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• Súmula 3241

A imunidade do art. 31, V, da Constituição Federal não compreende as taxas.

• Jurisprudência selecionada

Imunidade recíproca: atual artigo 150, VI, "a", da Constituição Federal

1. A imunidade aos impostos concedida às instituições de educação e de assistência


social, em dispositivo comum, surgiu na CF/1946, verbis: Art. 31, V, "b": À União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios é vedado (...) lançar imposto sobre (...)
templos de qualquer culto, bens e serviços de partidos políticos, instituições de
educação e de assistência social, desde que as suas rendas sejam aplicadas
integralmente no país para os respectivos fins. 2. As CF/1967 e CF/1969 (Emenda
Constitucional 1/1969) reiteraram a imunidade no disposto no art. 19, III, "c", verbis: É
vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios (...) instituir imposto
sobre (...) o patrimônio, a renda ou os serviços dos partidos políticos e de instituições de
educação ou de assistência social, observados os requisitos da lei. 3. A CF/1988 traçou
arquétipo com contornos ainda mais claros, verbis: Art. 150. Sem prejuízo de outras
garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal
e aos Municípios: (...) VI. instituir impostos sobre: (...) c) patrimônio, renda ou serviços
dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos
trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos,
atendidos os requisitos da lei;(...) § 4º. As vedações expressas no inciso VI, alíneas "b" e
"c", compreendem somente o patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com as
finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas; Art. 195. A seguridade social
será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei,
mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito

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https://portal.stf.jus.br/jurisprudencia/sumariosumulas.asp?base=30&sumula=2145
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: (...) § 7º. São isentas de
contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes de assistência social que
atendam às exigências estabelecidas em lei.
[RE 636.941, rel. min. Luiz Fux, P, j. 13-2-2014, DJE 67 de 4-4-2014.]

Agravo Regimental do Recurso Extraordinário. Direito Tributário. Artigo 150,


inciso VI, alínea "a" da Constituição Federal. Imunidade recíproca. Taxas. Inexistência.
Taxa de coleta de lixo domiciliar. Serviços específicos e divisíveis. Constitucionalidade.
Elementos da base de cálculo própria de impostos. Súmula Vinculante 29 do STF.
IPTU. Ausência de identidade. Artigo 145, II e § 2º, Constituição Federal. Repercussão
geral reconhecida. Confirmação da jurisprudência desta Corte. 1. A imunidade
tributária recíproca não engloba o conceito de taxa, porquanto o preceito
constitucional (artigo 150, inciso VI, alínea "a", da Constituição Federal) só faz alusão
expressa a imposto. (Precedentes: RE n. 424.227, Relator o Ministro CARLOS VELLOSO,
2ª Turma, DJ de 10.9.04; RE n. 253.394, Relator o Ministro ILMAR GALVÃO, 1ª Turma, DJ
de 11.4.03; e AI n. 458.856, Relator o Ministro EROS GRAU, 1ª Turma, DJ de 20.4.07).

2. As taxas cobradas em razão dos serviços públicos de coleta, remoção e tratamento


ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis, desde que dissociadas da
cobrança de outros serviços públicos de limpeza são constitucionais (RE n. 576.321-
QO, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJe de 13.2.09).

3. As taxas que, na apuração do montante devido, adotem um ou mais elementos que


compõem a base de cálculo própria de determinado imposto, desde que não se verifique
identidade integral entre uma base e outra são constitucionais (Súmula Vinculante 29 do
STF). (Precedentes: RE n. 232.393, Relator o Ministro CARLOS VELLOSO, Plenário, DJ
5.4.02; RE n. 550.403-ED, Relatora a Ministra CÁRMEN LÚCIA, 1ª Turma, DJe de
26.6.09; RE n. 524.045-AgR, Relator o Ministro CEZAR PELUSO, 2ª Turma, DJe de 9.10.09;
e RE n. 232.577-EDv, Relator o Ministro CEZAR PELUSO, Plenário, DJe de 9.4.10) 4. Agravo
regimental não provido.
[RE 613.287 AgR, rel. min. Luiz Fux, 1ª T, j. 2-8-2011, DJE 159 de 18-8-2011.]
Agravo regimental no agravo de instrumento. Tributário. IPTU. Porto de Santos.
Imunidade recíproca. Taxas. Honorário advocatício. Sucumbência. 1. Imóveis situados no
porto, área de domínio público da União, e que se encontram sob custódia da
companhia, em razão de delegação prevista na Lei de Concessões Portuárias. Não-
incidência do IPTU, por tratar-se de bem e serviço de competência atribuída ao poder
público (artigos 21, XII, "f" e 150, VI, da Constituição Federal). 2. Taxas. Imunidade.
Inexistência, uma vez que o preceito constitucional só faz alusão expressa a imposto,
não comportando a vedação a cobrança de taxas. Agravo regimental a que se nega
provimento. [AI 458.856 AgR, rel. min. Eros Grau, 1ª T, j. 5-10-2004, DJ de20-4-2007.]

Constitucional. Tributário. ECT - Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos:


imunidade tributária recíproca: C.F., art. 150, VI, a. Empresa pública que exerce
atividade econômica e empresa pública prestadora de serviço público: distinção.
Taxas: imunidade recíproca: Inexistência. I. - As empresas públicas prestadoras de
serviço público distinguem-se das que exercem atividade econômica. A ECT - Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos é prestadora de serviço público de prestação
obrigatória e exclusiva do Estado, motivo por que está abrangida pela imunidade
tributária recíproca: C.F., art. 22, X; C.F., art. 150, VI, a. Precedentes do STF: RE
424.227/SC, 407.099/RS, 354.897/RS, 356.122/RS e 398.630/SP, Ministro Carlos
Velloso, 2ª Turma. II. - A imunidade tributária recíproca -- C.F., art. 150, VI, a -- somente
é aplicável a impostos, não alcançando as taxas. III. - R.E. conhecido e improvido.
[RE 364.202, rel. min. Carlos Velloso, 2ª T, j. 5-10-2004, DJ de 28-10-2004.]
• AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 901.4122
• BAHIA - 27/10/2015
• SEGUNDA TURMA

EMENTA

Agravos regimentais nos recursos extraordinários. Inovação recursal. Inadmissibilidade.


Prequestionamento. Ausência. Imunidade recíproca. INFRAERO. Taxa de coleta de lixo domiciliar.
Base de cálculo. Área do imóvel. Constitucionalidade. Precedentes. Súmulas Vinculantes nºs 19
e 29.

1. Não se admite, no agravo regimental, a inovação de fundamentos.

2. Não se admite o recurso extraordinário quando os dispositivos constitucionais que nele se


alega violados não estão devidamente prequestionados. Incidência das Súmulas nºs 282 e
356/STF.

3. O Plenário da Corte, no exame do ARE n° 638.315/BA, Relator o Ministro Cezar Peluso, com
repercussão geral reconhecida, assentou que a imunidade recíproca prevista no art. 150, VI, a,
da Constituição Federal alcança a INFRAERO, na qualidade de empresa pública prestadora de
serviço público.

4. O Supremo Tribunal Federal consolidou o entendimento de que é constitucional a taxa de


coleta, remoção e tratamento ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis,
desde que essas atividades sejam completamente dissociadas de outros serviços públicos de
limpeza realizados em benefício da população em geral. Incidência da Súmula Vinculante nº
19.

5. O Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento no sentido da constitucionalidade da


utilização da área do imóvel como base de cálculo da taxa de coleta de lixo domiciliar. Incidência
da Súmula Vinculante nº 29.

MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):

Município de Salvador e Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (INFRAERO)


interpõem tempestivos agravos regimentais contra decisão em que neguei seguimento aos
respectivos recursos extraordinários, com a seguinte fundamentação: “Vistos. Trata-se de dois

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recursos, o primeiro, recurso extraordinário interposto pelo Município de Salvador, no qual alega
violação dos artigos 21, XII, ‘c’, 150, IV, ‘a’, § 2º e § 3º, 173, § 2º, e 177 da Constituição Federal.
Sustenta o recorrente, em suma, que a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária –
INFRAERO – não faz jus à imunidade recíproca. O segundo recurso trata de apelo extremo
interposto pela INFRAERO, no qual sustenta violação dos artigos 5º, XXXV e LV, 7º, XXIX, 93, 145,
§ 2º, e 150, VI, ‘a’, da Constituição Federal. Sustenta a recorrente que a taxa de limpeza pública
cobrada pelo Município de Salvador é inconstitucional. Insurgem-se contra acórdão, assim
ementado:

PROCESSUAL CIVIL – TRIBUTÁRIO – TAXA DELIMPEZA PÚBLICA - IPTU - IMUNIDADE


TRIBUTÁRIA RECÍPROCA - art. 150, VI, “A” DA CF/88 – INFRAERO.

1. Agravo retido não conhecido, uma vez que não houve interposição de recurso por parte do
Município de Salvador/BA.

2. ‘A imunidade recíproca definida no art. 150, VI, ‘a’, CF afasta a exigência de impostos pelos
demais entes federativos sobre receitas auferidas pelas empresas públicas federais que não
exerçam atividade eminentemente econômica e prestam serviços públicos de interesse da
União, principalmente quando em regime de monopólio. A INFRAERO foi criada pela Lei
5.862/72, sob a forma de empresa pública federal, tendo por objeto implantar e administrar a
infraestrutura aeroportuária, serviço público que, nos termos do art. 21, XII, ‘c’, da Constituição
Federal, é de competência exclusiva da União.’ (AC 2006.33.00.016177-5/BA, Rel. Juiz Federal
Convocado Osmane dos Santos, Oitava Turma, e-DJF1 p.582 de 27/02/2009)

3. Nesse diapasão, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou-se no sentido de que a


INFRAERO está abrangida pela imunidade tributária recíproca, prevista no art. 150, VI, a, da CF.
Precedentes: RE-AgR 524615/BA, Rel. Eros Grau, Segunda Turma, julgamento, 09/09/2008; RE-
AgR 363412 / BA – BAHIA. Rel. Min. Celso de Mello. Segunda Turma, Julgamento, 07/08/2007

4. De outra parte, não há inconstitucionalidade na exigência da Taxa de Limpeza Pública, por


parte do Município de Salvador/BA, em face da INFRAERO, pois se trata prestação de serviços
públicos específicos e divisíveis, nos exatos termos do que dispõe a norma de regência (Lei
Municipal nº 5.262/97, arts. 1º e 3º).

5. É de salientar, no tema, a jurisprudência pacificada pelo STF, em sede de repercussão geral,


leading case: RE 576321 RG-QO, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, julgado em
04/12/2008, DJe-030 DIVULG 12-02-2009 PUBLIC 13-02-2009 EMENT VOL02348-05 PP-00976),
no sentido de que ‘(...) as taxas cobradas em razão exclusivamente dos serviços públicos de
coleta, remoção e tratamento ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis são
constitucionais, ao passo que é inconstitucional a cobrança de valores tidos como taxa em
razão de serviços de conservação e limpeza de logradouros e bens públicos. Citou-se, ademais,
a orientação fixada no sentido de que a taxa que, na apuração do montante devido, adote um
ou mais dos elementos que compõem a base de cálculo própria de determinado imposto, desde
que não se verifique identidade integral entre uma base e a outra, não ofende o § 2º do art. 145
da CF’ (cf. site do Supremo Tribunal Federal). No mesmo diapasão: RE 532940 AgR, Relator(a):
Min. EROS GRAU, Segunda Turma, julgado em 24/06/2008, DJe-152 DIVULG 14-08-2008 PUBLIC
15-08- 2008 EMENT VOL-02328-06 PP-01233).

6. Ressalte-se, no ponto, que não se aplica às taxas o instituto da imunidade tributária, que se
refere somente a impostos, nos termos do art. 150, VI, a, da Carta Magna. Precedentes do STF
em casos similares (RE 532940 AgR, Relator Min. EROS GRAU, Segunda Turma, julgado em
24/06/2008, DJe-152 DIVULG 14-08-2008 PUBLIC 15-08- 2008 EMENT VOL-02328-06 PP-01233;
RE 364202, Relator Min. CARLOS VELLOSO, Segunda Turma, julgado em 05/10/2004, DJ 28-10-
2004 PP-00051 EMENT VOL-02170-02 PP-00302).

7. Quanto à argumentação de nulidade da CDA, em razão da atualização da correção monetária


do débito, não pode prosperar, pois são alegações genéricas da inexistência de higidez do título
executivo e de que ele não contém os elementos e informações sobre a constituição do crédito
tributário, sem a demonstração (CPC, artigos 332 e 333, I), de forma articulada, clara, específica
e convincente, dos fundamentos de fato e de direito (CPC, artigo 282, III).

8. Apelação parcialmente provida.’

Decido.

Verifico que a irresignação do Município de Salvador não merece prosperar. Note-se que
esta Corte, em sede de repercussão geral, confirmou a jurisprudência no sentido da
aplicabilidade da imunidade tributária recíproca à INFRAERO, conforme consta no julgamento
do ARE n° 638.315/BA, Relator o Ministro Cezar Peluso, DJe de 31/8/11. Nesse sentido:

‘IMUNIDADE RECÍPROCA – INFRAERO – PRESTAÇÃO DE SERVIÇO PÚBLICO – ARTIGO 150,


INCISO VI, ALÍNEA “A, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. O Tribunal reafirmou o entendimento
jurisprudencial e concluiu pela possibilidade de extensão da imunidade tributária recíproca à
Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária – INFRAERO, na qualidade de empresa
pública prestadora de serviço público’ (AI nº 797.034/SPAgR, Primeira Turma, Relator o Ministro
Marco Aurélio, DJe de 13/6/13).
‘EMENTA:

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. ISS. IMUNIDADE


TRIBUTÁRIA RECÍPROCA. INFRAERO. EMPRESA PÚBLICA PRESTADORA DE SERVIÇO PÚBLICO.
EXTENSÃO.

1. Ao julgar o ARE 638.315, da relatoria do ministro Cezar Peluso, o Plenário Virtual do Supremo
Tribunal Federal reconheceu a repercussão geral da questão constitucional analisada e
resolveu reafirmar a jurisprudência desta nossa Casa de Justiça no sentido de que as empresas
públicas prestadoras de serviço público estão abrangidas pela imunidade tributária recíproca
prevista na alínea ‘a’ do inciso VI do art. 150 da Magna Carta de 1988. Ressalva do ponto de
vista pessoal do relator.

2. Agravo regimental desprovido’ (RE nº 542.454/BA-AgR, Segunda Turma, Relator o Ministro


Ayres Britto, Segunda Turma, DJe de 17/2/12).

‘EMENTA:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. TRIBUTÁRIO. EMPRESA


BRASILEIRA DE INFRAESTRUTURA AEROPORTUÁRIA - INFRAERO. IMUNIDADE RECÍPROCA.
REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. JURISPRUDÊNCIA DO STF REAFIRMADA. INOVAÇÃO DE
MATÉRIA EM AGRAVO REGIMENTAL. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO IMPROVIDO. I – Esta Corte, ao
apreciar o ARE 638.315/BA, Rel. Min. Cezar Peluso (Presidente), reconheceu a repercussão geral
do tema em debate e reafirmou a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de que
é compatível com a Constituição a extensão de imunidade tributária recíproca à Empresa
Brasileira de Infraestrututa Aeroportuária – INFRAERO, na qualidade de empresa pública
prestadora de serviço público. II – A questão referente à restrição da norma constitucional de
imunidade tão-somente ao serviço público de infraestrutura aeroportuária delegado à
INFRAERO não foi arguida no recurso extraordinário e, desse modo, não pode ser aduzida em
agravo regimental. É incabível a inovação de fundamento nesta fase processual. Precedentes. III
– Agravo regimental improvido’ (AI nº 838.51/BA-AgR, Segunda Turma, Relator o Ministro
Ricardo Lewandowski, DJe de 19/12/11). Noutro giro, verifico que o segundo recurso, interposto
pela INFRAERO, também não merece êxito. No que se refere aos artigos 5º, XXXV e LV, 7º, XXIX,
e 93 da Constituição Federal, apontados como violados, carecem do necessário
prequestionamento, sendo certo que não foram opostos embargos de declaração para sanar
eventual omissão no acórdão recorrido. Incidem na espécie as Súmulas nºs 282 e 356 desta
Corte.

O acórdão recorrido não divergiu da orientação do STF que firmou entendimento no


sentido da constitucionalidade da instituição de taxa de remoção de lixo domiciliar. Assim
dispõe o enunciado da Súmula Vinculante nº 19 deste Tribunal, com a seguinte redação: ‘A
taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços públicos de coleta, remoção e tratamento
ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis, não viola o artigo 145, II, da
Constituição Federal.’ Na mesma linha desse entendimento, os seguintes precedentes: ‘AGRAVO
REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TAXA DE COLETA DE LIXO.
CONSTITUCIONALIDADE. DÉBITOS DA FAZENDA PÚBLICA. JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA.
NECESSIDADE DE LEGISLAÇÃO QUE DISCIPLINE A MATÉRIA. SUCUMBÊNCIA. JUÍZO DA
EXECUÇÃO. 1. A taxa de limpeza pública, quando não vinculada a limpeza de ruas e de
logradouros públicos, constitui tributo divisível e específico, atendido ao disposto no artigo
145, II, da CB/88. Precedentes. 2. O fato de um dos elementos utilizados na fixação da base de
cálculo do IPTU ser considerado quando da determinação da alíquota da taxa de coleta de lixo
não significa que ambos tenham a mesma base de cálculo. Precedentes. 3. A correção monetária
e a incidência de juros sobre os débitos da Fazenda Pública dependem de lei que regulamente a
matéria. Precedentes. 4. Os honorários de sucumbência devem ser decididos no juízo da
execução. Agravo regimental a que se nega provimento’ (RE nº 532.940/PRAgR, Segunda Turma,
Relator o Ministro Eros Grau, DJ de 14/8/08).

‘AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. TAXA DE COLETA


DE LIXO DOMICILIAR. MUNICÍPIO DE NATAL. SERVIÇO ESPECÍFICO E DIVISÍVEL. PRECEDENTES.

O acórdão recorrido afirmou que ‘o serviço de coleta e remoção de lixo domiciliar,


fornecido pelo Município, é uti singuli, efetivamente usufruído pelo contribuinte, gerando
benefícios que o atingem diretamente...’. Logo, é legítima a cobrança da Taxa de Limpeza
Pública, dado que instituída em face de uma atuação estatal específica e divisível. Precedentes:
RE 232.393, Relator o Ministro Carlos Velloso, e RE 241.790, Relator o Ministro Sepúlveda
Pertence. Agravo regimental a que se nega provimento’ (RE nº 440.992/RN-AgR, Primeira Turma,
Relator o Ministro Carlos Britto, DJ de 17/11/06).
• Súmula Vinculante 19

A taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços públicos de coleta, remoção e


tratamento ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis não viola o artigo 145, II,
da Constituição Federal.

• Precedente Representativo
(...) observo, inicialmente, que o Supremo Tribunal Federal fixou balizas quanto à
interpretação dada ao art. 145, II, da CF/1988, no que concerne à cobrança de taxas pelos
serviços públicos de limpeza prestados à sociedade. Com efeito, a Corte entende como
específicos e divisíveis os serviços públicos de coleta, remoção e tratamento ou destinação de
lixo ou resíduos provenientes de imóveis, desde que essas atividades sejam completamente
dissociadas de outros serviços públicos de limpeza realizados em benefício da população em
geral (uti universi) e de forma indivisível, tais como os de conservação e limpeza de logradouros
e bens públicos (praças, calçadas, vias, ruas, bueiros). Decorre daí que as taxas cobradas em
razão exclusivamente dos serviços públicos de coleta, remoção e tratamento ou destinação de
lixo ou resíduos provenientes de imóveis são constitucionais, ao passo que é inconstitucional a
cobrança de valores tidos como taxa em razão de serviços de conservação e limpeza de
logradouros e bens públicos. (...) Além disso, no que diz respeito ao argumento da utilização de
base de cálculo própria de impostos, o Tribunal reconhece a constitucionalidade de taxas que,
na apuração do montante devido, adote um ou mais dos elementos que compõem a base de
cálculo própria de determinado imposto, desde que não se verifique identidade integral entre
uma base e a outra.
[RE 576.321 QO-RG, voto do rel. min. Ricardo Lewandowski, P, j. 4-12-2008, DJE 30 de 13-2-
2009, Tema 146.]

• RECURSO EXTRAORDINÁRIO 594.015 SÃO PAULO3


• RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
• RECTE.: PETRÓLEO BRASILEIRO S/A – PETROBRAS
• RECDO.: MUNICÍPIO DE SANTOS

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RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – A Décima Quarta Câmara de Direito Público


do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo concluiu ser a Petróleo Brasileiro S.A. – PETROBRAS
parte legítima para figurar como devedora do Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU
incidente em imóvel localizado no Porto de Santos. Assentou que, mesmo sendo mera
arrendatária da Companhia Docas do Estado de São Paulo – CODESP de terreno em área
portuária pertencente à União, a recorrente não possuiria imunidade tributária recíproca,
porquanto esse privilégio somente seria relativo à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios, e não às sociedades de economia mista exploradoras de atividade econômica. Nesse
sentido, a condição de arrendatária não afastaria a obrigatoriedade do pagamento do tributo,
haja vista o disposto no artigo 34 do Código Tributário Nacional, não se mostrando, portanto, tal
alegação motivo suficiente para a aplicação da imunidade prevista no artigo 150, inciso VI, alínea
“a”, da Constituição Federal. Consoante fez ver, o artigo 173, § 2º, da Carta da República veda
tratamento diferenciado às empresas públicas e às sociedades de economia mista. Aduziu que,
apesar de a atividade explorada pela Petrobras configurar monopólio da União, o fato não
garantiria nenhum benefício tributário à empresa, nos exatos termos do artigo 177, § 1º, da Lei
Maior. Naquela oportunidade, o Tribunal de origem julgou indevida a cobrança de taxa de
coleta domiciliar de lixo incidente sobre o referido imóvel, por entender faltar no serviço
público prestado pelo Município a divisibilidade e a especificidade necessárias para instituição
de tal tributo. Eis a síntese da óptica adotada:

Apelações –Execução fiscal – Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) – Petrobras –


Arrendatária de terreno em área portuária pertencente à União – Imunidade – Não configuração
– Inteligência do disposto no artigo 150, VI, "a", da Constituição Federal. TAXA – Remoção de
Lixo – Falta de divisibilidade e especificidade – Cobrança Indevida. Recurso parcialmente
provido.

Embargos de declaração desprovidos, foram formalizados recursos extraordinários por


ambas as partes.

A Petrobras, no extraordinário interposto com alegada base na alínea “a” do permissivo


constitucional, articula a transgressão dos artigos 93, inciso IX, e 150, inciso VI, alínea “a”, da
Carta Política. Diz da própria ilegitimidade para figurar no polo passivo da execução,
considerada a transferência à Petrobras Transportes S.A.– TRANSPETRO de todos os direitos e
obrigações decorrentes do contrato operacional de arrendamento originariamente celebrado
entre a Codesp e a Petrobras. Esta última haveria repassado à Transpetro as atividades de
operação e construção dos dutos, terminais marítimos e embarcações para o transporte de
petróleo e derivados e de gás natural, tendo sido a subsidiária criada para exercer
especificamente essas funções. Conforme salienta, o imóvel é bem de propriedade da União,
afetado para a realização de atividades de utilidade pública. Dada a peculiar natureza do uso,
estaria alcançado pela imunidade constitucionalmente prevista. Argumenta que o fato de a
Codesp não ser beneficiária da imunidade recíproca não a afastaria, pois o que daria ensejo ao
privilégio seria a destinação do imóvel ao interesse público – abastecimento nacional de
combustíveis. Assevera não se tratar de prorrogação ou transferência a terceiros da imunidade
recíproca, como afirmado pelo recorrido, mas da correta interpretação do artigo 150, inciso
VI, alínea “a”, da Constituição Federal. Consoante aduz, há precedentes do Supremo no sentido
de incidência da imunidade quanto ao IPTU nos imóveis integrantes do acervo patrimonial do
Porto de Santos, seja pela propriedade, seja pela destinação dos terrenos, devendo tal
entendimento ser aplicado ao caso.

Sob o ângulo da repercussão geral, aponta possuir a controvérsia relevância jurídica,


mostrando-se de interesse de todos os entes que utilizem bens da União, afetando-os à
prestação de serviço público. Sustenta que a inobservância de tema já pacificado na
jurisprudência do Supremo acarreta insegurança jurídica. O Município de Santos, no
extraordinário, postula a reforma do acórdão quanto ao afastamento da cobrança da taxa de
coleta domiciliar de lixo, por entender em harmonia com a Lei Maior a incidência de referido
tributo. Em contrarrazões, o Município argui, preliminarmente, a inexistência de nulidade na
apreciação da matéria na origem. No mérito, pleiteia o desprovimento do recurso, ante a
constitucionalidade da incidência do tributo. A Petrobras, em contrarrazões, manifesta-se pela
manutenção do acórdão recorrido quanto à cobrança da referida taxa. O Vice-Presidente do
Tribunal de origem admitiu ambos os recursos. O processo foi distribuído a minha relatoria em
13 de outubro de 2008. Em 31 de agosto de 2010, dei provimento ao recurso extraordinário do
Município de Santos para declarar a exigibilidade da cobrança da taxa de coleta domiciliar de
lixo. Com o trânsito em julgado da decisão, o processo veio concluso para a análise do
extraordinário interposto pela Petrobras. Em 15 de abril de 2011, o Tribunal, por meio do
chamado “Plenário Virtual”, reconheceu a repercussão geral da questão. A Procuradoria-Geral
da República, em parecer, opina pelo provimento do recurso, assinalando haver a jurisprudência
do Supremo se consolidado no sentido de a imunidade recíproca alcançar sociedades de
economia mista cuja atividade fim constitua monopólio da União.
Foram admitidas, como terceiras, a Associação Nacional dos Transportadores
Ferroviários – ANTF e a Associação Brasileira das Secretarias de Finanças das Capitais Brasileiras
- Abrasf. É o relatório.

• RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.222.473 RIO GRANDE DO SUL4


• RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
• RECTE. (S) :UNIÃO
• PROC.(A/S) (ES) :ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO
• RECDO. (A/S) :MUNICIPIO DE PORTO ALEGRE
• PROC.(A/S)(ES) :PROCURADOR-GERAL DO MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE

DECISÃO RECURSO EXTRAORDINÁRIO – TAXA DE COLETA DE LIXO – CONSTITUCIONALIDADE –


ARTIGO 145, INCISO II, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL – SEGUIMENTO – NEGATIVA.

1.Atentem para o decidido na origem. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região,


confirmando o entendimento do juízo, assentou a constitucionalidade da cobrança da taxa de
coleta de lixo efetuada pelo Município de Porto Alegre. No extraordinário, a recorrente alega
violados os artigos 5º, incisos LIV e LV, 25, 29, 93, inciso IX e 150, inciso VI, alínea “a” da Lei Maior.

Eis a síntese do ato recorrido:

TRIBUTÁRIO. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. TAXA DE COLETA DE LIXO. IMUNIDADE


TRIBUTÁRIA. HONORÁRIOS RECURSAIS.

1. A questão relativa à constitucionalidade da cobrança da taxa de coleta de lixo foi


resolvida pelo Supremo Tribunal Federal, que editou a súmula vinculante nº 19, com o seguinte
teor: "a taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços públicos de coleta, remoção e
tratamento ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis, não viola o art. 145, II,
da Constituição Federal". Restou reconhecido o caráter específico e divisível do serviço público
de coleta de lixo (uti singuli), o que viabiliza a instituição pelo Poder Público de taxa pela
prestação de tal serviço.

2. A imunidade tributária somente é aplicável em relação a impostos, não alcançando


taxas, uma vez que a Constituição Federal, no artigo 150, inciso VI, alínea "a", dispõe que é

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vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir impostos sobre
patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros.

3. Vencida na fase recursal, a parte apelante deve arcar com o pagamento dos honorários
recursais, conforme § 11 do artigo 85 do Código de Processo Civil.

2. A decisão recorrida está em consonância com a óptica firmada pelo Pleno, no


julgamento do recurso extraordinário nº 576.321/SP, relator o ministro Ricardo Lewandowski,
sob o ângulo da repercussão geral, no qual reafirmado entendimento jurisprudencial quanto
à harmonia, com o artigo 145, inciso II, da Carta da República, da exigência de taxa em
decorrência da prestação de serviço público de coleta, remoção, tratamento ou destinação de
lixo ou resíduos. A tese ficou assim redigida:

I - A taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços públicos de coleta, remoção e


tratamento ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis não viola o artigo 145,
II, da Constituição Federal;

II - A taxa cobrada em razão dos serviços de conservação e limpeza de logradouros e


bens públicos ofende o art. 145, II, da Constituição Federal;

III - É constitucional a adoção, no cálculo do valor de taxa, de um ou mais elementos da


base de cálculo própria de determinado imposto, desde que não haja integral identidade entre
uma base e outra.

O Tribunal veio a editar o verbete vinculante nº 19 da Súmula, aprovado na Sessão


Plenária de 29 de outubro de 2009:

A taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços públicos de coleta, remoção e


tratamento ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis, não viola o artigo 145, II,
da Constituição Federal.

Quanto à inaplicabilidade da imunidade tributária recíproca prevista no artigo 150,


inciso IV, alínea “a”, da Constituição Federal no tocante as taxas, a óptica foi firmada por ambas
as Turmas deste Tribunal. Confiram os precedentes:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO TRIBUTÁRIO. ARTIGO


150, INCISO VI, ALÍNEA “A”, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. IMUNIDADE RECÍPROCA. TAXAS.
INEXISTÊNCIA. TAXA DE COLETA DE LIXO DOMICILIAR. SERVIÇOS ESPECÍFICOS E DIVISÍVEIS.
CONSTITUCIONALIDADE. ELEMENTOS DA BASE DE CÁLCULO PRÓPRIA DE IMPOSTOS. SÚMULA
VINCULANTE N. 29 DO STF. IPTU. AUSÊNCIA DE IDENTIDADE. ARTIGO 145, II E § 2º, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. CONFIRMAÇÃO DA
JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE.

1. A imunidade tributária recíproca não engloba o conceito de taxa, porquanto o


preceito constitucional (artigo 150, inciso VI, alínea “a”, da Constituição Federal) só faz alusão
expressa a imposto. (Precedentes: RE n. 424.227, Relator o Ministro CARLOS VELLOSO, 2ª Turma,
DJ de 10.9.04; RE n. 253.394, Relator o Ministro ILMAR GALVÃO, 1ª Turma, DJ de 11.4.03; e AI n.
458.856, Relator o Ministro EROS GRAU, 1ª Turma, DJ de 20.4.07).

2. As taxas cobradas em razão dos serviços públicos de coleta, remoção e tratamento


ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis, desde que dissociadas da cobrança
de outros serviços públicos de limpeza são constitucionais (RE n. 576.321-QO, Relator o
Ministro Ricardo Lewandowski, DJe de 13.2.09).

3. As taxas que, na apuração do montante devido, adotem um ou mais elementos que


compõem a base de cálculo própria de determinado imposto, desde que não se verifique
identidade integral entre uma base e outra são constitucionais (Súmula Vinculante n. 29 do STF).
(Precedentes: RE n. 232.393, Relator o Ministro CARLOS VELLOSO, Plenário, DJ 5.4.02; RE n.
550.403- ED, Relatora a Ministra CÁRMEN LÚCIA, 1ª Turma, DJe de 26.6.09; RE n. 524.045-AgR,
Relator o Ministro CEZAR PELUSO, 2ª Turma, DJe de 9.10.09; e RE n. 232.577-EDv, Relator o
Ministro CEZAR PELUSO, Plenário, DJe de 9.4.10)

4. Agravo regimental não provido. (agravo regimental recurso extraordinário nº


613.287, relator o ministro Luiz Fux, Primeira Turma, acórdão publicado no Diário da Justiça em
19 de agosto de 2011)

EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. ECT - EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E


TELÉGRAFOS: IMUNIDADE TRIBUTÁRIA RECÍPROCA: C.F., art. 150, VI, a. EMPRESA PÚBLICA
QUE EXERCE ATIVIDADE ECONÔMICA E EMPRESA PÚBLICA PRESTADORA DE SERVIÇO PÚBLICO:
DISTINÇÃO. TAXAS: IMUNIDADE RECÍPROCA: INEXISTÊNCIA.

I. - As empresas públicas prestadoras de serviço público distinguem-se das que exercem


atividade econômica. A ECT - Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos é prestadora de serviço
público de prestação obrigatória e exclusiva do Estado, motivo por que está abrangida pela
imunidade tributária recíproca: C.F., art. 22, X; C.F., art. 150, VI, a. Precedentes do STF: RE
424.227/SC, 407.099/RS, 354.897/RS, 356.122/RS e 398.630/SP, Ministro Carlos Velloso, 2ª
Turma.
II. - A imunidade tributária recíproca -- C.F., art. 150, VI, a -- somente é aplicável a
impostos, não alcançando as taxas.

III. - R.E. conhecido e improvido.

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