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XV SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS INTEGRADAS

DA UNAERP CAMPUS GUARUJÁ

Tecnologias e Alterações do Comportamento Humano


no Meio Ambiente

TESTE DE USABILIDADE E APLICAÇÃO DE DIFERENCIAL SEMÂNTICO NO


PROCESSO DE REDESIGN DE ABRIDOR DE LATAS

Raul Molina Jeronymo


Graduando do Curso de Design de Produtos
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP Campus Bauru
raul.molina.j@gmail.com

Luiz Antonio Vasques Hellmeister


Professor do Departamento de Artes e Representação Gráfica
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação - FAAC
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP Campus Bauru
hellmeister@faac.unesp.br

Este simpósio tem o apoio da Fundação Fernando Eduardo Lee.

Resumo:
O projeto se trata de um case apresentado em uma disciplina do curso de Design
de Produtos que propôs a criação de um novo abridor de latas, fundamentando-se
em aspectos de metodologia de projeto, levantamento de similares e aplicação e
avaliação da ferramenta Diferencial Semântico. Houveram etapas de levantamento
de diretrizes para fundamentar o briefing e para gerar conceitos de projeto, além de
prototipação de vários modelos e do teste final. Por fim, apresenta-se uma análise
crítica dos resultados gerados pela aplicação do Diferencial Semântico,
comparando os produtos convencionais ao novo abridor de latas.

Palavras-chave: Diferencial Semântico; Prototipação; Abridor de Latas;

Summary
This Project is about a case proposed in a Product Design university class, which
has, as the main idea, the creation of a new can opener, based on project’s
methodology aspects, similar researching and the application of the Semantic
Differential tool. There were phases of briefing and guidelines development to make
project’s concept, besides prototyping of diverse models and tests. Furthermore, this
research presents one critical analysis of the generated results found on Semantic
Differential, comparing the conventional products to the new can opener.

Key-words: Semantic Differential; Prototyping; Can Opener;

Seção 5: Projetos de pesquisa sobre o tema “MEIO AMBIENTE: “ Tecnologias e


Alterações do Comportamento Humano no Meio Ambiente””, e qualquer outro tema,
relacionados a todas as áreas do conhecimento.
Apresentação: Apresentação Oral.

1. Introdução.

Na turma de Design de Produtos da Universidade Estadual Paulista “Júlio de


Mesquita Filho” – UNESP, 2015, ocorreu a disciplina de Ergonomia II, onde os
estudantes deveriam prototipar um redesign de um abridor de latas que contribuísse
na sua experiência de uso e fosse ergonomicamente mais eficiente do que os
modelos encontrados no mercado atualmente. A disciplina ainda usou outras
matérias para que houvesse uma boa fundamentação no projeto em termos de
desenho técnico, modelagem e metodologia de desenvolvimento.
O projeto passou por um levantamento de dados através do Diferencial
Semântico (DS) dos abridores convencionais para que houvessem diretrizes de
trabalho e para comparações do protótipo desenvolvido, que também sofreu estudos
através de testes e da aplicação do DS. Houveram, além do uso do DS, aplicações
de metodologias e levantamentos de diretrizes através de pesquisas de similares.
Na etapa de prototipação, o projeto passou por diversos modelos para ajustes
conceituais e de configuração para atingir o maior nível de eficiência antes dos
testes. Por fim, análises foram feitas através de comparações dos resultados dos
dois DS aplicados, de maneira que avanços puderam ser compreendidos através da
leitura de dados.

2. Objetivos.

Os objetivos do projeto se pautam em: Desenvolver possíveis soluções para


novos produtos de abrir latas; Compreender erros e avanços encontrados durante o
projeto; Testar aplicações de diferentes ferramentas de prototipação, além de
diferentes materiais; Entender a utilidade da aplicação de testes como o DS para
avaliar novos projetos.

3. Justificativa.

O projeto fundamenta-se em experimentações e estudos de caso, onde os


estudantes que participaram da disciplina puderam aprender não somente técnicas e
bases de prototipação e levantamento de diretrizes e similares como também
avaliações quantitativas para aspectos conceituais e semânticos de produtos.

4. Revisão bibliográfica.

Ao longo da história, sempre se buscou técnicas para melhorar a conservação


de alimentos, visando amenizar as dificuldades em períodos de produção escassa e
o abastecimento durante viagens longas e em locais de difícil acesso. Em 1790 o
francês Nicolas Appert (1749-1841), inspirado nos processos de engarrafamento de
vinho e champanhe, criou um método de fechamento hermético utilizando frascos de
vidro, rolhas de cortiça e calor para que os alimentos vendidos em sua confeitaria
estragassem com menos facilidade. Usada para o abastecimento de tropas durante
as guerras, esta técnica teve grande importância para o sucesso da expansão do
império de Napoleão Bonaparte (1769-1821), rendendo a Appert um prêmio em
dinheiro oferecido pelo governo francês.
Em 1810, partindo da criação de Appert, o inglês Peter Durand (1766-1822)
substitui o vidro e a cortiça por latas de ferro soldadas com estanho dando origem
aos alimentos enlatados. Entretanto, apenas no ano de 1830 esses alimentos são
disponibilizados à população civil da Europa, porém, os preços elevados e a
dificuldade de abrir as latas (que exigiam o uso de ferramentas como martelo e
talhadeira) fizeram com que houvesse pouca procura por parte dos consumidores da
época.
Apesar disso, somente em 1855 o inglês Robert Yeates [17--?-18--],
aplicando seus conhecimentos na produção de talheres e materiais cirúrgicos, cria o
primeiro abridor de latas, que consistia em uma garra e um mecanismo de alavanca.
Em 1858 o inventor norte-americano Ezra Warner (1819-1889) aprimora o projeto e
consegue a primeira patente de abridor de latas (CAN MANUFACTURERS
INSTITUTE, 2017).
A partir do seu projeto, houveram diversas aprimoramentos de projeto,
aplicando mecanismos de rotação com engrenagens, como se vê no Household Can
Opener, ou mesmo modificando as latas, como as chaves na lata da sardinha.
Porém, em sua maioria, são produtos caros e utilizam muitos recursos, logo, em
situações como a Segunda Guerra Mundial, diversos modelos foram desenvolvidos
visando um barateamento da produção e deixando-os mais compactos, tal como o
abridor P-38 (1942) das Forças Armadas dos Estados Unidos (TARGET STUDY,
2017).
No Brasil, o modelo de abridor de latas mais usado segue a linha de produtos
que utilizam menos recursos para deixar sua produção mais barata e alcançar mais
pessoas, dadas as condições socioeconômicas do país. Porém, esses modelos
apresentam alguns problemas de usabilidade por ser muito fino (dificultando a pega)
e por oxidar facilmente quando feito de aço galvanizado.
De fato, soluções para esses problemas já foram propostas, como os
abridores elétricos e embalagens alternativas, mas o uso dos modelos manuais
como o da figura 01 se mantém, surgindo oportunidades de pesquisas ergonômicas.

Fig.01 - Abridor de latas brasileiro profissional de aço inox (Fonte: Acervo pessoal, 2016).

5. Materiais e métodos.

Trata-se de um estudo de caso, onde a construção do novo abridor de latas


usou a Metodologia de Projeto em Design do Produto (BAXTER, 2011) e o conceito
de Design Centrado no Usuário (BROWN, 2010), dando-se início à uma pesquisa de
similares no Instituto Nacional de Patente Industrial (INPI) e em lojas como a italiana
Alessi. Quanto ao briefing da disciplina, algumas diretrizes de projeto já estavam
decididas, pois o redesign do produto não deveria conter mecanismos que
auxiliassem o consumidor a abrir a lata de maneira não convencional, além de ser
obrigatório o uso de uma lâmina pré-fabricada, evitando dificuldades na prototipação
e evitando estranhamento nos usuários.
Em seguida, para entender melhor os produtos dispostos no mercado e sua
interface com o usuário, foi aplicado um teste de usabilidade do abridor da figura 01,
usando, como suporte para a avaliação, o Diferencial Semântico (DS), proposto por
Osgood, Suci e Tannenbaum (1957).

5.1 Aplicação do Diferencial Semântico no abridor convencional

O formulário DS é um recurso que pode ser usado para quantificar a


percepção afetiva das pessoas sobre situações objetivas e/ou subjetivas. Para isso,
deve-se, por meio de conjuntos de pares de adjetivos previamente escolhidos pelo
avaliador (sendo um deles psicologicamente favorável e, o outro, um negativo),
desenvolver uma escala semântica de cinco ou sete pontos. O sujeito ao formulário,
então, deve avaliar a situação marcando na posição que mais se aproxima de seus
sentimentos. Desta forma, não existem padrões, pois os adjetivos dependem da
finalidade de cada pesquisa (LOPES, 2011).
Antes de responder a escala do DS, nove estudantes, de 19 à 28 anos,
utilizaram o abridor escolhido para abrir metade de uma lata de alumínio, todos
sentados e sem interferência dos aplicadores, que anotaram observações da
atividade. Em seguida, preencheram as escalas que continham os seguintes pares:
Higiênico e Não higiênico; Geométrico e Anatômico; Requintado e Simples;
Complicado e Intuitivo; Atraente e Repulsivo; Sério e Divertido; Ergonômico e Ante
ergonômico; Sustentável e Poluente; Excludente e Inclusivo; Elaborado e Rústico;
Desejável e Indesejável.
Após o teste, as escalas foram transcritas em números, sendo o maior valor
para os adjetivos positivos e, menos para os negativos. A partir dos resultados, três
médias foram obtidas: a média de cada dualidade; a média da avaliação de cada
indivíduo e a nota final do abridor (somando e dividindo o resultado de cada
avaliação dos indivíduos).

5.2 Conceito do Protótipo

A partir das observações feitas nos testes, mais alguns critérios foram
estabelecidos. Em especial, a falta de “personalidade” do produto foi atribuída como
aspecto negativo dos abridores convencionais, pois, como Donald Norman afirma,
“[...] utilidade e usabilidade são importantes, mas sem diversão e prazer, alegria e
entusiasmo, e até ansiedade ou raiva, medo e fúria, nossas vidas seriam
incompletas” (2008). Para tanto, decidiu-se por acrescentar características
semânticas únicas ao objeto, onde o aspecto “colecionável” surgiu após o uso de um
brainstorming, além da pontuação “luxuosa” dentro do conceito apresentado por
Sudjic (2010).
Para resolver essa questão, voltou-se para a pesquisa de similares, porém,
com o foco foi na questão conceitual - em especial, dos produtos apresentados pela
Alessi. Diversas peças encontradas na loja virtual mostraram características lúdicas,
coloridas e, por vezes, biomiméticas (LEE, 2012).
Além da loja italiana, produtos relacionados à abridores de latas (como
abridores de garrafas) foram levantados e, por uma questão construtiva, a forma do
soco inglês, acoplada à um abridor de garrafas, chamou atenção, levando o grupo a
desenvolver alguns modelos em Poliuretano (PU) e Medium Density Fiberboard
(MDF) com variações de tamanho, todos testados por pessoas diferentes para obter
informações sobre seu conforto. Nesse processo, foi observada uma mudança de
movimento da atividade, substituindo o desvio ulnar e radial pela flexão e extensão
do punho (VIELA JUNIOR, 2011). Porém, como o conceito da arma branca poderia
trazer resultados negativos por sua agressividade, resolveu-se por mudar o conceito,
mantendo apenas a configuração do soco inglês. Assim, com o entendimento das
tendências de formas naturais, os modelos se transformaram em patas de felinos.

Fig.02 - Primeiro modelo do novo abridor em Medium Density Fiberboard (Fonte: acervo pessoal).

5.3 Configuração

Com o conceito elaborado e uma base formal estabelecida, o grupo começou


a experimentar variações de tamanhos e encaixes para se adaptar melhor ao
contorno da mão. Para testar essas formas, modelos não funcionais feitos de
papelão serviram como base.
Na nova configuração, parte do material que não encostada na mão foi
excluído com intuito de disponibilizar a pega a partir do polegar, deixando o usuário
segurar o abridor e não somente suspendê-lo pelos dedos.
Outra mudança na configuração também foi feita, mudando o encaixe dos
dedos, de maneira que não fossem anéis, mas um espaço para adaptar todos eles.
Porém, apesar de resultar em uma melhor usabilidade, o produto perderia a
aparência de pata de felino. Isso dificultou o avanço do produto, mas, ao final, o
conceito foi mantido, seguindo o lado emocional do redesign do abridor de latas.
“Defendendo que o lado emocional do design pode ser mais decisivo para o sucesso
de um produto que seus elementos práticos” (NORMAN, 2008).

5.4 Produção do Protótipo

Decidido o conceito e a configuração, alguns modelos digitais, usando os


softwares SolidWorks 2016, Solid Edge ST8 e Keyshot 6.0, foram desenvolvidos
para facilitar a visualização do projeto e obter o desenho técnico da peça, tendo
como base o percentil 95 para abranger o maior número de pessoas possível, uma
vez que, durante as experimentações com percentil 50, um participante não
conseguiu encaixar os dedos. A partir das pranchas do desenho técnico, criou-se um
arquivo de extensão. dxf pelo AutoCad 2016, visando seu envio para uma CNC laser
da Vértice, uma loja/prestadora de serviços local.
Paralelo ao corpo da peça, a lâmina e a barra de aço galvanizado para abrir
garrafas do abridor similar foram serradas para encaixar no MDF, mantendo os
movimentos da atividade convencional. Em seguida, as peças foram unidas com
cola de madeira, lixadas com lixas gramatura 80, 220 e 360, e pintadas com tinta
automotiva preta. Além disso, a empresa regional Serem doou retalhos industriais de
Poliacetato de Etileno Vinil (EVA), que foram usados para simular as almofadas
metacarpo dos felinos e melhorar o conforto por ter uma maior superfície na palma
da mão do usuário.

Por fim, o protótipo foi lixado mais uma vez para regularizar as superfícies
pintadas. Foi usada uma lixa 1200 com água para tal. O resultado final se apresenta
na figura 03.

Fig.03 - Redesign do abridor de latas proposto pelo grupo (Fonte: Acervo pessoal, 2017).

5.5 Aplicação do Diferencial Semântico no abridor novo.

Com a nova peça pronta, um outro teste, seguido do DS, foi executado,
também contendo 9 estudantes de 19 à 28 anos e os mesmos pares de adjetivos,
além das observações dos aplicadores. As médias também foram calculadas para
comparações com o teste anterior, uma vez que a proposta é de melhorar o seu
design.

6. Resultados e discussão.

Com os dois resultados do Diferencial Semântico, desenvolveu-se duas


comparações de valores, sendo uma delas apresentada na figura 04, que compara
as avaliações de cada par de adjetivos a partir de um gráfico de linha e, a segunda,
que mostra a diferença da nota final do produto.
Fig.04 - Gráfico de linha dos resultados do abridor convencional e do redesign usando pares de
adjetivos pelo Diferencial Semântico.

6.1 Avaliação dos pares de adjetivos

Pelo gráfico de linha que mostra a comparação dos dois produtos, pôde-se
ver melhorias e pioras em determinados aspectos, onde se infere as seguintes
análises:
Higiênico - o abridor convencional não recebeu uma avaliação negativa por
ser de aço inox (sem a presença de oxidação) e por ser plano, facilitando na sua
limpeza. Já o novo abridor mantêm as mãos dos utilizadores distantes do alimento,
porém, por conter mais peças e áreas menores (como os encaixes dos dedos),
recebeu uma avaliação igual ao convencional. Vale citar que esse par foi escolhido
porque se trata de produtos de cozinha, sendo um ambiente que exige grande
higiene;
Anatômico - o abridor convencional é totalmente plano, dificultando o conforto
do usuário, portanto, recebeu uma pontuação baixa, enquanto o novo produto
recebeu uma ótima avaliação, uma vez que ele apresenta encaixes necessariamente
anatômicos e conta com filetes em todas as bordas, arredondando as peças para
garantir uma melhor experiência. Esse par foi escolhido para testar o conforto do
objeto;
Requintado - o abridor convencional se aproximou muito mais do simples
nesse par. Porém, isso não desclassifica o produto, pois sua proposta é ser simples
para garantir um barateamento e facilidade de produção. O único motivo da seleção
de “Requintado” como um aspecto favorável foi pela escolha de desenvolver um
novo produto mais lúdico (o que foi alcançado);
Intuitivo - esse par foi escolhido devido a importância de saber usar os
abridores, pois, a presença de uma lâmina poderia causar ferimentos nos usuários.
Mas, como todos os indivíduos que testaram os objetos sabiam utilizar o abridor, não
houveram complicações com o teste. Por outro lado, o novo produto, por mais que
fosse intuitivo no encaixe dos dedos, causou um estranhamento durante o teste pela
mudança do movimento ulnar-radial para flexão-extensão do punho. Esse problema,
no entanto, não causou ferimentos nos usuários, apenas um maior tempo para se
adaptar às atividades;
Atraente - como já foi apresentado anteriormente, existe uma grande
importância na estética do produto, tanto para favorecer a experiência de uso quanto
para chamar a atenção dos consumidores no mercado. Porém, apesar da
simplicidade e falta de personalidade do produto convencional, o novo abridor
recebeu uma pontuação menor. Infere-se que o termo “Repulsivo” representou o
sentimento das pessoas em relação ao produto parecer com um soco inglês, pois,
mesmo que houve uma tentativa de aplicar um novo conceito ao produto ao colocar
a peça de EVA para lembrar as almofadas felinas, assim como a pintura da peça
para remeter à uma pantera, a configuração e os encaixes do produto não
abandonaram a arma;
Divertido - para o contexto do projeto, onde o produto deveria conter
personalidade, luxo e ser lúdico, o adjetivo “Sério” se tornou algo negativo. O abridor
convencional recebeu uma pontuação muito pequena em questões lúdicas por suas
características objetivas, sendo o adjetivo que recebeu menor valor. No entanto, o
novo abridor foi bem avaliado nesse quesito, provavelmente pela sua referência às
patas de felinos e pelas suas cores;

Fig.05 - Protótipo do novo abridor em uso (Fonte: Acervo pessoal, 2017).

Sustentável - como apresenta Sandra Sobral em seu capítulo “Tendências do


Design” no livro Um olhar sobre o Design Brasileiro (LEAL, 2002), produtos
sustentáveis são tendência, além de toda sua importância ecológica, por isso é um
par de adjetivos importante. Nesse ponto, o abridor convencional tem grande
positividade devido sua forma que reaproveita grande parte das chapas de aço, além
de seu descarte totalmente reaproveitável (SERRALHERIA NA VEIA, 2012). Porém,
o produto novo foi menor avaliado, o que era inevitável. Tanto o uso do MDF que
requer resina, gerando problemas em seu descarte (BLOG TORCH TOOLS, 2016),
quanto o EVA (APOIO AMBIENTAL, 2017), dificultando o fim do produto;
Inclusivo - Durante o processo de desenvolvimento do novo produto,
percebeu-se que essa peça soluciona uma questão de exclusão por não exigir
coordenação motora fina como ocorre na pega do convencional. Isso facilitaria a
atividade para diversas pessoas que sofreram danos o suficiente para impossibilitar
a pega de pinça exigida pelo abridor plano, tais como vítimas de Acidente Vascular
Encefálico (AVE), hanseníase, esclerose múltipla e outras doenças. No entanto, os
resultados do DS mostraram que as pessoas não consideraram o redesign como
algo inclusivo. Muito pelo contrário, recebeu a pior pontuação entre os pares de
adjetivos. Infere-se que isso ocorreu por questões como o tamanho da peça (uma
vez que foi desenvolvido para pessoas com percentil 95, mas testado com pessoas
com mãos de tamanhos diversos) e, principalmente, pela sua referência ao soco
inglês;
Elaborado - esse par complemente o “Simples” e “Requintado”, mas em um
nível mais técnico, remetendo diretamente a questão construtiva. Nesse aspecto,
ambos os abridores receberam uma qualificação boa, uma vez que foram bem
trabalhados antes de produzidos, porém, como existe uma variedade de materiais e
peças, o redesign recebeu uma nota maior do que o convencional;
Desejável - a característica “desejável” é, até certo ponto, muito pessoal.
Depende das experiências, vontades e do que o usuário acredita. Porém,
comparado ao abridor convencional, o protótipo atual recebeu uma avaliação mais
negativa, provavelmente, pelas questões do soco inglês. No entanto, mesmo se o
novo abridor tivesse atingido a referência biomimética, infere-se que a sua avaliação
pelo DS nunca seria tão alta.

6.2 Avaliação geral

Em muitos aspectos o redesign se saiu melhor, em especial, superou o


convencional nas questões lúdicas e de conforto. Seus maiores problemas, no
entanto, estão relacionados à referência do soco inglês, ao material usado e por ser
um tamanho para mãos de percentil 95. A média das duas avaliações foram de 3,99
para o abridor convencional (desvio padrão de 0,86) e de 4,73 para o novo produto
(desvio padrão de 0,65).

6.3 Observações

Além dos resultados do DS, outros pontos sobre os abridores foram anotados
durante os testes em relação às observações dos aplicadores.
Referente ao abridor de latas convencional, um problema visível acontece na
hora de levantar a tampa de alumínio da lata, pois as pessoas usam a própria lâmina
e, como o produto é fino, o usuário tende a encostar no alimento. Outra questão
vista é a dificuldade de abrir para usuários canhotos, afinal, usa-se a parte sem
chanfro da lâmina para rasgar a lata, utilizando mais força do usuário.
Já o novo abridor resolve o problema de levantar a tampa com a lâmina, uma
vez que a mão fica longe da lata. No entanto, a questão de uso dos canhotos se
torna impossível, porque a forma de MDF bloqueia a lâmina de avançar. Além disso,
durante a atividade, o abridor de garrafas pode pressionar a ponta do anelar,
causando um pouco de desconforto. Outro problema encontrado no redesign foi a
questão do primeiro furo, pois dependendo da pressão aplicada, a lâmina começa a
inclinar e, por consequência, dificultando a atividade e diminuindo o tempo de vida
do produto.
Por fim, em relação ao abridor de garrafas, todos os usuários conseguiram
utilizar, independentemente do tamanho da mão, sendo uma atividade muito simples
e rápida. Também foi comentado por quase todos que foi muito agradável abrir
garrafas com o novo produto, causando uma impressão de “abrir com a própria
mão”.
6.4 Melhorias

Com as avaliações feitas pelo DS e pelas observações, visando a melhora do


produto, alguns pontos foram levantados.
Em termos de conceito, é necessário reforçar a visão biomimética do produto,
perdendo quase toda referência do soco inglês. Para definir as mudanças, uma
análise feita a partir da semiótica norte-americana de Peirce (1839-1914) foi usada.
Como conclusão, infere-se que o remetente da arma está nos quali e sin-signos, ou
seja, nas questões de forma e material. Logo, como indicação de melhoria de
projeto, a mudança do corpo de MDF e EVA por silicone poderia resolver a situação.
No entanto, em termos de configuração, seria necessária uma mudança na
posição da lâmina para possibilitar o corte feito por canhotos. Além disso, mais
material (aço) deveria entrar dentro da peça para garantir que a lâmina não
envergasse novamente. Uma espessura maior do aço também poderia resolver o
problema.
Outra questão relacionada à configuração está atrelada ao reposicionamento
do abridor de garrafas para inibir pressão no anelar durante a atividade de abrir
latas.
Quanto ao tamanho, desde a seleção da temática do biomimetismo já havia
se discutido a necessidade de mais peças para percentis diferentes, unindo o
tamanho ao conceito, isto é, produtos menores (percentil 05) receberiam uma pintura
de modo que o fossem patas de felinos pequenos (como gatos), enquanto maiores
seriam pintados de acordo com patas maiores (como leões, tigres e panteras - que
foi usado no protótipo).

Fig.06 - Variações de pintura do novo abridor para aplicação de diferentes tamanhos (Fonte: Acervo
pessoal, 2017).

Por fim, a necessidade de um estojo para o produto também foi discutida,


uma vez que, por causa de seu molde, o abridor se torna difícil de limpar. Com um
local específico para armazenar a peça, esse problema de higiene poderia ser
resolvido.
7 Conclusões.

Os resultados apresentam os problemas semânticos relacionados aos


abridores convencionais, demonstrando uma grande oportunidade para se trabalhar
no design, propondo alternativas para seu uso, apresentando produtos mais
confortáveis e colecionáveis. Nesses pontos, o redesign atinge questões lúdicas e
de conforto que se tornaram o diferencial do abridor. No entanto, peca nos aspectos
conceituais e de uso para além da atividade (higienização, descarte e, de modo
preocupante, um possível uso como arma).
Contudo, foi muito importante para as decisões de projeto, análise dos
resultados e para propor melhorias, as aplicações dos testes com o DS e a presença
do usuário em todas as etapas. Outro ponto importante foi a pesquisa de similares,
que fez o grupo entender melhor dos produtos em termos conceituais e de
configuração.
Além das propostas de melhoria do produto, no entanto, seria interessante que mais
pesquisas fossem aplicadas nos dois modelos (convencional e redesign) em relação
à biomecânica da atividade, pois, apesar de ser importante ter o conhecimento
semântico, melhorar a configuração do projeto poderia gerar ainda mais evolução.
Outra proposta futura é de aumentar o grupo de análise, inclusive adaptando a
pesquisa de modo que os sujeitos ao teste fossem do mesmo percentil do produto,
evitando avaliações com muitos desvios.

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