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A NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL

DEONTOLOGISMO E CONSEQUENCIALISMO
TEMA V | ÉTICA OU FILOSOFIA MORAL

Banksy, Londres, 2012.


A Necessidade de
Fundamentação da Moral

Morais teleológicas e morais deontológica


1
Consequencialismo vs Deontologia CENÁ

consequencialista diria que, nestas ▪ Um consequencialista diria que,


unstâncias, a coisa certa a fazer é puxar a circunstâncias, a coisa certa a fazer é em
anca, pois é alternativa que tem as melhores a pessoa gorda para os carris,
equências: cinco vidas salvas em vez de uma. alternativa que tem as m
consequências: cinco vidas salvas em
uma.
deontologista poderá dizer que puxar a
anca é permissível, ainda que uma vida ▪ Um deontologista diria que empurrar a
ana acabe por se perder em consequência gorda para os carris não é correto
a opção, pois essa morte é apenas prevista, implicaria matar intencionalmente u
não é pretendida. humano e isso é algo que nunca de
fazer.
CESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DA MO

e Sócrates que a filosofia moral discute e propõe respostas para


ema: Como devemos agir e porquê?

mo se justificam adequadamente convicções morais?


mo podemos nós saber se uma determinada ação é moralmente
rreta ou incorreta?
al é o bem último?
S DEONTOLÓGICAS ÉTICAS CONSEQUENCIALISTAS

as ações devem ou não As ações são corretas ou


em ser realizadas, incorretas em virtude das
pendentemente das suas consequências ou
equências ou resultados. resultados.
DEONTOLÓGICAS ÉTICAS CONSEQUENCIALISTAS

cas deontológicas opõem- As éticas consequencialis


consequencialismo porque opõem-se ao deontologis
em que os atos são porque consideram que a
secamente corretos ou ações só podem ser avalia
etos. a partir dos seus resultad
DEONTOLÓGICAS ÉTICAS CONSEQUENCIALISTAS

deontologismo, Para o consequencialismo,


ões, como o dever de não restrições, como o dever d
nunca podem ser não matar, admitem exceç
s.
Interessa aquilo que acont
sa aquilo que fazemos no mundo (consequência)
ão) e não o que acontece não que fazemos (intenção
ndo (consequência).
AS DEONTOLÓGICAS ÉTICAS CONSEQUENCIALISTAS

e a um Face a um bombardeamento
mbardeamento que que provoque a morte de civ
ovoque a morte de um consequencialista, antes
s, um deontologista fazer qualquer juízo,
á imediatamente: Foi perguntará: Quais as
ado! consequências da ação? O qu
teria acontecido se não
existisse o bombardeamento
CAS DEONTOLÓGICAS ÉTICAS CONSEQUENCIALISTAS

ética racional de Kant é O utilitarismo de Stuart


m exemplo de ética
ontológica. Mill é o exemplo mais
conhecido de
consequencialismo.
«Não tínhamos dinheiro para comer e estava tão desesperado
que vendi a minha filha para comprar alimentos.»
Foi assim que, em julho de 2016, o pai de Gharibgol, uma
menina afegã de seis anos, justificou ter vendido e casado a
menor com um homem de 55 anos, em troca de uma cabra,
arroz, açúcar e azeite para cozinhar.
- Terá o pai de Gharibgol agido corretamente? Porquê?

Nota: Globalmente, estima-se que o número total de meninas forçadas a


casar na infância é de 12 milhões por ano.
Isabel Bernardo
ões
De que modo devemos agir para agirmos moralmente?
Catarina Vale
ano

A ética deontológica e
intencionalista de Kant
Uma ética do dever –

Fundamentação da Metafísica
dos Costumes
A perspetiva de I. Kant (1724-1804)

• Filósofo alemão, contemporâneo da


Revolução Francesa e do Século das
Luzes*. Natural de Königsberg (na
altura capital da Prússia Oriental, hoje
Kaliningrado, na Rússia). Foi um dos
pensadores mais influentes da
Modernidade.

• A ética racionalista de Kant é um


exemplo de ética deontológica.
A perspetiva ética de I. Kant

• Ao sobrevalorizar a razão, o movimento


das luzes fez uma crítica à religião, o
que conduziu ao ceticismo.

• Kant pretende mostrar que


o fundamento da moral pode ser
encontrado fora da religião, mas a
religião não é inútil ou desprovida de
sentido.
A perspetiva de I. Kant

• A sua atividade filosofica envolveu a


procura de respostas para 3
questões:

• - O que posso saber?


• - O que posso fazer?
• - O que me é permitido esperar?

• Que se podem englobar na pergunta:


• - O que é o HOMEM?
A ÉTICA DEONTOLÓGICA DE KANT

«Não tínhamos dinheiro para comer e estava tão desesperado


que vendi a minha filha para comprar alimentos.»

Foi assim que, em julho de 2016, o pai de Gharibgol, uma


menina afegã de seis anos, justificou ter vendido e casado a
menor com um homem de 55 anos, em troca de uma cabra,
arroz, açúcar e azeite para cozinhar.
A ÉTICA DEONTOLÓGICA DE KANT

• - Devo eu, quando me encontro em dificuldades, usar os


outros como meio?

• - Haverá alguma circunstância em que seja moralmente


admissível vender e forçar uma criança a casar?

• Para a moral kantiana – o exemplo mais citado de


deontologismo – a resposta a ambas as questões é, sem
margem para hesitações, não. Examinemos porquê.
A ÉTICA DEONTOLÓGICA DE KANT

 Ao procurar solução para o problema «O que devo


fazer?», Kant começou por investigar a natureza da ação
moral respondendo à questão: «O que é uma ação
moral?».

 Kant acreditava no caráter universal e absoluto das


regras morais e a investigação que desenvolveu
procurou, antes de tudo, estabelecer o princípio supremo
de toda a moralidade.
A ÉTICA DEONTOLÓGICA DE KANT

 Na obra Fundamentação da metafísica dos costumes


(1785), começa por interrogar-se:

 - Existirá no ser humano algo bom em si mesmo, algo


absolutamente bom, um bem último, a partir do qual
possamos fundamentar toda a moralidade?

 Aos olhos de Kant, nenhuma das virtudes humanas


tradicionais pode ser considerada boa em si mesma.
(ver texto 1 manual - pág 184)
A ÉTICA DEONTOLÓGICA DE KANT

 Só a boa vontade (ou vontade boa) é boa em si


mesma, isto é, absolutamente boa, sem reservas.

 A boa vontade é o mais elevado bem, um bem do qual


todos os demais dependem. Só ela, diz Kant, age por
dever.

 Mas, o que significa agir por dever?


A ÉTICA DEONTOLÓGICA DE KANT

AÇÃO CONFORME O DEVER AÇÃO POR DEVER


(LEGALIDADE) (MORALIDADE)

Ajo em conformidade com o Ajo por dever quando a


dever quando a minha ação minha ação é única e
cumpre a lei, mas, exclusivamente motivada
simultaneamente, persegue pelo respeito à lei,
um interesse particular ou é independentemente das
o resultado de uma consequências ou dos
inclinação ou de um desejo. resultados da ação, mesmo
com prejuízo de todas as
minhas inclinações ou
desejos.
A ÉTICA DEONTOLÓGICA DE KANT

AÇÃO CONFORME O DEVER AÇÃO POR DEVER


(LEGALIDADE) (MORALIDADE)

A ação está de acordo com a A ação está de acordo com


lei moral, mas tem como a lei moral e tem como
motivo inclinações ou único motivo o respeito
desejos. Não tem, portanto, pelo dever. Tem, por isso,
qualquer valor moral. valor moral.
A ÉTICA DEONTOLÓGICA DE KANT

 O que distingue uma ação por dever de uma ação


meramente em conformidade com o dever é, portanto,
o motivo ou a intenção do agente.

 Kant defende que a moral não pode basear-se em


considerações empíricas, como os interesses, as
inclinações e os desejos de cada um, pois estas são
contingentes e particulares, não podendo, por isso, ser
o fundamento de regras imparciais.
A ÉTICA DEONTOLÓGICA DE KANT

 A correção da ação é, então, condição necessária


para a moralidade, mas não é condição suficiente.

 O que importa é agir corretamente porque assim


tem de ser, não porque a ação nos permite satisfazer
algo ou alcançar uma dada consequência.
“agir por dever” e “agir em conformidade ao dever”.
Um merceeiro tem um cliente novo na sua loja, um turista que
não sabe falar ou ler em português. O turista quer um quilo das
belas maçãs que acabaram de chegar e que ainda não têm o
preço marcado. O merceeiro pode aumentar o preço das maçãs,
mas vende-as ao turista ao mesmo preço a que estavam no dia
anterior.

- Como sabemos se a ação do merceeiro foi moralmente boa?

Para sabermos se a ação do merceeiro foi uma ação


moral e moralmente boa, Kant diz que temos que
saber a resposta à seguinte questão:
- “Qual foi o motivo da ação do merceeiro?”
O merceeiro poderá ter agido assim, porque:

a) Teve receio que o comprador fosse, afinal, um inspetor das


atividades económicas disfarçado de turista;
b) Não quer ficar mal visto e perder a confiança dos clientes habituais
que estavam na loja;
c) Não se deve enganar os outros;
d) É muito religioso e tem receio do castigo divino;
e) É naturalmente bondoso e não faz parte das suas inclinações
naturais, do seu modo de ser, enganar seja quem for.

- De acordo com Kant, qual dos motivos apresentados nos permitiria


considerar a ação como sendo moralmente boa, isto é, feita por dever?
Somente a razão “porque não se deve
enganar os outros” torna a ação
moralmente boa.

“Uma ação praticada por dever tem o


seu valor moral (...) no princípio do
querer segundo o qual a ação,
abstraindo-se de todos os objetos da
faculdade de desejar, foi praticada. (...)
O valor moral de uma ação não reside,
portanto, no efeito que dela se espera”.
Immanuel Kant (1785). Fundamentação da Metafísica dos Costumes.
Lisboa: Ed. 70, 2000, pp. 30-31

.
A ÉTICA DEONTOLÓGICA DE KANT

A ÉTICA DE KANT
TIPOS DE AÇÕES
conformes ao realizadas por
contrárias ao
dever, movidas puro respeito pelo
dever
por inclinações dever
• AÇÕES IMORAIS sensíveis
• AÇÕES ILEGAIS • AÇÕES MORAIS
• AÇÕES LEGAIS
Ações que
decorrem de Ações que estão de Ações que decorrem
máximas imorais e acordo com o dever, da exigência
ilegais e que estão mas que têm por base racional de agir por
em total interesses, vantagem dever: cumprimento
contradição com o pessoal, sentimentos e do dever pelo dever.
dever. consequências.
Exemplos: ajudar
Exemplos: Exemplos: ajudar alguém por dever;
alguém por piedade; estudar porque esse é o
matar, roubar,
estudar para ter bom meu dever enquanto
torturar. aluno.
resultado no teste.
A perspetiva ética de I. Kant
• O ser humano é um ser dividido entre
diferentes disposições que o compõem:

• animalidade – natureza biológica,


sensível, condicionado pelas disposições
naturais, que levam o Homem à procura
do prazer e à fuga da dor

• humanidade - dimensão sociocultural

• personalidade – natureza racional,


alguém capaz de se regular por leis que
impõem a si mesmo. Tais leis revelam a
sua autonomia, tendo a sua sede na
razão.
FILOSOFIA MORAL
KANTIANA

intenção valor moral de uma ação

boa intenção
SENTIMENTO PURO DE
(intenção pura) boa ação RESPEITO PELO DEVER

RAZÃO SENTIDOS
(a vontade que segue (inclinações
a razão: boa vontade) sensíveis)
Verifica se sabes
1. Explica a razão pela qual podemos afirmar que
Kant é defensor de uma ética deontológica.
2. Relaciona moralidade da ação e razão.
3. Exemplifica ações que não têm valor moral.
4. Dá exemplos de ações consideradas morais.
conclusões
• Kant fundamenta a moralidade na razão humana.
– Apenas tem valor moral a lei ditada pela razão, que
consiste no ato praticado pelo respeito ao dever.
– Só quando agimos por dever é que somos imparciais.

• Teses que defende:


– O que determina a moralidade da ação é a intenção do
agente.
– A única motivação/intenção moral boa é o
cumprimento do dever..
Só a ação por dever é moralmente correta. A ação conforme ao dever é legal
mas pode não ser moral .

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