POR AGGELOS FINIKAS

(Direitos de autoria reservados)

 PER SONAGENS

EVA G REEN -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- P AOLA

JOÃO PEDRO/FILHO /NETO --------------------------------------------------------------------------------------------------------------- MATEUS

JOSH �-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- WILL

MARG ARETH ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ FLAVI A

AMARA/MARIA LUZ ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- A NNE

Z U R 1 ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- BRUNA

PI LLAR/1 OLAN DA/CARME CITA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- J ULIA

 ATOl

CENAl

(Está em cena João Pedro, o jovem escreve uma carta

para sua mãe avisando sobre seu novo emprego, enquanto

escreve, o ator se arruma)

JOÃO PEDRO

"Querida mãe! Venho por meio desta, informar que tudo está bem por aqui. Eu fui contratado pelo lrineu Evangelista, um homem de
bom coração, bem respeitado e um grande investidor, senda assim, é a minha grande chance de melhorar financeiramente mãe e te dar
uma vida melhor. Estou com pouco dinheiro e poucos roupas, consegui emprestado uma mala usada com uma vizinha de coração bom e
em algumas horas estarei embarcando paro o Rio de Janeiro rumo ao sucesso. Bom, espero que você esteja se cuidando, aguenta mais
um pouquinho que Joga, logo, eu irei te buscar. Eu amo você mãe!

Assinado, João Pedro "

((COREOGRAFICAMENTE)

O ator chegará em uma plataforma giratória

que terá de ser construída pela cenografia e deverá ter 3

cenários distintos, pois cada um representará uma época na história

ao começar com João Pedro em 1850)

ATENDENTE

PRÓXIMO CLIENTE!!!

JOÃO PEDRO

Uma passagem para a Bahia de Guanabara por gentileza!

(A plataforma nesse momento deve ocultar do público o atendente)

ATENDENTE

Saída, pelo navio Amazonas Fragata da Bahia de Guanabara as 22:50 da noite, são 500 réis de prata senhor.

(Ouve se apenas a voz do atendente)

JOÃO PEDRO

Mas que roubo hein .. Está cada dia mais caro viajar pelo Brasil, será que daqui alguns anos conseguiremos pelo menos sair de casa
meus amigos?

(O cenário gira e agora o público vê o atendente e enquanto conversa com o

atendente, o ator deve trocar o figurino para viver João Pedro Filho)
 ATENDENTE

Daqui alguns anos conseguiremos sair de casa por trilhos senhor, ouvi dizer que estão pretendendo construir trilhos que transportam
pessoas, vê se pode?!

JOÃO PEDRO

Pode, claro que pode... BEM VINDO À ERA MODERNA MEU RAPAZ! Inclusive estou indo para lá ajudar esse sonho acontecer e estou
bem otimista, algo me diz que essa viagem vai marcar minha vida, ou melhor, NOSSAS VIDAS!!!

ATENDENTE

Quanta empolgação, devo ficar honrado então em fazer parte desse momento histórico do senhor?

JOÃO PEDRO

Claro, pois você acaba de vender uma passagem que contribuirá para a importante evolução desse Brasil, e abrir os caminhos do
sucesso na vida de um pobre homem e de muitos outros! É a modernidade batendo à nossa porta!

ATENDENTE

Que honrado eu sou, entrar para a história! Vejo que está mesmo bem otimista né!? A propósito, o Sr ainda não pagou por essa
passagem...

JOÃO PEDRO

Owww, verdade... Quanto é mesmo?

(o mini cenário gira para 1910 e se revela

ao público João Pedro Filho)

ATENTENDE

900 réis senhor!

JOÃO FILHO

Poxa, já aumentou a passagem?

ATENDENTE

Sim Senhor! Sabe como é né, agora com depois que começamos a andar pelos trilhos, os gastos de manutenção aumentaram. Tudo
para a melhoria e bem estar do povo!

JOÃO FILHO

Do povo... Sei bem, onde iremos parar assim não é mesmo ... Sorte a sua que essa viagem é muito importante, então estou disposto a
pagar o que for preciso.

ATENDENTE

E o que de tão importante te traz à essa cidade caótica?

JOÃO FILHO

Trata se de um reencontro com a minha história. Estou em busca de respostas minhas e da Majestosa Eva, minha mãe de criação. A
grande mulher da minha vida que respingou seu sangue nessa cidade para poder encontrar a felicidade.
 ATENDENTE

Bom, é realmente bem importante mergulharmos em nossa própria história e nos redescobrimos não é mesmo? Pena eu não ter
passagens ainda para máquinas do tempo, poderíamos até impedir que qualquer gota de sangue dé sua amada mãe adotiva se
chocasse com esse chão tão caótico.

JOÃO FILHO

Quem sabe meu caro, em um futuro não tão distante, teremos essa possibilidade não é mesmo? Ou pelo menos uma máquina que nos
transporte pelo ar?!

(O mini cenário gira novamente para 1940 e agora

o público vê apenas o atendente em um guichê

do aeroporto)

ATENDENTE

E o senhor prefere nesse voo a janela ou o corredor, Sr João?

JOÃO NETO

Olha, prefiro o corredor viu, pois a janela me deixa em enjoado

ATENDENTE

Entendo o Senhor, eu também ainda estou me acostumando com essa ideia de uma máquina planando pelo ar, nem chego perto da
janela.

JOÃO NETO

Embora eu seja um historiador fascinado pela história e evolução da humanidade, confesso que demoro um pouco para me acostumar
também com essas novidades. Porém, não é incrível saber aonde já chegamos? Quem diria, outrora estávamos enjoados em um
pedaço de madeira peregrinando à deriva pelo mar e hoje estamos lado a lado com os pássaros!

ATENDENTE

O que mais assusta é a velocidade que essas novidades estão chegando, daqui a pouco ouviremos falar que é possível viajar no tempo

(O mini cenário muda novamente e se revela ao

público João Pedro Neto)

JOÃO NETO

Acredito que para mim isso começa a se tornar possível meu caro... Essa passagem será uma viagem no tempo, e isso me dá mais
calafrios no estomago do que me sentar na janela desse avião...

ATENDENTE

Bom, te desejo boa sorte então na viagem, aqui está sua passagem... E mande lembranças ao passado!!!

JOÃO NETO

Claro, mandarei sim...

 (João Pedro Neto pega sua passagem, sai do guichê)

Próximo cliente!

((COREOGRAFICA MENTE)

(Chama o atendente, e o foco de luz vai para João Pedro Neto

chegando na Cinelândia)

(O rapaz olha para todos os lados procurando algo ou alguém

quando entra em cena então Carmecita, uma jovem estravagante

está carregando seus trapos com entusiasmo)

CARMECITA

SAIAM DA FRENTE, POIS ESTÁ PASSANDO A MAIS NOVA MUSA DO RECREIO!

(Gargalha a moça irreverente)

JOÃO NETO

Bom dia senhorita, me chamo João ... João Pedro Neto, e a senhorita, qual sua graça?

(A jovem não dando tanta atenção arruma suas joias, mas responde)

CARMECITA

Carmem, Carmem González

JOÃO NETO

Bom, me disseram que aqui nesse local era o Convento da Ajuda, e com todo o respeito, a senhorita não me parece ser uma freira.

CARMECITA

FREIRA?

(A jovem gargalha)

Não tenho a menor vocação para ser freira meu senhor, olhe para mim! Olhe para mim!!!! Minha beleza irradiante, essa pele
besuntada de cremes franceses caríssimos, essa cútis não é de uma freira e essas plumas te parecem um terço? Eu não seria aceita no
convento jamais, ainda mais agora que Waltinho me convidou para ser a nova e mais linda vedete do Brasil. Para a Igreja eu sou o
próprio caos! É pisar na porta de um convento e ser exorcizada!

JOÃO NETO

Uouuu ... Eu só vejo a jovem mais bela que já tive contato. Não me parece uma heresia, ao contrário, me encanta sua beleza como a
beleza de um anjo
Esse papo é de papagaio, os homens sempre são fiéis a esses textos prontos de conquista barata que replicam para todas as mulheres.
Mas agradeço a cantada.

JOÃO NETO

Não é uma cantada, sua beleza é um fato. Mas você não acreditará que não é uma cantada de qualquer forma.

Bom, mas enfim, acho então que estou no lugar errado...

CARMECITA

Não, está no lugar certo, mas no ano errado. Aqui realmente era parte do Convento da Ajuda, porém, já foi demolido ah muitos anos
para que fosse construído esse cortiço chamado Cinelândia

JOÃO NETO

Você parece um pouco revoltada com o lugar

CARMECITA

Lugar de muita gente, vira uma salada de frutas meu papagaio, onde nem todas são doces e são as cítricas o problema, se é que me
entende.

JOÃO NETO

Na verdade, pelo que me parece, o Brasil inteiro está virando essa salada de frutas não é mesmo?

CARMECITA

E isso é só o começo... Essa salada ainda vai dar muitas voltas e remelexos, e quanto mais gente cítrica se joga na tigela, mais se azeda o
caldo!

JOÃO NETO

Bom, eu sinto muito pelos seus contra tempos com essas pessoas.

CARMECITA

Não sinta... Não me faz a menor diferença a parte cítrica da sociedade, não tira o meu doce!

Mas... Afinal, por que tanto quer encontrar o Convento?

JOÃO NETO

Uma história longa... Mas em resumo, eu fui raptado quando bebê por Antônio Cornelius, mais conhecido como "Ovelha Negra", um
traficante de humanos e, fui vendido para uma família rica de Minas Gerais, que me ocultou esse fato até meses atrás. Mas como bom
historiador que sou, descobri esse ocorrido e agora vim em busca das respostas do meu passado.

CARMECITA

Que crueldade desse homem. E deduzo que seus pais "adotivos" estejam tensos de você vir procurõr os verdadeiros, não?
 JOÃO NETO

Talvez, se meus pais adotivos ainda estivessem vivos, mas faleceram de Tuberculose, dias antes de me confessarem a verdade.

CARMECITA

Pelas barbas de D. Pedro, você é cercado de mistérios e tragédias em? Nem chega muito perto para não me transmitir essa zica toda...

(O rapaz fica apreensivo e sem graça, e Carmecita conserta)

Estou brincando homem, venha! Agora vamos, que tenho pressa...

JOÃO NETO

Para onde?

CARMECITA

Oras, não está procurando o Convento da Ajuda? Vou te levar para onde ele reside hoje, aproveita que hoje estou extremamente feliz!

JOÃO NETO

Poxa, que bondosa você, mas agora? Você não estava com pressa?

CARMECITA

O Brasil esperou até agora, pode esperar mais alguns minutos para conhecer Carmem González, ou melhor, à partir de agora Carmecita
González!!! Vamos homem, suas urgências são mais do que as minhas, eu ainda tenho muitos anos pela frente para fazer da vida uma
festa! Encher meu torço de colares, tocar pés de mansões, muitos comes e bebes e alegria! ALEGRIA!!!

(A moça pega na mão de João que se encanta com sua atitude as personagens saem

(COREOGRAFICAMENTE)

e atravessam uma porta, porém Carmecita fica e só atravessa o outro lado

João Pedro Filho, os contra regras deverão trazer para a cena uma mesa de cozinha

e objetos cênicos da ambientação Eva que está sobre a cena em 1910)

ATO 1

CENA3

(A cena é ambientada na cozinha de Eva Green em 13 de maio de 1910, Eva amassa a massa de um pão

(A atriz se posiciona as costas para o público propositalmente),

João Pedro Filho encosta na mesa e a observa. A mulher dialoga então com o homem)

EVA

Olhe para você, o homem lindo que se tornou. Ainda me lembro de você tão pequenino olhando para mim naquele convento. Os olhos
brilhavam como dois faróis. Isso só me faz lembrar que o tempo está passando para nós... E eu cada vez mais velha...

{Os dois sorriem)

JOÃO FILHO

Está na flor da idade ainda, pare com isso...

 EVA

Não tente me alegrar mentindo para mim. O tempo passa e é natural, para essa mulher cansada não será diferente. Só não passou para
minha alma que ainda continua gritando seus ecos por todas as minhas partes contando e recontando para minha mente as histórias
do que vivi durante todos esses anos.

JOÃO FILHO

Cuidado, não se esforce muito... E você precisa descansar.

EVA

Descanso? Não descansarei enquanto não ter de todas as respostas das dúvidas que tenho, mas entre elas, uma única resposta que
preciso, uma certeza que todos esses anos me corroeu a mente. Somente depois dessa resposta eu conseguirei descansar em paz.

JOÃO FILHO

Oras, novamente esse questionamento? Já conversamos tantas vezes sobre isso... Deixemos que os mortos enterrem seus mortos
vamos mamãe, o lugar do passado é no passado ...

EVA

Você não entende... É muito importante para mim ter essa resposta. Depois de tudo o que vivi para chegarmos até aqui. Seu pai está
cada dia mais se desgastando cuidando de tudo que construímos juntos todos esses anos. Estamos envelhecendo e você é o único que
pode nos levar até essa resposta, só assim, sentiremos que toda nossa vida fez sentido.

JOÃO FILHO

Sim, eu não entendo e de fato isso é verdade. Mas também, não entendo muitas coisas porque vocês sempre me disseram muito
pouco sobre o passado de vocês...

EVA

Quando as feridas nos machucam, é natural que se recuse até mesmo falar sobre ela meu filho, mas a cada dia que passa, percebo que
essa ferida não se fechou e cada vez mais ela cresce. Mas acredito que você é o único, de alguma forma, que pode fechar as nossas
feridas.

JOÃO FILHO

Mas como minha mãe? Como farei isso?

EVA

Vá em busca de seu passado meu filho, e sua origem revelará para nós todos os mistérios e trará para nós a cura.

JOÃO FILHO

Você tem certeza disso?

(Agora ao responder, a atriz para de sovar sua massa, solta a toalha de seus cabelos

que revela seu penteado, enquanto fala, tira seu roupão e se revela de noiva,

aos poucos nesse processo a atriz se vira para o público)

EVA

Eu tenho medo... Medo e certeza ...

 (João Filho pega nas mãos de Eva, beija e sai de cena. Eva agora inicia seu monologo)

AT01

CENA4

EVA (Narração para o público)

O mesmo medo que tive um dia quando tomei uma decisão que mudaria minha vida para sempre... E a mesma certeza que eu tive
quando olhei em seus olhos pela primeira vez meu filho

Tudo começou em 1850 na cidade de Paris, eu sou Eva Green uma das mais lindas francesas da minha época, pele de porcelana rosada
e viçosa, parecia até que fui moldada para ser a dama mais respeitada da corte. Estou noiva de Josh Cooper, um arquiteto inglês,
inteligente, culto, recém formado e desejado por muitas mulheres de todas as classes, apesar de termos nos visto poucas vezes,
chegamos até aqui onde estamos, mergulhados em uma festa de casamento onde nós somos os noivos...

(Eva pega em mãos o seu buquê e como numa dança com ele continua seu diálogo)

EVA (Narração para o público)

Para ela, é o casamento de seus sonhos e, como toda moça francesa da época que a mãe prepara e molda desde os primeiros passos de
sua infância, porém ela é órfã de mãe e quem teria de fazer esse ilustre papel seria seu pai, Rubens Green o capitão da marinha
francesa, mas sem qualquer experiência e tempo para conduzir uma moça para a vida. Sendo assim, me lancei a aprender tudo
sozinha...

(Em cena, Josh termina de se arrumar e Eva o rodeia, e o ator fala sobre Josh)

JOSH (Narração para o público)

Por sua vez, Ele ... Para ele é um casamento de interesse apenas, pois o rapaz tinha pretensões futuras de atravessar o oceano para o
Brasil, onde fora contratado para fazer parte de um grande projeto de implantação de uma linha ferroviária e, é claro que sua futura
esposa teria de o acompanhar em seus objetivos, para auxiliar o jovem na administração da casa, ela apenas não sabia disso até que
chegou o dia do casamento. O sr Josh adora fazer surpresas...

(Josh pega na mão de Eva e (COREOGRAFAM UMA PEQUENA VALSA),

ao terminar, ele exclama)

JOSH

Senhorita Eva, a Senhora sua sogra acabou de chegar!

(Os dois param diante da atriz que dará vida à mãe do noivo.

Eva desconsertada e incomodada enquanto Margareth a rodeia

com olhares de julgamentos)

MARGARETH (Narração para o público)

Ma_rgareth Cooper, A sogra... Uma mulher misteriosa e que protege o filho como um leopardo. Um olhar forte e marcante que esconde

seus diversos segredos.

 JOSH

Então mamãe... O que acha de Eva Green? Essa bela donzela, que agora será a minha esposa...

(Entoa o rapaz apresentando as duas)

MARGARETH

Ah sim... Que moça linda meu filho, pele branca e perolada, unhas cortadas e limpas, cintura extrafina, uma ótima escolha... Josh falou
muito de você Eva ...

(A mulher abraça a jovem. Eva olha para o público com o olhar de desconfiança)

EVA

Josh como sempre muito atencioso! Espero que tenham sidos coisas boas!

MARGARETH

E eu espero comprovar que são boas... Olha vejam, que colar interessante em seu pescoço moça ... Tem de ter um poder muito
aquisitivo para carregar no pescoço uma joia desse porte.

(Margareth olha repara o colar no pescoço de Eva) Eva aperta o colar com as mãos)

EVA

Esse é um presente de minha falecida mãe senhora... Que o Criador a tenha. No mundo só existe uma única peça e está na família por
muitas gerações. É uma honra para mim tê lo agora, e ter a oportunidade de entregar futuramente ao fruto do meu ventre quando ele
chegar em meus braços.

(Margareth ri e retorna)

MARGARETH

Olha só meu filho, a donzela já pensa em filhos, e que nobre atitude de sua parte... Deve então guardar essa joia com muito carinho!

(Josh pega a moça pelo braço)

JOSH

Vamos Eva, está na hora dos discursos dos noivos!

(Ao saírem, Margareth resmunga consigo mesma)

MARGARETH

Joia barata e imunda... Não vai durar, como você não vai, vou esmagar cada pedaço de você com as minhas próprias mãos. Vai se
arrepender de ter cruzado o caminho do meu Josh

(A megera se refere a Eva. E sai de cena Eva e retorna em cena com o colar em suas mãos)

EVA

De repente, olhei em minha volta e todos aqueles convidados foram embora, o bolo acabou e toda aquela abundância de comida
evaporou. As músicas e danças cessaram e tudo o que restou fomos nós, eu e ele... Eu me sentia em parte feliz, mas uma angústia
apertava meu peito e somente nos próximos dias eu entenderia o que ela queria me dizer.
 (Josh entra em cena com uma mala. Eva assustada olha para o marido sem entender,

e ele a segura pelo braço)

JOSH

Vamos Eva, não podemos nos atrasar, nosso navio sai do porto em uma hora

EVA

Navio? Mas para onde iremos meu marido? Não me disse nada sobre lua de mel, nem fiz enxoval para isso ...

JOSH

E não teremos. Oras, não te comentei que iremos morar no Brasil?

EVA

Brasil? Não me disse nada sobre isso. Eu preciso arrumar minhas coisas e nem pude me despedir do meu pai, ele nem pode vir no
casamento porque está em alto mar e...

JOSH

Já enviei uma carta ao seu pai com despedidas e mandei fazer suas malas com o essencial que você irá precisar. Ao nos instalarmos no
Brasil, se faltar algo, providenciaremos por lá. Fui contratado pelo lrineu para fazer parte da equipe a frente da construção e
inauguração da primeira linha férrea do Brasil. É um acontecimento muito importante para minha carreira de arquiteto aos olhos de D
Pedro li vai me abrir muitas portas, você como minha mulher agora, deve me acompanhar e me apoiar em meus sonhos e objetivos.

(Antes que a moça pudesse falar qualquer palavra, o jovem a arrasta

com ele e os dois saem de cena)

ATOl

(Os contra regras entram com a mesa de pesquisa de João Neto, e estamos em 1940. O jovem estuda seus

papéis, quando bate à porta Carmecita e o jovem abre)

CARMECITA

Chegou quem faltava para a alegria do Brasil e do papagaio!

(O moço recebe a jovem desanimado)

CARMECITA

É, essa é bem a car� do Brasil. .. Vamos homem, te trago aqui um lanche, veja se ele melhora seu ânimo.
 JOÃO NETO

Cada vez que eu acho que estou no caminho certo, tudo vira um nó nos papéis e registros e minha cabeça vira um caos...

CARMECITA

Vamos, coma! Barriga cheia, mente saudável, dizia minha avó. Que Deus a tenha... ou não...

(Camecita percebe o colar de Eva sobre a mesa e indaga)

CARMECITA

Pelos anjos homem, que coisa mais linda! Nunca vi joia mais parecida, é maravilhosa. O que faz com isso?

JOÃO NETO

Pelos registros, essa joia é a única coisa que me liga ao meu passado. Quando meus pais adotivos me receberam, essa joia veio junto no
bolso de um terno que eu estava envolvido. É uma joia de extremo valor, sendo assim, eles não se desfizeram dela e incluíram ela nas
joias da família. Porém, quando descobri que não eram meus pais verdadeiros, eles me falaram sobre a joia.

CARMECITA

Mas então essa joia provavelmente pertenceu aos seus pais de origem!

JOÃO NETO

Sério? Anos de pesquisa e você me revela em cinco segundos isso!!!

(Brinca ironicamente João Neto, os dois riem e Carmecita retruca)

CARMECITA

Para quem parecia um bebê chorão quando cheguei, o papagaio já está até melhor fazendo suas piadinhas irônicas!

JOÃO NETO

Você sabe que te venero, desde que nos cruzamos na Cinelândia, não escondo isso. Por isso eu tiro sua paz!

CARMECITA

Juro que você consegue mesmo... Mas agora eu preciso ir mocinho papagaio, o dever me chama e o Brasil anseia por mim!

JOÃO NETO

Verdade! E como andam as coisas no Teatro Recreio? Fazendo muito sucesso?

CARMECITA

De vento em poupa! Mas não consigo fugir das frutas cítricas, é uma praga que me persegue. Também, maravilhosa como eu sou, é de
se esperar o despertar de muita inveja!

JOÃO NETO

Você é mais que maravilhosa, é deslumbrante... Parece um anjo...

. (João fala sua frase hipnotizado pelos seios de Carmecita, a mesma

espalma a mão na nuca do rapaz e aperta a cabeça dele contra seus seios)
 CARMECITA

Então veja o paraíso de perto com seus próprios olhos!!! Mas se contente apenas com isso, pois tudo isso aqui é muito fogo para o teu
lampião.

(O rapaz sai desnorteado e em êxtase,a jovem gargalha e se despede)

CARMECITA

Tchauzinho papagaio!

(A jovem sai de cena, o jovem, ainda desnorteado, volta a seus estudos

e pega o colar em suas mãos)

JOÃO NETO

Vamos, me diga você o que eu não sei. Me mostre o que eu não consigo enxergar! Que segredo você esconde entre suas pedras, qual
sua história, me leve contigo nessa viagem...

((COREOGRAFICAMENTE}

O rapaz sai de cena e os contra regras colocam em cena a carruagem de Eva e Josh}

ATOl

CENA6

(A cena se passa na carruagem que transporta Eva e Josh. Os dois atores estão de frente um para o outro.

Eva olha para a paisagem lá fora de forma pensativa e aperta com a mão a joia sobre seu pescoço,

Josh a observa e questiona)

JOSH

Troco um anel de diamantes, pelos seus pensamentos...

EVA

Só estou observando mesmo a paisagem, o Brasil é mesmo lindo como dizem...

JOSH

Espero que se acostume ao clima e os costumes daqui, faz um calor extremo.

EVA

Não tenho dificuldades em me adaptar aos lugares ou situações, meu marido. Estou animada para ver mais dessa natureza, ver a
construção dos trilhos, deve ser emocionante fazer parte de tudo isso...

JOSH

Mas você não verá... Não cabe para uma moça de sua classe e ainda mais casada, peregrinar em meio dezenas de homens suados e
escravos imundos trabalhando.
Desde pequena, sempre estive com meu pai nas embarcações senhor meu marido. E em sua maioria, não eram mulheres maquiadas e
cheias de panos que trabalhavam

(Josh se altera)

JOSH

NÃO IRÁ! VOCÊ NÃO ENTENDEU? NÃO É UM CONSELHO, É UMA ORDEM. NÃO QUERO MULHER MINHA NO MEIO DE HOMENS SUADOS
E NEGROS IMUNDOS

EVA

NÃO DEVERIA FALAR ASSIM DOS ESCRAVOS. SÃO SERES HUMANOS COMO NÓS, NÃO SÃO ANIMAIS

JOSH

NÃO FALE DO QUE VOCÊ AINDA NÃO VIU. VERÁS COMO TENHO RAZÃO, Mas de qualquer forma, está proibida de chegar perto da
construção da ferrovia.

EVA

O senhor meu marido não pode me proibir assim as coisas...

JOSH

NÃO POSSO! EU DEVO! TENHO DIREITO AGORA SOBRE VOCÊ, E VOCÊ IRÁ AONDE EU QUISER QUE VOCÊ VÁ!

(O rapaz pega forte no braço da moça e ela o olha assustada, ele a empurra contra o assento)

EVA

Tudo bem, senhor meu marido... Não quis ofende lo, será como o sr quiser...

JOSH

Será!

((COREOGRAFICAMENTE)

Os dois chegam até a porta da nova casa no Brasil, ao entrar pela porta, Eva olha tudo ao seu redor,

Josh coloca as malas no chão e chama por Zuri)

JOSH

ZURI!!!

(A escrava vem às pressas atender o patrão

junto dela vem Amara)

ZURI

Pois não, meu senhor! Sejam bem vindos...

 JOSH

Esta é Eva, minha esposa ... Ela agora é a dona desta casa e dona de vocês. Se reportem à ela no que ela ordenar.

EVA

Não é necessário falar assim meu marido, tenho certeza de que Zuri sabe cuidar de tudo melhor do que eu.

AMARA

Sinhá é linda por demais né? Parece uma boneca de porcelana!

ZURI

Amara minha filha, se coloque em seu lugar.

EVA

Deixe a menina Zuri, agradeço o elogio Amara.

JOSH

Vamos, deixem de desperdiçar palavras e levem Eva à seus aposentos, deve estar cansada, a viagem foi longa e desgastante ... Minha
esposa precisa descansar e repensar sua postura, agora que é uma mulher casada.

(Fala o rapaz com certa ironia e ensaia para sair novamente)

EVA

Vai à algum lugar meu marido?

JOSH

Vou até as construções da ferrovia me apresentar, mas voltarei para o jantar. Não pises os pés fora dessa porta e esteja pronta para
quando eu retornar.

(O rapaz sai de cena e Eva se mostra um pouco triste)

ZURI

Para uma moça linda e recém casada, esse olhar de tristeza não combina com seu vestido tão lindo sinhá

EVA

Ai Zuri, estou tentando ... Mas tudo aconteceu tão rápido e tudo é muito novo pra mim. Não tive tempo de despedir-me do meu pai e
meu marido parece ter o gênio muito forte. Tudo isso me deixa angustiada.

AMARA

Com essas joias e esses panos no teu corpo, eu nem me importaria com o gênio do meu marido. Ele podia espumar pela boca e subir
nas paredes, eu iria segurar a beleza só aqui ó no bater do calcanhar, reparando as joias nos dedos e remexendo a cintura.

(Amara com uma mão na cintura, observa a outra e chacoalha a bacia. Eva sorri, e Zuri repreende a filha)

ZURI

Amara minha filha, controle essa língua. Mil desculpas sinhá, Amara é moça nova e ainda está aprendendo a lhe dar com a vida.
 EVA

Não tem problema Zuri, se iremos conviver todas juntas, nós três precisamos nos divertir um pouco umas com as outras e construir
uma boa amizade, não é mesmo?

AMARA

Aí imagina só mãe, eu, amiga dessa princesa! Vão morrer de inveja la na senzala

EVA

Senzala? o que é? Sua escola?

(Amara olha estranho para Eva)

Escola? Você está brincando né? Você não sabe o que é Senzala?

ZURI

"Você" não Amara, "senhora"! Ela é sua patroa. A sinhá Eva não deve saber o que é senzala, ela veio do outro lado do oceano. Senzala
é onde todos nós escravos nos alojamos sinhá.

AMARA

Bom, levarei as malas...

(Amara sai de cena empurrando as malas)

EVA

Senzala... Que interessante, e eu posso fazer uma visita para conhecer?

ZURI

A sinhá pode tudo, é dona de tudo isso aqui agora, inclusive de nós. Mas não sei se a sinhá vai se sentir bem no meio de tantos
escravos.

EVA

Bom, de qualquer forma, estou proibida de sair por aquela porta, então creio eu que não poderei ir por enquanto à lugar algum.

ZURI

Mas então vamos aonde a sinhá pode ir, venha, te levarei aos seus aposentos e depois te mostrarei toda a casa, inclusive o quarto do
bebê que o patrão mandou preparar.

EVA

Bebê? Mas que bebê? Acabamos de nos casar e nern noit-e de núpcias eu tive ainda ...

ZURI

Da pra ver então que o patrão pensa no teu futuro em, porque ele foi bem incisivo para que preparássemos o quarto da criança.
 EVA

Pode ser que sim ... Mas se eu tiver mesmo que ter um filho, não desejo que tenha o gênio do Sr meu marido... Meu filho será gentil,
educado, amoroso ...

ATO 1

CENA 7

((COREOGRAFICAMENTE)O foco da cena muda para João Pedro filho chegando a porta de um convento)

JOÃO FILHO

"Convento da ajuda", bom deve ser aqui. ..

(João bate na porta insistente e é atendido pela freira Maria Luz,

uma freira de cor de pele negra e muito devota)

MARIA LUZ

Que a paz do Criador esteja em você...

JOÃO FILHO

Ola irmã, me chamo João Pedro Filho, qual sua graça?

Me chamo Maria luz ... E no que posso te ajudar?

JOÃO FILHO

Ah muitos anos, fui deixado aqui na porta desse convento por alguém que não sei, e em seguida adotado por um casal que me criou
com muito carinho. Porém, retorno hoje em busca de algumas respostas

MARIA LUZ

E quantos anos faz isso meu filho?

JOÃO FILHO

Por volta de uns 40 anos

MARIA LUZ

Quarenta anos, são muitos anos meu filho, já não existe mais ninguém aqui que seja dessa época. A última irmã que dessa época, é a
irmã Sarah e ela acaba de falecer...

JOÃO FILHO

Eu sinto muito ... Mas então, não há a menor possibilidade de saber qualquer informação sobre mim?
 MARIA LUZ

Quase impossível. Faz uns 5 anos que todos os registros dessa época foram consumidos por um incêndio que tivemos em uma das alas
de registros. Infelizmente perdemos inúmeros documentos.

(João Pedro se entristece e ensaia se despedir da irmã)

JOÃO FILHO

Poxa, que pena... Então não há nada mais que eu possa fazer... Agradeço sua atenção irmã e perdoe me tomar seu tempo...

MARIA LUZ

Que o Criador esteja contigo meu filho e ilumine seus caminhos

(A irmã entra e fecha a porta. João dá seus 3 passos quando ouve novamente a irmã chama lo da porta)

MARIA LUZ

João...

João, espere...

JOÃO FILHO

Irmã?! Pois não?

MARIA LUZ

Não sei se te ajuda, o Criador me iluminou a mente com uma luz... Toda irmã do convento que falece tem seus pertences colocado em
uma caixa e, esses são enviados para a família. Os da Irmã Sarah ainda não foram enviados. Nós irmãs, costumamos escrever muito
nossas aflições em diários e é possível que a irmã tenha algo escrito dessa época.

JOÃO FILHO

Isso seria um milagre irmã, mas estamos no lugar onde os milagres acontecem não é mesmo? Então pode haver uma esperança!

MARIA LUZ

Meu filho, o Criador opera milagres em todos os lugares, mas podemos alcançar esse milagre sim se você tiver fé.

JOÃO FILHO

Não sei mais se tenho fé irmã, mas conheço alguém que tem tanta fé e precisa muito alcançar esse milagre... A majestosa Eva, minha
mãe adotiva...

MARIA LUZ

Sua mãe deve mesmo ser uma mulher de muito valor, para o senhor vir até aqui em busca de respostas. E mesmo não sendo sua mãe
biológica, o senhor deve ama la muito.
 JOÃO FILHO

É a mulher mais valiosa e fantástica que eu já conheci irmã

MARIA LUZ

Interessante... Bom, entre vamos! Te levarei até os pertences da irmã Sarah e você aproveita e me conta mais sobre essa mulher
admirável que é sua mãe adotiva...

JOÃO FILHO

Será um prazer irmã!

(Os dois atravessam a porta, porém do outro lado sai apenas João Pedro Neto no ano de 1940

Segurando alguns papéis nas mãos, os contra regras trazem a penteadeira e Carmecita se arruma

para ir ao seu show no Recreio)

JOÃO NETO

Veja Camecita, minha flor de maracujá! Encontrei um registro sobre o colar no Convento da Ajuda.

CARMECITA

Olhaaaaa, mas isso já é um grande avanço meu papagaio charmoso! E o que diz no registro?

JOÃO NETO

Aqui diz que na década de 1910 o colar foi furtado e dado como desaparecido junto com uma freira de nome Maria Luz. Tudo indica
que a freira fugiu do convento e levou o colar.

CARMECITA

LARÁPIAAAAAA! Bem provável que eu e ela nos encontremos no purgatório, quer que eu o recupere ele para você?

JOÃO NETO

É sério minha flor, minha cabeça deu um nó agora. Por qual motivo essa freira fugiu e por que levaria um colar que pertenceu a minha
família de origem? E se ela levou, como ele veio parar em minhas mãos novamente?

CARMECITA

Mas não há mais nada nesse papel respondendo tudo isso homem? Procure melhor!

(João revira os papéis procurando mais informações)

JOÃO NETO

Aqui está ... Aqui diz que o colar anteriormente pertenceu à uma tal de irmã Sarah Venture e que ela faleceu um mês antes da Maria Luz
fugir e levar o colar.

CARMECITA

Então, se pertencia a essa tal Irmã Sarah, ela tem parentesco contigo e ela devia conhecer seus pais!
 JOÃO NETO

Provavelmente sim, e tudo começa a se encaixar! O que eu preciso agora é encontrar informações sobre essa irmã Sarah Venture nos
registros, ainda dá tempo de chegar no Convento antes de fechar, vou às pressas para lá.

CARMECITA

Espere , mas você prometeu que iria assistir meu show hoje ...

JOÃO NETO

Mil desculpas minha flor, te prometo que no próximo eu estarei lá na primeira fileira, mas entenda, é muito importante isso para mim!
Me perdoe!

(O rapaz dá um beijo às pressas na moça e sai de cena, ela permanece sentada e frustrada)

CARMECITA

É senhorita Carmecita González, burra é você em pensar que pode ter alguma importância na vida de um homem.

(Se incentiva)

CARMECITA

Mas não importa, se um homem não pode assistir seu show, o Brasil inteiro assiste! Você está linda , e o Brasil está cada vez mais aos
seus pés, então não te falta nada!

(Ao terminar a frase, a moça desconstrói seu entusiasmo e se entrega aos prantos em sua penteadeira. Blecaute)

AT01

CENAS

(A luz se acende e está João Filho e Maria Luz com a caixa da irmã Sarah em mãos)

MARIA LUZ

Aqui estão... os pertences da irmã Sarah, que o Criador nos perdoe...

(A irmã sinaliza a cruz, roga perdão e abre a caixa)

JOÃO FILHO

Amém!

MARIA LUZ

Terços e mais terços ... Uma escova de cabelo, que não sei por que ela precisava, uma bíblia, heiiiiii esse terço é meu, tinha sumido...
Essa irmã Sarah ... Ai, o Divino que me perdoe, a mulher tá morta ..
----------------------------------------- -- --

JOÃO FILHO

Vamos irmã, não me angustie mais, tem apenas isso? Mais nada?

(O rapaz está ansioso e aflito)

MARIA LUZ

Sim, aqui está! Não disse, todas nós temos o famoso diário.

JOÃO FILHO

PRECISAMOS LER!

(Explode ansioso e esperançoso, ele segura o diário que está nas mãos de Maria Luz instantaneamente,

os dois fixam o olhar um no outro e nasce uma atração entre eles. Desconcertada, a irmã o retorna)

MARIA LUZ

Sim, claro! Mas não podem nos pegar mexendo nessa caixa, e muito menos saberem que te permiti ler isso... Sejamos breve!

JOÃO FILHO

Sim... Vamos ver o que temos aqui...

(O homem vasculha as folhas, resmunga, murmura, a irmã está tensa e vigia a porta)

MARIA LUZ

Vamos, se apresse!

JOÃO FILHO

Essa irmã escrevia de mais... To procurando mais ou menos a data que nasci...

MARIA LUZ

MAS VOCÊ NÃO TEM 90 ANOS, NÃO DEVE TA TÃO DIFICIL ASSIM ENCONTRAR!!!

(Responde Maria luz desesperada e logo se recompõe)

MARIA LUZ

Ai, me perdoe Criador! Mantenha o dom da paciência Maria Luz! Respira!

JOÃO FILHO

ACHEI!!!
 MARIA LUZ

CARAMBA!!!! Quer dizer, misericórdia!

(Homem lê o diário)

JOÃO FILHO

"Uma mulher bateu na porta do Convento hoje, e trouxe uma criança linda e saudável. Margareth Cooper, nunca esquecerei esse
nome... Não parecia estar muito certa em seus pensamentos, mas ainda assim, deu para perceber que amava muito a criança, pois
olhava para o menino com certa admiração, porém dizia que não tinha condições de ficar com ele, que o pai do garoto havia morrido
em uma explosão e que sua mãe era uma mulher horrível e cruel que rejeitou o próprio filho.".

(João Filho lê e chora, Maria Luz se emociona, o Homem continua lendo

(O terminar de ler, os dois estão bastante chocados com tudo)

MARIA LUZ

Será possível que ela esteja falando de você?

JOÃO FILHO

Pelo ano que foi datado no diário sim, mas eu precisaria ler mais tudo para ter essa certeza, porém não podemos ficar muito tempo
aqui...

MARIA LUZ

Bem, tem a possibilidade... Os pertences sempre demoram para sair do Convento, até os familiares serem localizados, avisados e viram
buscar, alguns nunca nem vieram. Leve contigo o diário, mas prometa que voltará para devolver? Caso contrário, eu estarei perdida...

JOÃO FILHO

Claro, jamais permitiria que acontecesse algum mal à irmã, mas faria isso por mim?

(O homem novamente olha para a irmã de formaespecial e ela responde a altura)

MARIA LUZ

Faria... Por você, eu faria...

(ele à olha já com outros olhos, a freira sai de cena, o cenário se desfaz, e João, ao som de uma trilha, lê o diário

em silêncio, (COREOGRAFICAMENTE) os contra regras descaracterizam o ator de João Filho para João

Neto que está sentado sobre a escada do palco junto de Carmecita)

ATO 1

CENA9

CARMECITA

Então a tal irmã Sarah e a tal irmã Maria luz, ambas de fato tem alguma ligação com o seu sequestro?
 JOÃO NETO

Sim...

CARMECITA

E você encontrou esse diário nos pertences da tal irmã Sarah que a família dela nurica foi buscar, se passando por um parente dela
distante para conseguir levar a caixa do convento?

JOÃO NETO

Exato...

CARMECITA

E você não conseguiu todas as informações do diário porque arrancaram várias páginas?

JOÃO NETO

É isso ai...

CARMECITA

Não sei se estou mais espantada com sua história ou por conhecer o seu lado impostor e larápio. To vendo é que irei me encontrar com
você também no purgatório!

JOÃO NETO

Não tive escolha, ou era isso, ou nunca iria conseguir essa peça do quebra cabeça.

CARMECITA

Mas então, palas páginas que te sobraram na vida, você foi uma criança traficada com a ajuda de duas freiras de um convento e que
supostamente estavam ligadas à um traficante de humanos.

JOÃO NETO

Tudo indica que essa é a história que a própria história anda me contando. No diário a freira descreve seus esquemas de tráficos com o
o Ovelha Negra, e justamente na pagina que eu apareço na história, metade dela foi arrancada junto com todo o restante. A única coisa
na página que aparece é o nome de uma tal Margaret Cooper que chega ao convento com uma criança...

CARMECITA

Meu camarada, quanto mais tu fuça nessa merda toda, mais ela fede, é impressionante! Que caos!!!

Sua história não poderia ser mais simples, como a minha?

JOÃO NETO

Olha só você, e qual é a sua história simples mocinha?

CARMECITA

Simples:
 (Ao narrar sua história, Josh entra em cena e parece meio alterado de bebida andando pelas

ruas quando avista a placa de um bordel colocado no biombo e uma cama e se senta sobre a cama}

CARMECITA

Minha avó era uma prostituta que conheceu um cliente imigrante inglês bem de vida, mas era casado e frustrado com o casamento.
Parece que a mulher dele era uma megera pelo que minha vó contava... Eles se deitaram em uma única e longa noite, mas o cabra era
tão bom na pontaria que foi o suficiente para que minha avó engravidasse da minha mãe, saudosa lolanda González ...

JOÃO NETO

Minha nossa, não sei se esse homem era sortudo ou azarado mesmo. Mas sua vó não o procurou para falar sobre a gravidez?

CARMECITA

Não... Ela dizia que ele não deixou nem rastros da bota dele no chão do bordel, então era impossível encontra lo. Então, ela decidiu ter.
minha mãe e criar ela sozinha. O bom é que isso mudou completamente a vida da minha vó, ela saiu do bordel e por um milagre,
conseguiu um trabalho em uma fazenda que acolheram ela e a criança, minha mãe no caso.

JOÃO NETO

Oras, mas então sua história não é tão simples assim, existe um mistério aí. .. Seu Avô!

CARMECITA

É, vendo por esse lado, quem era o tal sujeito que seria meu avô?

(Os dois passam por Josh e entram atr"as do biombo. Josh em 1850, por sua vez inicia sua fala}

JOSH

Ande logo com isso, não tenho todo o tempo do mundo para você...

(Pillar responde do biombo)

PILLAR

Se acalme homem, preciso apenas ajustar algumas coisas aqui para fazer o serviço bem feito, tenha paciência ... Parece até que não faz
isso ah anos...

JOSH

Um ano e alguns quebrados...

(Pillar coloca apenas a cabeça para fora do biombo espantada fala e volta a se esconder)

PILLAR

Tudo isso? Está falando sério?

 JOSH

Sim, meu casamento a cada dia mais despencou. Minha mulher é amarga, vive de mau humor

(Ao lado da cama, um pouco distante deve ser colocado a uma mesa com jantar, e nessa fala de Josh

entra em cena Eva, sua afeição é extremamente triste, ela se põe a mesa e começa a jantar sozinha, Pillar sai

do biombo e continua o diálogo)

PILLAR

Incrível como as histórias se repetem e mudam se apenas os rostos. Todos os homens que batem à nossa porta, entram como vítimas
de suas esposas, depois elas ainda nos odeiam.

JOSH

É uma ingrata... Dei uma vida de rainha para ela, e tudo que fez foi reclamar. Se junta aos escravos imundos como se tivesse a mesma
cor de pele deles, e cada dia mais se tornou insuportável.

PILLAR

E mesmo quando fala dela e fala de ódio, teus olhos entregam amor...

JOSH

E de que me adianta essa conversa toda de amor, eu estava disposto a salvar nosso casamento, quando descubro que ela está com
outro...

PILLAR

E com o ego ferido, você veio aqui dar o troco?

JOSH

Isso é parte desse troco, amanhã sim, ela e o tal sujeito irão ter o que merecem...

PILLAR

É, vejo seu coração está cheio de mágoas e revoltas meu amigo, sorte sua que hoje você encontrou Pillar González, a espanhola mais
fogosa do Brasil, espero que tenha um bom dinheiro para pagar esse show, pois não é para qualquer um.

JOSH

Dinheiro não é problema para mim, só essa camisola que te dei para vestir, custa uma fazenda inteira.

PILLAR

Percebi, e é linda... Agora o que não entendi, foi por que me quer vestida nela?

JOSH

Coisa minha, isso não vem ao caso... E a partir de agora, você não se chama mais Pillar ...

(O Homem pega nos cabelos da Prostituta

com força e cheira seu pescoço)

 PILLAR

Ah não... E como irei me chamar?

JOSH

Eva... A partir de agora você será minha... Eva ...

PILLAR

Ah, agora estou entendendo aonde quer chegar de fato, o coração do hon:iem é mesmo sua própria armadilha. Como você quiser e
ordenar... Mas estou aqui para realizar fantasias e desejos e essa noite inteira serei sua Eva, mas amanhã volto a ser Pillar González
para o Brasil e o mundo!

(Os contra regras levam a cama como os

dois para atras do biombo,

Eva se levanta da mesa e chama Zuri, que chega afoita)

ZURI

Chamou Sinhá?

EVA

Zuri, eu vou sair. . Meu marido está no quarto dormindo feito uma pedra, se por acaso ele acordar e perguntar por mim, diga que eu
estava extremamente indisposta e incomodada com seus roncos e que fui dormir no quarto de hospedes para não ser incomodada.

ZURI

Tem certeza disso sinhá? O homem é uma fera e pode te fazer mais mal do que de costume.

EVA

Sim eu tenho medo do que esse homem é capaz, mas eu estou sufocada aprisionada nessa casa. Cada segundo que passa parece que
fui enterrada viva e estou ficando sem ar... E eu não me demoro, vou apenas tomar um ar la fora ...

ZURI

Está bem... Se cuida minha filha ...

(Eva se despede e sai de cena, Zuri apanha as coisas e sai de cena. Blecaute)

AT02

CENAl

(A luz de foco retorna em João Pedro que está dentro da caverna de um túnel sendo construido

jogando baralho com um escravo figurante)

JOÃO PEDRO

Você aprendeu direitinho em, já está me dando um baile...

 {Um barulho qualquer se ecoa das coxias)

JOÃO PEDRO

Espere... Ouviu isso? Devem ser os ladrões que nos furtaram esses dias. Vamos, você vai daquele lado e eu desse... \/amos armar uma
emboscada e pegar esses larápios.

(O figurante sai de cena, e aparece em cena Eva, um pouco assustada e perdida, olha para todos os

lados da caverna. João a percebe e se esconde para observar a moça)

EVA

Ai Eva, você só se mete em caos... Tenta sair de um tumulo e agora se perde em outro. Onde será a saída desse lugar?

Nunca vi tanto mato e pedras em um só país... Minha nossa... O que é isso no meu ombro?

(Eva fica estática e em choque sentindo uma lagarta que está em seu ombro, quando percebe que é realmente

uma lagarta, começa a gritar pedindo socorro, João Pedro sai de seu esconderijo já rindo muito da moça e zombando)

JOÃO PEDRO

Olhem só minha gente, uma imigrante donzela fresquinha sendo devorada por um monstro de uma lagarta!!! ó CÉUS , SERÁ O SEU
FIM!?

EVA

POR QUE INVÉS DE ME FAZER DE CHACOTA, NÃO ME AJUDA? EU TENHO PAVOR DE INSETOS!

JOÃO PEDRO

Ah! mas está tão divertido ver isso, e por aqui nós não temos divertimento moça, por que eu acabaria com essa oportunidade?

EVA

EU ORDENO QUE TIRE ISSO DE MIM AGORA!

JOÃO PEDRO

EU NÃO SOU SEU ESCRAVO PARA SEGUIR SUAS ORDENS!

EVA

Você tem razão... Me desculpe... Por favor, eu imploro! Tire isso de mim ...

(O homem instantaneamente se desconcerta, sente compaixão e tira a lagarta do ombro da jovem)

JOÃO PEDRO

Prontinho, você está a salva!

EVA

Agradeço...

JOÃO PEDRO

Falei com a lagarta ...

 EVA

O Senhor é cheio de graça em Senhor... Senhor...

JOÃO PEDRO

João Pedro ... Esse é meu nome. E a senhorita, como se chama?

EVA

Eva... Eva Green !

JOÃO PEDRO

E o que faz perdida aqui sozinha na calada da noite, uma jovem "indefesa" como você? Não te alertaram sobre os perigos dessas
terras?

EVA

Coisa minha, e já não estou mais indefesa... Estou sobre seus cuidados agora. Será o meu tutor e me acompanhará até a saída desse
lugar senhor João Pedro.

JOÃO PEDRO

Cheia de dar ordens a donzela francesa...

EVA

Como sabe que sou francesa?

JOÃO PEDRO

Seus traços e resquícios da França e, claro que pelo o mais óbvio, seu sotaque. Uma índia ou escrava que você não seria. Embora não
pareça, eu sou estudado, formado em engenharia e sábio suficiente para saber que a senhorita não deveria estar aqui essa hora da
noite.

EVA

Eu sei... Sai de casa para tomar um ar e me perdi... O que seria uma índia?

JOÃO PEDRO

Está de brincadeira não é minha jovem?

EVA

Não... Não conheço nada dessas terras e estou aprendendo tudo aos poucos ...

(João estende a mão em direção a testa da moça que automaticamente se desvia com medo)

EVA

NÃO!

JOÃO PEDRO

Oras, se acalme ... Eu iria apenas limpar a fuligem das pedras que está sobre sua testa ...
 EVA

Desculpe... Foi um reflexo...

JOÃO PEDRO

Entendo... Permita me?

(O rapaz pela segunda vez, mas agora com cuidado estende a mão)

EVA

Tudo bem...

(João limpa a testa de Eva, e deslisa a mão sobre seu rosto com carinho, Eva fecha os olhos e

sente aquele carinho, mas logo em seguida cai em si e se afasta agitada)

EVA

Preciso ir agora!!!

JOÃO PEDRO

Calma, eu te levo até o caminho da saída... E pelo caminho eu te conto mais sobre índios

EVA

Então ... Vamos?

JOÃO PEDRO

Primeiro as damas...

AT02

CENA2

(Os dois saem de cena e entra em cena Maria Luz aflita)

MARIA LUZ

Meu Criador amado, cadê esse homem? Eu to quase engolindo esse terço inteiro de tão aflita. Se esse homem não voltar com esse
diário, eu estou perdida. O que vou dizer quando descobrirem que eu o deixei levar do convento algo que pertencia à falecida irmã
Sarah, que O Criador e ela me perdoem...

(João Filho bate entra em cena e bate na porta, a moça desesperada abre a porta)

MARIA LUZ

Misericórdia homem! Eu to quase cuspindo o coração no chão ...

JOÃO FILHO

Oras, por quê? Eu disse que devolveria, sou um homem de palavra!

 MARIA LUZ

Estou percebendo ... Mas e ai, encontrou alguma informação a mais?

JOÃO FILHO

Sim, no diário a irmã Sarah descreve muitas coisas, Eu realmente fui entregue ao convento pela tal Margareth Cooper e tudo indica que
ela era minha avó. Olhe, exatamente aqui ela fala detalhadamente sobre o dia em que cheguei:

(O Jovem lê para a freira)

JOÃO FILHO

"Olhei nos olhos daquela criança, indefeso, seus olhos pareciam que imploravam por socorro, dovo poro ver que aquela criança já
carregovo uma história de sofrimento e dor por perder a pai tão terrivelmente e par ser desprezada por sua própria mãe. Me apeguei a
ela no mesmo instante que a vi.

A mulher nos entregou apenas a criança envolvida em um terno e, que por sinal, bem surrado. Em uma das mangas do terno tinha as
iniciais "JP" escrito à mão que provavelmente a próprio dano escreveu. Parece ser de um homem pobre, mas para minha surpresa ,
dentro de um dos bolsos do terna , encontrei um colar de pedras lindas e que me parecem ser muito valiosas, estou verdadeiramente
tentada a ficar com ele, nin guém me �iu pegar, pra não levantar suspeitas, me livrarei desse terno e direi à todos que o colar foi
presente enviado à mim da minha fa I í/ia... "

MARIA LUZ

Nossa, pensando bem agora, eu sei que colar é esse! Ela guardava esse colar em uma gaveta no quarto dela. Sempre me perguntei por
que ela tinha uma joia, se nós não us1mos joias.

JOÃO FILHO

Então, essa tal irmã Sarah escondia muitos segredos pelo que li, e entre eles, que ela conhecia o Ovelha Negra e estava envolvida com
ele nos tráficos das crianças.

MARIA LUZ

Mentiraaaaa? Misericórdia homem, estou perplexa!

JOÃO FILHO

E com razão. Será que conseguimos ter acesso a esse colar?

MARIA LUZ

Até que sim, mas é bem arriscado, seria melhor a noite quando todos estão dormindo. Bom, eu posso tentar te ajudar a ter esse
acesso, mas você teria de vir pela madrugada e não podemos deixar que ninguém nos veja, senão eu sou uma freira morta e nem na
porta do céu eu chego por furtar uma irmã falecida ainda. Que Deus a tenha ou melhor, depois de saber essas coisas sobre ela, nem sei
mais se foi com Deus.

JOÃO FILHO

Se a irmã fizer isso por mim, eu terei uma dívida eterna contigo...

MARIA LUZ

Vamos homem, você precisa ir antes que nos peguem aqui. Volte amanhã por volta das duas da manhã. Estarei aqui na porta te
aguardando.
 JOÃO FILHO

Aqui está o diário...

(Maria luz ao pegar o diário arranca as paginas e devolve para João Filho)

MARIA LUZ

Pegue, fique com essas páginas, elas são parte de sua vida, a irmã Sarah tem essa dívida contigo...

JOÃO FILHO

A irmã realmente não existe, é um anjo...

MARIA LUZ

Vamos homem, vá! Volte amanhã e seja pontual!

JOÃO FILHO

Combinado...

(João ensaia sair, mas retorna agradecido)

JOÃO FILHO

Irmã Maria Luz...

MARIA LUZ

Sim...

JOÃO FILHO

Mais uma vez obrigado... Não sei por que, mas você me traz paz e uma segurança enorme! Seu rosto reflete uma luz muito intensa.

(A freira fica desconcertada, mas responde tentando despistar)

MARIA LUZ

Agradeço o elogio... Todas nós, IRMÃS! Somos portadoras da luz do Criador. Agora vá, por favor!

(o homem sai às pressas, a irmã fecha a porta, mas suspira encostada na porta)

MARIA LUZ

Maria Luz do Céu, o que está acontecendo contigo mulher? Que o Criador me perdoe, mas não to conseguindo me segurar. Esse rapaz
está mexendo comigo... Já estou fazendo loucuras, Ai ai Maria Luz, reze, reze muito. Acho que preciso me confessar, preciso procurar o
padre Bento, não posso dar corda para isso, seria o meu fim. Por outro lado, que fim... Santíssimo sacramento, que homem é esse...
 AT02

CENA3

(A freira sai de cena e já voltamos em 1850, os contra regras trazem a mesa e nela Eva se senta e começa a escrever)

EVA

"Querido poi... Não sei por qual motivo, não responde minhas cortas e não tenho qualquer notícia suo e se estiver com raiva de mim
pelo que tenho escrito, peço que me perdoe. Apesar de tudo estou sendo extremamente sincero contigo, pois o homem que me casei é
um monstro, cada dia que passa fica insuportável nossa convivência, porém conheci o João Pedro e ficamos muito amigos, o João é
diferente, ele é gentil, educado, mesmo sendo provocador, ele tem uma enorme sensibilidade e é cheio de vida, a princípio ele não sabia
quem eu era e muito menos que eu era casada, até que... "

(A moça sai de cena olhando para Josh que entra em cena, junto às escravas que preparam tudo)

JOSH

Zuri, onde está minha mulher?

ZURI

Está terminando de se arrumar patrão. Ela já, já vem...

JOSH

Tudo tem que dar muito certo hoje, receberemos lrineu Evangelista e todos os colegas do projeto da ferrovia, e esse momento será
memorável e muito importante para meu prestígio.

(Amara entra em cena)

AMARA

Patrão, o Sr João Pedro acabou de chegar, o primeiro convidado.

JOSH

E o que está esperando? Mande o entrar...

(Amara sai pela porta e em alguns segundos en_tra com João Pedro)

JOÃO PEDRO

Soa noite, à todos!

JOSH

Senhor João Pedro, boa noite! Nosso primeiro convidado! Seja bem vindo!

JOÃO PEDRO

Agradecido! Estava lá fora já apreciando os traços e formatos neoclassicistas da estrutura de sua fazenda.
 JOSH

Bonito não é mesmo? Mandei construir inspirado na construção do Palácio do ltamaraty.

JOÃO PEDRO

SIMMM! Exatamente! Me lembrou muito, e eu admiro muito o trabalho do senhor Francisco Leão, o Palácio do ltamaraty está ficando
fantástico. Sua fazenda também, senhor Josh! É além de bonita, confortável e vocês têm bom gosto!

JOSH

Agradecido fico meu rapaz, gentileza sua.

JOÃO PEDRO

Digo vocês, porque acredito que a senhora sua mulher deve ter sua parcela de culpa na beleza toda desse lugar, afinal, sabemos que
por trás de todo grande homem, existe a influência de uma grande mulher

JOSH

Minha mulher opina em minha casa apenas na parte que compete à ela opinar senhor João Pedro. Mulheres não podem ter muitas
liberdades, conhecimento e autoridade, se é que me entende. Devem ser mantidas entretidas cuidando de nossos jantares, escravos e
filhos, os futuros homens que darão continuidade em nossos trabalhos e construção de nosso país

(João Pedro desconcertado com o machismo de Josh tenta mudar de assunto)

JOÃO PEDRO

Entendo perfeitamente Sr Josh ... À propósito, tenho estudado a engenharia do mecanismo do trem, e encontrei algumas
irregularidades, isso pode prejudicar futuramente comprometendo o bom funcionamento, se o Sr me permite ...

JOSH

Irregularidades? Eu mesmo aprovei esse projeto Sr João Pedro, não admito o Sr entrar dentro da minha casa para falar mal do meu
trabalho, um mero engenheiro que deve ter as piores formações!

JOÃO PEDRO

Nossa, se acalme Sr Josh ! Era só uma sugestão... Aguenta o coraçãozinho ai, se não, não chegará aos 198 anos

(Zuri entra em cena com alguns canapés e os servem)

ZURI

Senhores, alguns canapés, são ótimos para acalmar os ânimos?

(Os dois se servem, João Pedro elogia, porém Josh ao morder coloca de volta na bandeja)

JOÃO PEDRO

Nossa, que delicia, isso aqui está muito bom mulher!

 JOSÍ-1

Estou realmente espantado com o mal gosto do senhor Sr João, isto aqui está uma porcaria, nem se eu der para os cachorros eles
aceitarão comer. Devolve isso na cozinha escrava e refaçam.

(O homem extremamente irritado toma a bandeja da mão de Zuri e lança longe. João Pedro fica espantado

com a atitude de Josh, Eva chega nesse momento)

EVA

Boa noite senhores, desculpem o atraz... Não acredito!

(Exclama espantada quando se depara com João)

JOÃO PEDRO

Boa noite, Senh...ORITA! NÃO ACREDITO!

JOSH

O que está acontecendo aqui? Vocês parecem até que se conhecem!

(João Pedro começa a juntar as peças e tenta concertar)

JOÃO PEDRO

Não acredito que estou vendo no Brasil esse tecido maravilhoso. Só vi um desses na França, onde eu me formei e me especializei.

(João Pedro fala isso ao tocar o vestido de Eva e volta o olhar arregalado para Josh)

EVA

Éh... Parece que ouvi gritos senhor, meu marido ... está tudo bem?

JOÃO PEDRO

Sim, MARIDO DELA, está tudo bem?

JOSH

Não poderia estar melhor ...

(Responde o homem, ironicamente) (Uma trilha de valsa começa a tocar)

JOÃO PEDRO

Olha vejam só, os músicos finalmente começaram a tocar, o que é uma festa sem música não é mesmo senhores? Agora o espetáculo
está completo, palco e música. Ér ... Sr Josh, conceda a honra de dançar essa valsa com a anfitriã da casa, sua esposa?

(Josh olha para o rapaz enraivecido, mas se contêm)

 JOSH

Claro Sr João Pedro... Fique à vontade... Vou até o armazém da casa buscar meu melhor vinho para tirar esse gosto de lavagem da boca.
Com vossa licença ...

{João Pedro tira Eva para dançar e no embalo da coreografia ele a questiona)

JOÃO PEDRO

Então a lagartinha mimada na verdade é uma borboleta que escondeu as asas?

EVA

Não sei do que está falando Sr João Pedro...

JOÃO PEDRO

Ah sabe, sabe sim! Por que não me disse que era casada e ainda com o meu "Chefe"?

EVA

E com que direito me cobra satisfações Sr João Pedro, não me disse que tinha se formado e se especializado na França.

JOÃO PEDRO

Não disse porque não é verdade. Só criei essa mentira pra disfarçar e pra fazer inveja pro seu marido insuportável que perdoe a
expressão da palavra, só fala bosta ...

EVA

Olha, vejo que pelo menos isso nós concordamos. Mas com todo o respeito Sr João Pedro, eu nem o conheço direito, não te devo
satisfação nenhuma da minha vida!

JOÃO PEDRO

Mas como você é tinhosa não é mesmo? Quero ver essa braveza toda quando chegarmos perto daquela lagarta ali. ..

{A jovem se assusta que até para a dança.

EVA

ONDE!?

(João Pedro gargalha e se diverte, mas retoma a dança)

JOÃO PEDRO

Estou brincando senhorita ... A propósito, com todo respeito, está radiante hoje! Nunca vi uma mulher mais bela...

EVA

Nunca sei quando está falando sério ou está só a brincar comigo Sr João Pedro.

JOÃO PEDRO

Nesse momento, nunca falei tão sério e sincero em toda minha vida. Eu diria até que estou encantado e desconcertado diante de tanta
beleza.
 EVA

Não se esqueça que sou uma mulher casada e que meu marido está inclusive por perto

JOÃO PEDRO

Cães que esbravejam, não arrancam pedaços senhorita Eva. E a propósito, você então deve amá-lo muito não é mesmo? Porque ele me
parece ser um marido maravilhoso, gentil e sensível como o coice de um cavalo

(Fala João com tom de ironia. A jovem não consegue responder}

JÓÃO PEDRO

Não é senhorita Eva? Ama muito seu esposo?

(Amara entra em cena com a bandeja, Eva estranha e aproveita para se esquivar da pergunta de João Pedro}

EVA

Amara? Onde está Zuri?

AMARA

Está na cozinha sinhá... Refazendo os canapés aos prantos ...

EVA

Refazendo? Aos prantos? Mas o que ouve?

Com sua licença Sr João Pedro, preciso ir ver o que está acontecendo com minha amiga...

(Eva deixa o rapaz que resmunga)

JOÃO PEDRO

Que esperta ... Mas da próxima, não me escapa ...

AMARA

Disse algo Senhor?

JOÃO PEDRO

Ah... É, Amara né?

AMARA

Sim senhor...

JOÃO PEDRO

E aí, está curtindo a festa? Monótona né?

AMARA

Aqui eu sou apenas a escrava senhor.

 JOÃO PEDRO

Certo, me diga, onde fica a senzala de vocês?

AMARA

Nos fundos da fazenda senhor...

JOÃO PEDRO

Pode me levar até lá?

AMARA

Posso, mas por que o senhor iria querer deixar essa festa luxuosa para ir até uma senzala se misturar aos escravos?

JOÃO PEDRO

Oras, mas ninguém nesse mundo sabe se divertir melhor como os escravos. Amo estar no meio de vocês, futuramente esse será o
Brasil, nossos filhos se misturarão, nossos netos, então já se acostume. Ande, me leve até lá...

AMARA

Com todo o respeito, o Senhor é meio doido né... Fala coisas que são impossíveis, mas enfim, vamos lá...

(Os dois saem de cena entra em cena pelos fundos do publico Zuri com uma bacia e amassando sua massa de canapés, a

escrava amassa e chora. Se senta na beira do palco e entra em cena Eva pelos fundos do palco a chamando)

AT02

CENA4

EVA

ZURI? ZURI?... ONDE ESTÁ VOCÊ MINHA AMIGA?

(A escrava tenta limpar as lagrimas e disfarça)

ZURI

Estou aqui Sinhá, precisa de algo?

EVA

Claro, preciso sim... Preciso saber se você está bem!? É importante para mim estar segura ·de que você esteja bem minha amiga!

(Eva se senta ao lado da escrava)

ZURI

Como pode você e o patrão serem tão diferentes sinhá?

 EVA

Essa é uma pergunta que me faço todos os dias Zuri. E quanto mais eu tento encontrar uma resposta, mais eu me perco na dúvida.

ZURI

Consigo sentir a maldade no espírito desse homem sinhá, ele não é para você ... A sinhá tem a alma boa e generosa, merece alguém que
te traga a felicidade de bandeja.

EVA

Eu gostaria de ter sentido isso antes de chegar ao altar com ele. Aliás, nós merecemos coisas melhores minha amiga ... Pois ainda assim,
vejo que vocês sofrem muito mais do que eu! Mesmo nas mãos desse homem tão duro de coração, ainda tenho minhas regalias, mas
vocês, estão condenados a viver nesse tormento sem qualquer regalia. E eu fico aflita sem poder fazer natla por vocês, me dói o
coração.

ZURI

Anos que venho plantando minhas lágrimas pelo caminho sinhá, e delas nasce a história de um povo marcado por sua cor, e ainda
assim, sinto que nossa saga atravessará o tempo e essa história está longe de terminar.

EVA

Zuri... O que você faria se fosse liberta de tudo isso?

ZURI

Voltaria para meu país sem olhar para trás sinhá...

EVA

Não te agradaria viver livre no Brasil?

ZURI

Aqui sinhá? Aqui será difícil sermos livres de verdade. Ainda que todos nós fossemos libertos, para onde iriamas? Nenhum pedaço de
chão desse país tão grande é nosso. E mesmo que nossa liberdade fosse gravada em um pedaço de papel, o preconceito da sociedade
ainda seriam as correntes que nos amarram, a ausência de privilégios seriam as cadeias que nos prendem e a discriminação o chicote
que nos fariam sangrar dia após dia. Os homens de cor de pele branca sempre terão as melhores terras, as melhores casas, os melhores
empregos e privilégios. Nossos filhos sempre estarão as sombras dos filhos de vocês, nas escolas e nas profissões e isso atravessaria o
tempo como uma lança que sempre rasgaria esse país em dois, o negro e o branco

EVA

Existe uma maneira de te libertar com algum documento então? Meu marido nunca mencionou...

ZURI

Sim, chama se carta de alforria, no caso de vocês que são casados, precisa ser feita em comum acordo do casal sinhá, então não é
proveitoso para ele te dar essa informação. E mesmo que você quisesse, ele se recusaria assinar essa carta. Outra maneira seria eu
comprar a minha própria carta.

EVA

Mas como? Como se você não tem um salário, um estudo, uma profissão?
 ZURI

Muitos escravos juntam ouro que encontram nas minas e escondem para comprar sua alforria. Alguns parcelam sua liberdade, mas se
não conseguem pagar alguma parcela, voltam a serem escravos.

EVA

Tudo isso é lamentável, é mesquinho e corrupto. Que futuro amargo que o Brasil está criando para seus filhos e os filhos de seus filhos,
eu sinto repulsa por obrigatoriamente fazer parte de tudo isso... Mas a gente vai conseguir Zuri, vamos dar um jeito, você vai ver!

(Amara chega em cena)

AMARA

Gente, aquele tal João Pedro é bonito o homem, mas não tem nenhum parafuso no lugar o pobre. Imagina vocês, trocar uma festa
chique aqui na casa, para ir ficar dançando com os escravos na senzala.

EVA

O que?

AMARA

Ta lá ele, pulando feito uma perereca no meio dos escravos e o pior que ele ta é se divertindo.

(As três riem e Eva indaga)

EVA

Eu preciso ver isso, me levem até lá!

AMARA

Tá doida? Se o patrão te pegar lá, vai ficar furioso!

EVA

Ele tá entretido na festa massageando o ego dele, não está riem se importando com minha existência, vamos me levem! Aliás, vamos
todas, nós também merecemos nos divertir!

ZURI

Mas não podemos ir sinhá, quem servirá os convidados do patrão?

EVA

Será coisa rápida Zuri, e eu mesma ajudarei vocês depois a servir, vamos, por favor!!!

ZURI

Está bem!!!
 EVA

Maravilha, vamos meninas!

(Todas saem de cena, pelo corredor do público E ao mesmo tempo João Pedro entra em cena com os escravos

Figurantes dançando e tocando seus tambores. As atrizes devem dar a volta por fora e em seguida voltarem

Para a cena)

JOÃO PEDRO

O QUE FAZ AQUI FRANCEZINHA?

EVA

O MESMO QUE O SENHOR SR JOÃO PEDRO, VIM PROCURAR O ÚNICO LUGAR ONDE ME SINTO LIVRE DE VERDADE, E POR INCRÍVEL QUE
PAREÇA É EM UMA PRISÃO!

JOÃO PEDRO

E O SENHOR SEU MARIDO SABE QUE ESTÁ AQUI?

EVA

NÃO SABERÁ, SE NÃO CONTARMOS, O SENHOR ME VIU AQUI SENHOR JOÃO?

JOÃO PEDRO

IMPOSSÍVEL NÃO TE NOTAR SENHORITA EVA GREEN, SUA BELEZA IRRADIA QUALQUER LUGAR QUE VOCÊ PASSA, MAS SE ME
PERGUNTAREM EU MORREI NEGANDO E MENTINDO!

(Os dois dançam e sorriem em meio a música, Os escravos e os tambores e no som da trilha

Deve aparecer a voz de Eva finalizando sua carta ao pai)

EVA

"E foi assim querido pai, que nas tornamos próximos e omigos. Aquele dia foi libertador em todos os sentidos, toda oquela gente em
nossa valta, alhar cada um daqueles rostos, mesmo que sofridos e marcados pelo dor, oindo ossim naquele momento conseguiam sorrir
e se alegrarem com tão pouco. Isso codo vez mois diminuiu os meus problemas e percebi que o que eu passava diante daquele
sofrimento todo não ero nodo. Eu desejo de todo meu coração que um dio esse povo receba de verdade toda a liberdade que merecem,
que lutem e alcancem seus sonhos e ideais, que não desistam e tenham sempre fé. Que ocupem aos poucos cada lugar que eles
merecem por direito, o direito que os dá por tornar o Brasil o que um dia se tornará, pois esse imenso país será sempre marcado pelo
sangue e suor desse povo e sempre terá uma enorme dívida com eles, e não importa o tempo e os anos que se passarem, que essa
chama nunca se apague e um dia essa dívida seja realmente pago e que eles e vossos filhos possam chegar tão longe a ponto de serem
governadores de suas próprias vidas"

(Os atores deverão tentar, nessa mesma energia e alegria, chamar algumas pessoas de cor de pele

negra e cor de pele branca do público para participarem dessa cena e ao final dela, todos devem

Encerrar a cena aplaudindo. A deixa para o público voltar para seus lugares é os atores

Se despedirem e agradecer pela participação)

 AT02

CENAS

(Voltamos à 1910, João Filho entra pela porta do convento e fala com Maria Luz que

coloca apenas a cabeça para fora da porta segurando um castiçal de velas)

JOÃO FILHO

Você tem certeza de que todos estão dormindo?

(Maria Luz coloca a cabeça do outro lado da porta)

MARIA LUZ

Certeza absoluta, eu não tenho! Até mesmo porque é muita gente para eu conferir se está dormindo. Mas eu tenho fé ...

JOÃO FILHO

Amém, Onde é a tal sala?

MARIA LUZ

Você precisa seguir o corredor esquerdo, é a última sala, eu já deixei aberta, tem uma mesa e nela uma gaveta. A chave fica escondida
embaixo do tapete. É provável que a joia esteja dentro dessa gaveta.

(Enquanto os atores falam, os contra regras colocam os móveis citados na cena. João Filho

vai até o local e faz toda a encenação para pegar a joia)

JOÃO FILHO

Olha só você ... Como é linda... Quantos segredos você esconde em cada brilho e em cada pedra dessa, qual das mãos que um dia te
acariciou, é a mão que me amou e a mão que me desprezou?

(João tem seu momento de emoção, mas em seguida é

interrompido por Maria Luz eufórica)

MARIA LUZ

AZEDOU O VINHO INTEIRO DA SANTA CEIA!

JOÃO FILHO

Que houve?

MARIA LUZ

A madre Bel mira acordou e está pelos corredores fazendo vigília! Precisamos sair daqui!

JOÃO FILHO

E agora!! Para onde iremos?

MARIA LUZ

Vamos até meu quarto que é aqui perto, ficamos escondidos lá e quando ela voltar a dormir você vai embora!
 (Algum contra regra deve fazer efeitos de luz de lanterna enquanto os dois vão até o "quarto")

MARIA LUZ

Aqui estamos seguros por um tempo, você conseguiu pegar a joia?

JOÃO FILHO

Sim, está aqui... Olhe como é linda!

MARIA LUZ

É, é essa mesmo, e ela é linda sim, sempre a admirei. Mas será que pertenceu à sua vó ou sua mãe?

JOÃO FILHO

Isso sim é um mistério. De qualquer forma, agora que sei que minha mãe biológica me rejeitou, só reforçou ainda mais o meu amor
pela minha mãe adotiva. Agora mais do que nunca, sei que ela sempre foi e sempre será a minha única mãe

MARIA LUZ

É tocante a forma que fala de dela com tanto carinho e se arriscar tanto para levar respostas à ela

JOÃO FILHO

Se você pudesse conhecer um dia a Magestosa Eva, veria o quanto ela é uma mulher extraordinária! Ela sempre ficou confusa do
porquê eu pareço tanto com meu pai adotivo, e realmente nós somos extremamente parecidos. Ela tinha um filho que morreu, mas
nunca chegou a me contar a história a fundo, mas ela sempre insistiu para que eu viesse em busca de respostas do meu passado, pois
segundo ela, meu passado traria muitas respostas sobre o passado dela. Nunca entendi o que teria a ver, mas cá estou...

MARIA LUZ

Bom, De qualquer forma, leve o colar, é a única coisa que você tem da sua origem, e é justo!

JOÃO FILHO

Você tem certeza disso?

MARIA LUZ

Sim... Ele te pertence e finalmente está com quem deveria estar!

JOÃO FILHO

Não tenho nem palavras para te agradecer por tudo que fez por mim. As páginas, agora o colar, se arriscou tanto por mim...

(João se aproxima de Maria Luz)

MARIA LUZ

Só fiz o que era correto e justo fazer. Bom, acho que é aqui que nos despedimos então né?

(A irmã está emocionada e emociona João)

 JOÃO FILHO

Infelizmente sim... Mas para falar a verdade, eu não estou conseguindo ir... Eu não tenho a menor vontade de me afastar de você...

(O Homem toca o rosto da freira que fecha os olhos )

MARIA LUZ

O que está fazendo Sr João... Você não deveria...

JOÃO FILHO

Por que não deveria?

MARIA LUZ

Porque não é certo...

JOÃO FILHO

A essa altura que estamos, o que é certo? Chegamos até onde chegamos e nada do que fizemos foi certo até agora, a não ser sentir o
que estamos sentindo aqui. Acho que o que estamos de fato sentindo nesse exato momento é o que é mais certo de tudo que
aconteceu nesses últimos dias

MARIA LUZ

E o que estamos sentindo Sr João?

JOÃO FILHO

Tem certeza de que não sabe?

MARIA LUZ

Claro que sei... Mas o Sr sabe que não podemos sentir isso

JOÃO FILHO

E por que não podemos?

MARIA LUZ

Porque é pecado?

JOÃO FILHO

Não, é amor...

MARIA LUZ

É PECADO!!

JOÃO FILHO

É AMOR...
 (Maria Luz segura a mão do homem instantaneamente abre os olhos seria e olha para os olhos de João,

rapidamente 9 puxa e dá um abraço apertado nele)

MARIA LUZ

ENTÃO NÃO VÁ! ENTÃO FICA!!! FICA POR FAVOR, EU PRECISO DE VOCÊ! PORQUE VOCÊ ME ENSINOU A AMAR E AGORA PRECISA ME
ENSINAR A CONVIVER COM ESSE AMOR E DESFRUTAR DELE...

(Os dois choram emocionados, quando se afastam se olham ede forma instantânea se declaram juntos)

MARIA LUZ E JOÃO FILHO

Eu AMO VOCÊ...

(A luz apaga devagar e dá espaço ao Blecaute)

AT02

CENA6

(Eva entra em cena com seus materiais de escrita, se coloca a escrever uma mensagem, mas para, rasga a

folha e amassa. Triste a moça se queixa)

EVA

Por que ele não me responde? O que eu fiz para você meu tão amado pai? Eu sinto tanta sua falta, tenho tantas coisas para te contar...

(Josh chega instantaneamente e assustada, ao perceber, Eva tenta disfarçar, mas o homem a questiona)

JOSH

O que tanto você escreve? Aliás, o que tanto você me esconde?

EVA

Não é nada meu marido... Apenas coisas de mulher...

JOSH

Suas saídas e passeios também são apenas coisas de mulher?

EVA

Saídas? Não sei do que está falando. Desde que cheguei fui proibida de sair sequer um passo da porta de casa. Você não me deu opção
e regalias de passeio algum...

(Josh já alterado, puxa Eva pelo braço e trás para si)

JOSH

EU TENHO CARA DE IDIOTA SENHORITA EVA? EU SEI QUE PELAS MINHAS COSTAS VOCÊ ANDA SAINDO DE CASA, E NÃO ADIANTA ME
ESCONDER, EU IREI DESCOBRIR POR ONDE VOCÊ ANDA MAIS CEDO OU MAIS TARDE!
 EVA

Solte me! Está me machucando ...

JOSH

Tenha cuidado comigo Srt Eva, minha amada esposa. Você não sabe do que sou capaz!

(Em tom de ameaça)

EVA

Consigo ver em seus olhos do que você é capaz meu marido. Nem me é necessário tal ameaça! Mas não tenho medo do senhor...

(Josh, já furioso)

JOSH

AH NÃO? VAMOS VER ENTÃO, VAMOS RESOLVER ISSO DA MELHOR FORMA. JÁ QUE PROIBINDO VOCÊ NÃO SABE OBEDECER, TEREI DE
TOMAR OUTRAS MEDIDAS!

EVA

O SENHOR MEU MARIDO, FAÇA O QUE FIZER, JÁ NÃO ME AFETARÁ MAIS COMO ANTES

(O homem começa a arrastar Eva que reluta. As escravas chegam nesse momento)

EVA

O QUE ESTÁ FAZENDO? ME LARGA!

(Eva dá uma mordida no braço do homem que grita e lança a moça ao chão)

JOSH

É ISSO QUE VOCÊ É, VOCÊ É UMA DELAS, UM ANIMAL QUE MORDE E UIVA!

ZURI

O QUE HOUVE SINHÁ?

JOSH

NÃO SE ENTROMETA ESCRAVA! SAIAM DA MINHA FRENTE! MINHA AMADA ESPOSA VAI PASSAR UNS DIAS TRANCADA NO CALABOLÇO,
ELA ESTÁ CADA VEZ MAIS PERIGOSA E SE COMPORTA COMO UM BICHO, PRECISA DE UM TEMPO PARA REFLETIR UM POUCO EM SEUS
ATOS! TODOS ESTÃO PROIBIDOS DE IR ATÉ LÁ, O PRIMEIRO QUE CRUSAR AQUELA PORTA, MORRE!

(As escravas se desesperam e choram Eva chora e tenta acalmar as escravas)

EVA

NÃO SE PREOCUPEM MENINAS, EU FICAREI BEM!

{Todos (COREOGRAFICAMENTE) saem de cena nesse caos, (Antes de saírem, os escravos devem cobrir todos

os móveis com panos brancos), pela porta deve entrar João Neto e Carmecita)
 CARMECITA

Nossa, parece que o tempo congelou nessa casa...

JOÃO NETO

Segundo minhas pesquisas, ela não é habitada desde a 1858...

CARMECITA

Mas por que me trouxe até aqui papagaio? Quem morou aqui?

JOÃO NETO

Pesquisei sobre a tal Margareth Cooper, e pelos registros ela morou aqui em 1855, e adivinha?

CARMECITA

Não creio! Seus pais moraram aqui com ela?

JOÃO NETO

Me parece que sim. Sim, segundo alguns idosos da região que foram dessa época, disseram que ela tinha um filho inglês chamado Josh
e que era casado com uma mulher francesa chamada Eva. Mas disseram que a tal Eva não era muito sociável e nunca saia de casa para
nada. Dizem que ela não se misturava com ninguém e que o Josh se queixava muito dela.

(Enquanto falam, os escravos entram novamente em cena e retiram os lenções dos móveis e atuam arrumando a casa)

CARMECITA

Quando é assim, a mulher devia ter o sangue ruim na veia. Ops, desculpa falar assim, sei que pode ser que estejamos falando de um
parente seu...

JOÃO NETO

Relaxa, é bem provável que o tal Josh e a mulher, sejam meus avós e que essa minha avó deveria ser mesmo osso duro de roer,
disseram que é por isso que meu avô Josh trouxe a mãe, que no caso seria minha bisavó a tal Margareth para morar junto com eles, e
tentar domar a fera!
 (Os dois olham para a porta, e entra em cena Margareth com sua mala, assim que abre a porta

os dois outros atores saem de cena)

MARGARETH

JOSHHHHH! CHEQUEI MEU AMADO FILHO! VEM RECEBER SUA MÃE!

AMARA

Olá senhora, bom dia!

MARGARETH

Não se dirija a palavra à mim escrava, sem que eu lhe pergunte algo! Tome minha mala e leve para meus aposentos, chamem meu
filho, diga que eu cheguei!

E você? Deve ser a tal Zuri! Onde está a sonsa da minha nora?

ZURI

Faz 15 dias que o patrão a mantém trancada no calabouço. Ele só permitiu que levássemos pão e água depois de 5 dias. A coitada está
pálida e sofrendo, ajude ela!?

MARGARETH

Se meu filho tomou essa decisão, foi porque ela mereceu. Deve ter dado um bom motivo para tal castigo! Uma mulher que se preze,
deve obedecer seu marido e agrada lo em tudo, caso contrário, o marido deve fazer o que for preciso para colocar cabresto em sua
mulher e controla-la.

(Josh entra em cena)

JOSH

Minha amada mãe, que saudade! Como foi de viagem?

MARGARETH

Uma tormenta, não me dou bem com viagens em navios, você sabe!

JOSH

Deve estar exausta! Zuri, prepare um banquete para minha mãe e um banho relaxante. A partir de agora, ela será a mais nova dona
dessa casa!

MARGARETH

Oras meu filho, não me coloque acima de sua mulher, o que irão pensar de mim? À proposito, onde ela está? Estou com saudades de
minha amada nora ...

JOSH

Está de castigo minha mãe, infelizmente foi a única maneira que encontrei para controlar a fera.

MARGARETH

Castigo meu filho? Que crueldade a sua, existem outras maneiras de se controlar uma mulher. Coitada de sua esposa, preciso vê la!
 JOSH

Claro minha mãe, mas não quer se alimentar e descansar antes?

MARGARETH

A saudade que tenho dela, é mais importante meu filho! A partir de agora, deixe ela comigo, ensinarei bons modos e tudo será uma
questão de tempo para ela se comportar como se deve, tudo que ela precisa é da presen ça de uma mãe que oriente ela, confie em
mim!

JOSH

Está bem minha mãe, a senhora é uma santa... AMARA!?

(Entra em cena a escrava cansada)

AMARA

Chamou patrão?

JOSH

Leve minha amada mãe para ver minha esposa, e deixe que ela agora se encarregue de soltá-la e lhe mostrar como ser a esposa
perfeita!

MARGARETH

Vamos escrava, não ouviu seu dono? Pegue pão e água e me leve até minha nora!

(As três saem de cena, permanece apenas Josh que resmunga)

JOSH

Espero que agora tudo melhore, e que minha esposa seja uma esposa de verdade! Onde estava com a cabeça em me casar com uma
mulher rebelde assim? O que tem de linda e atraente, tem de arisca ...

(O homem se retira de cena. Acontece um breve blecaute e entra em cena com um lampião, Margareth e as escravas)

MARGARETH

EVA? EVA, MINHA FILHA? ONDE ESTÁ?

(Eva fraca mal tem forças para responder, está su j a, descabelada, desnutrida e amarrada à correntes)

MARGARETH

Mas olhe só para você! O que foi que o maluco do meu filho te fez?

EVA

Senhora ... Me ajude... Não me deixe morrer aqui...

 (Margareth pega o pedaço de pão da bandeja de Amara e ao invés de dar para Eva, ela come

enquanto dialoga)

MARGARETH

Ai Eva, você precisa aprender a lhe dar com os homens mulher! Uma mulher tem de ter sabedoria para contornar a ira de seu marido,
se não, olha só onde você veio parar ... Lamentável...

(Eva se queixa de sede e pede água)

MARGARETH

Ah, que indelicadeza a minha, você deve estar morrendo de sede né, vamos te darei água!

(A mulher pega o copo de água da bandeira e quando se aproxima, tapa o nariz e trava)

MARGARETH

UOWWW ... Mas a quantos dias você não toma banho? Que cheiro horrível que vem de você, essa água será mais útil para te banhar!

(A mulher derrama a água sobre a cabeça de Eva, e a molha)

MARGARETH

Pronto, agora sim. Ah, mas olha que cabeça a minha, não sobrou nenhuma gota! Vamos escravas, vamos buscar mais água e amanhã
retornaremos para tirar Eva desse tumulo!

(As escravas indignadas tentam intervir por Eva e levam um grito de Margareth)

MARGARETH

CALEM A BOCA SUAS IMUNDAS, OU QUEREM FICAR AQUI FAZENDO COMPANHIA PARA ELA? SAIAM DAQUI!

(Todas saem de cena e permanece Eva em seu monologo)

EVA

Onde ele deve estar agora? Será que me procura? Sente .falta de mim ou já se esqueceu de mim? Tantos dias aqui, ele provavelmente
se esqueceu que existo...

(João Pedro entra em cena pelo outro lado do palco pensativo)

JOÃO PEDRO

Onde será que ela está? Não vem me ver há dias e sinto tanto sua falta... Apesar de nunca termos nos tocado amorosamente e nem se
quer um beijo, sonho todos os dias com seus lábios. É a mulher mais pura que eu já conheci.

EVA

Ele é tão gentil, carinhoso e respeitador. Queria tanto que estivesse aqui comigo e me arrancasse sorrisos como sempre fez. Seria
impossível ficarmos juntos, e mesmo sem nunca nem termos nos beijado, ele sim me mostrou o que é ser amada de verdade ...

EVA E JOÃO PEDRO

SIM ... EU O� AMO...

(João Pedro cai em sí e resolve ir atras de Eva)

 JOÃO PEDRO

Não posso ficar aqui esperando ela aparecer, preciso ir vê la, arrumar qualquer desculpa e ir até a casa daquele insuportável do
arquiteto. É isso que farei... Irei até ela...

(O ator sai de cena e permanece apenas Eva em cena)

EVA

Ele poderia vir até mim, me tirar daqui e me levar com ele. Atravessar essa porta como um herói dos contos e me salvar de tudo isso...

(Eva ouve o barulho de chaves na porta do calabouço e esperançosa se levanta animada achando que pode ser

João Pedro)

EVA

Será? Você veio?

(Porém entra pela porta Josh e Eva não consegue esconder sua decepção)

JOSH

Vamos... Vou te tirar daqui...

EVA

O senhor meu marido resolveu ser bondoso a essa altura?

JOSH

Pare de me provocar mulher ... Estou tentando melhorar as coisas entre nós e minha mãe me aconselhou a vir te tirar daqui

EVA

Agora sua mãe viverá entre nós?

JOSH

Aceite ela como se fosse sua mãe também, vocês duas podem ser amigas, minha mãe tem muito à te ensinar.

EVA

Como por exemplo ser capacho do meu marido?

JOSH

Se desarme Eva, não me tira do sério ... Vamos, venha...

(Após desatar as correntes, o homem estende sua mão E Eva mesmo relutando pega na mão

do homem, os dois saem de cena E quando os atores entrarem pela coxia, a luz do palco ascende na

Porta da fazenda, pois alguém bate à porta e Margareth perto da porta aguarda as escravas vir abrir)

MARGARETH

ONDE ESTÁ A CRIADAGEM DESSA CASA? ANDA SUAS INÚTEIS, VENHAM LOGO ABRIR ESSA PORTA!
 (Amara entra em cena e vai atender a porta. Quando abre, é João Pedro)

JOÃO PEDRO

Olá, boa noite senhoritas! Eu poderia ter uma palavrinha com o Sr Josh?

(Margareth logo que vê o rapaz se mostra bem interessada)

MARGARETH

Deixe o rapaz entrar escrava... E o Sr, qual sua graça?

JOÃO PEDRO

Me chamo João Pedro, à seu dispor... Eu sou engenheiro e trabalho na construção da linha férrea com o sr Josh!

MARGARETH

Ah sim... Meu filho não chegou a comentar que seus colegas de trabalho são tão interessantes assim... Quando se trata desse tipo de
trabalho, imaginamos homens de pele horrível destruída pelo sol ou escravos imundos. Mas o Sr até que está formoso para trabalhar
assim... Sr... João

JOÃO PEDRO

Éh .. Agradeço o elogio, se foi um elogio...

MARGARETH

Pode se dizer que sim... E aproveita que não sou de fazer elogios.

(Josh entra em cena com Eva envolta em um lençol)

JOSH

Sr João Pedro? O que faz essa hora em meus aposentos?

(Eva se espanta ao ver o rapaz)

JOÃO PEDRO

Sr Josh, senhorita Eva... Eu precisava dar uma palavrinha com o Sr, mas me parece que não chequei em boa hora... Está tudo bem? A
senhorita Eva parece bem abatida...

(Eva abre a boca, mas antes de se pronunciar, Margareth a corta)

MARGARETH

Minha nora está indisposta hoje sr João Pedro, coisas de mulher, sabe como é né? Acho melhor o sr voltar uma outra hora... Todas as
atenções de meu filho agora, precisam ser de sua esposa.

(João Pedro ainda tenta teimar, mas é interrompido por Josh)

JOSH

Minha mãe tem razão Sr João Pedro, não é um bom momento e peço que compreenda e respeite. Amanhã eu irei até a linha férrea e lá
conversamos sobre o que tem à me dizer. Por hora, precisamos de privacidade, tenha uma boa noite!

(Josh coloca o rapaz para fora praticamente, e fecha a porta)

 JOSH

Chato e inconveniente ... Preciso dar um jeito de fazer o Barão demitir esse sujeito

MARGARETH

Deixa o pobre Josh, o rapaz só estava preocupado com nossa amada Eva ... Com esse rostinho de anjo, quem não se preocuparia não é
mesmo.

(Margareth segura o queixo de Eva, que tira sua mão rapidamente e se manifesta)

EVA

Vou para meu quarto, preciso de um banho não é mesmo minha sogra... Com vossa licença ...

(Eva se retira e Margareth continua instigando o filho)

MARGARETH

Cheia de espinhos como uma rosa, mas não deixa de ser bela como uma rosa. Você se arriscou muito em traze la para esse lugar cheio
de presença masculina. Devemos ficar de olho nela afinal, não queremos que nada aconteça com nossa amada Eva, não é mesmo meu
filho?!

(Josh fica pensativo. Blecaute)

AT03

CENAl

(A luz do palco acende e a cena se passa em 1910 com João Filho e Maria Luz)

JOÃO FILHO

Minha viagem será breve, eu te prometo! Preciso apenas contar tudo à minha mãe Eva e retorno para podermos assumir livremente o
que sentimos um pelo outro!

MARIA LUZ

Você está certo de seus sentimentos por mim?

JOÃO FILHO

Nunca estive tão certo dos meus sentimentos por alguém como agora... Só prefiro que mantenhamos tudo isso em segredo até pelo
menos eu retornar. Pois podem te fazer algum mal, e fico aflito só de pensar que não estarei aqui para te proteger

MARIA LUZ

Ficarei aqui te esperando ansiosa a cada dia e já sinto saudade de você, mesmo antes de você partir!

(João Filho entrega o colar para Maria Luz)

------------------ --- --

JOÃO FILHO

Pegue, fique com ele ... É muito importante para mim, ele trouxe minha história e me trouxe também você! Com ele estará mais perto
de mim até eu retornar.

MARIA LUZ

Você tem certeza disso?

JOÃO FILHO

Sim, claro! Tentarei convencer meus pais adotivos a retornarem comigo, eles são maravilhosos e nos apoiarão com toda certeza! Eles
irão amar te conhecer e amarão você, assim como eu!

MARIA LUZ

Será João? Quando souberem que sou uma freira, podem me rejeitar. ..

JOÃO FILHO

Jamais! Meus pais adotivos são maravilhosos e jamais fariam isso com qualquer pessoa, ainda mais com alguém que eu amo

MARIA LUZ

Bom, sendo assim, fico mais tranquila e ansiosa para conhece los! Então vá meu amor, não quero te atrasar mais ... Ficarei aqui te
esperando!

MARIA LUZ E JOÃO FIHO

(Maria Luz sai de cena e (COREOGRAFICAMENTE) João conta ao público sua viagem de retorno até

acontecer seu acidente desastroso onde o homem acaba morrendo. O acidente deve produzir

chamas e em meio a essas "chamas" e dessas chamas sair fuligem, um contra regras deve pegar no

ar um pedaço de papel dobrado e levar como uma "carta oficial" para Eva que entra em cena na

mesma coreografia e recebe a notícia da morte do filho (Todos os acontecimentos

devem ser criados com muita expressão até voltar em Maria luz já gestante e escrevendo

uma carta para João Pedro)

MARIA LUZ

"Querido João, não tenho notícias suas desde que se foi... Meu coração a cada dia que passa aperta dentro de mim nessa espero infinita
e cruel. Espera que esteja tudo bem, mas acima de tudo espero que tenha sido honesta em seus sentimentos e de verdade retorne paro
mim, ou melhor, paro nós... E não fala apenas de nós dais, falo de nós três... Sim querido João, você me deixou mais que um colar, eu
estou esperando um filha seu, e o cado dia está mais difícil esconder isso no convento, pois se me descobrirem, eu serei expulsa e só o
Criador sabe o que farão comigo. Estou com muito medo, por isso eu decidi fugir essa noite do convento, mas não se preocupe, planejei
tudo, la/anda González, uma grande amiga de infância que inclusive também estó gravida, iró me ajudar. Estou te enviando a meu
endereço e quando retornar, estarei te aguardando nele.

Com amor, Maria Luz"

 (Um contra regra deve pegar a carta e como um vento (COREOGRAFICAMENTE)

Maria Luz deixa de ser freira e tira seu véu na luz da lua deve levar até Eva que receberá

a notícia da existência de Maria Luz e de seu neto essa cena entre Eva e João Pedro deverá ser feita com

uma espécie de cubo de Teatro de sombras)

EVA

Maria Luz? Um neto meu filho? Você me deixou um neto... Que alegria! JOÃO!! JOÃO PEDRO!!! VENHA, RÁPIDO MEU AMOR, NÓS
TEMOS UM NETO!

JOÃO PEDRO

Oi mulher, que houve? Sai apavorado correndo achando que tu tinha caído e estatelado no chão!

EVA

UM NETO HOMEM, NOSSO FILHO DEIXOU UM NETO!

JOÃO PEDRO

QUE? UM NETO? COMO? ONDE? EU SOU AVÔ? UM NETO EVA!!! NÓS TEMOS UM NETO!!!

EVA

sim, precisamos fazer as malas o mais rápido e ir atras dessa moça, a coitada deve estar em apuros e pelo que li, ela nem sabe sobre a
morte de João Filho ...

JOÃO PEDRO

Então vamos, o que está esperando mulher? Vamos fazer nossas malas meu amor! Um neto para alegrar nossas vidas!!! Esse precisa
ter o nome diferente em, vai se chamar João Pedro Filho!

EVA

O tempo passa e você não muda nada né?

JOÃO PEDRO

Claro que mudo, estou mais jovem e te amando mais a cada dia!

(Os dois sorriem e a luz do teatro de sombra se apaga)

AT03

CENA2

(1940, os contra regras tiram o cubo e revelam o cenário de uma penteadeira, onde se sentará Carmecita e se arrumará.

Ela entra em cena chamando por João Neto)

 CARMECITA

João? JOÃO! Cadê esse homem? Cada dia que passa ele se perde nessa fissura louca de encontrar respostas de um passado que já se
foi. Estamos nos distanciando meu papagaio... Tenho tantas coisas para contar, coisas que já até se passaram e você nem percebeu.

(agora com um vestido nas mãos)

Mas passado é um vestido que se veste uma única vez e que nos deixa suas marcas, com o passar do tempo esse vestido não te cabe
mais e, se forçarmos, ele se rasga...

(Eva, Amara e Zuri saem de atrás do biombo e Amara está vestida com o vestido de Eva,

retornamos à 1850, Carmecita olha as 3 e sai de cena)

AMARA

Nossa eu pareço até uma rainha com todos esses panos, é a melhor sensação que eu já tive em toda minha vida.

ZURI

Vocês duas só podem ter perdido o juízo, se o patrão pegar você assim vai açoitá-la la até morrer minha filha

EVA

Se acalme Zuri, estamos apenas nos divertindo e experimentando vestidos. É o que fazem as mulheres e as amigas.

ZURI

Ai minha filha, parece mesmo uma princesa... Se fosse em nosso país, com certeza seria, e seu pai se orgulharia muito de você!

EVA

Em seu país, vocês eram da realeza Zuri?

ZURI

Sim... Temos o sangue real da linhagem de Daomé. No nosso país eu era princesa e meu pai era o Rei na época. Porém, em uma
contenda entre reinos, ele foi derrotado pelo outro rei que assumiu o trono e vendeu toda a família real para os portugueses.

EVA

Que história macabra Zuri, nunca vou entender como podem vender e comprar pessoas.

AMARA

Ai gente, vocês estão ofuscando meu brilho com esses assuntos de desgraças. Vamos digam o quanto eu estou linda!

(As três sorriem e se alegram}

EVA

Eu nunca vi uma princesa tão bela em toda minha vida Amara, digna de reverência!

(Eva se curva diante de Amara na brincadeira)

EVA

Ahhh mas está faltando uma coisa para te tornar mais princesa ainda!
 AMARA

Mais? O que poderia faltar?

(Eva vai até sua penteadeira e pega uma caixa e ao abri-la revela todas as suas joias)

EVA

Joias! Uma mulher sem joias pode estar repleta de tecidos, mas ainda assim, estará nua!

AMARA

Que joias lindas senhora, parece o brilho das águas da praia com o reflexo do sol

EVA

São lindas né?! Vejam essa, é um colar de herança e está em nossa família desde o início do século passado. Minha mãezinha que me
deu e um dia eu darei aos meus filhos ou filhas.

ZURI

É mesmo muito lindo sinhá, nem em Daomé eu vi um igual assim!

EVA

Minha mãe me disse que esse colar foi dado à duquesa de Borgonha pelo seu marido como prova de seu amor. Mais tarde os dois
morreram tragicamente de sarampo e a joia passou a pertencer ao Rei Luiz XV o único sobrevivente da família.

AMARA

Nossa, mas vocês só conversam sobre desastres? Vou ter de ordenar meus guardas para retirá-las las do meu palácio!

(As três sorriem e brincam entre si, quando nesse momento chega Josh e Margareth e ficam

perplexos com o que vê)

JOSH

Mas... O que é que está acontecendo aqui?

EVA

Oi marido ... Chegou cedo?

MARGARETH

E pelo visto aqui, quando os gatos saem os ratos fazem a festa não é mesmo Eva minha nora adorável!?

JOSH

O QUE ESSA ESCRAVA IMUNDA ESTÁ FAZENDO VESTIDA COM SEU VESTIDO? QUE PETULÂNCIA É ESSA?

EVA

Se acalme marido, nós só estávamos experimentando vestidos e conversando, não é nada demais... Eu mesma emprestei o vestido à
ela e não me importo
 MARGARETH

Mas que ousadia! Desperdiçar panos importados e caríssimos assim na pele desses escravos imundos

JOSH

EU ME IMPORTO! EU NÃO ME MATO DE TRABALHAR E GASTO MEU DINHEIRO TE COMPRANDO VESTIDOS CAROS E IMPORTADOS PARA
VOCÊ SUJAR ASSIM NO CORPO DE UMA ESCRAVA!

EVA

MAS QUE HORROR VOCÊS FALAREM ASSIM DE UM SER HUMANO COMO NÓS!

JOSH

ESSA GENTE NÃO É HUMANA! TANTO TEMPO E VOCÊ AINDA NÃO APRENDEU ISSO! MAS ELA VAI TER O QUE MERECE! VOU TE LEVAR
AGORA PARA O TRONCO E TE ARRANCAR ESSE VESTIDO NO BASE DO CHICOTE!

(EVA desesperada com a situação se coloca na frente de Amara impedindo o marido)

EVA

NÃO, TOQUE NELA! ELA NÃO TEM CULPA! EU COLOQUEI ELAS EM TUDO ISSO, ENTÃO CASTIGUE A MIM!

MARGARETH

Estou pasma contigo Eva... Olha isso meu filho! Vai deixá-la falar assim? Na minha época, mulher que gritava com o marido era açoitada
no tronco que nem uma escrava, para aprender a respeitar!

(Margareth tenta envenenar ainda mais o filho)

JOSH

COMO OUSA SE COLOCAR NA FRENTE E ME ENFRENTAR? TENTAR TIRAR A MINHA AUTORIDADE!

EVA

VOCÊ ESTÁ SENDO INJUSTO, ELA NÃO TEM CULPA!

MARGARETH

Agora eu sou obrigada a concordar com minha amada nora, a escrava não tem culpa... Eva tem culpa, então quem merece ser castigada
é ela!

JOSH

COMO PODE VOCÊ SE COLOCAR NO LUGAR DE UMA ESCRAVA? POIS BEM, SE É ASSIM QUE VOCÊS QUEREM, ASSIM SERÁ!

MARGARETH

ISSO! ASSIM QUE SE FALA MEU FILHO! Honre suas calças, se sua mulher quer se juntar aos negros, dê à ela um castigo digno de
escrava!

MANDE-A PARA O TRONCO!

 (Josh pega no braço de Eva e a puxa agressivamente, Margareth gargalha e se diverte com toda a situação

as escravas imploram para que o homem não a leve, ele as empurra furioso. A partir daí, toda a cena é

(COREOGRAFADA) sem falas e apenas representada corporalmente ao som da trilha. Desde as chicotadas

(Que serão dadas com um chicote cenográfico feito com Fio de led), Josh enlouquecido que

escondido chora e grita de remorso,Margateh tomando seu vinho plena e se abanando com leque

até as escravas cuidando dos ferimentos de Eva, logo após todos saem de cena e permanece

apenas Eva escrevendo para seu pai, entra em cena João Neto abitolado em suas pesquisas

e em seus inúmeros papéis, lê e relê, e tão cansado que acaba dormido.

EVA

"Querido poi, espero que essa corto posso o encontrar feliz. Eu, porém, não posso dizer o mesmo... Cosei me com um monstro violento e
que me trouxe poro um mundo selvagem, fez um país inteira se tornar minha prisão. Já se passaram 6 meses e eu não estou feliz, ele é
grosseiro, me bate, é cruel com pessoas que trabalham paro ele, escravos como ele a chamam, eu mesma virei uma escrava dele, pois
se não faço seus caprichos, ele se volta contra mim. Ele me proibiu de sair da porto de coso, preciso de ajudo meu pai, me socorre!!! Eu
imploro que venha me salvar das mãos desse homem sem escrúpulos algum.

Te amo, sua amada filha Eva ... "

(A moça entrega a carta para Amara)

EVA

Não deixe que ninguém te pegue entregando essa mensagem, por favor!

AMARA

Sim, claro senhora. O navio zarpa amanhã, vou entregar ela para o mensageiro

EVA

Será que ele conseguirá entregar ao meu pai?

AMARA

Certamente que sim, pois ele conhece todos os cabeças das embarcações. Vai dar tudo certo!

EVA

O Criador te ouça minha amiga!

(Eva sai de cena, Amara percorre alguns passos no palco e Josh a encontra, seriamente olha para

a escrava que se intimida... Ele estende a mão e ela entrega relutando. Ele a pega pelos cabelos e pressiona,

ela assustada, entrega a mensagem para Josh e sai de cena as pressas fugindo do homem que a lê e a guarda

com ele)
 AT03

CENA3

CARMECITA

João? Acorde homem... Vá dormir na cama...

(João desperta com muito esforço)

JOÃO NETO

Já retornou? Nossa, que horas são?

CARMECITA

São 03:37 da madrugada, acabei de chegar do Recreio

JOÃO NETO

Nossa, acabei cochilando em cima das pesquisas, e lá como foi hoje no Show?

CARMECITA

AH FOI MARAVILHOSO! Fizemos um show de comemoração ao novo decreto de Getúlio Vargas, o homem assinou hoje o decreto, que
institui o salário mínimo no país, Primeiro de maio, essa data vai ficar na história! E você como historiador, deveria se ligar mais ao
presente, o tempo continua a fazer histórias no presente meu amado papagaio, e você está perdendo!

JOÃO NETO

Que incrível!!! Realmente... Mas para um homem se entender no presente, ele precisa se acertar com os fantasmas do passado minha
flor de maracujá!

CARMECITA

Quanto tempo não me chama assim...

JOÃO NETO

Perdoe minha ausência, sei que estou distante e em dívida contigo...

CARMECITA

Está tudo bem João, afinal, não temos nada oficial um com o outro, então não tens obrigações comigo.

JOÃO NETO

Não fale assim... Me dói ...

CARMECITA

Tem".s de ser realistas né João... Mas me conta, o que já descobriu?

(O homem se empolga instantaneamente)

 JOÃO NETO

VOCÊ NÃO VAI ACREDITAR! Descobri que no mesmo dia em que a tal da Irmã Maria Luz fugiu do convento levando a joia da minha
Bisavó Margareth, descobriram que ela estava gravida e iam expulsar ela do convento ou fazer coisa pior, porém, ela conseguiu fugir
antes e levou o colar.

CARMECITA

Nossa, a freira era o cão mesmo em, grávida? E bem que minha mãe dizia, quem vê cara não vê coração!

JOÃO NETO

É a primeira vez que você fala de sua mãe...

CAREMECITA

Verdade? Ah, minha mãe era uma mulher maravilhosa e de um coração gigantesco! Ficou gravida de um palhaço do circo que preferiu
a vida peregrina das lonas ao invés de ficar com ela e me assumir. Ela ajudou muita gente sabe? Dona lolanda González, mais conhecida
como...

(A atriz deve ser interrompida por Maria Luz que entra e_m cena e

grita o apelido de lolanda, logo em seguida os dois saem de cena)

AT03

CENA4

MARIA LUZ

LANDINHA?TA AI? CHEGEI... Cadê essa mulher?

(Maria Luz começa a dialogar com o filho na barriga)

Meu filho, á cada dia você pesa mais, parece até que já vai vir com o berço e o enxoval junto. Onde será que seu pai está agora ... Talvez
nem se lembre de nossa existência. Nunca irei me conformar como fui cair na conversa de bom moço dele e como pude ser tão tola e
inocente... Mas pelo menos algo de bom eu tive de toda essa história, que é você meu filho, não vejo a hora de te pegar em meus
braços!

(lolanda entra em cena também com barriga de gestante E com um balde de roupas em mãos)

IOLANDA

Oi barrigudinha!!!

MARIA LUZ

Oi barrigudinha!!!

(As duas sorriem)

MARIA LUZ

Nunca senti tanta dor mulher, não dá nem tempo de respirar. Essa criança parece que já tem 10 anos na minha barriga, misericórdia!
 IOLANDA

Deixe de exagero...

MARIA LUZ

Nessas horas eu sinto tanta falta de minha mãe ... Ela sempre me deitava em seu colo, fazia carinho em meus cabelos e dizia que eu era
a única luz na vida dela...

IOLANDA

Tenho poucas lembranças de sua mãe, mas lembro que ela não era de sorrir muito. Estava sempre cuidando das coisas da casa.
Também lembro que algumas vezes ela se isolava e eu via as lágrimas dela pingar no chão de terra.

MARIA LUZ

Ela não falava muito sobre ela, era misteriosa e guardava muitas coisas. Tudo que sei é que ela e minha vó romperam contato assim
que ela conseguiu a carta de alforria dela. Minha mãe dizia que cometeu muitos erros nessa vida e que minha vó nunca a perdoou por
esses tais erros. Mesmo assim, eu sentia muito pelo sofrimento dela e tudo que passou. Era escrava, e ela dizia que o patrão e a mãe
dele, eram pessoas cruéis e perversas, odiavam os negros e mesmo assim isso não impediu ele de abusar dela.

IOLANDA

Disso eu me lembro e chega me sobe uma ira, desse estupro que nasceu você e o cara nunca te assumiu como pai. Me lembro que
nossas mães se conheceram logo após que minha mãe deixou o prostíbulo porque engravidou de mim, e como eram duas mulheres
perdidas na vida e com barriga, apoiaram se uma na outra.

MARIA LUZ

E pelo que me parece, a história agora está se repetindo né?

Pois é, a vida dá voltas...

LANDINHA!!!! PELO CRIADOR, CORRE AQUI!!

(Grita e se desespera Maria)

QUE FOI MULHER, QUE ME MATAR DE SUSTO?

MARIA LUZ

A BOLSA ROMPEU!! VAI NASCER!!!

IOLANDA

SANTISSIMO SACRAMENTO, VENHA SE DEITE!! VOU PREPARAR A ÀGUA QUENTE E CHAMAR UMA PARTEIRA

MARIA LUZ

QUE O CRIADOR ME AJUDE!!!

(Na confusão toda, alguém bate a porta. Ao atender a porta lolanda dá de cara

com Eva e João Pedro)

Boa tarde, aqui que mora a Maria? Maria Luz!

É sim dona, mas agora ela acabou de entrar em trabalho de parto e eu preciso ir chamar uma parteira.

(João Pedro empurra Eva para dentro)

JOÃO PEDRO

Não precisa, saindo uma parteira no capricho!

(Eva olha para o marido expressiva)

EVA

Nós somos os avós, somos pai de João Pedro filho!

IOLANDA

NÃO AC REDITO! E ELE, ONDE ESTÁ O CANALHA?

JOÃO PEDRO

Infelizmente, nosso filho faleceu em um acidente quando retornava para casa ... Soubemos da existência de Maria Luz e da criança pela
carta que ela mesmo enviou ao nosso Joãozinho!

IOLANDA

Minha nossa ... Desculpem pelo "Canalha". Bom, mas Maria não pode saber disso agora, A gravidez dela é de risco e emoções fortes
agora, pode piorar tudo.

(Maria Luz grita e interrompe todos)

IOLANDA

Vamos, entrem, precisamos ser rápidos!

(lolanda os levam para Maria, Eva olha a jovem e fica pensativa)

IOLANDA

Veja Maria, chegou ajuda...

(Eva expulsa João Pedro do quarto)

EVA

Homens lá fora!

JOÃO PEDRO

Você vai mandar em mim a vida toda?

 EVA

E você ainda não se convenceu disso? Agora vá homem!!!

(João Pedro sai de cena e Eva retorna)

EVA

Está ardendo em febre moça... Nossa ... Você me lembra muito uma pessoa ...

(Maria Luz grita)

EVA

Força, vamos trazer esse rapazinho para o mundo!

IOLANDA

Como sabe que é um menino?

EVA

Pelo formato da barriga, está diferente da sua por exemplo, que provavelmente será uma menina!

(Eva toca a barriga de Maria Luz)

EVA

Temos um problema ... A criança está atravessada... Vamos, busque uma bacia com água morna e muitos panos...

MARIA LUZ

SALVE MEU FILHO!

(Maria entra em trabalho de parto, a cena deve ser construída pelos atores até o

nascimento da criança e com efeitos de trilha e iluminação. Logo após o nascimento de João Neto

Maria luz deve estar extremamente debilitada, Eva traz a criança para ela)

MARIA LUZ

Owww meu filho, meu menino! Você tem o mesmo olhar de seu pai ... Queria tanto que ele estivesse aqui com a gente.

(Quase sem ter forças, Maria dialoga com Eva)

MARIA LUZ

Senhora, muito obrigada por ajudar meu menino a nascer. Nem fomos apresentadas, eu me chamo Maria Luz!

EVA

Muito prazer Maria Luz, seu menino é lindo e o pai dele com certeza iria amá-lo muito. Olha, preciso te contar uma coisa, vou buscar
meu esposo que ficou aguardando lá fora, e assim que retornar com ele, você entenderá tudo...
 (No momento em que Eva sai, Maria luz vai perdendo as forças e se entrega a morte. Quando

Eva retorna com João Pedro, Maria já está morta com a criança em seus braços. Todos,

incluindo lolanda, se desesperam ao perceber que a freira acabara de falecer. Em meio ao

desespero e choro, a luz apaga em blecaute, e vamos para o passado entrando em cena

Zuri com uma bacia de roupas em suas mãos, e logo em seguida Margareth vem de encontro com a escrava)

AT03

CENAS

MARGARETH

Me diga escrava... Onde está minha nora Eva?

(A escrava desconfiada responde)

ZURI

Não sei sinhá... Deve estar no quarto dela como sempre. A pobre não pode dar um passo fora de casa.

(Margareth sem muita paciência, puxa a escrava pelo braço)

MARGARETH

VOCÊ NÃO ME DESAFIE COM SUAS MENTIRAS ESCRAVA, NÃO SOU O CEGO DO MEU FILHO! SEI QUE EVA TEM SAÍDO DE CASA, E COISA
BOA ELA NÃO ESTÁ FAZENDO. VAMOS, DESEMBUCHA NEGRA!

ZURI

Está me machucando senhora! Eu não sei da sinhá, por que não pergunte a ela mesma?

(Nesse instante entra no cenário da mina, Eva e João Pedro, corporalmente mais discretos para não tirar o foco

de Margareth e Zuri, os dois começam a jogar baralho)

MARGARETH

Vocês são uns imprestáveis mesmo! Tenho observado minha nora o tempo todo e sei que ela está escondendo algo. Sei que ela tem
saído de casa escondida do meu filho, agora só me resta saber aonde ela vai todas as vezes que ela sai, e vocês vão me ajudar a
descobrir isso, nem que seja na base do chicote!

(Margareth puxa a escrava pelo braço e a leva,

Eva e João assumem a cena)

EVA

GANHEI NOVAMENTE!!!
 JOÃO PEDRO

O QUE???? COMO ASSIM?

EVA

Te avisei, sou ótima nisso, aprendi com meu pai!

JOÃO PEDRO

Não é possível, deve estar escondendo alguma carta na barra de seu vestido!

EVA

Não seja tolo Sr João Pedro, me respeite! Admita que sou melhor que o senhor, fica mais bonito para sua pessoa!

JOÃO PEDRO

Não admito nada senhora Eva Green Modesta! Está roubando e eu vou descobrir como faz isso!

EVA

Nossa, já estou aqui ah muito tempo, preciso ir às pressas para casa, antes que a megera da minha sogra dê conta do meu sumiço.

JOÃO PEDRO

Já sabe quando seu marido retorna de viagem?

EVA

Pelo que disse, era uma viagem curta de negócios, pelo que ouvi dizer, já estão se programando para estender a linha férrea, ele deve
retornar ainda essa semana, infelizmente ...

JOÃO PEDRO

Sim, mas sinto que vão me tirar dessa extensão. E na verdade não estou me importando com isso, não suporto ser subordinado pelo
asno do seu marido. E você, por que se submete à essa situação? Você é bela demais e tem uma alma pura de mais para sofrer tanto
nas mãos desse crápula

EVA

E para onde eu irei? Me diga? Não conheço 1% quase desse país, ele me encontraria facilmente e me mataria.

JOÃO PEDRO

Vamos juntos então! Te levo para onde nasci, onde mora minha mãe, ela é uma mulher maravilhosa e vai gostar de conhece la! O
que você acha? Vamos fugir de tudo is�o aqui

EVA

Oras não me tente senhor João Pedro. Não é uma má ideia, seria libertador. Mas não tenho direito de fazer o senhor perder seu
emprego e jogar tudo para o alto para me ajudar.

JOÃO PEDRO

Meu emprego já está por um fio e por você Eva, eu faço o impossível. Eu jogo tudo para o alto, e ganho o mundo contigo nos meus

braços!
 EVA

O senhor é mesmo apaixonante senhor João... Estou mesmo muito tentada a fugir de tudo isso, imagine só eu, enfim livre e ainda me
sentir amada de verdade!

JOÃO PEDRO

Amada?

EVA

Sim, é como eu me sinto quando estou com o senhor

JOÃO PEDRO

E sabe por que se sente assim? Porque eu a amo Eva... Desde o primeiro momento em que olhei em seus olhos assustados por uma
lagarta! Desde o primeiro momento em que toquei seu rosto, sua pele, que senti o perfume que escapa de seus fios de cabelo ...

EVA

Tenho de confessar que é recíproco senhor João...

JOÃO PEDRO

Não me chame de Sr, não somos mais tão formais um para o outr...

EVA

Eu te amo João! Te amo incansavelmente, desesperadamente, com todas as forças que alguém pode amar! Não paro de pensar em
você em um só estante e mesmo que isso seja um pecado por eu ser uma mulher casada!

JOÃO PEDRO

Não é pecado...

EVA

SIM, É PECADO!

JOÃO PEDRO

É AMOR!

EVA

Você tem razão... Tentei fugir dele, mas não consigo! Não consigo, não consigo e não quero! Eu não quero mais me enganar no que eu
sinto!

JOÃO PEDRO

Então fuja comigo? Vamos para longe de tudo isso viver esse amor, sermos livres para nos amarmos sem que ninguém jamais nos
separe novamente!

(Eva pensa um pouco, mas responde)

 EVA

Sim, está bem! Eu irei contigo! Me leva daqui! Me leva para bem longe dessa prisão!

(João abraça Eva extremamente feliz e a roda em seus braços

JOÃO PEDRO

A única prisão que você terá, é a do meu abraço!!

EVA

Pare, me ponha no chão senhor João Pedro! Eu ordeno!

(Fala Eva ironicamente)

JOÃO PEDRO

Claro, seu pedido é uma ordem senhora! Mas agora vá, arrume discretamente suas coisas, eu te espero as zero hora aqui, daqui
partiremos rumo ao mundo! E NINGUÉM MAIS SEGURARÁ A GENTE!

EVA

Estou ansiosa, mal posso esperar! Vamos, me leve até a saída!

JOÃO PEDRO

Espere, não dê nem mais um passo ... Uma lagarta no caminho...

(Quando João ensaia pegar a lagarta, Eva se abaixa e pega primeiro, colocando-a em outro lugar)

JOÃO PEDRO

QUE? Quem é você e o que fez com a Francesinha medrosa?

EVA

Aprendi a me dar com meus monstros e enfrentar meus medos... A francesinha medrosa morreu já faz um tempo, meu próprio marido
a matou e, em breve serei uma francesinha livre!

(Os dois saem de cena, e explode em cena Carmecita, toda produzida fazendo seu Show para

o público do espetáculo como se fosse o público do recreio. Uma dança curta e ela finaliza agradecendo o público)

AT03

CENA ÚNICA

CARMECITA

Obrigada Brasil! Meu amado Brasil! Obrigada por virem me prestigiar essa noite, tão especial na estreia do nosso novo número.
Agradeço a todos pelo comparecimento e em especial ao João Pedro Neto, João Pedro, está por aí? Levante o braço homem, não
consigo te ver é multa gente ... João Neto?

(Ao perceber o silêncio, a vedete percebe que João não compareceu ao show, tentando

disfarçar a tristeza e decepção, a moça tenta disfarçar ao público)

 CARMECITA

Oras, pois isso é hora de ir ao banheiro João Neto. Desculpem ele Brasil, é extremamente tímido, mas enfim, o mais importante é que
todos vocês estão aqui e vieram venerar a vedete mais linda do Brasil! Me aplaudam, porque Carmecita González merece todos os
aplausos do Brasil e do mundo!!!

(O ideal é que a atriz consiga esses aplausos do público real e, em seguida, um

breve blecaute e quando o foco retorna, a moça está arrancando seus acessórios com ira e

se queixando)

CARMECITA

QUE ÓDIO, QUE HUMILHAÇÃO! PRA MIM CHEGA!!! Não vou mais esperar nada desse homem! Estou cansada ...

(A pobre vedete sai de cena enxugando suas lágrimas logo após entra em cena Eva que se arruma para fugir,

na cena está também Zuri e Amara)

AT03

CENA 6

ZURI

Sinhá, não é arriscado? Fico com o coração na mão!

EVA

Arriscado é sim Zuri, mas me parece a única forma de me libertar dessa prisão e poder viver o meu amor com João Pedro!

AMARA

Essa sim nasceu com o traseiro virado para a lua, rica, encontrou um príncipe encantado e ainda vai fugir com ele! Mulher de sorte!

ZURI

AMARA!! RESPEITE A SINHÁ

(Eva acha graça, Margareth aparece em

cena se escondendo e escuta toda a conversa)

EVA

Deixe Zuri! A final, Amara não disse nenhuma mentira, tenho mesmo sorte de ter conhecido o João, o amor da minha vida!

ZURI

Sorte, queria ver você minha filha, passar tudo que a sinhá já passou na vida dela de casada!

AMARA

Ouxe, e tudo que ela passou a gente passa todos os dias, pelo menos uma vez por semana eu vou pro tronco apanhar, e depois
ninguém me dá joias e vestidos lindos por isso, muito menos tenho um príncipe encantado me esperando lá fora
AMARA!!!!

Amara tem razão Zuri, vocês sofrem muito mais que eu. Prometo que tentarei dar um jeito de buscar vocês, só preciso estudar com
João uma forma de fazer isso! Mas vamos, me ajude, já estou me atrasando e isso precisa ser hoje, antes que meu marido retorne de
viagem!

(As três saem de cena, Margareth fala sua última fala e sai em seguida)

MARGARETH

Você não vai muito longe minha nora querida, muito menos essas escravas!

(Os contra regras trazem o cenário de João Neto e vamos para 1940, o homem estuda e estuda e

acaba adormecendo sobre seus papéis. logo após, entra em cena pela porta Carmecita, enfurecida)

CARMECITA

JOÃOOOOOOOOOOOOOOOOO!

(O homem dá um pulo assustado)

JOÃO NETO

OI! Minha nossa flor, por que esse escândalo todo?

CARMECITA

POR QUÊ? COMO POR QUÊ? QUE DIA É HOJE JOÃO?

JOÃO NETO

Não tenho a menor noção do tempo...

CARMECITA

VOCÊ NÃO TEM A MENOR NOÇÃO DE NADA JOÃO, HOJE ERA O DIA DA ESTRÉIA DO MEU NOVO SHOW E VOCÊ PROMETEU QUE IA ME
ASSISTIR, ERA MUITO IMPORTANTE PARA MIM!

JOÃO NETO

Minha nossa... Eu esqueci completamente, me desculpa! Acabei me enrolando nas pesquisas...

CARMECITA

Não tem desculpas João... Tudo que você sabe fazer é estar preso nesse seu passado e voltado para seu próprio umbigo, enquanto isso
eu fico aqui vivendo das migalhas de sua atenção. NINGUÉM FAZ CARMECITA GONZÁLEZ VIVER DE MIGALHAS

JOÃO NETO

Não é bem assim minha flor, me desculpa...

 CARMECITA

Não tem desculpas, para mim já chega João... Eu desisto de você...

JOÃO NETO

Mas...

CARMECITA

NÃO TEM MAIS E NEM MENOS, NEM MAIS OU MENOS, ACABOU!

JOÃO NETO

MINHA NOSSA PARE DE GRITAR NO MEU OUVIDO!

CAMECITA

ÓTIMO, DAQUI PARA A FRENTE VOCÊ ESTARÁ SOZINHO E SEM GRITOS!

JOÃO NETO

ESTÁ BEM ENTÃO, SE VOCÊ QUER ASSIM

CARMECITA

EU QUERO! EU QUERO MUITO MAIS, PORQUE EU MEREÇO MUITO MAIS! PASSAR BEM SENHOR JOÃO PEDRO NETO! O HOMEM MAIS
PERDIDO QUE JÁ CONHECI!

(Carmecita sai pela porta aos berros e João se queixa)

JOÃO NETO

Perdido... Oras quem é ela para falar assim de mim? Não sou perdido... Sou?

(O jovem fica pensativo e volta para seus papeis e entra em cena Eva com o cesto de João Neto bebê em mãos)

JOÃO NETO

Ela tem razão, sou um perdido, há muito tempo...

(João Neto olha para Eva como se a enxergasse, balança a cabeça e sai de cena. Eva assume)

EVA

Olhe só você, tão pequeno e perdido no mundo. Mas eu achei você! Tem os olhos de seu pai, e por incrível que pareça tem também os
olhos de João Pedro, que não é pai de seu pai, coisas da vida que nunca irei entender. Mas quem sabe, você possa um dia me explicar
não é mesmo?

(lolanda entra em cena com os pertences de Maria e o bebê)

IOLANDA

Bom, aqui está tudo o que consegui pegar de Maria e o bebê, Maria tinha pouquíssimas coisas, só uns documentos, algumas roupas e
joias... E a garota, mesmo sendo freira, usava até joias lindas!

(lolanda deixa bem amostra para o público o famoso colar de Eva,

até segura em seu pescoço, mas Eva está entretida com o bebê e não vê, lolanda então coloca tudo

em um envelope)

EVA

Entregue tudo ao meu marido por gentileza, depois vemos o que fazer com os pertences da Maria.

(João Pedro entra em cena)

JOÃO PEDRO

Então, prontos?

EVA

Prontos... lolanda, obrigada por tudo o que fez por minha nora, pelo nosso João Neto e por nós!

IOLANDA

Eu que agradeço por vocês terem chegado a tempo, e por cuidarem desse anjinho, sei que estará e boas mãos e isso me deixa mais
tranquila. Pegue Sr João, os pertences de Maria!

JOÃO PEDRO

Ah sim, claro!

(João coloca o envelope dentro do bolso de seu terno)

IOLANDA

Vou sentir sua falta homenzinho, quando a Carmem nascer, levo ela para brincar contigo.

EVA

Tenho certeza de que se darão muito bem os dois!

(Todos sorriem e se despedem, (EM COREOGRAFIA) os contra regras trazem o guichê novamente

para a cena, um banco onde Eva e João se colocam atras dele, onde aparece para o público apenas o atendente)

ATENDENTE

São 900 Réis cada passagem!

(Eva responde do outro lado pela minúscula janela)

EVA

Tudo isso moço? Não tem desconto? Estamos com uma criança...

ATENDENTE

Se cada um que tiver criança termos que dá descontos, vamos a falência, minha senhora. As pessoas nesse país estão se multiplicando
que nem arroz quando cozinha!
 (João Neto daí de trás do guichê muito confuso}

JOÃO NETO

Não é possível, se a freira faleceu ao entrar em trabalho de parto, todos os seus pertences provavelmente foram doados e dados ao
vento. E em que momento ela me entregou para o Ovelha Negra? COMO ESSE COLAR VEIO PARAR EM MINHAS MÃOS??? EU VOU
ENLOUQUECER!!!

(O ator deve voltar para trás do guichê}

ATENDENTE

Qual sua graça senhora?

EVA

Eva Green

ATENDENTE

E o Senhor?

JOÃO PEDRO

João Pedro

(João coloca a cesta da criança no chão e tira seu terno para cobrir a

Cesta dos raios do sol)

ATENDENTE

Nome da Criança?

EVA

João Pedro Neto, filho de João Pedro Filho, meu filho falecido!

ATENDENTE

Quase um trava línguas. E vocês não são nada criativos para nomes em!

(Os contra regras giram o guichê e João Pedro e Eva agora aparecem para o público,

nesse instante o "Ovelha Negra" deve vir dos fundos do palco e se colocar atrás do casal na fila)

JOÃO PEDRO

O que você tem contra Joãos?

ATENDENTE

Nada senhor, Aqui está a passagem da criança, agora preciso que me apresentem o passaporte e documentos de vocês!
 (Eva e João começam a procurar os documentos afoitos. O homem discretamente pega o cesto da criança

e faz a troca da cesta por uma mala que uma mão misteriosa que sai da coxia dá a ele. Após isso, Ovelha sai de cena e

quando Eva se dá conta do sumiço da cesta... )

EVA

João? João o bebê? Cadê o bebê?

JOÃO PEDRO

Minha nossa, o bebê, ele estava aqui, será que foi ao banheiro?

EVA

Banheiro homem? A criança é recém nascida, não sabe nem andar... ALGUÉM LEVOU NOSSO NETO JOÃO! RAPTARAM NOSSO NETO!

JOÃO PEDRO

CHAMEM A POLÍCIA, CRIANÇA RAPTADA!

(armasse a confusão no guichê, Eva chora desesperada, João Pedro sem saber o que fazer a consola e os dois

procuram para todos os lados. Blecaute)

AT03

CENA 7

(Entra em cena novamente Carmecita em seu show em uma coreografia,

quando é interrompida por João Neto completamente bêbado que aparece dos fundos do palco)

JOÃO NETO

BRAVOOOOO!! !! BRAVO MINHA GENTE! APLAUDAM A MELHOR DO BRASIL!

(Constrangida, Carmecita retruca)

CARMECITA

Olha vejam só, o público está feliz essa noite! E VIVA O BRASIL!

(Disfarçando a mulher pega João Neto pelo braço e o questiona)

CARMECITA

Posso saber o que você está fazendo aqui João? E está caindo de bêbado!

JOÃO NETO

Mas não era o que tu querias mulher? Que eu viesse te assistir?

 CARMECITA

Mas não acha que é tarde demais não? E ainda nessas condições ...

JOÃO NETO

Você está tão bonita... Parece até um anjo com essas penas!

CARMECITA

Nossa, enfim reparou em algo que não seja registros de cartório!

(O pobre João Neto se senta na beira do palco rindo e logo em seguida engata um choro típico de bêbado)

JOÃO NETO

Não fale assim... Eu só queria saber quem eu sou, de onde vim... Passei anos da minha vida com tantas perguntas na cabeça e agora me
sinto perdido no mundo, sozinho, porque todo mundo se foi...

CARMECITA

OWWWW Papagaio, mas eu estava ali do seu lado homem, você não estava sozinho, mas você não enxergou isso...

JOÃO NETO

Eu enxerguei agora... Você já pode voltar para casa, voltar pra mim...

CARMECITA

Não posso mais...

JOÃO NETO

Por quê??? Não seja tão durona comigo minha flor de maracujá!

CARMECITA

Não reparou.em meu dedo João? Eu fui pedida em casamento por um Jovem imigrante Espanhol, e eu aceitei. Iremos nos casar João e
ele vai me levar para a Europa!

JOÃO NETO

Não pode estar falando sério... É Sério?

CARMECITA

Sim João... É sério... Parto para Petrópolis daqui três dias onde me casarei com o Espanhol e de lá, partiremos para a Europa.

JOÃO NETO

Mas você é a CARMECITA DO BRASIL!! A minha Carmecita ... Não pode nos deixar...

CARMECITA

Nem o Brasil e nem você soube me valorizar João... Eu sinto muito, agora é tarde demais
 JOÃO NETO

Não, não pode ser tarde, cadê esse espanhol me deixa falar com ele!? Se ele quiser travamos um duelo, chame o jovem aqui!

(João fala tropeçando nas pernas de bêbado)

CARMECITA

Bom, exagerei um pouco quando disse jovem, é um jovem de 78 anos...

(Fala Carmecita sem graça)

JOÃO NETO

78 ANOS???? O que tu vai fazer com um velho de 78 anos mulher? Não deve nem se aguentar em pé um velhote desse!

CARMECITA

E você com metade da idade está se aguentando em pé João?

JOÃO NETO

Mas eu bebi foi cachaça e ainda tenho meus dentes tudo na boca!

CARMECITA

Pare de graça homem, volte para casa e tome um banho, é o que está precisando ...

(Carmecita emotiva se despede)

CARMECITA

Bom... Adeus João ... Desejo que você seja muito feliz ... E que encontre suas tão sonhadas respostas.

JOÃO NETO

Tudo bem, se não tem mais jeito ... Adeus minha flor de maracujá ... É nessas horas que eu precisava de uma mãe, pra abraça la e chorar
sem fim ...

(Fala o homem muito triste. Carmecita emotiva e triste sai correndo de cena

logo em seguida João Neto, entra em cena varrendo o chão Amara e logo em seguida

é abordada por Margareth que já chega pegando na nuca da escrava)

AT03

CENAS

MARGARETH

Vamos, diga onde ela vai se encontrar com o imundo do amante?

AMARA

Quem? Eu não sei do que a sinhá está falando!

 MARGARETH

Não se faça de sonsa escrava, eu ouvi tudo e sei sobre a fuga da Eva, ONDE ELA VAI SE ENCONTRAR COM ELE?

(A megera aperta mais Amara que começa a contar tudo)

AMARA

NOS TUNELS DA FERROVIA! POR FAVOR ME SOLTA!

(Margareth joga a escrava no chão e manda um decreto)

MARGARETH

Vai atras daquela imunda agora, e diga que já mandei prender seis escravos, se ela não voltar, mandarei colocar eles no tronco e depois
de apanharem muito, mandarei queimá-los vivos!

AMARA

A sinhá seria capaz disso?

MARGARETH

Mas é claro, e sua mãe é um dos seis escravos, então se apresse!

(Amara entra em desespero, e sai correndo, Margareth gargalha pega uma garrafa de vinho

para se servir e enquanto isso acontece Eva entra em cena no cenário dos Túneis, já para entrar

Amara grita)

AMARA

SINHÁ EVA! NÃO FAÇA ISSO!

EVA

Amara? O que faz aqui?

AMARA

A sinhá Margareth mandou prender seis escravos incluindo minha mãe, e se você não voltar, ela vai queimar todos vivos!

EVA

PELO CRIADOR, ZURI? ESSA MULHER ESTÁ LOUCA!?

(Ao som da trilha Eva olha para frente e volta o olhar para Amara, e decide voltar com a escrava

(COREOGRAFICAMENTE) João Pedro aparece na cena olhando o tempo

em um relógio de bolso, Margareth toma sua taça de vinho, o elenco entra em cena na coreografia, e após a encenação

Margareth pega Eva pelos cabelos)

MARGARETH

Pensava que ia escapar ilesa, sua mundana suja!

 EVA

ME SOLTA!

CALADA SUA ADULTERA! Eu só não conto para meu filho, porque me convém te chantagear, agora que está em nossas mãos
novamente! Pois agora você fará exatamente tudo que eu quiser!

EVA

NUNCA, EU PREFIRO MORRER A SER SUA ESCRAVA!

MARGARETH

MAS QUE OUSADIA, EU VOU PISAR EM VOCÊ COMO SE PISA EM UMA BARATA E TE ESMAGAR INTEIRA!

(As duas se pegam pelos cabelos e rolam pelo chão, as escravas não sabem se separam ou

se vibram, enfim o caos. Josh chega nesse momento)

JOSH

MAS O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI?

(Todos começam a se recompor)

JOSH

Não posso virar as costas que essa casa vira um caos?

(Margareth dissimulada chora e indaga)

MARGARETH

Eu sou a culpada meu filho...

(Eva se espanta com a fala da megera)

JOSH

Como? O que está havendo?

MARGARETH

Contei à Eva sobre as mensagens que ela escreve para o pai, e que você impede a escrava levar as mensagens ao seu destino e as
guarda todas. Sendo assim, o pai dela jamais recebeu nenhuma essas mensagens

EVA

o QUE? .... É verdade isso Josh?

 (Desconcertado)

JOSH

Por que fez isso minha mãe?

MARGARETH

Não queria ver a pobre moça sofrer mais achando que o pai tinha a abandonado, apesar de quê, agora ela já pode até saber que você
também escondeu a mensagem que recebeu avisando que o pai dela faleceu já fazem seis meses!

(Eva surta com a revelação)

EVA

MEU PAI? MORTO? E VOCÊ NÃO ME CONTOU? COMO VOCÊ PODE? EU TE ODEIO!!! EU ODEIO VOCÊS DOIS!!!

(Eva chora e vai pra cima de Josh batendo no homem que tenta contê-la, em meio a bagunça,

os contra regras trazem a mesa de João Neto a frente que estuda seus registros e de fundo, Josh manda

todos saírem)

JOSH

SAIAM TODOS! QUERO FALAR A SÓS COM MINHA MULHER!

JOSH

Eu errei, eu confesso... Eu não sei me dar com sentimentos, e você não irá acreditar em mim quando eu disser que mesmo contudo eu
te amo... Vamos recomeçar do zero, estou disposto a fazer isso dar certo. Vamos esquecer tudo, nem que for preciso irmos embora
daqui juntos e recomeçar em outra casa

EVA

NUNCA! EU TENHO NOJO DE VOCÊ, VOCÊ ARRUINOU A MINHA VIDA, VOCÊ ME TROUXE PARA UM PAIS SELVAGEM, NÃO ME ENSINOU
A SOBREVIVER NELE, ME HUMILHOU, ESPANCOU NA BASE DE CHICOTADAS E AINDA ACHA QUE DEPOIS DE TUDO ISSO SOBROU AMOR?

VOCÊ NÃO ME ENSINOU O AMOR, VOCÊ ME ENSINOU O ÓDIO!

JOSH

EU ERREI TA BOM! EU SEI QUE EU NÃO SOUBE FAZER ISSO DA MANEIRA CERTA, MAS EU ESTOU DISPOSTO A APRENDER

Eu te amo... Mas eu não sei amar... E por não saber amar, eu machuco você...

(A cena é tensa e os dois choram)

EVA

Agora é tarde josh... Eu não sinto mais nada por você a não ser pena...

JOSH

Não fale assim ... Eu posso te reconquistar ... Eu posso ser alguém melhor por você
 EVA

Sim, você pode ser alguém melhor, mas não mais por mim, apenas por você agora...

JOSH

Por favor, me perdoe por tudo... Eu vou mudar...

EVA

Eu te perdoo Josh, mas não me peça mais que isso, porque o único sentimento que vou poder te oferecer daqui pra frente, é o
perdão ...

(Eva sai de cena e Josh fica desolado no chão. MargarethEntra em cena e vai "consolar o filho")

MARGARETH

Vamos meu filho... Levante dai. Não é viável mostrar tanta fragilidade à criadagem. Se quer realmente reconquistar sua mulher, irei te
ajudar.

JOSH

Como minha mãe? Ela me odeia, eu estraguei tudo e ela jamais irá me perdoar.

MARGARETH

Amanhã será a inauguração da ferrovia e vocês precisam estar bem diante da sociedade, venha comigo, vamos sair para fazer compras,
vamos comprar um vestido lindo, joias e flores, nenhuma mulher resiste à presentes do marido.

JOSH

Pode ser que a senhora esteja certa. Espero que esteja ...

(Os dois saem de cena)

JOÃO NETO

A morte de um pai, seja em qualquer tempo, sempre será dolorosa para um filho. Imagino que para meu pai saber a morte de meu avô
Josh, não deve ter sido nada fácil.

(João lê na cena a certidão de óbito de Josh)

JOÃO NETO

"30 de abril de 1854, certidão de óbito de Josh Cooper.

Espere ... Essa datal? É a mesma data da inauguração da primeira Ferrovia da Brasil. Meu avô morreu na mesmo dia da inauguração da
ferrovia então ...

Motivo da morte... "

(O Ator lê a certidão e entra atrás do cenário dos túneis. Começa a coreografia dos trilhos e em

meio a coreografia Eva e João Pedro se encontram)

EVA

Espero que me perdoe, eu não pude permitir que seis escravos morressem por minha causa. Se isso tem de ser assim, que seja sem
derramamento de sangue inocente.
 (Josh e Margareth aparecem em cena carregando Pacotes, Margareth cinicamente direciona o olhar

do filho para Eva e João Pedro. Josh olha espantado e os dois parram a espionar Eva e João)

JOÃO PEDRO

Eu te esperei e achei que você tinha desistido de mim, desistido de nós...

EVA

Não tem como eu desistir de você, eu amo você ...

(Os dois se abraçam, a luz e foca em Josh furioso entra nos tuneis)

JOSH

AQUELA ADULTERA, ME ENGANANDO O TEMPO TODO, COMO ELA PODE FAZERE ISSO COMIGO?

(Furioso o rapaz destrói as compras para descontar sua raiva)

MARGARETH

Sempre te alertei que tinha algo errado nessa mulher meu filho, você não me deu ouvidos!

JOSH

E eu tolo tentando recomeçar, abrindo meus sentimentos e falando de amor, Ahhhh mas isso não vai ficar assim! EU VOU MATA LOS!

MARGARETH

Não seja tolo! Se você os matar vai preso e vai acabar com sua vida... Existem outros meios...

JOSH

Que meios minha mãe?

MARGARETH

Um acidente por exemplo? Que tal uma explosão? E a Eva voando pelos ares junto do amante dela?

(Margareth fala a fala pegando algumas dinamites que estão nos materiais de construção dos túneis,

Zuri chega nesse momento em cena e ouve todo o plano)

JOSH

Não é uma ideia ruim...

MARGARETH

Faça apenas o que eu te disser, Vamos atrair Eva para cá junto do amante, e quando estiverem aqui, você os explode como dois ratos
em uma armadilha.

JOSH

Você é genial Mamãe... Todos pensarão que foi um desastre! Eles vão se arrepender de terem me feito de idiota esse tempo todo.
 (João Neto volta em cena com seus papéis e livros deregistros, Josh e Margareth sai de cena)

JOÃO NETO

Não é possível, não há nenhum registro em nenhum lugar de qualquer explosão no dia da inauguração da linha férrea, no mínimo um
pequeno problema no mecanismo do trem que D. Pedro li estava. Ou essa explosão nunca aconteceu, ou sumiram com esse registro.

Vamos João Neto, deve ter algo que você não está enxergando, algo que está deixando passar ...

AT03

CENA ÚNICA

(João vai para trás da porta novamente e por ela entra Josh em casa está apenas Amara que amassa uma massa de pão)

JOSH

Amara, onde está minha mulher?

AMARA

Oras, não faço ideia patrão. Depois do furdunço todo que aconteceu na sala, não vi mais a sinhá

JOSH

Verdade ...

(O homem brutalmente pega na nuca de Amara)

JOSH

Quietinha! Você vai fazer o que eu mandar ok!? Amanhã na inauguração da linha férrea você vai encontrar minha mulher com o
amante dela, e vai dizer que sua mãe se feriu nos tuneis, vai atrair os dois para lá, está me entendendo?

AMARA

Sim senhor, mas por que isso patrão? O que pretende?

JOSH

Isso não é da tua conta ... Você até que é uma negra jeitosa né? Olhando bem de perto... Venha, a gente vai brincar um pouco...

AMARA

Do que está falando patrão? Por favor, não me machuque...

JOSH

Machucar, não, claro que não, você vai gostar!

(O homem leva a escrava e Margareth aparece na cena vendo o fato e abanando

seu leque, com um meio sorriso irônico)

 MARGARETH

Agora que as coisas começam a esquentar! Enfim meu filho recordou a consciência e voltou a ser o homem viril da casa!

(A mulher sai de cena e João Neto de trás da porta com seus papéis e dá de cara com Carmecita que entra em cena)

AT03

CENA9

JOÃO NETO

Carmecita? O que faz por aqui?

CARMECITA

Oi João... Tudo bem? Eu vim buscar meu passaporte...

JOÃO NETO

Então você vai mesmo embora?

CARMECITA

Sim, nossa e você lembra? Achei que de tão bêbado que estava, nem iria se lembrar...

JOÃO NETO

Sou um bêbado consciente... Bom, só me resta te desejar toda a felicidade do mundo...

CARMECITA

E é só? para você é simples assim?

JOÃO NETO

Nunca foi, para mim nunca nada foi simples. Você acha que é a primeira que me abandona? Que vai embora da minha vida sem deixar
rastros? Por que acha que eu estou nesse caos todo?

CARMECITA

Vamos, pare de se vitimizar, todos nós temos nossos caos João, mas nem por isso temos de viver em círculos dentro dele!

JOÃO NETO

Olha como você fala ... Você é insensível...

CARMECITA

E você um mimadinho que só sabe choramingar seu passado ao invés de viver seu presente e fazer a sua vida melhor do que fizeram!

(João neto tenta retrucar, mas as palavras não saem)

 CARMECITA

Oras, saia da minha frente, já vi que não adianta, você é um caso perdido ...

(A moça sai de cena enfurecida, e João Neto por outro lado chateado, entra em cena Josh bebado)

JOSH

Aquela ingrata ... Ela não podia ter feito isso comigo ... Acho que preciso de um banho, aquela negra até que deu conta do recado, mas
agora to me sentindo imundo... Ah olhem só, um bordel ... Hoje a noite será longa Eva Green, vou me lambuzar no pecado e amanhã
encerrar com chave de ouro mandando você e seu amante insolente pelos ares...

(Josh entra pela porta onde tem a placa do bordel, Trilha para o amanhecer, as escravas lavam a roupa

como se estivessem a beira do rio, João Pedro aparece confiscando os preparativos para a inauguração da

linha Férrea. Margareth pendura seus brincos e se arruma, Eva na sequência

Quando entra em cena Amara volta triste e parece machucada, Eva questiona a escrava)

AT03

CENA 10

EVA

Oi Amara... Ainda não conversamos sobre as mensagens do meu pai... Amara!? Você está bem?

(A escrava pensa e reluta, mas acaba se entregando à mentira)

AMARA

Minha mãe, está nos tuneis machucada, ajude ela sinhá!

EVA

Mas como isso foi acontecer Amara? Pior que eu nunca sei andar pelos túneis, mas vamos pedir ajuda para o João, ele pode nos ajudar

(Coreograficamente) Os contra regras retiram o que é preciso do cenário,

Eva e Amara reaparecem em cena e encontra João Pedro com um saco de pipocas)

JOÃO PEDRO

Caramba, isso aqui tá muito bom, deveríamos ter uma inauguração histórica todos os dias no Brasil, só pra enchermos a pança desses
negócios bons!

Que ... está havendo?

EVA

Zuri está em apuros nos tuneis!

JOÃO PEDRO

O que estamos esperando? Vamos ajudar...

 AMARA

Eh, eu também acabei me machucando, vão na frente eu acompanho vocês, só preciso me recompor um pouco.

(Ao som de trilha e passagem de horas Josh aparece no cenário dos túneis preparando as bombas,

Eva e João ensaiam entrar nos Túneis e Zuri aparece do fundo do público gritando)

ZURI

SINHÁ!!! NÃO ENTRE AI! É UMA ARMADILHA!

EVA

ZURI?

(se pergunta espantada)

ZURI

Venham, eu conto tudo, mas precisamos ir!

(Amara sai desesperada)

EVA

AMARA? Gente o que está havendo?

(Margareth aparece em cena e surpreende todos com uma arma)

MARGARETH

EU VOU CONTAR O QUE ESTÁ HAVENDO! NINGUÉM VAI À LUGAR ALGUM!

EVA

O QUE É ISSO MARGARETH, ENLOUQUECEU DE VEZ?

MARGARETH

CALE A BOCA! VAMOS ESCRAVA, AMARRE OS DOIS, É UMA ORDEM!

(Zuri é obrigada a amarrar João e Eva, enquanto isso no cenário dos túneis, Josh exclama)

JOSH

Malditos túneis, não dá pra ouvir muita coisa la de fora, mas parece que são vozes...

(Eva lá do outro lado da cena implora)

 EVA

Por favor Margareth, nos deixe em paz!

JOÃO PEDRO

Liberte ela, eu te entrego minha vida, mas deixe ela ir!

(Josh ouve as vozes e questiona)

JOSH

É a voz da Eva, e daquele imprestável! Acho que estão entrando no túnel, vou ascender as dinamites.

{O homem ascende as dinamites, mas quando vai sair prende o pé nas pedras e fica preso)

JOSH

Vamos, solta! Vamos! Não to conseguindo, vamos Josh seu burro, péssima hora para ficar preso ...

(O Homem se desespera)

MARGARETH

VAMOS LOGO COM ISSO ESCRAVA IMUNDA!

(Josh ouve a voz da mãe e pede socorro)

JOSH

MÃE? MÃE É VOCÊ? POR FAVOR ME AJUDE, EU ESTOU PRESO!

JOSH

VAMOS! EU VOU MORRER! MAMÃE!! EU VOU MORRER! SOCORR ....

MARGARETH

JOSH? É A VOZ DO MEU FILHO, JOSH?

(As dinamites explodem e com efeitos de trilha e luzes a explosão acontece matando

a personagem no túnel. Margareth se desespera por sabe que seu filho está la dentro, Zuri desamarra

os dois e os três saem correndo de cena)

MARGARETH

JOSH!!!!!!!! JOSH MEU FILHO! MEU FILHO ESTÁ LÁ! SALVEM MEU FILHO!!!

JOOOOOOOOOOOOOSHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!!!!!!

(Uma borboleta sai de dentro dos túneis e pousa nas pedras. Depois de toda a encenação de Margareth,

se dá um blecaute e quando retorna a luz uma trilha começa com a narração gravada de João que conta os próximos acontecimentos)
 AT03

CENA 11

JOÃO PEDRO

"Querida mãe... Queria tanto ter você aqui conosco, mas por enquanto isso não será possível. Qualquer pessoo que suporte a
devastação de uma perda, pode de fato saber apreciar o que tem em suas mãos, após a morte do arquiteto, meu ex-chefe, fechou se um
ciclo em nossas vidas e eu pude enfim ter_a amar da minha vida, porém precisamos fugir às pressas da fazenda e nos esconder da ira de
Margareth. As autoridades acharam melhor abafar a explosão dos tuneis paro não provocar um escândalo diante da sociedade e
manchar a imagem de D. Pedro li e a construção do ferrovia que inaugurava aquele mesmo dio. Zuri e Amaro tem nos ajudado as
escondidas e ao mesmo tempo continuam na fazenda de olho em Margareth paro nós, logo depois que eu e Eva nos casamos, ela
engravidou, sim você irá ser avó... Amaro também apareceu grávida, mas a gravidez dela pegou todos de surpresa e é um mistério para
nós, pois ela nunca revelou quem é o poi de seu filho nem paro Zuri suo mãe. Mas graças ao criador, o parto dela foi bom e espero que o
de minha mulher Eva também seja, essa criança já é tão aguardada, assim que nascer e minha mulher se recuperar, levaremos seu neta
paro você conhecer...

Com amor e saudade, João Pedro"

(Toda a narração é construída com o corpo dos atores COREOGRAFICAMENTE,

até cena do parto de Eva que já se inicia com a atriz gritando de dor)

ZURI

VAMOS SINHÁ, FORÇA! RESPIRA MINHA FILHA!

EVA

EU TO TENTANDO ZURI, MAS COMO ISSO DÓI! CADÊ JOÃO PEDROOOOO?

ZURI

AMARA FOI AS PRESSAS CHAMAR, O POBRE ESTÁ TRABALHANDO FEITO DOIDO PRA JUNTAR DINHEIRO.

(Eva já não aguentando mais, entra em trabalho de parto e nasce João Pedro filho,

Logo após a encenação do parto, Eva adormece e Amara entra em cena]

AMARA

Procurei por toda parte, não encontrei nem rastro de João

ZURI

Fale baixo, a criança já nasceu, foi tão difícil que a sinhá acabou desmaiando no parto e ainda nem viu o filho ... Bom, eu preciso limpar
toda a bagunça do parto, pegue o menino minha filha, cuide dele até eu limpar tudo aqui

(Amara desconfiada se certifica de que a mãe está distraída,Zuri junta os panos e sai de cena.

Amara cobre a criança com um casaco que está posto nas costas da cadeira, pega o colar que

está sobre a mesa e coloca no bolso do casaco (A atriz deve expor essa atitude bem claro

Ao público), Amara pega a criança e sai de cena com a criança em seus braços. Sai de trás do

biombo João Neto já em 1940 com seus papéis)

 JOÃO NETO

Então é isso? Minha bisavó foi morta queimada viva em uma fogueira, meu avô morto em uma explosão que nunca foi mencionada
para a sociedade, freiras me traficaram junto de um colar lendário. Essa história toda absurda, que só me emergiu mais ainda no meu
próprio caos. Nadei e nadei e morri na praia ... E ainda perco hoje minha flor de maracujá, que a essa hora deve estar quase partindo
pra se casar com o idoso dela ...

(O Homem para pôr alguns instantes e pensa logo após reage)

JOÃO NETO

VOCÊ É BURRO JOÃO NETO? VAI PERDER O AMOR DA SUA VIDA? JÁ NÃO BASTA NÃO CONSEGUIR DESVENDAR NADA DO QUE
REALMENTE QUERIA, E AINDA NÃO ESTÁ CONTRUINDO A PRÓPRIA HISTÓRIA? VOCÊ É MUITO BURRO!!! NÃO VOU DEIXA LA IR, PRECISO
IR CORRENDO PARA A ESTAÇÃO, JÁ CHEGA DE VIVER DE PAPÉIS, VOU VIVER DE AMOR AGORA!!!

CARMECITAAAAA!

(João Neto sai correndo às pressas de cena gritando o nome da amada. Entra pela porta Amara

com a criança em seus braços. E Margareth a recebe)

AMARA

Aqui está sinhá, como combinado...

MARGARETH

Oras vejam se não é a cria da imunda... Até que enfim você serviu para algo imprestável, me dê a criança!

AMARA

Antes, cumpre com sua palavra... Me dê minha liberdade!

MARGARETH

Você é mais cabrinha que se imagina em trair assim sua amiga por um pedaço de papel. Aqui está sua Alforria

(Margareth estende a mão com o papel, sem pegar, Amara indaga)

AMARA

Abra e me mostre ...

MARGARETH

Escrava imunda... Posso ser uma víbora, mas não falto com minha palavra aos meus aliados

(Após ler, Amara entrega a criança para Margareth)

MARGARETH

Agora suma da minha frente pra sempre e leve sua filha bastarda contigo. Não quero ver ela nunca mais na minha frente.

AMARA

Você sabe que essa menina é sua neta, e que a gente pode ir para o fim do mundo, a luz dela sempre brilhará forte ela sempre
continuará sendo sua neta
 MARGARETH

Não tenho netos negros, filhos de escravos, meu filho está morto e não está aqui para confirmar essa história, então logo, não tem
nada a ver comigo, suma daqui com aquela imundinhal

AMARA

Pode deixar, não iremos precisar mesmo de você, agora estou livre, minha filha vai ser muito melhor do que eu e você juntas ... O
mundo dará suas voltas, e essas crianças hão de conhecer o amor e serem protegidas de nossas crueldades

(Zuri chega em cena pela porta e surpreende as duas. a mulher se aproxima, olha para o filho de Eva nos braços

de Margareth, olha para filha e o papel que está em suas mãos e sem dizer nada antes, profere uma bofetada

em Amara e em seguida exclama)

ZURI

Como você pôde? Como pode se vender assim a custas de tirar o filho de uma mãe? Quem você puxou seu monstro?

(A escrava profere tapas em Amara e chora indignada, Amara grita e pede para a mãe parar

AMARA

ME PERDOE MÃE, EU SÓ QUERIA SER LIVRE E ME LIVRAR DE TODO ESSE INFERNO

ZURI

AS CUSTAS DE UM INOCENTE E DA INFELICIDADE DA MULHER QUE TE CHAMOU DE AMIGA? O NOSSO POVO NÃO TEM ESSE CARATER,
VOCÊ SE PERDEU, NÃO TE RECONHEÇO, NÃO SERÁ MAIS MINHA FILHA

(Zuri se volta para Margareth, mas antes de conseguir tomar a criança

dela, Margareth ameaça com um cutelo)

MARGARETH

Não chegue perto de mim escrava imunda, se você der mais um passo eu arranco a cabeça dessa criança!

(Margareth sai de cena, Zuri se lança de joelhos ao chão e reclama aos prantos)

ZURI

O que eu fiz para merecer tanta dor? Por quê?

(Amara tenta se aproximar e pedir desculpa, mas a escrava mãe impede)

ZURI

Não se aproxime de mim! Eu não quero voltar a te ver nunca mais na minha frente, a partir de hoje, você não é mais a minha filha...

(Amara desolada sai de cena, permanece em cena Zuri arrasada com o rosto em terra,

depois de se lamentar, a escrava se levanta)

 ZURI

Preciso avisar a sinhá, mas... Não eu não vou ter coragem de contar â ela que minha própria filha roubou aquele menino e entregou nas
mãos daquela cobra. E mais, que Maria Luz, a filha de Amara é filha do falecido patrão ... Eu não tenho essa coragem, é demais para
mim...

(Aos prantos e com muita dor, a·escrava (EM COREOGRAFIA) Vai até o tecido que simulará a praia que os contra regras

Armarão no palco em volta do alçapão do palco, a atriz deve descer o alçapão encenando como se estivesse

tirando sua vida ao se afogar na praia sai de cena, os contra regras giram a porta, e agora nela está escrito

"Convento da Ajuda". Margareth entra em cena com João Filho nos braços. A mulher já está transtornada e parece

não estar bem da cabeça)

MARGARETH

Vamos meu filho, mamãe vai cuidar de você meu amor! Meu Josh! Você é o amor da minha vida! Mamãe só precisa deixar você um
pouco pra poder matar sua esposa e vingar sua morte ... Do meu filho... Mas você é meu filho, não é?

(A atriz deve trabalhar bem esse estado de loucura da personagem e sua dissociação com a realidade e a ilusão.

Margareth bate na porta do convento e aparece apenas a mão de Sarah para fora da porta colocando a mão no

ombro de Margareth e levando ela para dentro. Entra em cana João Neto na sua correria, os contra regras

trazem o guichê e o homem questiona com o atendente)

JOÃO NETO

É, por favor, o trem que vai para Petrópolis, já saiu?

ATENDENTE

Está saindo nesse momento da plataforma senhor!

JOÃO NETO

NÃO, PAREM ESSE TREM!! CARMECITAAAAA!

(João vai até o trem que já está partindo, grita o nome da amada, Carmecita coloca parte do corpo para fora e

surpresa dialoga com João (o Ator deve correr no mesmo lugar para dar efeito que está tentando alcançar o trem)

CARMECITA

JOÃO? O QUE FAZ AQUI HOMEM?

JOÃO NETO

VOCÊ NÃO PODE IR, NÃO PODE SE CASAR COM OUTRO

CARMECITA

E POR QUE EU NÃO POSSO?

 JOÃO NETO

PORQUE EU TE MO! EU SEI QUE VOCÊ IRÁ DIZER QUE ESTÁ COMPROMETIDA COM OUTRO HOMEM E QUE EU TE DIZER ISSO É UM
PECADO!

CARMECITA

E QUEM LIGA? QUE SEJA PECADO, MAS FALE HOMEM! FALE O QUE EU PRECISO OUVIR!

JOÃO NETO

ME PERDOA POR NÃO TER ENXERGADO ISSO A TEMPO!!! EU QUERO CONSTRUIR A MINHA PRÓPRIA HISTÓRIA CONTIGO, PORQUE
VOCÊ É O AMOR DA MINHA VIDA, AGORA DESCE LOGO DAI PORQUE EU JÁ ESTOU FICANDO SEM PERNAS!

CARMECITA

EU TAMBÉM TE AMO MEU PAPAGAIO PECADORZINHO, MAS O ESTRANGEIRO JÁ ESTÁ ME AGUARDANDo'E O TREM JÁ ESTÁ EM
MOVIMENTO!!!

JOÃO NETO

PAREM ESSE TREM!!!!!

CARMECITA

ACHO QUE É TARDE DE MAIS MEU PAPAGAIO, ADEUS, LÁ SE VAI A MUSA DO BRASILLLLLLLLL!

(A moça sai de cena levada pelo trem, João Neto para aos poucos de correre cansado lamenta)

JOÃO NETO

Não ... Eu não posso te perder... Por que ninguém consegue permanecer na minha história...

(Questiona o rapaz e chora, sai de cena e entra pela porta Eva que foi até a fazenda

enfrentar Margareth, a megera está sentada tomando seu vinho)

EVA

ONDE ESTÁ MEU FILHO?

MARGARETH

Seu filho? ONDE ESTÁ O MEU FILHO??? Ah, lembrei, você o matou!!!

EVA

Seu filho morreu pela própria armadilha Margareth e você colaborou! Você é mais culpada disso do que qualquer um...

MARGARETH

Você não vai entrar em minha mente, você é uma serpente destruidora, mas você teve o que mereceJ, um filho, por um filho!
 EVA

Não seja louca Margareth, DIGA ONDE ESTÁ MEU FILHO?? EU TENHO CERTESA DE QUE FOI VOCÊ QUE O LEVOU!

(Eva parte para cima de Margarethe estapeia a megera que grita)

EU MATEI!!! ASSIM COMO VOCÊ MATOU O MEU FILHO!!!

EVA

VOCÊ ESTÁ MENTINDO, VOCÊ NÃO FOI CAPAZ DISSO!!

MARGARETH

SIM, EU FUI! MATEI SEU FILHO, E VOCÊ NUNCA SABERÁ ONDE EU ENTERREI. ASSIM COMO EU NÃO PUDE TER O CORPO DO MEU FILHO
PARA VELAR, VOCÊ NÃO TERÁ O DO SEU!

EVA

POR QUE VOCÊ FEZ ISSO, POR QUE VOCÊ ME ODEIA TANTO? O QUE EU FIZ PARA VOCÊ? VOCÊ MATOU MEU FILHO!

(Eva estapeia Margareth e João Pedro entra em cena pela porta e separa a mulher de Margareth tentando acalmar Eva.

Margareth sai desnorteada)

EVA

Ela matou nosso filho João, ela matou nosso filho...

(Os dois choram, João Pedro leva a esposa de cena. E em encenação de corpo ao som de tambor e

dos escravos em volta da fogueira, terá de ser construído a cena da morte de Margareth. Logo após

retorna em cena Eva e João Pedro sentados diante de irmã Sarah (está deve estar

de costas para o público)

EVA

Então irmã Sarah, os médicos disseram que eu nunca mais poderei ter filhos. E faz quase um ano que o meu filho foi assassinado.

JOÃO PEDRO

O sonho de minha esposa, sempre foi ser mãe, então resolvemos vir até o Convento da Ajuda para adotar um filho!

IRMÃ SARAH

Sim, claro. Acho que tenho a solução para vocês, temos um menino que foi deixado pela mãe no convento, ela parecia um pouco
perturbada em sua mente e nos entregou a criança dizendo que voltaria depois de resolver um assunto. Mas nunca mais retornou.
Venha, irei levar vocês até a criança, é um menino lindo, vocês irão gostar!

(A Freira pega segura no ombro de Eva e a leva, João Pedro permanece sentado no banco,

os contra regras giram o banco e vamos para 1940 com João Neto sentado agora)
 JOÃO NETO

Ela se foi, nem tive a chance de dizer o quanto eu a amava e mais uma vez eu não consegui segurar uma pessoa em minha vida, talvez a
meu destino seja ser solitário, mas dessa vez eu acho que colaborei com o destino ...

(Eva já bem velha e de costas para o público e, deve passar pelo homem e deixar cair um lenço.

João Neto ao perceber, pega o lenço e entrega para a idosa, que quando olha para o homem, se surpreende}

EVA

JOÃO PEDRO?

JOÃO NETO

A senhora me conhece?

EVA

Desculpa, achei que fosse meu marido que foi ao banheiro, mas estou tão caduca já que estou me confundindo!

(Eva segue em frente, João Neto sem entender, pega suas coisas e ensaia

ir embora triste ... A luz apaga e com instantes Carmecita grita)

CARMECITA

PAPAGAIO!!!

(A luz reascende e João Neto surpreso olha para trás)

JOÃO NETO

Carmecita? Mas, como? Como você conseguiu?

CARMECITA

Ninguém barra Carmecita González, tive de armar um escândalo para pararem o trem

JOÃO NETO

Que escândalo?

CARMECITA

Mostrei meus seios para todo mundo!

(gargalha a moça, logo após se queixa)

Só não sabia que andar pelos trilhos era tão cansativo. Aliás, deve ter uma meia dúzia de pedras no meu sapato!

JOÃO PEDRO

E você ainda veio atras de mais uma?

CARMECITA

Nem tudo é perfeito não é mesmo, amor da minha vida!

 JOÃO NETO

EUTE AMO!

CARMECITA

Eu sempre te amei

JOÃO NETO

Quero que isso seja seu, como sabe, é herança de família...

(O homem coloca no pescoço de Carmecitao famoso colar. A moça se surpreende)

CARMECITA

Mas João, pela tradição da sua família, esse colar você deveria dar apenas à sua esposa ...

JOÃO NETO

Sim, isso mesmo. Carmecita González, você aceita se casar comigo?

CARMECITA

EITA BRASILLLLLL!! MAS É CLARO QUE SIM!!!

(Os dois felizes se abraçam e Carmecita ressalta)

CARMECITA

Vamos, voltemos para casa, mas vamos de ônibus porque meus pés já não aguentam mais!!

(Os contra regras trazem as cadeiras do ônibus, Eva e João Pedro bem avançados em idade se

sentam-se de um lado (Porém de costas para o público).

EVA

Vamos João, se sente homem, quase não te achei, não me faça perder outro João em minha vida, logo nos últimos dias que me restam
dela ... Sente se aqui...

(Camecita e João Neto entram no ônibus e se sentam do outro lado. João Pedro já velho dorme,

Eva deita em seu ombro.Do outro lado Carmecita deita no ombro de João Neto, e ao som da trilha

entra em cena a ilustre borboleta e surpreende Eva que a observa)

EVA

Olha vejam só, uma velha amiga...

(A borboleta pousa no ombro de Carmecita que se desespera, tenta chamar João neto, mas ele já

dorme profundamente e não atende)

CARMECITA

JOÃO, SOCORRO!!! Uma borboleta, eu tenho pavor de insetos!!! ACORDA HOMEM!

(Eva estende a mão e delicadamente pega o inseto impulsionando ele para oar para outro lugar.
 EVA

Não se desespere, ela é inofensiva...

(Carmecita agradece)

CARMECITA

Obrigada!

EVA

Estava falando com a borboleta ...

(Carmecita desconcertada, se acomoda. Eva continua olhando para a moça e repara em seu colar. Curiosa, pergunta)

EVA

Minha jovem ... Onde comprou esse colar?

(As duas se olham, começam a conversar, a luz apaga aos poucos até o Blecàute)

FIM