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FACULDADE DE TECNOLOGIA EBRAMEC

ESCOLA BRASILEIRA DE MEDICINA CHINESA

CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM ACUPUNTURA

LETÍCIA DA SILVA LIRA

AVALIAÇÃO DA UTILIZAÇÃO DA ACUPUNTURA NA ESCLEROSE LATERAL


AMIOTRÓFICA: CASO CLÍNICO

SÃO PAULO

2017
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LETÍCIA DA SILVA LIRA

AVALIAÇÃO DA UTILIZAÇÃO DA ACUPUNTURA NA ESCLEROSE LATERAL


AMIOTRÓFICA: CASO CLÍNICO

Trabalho de Conclusão de Curso de Pós Graduação


em Acupuntura apresentado à Faculdade De
Tecnologia EBRAMEC- Escola Brasileira de Medicina
Chinesa, sob orientação do Prof. João Carlos Félix e
Co-Orientador Dr.Reginaldo de Carvalho Silva Filho.

SÃO PAULO

2017
3

LETÍCIA DA SILVA LIRA

AVALIAÇÃO DA UTILIZAÇÃO DA ACUPUNTURA NA ESCLEROSE LATERAL


AMIOTRÓFICA: CASO CLÍNICO

BANCA EXAMINADORA

___________________________________

___________________________________

___________________________________

Orientador: João Carlos Félix

Co-Orientador: Dr. Reginaldo de C. S. Filho

Letícia da Silva Lira

São Paulo, ____ de _____________de ___


4

Dedico este trabalho aos meus pacientes, pois foi pensando neles que decidi
aprimorar meus conhecimentos a fim de poder ajuda-los cada vez mais.
5

RESUMO

Introdução: A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença causada pela degeneração progressiva dos
neurônios motores superiores e inferiores (do córtex ao corno anterior da medula) levando a degeneração
do sistema motor em nível bulbar, cervical, torácico e lombar. Acredita-se que o inicio dos sintomas
ocorrem quando 80% desses neurônios já foram perdidos. Mais de 90% dos casos são esporádicos, e os
outros 10% apresentam padrões de herança autossômica dominante. O quadro clínico inicial apresenta
fraqueza muscular, redução da força muscular e miofaciculações. Também ocorrem câimbras musculares,
espasticidade, dispnéia, atrofia muscular, labilidade emocional, disartria ou disfasia, com atrofia e
fasciculação de língua. Com a evolução da doença a fraqueza muscular tende a se tornar generalizada e
simétrica, distúrbios respiratório, a sensibilidade e as funções esfincterianas ficam preservadas, assim como
as funções cognitivas. Objetivo: avaliar a os efeitos da Acupuntura em um paciente com ELA estágio
avançado em relação à força muscular e saturação periférica de oxigênio. Método: utilizou-se a escala de
gravidade da esclerose lateral amiotrófica (Egela), Teste de força muscular manual utilizando a escala
Medical Research Council (MRC), medida da saturação periférica de oxigênio (SpO2) com oxímetro,
avaliação do pulso radial e da língua de acordo com a MTC. Resultado: Na avaliação após um mês de
tratamento demostrou melhora na graduação de força de alguns músculos, sendo eles, flexor radial do
carpo, flexor ulnar do carpo, quadríceps, tibial posterior e fibulares longo e curtos, apenas do lado direito.
Todos eles apresentaram 20% de melhora em relação à graduação anterior, sendo que não houve mudança
da segunda para a terceira avaliação. Já a SpO2 apresentou uma diminuição de 1% após a segunda
avaliação. Este estudo concluiu que a acupuntura demostrou efeitos benéficos na melhora da força
muscular, porém não obteve melhoras na SpO2.

Palavras-chave: Esclerose Lateral Amiotrófica, Acupuntura, crâniopuntura, acupuntura craniana.


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ABSTRACT

Introduction: Amyotrophic Lateral Sclerosis (ALS) is a disease caused of progressive degeneration of the
upper and lower motor neurons (from the cortex to the anterior horn of the spinal cord) leading with
degeneration of the motor system at the bulbar, cervical, thoracic and lumbar levels. It is believed that the
onset of symptoms occurs when 80% of these neurons have already been lost. More than 90% of cases are
sporadic, and the other 10% shows autosomal dominant inheritance patterns. The initial clinical picture
shows muscle weakness, reduction of muscle strength and myofacculations. Muscle cramps, spasticity,
dyspnea, muscular atrophy, emotional lability, dysarthria or dysphasia, with atrophy and fasciculation of
the tongue also occur. With the evolution of the disease muscle weakness tends to become generalized
and symmetrical, respiratory disorders, sensibility and sphincter functions are preserved as well as
cognitive functions. Objective: evaluate the effects of Acupuncture in a patient with advanced stage ALS in
relation to muscle strength and peripheral oxygen saturation. Methods: we used the amyotrophic lateral
sclerosis (Egela) scale, manual muscle strength test using the Medical Research Council (MRC), oxygen
peripheral saturation (SpO2) measurement with oximeter, radial pulse And language according to MTC.
Conclusion: In the evaluation after one month of treatment, there was an improvement in the strength of
some muscles, such as flexor carpi radialis, flexor carpi ulnaris, quadriceps, tibialis posterior and long and
short fibularis, only on the right side. All of them presented a 20% improvement over the previous
graduation, and there was no change from the second to the third evaluation. SpO2, however, showed a
decrease of 1% after the second evaluation. This study concluded which acupuncture showed beneficial
effects in improving muscle strength, but did not improve SpO2.

Keywords : Amyotrophic Lateral Sclerosis, Acupuncture, craniopuncture, scalp acupuncture


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Sumário
1 Introdução....................................................................................................................................................7
1.2 MedicinaChinesa ..................................................................................................................................8
1.3 Yin/Yang, Cinco Movimentos e Zang-Fu ............................................................................................9
1.4 Substâncias vitais ...............................................................................................................................11
1.5 Pontos de Acupuntura ........................................................................................................................12
1.7 Crâniopuntura .....................................................................................................................................12
1.8 Síndrome atrófica ...............................................................................................................................13
2. Objetivo ....................................................................................................................................................14
3. Apresentação do Caso Clínico .................................................................................................................15
4. Materiais e Método...................................................................................................................................15
5. Resultados ................................................................................................................................................17
6. Discussão ..................................................................................................................................................27
7. Conclusão .................................................................................................................................................29
Referências Bibliográficas ...........................................................................................................................31
Anexo 1 ........................................................................................................................................................32
Escala de Gravidade de Esclerose Lateral Amiotrófica ...........................................................................32
Anexo 2 ........................................................................................................................................................34
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .........................................................................................34

1. Introdução

A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença causada pela degeneração progressiva
dos neurônios motores superiores e inferiores (do córtex ao corno anterior da medula) levando a
degeneração do sistema motor em nível bulbar, cervical, torácico e lombar1, 2. Acredita-se que o
início dos sintomas ocorre quando 80% desses neurônios já foram perdidos. Mais de 90% dos casos
são esporádicos, e os outros 10% apresentam padrões de herança autossômica dominante, às vezes
relacionada com a mutação do gene SOD12. Os mecanismos dessa degeneração ainda não são bem
entendidos, porém incluem fatores genéticos, excitotoxicidade por glutamato, dano mitocondrial,
defeito do transporte axonal, danos gerados pelos astrócitos, e apoptose3, levando a degeneração dos
neurônios motores do mesencéfalo e medula, com atrofia das grandes vias piramidais no córtex
motor primário e no trato piramidal2.. A ELA é caracterizada como uma das principais doenças
neurodegenerativas, ao lado da doença de Parkinson e Alzheimer. No Brasil a incidência é de 0,4
por 100,000 habitantes, e a prevalência varia de 0,9 a 1,5 por 100,000 habitantes1,3. A expectativa
8

de vida média dos pacientes com ELA é de 3-5 anos, porém com suporte ventilatório a sobrevida
pode chegar a 15 anos1. O quadro clínico inicial apresenta fraqueza muscular focal que ao exame
físico se revela como amiotrofia, redução da força muscular e miofaciculações2. O tônus muscular
pode estar elevado ou diminuído acompanhado pela exacerbação ou lentificação dos reflexos
profundos2. Também ocorrem câimbras musculares, espasticidade, dispneia, atrofia muscular,
labilidade emocional, disartria ou disfasia, com atrofia e fasciculação de língua2, 3. Com a evolução
da doença a fraqueza muscular tende a se tornar generalizada e simétrica, a sensibilidade e as
funções esfincterianas ficam preservadas, assim como as funções cognitivas2. Há também sintomas
indiretos as do quadro clínico primários sendo eles os distúrbios psicológicos, distúrbios de sono,
constipação, sialorréia, espessamento das secreções da mucosa, hipoventilação crônica e dor1.
Ventilação mecânica com pressão positiva não-invasiva é muito utilizada para combater sintomas
como dispnéia noturna, insônia e desconforto respiratório, porém com o passar do tempo esses
pacientes evoluem para ventilação invasiva através da traqueostomia, o que prolonga a expectativa
de vida4. A morte dos pacientes com ELA decorre de insuficiência respiratória, pneumonia por
aspiração ou embolia pulmonar após imobilidade prolongada4. O tratamento da ELA consiste em
administrar medicamentos neuroprotetores, sendo o Riluzole o mais indicado e o único que pode
aumentar a sobrevida do paciente entre 6 e 20 meses2. Há também o tratamento sintomático da
doença, com o controle da sialorréia, secreções brônquicas, labilidade pseudobulbar, câimbras,
espasticidade, depressão, ansiedade, insônia, dor e trombose venosa profunda, além da perda físico-
funcional, fadiga muscular e imobilidade do sistema musculo-esquelético2,5. Desde modo há a
necessidade de uma intervenção multiprofissional com médico, nutricionista, psicólogo,
fonoaudiólogo, equipe de enfermagem, assistente social e terapeutas ocupacionais6. Hidroterapia e
Acupuntura também são utilizadas para controle dos sintomas da ELA6.

1.2 Medicina Chinesa

Acredita-se que a Medicina Chinesa (MC) originou-se a mais de 4.000 anos com base nas
inscrições em oráculos ósseos e carapaças de tartarugas7. Ao longo da luta pela sobrevivência, o
povo chinês organizou suas experiências para combater as doenças dentro de um sistema de
medicina coerente na teoria e na prática7. Esse sistema originado empiricamente é uma das
invenções de importância ímpar da cultura chinesa e um método terapêutico usado em todo o
mundo7. No início da século VI d.c. a MC começou a se difundir pela Coréia e Japão, se
propagando posteriormente pelo sudeste da Ásia, Índia e Europa7. Em 1970 a Acupuntura e
Moxabustão obtiveram a aprovação da Organização Mundial da Saúde (OMS), e em novembro de
1987 foi fundada a Federação Mundial das Sociedades de Acupuntura e Moxibustão (FMSA) e
realizou-se em Beijing a Primeira Conferência de Acupuntura e Moxibustão, com a participação de
9

mais de 60 países que possuem sociedades e organizações dessas especialidades, incluindo Estados
Unidos, Japão, França, Alemanha e a antiga União Européia7.
Posteriormente, criou-se um documento intitulado “Estratégia da OMS sobre Medicina
Tradicional (MT) 2002-2005”, com o objetivo de promover o desenvolvimento de políticas para a
implantação de Medicina Tradicional e estabelecer requisitos de segurança, eficácia, qualidade, uso
racional e acesso8. No Brasil, a prática da MC se iniciou com a vinda dos primeiros imigrantes
chineses para o Rio de Janeiro, em 1810 e em 1958, Friedrich Spaeth, fisioterapeuta, considerado
responsável pela difusão da Acupuntura na sociedade brasileira na década de 1950, começou a
ensinar esta prática milenar no Rio de Janeiro e em São Paulo e, em 1972, foi fundada a Associação
Brasileira de Acupuntura (ABA)8.
A prática da Acupuntura foi introduzida na tabela do Sistema de Informação Ambulatorial -
SIA/SUS em 1999, através da Portaria nº 1230/GM2, e sua prática reforçada pela Portaria 971,
publicada pelo Ministério da Saúde em 2006, que aprovou a Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde (SUS). Este documento define que no
SUS, sejam integrados abordagens e recursos que busquem estimular os mecanismos naturais de
prevenção de agravos e de recuperação da saúde, sobretudo, os com ênfase na escuta acolhedora, no
desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração do ser humano com o meio ambiente e com
a sociedade8.

1.3 Yin/Yang, Cinco Movimentos e Zang-Fu

A MC apoia-se na integração natureza/ser humano através de três pilares básicos: a teoria do


Yin/Yang, dos Cinco Movimentos e dos Zang Fu (Órgãos e Vísceras)9. A teoria Yin/Yang
compreende que tudo que existe na natureza é composto por esses dois aspectos essenciais que se
complementam e que mantém um equilíbrio dinâmico entre si, são consideradas opostas e ainda
assim fazem parte de uma coisa única9. O Yin é caracterizado por aspectos como frio, repouso,
escuridão, retração, implosão, polaridade negativa, posição "baixo"9. O Yang representa todos os
aspectos que se caracterizam por atividade, como calor, movimento, claridade, força, expansão,
explosão, polaridade positiva, posição "alto"9.
A teoria dos Cinco Movimentos constitui o segundo pilar da Medicina Chinesa. A
concepção dos Cinco Movimentos baseia-se na evolução dos fenômenos naturais, em como os
vários aspectos que compõem a Natureza geram e dominam uns aos outros, cada um com sua
própria característica9. Os Cinco Movimentos são água, madeira, fogo, terra e metal.
10

Figura 1- Teoria dos Cinco Movimentos e os princípios de geração e dominância.

A teoria do Zang Fu corresponde aos Órgãos e Vísceras, esses sendo entendidos de uma
forma distinta da medicina ocidental. As vísceras (Fu) compreendem as estruturas tubulares e ocas
que têm função de receber, transformar e assimilar os alimentos, além de promover a eliminação de
dejetos. São eles a Vesícula Biliar (Dan), Intestino Delgado (Xiao Chang), Estômago (Wei),
Intestino Grosso (Dachang), Bexiga (Pangguang) e Triplo Aquecedor (San Jiao). Os Órgãos (Zang)
são aqueles que têm a função de armazenar a essência dos alimentos, que proporciona o dinamismo
físico, visceral e mental. São estruturas geradoras e transformadoras de energia e do Shen
(Consciência) que constitui, no exterior, a manifestação da energia interior9. Os Órgãos são
representados pelo Coração (Xin), Pulmão (Fei), Fígado (Gan), Baço (Pi), Rim (Shen) e Pericárdio
(XinBao) sendo estruturas essenciais do organismo, responsáveis pela formação, crescimento,
desenvolvimento e manutenção do corpo físico e da mente9,10.
Há também as vísceras curiosas ou extraordinárias, estruturas que não se enquadram nas
características mencionadas. São elas: Vesícula Biliar (Dan), os Vasos Sanguíneos, o Útero, os
Ossos, a Medula Óssea, a Medula Espinal e o Encéfalo9.
Os Canais de energia principais (JingLuo) estendem-se bilateralmente pelo corpo, sendo que
cada canal possui um caminho próprio com um trajeto interno e externo. Cada Canal de energia está
associado a um Órgão ou Víscera, e está ligado por meio de seu trajeto interno tanto pelo seu
próprio órgão ou víscera, quanto ao órgão ou víscera do seu Canal de energia acoplado interna ou
externamente10.
Além dos doze Canais de energia principais (JingLuo) há também, além de outros, os oito
Canais extraordinários (Qijingbamai), que são estruturas de Canais de energia mais profundas e
fundamentais que, segundo escolas de medicina chinesa, são desenvolvidos já na fase embrionária.
Podem ser comparados com reservatórios de energia que recolhem excedentes de Yang, Qi, Yin e
sangue e, em caso de necessidade, podem restituir o sistema de Canais de energia principais. Os
11

Canais extraordinários são: Du Mai (Vaso Governador), Ren Mai (Vaso Concepção), Chong Mai,
Yin Wei Mai, Yin Qiao Mai, Yang Qiao Mai, Dai Mai e Yang Wei Mai.

1.4 Substâncias vitais

A Medicina Chinesa considera a função do corpo e da mente como o resultado da interação


das substâncias vitais que se manifestam em vários níveis de “substancialidade”, de maneira que
algumas delas são muito rarefeitas, e outras totalmente imaterias11. As substâncias vitais são: Qi,
Sangue (Xue), Essência (Jing) e Fluídos Corporais (JinYe). Essas substâncias básicas estão nas
atividades fisiológicas dos Órgãos e Vísceras, dos Canais, dos colaterais e dos tecidos orgânicos12.
A base de tudo é o Qi, todas as outras substâncias vitais são manifestações do Qi em outros
graus de materialidade. Ele pode ser traduzido como “energia”, “força vital”, “éter”, “força
material”, “matéria”, “matéria-energia”, “poder da vida”, entre outras, sendo assim considerada a
substância mais fundamental que constitui o corpo humano, mantendo a atividade vitais do
organismo11,12. Pelo fato de a energia ter uma forte vitalidade e estar em ininterrupta movimentação
é que ela tem a função de aquecimento e impulsão das atividades vitais orgânicas12. Além da função
de aquecer e impulsionar, ela também tem a ação de promover, defender e absorver12.
O Sangue (Xue) é uma das substâncias básicas que mantém as atividades vitais do corpo
humano, que tem a função de umedecer e nutrir Órgão e Vísceras, ossos, tendões e pele através da
circulação ininterrupta dentro dos vasos12.
O Sangue (Xue) deriva do Qi através dos alimentos, sendo considerada uma forma de Qi
muito denso e material11.
A Essência (Jing) é mais um tipo específico de energia, que desempenha um papel muito
importante na fisiologia humana. Deriva da Essência Pré-Celestial (Energia hereditária que
determina a constituição do indivíduo) e da pós-celestial (adquirida através dos alimentos para
reabastecer a Essência). Essa Essência (Jing) é estocada no Rim (Shen), porém circula por todo o
corpo, particularmente nos oito Vasos Extraordinários, determinado o crescimento, reprodução,
desenvolvimento, maturação sexual, concepção e gravidez11.
Os fluidos corporais (Jin Ye) ou líquidos orgânicos são uma denominação genérica para
todo líquido do organismo, inclusive os fluidos no interior de vários órgãos e vísceras, as secreções
normais como a gástrica, a intestinal, a descarga nasal e a lacrimal. O Jin corresponde aos fluidos
mais aquosos e claros, que se distribuem na superfície corpórea na epiderme, nos músculos e
folículos pilosos, tendo a função de umidificar12. O Ye é menos fluido, mais espesso e está nos
tecidos dos órgãos e das vísceras, no cérebro na medula, nas articulações e tem a função de nutrir12.
12

1.5 Pontos de Acupuntura

A Acupuntura se baseia na estimulação de determinados pontos do corpo com agulhas a fim


de restaurar ou manter a saúde9. São considerados 361 pontos de Acupuntura, que são entendidos
por serem “buracos” ou “aberturas” que podem ser estimuladas. Os pontos de Acupuntura situam-se
nos Canais de Energia e se projetam na pele, cuja dimensão não ultrapassa alguns milímetros
quadrados, representam o mais exterior da relação Interior-Exterior dos Órgãos e das Vísceras que
se comunicam com os membros por meio dos Canais de Energia Principais. Os pontos de
Acupuntura apresentam características bioelétricas próprias, podendo tornam-se dolorosos ou passar
a apresentar manifestações funcionais ou orgânicas, que nada mais são que a consequência do
estado energético dos Zang Fu e dos Canais de Energia. Além desses existe uma grande quantidade
dos chamados pontos extras, que são pontos fora dos Canais de energia descritos10. Os pontos de
Acupuntura atuam localmente (na região do corpo afetada), regionalmente (em relação ao trajeto do
Canal), no respectivo Zang Fu (Órgão e Víscera) afetado, ou ainda por funções especiais (por
exemplo, pontos que tranquilizam a mente ou levam o calor para fora, etc)10.
Estudos sobre os achados anátomo-histológicos encontrados nos pontos de Acupuntura,
comparados com regiões adjacentes, mostraram a presença de numerosas terminações nervosas
livres e encapsuladas, relacionamentos com os nervos periféricos, presença em maior número de
vasos arteriais, transfixação de nervos cutâneos pela fáscia profunda, passagem dos nervos cutâneos
através dos forames ósseos, conexões neuromusculares, maior concentração de capilares
sanguíneos, ponto de bifurcação de nervos periféricos, linhas de suturas do crânio e grande
concentração de mastócitos9.
Entre estes, as terminações nervosas livres são as que têm relação estreita com o mecanismo
de ação da Acupuntura. A agulha inserida não estimula todas as terminações nervosas, mas sim
determinados tipos, principalmente as terminações nervosas livres, receptores articulares, órgão
tendinoso de Golgi e fuso muscular, e os estímulos são veiculados principalmente pelas fibras A -
delta e C9.

1.7 Crâniopuntura

A Crâniopuntura ou escalpo Acupuntura é uma técnica aplicada por agulhamento de áreas


específicas do crânio para o tratamento de doenças13. A Crâniopuntura de Jiao Shunfa foi criada e
desenvolvida pela combinação das teorias técnicas da Acupuntura Tradicional e do conhecimento
da fisiologia e anatomia moderna do sistema nervoso com base em pesquisa científica e praticas
clínicas13. O neurocirurgião Jiao Shunfa desenvolveu a técnica no Hospital do Povo do condado de
13

Jishan, norte da China13. Em 1970 e 1971 conseguiu tratar hemiplegias de alguns pacientes
aplicando agulhas no couro cabeludo, em áreas de projeção com dos giros corticais pré-central e
pós-central. Em 1075, após tratar 600 casos, publicou suas descobertas no livro “Scalp-Needling
Therapy”13. O mapa da Crâniopuntura de Jiao Shunfa é muito fácil e a técnica é muito segura, pois
não lesa nenhum órgão interno.
As áreas de tratamento são divididas e medidas por centímetros. As áreas são: área motora
(membros inferiores, membros superiores e cabeça) e primeira área da fala, área sensorial (membro
inferior, membro superior e cabeça), área de controle de tremores por coréia, área de vasodilatação
e vasoconstricção, área auditiva e de enjoo, segunda área da fala, terceira área da fala, área
sensitivo-motora do pé, área visual, área de equilíbrio, área do estômago, área do fígado e vesícula
biliar, área torácica, área genital e área intestinal13.
A borda superior da área motora está situada 0,5 cm atrás do ponto médio da linha média
ântero-posterior e a borda inferior está situada na interseção da linha supraciliar-occipital e na borda
anterior da têmpora13. Ela é dividida em cinco partes: um quinto superior trata paralisia no membro
inferior contralateral; os dois quintos médios tratam paralisia no membro superior contralateral; os
dois quintos inferiores tratam paralisia facial, afasia motora, sialorréia e distúrbios da fala13.

1.8 Síndrome atrófica

A síndrome atrófica consiste em um quadro caracterizado por fraqueza dos quatro membros,
gerando atrofia progressiva, estado flácido dos músculos e tendões, incapacidade de andar
corretamente e eventualmente paralisia11.
A primeira discussão sobre síndrome atrófica aparece no capítulo 44 do livro Simple
Questions, no qual é chamado de Wei Bi. O termo chinês Wei significa “murcho”, e na Medicina
Chinesa refere-se ao quadro caracterizado por “secagem” dos músculos e tendões, proveniente de
desnutrição. O termo Bi sugere inabilidade ao andar, pois o pé não pode ser levantado
corretamente11. Os principais padrões que aparecem na Síndrome Atrófica são: calor nos pulmões
prejudicando os fluidos Yin, invasão de umidade-calor, invasão de Umidade-Frio, deficiência de
Estômago (Wei) e Baço (Pi), colapso do Baço (Pi) e do Coração (Xin), Deficiência do Fígado (Gan)
e Rim (Shen) e Estase de Sangue (Xue) nos meridianos11. A patologia tem característica de excesso
nos estágios iniciais e excesso e deficiência nos estágios avançados, porém os estágios de excesso
com o tempo torna-se deficiência11. As manifestações clinicas de cada padrão são:

 Calor no Pulmão (Fei) prejudicando os fluidos Yin: febre, fraqueza e flacidez


dos membros, pele seca, inquietação mental, tosse seca, urticária escassa e
14

escura e fezes secas. Língua vermelha e sem revestimento; pulso fino e


rápido11.
 Invasão de Umidade-Calor: febre baixa constante que não cede com a
transpiração, fraqueza, peso e inchaço nas pernas, formigamento e sensação
de opressão no tórax e epigástrico, urina turva, sensação de peso no corpo, tez
amarelada e sensação de calor nos pés. Língua com revestimento amarelo e
pegajoso; pulso escorregadio e rápido11.
 Invasão de Umidade-Frio: tontura, sensação de peso, visão borrada, dor nas
costas e ombro, formigamento nas costas, fraqueza, flacidez e friagem nos
membros. Língua pálida, com revestimento branco e pegajoso; pulso
escorregadio e profundo11.
 Deficiência do Estômago (Wei) e do Baço (Pi): fraqueza muscular, sensação
de fraqueza dos membros, sensação de cansaço fácil, pouco apetite, fezes
soltas e tez branco-amarelada. Língua pálida; pulso fraco11.
 Colapso do baço e coração: fraqueza muscular de inicio repentino, palpitação,
insônia, pouco apetite, tez branca e fezes soltas. Língua pálida; pulso fraco ou
levemente flutuante e deficiência11.
 Deficiência do Rim (Shen) e Fígado (Gan): fraqueza e atrofia dos músculos
da perna, dor nas costas, zumbido, tontura, visão borrada, olhos secos,
gotejamento urinário e exaustão. Língua vermelha, sem revestimento; pulso
fino e profundo11.
 Estase de Sangue (Xue) nos Canais: formigamento, fraqueza e dor nos
membros, lábios murchos, coloração azulada nos membros e dor ao flexioná-
los. Língua púrpura; pulso profundo, fino e instável11.

Normalmente nas Síndromes Atróficas mais de um padrão encontra-se presente11. Dentre as


doenças ocidentais que se enquadram na Síndrome atrófica estão: Poliomielite, miastenia grave,
doença neuromotora, Esclerose Múltipla e distrofia muscular11. A ELA está inserida nas doenças
neuromotoras.

2. Objetivo

O objetivo deste trabalho é avaliar os efeitos da Acupuntura em um paciente com ELA


estágio avançado. Os objetivos específicos são avaliar os efeitos da Acupuntura na força muscular e
saturação periférica de oxigênio; avaliar o efeito da Acupuntura no pulso e na língua deste paciente
com ELA;
15

3. Apresentação do Caso Clínico

Paciente R.M.N, 57 anos, sexo masculino, apresenta diagnóstico de ELA tipo esporádico.
Diagnóstico foi feito no ano de 2011. Em setembro de 2013 foi realizado a Gastrostomia para
alimentação, e em dezembro de 2013 foi traqueostomizado após parada cardiorrespiratório. No
momento paciente não realiza deambulação, sendo necessário ajuda de terceiros para trocas
posturais e atividades de vida diária. Comunicação acontece por meio de expressões faciais,
movimentos de cabeça, mímica labial e utilização de placa alfabética que é apontada com o pé e
programa de computador Tobi. Consegue utilizar o computador utilizando o mouse com a
movimentação do braço direito e dedo médio do mesmo lado, com adaptações. Utiliza Bipap
modelo Trilogy 100 da marca Philipis, intermitente para manter conforto respiratório (parâmetros:
modo S/T, AVAPS ligado, frequência do AVAPS 1.0 cmH2O, volume corrente 750 ml, pressão do
ipap máximo 20.0 cmH2O, pressão de ipap mínimo 18.0 cmH2O, epap 6.0 cmH2O) e CoughAssist
para auxiliar na remoção de secreções brônquicas. Realizado aspirações de Traqueostomia e boca
para remoção de secreções brônquicas e saliva. Necessita de óculos devido baixa acuidade visual e
aparelho auditivo no ouvido direito devido baixa acuidade auditiva. Tem hipersensibilidade a
claridade e luz, muitas vezes os olhos apresentam-se vermelhos e irritados. Não apresenta lesões na
pele, nem alteração de sensibilidade.
Desde 2013 recebe atendimento domiciliar de Fisioterapia (2 vezes ao dia) Fonoaudiologia
(3 vezes por semana), médico (1 vez por semana), nutricionista (1 vez por mês) e há técnicos de
enfermagem 24 horas para auxiliar nas atividades de vida diária. O objetivo dos atendimentos é
manter o paciente estável, evitando complicações e comorbidades.

4. Materiais e Método

Para a avaliação do paciente foi usado a escala de gravidade da esclerose lateral amiotrófica
(Egela) para determinar a gravidade da doença (Anexo 1)14. A Egela avalia as condições dos
membros inferiores (caminhar), membros superiores (vestir-se e fazer higiene pessoal) fala e
deglutição, cada dimensão tem uma escala de 1 a 10, sendo 10 considerado atividade normal e 1
atividades totalmente dependentes, e o escore total varia de 40 (normal) a 4 (pior função). Teste de
força muscular manual utilizando a escala Medical Research Council (MRC) que gradua a força
muscular de 0 a 5, sendo 0 = sem contração; 1 = esboço de contração; 2 = movimento ativo sem a
ação da gravidade; 3 = movimento ativo contra a ação da gravidade; 4 = movimento ativo contra a
ação da gravidade e resistência; 5 = força normal15. Ao músculos avaliados foram peitoral parte
esternal, peitoral parte clavicular, deltóide parte médica, deltóide parte anterior, deltóide parte
posterior, bíceps braquial, tríceps braquial, flexor radial do carpo, flexor ulnar do carpo, extensor
16

radial longo do carpo, extensor ulnar do carpo, flexor longo dos dedos, extensor dos dedos, flexor
do polegar, glúteo máximo, glúteo médio, glúteo mínimo, iliopsoas, adutores de quadril,
quadríceps, flexores de joelho, Sóleo, gastrocnêmio, tibial posterior e fibulares longo e curto. Não
foi possível avaliar o músculo tibial anterior devido deformidade em flexão plantar bilateral
apresentado pelo paciente. Também foi avaliado a medida da saturação periférica de oxigênio
(SpO2) com oximetro Nonin Puresat Model 2500 A, avaliação do pulso radial de acordo com a
MC, em que consiste em realizar uma digito pressão na artéria radial na região proximal do punho
para avaliar a força do Qi através da pulsação do sangue, podendo assim identificar o órgão interno
afetado ou o padrão prevalente do Qi e Xue16. Outra avaliação utilizada foi a observação da língua
segundo a MC, em que consiste observar o corpo da língua, forma, cor e saburra, podendo assim
identificar o estado dos órgão internos e os estados do Qi e Xue, assim como as condições de Yin-
Yang, Calor-Frio e Excesso-Deficiência16. As avaliações foram realizadas antes do atendimento,
outra após um mês de terapia, e outra após dois meses de terapia. O paciente foi informado do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e a assinatura foi feita pela irmã do paciente devido à
incapacidade do mesmo de escrever.
A terapia foi realizada durante 1 hora, 5 vezes por semana, sendo 30 minutos a realização da
aplicação das agulhas e 30 minutos de retenção das agulhas. Primeiramente eram aplicados as
agulhas nos pontos de Acupuntura localizados na região posterior das costas e nuca, sendo eles B13
(Feishu) bilateral, B17 (Geshu) bilateral, B18 (Ganshu) bilateral, B20 (Pishu) bilateral, B23
(Shenshu) bilateral, VG4 (Mingmen), VG12 (Shenzhu), VG15 (Yamen), VG16 (Fengfu) e VB20
(Fengchi) bilateral. Após isso era agulhado os pontos da Crâniopuntura de Jiao Shunfa
correspondentes a área motora do membro superior, membro inferior e cabeça, bilateralmente. Após
esses agulhamentos era solicitado o movimento ativo dos membros inferiores (flexão e extensão de
quadril e joelho, abdução e adução) e movimento ativo-assistido de membros superiores (flexão e
extensão de cotovelo, punho e dedos). Após essa etapa eram adicionados agulhas nos pontos VC17
(danzhong), P9 (Taiyuan), VB34 (Yanglingquan), VB39 (Xuanzhong) F8 (QuQuan) F3 (Taichong),
BA6 (Sanyinjiao) e R3 (Taixi). Esses pontos foram agulhados apenas do lado esquerdo, exceto o
ponto VC17 (danzhong) que está localizado no tórax. Por ultimo foram aplicados os pontos ID3
(Houxi) lado esquerdo, e B62 (ShenMai) lado direito, sendo esses dois pontos correspondentes ao
Vaso Maravilhoso Du Mai. As agulhas utilizadas foram da marca DONGBANG® tamanho
0.25x30, as agulhas inseridas nas costas eram fixadas com esparadrapo impermeável branco da
marca Cremer®. Antes da inserção das agulhas era realizada a acepção do local com algodão e
álcool 70% da marca Farmax®
17

5. Resultados
A seguir estão apresentadas a tabelas com a avaliação da força muscular, SpO2 com e sem a
utilização do Bipap, avaliação da língua e do pulso antes do inicio do tratamento, assim como os
gráficos e os valores da Egela.

Tabela I - graduação da força muscular segundo MRC, avaliação da língua, pulso e SpO2 antes do
tratamento
Músculo Graduação
Direito Esquerdo
Peitoral maior (esternal) 4 4
Peitoral maior (clavicular) 4 4
Deltóide (anterior) 1 1
Deltóide (media) 1 1
Deltóide (posterior) 1 2
Bíceps 0 1
Tríceps 4 3
Flexor radial do carpo 0 1
Flexor ulnar do carpo 0 1
Extensor radial longo do carpo 0 0
Extensor ulnar do carpo 0 0
Flexores longos dos dedos 2˚ 1/ 3˚ 4/ 4˚ 4/ 5˚ 3 2˚ 4/ 3˚ 1/ 4˚ 1/ 5˚ 1
Extensores dos dedos 2˚ 3/ 3˚ 0/ 4˚ 0/ 5˚ 0 2˚ 0/ 3˚ 0/ 4˚ 0/ 5˚ 0
Flexor longo do polegar 0 0
Glúteo médio e mínimo 4 4
Glúteo máximo 5 5
Adutores 5 5
Iliopsoas 4 4
Quadríceps 4 5
Flexores de joelho 5 5
Gastrocnêmio 5 5
Sóleo 5 5
Tibial posterior 4 5
Fibulares longo e curto 3 5

Língua: Atrofia de língua importante, rosada um pouco vermelha, úmida, tremores (fasciculação).
Componentes como forma, fissuras, e veias sublinguais não foram possíveis de se observar.
18

Figura 2 – língua do paciente na primeira avaliação

Pulso: 84 batimentos por minuto (bpm), pulso direito: primeira e segunda posição está fraca
e profundidade média, terceira posição força média e profunda; pulso esquerdo: primeira e terceira
posição está fraca e profundidade média, segunda posição está forte e profundidade média.

SpO2 com Bipap: 95% SpO2 sem Bipap: 91%

Força muscular de MMSS


4
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5 Graduação D
0
Graduação E

Gráfico 1 – força muscular de membro superior (MMSS) pré-tratamento


19

Força muscular dos dedos da mão


4
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5 Graduação D
0
Graduação E

Gráfico 2-força muscular dos dedos da mão pré-tratamento

Força muscular de MMII


5
4,5
4
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5 Graduação D
0
Graduação E

Gráfico 3- força muscular de membro inferior (MMII) na avaliação pré-tratamento

A pontuação da Egela antes do tratamento foi 9, sendo que a dimensão extremidade inferior
a pontuação foi 4 (capaz de suportar o próprio peso), extremidade superior pontuação 2
(movimentos mínimos), fala pontuação 1 (não-sonoro) e deglutição pontuação 2 (manejo das
secreções com aspirador e/ou medicação.
A seguir estão apresentadas a tabelas com a avaliação da força muscular, SpO2 com e sem a
utilização do Bipap, avaliação da língua e do pulso após um mês de tratamento, assim como os
gráficos. A pontuação da Egela não se alterou.
20

Tabela II - graduação da força muscular segundo MRC, avaliação da língua, pulso e SpO2
antes do tratamento
Músculo Graduação
D E
Peitoral maior (esternal) 4 4
Peitoral maior (clavicular) 4 4
Deltóide (anterior) 1 1
Deltóide (media) 1 1
Deltóide (posterior) 1 2
Bíceps 0 1
Tríceps 4 3
Flexor radial do carpo 1 1
Flexor ulnar do carpo 1 1
Extensor radial longo do carpo 0 0
Extensor ulnar do carpo 0 0
Flexores longo dos dedos 2˚ 1/ 3˚ 4/ 4˚ 4/ 5˚ 3 2˚ 4/ 3˚ 1/ 4˚ 1/ 5˚ 1
Extensores dos dedos 2˚ 3/ 3˚ 0/ 4˚ 0/ 5˚ 0 2˚ 0/ 3˚ 0/ 4˚ 0/ 5˚ 0
Flexor longo do polegar 0 0
Glúteo médio e mínimo 4 4
Glúteo máximo 5 5
Adutores 5 5
Iliopsoas 4 4
Quadríceps 5 5
Flexores de coxa 5 5
Gastrocnêmio 5 5
Sóleo 5 5
Tibial posterior 5 5
Fibulares longo e curto 4 5

Língua: Atrofia de língua importante, rosada, úmida, tremores (fasciculação). Componentes


como forma, fissuras, e veias sublinguais não foram possíveis de se observar.
Pulso:88 bpm, pulso direito: primeira posição fraca e profundidade média, segunda e
terceira posição está fortes e profundidade média; pulso esquerdo: primeira posição força média e
profundidade média, segunda e terceira posição está forte e profundidade média.

SpO2 com Bipap95% SpO2 sem Bipap: 90%


21

Força muscular MMSS


4
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5 Graduação D
0
Graduação E

Gráfico 4- força muscular de MMSS após um mês de tratamento

Força muscular dos dedos da mão


4
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5 Graduação D
0
Graduação E

Gráfico 5-força muscular dos dedos da mão após um mês de tratamento


22

Força muscular de MMII


5
4,5
4
3,5
3
2,5
2
1,5
1 Graduação D
0,5
0
Graduação E

Gráfico 6- força muscular dos MMII após um mês de tratamento

A seguir estão apresentadas a tabelas com a avaliação da força muscular, SpO2 com e sem
a utilização do Bipap, avaliação da língua e do pulso após dois meses de tratamento, assim como os
gráficos. A pontuação da Egela também não se alterou.
23

Tabela III - graduação da força muscular segundo MRC, avaliação da língua, pulso e SpO2
após dois meses do tratamento
Músculo Graduação
D E
Peitoral maior (esternal) 4 4
Peitoral maior (clavicular) 4 4
Deltóide (anterior) 1 1
Deltóide (media) 1 1
Deltóide (posterior) 1 2
Bíceps 0 1
Tríceps 4 3
Flexor radial do carpo 1 1
Flexor ulnar do carpo 1 1
Extensor radial longo do carpo 0 0
Extensor ulnar do carpo 0 0
Flexores longo dos dedos 2˚ 1/ 3˚ 4/ 4˚ 4/ 5˚ 3 2˚ 4/ 3˚ 1/ 4˚ 1/ 5˚ 1
Extensores dos dedos 2˚ 3/ 3˚ 0/ 4˚ 0/ 5˚ 0 2˚ 0/ 3˚ 0/ 4˚ 0/ 5˚ 0
Flexor longo do polegar 0 0
Glúteo médio e mínimo 4 4
Glúteo máximo 5 5
Adutores 5 5
Iliopsoas 4 4
Quadríceps 4 5
Flexores de coxa 5 5
Gastrocnêmio 5 5
Sóleo 5 5
Tibial posterior 5 5
Fibulares longo e curto 4 5

Língua: Atrofia de língua importante, rosada, úmida, tremores (fasciculação). Componentes como
forma, fissuras, e veias sublinguais não foram possíveis de se observar.
Pulso: 73 bpm, pulso direito: primeira e segunda posição a força média e profundidade média,
terceira posição forte e profundidade média; pulso esquerdo: primeira posição fraca e média, segunda
posição força média e profundidade média, terceira posição está forte e profunda.

SpO2 com Bipap 95% SpO2 sem Bipap: 90%


24

Força muscular de MMSS


4
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5 Graduação D
0
Graduação E

Gráfico 7- força muscular de MMSS após dois meses de tratamento

Força muscular dos dedos da mão


4
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5 Graduação D
0
Graduação E

Gráfico 8-força muscular dos dedos da mão após dois meses de tratamento
25

Força muscular de MMII


5
4,5
4
3,5
3
2,5
2
1,5
1 Graduação D
0,5
0
Graduação E

Gráfico 9- força muscular de MMII após dois meses de tratamento

A seguir está o gráfico e a tabela com a comparação da força muscular apenas dos músculos
que apresentaram mudança de graduação de força. As alterações ocorreram apenas no primeiro mês
de tratamento, nos músculos do lado direito.

Comparação da força muscular


5
4,5
4
3,5
3
2,5
2
1,5
1 Graduação 1˚ avaliação
0,5
0 Graduação 2˚ avaliação

Gráfico 10- comparação das alterações de graduação de força muscular entre a primeira e segunda
avaliação. Apenas do lado direito.

Tabela IV comparação da força muscular na primeira e segunda avaliação, e a melhora em porcentagem


Comparação da força muscular
Músculos 10 avaliação 2o avaliação % de melhora
Flexor radial do carpo 0 1 20
Flexor ulnar do carpo 0 1 20
Quadríceps 4 5 20
Tibial posterior 4 5 20
Fibular longo e curto 3 4 20
26

A seguir está apresentado o gráfico e a tabela que mostra a comparação da SpO 2 nas três
avaliações.

Avaliação da SpO2
com Bipap sem Bipap

95% 95% 95%

91%
90% 90%

Pré tratamento 1 mês de 2 meses de


tratamento tratamento

Gráfico 11 -Avaliação da SpO2 no pré tratamento, primeiro mês de tratamento e segundo


mês de tratamento

Tabela V – Comparação da SpO2 na primeira, segunda e terceira avaliação, com e sem o Bipap, e a alteração
em porcentagem (%)
Comparação da SpO2
10 avaliação 20 avaliação 30 avaliação Alteração em %
Com Bipap 95% 95% 95% 0%
Sem Bipap 91% 90% 90% -1%
27

6. Discussão

Na avaliação antes do tratamento pode-se observar que o paciente apresentava maior


comprometimento dos músculos dos MMSS do que dos MMII, a língua apresenta importante
atrofia muscular e fasciculação (tremores) que na MC significa uma língua rígida e curta, com
tremores. Esta combinação de características pode representar uma deficiência grave de yin, porém
o tremor tem mais uma condição de deficiência do Qi ou Yang do Baço (Pi)11.
Em relação ao pulso, a velocidade apresenta-se normal, a primeira e a segunda posição do
lado direito estava fraco demonstrando fraqueza de Pulmão (Fei) Intestino Grosso (Dachang) e
Baço (Pi) Estômago (Wei), do lado esquerdo a primeira e terceira posição estava fracos,
demonstrando uma deficiência de Coração (Xin) Intestino Delgado (Xiaochang) e Rim (Shen)
Bexiga (PangGuang), e a segunda posição estava forte, indicando um excesso no Fígado (Gan)
Vesícula Biliar(Dan). Porém na avaliação clínica o paciente apresentava características de
deficiência de Yin do Fígado (Gan) com calor deficiência, pois apresentava olhos secos, pele e
cabelo ressecados, fraqueza muscular, transpiração noturna e língua avermelhada11. Paciente
também apresenta características de Deficiência do Rim (Shen) devido leve dor nas costas e
gotejamento pós-micção. Essa combinação de sintomas determina a síndrome atrófica de
deficiência do Rim (Shen) e Fígado (Gan) com fraqueza e atrofia dos músculos da perna, dor nas
costas, zumbido, tontura, visão borrada, olhos secos, gotejamento urinário e exaustão11. Desta
forma os pontos selecionados para o tratamento dessa síndrome atrófica de deficiência de
Rim(Shen) e Fígado (Gan) mais deficiência de Baço (Pi), Estômago (Wei) e Pulmão (Fei) foram:
B13 (Feishu), ponto Shu do Pulmão (Fei), considerado o ponto principal para o tratamento de todas
as doenças pulmonares; B17 (Geshu) ponto Shu do Diafragma e ponto de influência do Sangue
(Xue); B18 (Ganshu) ponto Shu do Fígado (Gan), beneficia a visão, músculos e tendões; B20
(Pishu) ponto Shu do Baço (Pi), trata além de outros sintomas, a deficiência do Baço (Pi) e atrofia
muscular; B23 (Shenshu) ponto Shu do Rim (Shen), fortalece o Rim (Shen), trata problemas
respiratórios oculares e de ouvido; VG4 (Mingmen) considerado o portão da vitalidade, fortalece o
Yang do Rim(Shen); VG12 (Shenzhu) considerado o pilar do corpo, tem a capacidade de aumentar
o fluxo sanguíneo para a medula e cérebro, também trata a sensação de falta de ar; VG15 (Yamen)
considerado ponto mar do Qi, beneficia a língua, ouvido, garganta e coluna vertebral; VG16
(Fengfu) considerado o mar da medula, trata doenças neurológicas;VC17 (Danzhong) considerado o
mar do Qi, trata doenças respiratórios em geral; P9 (Taiyuan), ponto Yuan do Pulmão (Fei), ponto
de tonificação do Qi do Pulmão (Fei); VB34 (Yanglingquan) ponto mestre dos tendões, trata
distúrbios funcionais dos músculos e tendões; VB39 (Xuanzhong), ponto que beneficia os tendões e
ossos, beneficia a medula tratando síndromes Wei, ponto mestre da medula; F3 (Taichong) ponto
28

Yuan do Fígado(Gan), distribui o Qi do Fígado (Gan), nutrindo o Sangue (Xue) e o Yin do Fígado
(Gan); F8 (QuQuan), nutre o Yin e o Sangue (Xue) do Fígado (Gan), assim como tonifica o mesmo;
BA6 (Sanyinjiao) considerado o ponto de cruzamento dos 3 Canais Yins da perna, sendo eles o
Fígado (Gan), Baço(Pi) e Rim(Shen); R3 (Taixi), nutre o Yin e fortalece o Yang do Rim (Shen),
estabiliza o Qi do Rim (Shen), e Pulmão (Fei); Canal extraordinário Du Mai, sendo ID3 (Houxi) e
B62 (ShenMai), o canal extraordinário Du Mai (referencia).

Além desses pontos foram utilizados os pontos da Crâniopuntura de Jiao Shunfa com os
pontos referente a área motora superior, inferior e cabeça
Na avaliação após um mês de tratamento demonstrou melhora na graduação de força de
alguns músculos, sendo eles, flexor radial do carpo, flexor ulnar do carpo, quadríceps, tibial
posterior e fibulares longo e curto, apenas do lado direito. Todos eles apresentaram 20% de melhora
em relação à graduação anterior, sendo que não houve mudança da segunda para a terceira
avaliação. Já a SpO2 apresentou uma diminuição de 1% após a segunda avaliação. Desta maneira
pode-se observar que o tratamento com Acupuntura utilizando essa combinação de pontos
apresentou resultados na melhora da graduação de força muscular, porém não foi eficaz na melhora
e/ou estabilização da SpO2.
Até o momento não foi encontrado artigos que correlacionassem a Acupuntura e Esclerose
Lateral Amiotrófica. Uma revisão sistemática elaborada por Zhou e colaboradores analisou 10
artigos sobre a eficácia e a segurança da utilização da Acupuntura em 585 participantes com
Doença de Alzheimer, também considerada uma doença progressiva assim como a ELA. O trabalho
concluiu que a Acupuntura (Acupuntura sistêmica, Acupuntura craniana e eletroacupuntura) pode
ser mais efetiva na melhora das atividades de vida diária em comparação com as drogas utilizadas
para o mesmo fim, demonstrando que a Acupuntura pode ser segura14.
Podemos também fazer uma relação entre a ELA e a Doença de Parkinson, igualmente
degenerativa e progressiva. Um estudo realizado por Yeo e colaboradores observou a ativação do
giro pré-cental e córtex pré-frontal durante o agulhamento do ponto VB34 (yanglingquan) através
do exame de ressonância magnética nuclear. Foram avaliados 12 participantes com diagnóstico de
Doença de Parkinson e 12 participantes saudáveis. Foi observado que a estimulação do ponto VB-
34 (yanglingquan) ativou tanto o giro pré-central e o córtex pré-frontal como também o putamen
nos participantes com doença de Parkinson, enquanto que nos participantes saudáveis outras áreas
foram ativadas. Uma hipótese levantada nesse estudo é que o ponto VB34 (yanglingquan) age nas
áreas do cérebro que apresentam depleção de dopamina15.
29

7. Conclusão

Na avaliação após um mês de tratamento pode-se observar melhora na graduação de força


de alguns músculos, sendo eles, flexor radial do carpo, flexor ulnar do carpo, quadríceps, tibial
posterior e fibulares longo e curto, apenas do lado direito. Todos eles apresentaram 20% de melhora
em relação à graduação anterior, sendo que não houve mudança na avaliação após dois meses de
tratamento. Já a SpO2 apresentou uma diminuição de 1% após a segunda avaliação. Desta maneira
pode-se observar que o tratamento com Acupuntura utilizando essa combinação de pontos
apresentou resultados na melhora da graduação de força muscular, porém não foi eficaz na melhora
e/ou estabilização da SpO2.
30

Agradecimento

Agradeço a Deus, pela fé e força que me deu em cada dia destes anos de
estudo, que não me deixou abater em momentos em que a luta era maior
que as minhas armas.

Agradeço aos meus professores da EBRAMEC por esses dois anos de


estudo e orientação, especialmente ao professor João Carlos Félix, meu
querido orientador e amigo.

Agradeço também ao meu paciente e amigo, que se prontificou a fazer


parte deste trabalho com muita coragem e confiança.
31

Referências Bibliográficas

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terapêuticas: Esclerose Lateral Amiotrófica. Portaria SAS/MS n0 496; 2009. p. 277-290.
2. Xerez DR. Reabilitação na Esclerose Lateral Amiotrófica: revisão de literatura. Acta Fisiatr.
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3. Zapata CHZ, Dáger EF, Atehortúa JMS, Velásquez LFA. Esclerosis lateral amiotrófica:
actualización. Iatreia. 2016; 29(2): 904-205.
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Tradução e validação da versão brasileira da escala de gravidade na esclerose lateral amiotrófica
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terminal que paralisa os músculos, mas preserva a mente (monografia). Brasília: Universidade de
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8. Rocha SP, Benedetto MAC, Fernandez FHB, Gallian DMC. A trajetória da introdução e
regulamentação da Acupuntura no Brasil: memórias de desafios e lutas. Ciência da saúde coletiva.
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9. Yamamura Y. Acupuntura tradicional: a arte de inserir. 2th ed. Roca; 2004.
10. Focks C, März U. Guia prático de Acupuntura: localização de pontos e técnicas de punção.
1th ed. Manole; 2008.
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acupunturistas e fitoterapeutas. 1th ed. São Paulo: Roca; 1996.
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PatientsWith Alzheimer Disiase: a systematicreviewand meta-analysisofrandomisedcontrolledtrials.
MD- Journal. June 2015; 94(22): 1-9.
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activatestheprecentralgyrusandprefrontal córtex in Parkinson’sdesease. BMC. 2014; 2-9.
32

Anexo 1

Escala de Gravidade de Esclerose Lateral Amiotrófica


33
34

Anexo 2

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

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