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Apresentação

Baseada nas publicações existentes sobre a criação de museus, a equipe da Coordenação do


Patrimônio Museológico – CPMUS, do Departamento de Processos Museais – DEPMUS,
do Instituto Brasileiro de Museus, vem, por meio deste apontamento, trazer algumas
recomendações no sentido de orientar o processo de implantação de instituições
museológicas.

É válido ressaltar a importância de conhecer as leis que norteiam essas instituições, o seu
funcionamento, adequações e objetivos. A legislação esclarecerá as diretrizes que estão
sendo determinadas pelos conselhos, institutos e demais grupos organizados da área
museológica. Atreladas às leis, devemos nos apropriar das diretrizes apontadas pela Política
Nacional de Museus, que vem sendo desenvolvida em todo o território nacional, desde
2003.

Equipe CPMUS
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1. Implantação de museus

1.1- Função e funcionamento de uma instituição museológica

Segundo a Lei 11.904 de 14 de janeiro de 2009, que institui o Estatuto de Museus são consideradas
instituições museológicas:

Art. 1o Consideram-se museus, para os efeitos desta Lei, as instituições sem fins
lucrativos que conservam, investigam, comunicam, interpretam e expõem, para
fins de preservação, estudo, pesquisa, educação, contemplação e turismo,
conjuntos e coleções de valor histórico, artístico, científico, técnico ou de
qualquer outra natureza cultural, abertas ao público, a serviço da sociedade e de
seu desenvolvimento.

Assim, podemos verificar que uma instituição desse caráter possui algumas especificidades práticas
e metodológicas para oferecer a seus públicos um serviço sócio, cultural e educativo de qualidade.
Para a sua implantação devemos considerar:
1- Processo jurídico de criação;
2- Elaboração do Plano Museológico;
3- Plano de ocupação dos espaços.

1.2- Processo jurídico de criação

Uma instituição museológica, seja ela de instância pública ou privada, deve possuir uma
base legal para a sua existência. Esse requisito pode ser atendido por meio de decreto, lei,
portaria, ata ou qualquer outro documento que tenha o reconhecimento legal para sua
validação.

Recomenda-se que o município aprove uma lei junto ao poder legislativo criando as
instituições desejadas. Devem constar nessa lei artigos referentes à sua vinculação (está
situado em qual secretaria?); local de instalação (tem sede própria?, qual o endereço?);
dotação orçamentária (a secretaria destinará uma verba específica?); tipologia do museu
(histórico, artístico, ciências...?); objetivos; finalidade; competências. Cumprindo as devidas
descrições, essa lei de criação dispensará a aprovação de um Estatuto.

Após a sua criação legal, faz-se necessária a aprovação de um Regimento Interno. Tal
documento estabelecerá as normas de funcionamento do museu, desde sua finalidade,
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propósitos, objetivos, política institucional, formas de manutenção, número de setores


e/ou departamentos e seus respectivos funcionários, assim como a construção do seu
organograma.

Esse mecanismo gera possibilidades para a instituição criar comissões, Grupos de Trabalho
de caráter permanente ou transitório, além de estabelecer que os casos não tratados no
Regimento sejam solucionados pelo dirigente da instituição ou conselho consultivo, caso
haja.

Estrutura básica de um regimento interno:

• Vinculação institucional;

• Competência – o que a instituição realiza, promove e desenvolve;

• Organização interna – estabelece as funções de cada setor e/ou


departamento;

• Atribuição dos dirigentes;

• Disposições gerais/finais.

2. Planejamento e gestão

O instrumento de planejamento e gestão utilizado nas instituições museológicas é o Plano


Museológico. Trata-se de um documento elaborado em conjunto, com toda a equipe do
museu, podendo ser auxiliado por consultores externos, caso seja de interesse da equipe.

A elaboração do Plano Museológico está amparado na Portaria nº 1, de 05 de julho de


2006, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, assim como
nos artigos 44, 45, 46 e 47 da Lei 11.904/09, Estatuto de Museus. Esses dois documentos
definem a função e os aspectos que devem ser contemplados no Plano.

O processo de elaboração se dá em três fases interdependentes e complementares:


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I: Definição institucional - visa apresentar uma abrangente análise da


instituição museológica em todas as suas facetas, funções e equipes, com a
finalidade de identificar as suas potencialidades e lacunas oferecendo um
diagnóstico. Essa análise possibilitará o estabelecimento de prioridades para a
elaboração dos programas e projetos com vistas a estabelecer a
responsabilidade do museu sobre o seu acervo e seu entorno sociocultural,
através da especificação de sua missão; visão; marcos temáticos, cronológicos e
geográficos; delimitação dos seus públicos, relações e ações.

II: Programas - documentos construídos para a ordenação das atuações em


cada âmbito do museu, que inclui a relação das necessidades para o
cumprimento de suas funções, que se concretizarão em diferentes projetos.
Embora compartimentados, os programas se conectam.

III: Projetos - documentos executáveis que possibilitam a materialização


concreta das especificações técnicas reconhecidas nos diferentes programas.
Nos projetos são definidas, descritas e propostas as soluções ajustadas para as
necessidades das instituições.

Fase I – Definição da Instituição

Delineamento institucional e conceitual: identidade, singularidade e relevância do museu.


Definição da missão: finalidade (para que existimos?); metas (o que queremos alcançar?);
estratégia (como alcançar?); público-alvo (para quem fazemos?).
Diagnóstico: análise situacional; coleta de informações (instrumentos: entrevistas;
questionários; observação; outros ou criação de novos).
Identificação de potencialidades e desafios.
Escolha de ações (estabelecimento das prioridades).

Fase II - Programas

Programa Institucional
Neste programa será identificado o perfil da instituição para alcançar seus objetivos, em
consonância com o seu delineamento conceitual, ou seja, é a estruturação organizacional do
museu a partir da sua filosofia:
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- Elaboração/revisão do Estatuto/Regimento Interno;


- Estruturação de organograma;
- Associação de Amigos;
- Relações institucionais.

Programa de Gestão de Pessoas


Definição das necessidades, estruturação e qualificação de recursos humanos da instituição,
a partir das propostas contidas nos outros programas:
- Definição de cargos e funções;
- Qualificação do pessoal (cursos);
- Necessidades de contratação;
- Propostas de intercâmbio de profissionais entre instituições.

Programa de Gestão de Acervo

Programa que gerencia os bens culturais do museu, podendo ser subdividido em


subprogramas: documentação, conservação/restauração, aquisição:

a)Acervo museológico: compreende o conjunto de bens culturais, de caráter material ou


imaterial, móvel ou imóvel, que integram o campo documental de objetos/documentos que
corresponde ao interesse e objetivo de preservação, pesquisa e comunicação de um museu.

b) Aquisição – o estabelecimento de uma Política de Aquisição passa por um extenso


conhecimento sobre a instituição museológica (qual é o objetivo do museu?, o que se
pretende representar nele? de que forma?) o que inclui o preciso dimensionamento da
extensão, possibilidades e necessidades do acervo. A partir daí será possível o
estabelecimento de diretrizes gerais para a aquisição. Sendo assim, o que se deve levar em
consideração na seleção de objetos: espaço físico; acondicionamento; estado de
conservação da peça; adequação da peça às finalidades do museu; potencial de estudo. As
formas de ingresso de objetos nos museus são: compra, doação, empréstimo, permuta,
legado ou depósito.

c) Documentação – conjunto ou cada um dos processos de elaboração e produção, coleção


e classificação, difusão e utilização da informação contida em documentos de qualquer
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natureza, se restringindo ou ampliando de acordo com o tipo de documento: definição do


sistema documental, classificação, informatização, meios para acesso à informação, entre
outros.

d) Conservação – conjunto de medidas que visam conter as deteriorações de um objeto ou


resguardá-lo de danos, através de levantamento, identificação, estudo, diagnóstico e
controle de ameaças. Identifica-se com os trabalhos de intervenções técnicas e científicas,
periódicas ou permanentes, repetidos ou continuados, aplicados diretamente sobre uma
obra ou seu entorno, com o objetivo de prolongar sua vida útil e sua integridade.

e) Restauração – conjunto de medidas técnicas mais apuradas, complexas e que objetivam a


estabilização para a reintegração do documento ou suporte, tanto nos aspectos físicos
quanto químicos, e a reversão de danos adquiridos pelo documento ao longo do tempo e
do uso, de modo a não comprometer as suas características históricas e estilísticas.

Programa de Exposições

Programa que gerencia todos os processos e espaços (internos e externos) de exposição do


museu: conceito, organização dos conteúdos (temáticas, cronologia, etc.), seleção de
objetos, utilização de recursos audiovisuais, recurso de quiosques informativos, recursos
expográficos, parcerias e acessibilidade, para cada tipologia:

a) Exposição de longa duração;


b) Exposições de curta duração;
c) Exposição itinerante.

Programa Pedagógico

Articulado com a sociedade compreende as ações educativas desenvolvidas pela instituição:


- Treinamento para monitores;
- Gerenciamento de visitas guiadas;
- Intercâmbio com instituições educativas e comunidades;
- Gerenciamento das avaliações das atividades educativas.
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Programa de Investigação/Pesquisa

Programa responsável pelas diretrizes para produção, processamento e disseminação das


informações:
- Definição de linhas de pesquisa;
- Estudos de público;
- Publicações;
- Cursos, seminários, etc.

Programa Arquitetônico

Neste programa serão identificadas as necessidades espaciais e de infraestrutura da


edificação às funções museológicas. Sugere-se que sejam desenvolvidos os seguintes
pontos:

a) Considerações gerais - planejamento urbanístico, histórico, aspectos técnicos (ex: estudos


do terreno, condicionantes climáticos), etc. Sistemas de controle ambiental, sistemas de
iluminação, necessidades de conservação, proteção, restauração, aspectos de segurança, etc.

b) Espaços - o programa deverá conter uma relação dos espaços do museu. Cada espaço
deverá ser descrito em termos de características (m2, instalações, equipamentos), uso e
função.

c) Intercomunicação e circulação geral - em relação ao acervo, ao funcionamento interno e


ao público (exemplos: escadas, elevadores, corredores); relação entre as áreas e seus acessos
segundo as rotinas de trabalho (exemplos; área de recepção, desembalagem, registro,
reserva técnica).

Programa de Segurança

Programa relacionado a todos os aspectos de segurança da instituição:

- Brigada de emergência;
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- Planos de emergência;
- Proteção contra roubos;
- Transporte de acervo.

Programa de Financiamento e Fomento

Destinado às ações de captação e aplicação de recursos.

- Inscrição de projetos em editais;


- Convênios com outras instituições;
- Busca de patrocinadores e parceiros;
- Meios para auto-sustentabilidade do museu.

Programa de Difusão e Comunicação

Programa responsável pela divulgação e circulação das ações do museu, bem como sua
imagem junto à sociedade.

- Pesquisas de público;
- Avaliação das exposições de longa e curta duração;
- Estudos de marketing;
- Campanhas de publicidade;
- Publicações;
- Cursos, conferências, palestras;
- Página web (site);
- Produtos comerciais.

Fase III – Projetos

É o conjunto de elementos necessários e suficientes, com nível de precisão adequado, para


caracterizar a ação, ou complexo de ações, elaborado com base em indicações e estudos
preliminares, que assegurem a viabilidade técnica e o adequado tratamento do
empreendimento, possibilitando a avaliação dos custos, a definição dos métodos e do prazo
de execução.

3.1.- Plano de ocupação dos espaços


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ESPAÇOS DO MUSEU

ENTRADA / RECEPÇÃO SALAS EXPOSIÇÃO

BIBLIOTECA
SETORES SETORES
TÉCNICOS
ADM
AUDITÓRIO
RESERVA
TÉCNICA

Acesso Público
Legenda:
Acesso Restrito

Fonte: MANUAL de orientação museológica e museográfica. São Paulo: Governo do Estado de São
Paulo / Secretaria de Estado da Cultura / Departamento de Museus e Arquivos / Sistema de Museus do
Estado de São Paulo. 2 ed. 1987.

Entrada / recepção:

área de acolhimento do público

livro de visitas (data, nome, procedência, faixa etária, escolaridade...)

guarda-volumes (para funcionários e visitantes, quando for o caso)

material informativo do museu

mural

bebedouro

lixeiras

acesso para portadores de necessidades especiais

controle de visitantes

lojinha (geralmente localizada na saída do museu)


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Salas de exposição:

área para exposições de curta e longa duração

área de circulação e descanso

iluminação

ventilação (evitando correntes de ar)

suportes e mobiliário expositivo

detectores de incêndio e extintores (presentes em todos os espaços da instituição)

Biblioteca:

área aberta de pesquisa e estudo

área reservada de pesquisa e estudo

guarda-volumes

terminais de busca

área de guarda de acervo

iluminação e controle de ruído

mobiliário

Auditório:

multimídia

telas

projetores

cadeiras removíveis (no caso do auditório ser reversível para salão)

divisórias

Setores administrativos:

estações de trabalho
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sala de reuniões

sanitário para funcionários

copa

vestiário para funcionários/armários

almoxarifado

pequena central de segurança

Setores técnicos:

laboratórios e oficinas

salas para ações educativas

arquivos

reserva técnica

mobiliários específicos

Reserva técnica:

Acesso controlado (com entrada apenas pelo setor técnico)

áreas de conservação e higienização

armários para isolamento de produtos químicos

espaço para quarentena

mobiliários específicos

equipamentos de controle ambiental.

Organograma básico sugerido:


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Referências

BRASIL. Lei 11.904 de 14 de janeiro de 2009.

BRASIL. Portaria Normativa do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional nº


1 de 05 de julho de 2006.

CADERNO DE DIRETRIZES MUSEOLÓGICAS Nº 1. Brasília: Minc/DEMU, Belo


Horizonte: Secretaria de Estado da Cultura/Superintendência de Museus, 2006.

BITTENCOURT, José Neves (org). Caderno de Diretrizes Museológicas nº 2:


mediação em museus: curadorias, exposições, ação educativa. Belo Horizonte:
Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, Superintendência de Museus, 2008.

COSTA, Evanise Pascoa. Princípios Básicos da Museologia. Curitiba: Coordenação do Sistema


Estadual de Museus/ Secretaria de Estado da Cultura, 2006.

CHAGAS, Mario de Souza; NASCIMENTO JUNIOR, José do (org). Subsídios para a


criação de Museus Municipais. Rio de Janeiro: Minc/IBRAM, 2009.
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DAVIES, Stuart. Plano Diretor. Série Museologia nº 1. São Paulo: Editora da


Universidade de São Paulo/ Fundação Vitae, 2001.

INSTITUTO PORTUGUÊS DE MUSEUS. Museus e Acessibilidade. Temas de


Museologia. Portugal: Ministério da Cultura/Instituto Português Museus, 2004.

_______________. Plano de Conservação Preventiva: Bases Orientadoras, normas e


procedimentos. Temas de Museologia. Portugal: Ministério da Cultura/Instituto Português
Museus, 2007.

SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA DE MINAS GERAIS. Planejamento


Museológico: caderno 2. Belo Horizonte: Secretaria de Cultura/ Superintendência de
Museus e Artes Visuais de Minas Gerais, 2010. Disponível em:
http://www.cultura.mg.gov.br/arquivos/Museus/File/colecao-falando-
de/miolo_planejamento_museologico.pdf. Acesso em 17 de agosto de 2011.

Mais informações (leis, publicações) através do nosso site:WWW.museus.gov.br

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