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SÃO PAULO
2017
2
SÃO PAULO
2017
3
BANCA EXAMINADORA
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___________________________________
___________________________________
Dedico este trabalho aos meus pacientes, pois foi pensando neles que decidi
aprimorar meus conhecimentos a fim de poder ajuda-los cada vez mais.
5
RESUMO
Introdução: A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença causada pela degeneração progressiva dos
neurônios motores superiores e inferiores (do córtex ao corno anterior da medula) levando a degeneração
do sistema motor em nível bulbar, cervical, torácico e lombar. Acredita-se que o inicio dos sintomas
ocorrem quando 80% desses neurônios já foram perdidos. Mais de 90% dos casos são esporádicos, e os
outros 10% apresentam padrões de herança autossômica dominante. O quadro clínico inicial apresenta
fraqueza muscular, redução da força muscular e miofaciculações. Também ocorrem câimbras musculares,
espasticidade, dispnéia, atrofia muscular, labilidade emocional, disartria ou disfasia, com atrofia e
fasciculação de língua. Com a evolução da doença a fraqueza muscular tende a se tornar generalizada e
simétrica, distúrbios respiratório, a sensibilidade e as funções esfincterianas ficam preservadas, assim como
as funções cognitivas. Objetivo: avaliar a os efeitos da Acupuntura em um paciente com ELA estágio
avançado em relação à força muscular e saturação periférica de oxigênio. Método: utilizou-se a escala de
gravidade da esclerose lateral amiotrófica (Egela), Teste de força muscular manual utilizando a escala
Medical Research Council (MRC), medida da saturação periférica de oxigênio (SpO2) com oxímetro,
avaliação do pulso radial e da língua de acordo com a MTC. Resultado: Na avaliação após um mês de
tratamento demostrou melhora na graduação de força de alguns músculos, sendo eles, flexor radial do
carpo, flexor ulnar do carpo, quadríceps, tibial posterior e fibulares longo e curtos, apenas do lado direito.
Todos eles apresentaram 20% de melhora em relação à graduação anterior, sendo que não houve mudança
da segunda para a terceira avaliação. Já a SpO2 apresentou uma diminuição de 1% após a segunda
avaliação. Este estudo concluiu que a acupuntura demostrou efeitos benéficos na melhora da força
muscular, porém não obteve melhoras na SpO2.
ABSTRACT
Introduction: Amyotrophic Lateral Sclerosis (ALS) is a disease caused of progressive degeneration of the
upper and lower motor neurons (from the cortex to the anterior horn of the spinal cord) leading with
degeneration of the motor system at the bulbar, cervical, thoracic and lumbar levels. It is believed that the
onset of symptoms occurs when 80% of these neurons have already been lost. More than 90% of cases are
sporadic, and the other 10% shows autosomal dominant inheritance patterns. The initial clinical picture
shows muscle weakness, reduction of muscle strength and myofacculations. Muscle cramps, spasticity,
dyspnea, muscular atrophy, emotional lability, dysarthria or dysphasia, with atrophy and fasciculation of
the tongue also occur. With the evolution of the disease muscle weakness tends to become generalized
and symmetrical, respiratory disorders, sensibility and sphincter functions are preserved as well as
cognitive functions. Objective: evaluate the effects of Acupuncture in a patient with advanced stage ALS in
relation to muscle strength and peripheral oxygen saturation. Methods: we used the amyotrophic lateral
sclerosis (Egela) scale, manual muscle strength test using the Medical Research Council (MRC), oxygen
peripheral saturation (SpO2) measurement with oximeter, radial pulse And language according to MTC.
Conclusion: In the evaluation after one month of treatment, there was an improvement in the strength of
some muscles, such as flexor carpi radialis, flexor carpi ulnaris, quadriceps, tibialis posterior and long and
short fibularis, only on the right side. All of them presented a 20% improvement over the previous
graduation, and there was no change from the second to the third evaluation. SpO2, however, showed a
decrease of 1% after the second evaluation. This study concluded which acupuncture showed beneficial
effects in improving muscle strength, but did not improve SpO2.
Sumário
1 Introdução....................................................................................................................................................7
1.2 MedicinaChinesa ..................................................................................................................................8
1.3 Yin/Yang, Cinco Movimentos e Zang-Fu ............................................................................................9
1.4 Substâncias vitais ...............................................................................................................................11
1.5 Pontos de Acupuntura ........................................................................................................................12
1.7 Crâniopuntura .....................................................................................................................................12
1.8 Síndrome atrófica ...............................................................................................................................13
2. Objetivo ....................................................................................................................................................14
3. Apresentação do Caso Clínico .................................................................................................................15
4. Materiais e Método...................................................................................................................................15
5. Resultados ................................................................................................................................................17
6. Discussão ..................................................................................................................................................27
7. Conclusão .................................................................................................................................................29
Referências Bibliográficas ...........................................................................................................................31
Anexo 1 ........................................................................................................................................................32
Escala de Gravidade de Esclerose Lateral Amiotrófica ...........................................................................32
Anexo 2 ........................................................................................................................................................34
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .........................................................................................34
1. Introdução
A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença causada pela degeneração progressiva
dos neurônios motores superiores e inferiores (do córtex ao corno anterior da medula) levando a
degeneração do sistema motor em nível bulbar, cervical, torácico e lombar1, 2. Acredita-se que o
início dos sintomas ocorre quando 80% desses neurônios já foram perdidos. Mais de 90% dos casos
são esporádicos, e os outros 10% apresentam padrões de herança autossômica dominante, às vezes
relacionada com a mutação do gene SOD12. Os mecanismos dessa degeneração ainda não são bem
entendidos, porém incluem fatores genéticos, excitotoxicidade por glutamato, dano mitocondrial,
defeito do transporte axonal, danos gerados pelos astrócitos, e apoptose3, levando a degeneração dos
neurônios motores do mesencéfalo e medula, com atrofia das grandes vias piramidais no córtex
motor primário e no trato piramidal2.. A ELA é caracterizada como uma das principais doenças
neurodegenerativas, ao lado da doença de Parkinson e Alzheimer. No Brasil a incidência é de 0,4
por 100,000 habitantes, e a prevalência varia de 0,9 a 1,5 por 100,000 habitantes1,3. A expectativa
8
de vida média dos pacientes com ELA é de 3-5 anos, porém com suporte ventilatório a sobrevida
pode chegar a 15 anos1. O quadro clínico inicial apresenta fraqueza muscular focal que ao exame
físico se revela como amiotrofia, redução da força muscular e miofaciculações2. O tônus muscular
pode estar elevado ou diminuído acompanhado pela exacerbação ou lentificação dos reflexos
profundos2. Também ocorrem câimbras musculares, espasticidade, dispneia, atrofia muscular,
labilidade emocional, disartria ou disfasia, com atrofia e fasciculação de língua2, 3. Com a evolução
da doença a fraqueza muscular tende a se tornar generalizada e simétrica, a sensibilidade e as
funções esfincterianas ficam preservadas, assim como as funções cognitivas2. Há também sintomas
indiretos as do quadro clínico primários sendo eles os distúrbios psicológicos, distúrbios de sono,
constipação, sialorréia, espessamento das secreções da mucosa, hipoventilação crônica e dor1.
Ventilação mecânica com pressão positiva não-invasiva é muito utilizada para combater sintomas
como dispnéia noturna, insônia e desconforto respiratório, porém com o passar do tempo esses
pacientes evoluem para ventilação invasiva através da traqueostomia, o que prolonga a expectativa
de vida4. A morte dos pacientes com ELA decorre de insuficiência respiratória, pneumonia por
aspiração ou embolia pulmonar após imobilidade prolongada4. O tratamento da ELA consiste em
administrar medicamentos neuroprotetores, sendo o Riluzole o mais indicado e o único que pode
aumentar a sobrevida do paciente entre 6 e 20 meses2. Há também o tratamento sintomático da
doença, com o controle da sialorréia, secreções brônquicas, labilidade pseudobulbar, câimbras,
espasticidade, depressão, ansiedade, insônia, dor e trombose venosa profunda, além da perda físico-
funcional, fadiga muscular e imobilidade do sistema musculo-esquelético2,5. Desde modo há a
necessidade de uma intervenção multiprofissional com médico, nutricionista, psicólogo,
fonoaudiólogo, equipe de enfermagem, assistente social e terapeutas ocupacionais6. Hidroterapia e
Acupuntura também são utilizadas para controle dos sintomas da ELA6.
Acredita-se que a Medicina Chinesa (MC) originou-se a mais de 4.000 anos com base nas
inscrições em oráculos ósseos e carapaças de tartarugas7. Ao longo da luta pela sobrevivência, o
povo chinês organizou suas experiências para combater as doenças dentro de um sistema de
medicina coerente na teoria e na prática7. Esse sistema originado empiricamente é uma das
invenções de importância ímpar da cultura chinesa e um método terapêutico usado em todo o
mundo7. No início da século VI d.c. a MC começou a se difundir pela Coréia e Japão, se
propagando posteriormente pelo sudeste da Ásia, Índia e Europa7. Em 1970 a Acupuntura e
Moxabustão obtiveram a aprovação da Organização Mundial da Saúde (OMS), e em novembro de
1987 foi fundada a Federação Mundial das Sociedades de Acupuntura e Moxibustão (FMSA) e
realizou-se em Beijing a Primeira Conferência de Acupuntura e Moxibustão, com a participação de
9
mais de 60 países que possuem sociedades e organizações dessas especialidades, incluindo Estados
Unidos, Japão, França, Alemanha e a antiga União Européia7.
Posteriormente, criou-se um documento intitulado “Estratégia da OMS sobre Medicina
Tradicional (MT) 2002-2005”, com o objetivo de promover o desenvolvimento de políticas para a
implantação de Medicina Tradicional e estabelecer requisitos de segurança, eficácia, qualidade, uso
racional e acesso8. No Brasil, a prática da MC se iniciou com a vinda dos primeiros imigrantes
chineses para o Rio de Janeiro, em 1810 e em 1958, Friedrich Spaeth, fisioterapeuta, considerado
responsável pela difusão da Acupuntura na sociedade brasileira na década de 1950, começou a
ensinar esta prática milenar no Rio de Janeiro e em São Paulo e, em 1972, foi fundada a Associação
Brasileira de Acupuntura (ABA)8.
A prática da Acupuntura foi introduzida na tabela do Sistema de Informação Ambulatorial -
SIA/SUS em 1999, através da Portaria nº 1230/GM2, e sua prática reforçada pela Portaria 971,
publicada pelo Ministério da Saúde em 2006, que aprovou a Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde (SUS). Este documento define que no
SUS, sejam integrados abordagens e recursos que busquem estimular os mecanismos naturais de
prevenção de agravos e de recuperação da saúde, sobretudo, os com ênfase na escuta acolhedora, no
desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração do ser humano com o meio ambiente e com
a sociedade8.
A teoria do Zang Fu corresponde aos Órgãos e Vísceras, esses sendo entendidos de uma
forma distinta da medicina ocidental. As vísceras (Fu) compreendem as estruturas tubulares e ocas
que têm função de receber, transformar e assimilar os alimentos, além de promover a eliminação de
dejetos. São eles a Vesícula Biliar (Dan), Intestino Delgado (Xiao Chang), Estômago (Wei),
Intestino Grosso (Dachang), Bexiga (Pangguang) e Triplo Aquecedor (San Jiao). Os Órgãos (Zang)
são aqueles que têm a função de armazenar a essência dos alimentos, que proporciona o dinamismo
físico, visceral e mental. São estruturas geradoras e transformadoras de energia e do Shen
(Consciência) que constitui, no exterior, a manifestação da energia interior9. Os Órgãos são
representados pelo Coração (Xin), Pulmão (Fei), Fígado (Gan), Baço (Pi), Rim (Shen) e Pericárdio
(XinBao) sendo estruturas essenciais do organismo, responsáveis pela formação, crescimento,
desenvolvimento e manutenção do corpo físico e da mente9,10.
Há também as vísceras curiosas ou extraordinárias, estruturas que não se enquadram nas
características mencionadas. São elas: Vesícula Biliar (Dan), os Vasos Sanguíneos, o Útero, os
Ossos, a Medula Óssea, a Medula Espinal e o Encéfalo9.
Os Canais de energia principais (JingLuo) estendem-se bilateralmente pelo corpo, sendo que
cada canal possui um caminho próprio com um trajeto interno e externo. Cada Canal de energia está
associado a um Órgão ou Víscera, e está ligado por meio de seu trajeto interno tanto pelo seu
próprio órgão ou víscera, quanto ao órgão ou víscera do seu Canal de energia acoplado interna ou
externamente10.
Além dos doze Canais de energia principais (JingLuo) há também, além de outros, os oito
Canais extraordinários (Qijingbamai), que são estruturas de Canais de energia mais profundas e
fundamentais que, segundo escolas de medicina chinesa, são desenvolvidos já na fase embrionária.
Podem ser comparados com reservatórios de energia que recolhem excedentes de Yang, Qi, Yin e
sangue e, em caso de necessidade, podem restituir o sistema de Canais de energia principais. Os
11
Canais extraordinários são: Du Mai (Vaso Governador), Ren Mai (Vaso Concepção), Chong Mai,
Yin Wei Mai, Yin Qiao Mai, Yang Qiao Mai, Dai Mai e Yang Wei Mai.
1.7 Crâniopuntura
Jishan, norte da China13. Em 1970 e 1971 conseguiu tratar hemiplegias de alguns pacientes
aplicando agulhas no couro cabeludo, em áreas de projeção com dos giros corticais pré-central e
pós-central. Em 1075, após tratar 600 casos, publicou suas descobertas no livro “Scalp-Needling
Therapy”13. O mapa da Crâniopuntura de Jiao Shunfa é muito fácil e a técnica é muito segura, pois
não lesa nenhum órgão interno.
As áreas de tratamento são divididas e medidas por centímetros. As áreas são: área motora
(membros inferiores, membros superiores e cabeça) e primeira área da fala, área sensorial (membro
inferior, membro superior e cabeça), área de controle de tremores por coréia, área de vasodilatação
e vasoconstricção, área auditiva e de enjoo, segunda área da fala, terceira área da fala, área
sensitivo-motora do pé, área visual, área de equilíbrio, área do estômago, área do fígado e vesícula
biliar, área torácica, área genital e área intestinal13.
A borda superior da área motora está situada 0,5 cm atrás do ponto médio da linha média
ântero-posterior e a borda inferior está situada na interseção da linha supraciliar-occipital e na borda
anterior da têmpora13. Ela é dividida em cinco partes: um quinto superior trata paralisia no membro
inferior contralateral; os dois quintos médios tratam paralisia no membro superior contralateral; os
dois quintos inferiores tratam paralisia facial, afasia motora, sialorréia e distúrbios da fala13.
A síndrome atrófica consiste em um quadro caracterizado por fraqueza dos quatro membros,
gerando atrofia progressiva, estado flácido dos músculos e tendões, incapacidade de andar
corretamente e eventualmente paralisia11.
A primeira discussão sobre síndrome atrófica aparece no capítulo 44 do livro Simple
Questions, no qual é chamado de Wei Bi. O termo chinês Wei significa “murcho”, e na Medicina
Chinesa refere-se ao quadro caracterizado por “secagem” dos músculos e tendões, proveniente de
desnutrição. O termo Bi sugere inabilidade ao andar, pois o pé não pode ser levantado
corretamente11. Os principais padrões que aparecem na Síndrome Atrófica são: calor nos pulmões
prejudicando os fluidos Yin, invasão de umidade-calor, invasão de Umidade-Frio, deficiência de
Estômago (Wei) e Baço (Pi), colapso do Baço (Pi) e do Coração (Xin), Deficiência do Fígado (Gan)
e Rim (Shen) e Estase de Sangue (Xue) nos meridianos11. A patologia tem característica de excesso
nos estágios iniciais e excesso e deficiência nos estágios avançados, porém os estágios de excesso
com o tempo torna-se deficiência11. As manifestações clinicas de cada padrão são:
2. Objetivo
Paciente R.M.N, 57 anos, sexo masculino, apresenta diagnóstico de ELA tipo esporádico.
Diagnóstico foi feito no ano de 2011. Em setembro de 2013 foi realizado a Gastrostomia para
alimentação, e em dezembro de 2013 foi traqueostomizado após parada cardiorrespiratório. No
momento paciente não realiza deambulação, sendo necessário ajuda de terceiros para trocas
posturais e atividades de vida diária. Comunicação acontece por meio de expressões faciais,
movimentos de cabeça, mímica labial e utilização de placa alfabética que é apontada com o pé e
programa de computador Tobi. Consegue utilizar o computador utilizando o mouse com a
movimentação do braço direito e dedo médio do mesmo lado, com adaptações. Utiliza Bipap
modelo Trilogy 100 da marca Philipis, intermitente para manter conforto respiratório (parâmetros:
modo S/T, AVAPS ligado, frequência do AVAPS 1.0 cmH2O, volume corrente 750 ml, pressão do
ipap máximo 20.0 cmH2O, pressão de ipap mínimo 18.0 cmH2O, epap 6.0 cmH2O) e CoughAssist
para auxiliar na remoção de secreções brônquicas. Realizado aspirações de Traqueostomia e boca
para remoção de secreções brônquicas e saliva. Necessita de óculos devido baixa acuidade visual e
aparelho auditivo no ouvido direito devido baixa acuidade auditiva. Tem hipersensibilidade a
claridade e luz, muitas vezes os olhos apresentam-se vermelhos e irritados. Não apresenta lesões na
pele, nem alteração de sensibilidade.
Desde 2013 recebe atendimento domiciliar de Fisioterapia (2 vezes ao dia) Fonoaudiologia
(3 vezes por semana), médico (1 vez por semana), nutricionista (1 vez por mês) e há técnicos de
enfermagem 24 horas para auxiliar nas atividades de vida diária. O objetivo dos atendimentos é
manter o paciente estável, evitando complicações e comorbidades.
4. Materiais e Método
Para a avaliação do paciente foi usado a escala de gravidade da esclerose lateral amiotrófica
(Egela) para determinar a gravidade da doença (Anexo 1)14. A Egela avalia as condições dos
membros inferiores (caminhar), membros superiores (vestir-se e fazer higiene pessoal) fala e
deglutição, cada dimensão tem uma escala de 1 a 10, sendo 10 considerado atividade normal e 1
atividades totalmente dependentes, e o escore total varia de 40 (normal) a 4 (pior função). Teste de
força muscular manual utilizando a escala Medical Research Council (MRC) que gradua a força
muscular de 0 a 5, sendo 0 = sem contração; 1 = esboço de contração; 2 = movimento ativo sem a
ação da gravidade; 3 = movimento ativo contra a ação da gravidade; 4 = movimento ativo contra a
ação da gravidade e resistência; 5 = força normal15. Ao músculos avaliados foram peitoral parte
esternal, peitoral parte clavicular, deltóide parte médica, deltóide parte anterior, deltóide parte
posterior, bíceps braquial, tríceps braquial, flexor radial do carpo, flexor ulnar do carpo, extensor
16
radial longo do carpo, extensor ulnar do carpo, flexor longo dos dedos, extensor dos dedos, flexor
do polegar, glúteo máximo, glúteo médio, glúteo mínimo, iliopsoas, adutores de quadril,
quadríceps, flexores de joelho, Sóleo, gastrocnêmio, tibial posterior e fibulares longo e curto. Não
foi possível avaliar o músculo tibial anterior devido deformidade em flexão plantar bilateral
apresentado pelo paciente. Também foi avaliado a medida da saturação periférica de oxigênio
(SpO2) com oximetro Nonin Puresat Model 2500 A, avaliação do pulso radial de acordo com a
MC, em que consiste em realizar uma digito pressão na artéria radial na região proximal do punho
para avaliar a força do Qi através da pulsação do sangue, podendo assim identificar o órgão interno
afetado ou o padrão prevalente do Qi e Xue16. Outra avaliação utilizada foi a observação da língua
segundo a MC, em que consiste observar o corpo da língua, forma, cor e saburra, podendo assim
identificar o estado dos órgão internos e os estados do Qi e Xue, assim como as condições de Yin-
Yang, Calor-Frio e Excesso-Deficiência16. As avaliações foram realizadas antes do atendimento,
outra após um mês de terapia, e outra após dois meses de terapia. O paciente foi informado do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e a assinatura foi feita pela irmã do paciente devido à
incapacidade do mesmo de escrever.
A terapia foi realizada durante 1 hora, 5 vezes por semana, sendo 30 minutos a realização da
aplicação das agulhas e 30 minutos de retenção das agulhas. Primeiramente eram aplicados as
agulhas nos pontos de Acupuntura localizados na região posterior das costas e nuca, sendo eles B13
(Feishu) bilateral, B17 (Geshu) bilateral, B18 (Ganshu) bilateral, B20 (Pishu) bilateral, B23
(Shenshu) bilateral, VG4 (Mingmen), VG12 (Shenzhu), VG15 (Yamen), VG16 (Fengfu) e VB20
(Fengchi) bilateral. Após isso era agulhado os pontos da Crâniopuntura de Jiao Shunfa
correspondentes a área motora do membro superior, membro inferior e cabeça, bilateralmente. Após
esses agulhamentos era solicitado o movimento ativo dos membros inferiores (flexão e extensão de
quadril e joelho, abdução e adução) e movimento ativo-assistido de membros superiores (flexão e
extensão de cotovelo, punho e dedos). Após essa etapa eram adicionados agulhas nos pontos VC17
(danzhong), P9 (Taiyuan), VB34 (Yanglingquan), VB39 (Xuanzhong) F8 (QuQuan) F3 (Taichong),
BA6 (Sanyinjiao) e R3 (Taixi). Esses pontos foram agulhados apenas do lado esquerdo, exceto o
ponto VC17 (danzhong) que está localizado no tórax. Por ultimo foram aplicados os pontos ID3
(Houxi) lado esquerdo, e B62 (ShenMai) lado direito, sendo esses dois pontos correspondentes ao
Vaso Maravilhoso Du Mai. As agulhas utilizadas foram da marca DONGBANG® tamanho
0.25x30, as agulhas inseridas nas costas eram fixadas com esparadrapo impermeável branco da
marca Cremer®. Antes da inserção das agulhas era realizada a acepção do local com algodão e
álcool 70% da marca Farmax®
17
5. Resultados
A seguir estão apresentadas a tabelas com a avaliação da força muscular, SpO2 com e sem a
utilização do Bipap, avaliação da língua e do pulso antes do inicio do tratamento, assim como os
gráficos e os valores da Egela.
Tabela I - graduação da força muscular segundo MRC, avaliação da língua, pulso e SpO2 antes do
tratamento
Músculo Graduação
Direito Esquerdo
Peitoral maior (esternal) 4 4
Peitoral maior (clavicular) 4 4
Deltóide (anterior) 1 1
Deltóide (media) 1 1
Deltóide (posterior) 1 2
Bíceps 0 1
Tríceps 4 3
Flexor radial do carpo 0 1
Flexor ulnar do carpo 0 1
Extensor radial longo do carpo 0 0
Extensor ulnar do carpo 0 0
Flexores longos dos dedos 2˚ 1/ 3˚ 4/ 4˚ 4/ 5˚ 3 2˚ 4/ 3˚ 1/ 4˚ 1/ 5˚ 1
Extensores dos dedos 2˚ 3/ 3˚ 0/ 4˚ 0/ 5˚ 0 2˚ 0/ 3˚ 0/ 4˚ 0/ 5˚ 0
Flexor longo do polegar 0 0
Glúteo médio e mínimo 4 4
Glúteo máximo 5 5
Adutores 5 5
Iliopsoas 4 4
Quadríceps 4 5
Flexores de joelho 5 5
Gastrocnêmio 5 5
Sóleo 5 5
Tibial posterior 4 5
Fibulares longo e curto 3 5
Língua: Atrofia de língua importante, rosada um pouco vermelha, úmida, tremores (fasciculação).
Componentes como forma, fissuras, e veias sublinguais não foram possíveis de se observar.
18
Pulso: 84 batimentos por minuto (bpm), pulso direito: primeira e segunda posição está fraca
e profundidade média, terceira posição força média e profunda; pulso esquerdo: primeira e terceira
posição está fraca e profundidade média, segunda posição está forte e profundidade média.
A pontuação da Egela antes do tratamento foi 9, sendo que a dimensão extremidade inferior
a pontuação foi 4 (capaz de suportar o próprio peso), extremidade superior pontuação 2
(movimentos mínimos), fala pontuação 1 (não-sonoro) e deglutição pontuação 2 (manejo das
secreções com aspirador e/ou medicação.
A seguir estão apresentadas a tabelas com a avaliação da força muscular, SpO2 com e sem a
utilização do Bipap, avaliação da língua e do pulso após um mês de tratamento, assim como os
gráficos. A pontuação da Egela não se alterou.
20
Tabela II - graduação da força muscular segundo MRC, avaliação da língua, pulso e SpO2
antes do tratamento
Músculo Graduação
D E
Peitoral maior (esternal) 4 4
Peitoral maior (clavicular) 4 4
Deltóide (anterior) 1 1
Deltóide (media) 1 1
Deltóide (posterior) 1 2
Bíceps 0 1
Tríceps 4 3
Flexor radial do carpo 1 1
Flexor ulnar do carpo 1 1
Extensor radial longo do carpo 0 0
Extensor ulnar do carpo 0 0
Flexores longo dos dedos 2˚ 1/ 3˚ 4/ 4˚ 4/ 5˚ 3 2˚ 4/ 3˚ 1/ 4˚ 1/ 5˚ 1
Extensores dos dedos 2˚ 3/ 3˚ 0/ 4˚ 0/ 5˚ 0 2˚ 0/ 3˚ 0/ 4˚ 0/ 5˚ 0
Flexor longo do polegar 0 0
Glúteo médio e mínimo 4 4
Glúteo máximo 5 5
Adutores 5 5
Iliopsoas 4 4
Quadríceps 5 5
Flexores de coxa 5 5
Gastrocnêmio 5 5
Sóleo 5 5
Tibial posterior 5 5
Fibulares longo e curto 4 5
A seguir estão apresentadas a tabelas com a avaliação da força muscular, SpO2 com e sem
a utilização do Bipap, avaliação da língua e do pulso após dois meses de tratamento, assim como os
gráficos. A pontuação da Egela também não se alterou.
23
Tabela III - graduação da força muscular segundo MRC, avaliação da língua, pulso e SpO2
após dois meses do tratamento
Músculo Graduação
D E
Peitoral maior (esternal) 4 4
Peitoral maior (clavicular) 4 4
Deltóide (anterior) 1 1
Deltóide (media) 1 1
Deltóide (posterior) 1 2
Bíceps 0 1
Tríceps 4 3
Flexor radial do carpo 1 1
Flexor ulnar do carpo 1 1
Extensor radial longo do carpo 0 0
Extensor ulnar do carpo 0 0
Flexores longo dos dedos 2˚ 1/ 3˚ 4/ 4˚ 4/ 5˚ 3 2˚ 4/ 3˚ 1/ 4˚ 1/ 5˚ 1
Extensores dos dedos 2˚ 3/ 3˚ 0/ 4˚ 0/ 5˚ 0 2˚ 0/ 3˚ 0/ 4˚ 0/ 5˚ 0
Flexor longo do polegar 0 0
Glúteo médio e mínimo 4 4
Glúteo máximo 5 5
Adutores 5 5
Iliopsoas 4 4
Quadríceps 4 5
Flexores de coxa 5 5
Gastrocnêmio 5 5
Sóleo 5 5
Tibial posterior 5 5
Fibulares longo e curto 4 5
Língua: Atrofia de língua importante, rosada, úmida, tremores (fasciculação). Componentes como
forma, fissuras, e veias sublinguais não foram possíveis de se observar.
Pulso: 73 bpm, pulso direito: primeira e segunda posição a força média e profundidade média,
terceira posição forte e profundidade média; pulso esquerdo: primeira posição fraca e média, segunda
posição força média e profundidade média, terceira posição está forte e profunda.
Gráfico 8-força muscular dos dedos da mão após dois meses de tratamento
25
A seguir está o gráfico e a tabela com a comparação da força muscular apenas dos músculos
que apresentaram mudança de graduação de força. As alterações ocorreram apenas no primeiro mês
de tratamento, nos músculos do lado direito.
Gráfico 10- comparação das alterações de graduação de força muscular entre a primeira e segunda
avaliação. Apenas do lado direito.
A seguir está apresentado o gráfico e a tabela que mostra a comparação da SpO 2 nas três
avaliações.
Avaliação da SpO2
com Bipap sem Bipap
91%
90% 90%
Tabela V – Comparação da SpO2 na primeira, segunda e terceira avaliação, com e sem o Bipap, e a alteração
em porcentagem (%)
Comparação da SpO2
10 avaliação 20 avaliação 30 avaliação Alteração em %
Com Bipap 95% 95% 95% 0%
Sem Bipap 91% 90% 90% -1%
27
6. Discussão
Yuan do Fígado(Gan), distribui o Qi do Fígado (Gan), nutrindo o Sangue (Xue) e o Yin do Fígado
(Gan); F8 (QuQuan), nutre o Yin e o Sangue (Xue) do Fígado (Gan), assim como tonifica o mesmo;
BA6 (Sanyinjiao) considerado o ponto de cruzamento dos 3 Canais Yins da perna, sendo eles o
Fígado (Gan), Baço(Pi) e Rim(Shen); R3 (Taixi), nutre o Yin e fortalece o Yang do Rim (Shen),
estabiliza o Qi do Rim (Shen), e Pulmão (Fei); Canal extraordinário Du Mai, sendo ID3 (Houxi) e
B62 (ShenMai), o canal extraordinário Du Mai (referencia).
Além desses pontos foram utilizados os pontos da Crâniopuntura de Jiao Shunfa com os
pontos referente a área motora superior, inferior e cabeça
Na avaliação após um mês de tratamento demonstrou melhora na graduação de força de
alguns músculos, sendo eles, flexor radial do carpo, flexor ulnar do carpo, quadríceps, tibial
posterior e fibulares longo e curto, apenas do lado direito. Todos eles apresentaram 20% de melhora
em relação à graduação anterior, sendo que não houve mudança da segunda para a terceira
avaliação. Já a SpO2 apresentou uma diminuição de 1% após a segunda avaliação. Desta maneira
pode-se observar que o tratamento com Acupuntura utilizando essa combinação de pontos
apresentou resultados na melhora da graduação de força muscular, porém não foi eficaz na melhora
e/ou estabilização da SpO2.
Até o momento não foi encontrado artigos que correlacionassem a Acupuntura e Esclerose
Lateral Amiotrófica. Uma revisão sistemática elaborada por Zhou e colaboradores analisou 10
artigos sobre a eficácia e a segurança da utilização da Acupuntura em 585 participantes com
Doença de Alzheimer, também considerada uma doença progressiva assim como a ELA. O trabalho
concluiu que a Acupuntura (Acupuntura sistêmica, Acupuntura craniana e eletroacupuntura) pode
ser mais efetiva na melhora das atividades de vida diária em comparação com as drogas utilizadas
para o mesmo fim, demonstrando que a Acupuntura pode ser segura14.
Podemos também fazer uma relação entre a ELA e a Doença de Parkinson, igualmente
degenerativa e progressiva. Um estudo realizado por Yeo e colaboradores observou a ativação do
giro pré-cental e córtex pré-frontal durante o agulhamento do ponto VB34 (yanglingquan) através
do exame de ressonância magnética nuclear. Foram avaliados 12 participantes com diagnóstico de
Doença de Parkinson e 12 participantes saudáveis. Foi observado que a estimulação do ponto VB-
34 (yanglingquan) ativou tanto o giro pré-central e o córtex pré-frontal como também o putamen
nos participantes com doença de Parkinson, enquanto que nos participantes saudáveis outras áreas
foram ativadas. Uma hipótese levantada nesse estudo é que o ponto VB34 (yanglingquan) age nas
áreas do cérebro que apresentam depleção de dopamina15.
29
7. Conclusão
Agradecimento
Agradeço a Deus, pela fé e força que me deu em cada dia destes anos de
estudo, que não me deixou abater em momentos em que a luta era maior
que as minhas armas.
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Anexo 1
Anexo 2