtipo
lateral
Subtipo
mesial Subtipo
Subtipo mesio-lateral
temporopolar
Figura 15. Subtipos de redes epileptogênicas da epilepsia do lobo temporal com esclerose do
hipocampo (modificado de Kahane e Bartolomei).52
CA3 CA3
CA4
CA2
CA2
CA4
CA1 CA1
42
Semiologia das crises focais
43
Crises epilépticas
Semiologia clínica
Os sintomas mais frequentemente observados são sensação epigástrica ascendente, autonô-
micos e cognitivos. Algumas crises usualmente começam com ruptura de contato, automa-
tismos oromastigatórios (sucção, mastigação) e posturas distônicas assimétricas. Frequen-
temente, há desorientação e amnésia do episódio no período pós-ictal.
Tais crises podem ser precedidas por sintomas típicos, referidos como “sensação retroes-
ternal ascendente” até a faringe. Este tipo de aura pode também ser observada quan-
do há comprometimento insular. Quando há comprometimento da amígdala e do giro
para-hipocampal, ocorrem sentimentos de despersonalização, medo e pânico. A aura pode
se apresentar de forma isolada ou transformar-se em crise focal disperceptiva após 5 a 30
segundos. Em caso de progressão, há ausência de resposta ao meio, olhar fixo, condutas au-
tomáticas (simples ou complexas), como mastigação, movimentos da língua e outros mais
complexos, como esfregar as mãos, manusear as roupas, despir-se, caminhar, roçar o nariz
com a mão ipsilateral à ZE etc. Os eventos clínicos que seguem esse quadro inicial são de-
pendentes das estruturas envolvidas na propagação das descargas. No caso de propagação
ao giro cíngulo, haverá movimentos de pedalar. A postura distônica da mão contralateral à
ZE indica a participação dos gânglios da base ipsilaterais.55 Pode haver emissão de palavras
inteligíveis (fala ictal) que leva à suposição de envolvimento do hemisfério não dominante.
A ocorrência de disfasia pós-ictal sugere envolvimento do lobo temporal dominante. Se,
em sua propagação, ocorrer envolvimento de estruturas suprasilvianas alcançando o lobo
frontal, o paciente apresentará desvios cefálico e ocular forçados contralateralmente ao
foco que descarrega. Em resumo, uma crise que tem início com sensação epigástrica, au-
tomatismos, postura distônica e desvio ocular forçado presupõe origem no lobo temporal;
contrariamente, se já no início há desvio cefálico contralateral, é provável que a crise se
inicie no lobo frontal. Ulteriormente pode culminar com uma crise tônico-clônica bilateral.
Há confusão pós-ictal (pós-crítica) que dura minutos e pode haver afasia por pelos menos
cerca de 30 minutos se o lobo temporal dominante é primariamente envolvido. Às vezes, há
predomínio de sintomas psiquiátricos no período pós-ictal como ansiedade, irritabilidade,
depressão, imediatamente ou em até 72 horas após uma crise.56
De acordo com o trabalho realizado por Giagante et al.,57 80% dos pacientes apresenta-
ram auras (Quadro 8). Os sintomas mais frequentes e com maior valor preditivo positivo
(p < 0,05) para lateralizar a ZE observados durante as crises do lobo temporal foram: 1. auto-
matismos manuais repetitivos unilaterais, com pelo menos três segundos de duração, realizados
por 54,3% dos casos com a mão ipsilateral à ZE; 2. vocalização ictal compreensível e linguisti-
camente correta, observada em 35,8% dos pacientes. Esse sintoma lateralizou frequentemente
44
Semiologia das crises focais
para o hemisfério cerebral direito; 3. roçar o nariz durante o período ictal ou pós-ictal com a mão
ipsilateral à ZE por 32% dos casos; postura distônica unilateral, em 29,6% dos casos, com o
membro superior contralateral à ZE; 4. afasia pós-ictal, observada em 27% dos casos, localizou
a ZE no hemisfério esquerdo; 5. desvio cefálico não forçado precoce (durante os primeiros dez
segundos da crise) foi observado em 23,4% dos casos e a orientação do desvio cefálico foi feita
ipsilateralmente à ZE; 6. apresentação de forma simultânea de postura distônica de um membro
superior com automatismos manuais realizados com o outro membro superior foi observada em
18,5% das crises (a postura distônica do membro superior foi contralateral à ZE e os automatis-
mos foram realizados com a mão ipsilateral à ZE); 7. clonias hemicorporais foram observadas
em 16% e em todos os casos o hemicorpo comprometido foi o contralateral à ZE; 8. presença de
automatismos orais ou manuais, realizados com preservação da consciência, foi observada em
13,5%. Na maioria dos casos, a ZE estava localizada no hemisfério cerebral direito.
Quadro 8. Manifestações clínicas, frequência e lateralização hemisférica em pacientes com
epilepsia do lobo temporal mesial com esclerose hipocampal.57
Valor preditivo
Frequência
Manifestação clínica (lateralidade em relação P
n (%)
à ZE)
Automatismos do MS unilateral 44 (54,3) Ipsilateral à ZE (88%) 0,04
Aura 41 (50,6) Hemisfério direito (67%) 0,05
Desvio cefálico não forçado tardio 30 (37) Ipsilateral à ZE (66%) N/S
Imediata recuperação pós-ictal 30 (37) Hemisfério direito (75%) 0,05
Vocalização ictal compreensível 29 (35,8) Hemisfério direito (80%) 0,00
Roçar o nariz (ictal ou pós-ictal) 27 (32) Ipsilateral à ZE (95%) 0,00
Afasia pós-ictal 22 (27,1) Hemisfério esquerdo (91%) 0,00
Postura distônica unilateral 24 (29,6) Contralateral à ZE (87%) 0,05
Desvio ocular não forçado precoce 21 (25,9) Ipsilateral à ZE (62%) N/S
Desvio cefálico não forçado precoce 19 (23,4) Ipsilateral à ZE (95%) 0,00
Automatismos do MS ipsilateral e 15 (18,5) Ipsilateral e contralateral à 0,00
postura distônica contralateral ZE, respectivamente (93%)
Clonias hemicorporais 13 (16) Contralateral à ZE (100%) 0,00
Automatismos com preservação da 11 (13,5) Hemisfério direito (90%) 0,05
consciência
Desvio ocular forçado antes da CTCB 7 (8,6) Contralateral à ZE (100%) 0,00
Desvio cefálico forçado antes da CTCB 5(6,1) Contralateral à ZE (100%) N/S
Urgência miccional 4(4,8) Hemisfério direito (100%) N/S
Ruptura de contato 76 (93,8) Não lateralizatório -
Automatismos mastigatórios e de 50 (61,7) Não lateralizatório -
deglutição
Fixação do olhar 15 (18,5) Não lateralizatório -
Alteração da expressão facial 10 (12,3) Não lateralizatório -
ZE: zona epileptogênica; MS: membro superior; N/S: não significativo; CTCB: crise tônico-
clônica bilateral.
45
Crises epilépticas
Neste trabalho, foi possível reconhecer a existência de um padrão eletroclínico nas epi-
lepsias temporais. Quanto à semiologia ictal, foram caracterizados em ordem de maior
frequência: automatismos oro-alimentares, 68%; automatismos manuais unilaterais, 65%;
imobilidade, 39%; olhares ao redor, 35%; olhar fixo, 25%. Em relação ao EEG ictal, na
maioria das crises se observou atividade rítmica a 5 a 9 Hz localizada no lobo temporal.57
46
Semiologia das crises focais
47
Crises epilépticas
48
Semiologia das crises focais
e piscamento repetitivo ou clonias palpebrais. Vômito ictal e cefaleia ictal ou pós-ictal são
frequentemente associados a crises occipitais.
49
Crises epilépticas
jeto real (palinopsia) podem ainda ser verificadas, bem como alucinações complexas, como
animais, pessoas ou cores, estacionárias ou móveis. Esses fenômenos visuais são seguidos de
contraversão tônica ou clônica dos olhos, embora ipsiversão tenha sido relatada na minoria
dos pacientes descritos por Williamson et al.65 A versão dos olhos constitui o sintoma não
visual mais comum nas epilepsias do lobo occipital. As pálpebras podem ser também acome-
tidas de abalos palpebrais e fechamento forçado. Pode ocorrer sensação de encantamento ou
sensações de movimentos oculares, sem que sejam detectados movimentos.
Outros sinais
Aos sinais de envolvimento do córtex occipital seguem hemiconvulsão ou sinais de en-
volvimento das estruturas do lobo temporal. Cefaleia com caráter pulsátil, algumas vezes
indistinguível da verificada na migrânea, pode ser verificada após crises do lobo occipital.
A diferenciação entre auras da migrânea e das crises epilépticas occipitais é mostrada no
Quadro 10 e na Figura 17.
Quadro 10. Diferenças entre os sintomas visuais occipitais em crises epilépticas e na migrânea.
Crises occipitais Migrânea
Duração: longa, acima de 4 minutos
Padrão circular, colorido, usualmente multicolorido
até 30 minutos
Linear – espectro de fortificação,
Vermelho brilhante, amarelo, azul, verde teicoscopia (teico: muralha de uma
cidade + psia: visão; zigue-zague)
Círculos, formas circulares, bolas pequenas, pontos Localização: centro do campo visual
Padrões acromáticos ou preto e
Duração: curta; segundos, raramente 1-3 minutos, diários
branco
Localização contralateral; campo temporal
Amaurose: propagação bi-occipital?
Cegueira branca
Dor orbital durante a fase ictal e vômito ictal- lobo
temporal não dominante e ínsula
Cefaleia pós-ictal: uni ou bilateral, geralmente
contralateral ao lado da alucinação visual- mecanismo
trigêmino-vascular ou do tronco encefálico- 3-15 minutos
(intervalo assintomático)- mecanismo serotonérgico?
50
Semiologia das crises focais
51
Crises epilépticas
Nas crises occipitais, o paciente pode apresentar sintomas visuais caracterizados por padrão
circular, geralmente multicolorido, vermelho brilhante, amarelo, azul e verde, com formatos
circulares pequenos ou pontos. Duram segundos, raramente de um a três minutos, e se loca-
lizam contralateralmente à ZE. Pode ocorrer amaurose ou cegueira branca por propagação
bioccipital. Dor orbitária e vômito podem estar presentes durante a crise, especialmente pela
propagação para o lobo temporal não dominante e ínsula. Pode ocorrer cefaleia pós-ictal, uni
ou bilateral, em geral contralateral à alucinação visual por mecanismo trigêmino-vascular ou
do tronco encefálico, com 3 a 15 minutos de duração, com intervalo assintomático, por pos-
sível mecanismo serotonérgico. Na migrânea, o paciente refere sintomas visuais com padrão
linear chamados espectro de fortificação ou teicopsia (teico: muralhas de uma cidade + psia:
visão, zigue-zague), com duração mais prolongada, de 4 a 30 minutos. A localização é referida
no centro do campo visual e tais alucinações são acromáticas ou brancas e pretas.
Fenômenos negativos
Enfraquecimento, sensação de ausência de parte do corpo (asomatognosia), intensa vertigem
ou desorientação espacial podem ser indicativos de crises do lobo parietal inferior. Crises do
lobo parietal dominante resultam em vários distúrbios de linguagem de recepção ou condução.
Outros sinais
Como as crises do lobo occipital, as do lobo parietal também apresentam propagação para
o córtex frontal ou temporal, promovendo sintomas relacionados a essas áreas.
52
Seção 3
Semiologia das
crises de início
generalizado
53
Crises epilépticas
Descrição clínica
As manifestações clínicas das crises TCG podem ser divididas em cinco fases: 1) sinais e
sintomas premonitórios; 2) fase pré-ictal imediata; 3) fase ictal; 4) fase pós-ictal imediata;
5) período de recuperação pós-ictal. Há variações entre diferentes indivíduos quanto à du-
ração das diversas fases, as quais podem também variar em um mesmo indivíduo. Gastaut
54
Semiologia das crises generalizadas
Sintomas premonitórios
Sintomas e sinais premonitórios podem anteceder crises TCG por horas ou dias e incluem
cefaleia, alterações do humor, instabilidade emocional, ansiedade, irritabilidade, letargia,
dificuldade de concentração, distúrbio de sono, alteração do apetite, mioclonias e tontu-
ras.69 Em 2022, foram definidos como uma constelação de sintomas subjetivos de `avisos’
não específicos e de amplo espectro (como sensações mal localizadas ou agitação) que
anunciam uma crise epiléptica mas não fazem parte dela. A duração é acima de 30-60 mi-
nutos e persistem até por vários dias antes do início de uma crise epiléptica.6
Fase ictal
A fase ictal é constituída por dois períodos distintos: a fase tônica, com duração de cerca de
10 a 20 segundos, e a fase clônica, de aproximadamente 40 segundos.
Fase tônica
Há contração tônica da musculatura axial, acompanhada de desvio ocular para cima (sur-
sum vergens) e dilatação pupilar. A contração dos músculos mastigatórios, responsáveis
pela elevação e depressão da mandíbula, faz com que a boca permaneça rígida e entrea-
berta. A contração muscular tônica estende-se para a raiz dos membros superiores, que
são elevados e abduzidos; os cotovelos são semifletidos, com flexão dos punhos e pro-
nação das mãos. Os membros inferiores assumem simultaneamente a posição de flexão,
abdução e rotação externa. Esse espasmo flexor breve (fase de emprostótono) (Figura
18) é seguido por um período mais prolongado de extensão tônica (fase de opistótono),
caracterizado por fechamento forçado da boca, o qual pode produzir traumatismos orais.
A contração da musculatura torácica força o ar pela glote fechada, o que resulta no “grito
epiléptico”.
55
Crises epilépticas
Como se pode verificar na figura 20, a fase tônica é acompanhada de uma “tempestade
neurovegetativa”, caracterizada por duplicação da frequência cardíaca e da pressão arterial,
enquanto a pressão intravesical ascende para cinco vezes o valor habitual. Há apneia, muito
provavelmente central, durante toda a fase tônica, e ainda sudorese, a qual ocasiona queda
na resistência cutânea.
56
Semiologia das crises generalizadas
Pupilas
PV FC R PA
R
FC
TA
PI
Enurese
Figura 20. Variações do EEG, atividade eletromiográfica, tamanho pupilar, resistência cu-
tânea, pressão intravesical (PV), frequência cardíaca (FC), respiração (R) e pressão arte-
rial sistólica (PA). Todas as variações autonômicas, com exceção da apneia, alcançam seu
máximo no final da fase tônica e, então, apresentam atenuação progressiva. EDG indica o
eletrodermograma.68
Fase clônica
A transição para a fase clônica é gradual e anunciada pelo “período vibratório interme
diário”, um tremor difuso a 8 Hz, que gradualmente diminui para 4 Hz. Ocorrem, então,
espasmos flexores violentos, seguidos de atonia, o que caracteriza a fase clônica. Os pe-
ríodos de atonia tornam-se progressivamente mais prolongados e irregulares até o último
espasmo flexor. Movimentos clônicos ocorrem geralmente (mas nem sempre) em fase,
em ambos os lados do corpo, no início da fase clônica, e fora de fase, próximo do final
do evento, quando, ocasionalmente, os pacientes exibirão desvios ipsilaterais da cabeça e
dos olhos.
Há redução gradativa da frequência cardíaca, pressão arterial e vesical, embora a apneia
seja mantida durante toda a fase clônica. As pupilas, midriáticas na fase tônica, são agora
acometidas por hippus, enquanto a contração dos músculos esfincterianos impede a enurese
até o final da fase clônica.
57
Crises epilépticas
58
Semiologia das crises generalizadas
Descrição eletroencefalográfica
A análise do EEG mostra início focal, regional ou lateralizado nas crises tônico-clônicas
bilaterais, enquanto nas crises TCG os achados ictais do EEG são generalizados desde o
início (Figura 21).
1s
Início clínico Fase tônica
Figura 21. Crise tônico-clônica generalizada. A fase tônica se inicia depois da salva de mioclo-
nias representada no EEG por descargas de polispícula-onda. O ritmo ictal de baixa amplitude
é obscurecido por artefatos da contração muscular.
59
Crises epilépticas
Crises clônicas
Como as crises TCG, as crises clônicas podem ser primariamente generalizadas ou ocorrer
na sequência de uma crise focal (chamadas de bilaterais). São definidas como contrações
repetidas e curtas de vários grupos musculares e caracterizadas por abalos que recorrem a
intervalos regulares de 0,2 a 5 vezes por segundo.
Os movimentos podem afetar qualquer parte do corpo. Crises clônicas unilaterais tipica-
mente envolvem face e mão ou todo o membro superior e, menos frequentemente, o infe-
rior e o tronco, podendo acometer todo o corpo em sua evolução, refletindo a representação
somatotópica do córtex somatomotor.81
As crises clônicas foram descritas pela primeira vez por Bravais, em 1827, que distinguiu
crises clônicas de início braquiofacial e crural e descreveu a típica marcha da crise que mais
tarde foi associada ao nome de John Hughlings Jackson e denominada marcha “jacksonia-
na” (Noachtar e Arnold).82
60
Semiologia das crises generalizadas
1s
Figura 22. Fase clônica de uma crise tônico-clônica generalizada. Os paroxismos de polispícu-
la ocorrem simultaneamente a espasmos flexores, enquanto as ondas lentas coincidem com a
fase de atonia. Os períodos de atonia vão se tornando progressivamente mais prolongados.
61
Crises epilépticas
Crises tônicas
As crises tônicas generalizadas são frequentemente encontradas nas epilepsias generaliza-
das de etiologia estrutural, nas quais se apresentam em número variável de 1 até 50 crises
por dia.86 São comuns na síndrome de Lennox-Gastaut, predominando durante o sono.
Descrição clínica
As crises tônicas podem começar abrupta ou gradualmente.68 Dependendo da rapidez do
início, o episódio pode ser um movimento gradual ou um abalo mioclônico maciço bilate-
ral, seguido por contração tônica residual. Em geral, essas crises duram de 10 a 15 segun-
dos, mas podem persistir por até um minuto. A perda da consciência ocorre frequentemente
e sua recuperação coincide com o final da descarga eletrográfica. Ao contrário da crise
TCG, o período de confusão pós-ictal é muito curto.87
O grau do comprometimento motor na crise tônica é variável e em um mesmo paciente
podem ser verificadas crises com diferentes intensidades. Conforme os grupos muscula-
res envolvidos, as crises tônicas são classificadas em axiais, axorrizomélicas e globais.68
A crise tônica axial envolve a musculatura axial, particularmente o grupo dos flexores
do pescoço e os músculos faciais, incluindo os mastigatórios. O envolvimento da mus-
culatura respiratória e/ou abdominal é associado à alteração respiratória breve e, algu-
mas vezes, há emissão de um som alto, parecido com choro. Essas crises são variáveis
quanto à intensidade e, em geral, são clinicamente discretas, limitadas a pequeno grau
de abertura palpebral e desvio ocular para cima. Quando ocorrem com o paciente em pé,
podem promover queda para frente ou para trás. A crise tônica axorrizomélica inicia-se
como um episódio tônico axial, mas evolui com contração dos músculos da cintura es-
capular e, ocasionalmente, da pélvica. A crise tônica com duração superior a 20 segundos
é acompanhada de componente vibratório, caracterizado por abalos clônicos discretos e
breves até seu término (crise tônica vibratória). Esses episódios são facilmente confun-
didos com crises TCG, mas podem ser diferenciados e reconhecidos pela abdução inicial
dos membros superiores no início da crise tônica. Na crise tônica global, as alterações
anteriores se acompanham de extensão da contração aos segmentos mais distais das ex-
tremidades.68
Descrição eletroencefalográfica
Crises tônicas podem ser associadas a vários padrões ictais:88
1. Atenuação acentuada (dessincronização) da atividade de base, ou seja, padrão eletrode-
cremental.
62
Semiologia das crises generalizadas
1s
Figura 23. Crise tônica. Ritmo ictal de 10 Hz de projeção generalizada, amplitude elevada e
predomínio frontal precedido por período curto de atenuação da atividade de base.
63
Crises epilépticas
64
Semiologia das crises generalizadas
disperceptiva. Podem evoluir no sentido craniocaudal com elevação das pálpebras, mo-
vimentos de deglutição e roçar os lábios, além de movimentos manuais.
6. Ausência com fenômenos autonômicos. Palidez perioral, dilatação pupilar, rubor, ta-
quicardia, piloereção, salivação ou incontinência urinária podem ocorrer concomitante-
mente com a crise de ausência.
7. Formas mistas. Várias combinações dos tipos anteriormente descritos.
As ausências que cursam apenas com comprometimento da consciência e aquelas com dis-
cretos componentes clônicos são as mais frequentes, seguidas pelas ausências com automa-
tismos e aquelas com diminuição do tônus postural. Estudos usando vídeo-EEG mostram
maior incidência das formas menos frequentes e mistas; obviamente, a frequência de cada
um dos tipos depende da observação cuidadosa dos fenômenos clínicos.93
As ausências típicas são desencadeadas por hiperventilação em praticamente todos os pa-
cientes não tratados. A ativação é de tal forma importante que a não observação da crise clás-
sica durante a hiperventilação por três a cinco minutos deve colocar em dúvida o diagnósti-
co. Variações do ritmo circadiano (despertar ou início do sono) podem desencadear as crises.
Descrição eletroencefalográfica
A atividade de base é quase sempre normal, mas algumas crianças podem exibir ritmo delta
sobre as áreas occipitais e parieto-occipitais, usualmente sob a forma de longos surtos de
amplitude elevada, sinusoidais, frequência em torno de 3 Hz, simétricos ou, mais frequen-
temente, assimétricos. Estas são as OIRDA (ondas delta rítmicas intermitentes occipitais).
Esse ritmo lento é bloqueado pela abertura ocular, aumenta com a hiperventilação e persiste
mesmo após o desaparecimento das crises de ausência.
O EEG ictal revela paroxismos generalizados sob a forma de complexos de espícula-onda
ritmados a 3/s, geralmente com predomínio nas regiões frontais, associados a sinais clíni-
cos de ausência (Figura 24).
Como regra, o início e o final são abruptos. Em ausências mais prolongadas, os com-
plexos de espícula-onda podem se tornar mais lentos ao final da crise.94 Quando as
ausências persistem até a vida adulta, as descargas podem eventualmente se tornar mais
irregulares.
Em epilepsias generalizadas idiopáticas da adolescência, os complexos de espícula-onda
são mais rápidos do que 3/s (3,5 a 4/s) e mais irregulares. Frequentemente, a onda lenta é
precedida por duas ou três espículas (Figura 25). As descargas são facilmente precipitadas
por privação de sono e hiperventilação.
65
Crises epilépticas
1s
1s
Figura 25. Crise de ausência na epilepsia ausência juvenil. Complexos de espícula-onda rit-
mados a 4/s de projeção generalizada. Observe a ocorrência de polispícula.
66
Semiologia das crises generalizadas
1s
67
Crises epilépticas
1s
68
Semiologia das crises generalizadas
Este tipo de crises de ausências foi reconhecido pela Comissão de Classificação da ILAE12,13 e as
mioclonias palpebrais dessa síndrome devem ser distinguidas daquelas de outras crises de ausên-
cia, sendo as mioclonias aleatórias e raras, com movimentos menos rítmicos e sustentados. Por
outro lado, a perda da consciência é sutil e menos acentuada do que em outras ausências típicas.
Alguns autores98 acreditam que essas crises possam ser autoinduzidas por piscamento pal-
pebral vigoroso, voluntário ou subconsciente, uma vez que esses pacientes apresentam
fotossensibilidade. Caracteristicamente, o fechamento ocular voluntário é seguido por mo-
vimento lento dos olhos para cima e flutter palpebral. Alguns pacientes continuarão a exibir
mioclonias palpebrais sem perda da consciência, mesmo quando as descargas epileptifor-
mes já foram suprimidas pelos fármacos anticrises. Dessa forma, a manutenção das mio-
clonias palpebrais não deve ser interpretada como evidência de ausências não controladas
sem que seja realizada análise mais detalhada do quadro clínico.
No EEG, registram-se surtos de três a cinco espículas associadas a ondas lentas que são
facilmente induzidas pelo fechamento dos olhos em uma sala iluminada (a escuridão total
suprime as anormalidades evocadas pelo fechamento ocular) (Figura 27). Esta síndrome foi
reconhecida pela ILAE em 2022 entre as epilepsias generalizadas genéticas como Epilepsia
com Mioclonias Palpebrais.99
69
Crises epilépticas
Espasmos epilépticos
Os espasmos epilépticos são caracteristicamente, mas não exclusivamente, encontrados na
síndrome dos Espasmos Epilépticos Infantis, constitui a causa mais comum de deterioração
psicomotora na infância. Esta síndrome inicia-se entre 1-24 meses, mas o tipo de crise de
espasmos epilépticos pode ocorrer desde o nascimento até a idade de 5 ou mais anos. Dete-
rioração psicomotora, manifestando-se como perda do contato visual, e hipotonia axial ou
outros tipos de crises podem preceder os espasmos. Também denominados espasmos epi-
lépticos, consistem em movimentos agrupados e sustentados da musculatura axial, sendo
caracterizados por movimentos axiais breves que duram de 0,2 a 2 segundos, em flexão ou
extensão, embora as formas em flexão ou mistas sejam as mais frequentes.
Os espasmos epilépticos em flexão consistem em flexão súbita do pescoço e dos quatro
membros, com adução dos membros superiores semelhante ao movimento de um abraço.
Os espasmos epilépticos em extensão provocam estiramento abrupto do pescoço e dos
membros inferiores, com extensão e abdução dos membros superiores simulando o reflexo
de Moro. A frequência desses dois tipos de espasmo é de cerca de 40% para a variedade em
flexão e 20% para o tipo extensor.103 Estudos eletromiográficos mostram que os músculos
axiais flexores e extensores são envolvidos simultaneamente. Cerca de 40% dos pacientes
exibem espasmos epilépticos mistos, nos quais há flexão do pescoço, tronco e membros
superiores e extensão dos inferiores.
Os espasmos epilépticos geralmente ocorrem em salvas em 90% dos pacientes.104 A inten-
sidade de cada espasmo é variável, inclusive na mesma salva. Podem envolver o pescoço,
com movimento leve de aceno, ou provocar elevação dos ombros; por vezes, podem ser
extremamente sutis, sendo caracterizados por breve desvio ocular para cima. Clinicamente,
a contração é súbita e, frequentemente, seguida por choro; raramente pode ser seguida por
riso. Em espasmos tônicos, uma contração tônica sucede a contração axial súbita inicial,
estendendo a duração por até dez segundos.
70
Semiologia das crises generalizadas
71
Crises epilépticas
1s
Figura 28. Registro em sono com descargas irregulares de polispícula, ondas lentas e ondas
agudas de projeção generalizada caracterizando hipsarritmia fragmentada.
Durante o sono REM ocorre atenuação acentuada (ou mesmo desaparecimento) da hipsar-
ritmia, e o traçado pode ser quase normal.
Existem variações da descrição do protótipo da hipsarritmia, coletivamente denominadas
“hipsarritmia modificada”. Hrachovy et al.106 descreveram cinco variedades de hipsarritmia
modificada:
1. Hipsarritmia com aumento da sincronização inter-hemisférica (Figura 29). O aumento
da sincronização e da simetria pode ser evidenciado como surtos de atividade de espí-
cula-onda generalizada ou aumento da sincronização da atividade de base (presença de
atividade rítmica nas frequências teta e alfa).
2. Hipsarritmia assimétrica. Refere-se a padrões em que há assimetria persistente de vol-
tagem entre os dois lados, que pode ser regional ou unilateral (Figura 30).
3. Hipsarritmia com anormalidade focal consistente. Hipsarritmia associada a um campo
de descarga de espícula-onda ou onda aguda consistente, claramente distinguível das
descargas multifocais (Figura 31).
72
Semiologia das crises generalizadas
1s
73
Crises epilépticas
74
Semiologia das crises generalizadas
Crises mioclônicas
A palavra myoclonus deriva do grego myo (músculo) e clonus (perturbação, inquietação).
Crises mioclônicas são contrações musculares breves, súbitas, semelhantes a choques.
Padrões eletromiográficos
A figura 33 ilustra os padrões eletromiográficos em três diferentes situações clínicas:
mioclonia, contração tônica e atonia. A mioclonia é caracterizada por um potencial
de curta duração, amplo e fásico, seguido por silêncio muscular com duração de até
200 milissegundos, chamado silêncio pós-mioclônico. Nela, há associação de dois
elementos opostos: um positivo (ativação hipersíncrona) e outro negativo (inibição
pós-mioclônica).110
75
Crises epilépticas
A Mioclonia
B Contração tônica
C Atonia
76
Semiologia das crises generalizadas
77
Crises epilépticas
Entre as síndromes que cursam com mioclonias epilépticas focais estão a epilepsia par-
tialis continua e a encefalopatia epiléptica e do desenvolvimento com ativação de espícu-
la-onda no sono. No grupo das generalizadas estão muitas encefalopatias epilépticas e do
desenvolvimento e as epilepsias generalizadas idiopáticas. Doenças específicas, como as
epilepsias mioclônicas progressivas e a síndrome de Lance-Adams, as quais tipicamente
promovem mioclonias multifocais, fragmentadas e generalizadas, ocupam posição inter-
mediária entre as focais e as generalizadas.
Mioclonias maciças e bilaterais em diferentes formas de epilepsias generalizadas idiopáti-
cas são acompanhadas por surtos de complexos de polispícula-onda generalizados. A pre-
sença de múltiplas espículas, certo grau de assimetria ou multifocalidade não é incomum.
Pode haver ainda a presença de descargas que não são acompanhadas clinicamente por
mioclonias. Em geral, as associadas a mioclonias são as de múltiplas espículas, de maior
amplitude e duração (Figura 34).
1s
Mioclonia
Figura 34. Registro de polispícula de projeção generalizada durante uma crise mioclônica.
78
Semiologia das crises generalizadas
Crises mioclônico-atônicas
Encontradas principalmente em epilepsias da infância, essas crises são caracterizadas por
abalos mioclônicos nos membros superiores, geralmente em flexão, seguidos de perda do
tônus muscular com queda da cabeça e flexão dos joelhos. Previamente chamadas crises
mioclônico-astáticas, estas crises tiveram esta denominação abandonada porque o ‘drop
attack epiléptico’ se refere simplesmente à perda da postura ereta. A queda não identifica
o mecanismo subjacente a ela (atônico, mioclônico ou tônico) e, em geral, não pode ser
definido na ausência de registro poligráfico.
Clinicamente, a fase mioclônica é breve, podendo ser generalizada, isolada ou repetida em
curtas séries de dois ou três eventos. Os músculos proximais são os mais envolvidos, pro-
duzindo flexão súbita da cabeça e do tronco com queda ao solo.112 A duração desses episó-
dios é muito breve (0,3 a 1 segundo). A queda pode ser consequência do abalo mioclônico
maciço ou resultado do período silente pós-mioclônico, o qual pode ser muito proeminen-
te.113 Traumatismos, frequentemente observados nesse tipo de crise, podem ocorrer pela
natureza muito rápida dos eventos ou em razão de alteração discreta de consciência.
O registro eletroencefalográfico é caracterizado por complexos de poliponta-onda ritmados
de 2 a 3 Hz, usualmente de morfologia irregular e, em geral, agrupados em sequências rít-
micas regulares, interrompidas por ondas lentas de amplitude elevada.
Mioclonias negativas
Mioclonias negativas, também chamadas de atonias focais breves,112 consistem em in-
terrupção breve da atividade tônica muscular, acarretando perda momentânea de tônus
causada por mecanismo epiléptico. Mioclonias negativas, também chamadas de atonias
focais breves, consistem em interrupção breve da atividade tônica muscular acarretando
perda momentânea de tônus causada por mecanismo epiléptico. A distinção entre a na-
tureza epiléptica e não epiléptica dependerá do contexto clínico. Deve-se, por exemplo,
verificar se a mioclonia negativa é ou não parte de uma síndrome epiléptica, uma vez que
clinicamente não há diferença entre ambas as formas.
79
Crises epilépticas
Crises atônicas
As crises atônicas são encontradas em epilepsias generalizadas sintomáticas, mas também
podem ocorrer em epilepsias generalizadas idiopáticas.116
As crises atônicas nas epilepsias generalizadas sintomáticas são caracterizadas por perda
do tônus da musculatura postural de forma súbita e intensa e podem ser precedidas por um
ou mais abalos mioclônicos.68 Estes usualmente duram um a dois segundos e podem variar
quanto à intensidade, desde discreta queda da cabeça (como um aceno) até queda súbita ao
solo. As crises atônicas podem ser de difícil reconhecimento clínico se o paciente estiver
sentado ou deitado. Durante a crise, há perda de consciência breve, mas confusão pós-ictal
é rara.117
O fato de as crises atônicas serem muito breves dificulta a observação detalhada. Estudos
nos quais não são realizados vídeo-EEG nem registros poligráficos são de valor limitado.
Estes demonstram que as crises de queda são, em geral, tônicas, sendo as atônicas relativa-
mente incomuns, que as crises atônicas puras são raras e que muitas crises com componen-
te atônico são associadas a abalos mioclônicos.118 Perda de tônus também pode ser obser-
vada em pacientes com crises de ausência, especialmente naqueles com ausências atípicas.
80
Semiologia das crises generalizadas
Gastaut e Régis119 distinguiram as ausências com componente atônico das crises atôni-
cas, as quais foram chamadas de drop attacks para enfatizar sua duração curta. Esses
autores definiram as crises atônicas como um evento em que há redução ou ausência
do tônus postural, de duração muito curta, podendo envolver todos os músculos pos-
turais (o que ocasiona queda ao solo) ou somente a musculatura cervical (com queda
da cabeça).
As crises atônicas foram ainda estudadas do ponto de vista eletroclínico, sendo verificada
associação usual de crises atônicas e crises mioclônico-atônicas no mesmo paciente.120
O EEG ictal em crises atônicas breves pode demonstrar descargas do tipo polispícula-onda
ou, menos frequentemente, um ou mais surtos de descargas generalizadas de espícula-on-
da, que podem ser associados a abalos mioclônicos.68 Essas descargas são rapidamente
seguidas por ondas lentas generalizadas difusas, máximas na região central e no vértex,
as quais, clinicamente e nos registros eletromiográficos, são acompanhadas por hipotonia
intensa e generalizada.
Durante uma crise atônica prolongada, o EEG mostra ondas lentas bilaterais e difusas inter-
caladas a ondas agudas repetitivas a 10 Hz, bilaterais, síncronas e simétricas.68
Crises reflexas
Como nas crises focais, estímulos elementares e complexos podem atuar como desenca-
deantes de crises reflexas generalizadas.
81
Seção 4
Epilepsias e
síndromes
epilépticas
83
Crises epilépticas
Generalizadas
Focais Generalizadas Desconhecidas
e focais Metabólica
Imune
3. Síndromes epilépticas
Infecciosa
Desconhecida
84
tal estabelecer a etiologia das epilepsias observando-se inclusive, uma barra vertical à di-
reita, listando os seis grupos etiológicos, é o quarto nível (Nível 4) que define o diagnóstico
da epilepsia e sua etiologia. Em algumas circunstâncias, mesmo sem o reconhecimento da
síndrome epiléptica, é possível estabelecer o diagnóstico etiológico. Um exemplo de uma
destas condições é a definição de que a etiologia da epilepsia de um determinado paciente é
uma mutação na subunidade alfa 1 do canal de sódio (SCN1A), a qual é encontrada em um
espectro de manifestações clínicas, de gravidade crescente, desde crises febris simples até a
síndrome de Dravet, no extremo mais grave deste espectro.122
Embora em todos os níveis nossa atenção deva estar voltada para o estabelecimento da
etiologia da epilepsia, infelizmente, em vários deles, esta não poderá ser definida a des-
peito de todos os esforços. Em outros casos, pode haver mais de uma etiologia para uma
mesma epilepsia. Assim, a epilepsia pode ter duas etiologias, por exemplo, uma estrutural
e outra genética, como ocorre na esclerose tuberosa. Finalmente, encerrando o Esquema
Diagnóstico, pacientes com epilepsia podem apresentar uma gama ampla de comorbida-
des (representadas à esquerda), as quais podem ser encontradas em qualquer forma das
doenças epilépticas e também podem contribuir para o diagnóstico etiológico. Assim, por
exemplo, meninas com mutações no gene PCDH-19 que produz a proteína protocaderina
19 (PCDH-19) apresentam alterações comportamentais com características do espectro au-
tista e episódios de terror os quais são, de longe, mais graves do que as crises epilépticas.122
Para a melhor compreensão da terminologia utilizada neste Esquema Diagnóstico, foram
ainda definidos alguns termos importantes nele utilizados ou frequentemente empregados
na caracterização das epilepsias, como:
Encefalopatias epilépticas e/ou do desenvolvimento: Epilepsia associada com comprome-
timento no desenvolvimento que deve estar relacionado à etiologia de base (encefalopatia
do desenvolvimento) e/ou à atividade epileptiforme (encefalopatia epiléptica). 122
Epilepsias autolimitadas, implicando que elas se resolvem com o tempo e nem sempre são
benignas, uma vez que podem acarretar comorbidades variadas.122
Considera epilepsias generalizadas idiopáticas um subgrupo com herança complexa entre
as epilepsias generalizadas genéticas.122
85
Crises epilépticas
86
Seção 5
Síndromes
epilépticas com
início em neonatos
e lactentes
87
Crises epilépticas
Epilepsia
Epilepsia
autolimitada do
autolimitada do
recém-nascido
lactente (familial)
(familial)
Epilepsia
Epilepsias
mioclônica
autolimitadas
Epilepsia Espectro da do lactente
autolimitada do epilepsia genética
recém-nascido e com crises febris
lactente (familial) plus (GEFS+)
Epilepsia do
EED precoce do
lactente com crises
lactente
focais migratórias
Encefalopatias
epilépticas e do
desenvolvimento Síndrome dos
espasmos Síndrome de
epilépticos infantis Dravet
Figura 36. As síndromes epilépticas com início em neonatos e lactentes. A maioria delas cursa
com tipos de crises multiformes e constituem epilepsias graves de diagnóstico difícil, muitas
vezes dependentes de estudos genéticos.123
88
Síndromes epilépticas com início em neonatos e lactentes
89
Crises epilépticas
90
Síndromes epilépticas com início em neonatos e lactentes
91
Crises epilépticas
Tabela 4. Epilepsias autolimitadas - Espectro da epilepsia genética com crises febris plus (GEFS+)*
Nas famílias afetadas as crises febris podem se iniciar antes dos 6 meses de idade e persistir
após os 6 anos
Contexto clínico Crises febris plus (CF+) é um termo usado para descrever crises febris que persistem após 6
anos de idade e/ou evoluem para crises afebris
Outros tipos de crises afebris podem se desenvolver em idades variadas
Exame neurológico e
Normais
cognição
As crises tipicamente respondem aos FACs e nem todos os pacientes requerem tratamento
profilático
Pacientes com CF+ usualmente têm uma epilepsia autolimitada com resolução das crises até
Curso da doença
a puberdade
O curso da doença nos indivíduos que apresentam outros tipos de epilepsia ou síndromes
epilépticas dentro do espectro da GEFS+ depende do tipo de epilepsia ou síndrome
* Os critérios diagnósticos foram compilados do texto, pois o quadro alistando-os não foi inserido em Zuberi et al.
Epilepsia 2022;63(6):1349-97.
92
Síndromes epilépticas com início em neonatos e lactentes
Anormalidades significantes na
Imagem
neuroimagem
Síndrome sem confirmação laboratorial: Em regiões de recursos limitados, para diagnóstico da Epilepsia Mioclônica
do Lactente é necessário no mínimo um EEG em sono mostrando complexos de espícula-onda generalizados
93
Crises epilépticas
Interictal:
Padrão de surto-supressão
EEG
ou descargas multifocais
Alentecimento difuso
Nascimento até 3
Idade de início meses (ajustada para
prematuridade)
Desenvolvimento normal
Desenvolvimento no no início, embora seja um
início desafio acessar acuradamente
na história
Comprometimento do
Comorbidades desenvolvimento está
precoces presente antes ou logo
após o início das crises
Neurodesenvolvimento
Curso da doença anormal, incluindo
deficiência intelectual
Síndrome sem confirmação laboratorial: Em regiões de recursos limitados, esta síndrome não pode ser diagnosticada
sem um EEG interictal
94
Síndromes epilépticas com início em neonatos e lactentes
Achados neurológicos
Exame neurológico significantes antes do início
das crises
Interrupção ou regressão no
Comorbidades desenvolvimento com crises
frequentes
Síndrome sem confirmação laboratorial: Em regiões de recursos limitados, a Síndrome da Epilepsia do Lactente com
Crises Focais Migratórias pode ser diagnosticada na observação clínica de crises migratórias sem EEG ou RM, desde que
todos os critérios clínicos mandatórios e de exclusão tenham sido preenchidos
95
Crises epilépticas
Espasmos epilépticos em
flexão, em extensão ou
Crises epilépticas
mistos que frequentemente
ocorrem em salvas
Alentecimento no
neurodesenvolvimento
após início dos espasmos
Comorbidades mas pode ser ausente
no início (difícil se a
criança já tinha atraso no
neurodesenvolvimento)
Síndrome possivelmente em evolução: lactentes com lesão cerebral prévia, malformações do desenvolvimento
cerebral, ou condições genéticas específicas, incluindo Encefalopatia Epiléptica e do Desenvolvimento Infantil Precoce,
quem mostra anormalidades EEG interictais significantes (amplitude elevada, alentecimento da atividade de base, e/
ou descargas multifocais) devem ser acompanhados cuidadosamente, pois podem evoluir para a síndrome clínica dos
espasmos epilépticos. Contudo, a Síndrome dos Espasmos Epilépticos Infantis não pode ser diagnosticada antes do início
do tipo de crise mandatório
Síndrome sem confirmação laboratorial: Em regiões de recursos limitados, um EEG interictal é altamente
recomendado. Contudo, se não for disponível, se salvas de espasmos epilépticos típicos forem testemunhados por um
clínico experiente (pessoalmente ou em registro de vídeo) com outros critérios clínicos mandatórios e de exclusão, a
Síndrome dos Espasmos Epilépticos Infantis poderá ser diagnosticada
96
Síndromes epilépticas com início em neonatos e lactentes
Síndrome possivelmente em evolução: em uma criança < 12 meses com crises hemiclônicas ou tônico-clônicas
bilaterais prolongadas com febre sem outra causa subjacente, a possibilidade de síndrome de Dravet deve ser considerada.
Outras crises convulsivas ulteriores (frequentemente com febre e se prolongadas ou hemiclônicas) permitirão o
diagnóstico mais definitivo de Síndrome de Dravet. O diagnóstico será suportado ulteriormente pelo achado de uma
variante SCN1A patogênica
Síndrome sem confirmação laboratorial: Em regiões de recursos limitados, a Síndrome de Dravet pode ser
diagnosticada sem EEG, RM e testes genéticos em crianças sem alertas que preenchem todos os outros critérios clínicos
mandatórios e de exclusão
97
Crises epilépticas
Padrão surto-supressão
EEG ou descargas multifocais;
alentecimento difuso
Alentecimento do
desenvolvimento/
Comorbidades
encefalopatia é aparente
quando do início das crises
Neurodesenvolvimento
anormal, com
Curso da doença
comprometimento
moderado a profundo
98
Síndromes epilépticas com início em neonatos e lactentes
Falta de encefalopatia e
Exame neurológico
irritabilidade
99
Crises epilépticas
Tônus normal
Exame neurológico
Falta de encefalopatia
Deficiência intelectual
Curso da doença moderada a profunda
Epilepsia fármacorresistente
100
Síndromes epilépticas com início em neonatos e lactentes
Ausência de descargas
epileptiformes (as quais
EEG usualmente são focais,
mas raramente podem ser
generalizadas)
Síndrome sem confirmação laboratorial: Em regiões de recursos limitados, Epilepsia em Salvas PCDH19 poderia ser
provisoriamente diagnosticada, sem testagem genética confirmatória, especificamente diante de história familiar sugestiva
de herança dominante ligada ao X que poupa indivíduos do sexo masculino
101
Crises epilépticas
Crises focais ou
generalizadas, incluindo
Crises epilépticas crises de ausência
(frequentemente começando
antes dos 3 anos de idade)
Síndrome sem confirmação laboratorial: Em regiões de recursos limitados, Síndrome da Deficiência do Transportador
de Glicose 1 pode ser diagnosticada sem EEG, RM e estudos genéticos em crianças sem alertas que preenchem todos os
critérios clínicos mandatórios e de exclusão. Estudos de LCR são necessários para diagnóstico
* Glicose LCR pode não ser tão baixa tardiamente na Síndrome da Deficiência do Transportador de Glicose 1
Zuberi et al. Epilepsia 2022;63(6):1349-97
102
Síndromes epilépticas com início em neonatos e lactentes
Interictal:
Falta de assimetria da
EEG atividade de base com
voltagem reduzida e
alentecimento sobre o
hemisfério afetado
RM mostrando realce
leptomeníngeo sugestivo de
Imagem angioma leptomeníngeo, com
calcificação cortical e atrofia
cerebral focal progressiva
Falta de anormalidade no
exame neurológico- pode ser
limitada a déficit de campo
Curso da doença visual
Falta de deficiência intelectual
de leve a profunda
Síndrome sem confirmação laboratorial: Em regiões de recursos limitados, Síndrome de Sturge-Weber pode ser
presumivelmente diagnosticada sem EEG ou RM em pessoas sem alertas que preenchem todos os outros critérios clínicos
mandatórios
103
Crises epilépticas
Interictal:
Alentecimento focal ou
generalizado (excluindo
período pós-ictal imediato)
EEG
Ictal:
Crises gelásticas podem
ocorrer sem correlato EEG
ictal
Hamartoma hipotalâmico
(pode requerer cortes finos
Imagem
através do hipotálamo para
confirmação)
Síndrome sem confirmação laboratorial: Em regiões de recursos limitados, Síndrome de Crises Gelásticas com
Hamartoma Hipotalâmico não pode ser diagnosticada sem RM, pois crises gelásticas podem ocorrer em outras regiões
cerebrais
104
Seção 6
Síndromes
epilépticas com
início na infância
105
Crises epilépticas
Epilepsia Epilepsia
autolimitada autolimitada
com descargas com crises
centrotemporais autonômicas
Epilepsias focais
autolimitadas
Epilepsia visual Epilepsia do
occipital da lobo occipital
infância fotossensível
Epilepsia com
Síndrome de
crises mioclônico- Encefalopatia
Lennox-Gastaut
atônicas epiléptica e do
Encefalopatias
desenvolvimento
epilépticas e do
com ativação de
desenvolvimento Síndrome da Síndrome da espícula-onda no
hemiconvulsão- epilepsia relacionada sono
hemiplegia- à infecção febril
epilepsia (HHE) (FIRES)
* Critérios diagnósticos da síndrome de Epilepsia ausência da infância estão entre as Epilepsias Generalizadas Idiopáticas
Figura 37. As síndromes epilépticas com início da infância. Nelas, há poucas síndromes etio-
logia-específicas.99
106
Síndromes epilépticas com início na infância
Crises focais com disartria, Status epilepticus convulsivo Crises generalizadas tônico-
sialorreia, disfasia, focal motor ou generalizado clônicas em vigília
movimentos unilaterais (>30 min); Frequência de Ausências atípicas
clônicos ou tônico-clônicos crises usual mais do que
da boca em vigília ou sono diariamente Crises com alucinações
e/ou crises focais noturnas gustatórias, de medo ou
Crises epilépticas Crises apenas durante o dia características autonômicas
evoluindo para tônico-clônicas
bilaterais apenas em sono
Se ocorrem durante o sono,
as crises são vistas 1h após
adormecer ou 1-2h antes do
despertar
Hemiparesia ou achados
Exame neurológico neurológicos focais, outros que
paresia de Todd
Neuroimagem documentando
Imagem
lesão causal para as crises
Síndrome sem confirmação laboratorial: Em regiões de recursos limitados, Epilepsia Autolimitada com Descargas
Centrotemporais pode ser diagnosticada sem EEG e RM em crianças sem alertas que preenchem todos os critérios
mandatórios e de exclusão
* Critérios de alerta são ausentes na grande maioria dos casos, mas podem raramente ser vistos. Sua presença deve exigir
cautela no diagnóstico da síndrome e consideração de outras condições.
Specchio et al. Epilepsia 2022;63(6):1398-42
107
Crises epilépticas
Tabela 18. Epilepsias focais autolimitadas - Epilepsia autolimitada com crises autonômicas
Idade de início <3 anos ou >8 anos <1 ano ou >14 anos
Hemiparesia ou achados
Exame neurológico neurológicos focais, outros que
paresia de Todd
Neuroimagem documentando
Imagem
lesão causal para as crises
Síndrome sem confirmação laboratorial: Em regiões de recursos limitados no mínimo um EEG interictal é necessário
para diagnosticar esta síndrome com confiança
* Critérios de alerta são ausentes na grande maioria dos casos, mas podem raramente ser vistos. Sua presença deve exigir
cautela no diagnóstico da síndrome e consideração de outras condições.
Specchio et al. Epilepsia 2022;63(6):1398-42
108
Síndromes epilépticas com início na infância
Idade de início <6 anos ou >14 anos <1 ano ou >19 anos
RM documentando lesão
causal para as crises
Imagem
Calcificações dos lobos
occipitais
Regressão neurocognitiva
Curso da doença Desenvolvimento de
crises mioclônicas, ataxia,
espasticidade
Síndrome sem confirmação laboratorial: Em regiões de recursos limitados, no mínimo um EEG interictal e uma RM
são necessários para diagnosticar esta síndrome com confiança
* Critérios de alerta são ausentes na grande maioria dos casos, mas podem raramente ser vistos. Sua presença deve exigir
cautela no diagnóstico da síndrome e consideração de outras condições.
Specchio et al. Epilepsia 2022;63(6):1398-42
109
Crises epilépticas
Idade de início <4 anos ou >17 anos <1 ano ou >50 anos
RM documentando lesão
Imagem
causal para as crises
Síndrome sem confirmação laboratorial: Em regiões de recursos limitados, no mínimo um EEG interictal e uma RM
são necessários para diagnosticar esta síndrome com confiança
* Critérios de alerta são ausentes na grande maioria dos casos, mas podem raramente ser vistos. Sua presença deve exigir
cautela no diagnóstico da síndrome e consideração de outras condições.
Specchio et al. Epilepsia 2022;63(6):1398-42
110
Síndromes epilépticas com início na infância
Abalos mioclônicos em
membros- considerar
fortemente Epilepsia
Mioclônica Juvenil
Síndrome sem confirmação laboratorial: Em regiões de recursos limitados, a Epilepsia com Mioclonias Palpebrais
pode ser diagnosticada em pessoas que preenchem todos os critérios clínicos mandatórios e de exclusão se têm
mioclonias palpebrais testemunhadas pelo examinador ou capturadas em vídeos caseiros
* Critérios de alerta são ausentes na grande maioria dos casos, mas podem raramente ser vistos. Sua presença deve exigir
cautela no diagnóstico da síndrome e consideração de outras condições.
Specchio et al. Epilepsia 2022;63(6):1398-42
111
Crises epilépticas
Deficiência intelectual
Exame neurológico moderada ou mais acentuada
Achados neurológicos focais
Síndrome sem confirmação laboratorial: Em regiões de recursos limitados, a Epilepsia com Ausências Mioclônicas
pode ser diagnosticada em pessoas que preenchem todos os critérios clínicos mandatórios e de exclusão, se crises de
ausência mioclônicas são testemunhadas pelo examinador ou capturadas em vídeos caseiros
* Critérios de alerta são ausentes na grande maioria dos casos, mas podem raramente ser vistos. Sua presença deve exigir
cautela no diagnóstico da síndrome e consideração de outras condições.
Specchio et al. Epilepsia 2022;63(6):1398-42
112
Síndromes epilépticas com início na infância
Atraso no desenvolvimento
Desenvolvimento no
moderado a severo antes do
início
início das crises
Síndrome sem confirmação laboratorial: Em regiões de recursos limitados, a Epilepsia com Crises Mioclônico-atônicas
pode ser presumivelmente diagnosticada sem EEG se o clínico testemunhou pessoalmente crises mioclônico-atônicas,
seja por observação direta do paciente ou em vídeo realizado pela família. Contudo, um EEG é fortemente recomendado
* Critérios de alerta são ausentes na grande maioria dos casos, mas podem raramente ser vistos. Sua presença deve exigir
cautela no diagnóstico da síndrome e consideração de outras condições.
Specchio et al. Epilepsia 2022;63(6):1398-42
113
Crises epilépticas
Crises tônicas
Além das crises tônicas,
pelo menos um tipo de crise
adicional deve estar presente,
que pode ser representado por
qualquer um dos seguintes:
• Ausências atípicas
Crises epilépticas • Atônicas
• Mioclônicas
• Focais disperceptivas
• Tônico-clônicas
generalizadas
• Status epilepticus não-
convulsivo
• Espasmos epilépticos
Epilepsia fármacorresistente
Prognóstico a longo
prazo Deficiência intelectual leve a
profunda
Síndrome sem confirmação laboratorial: Em regiões de recursos limitados, no mínimo um EEG interictal mostrando
o padrão característico de complexos de espícula e onda lentos generalizados durante a vigília é necessário para o
diagnóstico
* Critérios de alerta são ausentes na grande maioria dos casos, mas podem raramente ser vistos. Sua presença deve exigir
cautela no diagnóstico da síndrome e consideração de outras condições.
Specchio et al. Epilepsia 2022;63(6):1398-42
114
Síndromes epilépticas com início na infância
Regressão cognitiva,
comportamental ou motora
ou estagnação temporalmente
Desenvolvimento no
relacionada ao padrão de
início
complexos de espícula e onda
lentos (1,5-2 Hz) no sono
N-REM
Remissão do padrão de
complexos de espícula e
onda lentos (1,5-2 Hz) no
Prognóstico a longo
sono N-REM no EEG até
prazo
meados da adolescência,
embora frequentemente o EEG
continue anormal
Síndrome sem confirmação laboratorial: Em regiões de recursos limitados, esta síndrome não pode ser
presumivelmente diagnosticada sem um EEG em sono
* Critérios de alerta são ausentes na grande maioria dos casos, mas podem raramente ser vistos. Sua presença deve exigir
cautela no diagnóstico da síndrome e consideração de outras condições.
Specchio et al. Epilepsia 2022;63(6):1398-42
115
Crises epilépticas
116
Síndromes epilépticas com início na infância
117
Seção 7
Síndromes
epilépticas com
início em idades
variáveis
119
Crises epilépticas
Figura 38. Neste grupo estão as síndromes de epilepsias com idade de início variável, bastan-
te heterogêneas quanto à etiologia.46
120
Síndromes epilépticas com início em idades variáveis
Tabela 28. Epilepsias com idades de início variáveis - Epilepsia hipermotora (hipercinética)
relacionada ao sono
Anormalidade epileptiforme
frequente fora das regiões
EEG frontais
Anormalidade epileptiforme
generalizada
Anormalidades focais no
Exame neurológico
exame neurológico
Síndrome sem confirmação laboratorial: Em regiões de recursos limitados, a Epilepsia (Hipermotora) Hipercinética
Relacionada ao Sono pode ser diagnosticada se outros critérios mandatórios e de exclusão forem preenchidos e o paciente
tem crises hipercinéticas durante o sono testemunhadas ou registradas em vídeo
* Critérios de alerta são ausentes na grande maioria dos casos, mas podem raramente ser vistos. Sua presença deve exigir
cautela no diagnóstico da síndrome e consideração de outras condições.
Riney et al. Epilepsia 2022;63(6):1443-74
121
Crises epilépticas
Tabela 29. Epilepsias com idades de início variáveis - Epilepsia do lobo temporal mesial
familiar
Anormalidade epileptiforme
EEG
generalizada
Anormalidades focais no
Exame neurológico
exame neurológico
Normal ou esclerose/atrofia
Imagem
hipocampal
Síndrome sem confirmação laboratorial: Em regiões de recursos limitados, RM é necessária para excluir outras
etiologias estruturais
* Critérios de alerta são ausentes na grande maioria dos casos, mas podem raramente ser vistos. Sua presença deve exigir
cautela no diagnóstico da síndrome e consideração de outras condições.
Riney et al. Epilepsia 2022;63(6):1443-74
122
Síndromes epilépticas com início em idades variáveis
Tabela 30. Epilepsias com idades de início variáveis - Epilepsia focal familiar com focos
variáveis
Anormalidade epileptiforme
EEG
generalizada
Anormalidades focais no
Exame neurológico
exame neurológico
Síndrome sem confirmação laboratorial: Em regiões de recursos limitados, a Epilepsia Focal Familiar com Focos
Variáveis pode ser diagnosticada sem EEG, se o paciente preenche outros critérios mandatórios e de exclusão. Contudo,
uma RM ou TC é necessária para excluir outras etiologias estruturais
* Critérios de alerta são ausentes na grande maioria dos casos, mas podem raramente ser vistos. Sua presença deve exigir
cautela no diagnóstico da síndrome e consideração de outras condições.
Riney et al. Epilepsia 2022;63(6):1443-74
123
Crises epilépticas
Tabela 31. Epilepsias com idades de início variáveis - Epilepsia com características auditivas
Anormalidade epileptiforme
EEG
generalizada
Anormalidades focais no
Exame neurológico
exame neurológico
Síndrome sem confirmação laboratorial: Em regiões de recursos limitados, para diagnóstico da Epilepsia com
Características Auditivas a RM é necessária para excluir outras etiologias estruturais
* Critérios de alerta são ausentes na grande maioria dos casos, mas podem raramente ser vistos. Sua presença deve exigir
cautela no diagnóstico da síndrome e consideração de outras condições.
Riney et al. Epilepsia 2022;63(6):1443-74
124
Síndromes epilépticas com início em idades variáveis
Tabela 32. Epilepsias com idades de início variáveis - Epilepsia do lobo temporal mesial com
esclerose hipocampal
Anormalidades focais no
exame neurológico como
Exame neurológico
hemiparesia (excluindo
assimetria facial)
Esclerose hipocampal
Imagem
(unilateral ou bilateral) na RM
Síndrome sem confirmação laboratorial: Em regiões com recursos limitados, uma RM é necessária para confirmação
diagnóstica.
* Critérios de alerta são ausentes na grande maioria dos casos, mas podem raramente ser vistos. Sua presença deve exigir
cautela no diagnóstico da síndrome e consideração de outras condições.
Riney et al. Epilepsia 2022;63(6):1443-74
125
Crises epilépticas
Epilepsia fármacorresistente
Prognóstico a longo
prazo Déficits neurológicos
progressivos
Síndrome em evolução: Crianças com epilepsia fármacorresistente, com crises focais hemisféricas que
progressivamente aumentam em frequência, com déficits neurológicos progressivos, mas cuja RM permanece normal, e
em quem todas as outras etiologias metabólicas e autoimunes foram excluídas, devem ter suspeita elevada de Síndrome
de Rasmussen emergente
Síndrome sem confirmação laboratorial: Em regiões de recursos limitados, Síndrome de Rasmussen pode ser
diagnosticada sem EEG em um paciente com crises de início focal/hemisféricas que mostram evolução clínica típica, que
preenchem todos os outros critérios clínicos mandatórios e nenhum de exclusão e não têm alertas. Contudo, imagem (TC
ou RM) é necessária para excluir outras causas
* Critérios de alerta são ausentes na grande maioria dos casos, mas podem raramente ser vistos. Sua presença deve exigir
cautela no diagnóstico da síndrome e consideração de outras condições.
Riney et al. Epilepsia 2022;63(6):1443-74
126
Síndromes epilépticas com início em idades variáveis
Tabela 34. Epilepsias com idades de início variáveis - Epilepsia com crises induzidas por leitura
Alentecimento da atividade
de base no EEG, excluindo
EEG
na fase pós-ictal de uma crise
tônico-clônica generalizada
Desenvolvimento no Normal
início
Imagem Normal
Síndrome sem confirmação laboratorial: Em regiões com recursos limitados, esta síndrome pode ser diagnosticada em
crianças e adultos que preenchem todos os critérios mandatórios e não os critérios de exclusão
* Critérios de alerta são ausentes na grande maioria dos casos, mas podem raramente ser vistos. Sua presença deve exigir
cautela no diagnóstico da síndrome e consideração de outras condições.
Riney et al. Epilepsia 2022;63(6):1443-74
127
Crises epilépticas
Tabela 35. Epilepsias com idades de início variáveis - Critérios diagnósticos para epilepsias
mioclônicas progressivas
Deterioração neurocognitiva
progressiva (em alguns casos
observação ao longo do tempo
Comorbidades é necessária para distinguir
Epilepsia Mioclônica
Progressiva de Epilepsia
Mioclônica Juvenil)
Síndrome sem confirmação laboratorial: Em regiões com recursos limitados, Epilepsias Mioclônicas Progressivas
podem ser suspeitadas em pessoas que preenchem os critérios mandatórios, sem alertas e de exclusão e que mostram
piora progressiva das crises mioclônicas e da função neurológica e cognitiva
* Critérios de alerta são ausentes na grande maioria dos casos, mas podem raramente ser vistos. Sua presença deve exigir
cautela no diagnóstico da síndrome e consideração de outras condições.
Riney et al. Epilepsia 2022;63(6):1443-74
128
Síndromes epilépticas generalizadas idiopáticas
Seção 8
Síndromes
epilépticas
generalizadas
idiopáticas
129
Crises epilépticas
Figura 39. As Epilepsias Generalizadas Genéticas contêm o subgrupo das Epilepsias Ge-
neralizadas Idiopáticas e quatro síndromes que estão na transição para as Encefalopatias
Epilépticas e do Desenvolvimento (uma delas, a Epilepsia com Crises Mioclônico-atônicas)
já é classificada como encefalopatia epiléptica e do desenvolvimento. Observe também a su-
perposição da Epilepsia Ausência da Infância com a Epilepsia Ausência Juvenil e a Epilepsia
Mioclônica Juvenil, um fato que indica que uma síndrome epiléptica generalizada da infância
pode evoluir para outras formas na adolescência.124
130
Síndromes epilépticas generalizadas idiopáticas
131
Crises epilépticas
132
Síndromes epilépticas generalizadas idiopáticas
133
Crises epilépticas
Idade de início 5-9 anos ou 26-40 anos <5 anos ou >40 anos
Anormalidades
potencialmente relevantes
Exame neurológico no exame neurológico,
excluindo achados
incidentais
Declínio cognitivo
Curso da doença
progressivo
Síndrome sem confirmação laboratorial: Em regiões de recursos limitados, Epilepsia com Crises Tônico-clônicas
Generalizadas Apenas não pode ser diagnosticada sem EEG mostrando complexos de espícula-onda generalizados, uma
vez que não é possível excluir início focal sem EEG
* Critérios de alerta são ausentes na grande maioria dos casos, mas podem raramente ser vistos. Sua presença deve exigir
cautela no diagnóstico da síndrome e consideração de outras condições. Quanto maior o número de alertas, menor a
possibilidade de diagnóstico desta síndrome.
Hirsch et al. Epilepsia 2022;63(6):1475-99
134
Referências
bibliográficas
135
Crises epilépticas
1. Fisher RS, van Emde Boas W, Blume W, et al. Epileptic seizures and epilepsy: definitions
proposed by the International League Against Epilepsy (ILAE) and the International Bureau
for Epilepsy (IBE). Epilepsia 2005;46:470-472.
2. Thurman DJ, Beghi E, Begley CE, ILAE Commission on Epidemiology. Standards for
epidemiologic studies and surveillance of epilepsy. Epilepsia 2011;52 (Suppl 7):S2-S26.
3. Hauser WA, Annegers JF, Kurland LT. Prevalence of epilepsy in Rochester, Minnesota: 1940-
1980. Epilepsia 1991;32:429-445.
4. Fisher RS, Acevedo C, Arzimanoglou A, et al. A practical clinical definition of epilepsy.
Epilepsia 2014; 55(4):475-482.
5. Blume WT, Lüders HO, Mizrahi E, et al. Glossary of descriptive terminology for ictal
semiology: report of the ILAE Task Force on Classification and Terminology. Epilepsia
2001;42(9):1212-1218.
6. Beniczky S, Tatum WO, Blumenfeld H, et al. Seizure semiology: ILAE glossary of terms and
their significance. Epileptic Disord 2022;24(3):447-495.
7. Hauser AW, Rich SS, Lee JR. Risk of recurrent seizures after two unprovoked seizures. N
Engl J Med 1998;338:429-434.
8. Wirrell EC, Nabbout R, Scheffer IE, et al. Methodology for classification and definition of
epilepsy syndromes with list of syndromes: report of the ILAE Task Force on Nosology and
Definitions. Epilepsia 2022;63(6):1333-1348.
9. Commission on Classification and Terminology of the International League against
Epilepsy. Proposal for revised classification of epilepsies and epileptic syndromes. Epilepsia
1989;30:389-399.
10. Bancaud J, Talairach J, Bonis A, et al. La Stereo-electroencephalographie dans L’epilepsie.
Masson & Cie, Paris, France, 1965.
11. Bartolomei F, Chavel P, Wendling F. Epileptogenicity of brain structures in human temporal
lobe epilepsy: a quantified study from intracerebral EEG. Brain 2008;131:1818-1830.
12. Fisher R, Cross H, French JA, et al. Operational classification of seizure types by the
International League Against Epilepsy. Epilepsia 2017;58(4):522-530.
13. Fisher RS, Cross JH, D’Souza C, et al. Instruction manual for the ILAE 2017 operational
classification of seizure types. Epilepsia 2017;58(4):531-542.
14. Berg AT, Berkovic SF, Brodie MJ, et al. Revised terminology and concepts for organization of
seizures and epilepsies: report of the ILAE Commission on Classification and Terminology,
2005-2009. Epilepsia 2010;51(4):676-685.
15. Commission on Classification and Terminology of the International League Against Epilepsy.
Proposal for revised clinical and electroencephalographic classification of epileptic seizures.
Epilepsia 1981;22:489-501.
136
Referências bibliográficas
16. Temkin O. The Falling Sickness. Baltimore, The Johns Hopkins University Press, 1971.
17. Jackson JH. Selected Writings. James Taylor (ed.). London, Staples Press, 1931.
18. Ebner A, Kerdar MS. Olfactory and gustatory auras. In: Lüders HO, Noachtar S (eds.).
Epileptic Seizures. Pathophysiology and Clinical Semiology. Philadelphia, Churchill
Livingstone, 2000; pp. 313-319.
19. Daly D. Uncinate fits. Neurology 1958;8:250-60.
20. Howe JG, Gibson JD. Uncinate seizures and tumors, a myth re-examined. Ann Neurol
1982;12:227.
21. Ajmone-Marsan C, Ralston B. The Epileptic Seizure: its Functional Morphology and
Diagnostics Significance. Springfield, IL, Charles C. Thomas, 1957.
22. Bernasconi A, Andermann F, Bernasconi N, et al. Lateralizing value of peri-ictal headache. A
study of 100 patients with partial epilepsy. Neurology 2001;56:130-132.
23. Gastaut H. Fyodor Mikhailovitch Dostoevsky’s involuntary contribution to the
symptomatology and prognosis of epilepsy. William G. Lennox Lecture, 1977. Epilepsia
1978;19:186-201.
24. Cirignotta F, Todesco CV, Lugaresi E. Temporal lobe epilepsy with ecstatic seizures (so-
called Dostoevsky epilepsy). Epilepsia 1980;21(6):705-710.
25. Wolf P, Yacubian EM. The epileptic experience in the works of Dostoyevsky and Machado de
Assis. Epilepsy Behav 2021;121(Pt B):106205.
26. Kotagal P. Tonic-clonic seizures. In: Lüders HO, Noachtar S (eds.). Epileptic Seizures.
Pathophysiology and Clinical Semiology. Philadelphia, Churchill Livingstone, 2000; pp. 425-
432.
27. Usui N, Kotagal P, Matsumoto R, et al. Focal semiologic and electroencephalographic
features in patients with juvenile myoclonic epilepsy. Epilepsia. 2005;46(10):1668-1676.
28. Lhatoo S, Lüders H. The semiology and pathophysiology of the secondary generalized tonic-
clonic seizures. In: Hirsch E, Andermann F, Chauvel P, Engel J, Lopes da Silva F, Lüders H
(eds). Generalized Seizures: Phenomenology to Underlying Systems and Networks. Esher,
John Libbey Eurotext 2006; pp.229-245.
29. Wyllie E, Lüders H, Morris HH, Lesser RP, Dinner DS. The lateralizing significance of
versive head and eye movements during epileptic seizures. Neurology 1986;36:606-611.
30. Lüders H, Acharya J, Baumgartner C, et al. Semiological seizure classification. Epilepsia
1998;39:1006-1013.
31. Gloor P. Generalized epilepsy with spike-and-wave discharge: a reinterpretation of its
electrographic and clinical manifestations. The 1977 William G. Lennox Lecture, American
Epilepsy Society. Epilepsia 1979;20(5):571-588.
137
Crises epilépticas
32. Kotagal P, Lüders H, Morris HH, Dinner DS, Wyllie E, Godoy J, Rothner AD. Dystonic
posturing in complex partial seizures of temporal lobe onset: a new lateralizing sign.
Neurology 1989;39:196-201.
33. Papayannis CE, Consalvo D, Seifer G, et al. Clinical spectrum and difficulties in management
of hypothalamic hamartoma in a developing country. Acta Neurol Scand 2008;118(5):313-319.
34. Källén K, Wyllie E, Lüders HO, et al. Hypomotor seizures in infants and children. Epilepsia
2002;43(8):882-888.
35. Chauvel P, Delgado-Escueta AV, Halgren E, Bancaud J. Frontal lobe Seizures and Epilepsies.
Adv Neurol, vol. 57. New York, Raven Press, 1992.
36. Silva W, Giagante B, Saizar R, et al. Clinical features and prognosis of nonepileptic seizures
in a developing country. Epilepsia 2001;42(3):398-401.
37. Bautista RE, Spencer DD, Spencer SS. EEG findings in frontal lobe epilepsies. Neurology
1998;50(6):1765-1771.
38. Williamson PD, Spencer DD, Spencer SS, et al. Complex partial seizures of frontal lobe
origin. Ann Neurol 1985;18(4):497-504.
39. Bancaud J, Talairach J. Clinical semiology of frontal lobe seizures. Adv Neurol 1992;57:3-58.
40. Manford M, Fish DR, Shorvon SD. An analysis of clinical seizure patterns and their
localizing value in frontal and temporal lobe epilepsies. Brain 1996;119 (Pt 1):17-40.
41. Jobst BC, Siegel AM, Thadani VM, et al. Intractable seizures of frontal lobe origin: clinical
characteristics, localizing signs, and results of surgery. Epilepsia 2000;41(9):1139-1152.
42. McGonigal A, Chauvel P. Frontal lobe epilepsy: seizure semiology and presurgical
evaluation. Pract Neurol 2004;4:260-273.
43. Williamson PD, Jobst BC. Frontal lobe epilepsy. Adv Neurol 2000;84:215-242.
44. So NK. Mesial frontal epilepsy. Epilepsia 1998;39 (Suppl 4):S49-S61.
45. Wieser HG and ILAE Commission on Neurosurgery of Epilepsy. ILAE Commission Report.
Mesial temporal lobe epilepsy with hippocampal sclerosis. Epilepsia 2004;45(6):695-714.
46. Riney K, Bogacz A, Somerville E, et al. International League Against Epilepsy classification
and definition of epilepsy syndromes with onset at a variable age: position statement by the
ILAE Task Force on Nosology and Definitions. Epilepsia. 2022;63(6):1443-1474.
47. French JA, Williamson PD, Thadani VM, et al. Characteristics of medial temporal lobe
epilepsy: I. Results of history and physical examination. Ann Neurol 1993;34(6):774-780.
48. Cendes F, Andermann F, Gloor P, et al. Atrophy of mesial structures in patients with temporal
lobe epilepsy: cause or consequence of repeated seizures? Ann Neurol 1993;34(6):795-801.
49. Urbach H. Imaging of the epilepsies. Eur Radiol 2005;15(3):494-500.
138
Referências bibliográficas
50. Hauser WA. The natural history of drug resistant epilepsy: epidemiologic considerations.
Epilepsy Res 1992; Suppl 5: S25-S28.
51. Bartolomei F, Wendling F, Vignal JP, et al. Seizures of temporal lobe epilepsy: identification
of subtypes by coherence analysis using stereo-electro-encephalography. Clin Neurophysiol
1999;110(10):1741-1754.
52. Kahane P, Bartolomei F. Temporal lobe epilepsy and hippocampal sclerosis: lessons from
depth EEG recordings. Epilepsia 2010;51(Suppl.1):59-62.
53. Wieser HG. Depth recorded limbic seizures and psychopathology. Neurosci Biobehav Rev
1983;7(3):427-440.
54. Jackson J, Stewart P. Epileptic attacks with a warning of a crude sensation of smell and with
the intellectual aura (dreamy state) in a patient who had symptoms pointing to gross organic
disease of the right temporo- sphenoidal lobe. Brain 1899;22: 534-549.
55. Newton MR, Berkovic SF, Austin MC, et al. Dystonia, clinical lateralization, and regional
blood flow changes in temporal lobe seizures. Neurology 1992;42(2):371-377.
56. Vázquez C, Cuello M, Rubino P, et al. Esclerosis temporal mesial: paradigma de la epilepsia
de resolución quirúrgica. Rev Argent Neurocir 2008;22(2):59-73.
57. Giagante B, Consalvo D, Oddo S, et al. Clinical-EEG patterns at seizure onset in patients with
hippocampal sclerosis. Clin Neurophysiology 2003;114 (12): 2286-2293.
58. Bartolomei F, Chauvel P, Wendling F. Epileptogenicity of brain structures in human temporal
lobe epilepsy: a quantified study from intracerebral EEG. Brain 2008;131:1818-30.
59. Wieser HG. Depth recorded limbic seizures and psychopathology. Neurosci Biobehav Rev
1983;7(3):427-440.
60. Walsh GO, Delgado-Escueta AV. Type II complex partial seizures: poor results of anterior
temporal lobectomy. Neurology 1984;34(1):1-13.
61. Isnard J, Guénot M, Ostrowsky K, et al. The role of the insular cortex in temporal lobe
epilepsy. Ann Neurol. 2000;48(4):614-623.
62. Isnard J, Guénot M, Sindou M, Mauguière F. Clinical manifestations of insular lobe seizures:
a stereo-electroencephalographic study. Epilepsia 2004;45(9):1079-1090.
63. Höistad M, Barbas H. Sequence of information processing for emotions through pathways
linking temporal and insular cortices with the amygdala. Neuroimage 2008;40(3):1016-1033.
64. Gowers WR. Epilepsy and other chronic convulsive diseases, their causes, symptoms, and
treatment. Reimpressão do trabalho publicado pela primeira vez por William Wood, New
York, 1885. American Academy of Neurology, série de reimpressões, Vol. I. Dover, New
York, 1964.
139
Crises epilépticas
65. Williamson PD, Thadani VM, Darcey TM, et al. Occipital lobe epilepsy: clinical
characteristics, seizure spread patterns, and results of surgery. Ann Neurol 1992;31:3-13.
66. Hauser WA, Kurland LT. The epidemiology of epilepsy in Rochester, Minnesota, 1935
through 1967. Epilepsia 1975;16:1-66.
67. Huttenlocher PR. Myelination and development of function in immature pyramidal tract. Exp
Neurol 1970;29:405-415.
68. Gastaut H, Broughton R. Ataques Epilépticos. Clínica, Electroencefalografia, Diagnóstico y
Tratamiento. Barcelona, Toray, 1974.
69. Scaramelli A, Braga P, Avellanal A, et al. Prodromal symptoms in epileptic patients: clinical
characterization of the pre-ictal phase. Seizure 2009;18(4):246-250.
70. Kotagal P. Tonic-clonic seizures. In: Lüders HO, Noachtar S (eds). Epileptic Seizures.
Pathophysiology and clinical Semiology. Philadelphia, Churchill Livingston 2000; pp.425-432.
71. Vasconcelos D. Compression fractures of the vertebrae during major epileptic seizures.
Epilepsia 1973;14:323-328.
72. DeToledo JC, Lowe MR. Seizures, lateral decubitus, aspirations, and shoulder dislocation.
Time to change guidelines? Neurology 2001;56:290-291.
73. Schweighofer F, Schippinger F, Peicha G. Posterior dislocation fracture of the shoulder.
Chirurg 1996;67:1251-1254.
74. Bühler M, Gerber C. Shoulder instability related to epileptic seizures. J Shoulder Elbow Surg
2002;11(4):339-344.
75. Rethnam U, Ulfin S, Sinha A. Post seizure anterior dislocation of shoulder. Beware of
recurrence. Seizure 2006;15:348-349.
76. Gastaut H, Fischer-Williams M. The physiopathology of epileptic seizures. In: Field J,
Magoun HW, Hall VE (eds.). Handbook of Physiology, I. Neurophysiology. Baltimore,
Williams & Wilkins, 1959; pp. 329-364.
77. Dempsey EW, Morison RS. The production of rhythmically recurrent cortical potentials after
localized thalamic stimulation. Am J Physiol 1942;135:293-300.
78. Fisch BJ, Pedley TA. Generalized tonic-clonic epilepsies In: Lüders H, Lesser RP (eds.).
Epilepsy. Electroclinical Syndromes. London, Springer-Verlag, 1987; pp. 151-185.
79. Lüders H, Lesser RP, Dinner DS, Morris HH. Generalized epilepsies: a review. Cleve Clin Q
1984;1:205-226.
80. Fisch BJ, Klass DW. The diagnostic specificity of triphasic wave patterns. Electroencephalogr
clin Neurophysiol 1988;70:1-8.
81. Matsuo F. Partial epileptic seizures beginning in the truncal muscles. Acta Neurol Scand
1984;69(5):264-269.
140
Referências bibliográficas
82. Noachtar S, Arnold S. Clonic seizures. In: Lüders HO, Noachtar S (eds.). Epileptic Seizures.
Pathophysiology and Clinical Semiology. Philadelphia, Churchill Livingston, 2000; pp. 412-
424.
83. Lüders HO, Noachtar S. Atlas und Video Epileptischer Anfälle und Syndrome. Wehr,
Germany, Ciba-Geigy, 1995.
84. Janz D. Die Epilepsien. Stuttgart, Georg Thieme Verlag, 1969.
85. Scher M. Neonatal seizures: EEG and clinical manifestation. In: Wyllie E (ed.). The
Treatment of Epilepsy: Principles and Practice. 2 ed. Philadelphia, Willians & Wilkins, 1997;
pp. 600-621.
86. Gastaut H, Roger J, Ouahchi S, et al. An electroclinical study of generalized epileptic seizures
of tonic expression. Epilepsia 1963;4:15-44.
87. Beaumanoir A, Dravet C. The Lennox-Gastaut syndrome in adulthood. In: Roger J, Bureau
M, Dravet C, Dreifuss FE, Perret A, Wolf P (eds.). Epileptic Syndromes in Infancy, Childhood
and Adolescence. 2 ed. London, John Libbey, 1992; pp. 115-132.
88. Blume WT, David RB, Gomez RM. Generalized sharp and slow wave complexes. Associated
clinical features and long-term follow-up. Brain 1973;96:289-306.
89. Fitzgerald LF, Stone JL, Hughes JR, Melyn MA, Lansky LL. The Lennox Gastaut syndrome:
electroencephalographic characteristics, clinical correlates, and follow-up studies. Clin
Electroencephalogr 1992;23:180-189.
90. Niedermeyer E. The Lennox-Gastaut syndrome and its frontiers. Clin Electroencephalogr
1986;17:117-126.
91. Oller-Daurella L. Un type special de crises observées dans le syndrome de Lennox-Gastaut
d’apparition tardive. Rev Neurol 1970;122:459-462.
92. Gastaut H. Clinical and electroencephalographic correlates of generalized spike-and-wave
bursts occurring spontaneously in man. Epilepsia 1968;9:179-184.
93. Penry JK, Porter RJ, Dreifuss FE. Simultaneous recording of absence seizures with videotape
and electroencephalography. A study of 374 seizures in 48 patients. Brain 1975;98:427-440.
94. Roger J, Michelle B, Ferrer-Vidal LO, et al. Clinical and electroencephalographic
characteristics of idiopathic generalized epilepsies. In: Malafosse A, Genton P, Hirsch E,
Marescaux C, Broglin D, Bernasconi R (eds.). Idiopathic Generalized Epilepsies: Clinical,
Experimental and Genetic Aspects. London, John Libbey, 1994; pp. 7-18.
95. Holmes GL, McKeever M, Adamson M. Absence seizures in children: clinical and
electroencephalographic features. Ann Neurol 1987;21:268-273.
96. Jeavons PM. Nosological problems of myoclonic epilepsies in childhood and adolescence.
Dev Med Child Neurol 1977;19:3-8.
141
Crises epilépticas
97. Panayiotopoulos CP. Absence epilepsies. In: Engel J, Pedley TA (eds.). Epilepsy. A
Comprehensive Textbook. Philadelphia, Lippincott-Raven, 1997; pp. 2327-2346.
98. Binnie CD, Darby CE, de Corte RA, Wilkins AJ. Self-induction of epileptic seizures by eye
closure: incidence and recognition. J Neurol Neurosurg Psychiatry 1980; 43(5):386-389.
99. Specchio N, Wirrell EC, Scheffer IE, et al. International League Against Epilepsy
classification and definition of epilepsy syndromes with onset in childhood: position paper by
the ILAE Task Force on Nosology and Definitions. Epilepsia 2022;63(6):1398-1442.
100. Tassinari CA, Lyagoubi S, Gambarelli F, et al. Relationships between EEG discharge and
neuromuscular phenomena. Electroenceph Clin Neurophysiol 1971; 31:176.
101. Tassinari CA, Lyagoubi S, Santos V, et al. Etude dês décharges de pointes ondes chez
l’homme II: les aspects cliniques et électroencéphalographiques des absences myocloniques.
Rev Neurol 1969;121:379-383.
102. Bureau M, Tassinari CA. The syndrome of myoclonic absences. In: Roger J, Bureau M,
Dravet C, Genton P, Tassinari CA, Wolf P (eds.). Epileptic Syndromes in Infancy, Childhood
and Adolescence. 3 ed. London, John Libbey, 2002; pp. 305-312.
103. Lombroso CT. A prospective study of infantile spasms: clinical and therapeutic correlations.
Epilepsia 1983;23:135-158.
104. Kellaway P, Hrachovy RA, Frost Jr JD, Zion T. Precise characterization and quantification of
infantile spasms. Ann Neurol 1979;6:214-218.
105. Plouin P, Jalin C, Dulac O, Chiron C. Enregistrement ambulatoire de l’EEG pendant 24
heures dans les spasmes infantiles épileptiques. Rev EEG Neurophysiol Clin 1987;17:309-
318.
106. Hrachovy RA, Frost JD, Kellaway P. Hypsarrhythmia: variations on the theme. Epilepsia
1984;25:317-325.
107. Shewmon DA. Ictal aspects with emphasis on unusual variants. In: Dulac O, Chugani HT, Dalla
Bernardina B (eds.). Infantile Spasms and West Syndrome. London, WB Saunders, 1994; pp. 36-
51.
108. Fusco L, Vigevano F. Ictal clinical electroencephalographic findings of spasms in West syndrome.
Epilepsia 1993;34(4):671-678.
109. Dalla Bernardina B, Watanabe K. Interictal EEG: variations and pitfalls. In: Dulac O, Chugani HT,
Dalla Bernardina B (eds.). Infantile Spasms and West Syndrome. London, WB Saunders, 1994;
pp. 63-81.
110. Michelle B, Regis H. Study of epileptic falls: methodologies and polygragraphies. In: Beaumanoir
A, Andermann F, Avanzini G, Mira L (eds.). Falls in Epileptic and Non-Epileptic Seizures during
Childhood. London, John Libbey, 1997; pp. 65-74.
142
Referências bibliográficas
111. So N. Myoclonic seizures. In: Lüders HO, Noachtar S (eds.). Epileptic Seizures. Pathophysiology
and Clinical Semiology. Philadelphia, Churchill Livingstone, 2000; pp. 377-388.
112. Oguni H, Fukuyama Y, Imaizumi Y, Uehara T. Video-EEG analysis of drop seizures in myoclonic-
astatic epilepsy of early childhood (Doose syndrome). Epilepsia 1992;33:805-813.
113. Dravet C, Guerrini R, Bureau M. Epileptic syndromes with drop seizures in children. In:
Beaumanoir A, Andermann F, Avanzini G, Mira L (eds.). Falls in Epileptic and Non-Epileptic
Seizures during Childhood. London, John Libbey, 1997; pp. 95-111.
114. Oguni H, Sato F, Hayashi K. A study of unilateral brief focal atonia in childhood partial epilepsy.
Epilepsia 1992;33(1):75-83.
115. Noachtar S, Holthausen H, Lüders HO. Epileptic negative myoclonus. Subdural EEG recordings
indicate postcentral generator. Neurology 1997;49:1534-1537.
116. Lipinski CG. Epilepsies with astatic seizures of late onset. Epilepsia 1977;18:13-20.
117. Engel Jr J. Epileptic seizures. In: Engel Jr J (ed.). Seizures and Epilepsy. Philadelphia, FA Davis
Co., 1989; pp. 137-178.
118. Doose H. Myoclonic astatic epilepsy of early childhood. In: Roger J, Dravet C, Bureau M,
Dreifuss FE, Wolf P (eds.). Epileptic Syndromes in Infancy, Childhood and Adolescence. London,
John Libbey, 1985; pp.78-88.
119. Gastaut H, Regis H. On the subject of Lennox’s “akinetic” petit mal. Epilepsia 1961;2:298-305.
120. Gastaut H, Tassinari CA, Bureau-Paillas M. Étude polygraphique et clinique dês effondrements
atoniques épileptiques. Rev Neurol 1966;36:5-21.
121. Gastaut H, Tassinari CA, Bureau-Paillas M. Étude polygraphique et clinique dês effondrements
atoniques épileptiques. Rev Neurol 1966;36:5-21.
122. Scheffer IE, Berkovic S, Capovilla G, et al. ILAE classification of the epilepsies: position paper of
the ILAE Commission for Classification and Terminology. Epilepsia 2017;58(4):512-521.
123. Zuberi SM, Wirrell E, Yozawitz E, et al. ILAE classification and definition of epilepsy syndromes
with onset in neonates and infants: Position statement by the ILAE Task Force on Nosology and
Definitions. Epilepsia 2022;63(6):1349-1397.
124. Hirsch E, French J, Scheffer IE, et al. ILAE definition of the Idiopathic Generalized Epilepsy
Syndromes: position statement by the ILAE Task Force on Nosology and Definitions. Epilepsia
2022;63(6):1475-1499.
143
Leitura Médica Ltda.
Contato comercial: (11) 3151-2144
Distribuição de livros: (11) 3255-2851
Av. Brigadeiro Luís Antônio, 1.700 – 11o andar
Bela Vista – São Paulo, SP – CEP 01318-002
Elza Márcia Targas Yacubian
Silvia Kochen
Crises e síndromes
epilépticas
2a Edição
ETIOLOGIA
GENÉTICA DESCONHECIDA
ESTRUTURAL INFECCIOSA
METABÓLICA IMUNE
COMORBIDADES
Apoio: