Você está na página 1de 21

O HOMEM RICO E LÁZARO: UMA LEITURA SOB A PERSPECTIVA DO CONTEXTO

ECONÔMICO E DOS PARALELOS PAGÃOS

CARVALHO, Adriano da Silva1

RESUMO: Este artigo apresenta uma análise sociológica e literária da passagem bíblica de
Lucas 16.19-31. Destaca o contexto político e econômico dos dias do autor. Aponta os paralelos
literários em um conto egípcio do primeiro século; em uma estória do Talmude Palestino e na
obra de Luciano. Por fim, sugerirá que a referida passagem bíblica seja interpretada a partir da
intertextualidade de Lucas/Atos.
PALAVRAS – CHAVE: Lucas, o rico, Lázaro.

ABSTRACT: This article presents a sociological and literary analysis of the biblical passage in
Luke 16: 19-31. It highlights the political and economic context of the author's day. It points to
literary parallels in a first-century Egyptian tale; in a Palestinian Talmud story and in Luciano's
work. Finally, it will suggest that this biblical passage be interpreted from the intertextuality of
Luke / Acts.
KEYWORDS: Luke, the rich, Lazarus.

1. O EVANGELHO DE LUCAS E O LIVRO DE ATOS

Essas duas obras são consideradas duas partes de um único trabalho. Um volume
considerado, pois dos 7.947 versículos do Novo Testamento Lucas-Atos compreende 2,157
versos ou seja, 27,1%.2 Para título de comparação, as Epístolas Paulinas têm 2.032 versos e os
escritos joaninos 1.407.3

1
Mestre em Estudos Hermenêuticos – CPAJ - Mackenzie - SP. Professor do Departamento de Línguas
Clássicas e Vernáculos do Instituto Brasileiro de Educação Integrada –IBEI –RJ. Autor dos livros: “A
crítica e o texto do Novo Testamento”; “Novo Testamento da crítica da forma à história do cânon”; “A
interpretação nas teorias linguísticas e literárias”; e “Comentário exegético de Judas”, todos publicados
pela Editora Reflexão. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6399-3287. Contato:
adriano3656@gmail.com
2
BOCK, Darrel L. A theology of Luke-Acts. Disponível em:
http://www.obinfonet.ro/docs/tyndale/tyndrex/la/luke-acts-theo-bock.pdf. Acesso em: 20 jul 2019.
3
BOCK, Darrel L. A theology of Luke-Acts. Disponível em:
http://www.obinfonet.ro/docs/tyndale/tyndrex/la/luke-acts-theo-bock.pdf. Acesso em: 20 jul 2019.
A primeira obra, o Evangelho, em algumas passagens parece espelhar a tradição da fonte dos
ditos “Q” juntamente com seus materiais especiais, "L". 4 Todavia, a base de sua narrativa teria
sido o Evangelho de Marcos.5 Acredita-se que Lucas teria adotado 60% de Marcos.6

Visto como um único trabalho, Lucas-Atos conta a história de Jesus Cristo desde o seu
nascimento até o início da igreja e ministério do apóstolo Paulo. 7 Embora muitos cristãos
considerem Mateus e Atos juntos, o elo canônico parece ser na verdade Lucas-Atos. 8 Visto que
muita atenção é dada a Jesus e aos seus discípulos nesses dois livros, pode-se pensar que seu
assunto principal seja a história de Jesus e da igreja, “no entanto, o principal interesse do autor
desses livros é retratar o plano de Deus como elaborado em cumprimento da promessa divina”. 9
A conclusão desse cumprimento ocorrerá quando Jesus retornar. 10 Assim, esses livros enfatizam
a continuidade da promessa de Deus e seu progresso de uma maneira pastoral que instrui e
consola.11

4
Cf. BROWN, Raymond E. ; FITZMYER, Joseph A.; MURPHY, Roland E. Novo Comentário Bíblico São
Jerônimo: Novo Testamento e Artigos Sistemáticos. Academia Cristã/Paulus, 2011, p.218. Alguns autores
acham que a fonte "Q" serviu como uma teoria por algum tempo, mas, agora eles buscam um sucessor
mais digno, ver: GOODACRE, Mark. A Monopoly on Marcan priority? Fallacies at the Heart of Q.
Disponível em: http://www.markgoodacre.org/Q/monopoly.htm. Acesso em: 23 jul 2019. Uma
excelente introdução sobre a hipótese "Q" pode ser encontrada em: WATSON, Francis. “Q” as
hypothesis: a study in Methodoly. In: New Testament Studies. 55 (4). 2009, p.397-415. Eta Linnemann
defende que o problema sinótico é uma invenção moderna dos liberais que desenvolveram essa teoria
em um esforço para desacreditar a autoridade das Escrituras. Mas R. J. Decker ressaltou que a primeira
discussão sobre esse assunto foi feita por Agostinho (dificilmente um liberal), ver:
DECKER, R. J. The Synoptic "Problem". Disponível em:
http://www.ntresources.com/blog/documents/synoptic.pdf. Acesso em: 23 jul 2019. Uma breve
biografia de Eta Linnemann pode ser encontrada em: YARBROUGH, Robert W. Eta Linnemann friend or
foe of Scholarship? In: The Master's Seminary Journal, 1997, p.163-189.
5
MARSHAL, I. Howard. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Editora Vida Nova, 2007.p.116-118.
6
Cf. BROWN; FITZMYER; MURPHY, 2011, p.218. Outros dizem que Lucas contém 53 por cento de
Marcos, ver: The Synoptic Gospels. Disponível em:
https://www.biblica.com/resources/scholar-notes/niv-study-bible/the-synoptic-gospels/. Acesso em: 21
jul 2019.
7
BOCK, Darrel L. A theology of Luke-Acts. Disponível em:
http://www.obinfonet.ro/docs/tyndale/tyndrex/la/luke-acts-theo-bock.pdf. Acesso em: 20 jul 2019.
8
BOCK, Darrel L. A theology of Luke-Acts. Disponível em:
http://www.obinfonet.ro/docs/tyndale/tyndrex/la/luke-acts-theo-bock.pdf. Acesso em: 20 jul 2019.
9
BOCK, Darrel L. A theology of Luke-Acts. Disponível em:
http://www.obinfonet.ro/docs/tyndale/tyndrex/la/luke-acts-theo-bock.pdf. Acesso em: 20 jul 2019.
10
BOCK, Darrel L. A theology of Luke-Acts. Disponível em:
http://www.obinfonet.ro/docs/tyndale/tyndrex/la/luke-acts-theo-bock.pdf. Acesso em: 20 jul 2019.
11
BOCK, Darrel L. A theology of Luke-Acts. Disponível em:
http://www.obinfonet.ro/docs/tyndale/tyndrex/la/luke-acts-theo-bock.pdf. Acesso em: 20 jul 2019.
1.1 DATA

Linda Chiupka acredita que Atos que termina com Paulo ainda sob prisão domiciliar
pode ser usado para datar Lucas o Evangelho. 12 Para essa autora, o destino indeciso de Paulo,
somado a ausência da destruição de Jerusalém ou do martírio de Pedro apontam para uma data
anterior a 62 d.C., fazendo com que uma composição do final dos anos 50 ou início dos 60
pareça provável.13

1.2 AUTOR

O Evangelho de Lucas foi escrito por alguém que embora não fosse um dos apóstolos,
viveu no mesmo tempo deles. Talvez um sírio de Antioquia. 14 William Kirk Hobart escreveu um
livro (297 páginas) buscado provar ele teria sido um médico. 15 Porém H. J. Cadbury comentou
que uma grande parte do material coletado por Hobart por si só não tinha valor independente:
"há muitas palavras tão comuns em todos os tipos de grego que a sua aparição em Lucas-Atos e
nos escritos médicos é inevitável”.16 Cadbury ainda lembrou que Plummer já havia comentado
que da longa lista de palavras de Hobart, mais de 80 por cento são encontradas na LXX
(Septuaginta – versão grega do Antigo Testamento), principalmente em livros conhecidos por
Lucas (...).17 “Em todos esses casos, é mais razoável supor que o uso que o autor de Lucas faz
das palavras se deve ao seu conhecimento da LXX, e não à sua formação profissional”. 18 O
autor ainda ressaltou “se a expressão também é encontrada em autores profanos, as chances de
que o treinamento médico tenha algo a ver com o uso de Lucas torna-se muito remota”.19

12
CHIUPKA, Linda. An Exegesis of Luke 16.19-31: The Rich man and Lazarus. New Theological College.
Disponível em: https://www.academia.edu/32883587/AN_EXEGESIS_OF_LUKE_16_19-
31_THE_RICH_MAN_AND_LAZARUS?auto=download. Acesso em:09 jul 2019.
13
CHIUPKA, Linda. An Exegesis of Luke 16.19-31: The Rich man and Lazarus. New Theological College.
Disponível em: https://www.academia.edu/32883587/AN_EXEGESIS_OF_LUKE_16_19-
31_THE_RICH_MAN_AND_LAZARUS?auto=download. Acesso em: 09 jul 2019.
14
BROWN; FITZMYER; MURPHY, 2011, p.217-218.
15
Cf. HOBART, William Kirk. The Medical Language of St. Luke: a proof from Internal Evidence the Gospel
According to St. Luke and the Acts of the Apostles: were written by the same person, and that the writer
was a medical man. Dublin: Hodges, Figgis, & CO., Paternoster-Row, 1882.
16
CADBURY, Henry J. The Style and Literary Method of Luke. In: Harvard Theological Studies VI,
Cambridge Harvard University Press, 1920/ Kraus Reprint CO. 1969, p.40.
17
CADBURY, 1969, p.41.
18
CADBURY, 1969, p.41.
19
CADBURY, 1969, p.41. Mas em Colossenses 4.14 Lucas é chamado de médico.
1.3 DESTINATÁRIO

A obra pretendia dar garantias sobre as coisas que o autor havia aprendido. 20 Lucas foi
escrito para um homem chamado Teófilo, que é apresentado como "o mais excelente", o que
pode indicar um funcionário do governo, ou uma pessoa da nobreza. 21 Uma suposição
importante da garantia que Lucas pretende dar é o reconhecimento de que Deus estava
trabalhando em eventos recentes em cumprimento das suas promessas. 22 Dois aspectos do
alegado cumprimento, no entanto, seriam preocupantes, quais sejam, um Salvador morto e uma
comunidade perseguida.23 Esse contexto de perseguição poderia ter levado Teófilo, ou qualquer
outra pessoa, a perguntar se a perseguição contra a igreja não seria um julgamento divino conta
ela.24 Em resposta, o autor de Lucas assegura a Teófilo que a perseguição não era um sinal de
julgamento, mas um meio pelo qual a mensagem do Evangelho poderia chegar a mais pessoas
em todo o mundo.25

1.4 TEMAS

Lucas apresenta muitos tópicos relacionados a dinheiro e suas consequências. É o caso


das passagens dos dois devedores (7.41); do rico tolo (12.16-21); do construtor da torre (14.28-
33); da dracma perdida (15.8-10), e do administrador infiel (16.1-13). 26 Mas, o que chama a
atenção nesse livro é o modo como ele retrata o ostracismo social, racial e religioso dos seus
dias.27 Donald Guthrie destacou que em Lucas se manifesta uma profunda preocupação de
Jesus com os socialmente marginalizados.28 Por isso, o seu autor lembrou que em Nazaré,

20
BOCK, Darrel L. A theology of Luke-Acts. Disponível em:
http://www.obinfonet.ro/docs/tyndale/tyndrex/la/luke-acts-theo-bock.pdf. Acesso em:20 jul 2019.
21
CHIUPKA, Linda. An Exegesis of Luke 16.19-31: The Rich man and Lazarus. New Theological College.
Disponível em: https://www.academia.edu/32883587/AN_EXEGESIS_OF_LUKE_16_19-
31_THE_RICH_MAN_AND_LAZARUS?auto=download. Acesso em: 09 jul 2019.
22
BOCK, Darrel L. A theology of Luke-Acts. Disponível em:
http://www.obinfonet.ro/docs/tyndale/tyndrex/la/luke-acts-theo-bock.pdf. Acesso em: 20 jul 2019.
23
BOCK, Darrel L. A theology of Luke-Acts. Disponível em:
http://www.obinfonet.ro/docs/tyndale/tyndrex/la/luke-acts-theo-bock.pdf. Acesso em: 20 jul 2019.
24
BOCK, Darrel L. A theology of Luke-Acts. Disponível em:
http://www.obinfonet.ro/docs/tyndale/tyndrex/la/luke-acts-theo-bock.pdf. Acesso em: 20 jul 2019.
25
BOCK, Darrel L. A theology of Luke-Acts. Disponível em:
http://www.obinfonet.ro/docs/tyndale/tyndrex/la/luke-acts-theo-bock.pdf. Acesso em: 20 jul 2019.
26
Para mais características do Evangelho de Lucas recomenda-se ir em: GUTHRIE, Donald. New
Testament Introduction. Illinois: Intervarsity Press, 1990.
27
OTTUH, John Arierhi. The story of Lazarus and the rich man (Luke 16.19-31) Retold in a Nigerian
context. In: Global Journal of Arts Humanities and Social Sciences, Vol.2, No. 3., 2014, p.62.
Jesus proclamou as “Boas Novas” aos "pobres".29 Também destacou com o Cântico de Maria
que “os famintos estavam sendo cheios”. 30 Além disso, no Sermão da Planície o primeiro “ai” é
contra os ricos (6.24), mas a primeira bem-aventurança é dirigida aos pobres. 31 Temos também
em Lucas três parábolas que ilustram uma atitude graciosa.32 Não por acaso, o seu autor
menciona treze mulheres que não são citadas em outros lugares nos Evangelhos. 33 Sobre essa
menção Guthrie comentou, “ele sabia muito bem como as mulheres eram tratadas na sociedade
dos seus dias, por isso fez questão de lembrar as atitudes de Jesus para com elas”. 34 Lucas
provocou a consciência dos seus ouvintes ao dizer que o verdadeiro arrependimento se revela
no compartilhamento com os que não têm nada (3.11).35 Lembrou que Jesus havia ordenado aos
seus ouvintes a “dar a todos os que pediam” (6.30), e a sustentar os pobres (18.22). 36 Também
apresentou modelos de generosidade como na parábola do Bom Samaritano (10.30-37) e na
narrativa de Zaqueu (19.1-10).37 Se não bastasse, ofereceu uma alternativa à ganância no ato de
dar esmolas (12.33); além de recomendar a prática da hospitalidade para aqueles que não
podiam retribuir (14.12-14).38

2 OS DOIS PERSONAGENS
28
Cf. GUTHRIE, Donald. New Testament Introduction. Disponível em:
https://pt.scribd.com/document/98600795/New-Testament-Introduction-Donald-Guthrie. Acesso em:
30 out 2019.
29
GUTHRIE, Donald. New Testament Introduction. Disponível em:
https://pt.scribd.com/document/98600795/New-Testament-Introduction-Donald-Guthrie. Acesso em:
30 out 2019.
30
GUTHRIE, Donald. New Testament Introduction. Disponível em:
https://pt.scribd.com/document/98600795/New-Testament-Introduction-Donald-Guthrie. Acesso em:
30 out 2019.
31
GUTHRIE, Donald. New Testament Introduction. Disponível em:
https://pt.scribd.com/document/98600795/New-Testament-Introduction-Donald-Guthrie. Acesso em:
30 out 2019.
32
GUTHRIE, Donald. New Testament Introduction. Disponível em:
https://pt.scribd.com/document/98600795/New-Testament-Introduction-Donald-Guthrie. Acesso em:
30 out 2019.
33
GUTHRIE, Donald. New Testament Introduction. Disponível em:
https://pt.scribd.com/document/98600795/New-Testament-Introduction-Donald-Guthrie. Acesso em:
30 out 2019.
34
GUTHRIE, Donald. New Testament Introduction. Disponível em:
https://pt.scribd.com/document/98600795/New-Testament-Introduction-Donald-Guthrie. Acesso em:
30 out 2019.
35
BREDENHOF, Reuben. Help for Lazarus: failure and prospect in Luke 16.19-31. In: Synoptic Golpels
Seminar Group British New Testament Conference: University of Edinburgh, 2015, p.7.
36
BREDENHOF, 2015, p.7.
37
BREDENHOF, 2015, p.7.
38
BREDENHOF, 2015, p.7.
2.1 O RICO

O homem rico do relato de Lucas é muitas vezes chamado de “Dives”, a palavra latina
para "rico". A tradição prefere “Nineue ou Nineuis”. 39 O autor de Lucas escrevendo em grego usa
"πλούσιος" - “rico”. O modo como vivia confirma isso. É descrito em vestes caríssimas. 40 Roupas
que eram tingidas de púrpura “ πορφύραν”, uma coloração cara derivada de caracóis. 41 Essa
tintura provavelmente vinha de Tiro.42 Esse corante era usado apenas para colorir as vestes de
reis e ricos nobres.43 Suas roupas debaixo eram de linho fino ( βύσσον), possivelmente do Egito;
supõe-se que alguns deles valessem o dobro do seu peso em ouro. 44 O homem rico tinha uma
casa com um portão.45 E vivia “fazendo festas” – “εὐφραινόμενος”. O advérbio grego “λαμπρῶς”
precedido de “καθ᾿ ἡμέραν” sugere que vivia “esplendidamente todos os dias”. 46 Porém não é
dito que fosse um glutão, mas que vivia como um homem rico podia se dá ao luxo de viver.47

2.2 O MENDIGO

Na narrativa lucana o mendigo é chamado de “Λάζαρος”.48 Em nenhum outro lugar


Cristo dá um nome a qualquer personagem de uma parábola. 49 Plummer lembrou que por causa
disso Tertuliano acreditou que esse termo grego fosse uma prova de que a narrativa não era
uma parábola, mas uma história real.50 Teria feito isso para defender sua doutrina de que a alma
é corpórea.51 No entanto, já se supôs que esse nome teria sido uma última adição à parábola
para ligar o mendigo ao Lázaro de Betânia. 52 Porém é mais provável que o nome “ Λάζαρος” –

39
PLUMMER, Alfred. The International Critical Commentary on The Gospel According to St. Luke. New
York: Charles Scribner's Sons, 1903, p.391. Ver também: RIDDLE, 1882, p.245.
40
RIDDLE, 1882, p.245.
41
BOCK, 1997, p.66. Ver também:
HAUBECK, Wilfrid; SIEBENTHAL, Henrich. Nova chave Linguística do Novo Testamento Grego. Targumim
e Hagnos, 2009.p.509. E: RIENECKER, Fritz; ROGERS, Cleon. Chave linguística do Novo Testamento Grego.
Edições Vida Nova, 1985, p.141.
42
RIDDLE, 1882, p.245.
43
CHIUPKA, Linda. An Exegesis of Luke 16.19-31: The Rich man and Lazarus. New Theological College.
Disponível em: https://www.academia.edu/32883587/AN_EXEGESIS_OF_LUKE_16_19-
31_THE_RICH_MAN_AND_LAZARUS?auto=download. Acesso em: 09 jul 2019.
44
RIDDLE, 1882, p.245.
45
BOCK, 1997, p.66.
46
HAUBECK; SIEBENTHAL, 2009, p.510.
47
RIDDLE, 1882, p.245.
48
RIDDLE, 1882, p.245.
49
PLUMMER, 1903, p.391.
50
PLUMMER, 1903, p.391.
51
PLUMMER, 1903, p.391.
52
PLUMMER, 1903, p.391.
“Lázaro” sugira o desamparo do mendigo.53 Essa é a opinião de Goghilan Philip. Ele supõe que o
mendigo recebeu esse nome apenas por conveniência, tendo em vista as exigências do
versículo 24.54 Destacou que desde o século III, em alguns textos latinos, os ricos são chamados
Finaeus = Finéias. Finéias era o filho de Eleazar. 55 O nome Lázaro é o mesmo que Eleazar e
significa "Deus ajudou" ou "Deus ajuda".56

O adjetivo grego usado para descrever a condição de Lázaro é “ πτωχὸς”, que pode ser
traduzido por “pobre”. Mas, Lázaro é tão pobre a ponto de viver na mendicância. 57 Era um
mendigo público, e, portanto, estava entre o pobre dos pobres. 58 Ele é descrito como “jogado”
“ἐβέβλητο”- esse verbo grego está na voz passiva, o que faz supor que Lázaro fosse aleijado, ou
incapaz de se mover por conta própria.59 Ou talvez doente demais para se movimentar sozinho. 60
O fato é, que ele tinha sido colocado junto ao portão do homem rico e ainda estava ali. 61 O
substantivo grego “πυλῶνα” – “portão” talvez se refira à entrada do portal, átrio. 62 Alguém o
colocou naquele lugar e o deixou ali para se defender sozinho. Mas ele estava tão fraco que era
incapaz de espantar os cães selvagens que viam lambiam suas feridas, tornando-o segundo a
lei, um homem impuro.63 Seu corpo estava coberto de feridas. O autor de Lucas usa o verbo
“εἱλκωμένος” (que alguns autores supõem ser um termo médico) indicando que o corpo dele
estava coberto de pústulas, isto é, cheio de feridas inflamadas. 64 Essa descrição coloca Lázaro
como alguém socialmente marginalizado e religiosamente em estado de impureza. 65 É verdade
que alguns comentaristas vêem algo positivo no ato dos cachorros lamberem suas feridas. 66

53
PLUMMER, 1903, p.391.
54
COGHLAN, Philip. The Parables of Jesus. P. J. Kenedy and Sons, 1918.p.201.
55
COGHLAN, 1918, p.201.
56
COGHLAN, 1918, p.202.
57
HAUBECK; SIEBENTHAL, 2009, p.510. Ver também: RIENECKER,; ROGERS, 1985, p.141.
58
BOCK, 1997, p.66.
59
BOCK, 1997, p.66.
60
BOCK, 1997, p.66.
61
RIENECKER; ROGERS, 1985, p.141.
62
HAUBECK; SIEBENTHAL, 2009, p.510.
63
BOCK, 1997, p.66. Ver também: BARCLAY, William. Comentário do Novo Testamento: Lucas. [s.e.],
[s.d], p.186. Ver também: HAUBECK; SIEBENTHAL, 2009, p.510.
64
HAUBECK; SIEBENTHAL, 2009, p.510. Ver também:
RIENECKER, ROGERS, 1985, p.141.
65
CHIUPKA, Linda. An Exegesis of Luke 16.19-31: The Rich man and Lazarus. New Theological College.
Disponível em: https://www.academia.edu/32883587/AN_EXEGESIS_OF_LUKE_16_19-
31_THE_RICH_MAN_AND_LAZARUS?auto=download. Acesso em: 09 jul 2019. Ver também: COGHLAN,
Philip. The Parables of Jesus. P. J. Kenedy and Sons, 1918, p.202.
66
STRONG, Justin David. Lazarus and the Dogs: The diagnosis and treatment. Doi:
https://doi.org/10.1017/S0028688517000364 . Acesso em 5 de ago 2019.
Roberto Jamieson [et al], por exemplo, fala em um ato carinhoso de compaixão animal. 67 Mas
não é possível saber se esse ato animal trazia alívio ao doente Lázaro. 68 Não temos a certeza
que os cães teriam sido mais gentis com o mendigo do que o homem rico. 69 O fato é que Lázaro
é apresentado em uma condição abjeta, em um completo estado de miséria. 70 Alguém que
desejava comer com prazer as migalhas da mesa do homem rico (em grego “ τῶν πιπτόντων
ἀπὸ” – “as coisas que caíam da”). A linguagem aqui traz à memória, simultaneamente, as
passagens de Lucas 15.16 (o filho pródigo) e a mulher siro-fenícia (Marcos 7.28). 71 William
Barclay lembrou que na época de Jesus comia-se com as mãos, e em toda casa rica, as mãos
eram limpas com pedaços grossos de pães, que depois de usados para higiene eram jogados no
chão, segundo Barclay, Lázaro estava esperando esse pão. 72 A NVI (Novo Versão Internacional
da bíblia) capturou muito bem a tensão entre o desejo do mendigo em saciar-se e os cães que
vinham lamber suas úlceras: “Este ansiava comer o que caía da mesa do rico. Em vez disso
(ἀλλὰ- “mas”), os cães vinham lamber as suas feridas”. 73 O pobre mendigo desejava comer
daquilo que caía da mesa do rico, enquanto os cachorros se alimentavam da purulência das
suas feridas. O autor de Lucas usa o particípio presente ativo “ ἐπιθυμῶν” (desejando) - com o
aoristo no infinitivo “χορτασθῆναι“ (saciar-se) para expressar desejo não realizado. 74 Isso,
obviamente amplia o drama de Lázaro, pois os cães de rua haviam obtido mais êxito do que ele.
Na concepção dos rabinos, Lázaro era um morto-vivo. Esses religiosos diziam que há três
situações que indicam uma ausência de vida para os vivos, a saber, “quando um homem
depende da comida da mesa de outro homem; quando um ho mem é governado por sua esposa;
e quando o corpo de um homem está coberto de feridas ”.75 Assim, culturalmente e
religiosamente a situação de Lázaro era desesperadora, ninguém esperaria que ele estivesse
entre os abençoados.76 O gráfico a seguir mostra os contrastes entre o homem rico e Lázaro:77

67
JAMIESON, Roberto; FAUSSET, A. R.; Brown, David. Comentario Exegetico e Explicativo de la Biblia.
Tomo II: Nuevo Testamento. El Paso: Casa Bautista de Publicaciones, 2002, p.178.
68
ROBERTSON, A. T. Comentario al Texto Griego del Nuevo Testamento. (Obra completa 6 tomos en 1).
Barcelona: Editorial Clie, 2003, p.162.
69
PLUMMER, 1903, p.392.
70
BAILEY, 1828, p.202.
71
ROBERTSON, 2003, p.162.
72
BARCLAY, William. Comentário do Novo Testamento: Lucas. [s.e.], [s.d], p.186.
73
NVI: O Novo Testamento, SBI, 1994, p.103.
74
RIENECKER; ROGERS, 1985, p.141.
75
Assim em: BOCK, D. L. The Parable of the Rich Man and Lazarus and the Ethics of Jesus. In:
Southwestern Journal of Theology, [s. l.], v. 40, n. 1. 1997, p.66.
76
BOCK, 1997, p.66.
77
Gráfico feito por este autor.
No gráfico acima podemos notar a discrepância entre o rico e o mendigo. Como já
ressaltamos, do primeiro é dito que se vestia de roupas de púrpura e linho fino, que dia após dia
fazia festas suntuosas. De Lázaro lemos que é pobre; que estava jogado; que tinha o corpo
doente e estava na companhia de cães. Enquanto o rico estava vestido com roupas caríssimas;
o mendigo estava coberto de úlceras; enquanto o rico dava festas, Lázaro não tinha o que
comer; enquanto o rico estava acompanhado (nas festas que dava) de pessoas da sua mesma
posição; Lázaro estava na rua acompanhado por animais impuros. O rico tinha a dignidade de
um homem, mas Lázaro reduzido a uma condição objeta. Quem olhasse para esses dois
homens na Terra diria que um era abençoado e o outro estava debaixo de maldição; falaria que
um era amado por Deus, enquanto o outro objeto da sua ira! Declararia que um era um religioso
piedoso que pagava todos os dízimos, um cristão exemplar; enquanto o outro, um ímpio, um
pagão, que estava em uma condição abjeta para pagar pelos seus pecados. Diante de um
quadro como esse, um homem como Lázaro poderia ser feliz algum dia? Poderia encontrar a
felicidade em algum lugar? O gráfico acima já deu as respostas: no Hades o mendigo está em
melhor posição que o homem rico. Vamos aprofundar melhor esse ponto, mas não sem antes
destacarmos o contexto político e econômico dos dias do autor de Lucas.

3 CRISE ECONÔMICA NA PALESTINA

Pessoas na condição de Lázaro provavelmente podiam ser encontradas em grande


número na Palestina nos dias do autor do livro de Lucas. Isso porque naqueles dias essa região
havia conhecido uma terrível crise humanitária e econômica. Essa instabilidade econômica
resultou de uma alta carga tributária. Naquela época as construções públicas eram realizadas à
custa de impostos altíssimos.78 Os coletores de impostos contratados eram compensados pela
adição de uma sobretaxa ao valor devido.79 Essas sobretaxas quando somadas aos dízimos
exigidos pela lei judaica criavam uma carga tributária de mais de 30%. 80 Além disso, a demanda
por tributo a Roma e os impostos a Herodes, além dos dízimos e ofertas ao Templo aumentaram
dramaticamente as pressões econômicas sobre os camponeses, cuja subsistência era
perenemente marginal na melhor das hipóteses.81 Após décadas de múltiplas demandas, muitas
famílias de aldeãos afundaram-se em dívidas.82 E, como o não pagamento era considerado uma
forma de rebelião, os endividados eram obrigados a vender suas terras ou entrar na escravidão
para saldar suas obrigações financeiras.83 É importante destacar que o Império Romano
institucionalizou a escravidão antes e durante a era da igreja primitiva. 84 Assim, os leitores de
Lucas estavam familiarizados com o modo de se tratar um escravo como um ser humano
inferior.85 Eles conheciam muito bem o sistema de estratificação social dos seus dias. A
sociedade greco-romana era categorizada em estratos, a classe alta consistia dos aristocratas e

78
CHIUPKA, Linda. An Exegesis of Luke 16.19-31: The Rich man and Lazarus. New Theological College.
Disponível em: https://www.academia.edu/32883587/AN_EXEGESIS_OF_LUKE_16_19-
31_THE_RICH_MAN_AND_LAZARUS?auto=download. Acesso em: 09 jul 2019.
79
CHIUPKA, Linda. An Exegesis of Luke 16.19-31: The Rich man and Lazarus. New Theological College.
Disponível em: https://www.academia.edu/32883587/AN_EXEGESIS_OF_LUKE_16_19-
31_THE_RICH_MAN_AND_LAZARUS?auto=download. Acesso em: 09 jul 2019.
80
CHIUPKA, Linda. An Exegesis of Luke 16.19-31: The Rich man and Lazarus. New Theological College.
Disponível em: https://www.academia.edu/32883587/AN_EXEGESIS_OF_LUKE_16_19-
31_THE_RICH_MAN_AND_LAZARUS?auto=download. Acesso em: 09 jul 2019.
81
OTTUH, 2014, p.64.
82
OTTUH, 2014, p.64
83
CHIUPKA, Linda. An Exegesis of Luke 16.19-31: The Rich man and Lazarus. New Theological College.
Disponível em: https://www.academia.edu/32883587/AN_EXEGESIS_OF_LUKE_16_19-
31_THE_RICH_MAN_AND_LAZARUS?auto=download. Acesso em: 09 jul 2019.
84
OTTUH, 2014, p.64.
85
OTTUH, 2014, p.64.
comerciantes, e a classe baixa era composta por camponeses e por pobres. 86 Os ricos eram
poucos, mas estavam no controle da grande maioria das propriedades, riqueza e poder. 87
Enquanto uns tinham mais do que o suficiente para comer e beber, outros, passavam fome e
não tinham a garantia da próxima refeição. 88 A situação dos menos favorecidos piorou quando
entre os anos de 41 e 52 d.C., uma grande fome assolou Roma, Judéia e partes da Grécia. 89 A
fome da Judéia que durou cerca de três anos é provavelmente mencionada em Atos 11.28. 90
Com esses fatos em mente, podemos supor que a audiência de Lucas estivesse familiarizada
com a pobreza extrema e com a falta de uma rede de segurança social na Palestina do primeiro
século.91

4 PARALELOS LITERÁRIOS

Alguns estudiosos viram paralelos entre a passagem do Rico e Lázaro com certas
estórias em textos literários egípcios e judaicos. Nesses textos são encontrados relatos de
pessoas desafortunadas em suas vidas terrenas, mas que conheceram a felicidade na vida após
a morte.

4.1 O CONTO DE SETME E SI-OSIRIS

Duane Warden analisou a suposição de que Lucas 16.19-31 teria paralelos com o conto
egípcio de Setme e seu divino filho Si-Osiris. 92 Uma estória que vem de um texto demótico
datado do primeiro século da era cristã, mas que se acredita ser mais antiga que o próprio
texto.93 O conto fala de um egípcio que foi autorizado a retornar do mundo dos mortos a fim de
lidar com um mágico etíope que estava se mostrando poderoso demais diante dos magos do
Egito.94 Ele foi reencarnado como o filho milagroso de um casal sem filhos, Setme e sua esposa,
e se chamou Si-Osiris. Quando ele atingiu a idade de doze anos derrotou o mago etíope e pode
86
OTTUH, 2014, p.64.
87
OTTUH, 2014, p.64.
88
OTTUH, 2014, p.64.
89
CHIUPKA, Linda. An Exegesis of Luke 16.19-31: The Rich man and Lazarus. New Theological College.
Disponível em: https://www.academia.edu/32883587/AN_EXEGESIS_OF_LUKE_16_19-
31_THE_RICH_MAN_AND_LAZARUS?auto=download. Acesso em: 09 jul 2019.
90
CHIUPKA, Linda. An Exegesis of Luke 16.19-31: The Rich man and Lazarus. New Theological College.
Disponível em: https://www.academia.edu/32883587/AN_EXEGESIS_OF_LUKE_16_19-
31_THE_RICH_MAN_AND_LAZARUS?auto=download. Acesso em: 09 jul 2019.
91
CHIUPKA, Linda. An Exegesis of Luke 16.19-31: The Rich man and Lazarus. New Theological College.
Disponível em: https://www.academia.edu/32883587/AN_EXEGESIS_OF_LUKE_16_19-
31_THE_RICH_MAN_AND_LAZARUS?auto=download. Acesso em: 09 jul 2019.
92
WARDEN, Duane. The Rich Man and Lazarus: Poverty, Welth and Human Worth. In: Stone-Campbell
Journal, [s.l.], v.6, n.1, 2003, p.85-86.
93
WARDEN, 2003, p.86.
voltar para o mundo dos mortos.95 Mas, antes disso, houve uma ocasião em que ele e seu pai
observaram dois funerais: de um homem rico enterrado em roupas suntuosas e com muito luto, e
o de um pobre homem enterrado sem cerimônia ou luto. 96 Diante de tal situação, o pai declarou
que preferia a sorte do homem rico e não a do homem pobre, no entanto seu filho expressou o
desejo de que o destino de seu pai no reino dos mortos fosse igual ao do indigente (pobre). 97 A
fim de justificar seu desejo e demonstrar a inversão das fortunas na vida após a morte, ele levou
seu pai em uma excursão pelos sete salões de Amente (reino dos mortos):98

No quinto estava o homem rico, com o pivô da porta do salão fixado em


seus olhos; no sexto salão estavam os deuses e atendentes; no sétimo, uma
cena de julgamento diante de Osíris: O pobre deveria ser visto elevado a um alto
posto. Si-Osiris explica ao pai que eles viram o destino de três classes de
mortos: aqueles cujas boas ações ultrapassam as suas más ações (como os
pobres), aqueles cujos maus atos superam seus bons feitos (como o homem
rico), e aqueles cujos bons e maus atos são iguais.

Gressmann argumentou que o conto de Setme e Si-Osiris, com variações, encontrou seu
caminho nas tradições folclóricas judaicas.99 Mas, Bauckham ressaltou que a história dos dois
funerais e a visita a Amente (a seção da narrativa que se assemelha a Lucas 16.19-26) está
incluída em uma narrativa mais longa da qual é relativamente distinta. 100 Porém acredita que a
história existisse independentemente da narrativa mais longa em que se encontra atualmente:
“pode ter existido como uma história no folclore popular antes de se tornar parte da história de

94
Cf. BAUCKHAM, Richard. The Rich Man and Lazarus: the parable and the parallels. Disponível em:
https://brill.com/view/book/9789004267411/B9789004267411-s006.xml?lang=en. Acesso em: 07 jul
2019.
95
Cf. BAUCKHAM, Richard. The Rich Man and Lazarus: the parable and the parallels. Disponível em:
https://brill.com/view/book/9789004267411/B9789004267411-s006.xml?lang=en. Acesso em: 07 jul
2019.
96
Cf. BAUCKHAM, Richard. The Rich Man and Lazarus: the parable and the parallels. Disponível em:
https://brill.com/view/book/9789004267411/B9789004267411-s006.xml?lang=en. Acesso em: 07 jul
2019.
97
Cf. BAUCKHAM, Richard. The Rich Man and Lazarus: the parable and the parallels. Disponível em:
https://brill.com/view/book/9789004267411/B9789004267411-s006.xml?lang=en. Acesso em: 07 jul
2019.
98
Cf. BAUCKHAM, Richard. The Rich Man and Lazarus: the parable and the parallels. Disponível em:
https://brill.com/view/book/9789004267411/B9789004267411-s006.xml?lang=en. Acesso em: 07 jul
2019.
99
Apud em: WARDEN, 2003, p.86.
100
BAUCKHAM, Richard. The Rich Man and Lazarus: the parable and the parallels. Disponível em:
https://brill.com/view/book/9789004267411/B9789004267411-s006.xml?lang=en. Acesso em: 07 jul
2019.
Setme e Si- Osiris”.101 Também comentou que as sete versões judaicas da história para as quais
Gressmann chamou a atenção não são necessariamente derivadas diretamente da história de
Setme e Si-Osiris como tal.102

4.2 A HISTÓRIA DE BAR MA'YAN


Um suposto paralelo para a passagem do rico e Lázaro é encontrado no Talmude
Palestino, particularmente na história de um cobrador de impostos conhecido como Bar Ma'yan,
e de um pobre estudioso da Torá.103 Esse relato diz que quando esses dois homens morrem, o
cobrador de impostos recebe um enterro condizendo com sua posição, mas o pobre homem
passou despercebido ao túmulo.104 Um estudioso amigo do pobre lamentou o estado terrível
desse acontecimento, até que num sonho viu o homem pobre no paraíso; o coletor de impostos,
por outro lado, fora visto colocado distante do alcance da água e por toda a eternidade deveria
lamber a língua para saciar sua sede.105

4.3 O POBRE SAPATEIRO


Warden comentou sobre um paralelo à passagem do rico e Lázaro nas obras de
Luciano.106 Em uma dessas obras há uma estória de um pobre sapateiro chamado Micyllus que
morreu na mesma época da morte de um homem rico. 107 Como os dois foram transportados
sobre o rio Styx, a imoralidade sexual e a crueldade do homem rico foram relatadas. 108 Mas,
Micyllus era trabalhador e humilde e sua virtude provinha de sua falta de recursos para se
entregar aos vícios do homem rico.109 Nessa estória contada por Luciano, à maldade acompanha
axiomaticamente as riquezas.110

101
BAUCKHAM, Richard. The Rich Man and Lazarus: the parable and the parallels. Disponível em:
https://brill.com/view/book/9789004267411/B9789004267411-s006.xml?lang=en. Acesso em: 07 jul
2019.
102
BAUCKHAM, Richard. The Rich Man and Lazarus: the parable and the parallels. Disponível em:
https://brill.com/view/book/9789004267411/B9789004267411-s006.xml?lang=en. Acesso em: 07 jul
2019.
103
WARDEN, 2003, p.86.
104
WARDEN, 2003, p.86.
105
WARDEN, 2003, p.86.
106
Apud em: WARDEN, 2003, p.88.
107
WARDEN, 2003, p.88.
108
WARDEN, 2003, p.88.
109
WARDEN, 2003, p.88.
110
WARDEN, 2003, p.88.
4.4 O CASAL RICO
Bultmann encontrou um paralelo da parábola do rico e Lázaro num antigo conto
judaico.111 Ele comparou o pedido do homem rico para enviar um mensageiro aos seus irmãos
com a estória judaica de um casal rico que se deparou com uma porta que levava ao inferno. 112
O casal foi avisado para nunca abrir a porta, mas a curiosidade levou a melhor sobre a mulher, e
ela deu uma olhada apenas para ser atraída para o inferno. A mulher conseguiu um aviso de
volta para o marido que se arrependeu e evitou o tormento descoberto por sua esposa.113

Outros comentaristas viram um paralelo com partes do livro de 1 Enoque. 114 No entanto,
Richard Bauckham ressaltou diferenças importantes tanto nos contos egípcios quanto nas
estórias judaicas em relação a Lucas 16.19-31. 115 Ele destacou que os contos folclóricos
começavam com um contraste da maneira como o enterro de um homem rico e do pobre era
feito (...), mas, na parábola a reversão se origina do status econômico dos dois e não do modo
como foram enterrados. 116 Além disso, argumentou que nas duas lendas populares o destino
dos personagens é conhecido, em um dos casos, através da ajuda de um deus, e no outro por
meio de um sonho.117 Outra diferença marcante entre os contos folclóricos e a narrativa do rico e
Lázaro é que no caso dos primeiros, explica-se a bem-aventurança do homem pobre e miséria
do homem rico com base na bondade do primeiro e na maldade do segundo. 118 Além disso,
nessas estórias a inversão de fortunas é uma espécie de justiça fatalista e sustenta a ideia de
que quando alguém fica rico naturalmente se torna repugnante e auto-indulgente. 119 Também
podemos perceber que nessas estórias a sorte dos personagens muda quando eles morrem.
111
Apud em: WARDEN, 2003, p.87.
112
WARDEN, 2003, p.87.
113
WARDEN, 2003, p.88.
114
SZUKALKI, John A. Tormented in Hades: A socio-Narratological Approach to the Parable of the Rich
man and Lazarus (Luke 16.19-31). Tese submetida como exigência ao grau de Doutor em Filosofia à
Faculdade de Teologia e estudos Religiosos da Universidade Católica da América. Disponível em:
https://cuislandora.wrlc.org/islandora/object/etd%3A281/datastream/PDF/view. Acesso em: 18 jul
2019.
115
Apud em: WARDEN, 2003, p.87.
116
Apud em: WARDEN, 2003, p.87.
117
Cf. WARDEN, 2003, p.87.
118
WARDEN, 2003, p.87.
119
WARDEN, 2003, p.88. Mas, Outi Lehtipuu salientou que a busca obsessiva por paralelos ao relato do
rico e Lázaro em Lucas pode ser caracterizada como uma espécie de “paralelomania”, em que
frequentemente se exagera nas semelhanças e minimizam-se as diferenças, ver: SZUKALKI, John A.
Tormented in Hades: A socio-Narratological Approach to the Parable of the Rich man and Lazarus (Luke
16.19-31). Tese submetida como exigência ao grau de Doutor em Filosofia à Faculdade de Teologia e
estudos Religiosos da Universidade Católica da América. Disponível em:
https://cuislandora.wrlc.org/islandora/object/etd%3A281/datastream/PDF/view. Acesso em: 18 jul
2019.
Como acontece com o homem rico e Lázaro do livro de Lucas: “quando a morte atinge as duas
principais figuras da parábola, é Lázaro quem reside em bênção e o rico que sofre o tormento do
Hades.120 Para sublinhar a posição de destaque do mendigo é dito que ele foi “ levado embora” –
“ἀπενεχθῆναι”.121 O verbo aqui é um primeiro aoristo do infinitivo, passivo, de “ apopherö”. O caso
acusativo de referência geral “αὐτὸν” – “ele” - é comum com o infinitivo em tais cláusulas após
“ἐγένετο” – “aconteceu”, como no discurso indireto. 122 Assim, o mendigo foi “levado embora pelos
anjos” – em grego “καὶ ἀπενεχθῆναι αὐτὸν ὑπὸ τῶν ἀγγέλων”. Deve-se notar que o genitivo
“ἀγγέλων” – “anjos” é plural: o pobre mendigo que vivia na rua e tinha apenas a companhia de
cães (οἱ κύνες), ao morrer é levado ao “seio de Abraão” ( τὸν κόλπον ᾿Αβραάμ) por uma comitiva
de anjos. O substantivo acusativo "κόλπον" - (seio) - sugere que Lázaro foi levado ao lugar de
honra num banquete.123 Os anjos na compreensão dos escritores bíblicos eram os responsáveis
em cuidar daqueles que vão herdar a salvação (Hb 1.14). 124 Chiupka observou que essa
passagem poderia dar a entender que Lázaro foi levado de corpo e alma para o céu como
Enoque e Elias, “o que seria um testemunho do grau de favor que ele tinha com Deus”. 125 Outros
acreditam que tenha sido a alma de Lázaro e não o seu corpo que foi levado pelos anjos. 126 Mas
provavelmente o que a passagem quer dizer é que o mendigo faminto, na morte foi honrado ao
lado de Abraão, em outras palavras, ele pode se “reunir com seus pais”, enquanto o rico foi
deixado no Sheol.127 O Lázaro ignorado na Terra é imediatamente reconhecido pelo homem rico.
Ele o vê em um assento de honra ao lado de Abraão. 128 Nesse momento, talvez tivesse se
lembrado das muitas festas que desfrutou enquanto o pobre mendigo jazia no portão da sua
120
BOCK, 1997, p.66. Hades era o lugar do submundo onde os ímpios aguardavam o julgamento final. O
seio de Abraão estava dentro do Hades e era o lugar onde os justos esperavam que os portões do céu se
abrissem. Lá eles foram descritos como desfrutando de uma festa organizada por Abraão (Mt. 8.11). A
posição de Lázaro ao lado de Abraão teria sido entendida como a sede da maior honra. Os judeus se
orgulhavam de ser descendentes de Abraão, é evidente que a associação do homem rico com Abraão
não o beneficiou após sua morte, ver: CHIUPKA, Linda. An Exegesis of Luke 16.19-31: The Rich man and
Lazarus. New Theological College. Disponível em:
https://www.academia.edu/32883587/AN_EXEGESIS_OF_LUKE_16_19-
31_THE_RICH_MAN_AND_LAZARUS?auto=download. Acesso em: 09 jul 2019.
121
BOCK, 1997, p.66.
122
ROBERTSON, 2003, p.162.
123
RIENECKER; ROGERS, 1985, p.141.
124
CHIUPKA, Linda. An Exegesis of Luke 16.19-31: The Rich man and Lazarus. New Theological College.
Disponível em: https://www.academia.edu/32883587/AN_EXEGESIS_OF_LUKE_16_19-
31_THE_RICH_MAN_AND_LAZARUS?auto=download. Acesso em: 09 jul 2019.
125
CHIUPKA, Linda. An Exegesis of Luke 16.19-31: The Rich man and Lazarus. New Theological College.
Disponível em: https://www.academia.edu/32883587/AN_EXEGESIS_OF_LUKE_16_19-
31_THE_RICH_MAN_AND_LAZARUS?auto=download. Acesso em: 09 jul 2019.
126
ROBERTSON, 2003, p.162.
127
BOCK, 1997, p.66.
128
BAILEY, 1828, p.202.
casa implorando pelos restos de comida que caía da mesa. 129 Mas agora, as mesas foram
mudadas de lugar. E, nesse momento quando percebe sua desgraça, o vaidoso rico clama a
Abraão para ter misericórdia dele, pede para enviar Lázaro para que ele " mergulhe seu dedo na
água e refresque sua língua” – “ἵνα βάψῃ τὸ ἄκρον τοῦ δακτύλου αὐτοῦ ὕδατος καὶ καταψύξῃ
τὴν γλῶσσάν μου". O verbo “καταψύξη” está no primeiro aoristo do subjuntivo ativo, é um termo
grego tardio: “tornar fresco”. Ocorre só aqui no Novo Testamento, mas seu uso era comum nos
livros de medicina da época.130 Em tormentos o homem rico pede ajuda: “ὅτι ὀδυνῶμαι”- O verbo
“ὀδυνάω” na voz ativa expressa um sentido causal, produzir dor intensa, na voz média, o
sentido é de “atormentar a si mesmo”, mas, a forma passiva “ ὀδυνῶμαι” pode ser traduzida
como “estou sofrendo”.131 Ele quer água, apenas água: “molhe” – “βάψη” – Temos aqui um verbo
no aoristo subjuntivo ativo de “baptö”, um verbo comum para “molhar”. O genitivo “ὕδατος” “com
água”, supõe: água e nada mais.132 O rico embora não simpatizasse com a nudez, a fome e as
feridas do aflito Lázaro no seu portão, sente em si mesmo o drama do abandono e da miséria:
está em "terrível sofrimento”.133 O substantivo dativo “βασάνοις” – “tormentos”, originalmente se
referia a pedra de toque para testar metais, depois passou a ser usado para indicar a roda de
torturar.134 O tormento do rico é terrível, o substantivo dativo " φλογὶ" indica que ele está em
“chamas”. O autor de Lucas usa esse mesmo dativo em Atos 7.30 na descrição da chamas de
fogo numa sarça no monte sinal.

A segunda parte da parábola deixa claro que o homem rico foi contado entre os rejeitados. 135
Seu drama aumentou quando é lembrado por Abraão do contraste da sua situação com a de
Lázaro na Terra: “lembra-te de que, em tua vida recebestes as tuas boas coisas, e Lázaro,
coisas más; mas agora ele é consolado, e tu és atormentado”- “μνήσθητι ὅτι ἀπέλαβες σὺ τὰ
ἀγαθά σου ἐν τῇ ζωῇ σου, καὶ Λάζαρος ὁμοίως τὰ κακά· νῦν δὲ ὧδε παρακαλεῖται, σὺ δὲ
ὀδυνᾶσαι”. O verbo aoristo passivo do modo imperativo “μνήσθητι” com a conjunção “ὅτι” seria
melhor traduzido como “ lembra-se de, pensar em ou que”. 136 Abraão disse ao rico: “recebeste”.
O verbo é “ἀπέλαβες“, um segundo aoristo de indicativo de “ apolambanö”, um antigo verbo que
significava: “receber o prometido”: Tu “recebeste a tua boa parte” – (ἀπέλαβες σὺ τὰ ἀγαθά
129
BAILEY, 1828, p.202-203.
130
ROBERTSON, 2003, p.162.
131
ROBERTSON, 2003, p.162.
132
ROBERTSON, 2003, p.162.
133
BAILEY, 1828, p.203.
134
RIENECKER; ROGERS, 1985, p.141.
135
BOCK, 1997, p.66.
136
HAUBECK; SIEBENTHAL, 2009, p.511.
σου).137 O advérbio "ὁμοίως" (igualmente) indica que do mesmo modo que ele recebeu "as
coisas boas" (τὰ ἀγαθα) - receberá no Hades "as coisas más" (τὰ κακά).138 Entre os judeus
receber “coisas boas" era uma expressão equivalente a uma vida de felicidade secular. 139 Não há
duvida de que o homem rico havia experimentado o melhor na vida terrena; porém a sua riqueza
não lhe garantiu um lugar ao lado do Pai Abraão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Bredenhof pode estar certo ao propor que a narrativa de Lucas 16.19-31 seja
interpretada dentro de um contexto literário mais amplo. Ele sugere que o Evangelho de Lucas e
Atos sejam lidos sequencialmente.140 Assim, ao se situar a parábola dentro de uma narrativa
mais ampla, pode-se perceber elementos conectivos ligando o relato do homem rico e Lázaro ao
que se seguirá na história da comunidade cristã .141 Se Lucas concebeu seu trabalho como um
conjunto de dois volumes em que a história de Jesus é contínua com as histórias dos apóstolos
e da comunidade dos primeiros crentes, talvez seja realmente necessário que o leitor considere
as maneiras pelas quais o conteúdo da parábola é levado a um sentido satisfatório de
conclusão.142 Pode-se pensar que superficialmente, uma busca pelas “reverberações
intertextuais” desse relato está fadada a ser infrutífera, porque as palavras gregas “ πλούσιος” e
“πτωχός” estão ausentes no livro de Atos.143 Contudo, há realmente uma unidade em Lucas-Atos
no nível teológico, mas essa unidade precisa ser construída no nível de uma estratégia
narrativa.144 “O leitor é obrigado a retroceder e avançar na narrativa para resolver uma tensão”. 145
Assim, embora seja verdade que, em seu segundo volume, Lucas se afaste dos termos que
eram comuns em seu primeiro volume, “é preciso dizer que essa a aparente desconexão não é
sem propósito”.146 Diferentemente do homem rico, os crentes da comunidade lucana estavam
empenhados em ajudar os Lázaros (os necessitados entre eles). Assim, na boca de Jesus essa

137
ROBERTSON, 2003, p.162. Ver também: HAUBECK; SIEBENTHAL, 2009, p.511.
138
HAUBECK; SIEBENTHAL, 2009, p.511.
139
BAILEY, 1828, p.204.
140
BREDENHOF, 2015, p.12.
141
BREDENHOF, 2015, p.12-13.
142
BREDENHOF, 2015, p.12-13.
143
BREDENHOF, 2015, p.13.
144
BREDENHOF, 2015, p.13.
145
BREDENHOF, 2015, p.13.
146
BREDENHOF, 2015, p.13-14.
parábola teria sido contada como uma crítica a avareza, mas no plano redacional de Lucas foi
usada para desafiar os crentes a se envolverem no cuidado dos pobres e necessitados.

REFERÊNCIAS

BARCLAY, William. Comentário do Novo Testamento: Lucas. [s.e.], [s.d].

BAUCKHAM, Richard. The Rich Man and Lazarus: the parable and the parallels.
Disponível em: https://brill.com/view/book/9789004267411/B9789004267411-s006.xml?
lang=en. Acesso em: 07 jul 2019.

BOCK, D. L. The Parable of the Rich Man and Lazarus and the Ethics of Jesus.
In: Southwestern Journal of Theology, [s. l.], v. 40, n. 1. 1997.

BOCK, Darrel L. A theology of Luke-Acts. Disponível em:


http://www.obinfonet.ro/docs/tyndale/tyndrex/la/luke-acts-theo-bock.pdf. Acesso em: 20
jul 2019.

BREDENHOF, Reuben. Help for Lazarus: failure and prospect in Luke 16.19-31.
In: Synoptic Golpels Seminar Group British New Testament Conference: University of
Edinburgh, 2015.

BROWN, Raymond E. ; FITZMYER, Joseph A.; MURPHY, Roland E. Novo


Comentário Bíblico São Jerônimo: Novo Testamento e Artigos Sistemáticos . Academia
Cristã/Paulus, 2011.

CADBURY, Henry J. The Style and Literary Method of Luke. In: Harvard
Theological Studies VI, Cambridge Harvard University Press, 1920/ Kraus Reprint CO.
1969.

CHIUPKA, Linda. An Exegesis of Luke 16.19-31: The Rich man and Lazarus . New
Theological College. Disponível em:
https://www.academia.edu/32883587/AN_EXEGESIS_OF_LUKE_16_19-
31_THE_RICH_MAN_AND_LAZARUS?auto=download. Acesso em: 09 jul 2019.
COGHLAN, Philip. The Parables of Jesus. P. J. Kenedy and Sons, 1918.

DECKER, R. J. The Synoptic "Problem". Disponível em:


http://www.ntresources.com/blog/documents/synoptic.pdf. Acesso em: 23 jul 2019.

E: RIENECKER, Fritz; ROGERS, Cleon. Chave linguística do Novo Testamento


Grego. Edições Vida Nova, 1985.

GOODACRE, Mark. A Monopoly on Marcan priority? Fallacies at the Heart of Q .


Disponível em: http://www.markgoodacre.org/Q/monopoly.htm. Acesso em: 23 jul 2019.

GUTHRIE, Donald. New Testament Introduction. Disponível em:


https://pt.scribd.com/document/98600795/New-Testament-Introduction-Donald-Guthrie.
Acesso em: 30 out 2019.

HAUBECK, Wilfrid; SIEBENTHAL, Henrich. Nova chave Linguística do Novo


Testamento Grego. Targumim e Hagnos, 2009.

HOBART, William Kirk. The Medical Language of St. Luke: a proof from Internal
Evidence the Gospel According to St. Luke and the Acts of the Apostles: were written by
the same person, and that the writer was a medical man. Dublin: Hodges, Figgis, & CO.,
Paternoster-Row, 1882.

JAMIESON, Roberto; FAUSSET, A. R.; Brown, David. Comentario Exegetico e


Explicativo de la Biblia. Tomo II: Nuevo Testamento. El Paso: Casa Bautista de
Publicaciones, 2002.

NVI: O Novo Testamento, SBI, 1994.

OTTUH, John Arierhi. The story of Lazarus and the rich man (Luke 16.19-31)
Retold in a Nigerian context. In: Global Journal of Arts Humanities and Social Sciences,
Vol.2, No. 3., 2014.

PLUMMER, Alfred. The International Critical Commentary on The Gospel


According to St. Luke. New York: Charles Scribner's Sons, 1903.
ROBERTSON, A. T. Comentario al Texto Griego del Nuevo Testamento. (Obra
completa 6 tomos en 1). Barcelona: Editorial Clie, 2003.

STRONG, Justin David. Lazarus and the Dogs: The diagnosis and treatment. Doi:
https://doi.org/10.1017/S0028688517000364. Acesso em 5 de ago 2019.

SZUKALKI, John A. Tormented in Hades: A socio-Narratological Approach to the


Parable of the Rich man and Lazarus (Luke 16.19-31). Tese submetida como exigência
ao grau de Doutor em Filosofia à Faculdade de Teologia e estudos Religiosos da
Universidade Católica da América. Disponível em:
https://cuislandora.wrlc.org/islandora/object/etd%3A281/datastream/PDF/view. Acesso
em: 18 jul 2019.

The Synoptic Gospels. Disponível em: https://www.biblica.com/resources/scholar-


notes/niv-study-bible/the-synoptic-gospels/. Acesso em: 21 jul 2019.

WARDEN, Duane. The Rich Man and Lazarus: Poverty, Welth and Human Worth.
In: Stone-Campbell Journal, [s.l.], v.6, n.1, 2003.

WATSON, Francis. “Q” as hypothesis: a study in Methodoly . In: New Testament


Studies. 55 (4). 2009.

YARBROUGH, Robert W. Eta Linnemann friend or foe of Scholarship? In: The


Master's Seminary Journal, 1997.

Você também pode gostar