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--------------- CAPíTULO 5 • Teoria das Relações Humanas 103

eliminar ou neutralizar o fator psicológico, então 2. Segunda fase da experiência da Hawthorne


estranho e impertinente, o que fez a experiência se A segunda fase da experiência começou em 1927. 9
prolongar até 1932.
Foi criado um grupo de observação (ou grupo expe-
rimental): cinco moças montavam os relês, enquan-
~ DICAS to uma sexta operária fornecia as peças para abaste-
cer o trabalho. A sala de provas era separada do de-
"da experiência partamento (onde estava o grupo de controle) por
$tatura a respeito da Experiência de
uma divisão de madeira. O equipamento de traba-
tt.orhe é volumosa. 7 A Western Electric
lho era idêntico ao utilizado no departamento, ape-
~qulpamentos e componentes telefônicos. Na
nas incluindo um plano inclinado com um contador
época, desenvolvia uma política de pessoal que
valorizava o bem-estar dos operários, mantendo
de peças que marcava a produção em fita perfurada.
salários satisfatórios e boas condições de traba" A produção foi o índice de comparação entre o gru-
lho. Na fábrica de Hawthorne havia um departa- po experimental (sujeito a mudanças nas condições
de montagem de relés de telefone COns- de trabalho) e o grupo de controle (trabalho em
de moças (montadoras) que eXI~ClJIa'VarIl condições constantes).
<:lirr.nl<><:l e repetitivas que deDelldiiam O grupo experimental tinha um supervisor, co-
ral)idez. A empresa não estava intl~re:ssçrda mo no grupo de controle, além de um observador
a produção, mas em CO'rJhl~cE~r que permanecia na sala e observava o trabalho e as-
segurava o espírito de cooperação das moças. Elas
foram convidadas para participar na pesquisa e es-
clarecidas quanto aos seus objetivos: determinar o
1. Primeira fase da experiência de Hawthorne efeito de certas mudanças nas condições de trabalho
(períodos de descanso, lanches, redução no horário
Na primeira fase da experiência foram escolhidos
de trabalho etc.). Eram informadas a respeito dos
dois grupos de operários que faziam o mesmo tra-
resultados e as modificações eram antes submetidas
balho e em condições idênticas: um grupo de ob-
a sua aprovação. Insistia-se para que trabalhassem
servação trabalhava sob intensidade de luz variá-
dentro do normal e que ficassem à vontade no tra-
vel, enquanto o grupo de controle tinha intensida-
balho. A pesquisa com o grupo experimental foi di-
de constante. Pretendia-se conhecer o efeito da ilu-
vidida em 12 períodos, para observar sua produção.
minação sobre o rendimento dos operários. Os ob-
servadores não encontraram correlação direta en- 1. Este período durou duas semanas. Foi estabe-
tre ambas as variáveis, mas verificaram, desaponta- lecida a capacidade produtiva em condições
dos, a existência de uma variável difícil de ser iso- normais de trabalho (2.400 unidades semanais
lada, denominada fator psicológico: os operários por força) que passou a ser comparada com a
reagiam à experiência de acordo com suas suposi- dos demais períodos.
ções pessoais, ou seja, eles se julgavam na obriga- 2. Este período durou cinco semanas. O grupo
ção de produzir mais quando a intensidade de ilu- experimental foi isolado na sala de provas,
minação aumentava e, o contrário, quando dimi- mantendo-se as condições e o horário de tra-
nuía. Comprovou-se a preponderância do fator balho normais e medindo-se o ritmo de pro-
psicológico sobre o fator fisiológico: a eficiência dução. Serviu para verificar o efeito da mu-
dos operários ê afetada por condições psicológicas. 8 dança de local de trabalho.
Reconhecendo o fator psicológico apenas quanto à 3. Neste período modificou-se o sistema de pa-
sua influência negativa, os pesquisadores preten- gamento. No grupo de controle havia o paga-
deram isolá-lo ou eliminá-lo da experiência, por mento por tarefas em grupo. Os grupos eram
considerá-lo inoportuno. numerosos - compostos por mais de cem mo-
184 Introdução à Teoria Geral da Administração· IDALBERTO CHIAVENATO

ças -; as variações de produção de cada moça As condições físicas de trabalho foram iguais nos
eram diluídas na produção e não se refletiam 7 , 10Q e 12Q períodos. Contudo, a produção au-
Q

no salário individual. Separou-se o pagamen- mentou seguidamente de um período para o outro.


to do grupo experimental e, como ele era No 11 Q período, um ano após o início da experiên-
pequeno, os esforços individuais repercu- cia, os pesquisadores perceberam que os resultados
tiam diretamente no salário. Esse período eram estranhos. Havia um fator psicológico que já
durou oito semanas. Verificou-se aumento de havia aparecido na experiência anterior sobre ilu-
produção. minação. A experiência da sala de montagem de re-
4. Este período marca o início da introdução de lés trouxe as seguintes conclusões:
mudanças no trabalho: um intervalo de cinco
a. as moças gostavam de trabalhar na sala de
minutos de descanso no período da manhã e
provas porque era divertido e a supervisão
outro igual no período da tarde. Verificou-se
branda (ao contrário da supervisão de contro-
novo aumento de produção.
le rígido na sala de montagem) permitia traba-
5. Neste período os intervalos de descanso fo-
lhar com liberdade e menor ansiedade;
ram aumentados para dez minutos cada, veri-
b. havia um ambiente amistoso e sem pressões,
ficando-se novo aumento de produção.
no qual a conversa era permitida, o que au-
6. Neste período introduziu-se três intervalos de
mentava a satisfação no trabalho;
cinco minutos na manhã e três à tarde. A pro-
c. não havia temor ao supervisor, pois esse fun-
dução não aumentou, havendo queixas das
cionava como orientador;
moças quanto à quebra do ritmo de trabalho.
d. houve um desenvolvimento social do grupo
7. Neste período voltou-se a dois intervalos de
experimental. As moças faziam amizades en-
dez minutos, em cada período, servindo-se
tre si e tornaram-se uma equipe;
um lanche leve. A produção aumentou nova-
mente. e. o grupo desenvolveu objetivos comuns, como
o de aumentar o ritmo de produção, embora
8. Neste período foram mantidas as mesmas con-
fosse solicitado a trabalhar normalmente.
dições do período anterior, e o grupo experi-
mental passou a trabalhar até às 16h30min e
não até às 17 horas, como o grupo de controle. 3. Terceira fase da experiência de Hawthorne
Houve acentuado aumento da produção. Preocupados com a diferença de atitudes entre as
9. Neste período o grupo experimental passou a moças do grupo experimental e as do grupo de con-
trabalhar até às 16 horas. A produção perma- trole, os pesquisadores se afastaram do objetivo ini-
neceu estacionária. cial de verificar as condições físicas de trabalho e
10. Neste período o grupo experimental voltou a passaram a se fixar no estudo das relações humanas
trabalhar até às 17 horas, como no 7Q• A pro- no trabalho. Verificaram que, no grupo de controle,
dução aumentou bastante. as moças consideravam humilhante a supervisão vi-
11. Neste período estabeleceu-se a semana de cin- gilante e constrangedora. Apesar de sua política
co dias, com sábado livre. A produção diária pessoal aberta, a empresa pouco ou nada sabia acer-
do grupo experimental continuou a subir. ca dos fatores determinantes das atitudes das operá-
12. Neste período voltou-se às mesmas condições rias em relação à supervisão, aos equipamentos de
do 3 Q período, tirando-se todos os benefícios trabalho e à própria organização.
dados, com o assentimento das moças. Esse Assim, em 1928, iniciou-se o Programa de Entre-
período, último e decisivo, durou 12 semanas. vistas (Interviewing Program) com os empregados
Inesperadamente, a produção atingiu um ín- para conhecer suas atitudes e sentimentos, ouvir
dice jamais alcançado anteriormente (3.000 suas opiniões quanto ao trabalho e tratamento que
unidades semanais por moça). recebiam, bem como ouvir sugestões a respeito do
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treinamento dos supervisores. O programa foi bem 4. Quarta fase da experiência de Hawthorne
recebido entre operários e supervisores e os resulta- Foi escolhido um grupo experimental para traba-
dos se mostraram animadores. Em função disso, foi
lhar em uma sala especial com condições de traba-
criada a Divisão de Pesquisas Industriais para ampli-
lho idênticas às do departamento. Um observador
ar o programa de entrevistas e entrevistar anual-
ficava dentro da sala e um entrevistador do lado de
mente todos os empregados. Para uma empresa
fora entrevistava o grupo. Essa experiência visava
com mais de 40.000 empregados, o plano se reve-
analisar a organização informal dos operários.
lou ambicioso. Entre 1928 e 1930 foram entrevista-
O sistema de pagamento era baseado na produ-
dos cerca de 21.126 empregados. lO Em 1931, ado-
ção do grupo, havendo um salário-hora com base
tou-se a técnica da entrevista não-diretiva, que per-
em fatores e um salário mínimo horário, para o caso
mitia que os operários falassem livremente, sem que
de interrupções na produção. Os salários só podiam
o entrevistador desviasse o assunto ou tentasse im-
ser maiores se a produção total aumentasse. Assim
por um roteiro prévio.
que se familiarizou com o grupo experimental, o
observador pôde constatar que os operários dentro
~ DICAS da sala usavam várias artimanhas -logo que os ope-
rários montavam o que julgavam ser a sua produção
normal, reduziam seu ritmo de trabalho. Os operá-
Pr()griarna de Entrevista revelou a eX;stê'l'Ibiia
rios passaram a apresentar certa uniformidade de
dr~~arlit~lçã.o informal dos operários a fim
sentimentos e solidariedade grupal. O grupo desen-
tegerem contra o que percebiam como ameaçaS da
volveu métodos para assegurar suas atitudes, consi-
Administração. Essa organização informal manifes-
derando delator o membro que prejudicasse algum
ta-se por meio de: 11
companheiro e pressionando os mais rápidos para
a. padrões de produção que os operários julgam "estabilizarem" sua produção por meio de punições
ser a produção normal que deveriam ter e que simbólicas. Essa quarta fase permitiu o estudo das
não eram ultrapassados por nenhum deles; relações entre a organização informal dos emprega-
b. práticas não-formalizadas de punição social que dos e a organização formal da fábrica.
o grupo aplica aos operários que excedem os A Experiência de Hawthorne foi suspensa em
padrões e são considerados sabotadores; 1932 por motivos financeiros. Sua influência sobre
c. expressões que fazem transparecer a insatisfa- a teoria administrativa foi fundamental, abalando
ção quanto aos resultados do sistema de paga- os princípios básicos da Teoria Clássica então do-
mentos de incentivos por produção; minante.
d. liderança informal de alguns operários que man-
o unido e asseguram o resipeilto 5. Conclusões da experiência de Hawthorne
conduta;
A Experiência de Hawthorne proporcionou o deli-
neamento dos princípios básicos da Escola das Rela-
ções Humanas. Suas conclusões são as seguintes:

a. O nível de produção é resultante


da integração social
Com a organização informal, os operanos se
mantêm unidos através de laços de lealdade. Quan- O nível de produção não é determinado pela capa-
do o operário pretende também ser leal à empresa, cidade física ou fisiológica do empregado (como
essa lealdade dividida entre o grupo e a companhia afirmava a Teoria Clássica), mas por normas sociais
traz conflito, tensão, inquietação e descontenta- e expectativas grupais. É a capacidade social do tra-
mento. Para estudar esse fenômeno, os pesquisado- balhador que determina o seu nível de competência
res desenvolveram uma quarta fase da experiência. e eficiência e não sua capacidade de executar movi-

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