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A Pandemia do Século XIV e

Desflorestamento
Roteiro de Aula 05

Prof. Ernesto Pimentel.

Curso História Econômica Geral. UFPB, 2022-2 em 2023. Anotações de Aula. Atenção:
texto inédito, de uso restrito aos estudantes da disciplina. Reprodução e distribuição
não autorizados pelo autor.

INTRODUÇÃO

Ronald Findlay1 põe a questão crucial do ponto histórico a partir da qual


a Europa se mundializou. Entretanto, fazer a demarcação das redes de contatos
e comércio da Europa com o “mundo” pressupõe perguntar o que isso significa,
afinal estamos ainda a falar de um período anterior às grandes navegações. Um
mundo sem as Américas? A palavra “globe” e “globalisation” só podem ganhar
sentido se entendermos que o mundo era o mundo conhecido, como de fato
sugerem as expressões de cidadão cosmopolita, universal para mundanus, ou de
elegante para mundus ambos como adjetivo. A famosa frase cristã que diz “meu
reino não é deste mundo” só pode ser referida ao que é desconhecido em
relação ao que é conhecido. Findlay (2002: 20) bem lembra a frase de um
historiador especialista em China, Adshead: “If Europe came to dominate the
world, it was possibly because Europe first perceived there was a world to
dominate”.

1
Para informações de conhecimento geral: Ronald Findlay - Wikipedia
A INTERNACIONALIZAÇÃO DA PESTE

Árabes, Bizantinos, Europeus e Chineses foram os grandes agentes da


expansão civilizatória que confluiu para uma ideia mais ampliada de mundo,
arrastando os outros domínios e todas as populações sob suas influências. A
globalização das doenças é um fato visível já nos tempos medievais, isolando os
índios americanos, por exemplo, das várias formas de doença espalhadas no
interior da Eurásia. Vírus e bactérias eram transportados a longas distâncias
com o movimento de seres humanos e animais. A popularmente dita “peste
negra” que produzia ulcerações em várias partes do corpo, sobretudo visíveis
no pescoço e nos braços, devastou quase um terço da população europeia entre
1347 a 1350, ou 1351. 25 milhões de mortos considerando-se a estatística de 80
milhões de pessoas na Europa antes dos efeitos da devastação (FINDLAY, 2002:
21).

O roteiro mais completo da disseminação assolou uma região mais


ampla do globo, indo dos limites entre a China e a Mongólia, na Ásia, até a
Arábia, a parte setentrional da África e a Europa, voltando à Ásia pela Rússia. O
mapa cobre o caminho mais intenso dos contatos de civilização demarcados
pelo mundo conhecido.
Os modelos de Ronald Findlay são possibilidades hipotéticas que
interessam apenas a pesquisadores mais familiares com os bancos de dados
especializados. Entretanto, seu raciocínio resulta em demonstrar que os salários
melhoraram significativamente depois da pandemia. “In England real wages
rise by 75% between 1300 and 1450, when it attains a peak not to be reached
until centuries later. Data on real wages in the construction industry in Florence
show that they rose by 50% between 1360 and 1420 after which they fell slowly
back to pre-plague levels by 1600.” (FINDLAY, 2002: 25 e 26) English ↺ Português ➠
“Na Inglaterra, os salários reais aumentam 75% entre 1300 e 1450, quando
atinge um pico que só será alcançado séculos depois. Os dados sobre os salários
reais na indústria da construção em Florença mostram que eles aumentaram
50% entre 1360 e 1420, após o que foram caindo lentamente para atingir os
níveis anteriores à praga, em 1600.”
Durante a pandemia da Peste Negra no século 14, houve uma grande
mortalidade da população masculina, especialmente em espaços urbanos. A
escassez de mão de obra resultante levou a um aumento da demanda por
trabalhadores, o que, por sua vez, levou a um aumento nos salários e
remunerações.
Esse processo ocorreu porque, com menos trabalhadores disponíveis,
aqueles que sobreviveram à peste eram capazes de negociar melhores salários e
condições de trabalho. Além disso, muitos empregadores foram forçados a
competir entre si por trabalhadores, oferecendo salários mais altos e benefícios
adicionais para atrair trabalhadores para suas empresas.
Ainda que não haja consenso absoluto entre os estudiosos sobre o
impacto da Peste Negra na economia, muitos deles argumentam que a escassez
de mão de obra resultante levou a um aumento dos salários em muitas partes
da Europa. Dados mostram que os salários teriam aumentado drasticamente
após a Peste Negra em toda a Europa. O historiador John Hatcher argumenta
que a peste levou a um aumento nos salários na Inglaterra, com os
trabalhadores ganhando "mais em 1350 do que haviam ganhado no início do
século" (HATCHER, 2009: 88).
Neste sentido, vai também a opinião de Guido Alfani ao comentar este
gráfico em sua pesquisa, conforme se vê tanto o gráfico quanto a sua explicação:

Durante os mais de sete séculos cobertos pela figura, a Peste Negra


desencadeou uma de apenas duas fases de declínio sistemático da
desigualdade (a outra estando ligada às duas Guerras Mundiais e ao
difícil período entre guerras). No rescaldo da praga, os 10% mais ricos
da população perderam entre 15% e 20% da riqueza total. Esse
declínio na desigualdade foi duradouro, pois os 10% mais ricos não
atingiram novamente o nível de controle anterior à Peste Negra sobre
a riqueza geral antes da segunda metade do século XVII. A redução
da desigualdade teve duas causas principais. Em primeiro lugar, o já
mencionado aumento dos salários reais dos trabalhadores
qualificados e não qualificados e as condições geralmente mais
favoráveis experimentadas pelos trabalhadores. Em segundo lugar, a
fragmentação de grandes patrimônios causada pela mortalidade
extremamente alta no contexto do sistema de herança partilhável, que
no final da Idade Média caracterizou muitas áreas europeias, como a
Itália. Isso resultou em muitas pessoas herdando mais propriedades
do que precisavam ou desejavam. Consequentemente, isso levou a
uma abundância incomum de propriedades sendo oferecidas no
mercado. Combinado ao aumento dos salários reais devido à escassez
de mão de obra, esta situação permitiu que uma maior parte da
população tivesse acesso à propriedade. (ALFANI, 2020, traduzido do
inglês.)
Christine Johnson (2021), em nota breve, resume a visão historiográfica
geral sobre o período pós Peste Negra:

O que aconteceu a seguir tem sido objeto de uma enorme quantidade


de estudos, particularmente no caso da Inglaterra, onde o grande
corpo existente de fontes, como crônicas, legislação, processos
judiciais e livros de contas senhoriais, fornece material rico para
estudar as mudanças sociais e econômicas na esteira deixada pela
Peste Negra. Os estudiosos discordam sobre como e quanto as coisas
mudaram, mas compartilham uma tendência de descrever essas
mudanças em termos estranhamente passivos: os salários
aumentaram, a desigualdade diminuiu, o feudalismo acabou.

O trabalho qualificado parece ter se valorizado muito pela sua drástica


escassez, os produtos da terra ficaram mais ou menos estáveis ou até baixaram
e os produtos de luxo tiveram grandes aumentos de preço. Onde houve
trabalho especializado agregado e comércio, houve maiores ganhos. Os
senhores rurais da era feudal viram aparecer um poder burguês cada vez mais
forte e concorrente, eivado de valores inteiramente diferentes das aristocracias.
Em outras palavras, a peste dos ratos teria trazido um grande impulso para o
capitalismo. Essa informação seria desconsiderada numa historiografia
demasiado ansiosa para dizer que os seres humanos são os senhores da história,
quando em verdade ratos e microrganismos podem ter agido mais
poderosamente sobre o destino daquelas relações econômicas.

DESFLORESTAMENTO
Após meados do século XV, a mineração e a metalurgia da prata se
intensificaram na Europa. A produção de prata quintuplicou-se entre 1460 e
1530. (FINDLAY, 2002: 26) O ouro foi sendo percebido como uma riqueza
inestimável. Assim, a economia monetizada nunca mais recuou. Entretanto, a
interpretação de Ronald Findlay é exagerada. Lentas transformações de
mentalidade vieram marcando a Europa, como o processo de urbanização e o
surgimento das universidades.
A destruição das florestas europeias foi igualmente o longo processo que
atravessou séculos desde o XI século provavelmente. Eis um grande desafio
para a história ecológica. Um estudo com simulação de mapas históricos
(Kaplan, Krumhardt, Zimmermann, 2009: 3024) procura dar uma ideia da
devastação operada antes da Era Industrial, evidenciando que se o capitalismo
estiver intimamente relacionado com empreendedorismo rural, incorporação de
populações e modificação das condições ecológicas, sua história é bastante mais
longa do que aquela pensada no século 19. Seleciono abaixo as simulações de
contraste entre o Ano Mil e 1500.
A pandemia bubônica do século 14 foi um pequeno intervalo de tempo,
rapidamente superado:

For many regions of Europe after AD 1000, deforestation continued steadily until
the period of the Black Death, around AD 1350 (Fig. 8; Table 3). The major
decline in population caused by this epidemic was reflected in the widespread
afforestation of many regions of Europe, and was noticeable by AD 1400. Nearly
all regions displayed either a pause in deforestation or an increase in forest area
(Table 3). Regions with very low amounts of usable land showed no reforestation
(e.g., Iceland). Populations of most regions of Europe had recovered to their pre-
plague levels by AD 1450, and thus clearance levels were similar to those just
prior to the Black Death. Consequently, from AD 1500 to AD 1850, we see the
highest rates of forest clearance in our dataset and most usable land in Europe
and surrounding regions became highly cleared just prior to industrialization.
(Kaplan, Krumhardt, Zimmermann, 2009: 3025)

English ↺ Português ➠ Para muitas regiões da Europa após 1000 DC, o


desmatamento continuou de forma constante até o período da Peste Negra, por
volta de 1350 DC. O maior declínio na população causado por esta epidemia foi
refletido no florestamento generalizado de muitas regiões da Europa, e foi
perceptível por volta de 1400 DC Quase todas as regiões exibiram uma pausa no
desmatamento ou um aumento na área florestal. Regiões com quantidades muito
baixas de terras utilizáveis não apresentaram reflorestamento (por exemplo,
Islândia). As populações da maioria das regiões da Europa haviam se recuperado
de seus níveis anteriores à peste por volta de 1450 DC e, portanto, os níveis de
eliminação eram semelhantes aos anteriores à Peste Negra. Consequentemente,
de 1500 DC a 1850 DC, vemos as taxas mais altas de desmatamento em nosso
conjunto de dados e a maioria das terras utilizáveis na Europa e regiões vizinhas
tornou-se altamente desmatada pouco antes da industrialização.

Grandes modificações se iniciaram no século 11 e foram se acentuando,


mas sem dúvida a crise do século 14 é comumente considerada a mãe do
capitalismo comercial.

CONCLUSÃO
Há um longo debate sobre as tensões entre correntes de pensamento que
defendem a história puramente humana, sem interferência de outros aspectos
explicativos, e a história que considera interações múltiplas com múltiplas
causalidades. As condições humanas e ecológicas trazem problemas aos
historiadores que investigam hoje como situações de saúde e higiene podem ter
afetado a economia.
REFERÊNCIAS

Christine Johnson. (2021) How the Black Death make life better? Washington
University in St. Louis. Available at: https://history.wustl.edu/news/how-black-
death-made-life-better

Guido Alfani. (2020) The Economic Consequences of Plague: Lessons for the Age of
Covid-19. History and Policy. June 29. Available at: The economic consequences of
plague: lessons for the age of Covid-19 | History and Policy

Jed O. Kaplan; Kristen M. Krumhardt; Niklaus Zimmermann. (2009) The prehistoric


and preindustrial deforestation of Europe. Quaternary Science Reviews. 28, 3016–3034.
http://wsl.ch/staff/niklaus.zimmermann/papers/QuatSciRev_Kaplan_2009.pdf

John Hatcher. The Black Death: An Intimate History of a Village in Crisis 1345-50. London,
UK: Orion Books Ltd, 2009.

Ronald Findlay. (2002) Globalization and the European Economy: Medieval Origins to
the Industrial Revolution. (Discussion Paper #: 0102-28) Columbia University.
http://academiccommons.columbia.edu/catalog/ac%3A113595

TEXTO ADICIONAL DO PROFESSOR

Acumulação Prévia ou Primitiva do Capital

Por José Ernesto Pimentel Filho


Professor Titular de História e Direito da Universidade Federal da Paraíba
Disciplina de História Econômica Geral
João Pessoa, 05/05/2022

O conceito nunca foi resultado de uma reflexão clara e maduramente


elaborada. Embora muitos vejam tal problema como uma elaboração original
de Karl Marx, este autor não o construiu com evidências históricas
convincentes. Marx é um comentador do conceito de Adam Smith neste ponto
e não é capaz de dizer com precisão se há de fato um momento histórico, ou
uma fase periodizada da história europeia, que pudesse anteceder à história do
capitalismo e que pudesse ser localizado nos séculos anteriores à Revolução
Industrial. Muito provavelmente nunca existiu uma época que pudesse ser
chamada de Era da Acumulação Original do Capital. A conclusão mais próxima
disso é o desenvolvimento da ideia de Capitalismo Comercial, de Fernand
Braudel, mas não é possível ver nem em Marx, nem em Smith um
desenvolvimento tão sofisticado como em Braudel.
A acumulação de capital depende de algum capital já existente para o
primeiro investimento no processo produtivo com fins exclusivamente de obter
mais capital, o investidor zero da história do capitalismo. A produção capitalista
hipoteticamente poderia ter dependido de uma formação histórica “original” ou
“primitiva”.
Adam Smith (1723-1790) falou em “acumulação anterior” (previous
accumulation) e a considerou necessária para o avanço da divisão do trabalho
e, portanto, do que ele chama de “forças produtivas do trabalho”. Ele
argumenta que é plausível postular que a acumulação de estoque, ou capital, é
anterior à divisão do trabalho, de modo que o trabalho pode ser cada vez mais
subdividido enquanto o capital será previamente cada vez mais acumulado e
reinvestido. O raciocínio deu a Marx a possibilidade de esquematizar uma
definição de capital, em que dinheiro investido em capital deve resultar em
mais dinheiro, que na verdade é visto assim como capital ele mesmo, pois ele
reiniciará a fórmula novamente, numa acumulação infinita - em tese.
A ideia é inicialmente de Smith, que raciocina que numa sociedade de
mercado, um tecelão não pode se dedicar inteiramente ao seu próprio negócio,
a menos que haja previamente armazenado capital, seja em sua própria posse
ou na de outra pessoa. Antes de começar a vender, ele teria um estoque
suficiente para mantê-lo, e fornecê-lo com os materiais e ferramentas de seu
trabalho, até que ele não apenas tenha concluído a produção, mas vendido o
seu tecido. Em outras palavras, jamais um empreendedor pode começar a
empresa sem capital.
Se ocorre de alguém que recebe um valor sem investimento prévio,
temos um trabalhador e não um empresário. Mas é possível que trabalhadores
capazes de serem altamente remunerados possam ter o ponto zero da
formação do capital. A isso, podemos chamar de acumulação prévia de capital,
que não vem do capitalismo, mas de alguma outra forma não-capitalista de
obtenção de um dado estoque, rico o suficiente para ser transformado em
capital.
Na verdade, parece que o processo de acumulação não se separa da
existência do próprio mercado e da economia monetária. A produção não
existe historicamente sem a rede de relações monetárias que ligam produtor-
intermediário-consumidor. Sem essa configuração prévia do mercado, não
existe capitalismo. Ora, é a valorização do trabalho individual e a ânsia do
mercado por um determinado produto, o tecido, por exemplo, que conferem ao
produtor individual os ganhos muito acima de suas necessidades. Ganhando
mais, o profissional tecelão deixa de ser tecelão e passa a ser empresário.
Sem essa formação de redes de comércio não existirá mais tarde o
capitalismo. Assim, desde o Império de Carlos Magno até os grandes
mercados mundiais do século 18 e 19, vemos um processo de formação global
de mercados. Veja-se, porém, que isso não traduz as especulações abstratas
de Marx ou de Smith.
Essa acumulação deve, evidentemente, ser anterior a existência da
indústria. Smith, no entanto, acreditava que a divisão do trabalho e o “estoque”
são, de alguma forma, uma característica das sociedades industriais. Para
Smith, numa sociedade simples, em que não há divisão de trabalho, as trocas
raramente são feitas. Logo, não é necessário formar qualquer estoque
acumulado ou armazenado de antemão a fim de realizar os negócios da
empresa.
Smith estava errado. Seu individualismo metodológico fazia-no ver as
coisas de uma forma preconceituosa, pois mesmo nas sociedades caçadoras
ou coletoras, armas ou cestos de coleta são capitalizados para que se faça a
caça ou a coleta natural. Smith especula sobre uma formação social em que as
relações de mercado desempenham um papel marginal na reprodução dos
meios de subsistência das pessoas. Isso pode se transformar em uma
formação em que o capital é acumulado nas mãos de poucos enquanto a
grande maioria se transforma em trabalhadores pagos. Tal acumulação anterior
resultava da privação para uma parcela da população. Adam Smith não
confrontou o processo histórico que originou essas relações de mercado.
Marx traduziu o termo de Smith, “anterior”, como “ursprünglich”, que
então foi traduzido para o inglês como “primitivo”. Marx desenvolveu um
significado diferente de acumulação primitiva ao vinculá-lo à noção de capital
como “relação de classe” e não como “capital” propriamente, uma vez que o
interesse dele não era entender o capital, mas a formação da classe
trabalhadora para o capital. Assim, o objetivo é compreender a separação
completa entre os trabalhadores e a propriedade das condições para a
realização de seu trabalho.
A separação do trabalhador em relação ao capital é a origem da
sociedade capitalista e, para existir essa sociedade, era necessário criar um
conceito onde aparecesse o capital advindo de uma sociedade feudal, não-
capitalista. Daí, cria-se a possibilidade do conceito de Smith se transformar
numa época histórica e não simplesmente um processo repetido cada vez que
nasce um empreendimento capitalista. Marx resolveu chamar isso de
acumulação primitiva e disse que seria o processo histórico de separação do
produtor dos meios de produção.
Não há em Marx evidência de que tal era histórica tenha de fato existido
com delineamentos únicos, pois o capitalismo se construiu com idas e vindas,
num arranjo “natural” de tentativas não-conscientes da coletividade europeia.
Marx tenta dizer que os cercamentos de terras inglesas durante os séculos XVI
e XVII eram a acumulação primitiva, mas o faz em elaborações genéricas e
equívocas, sem mostrar evidências empíricas confiáveis. Às vezes, ele também
se refere à dimensão internacional da acumulação primitiva, como o efeito do
tráfico de escravos para os ingleses. Busca conjecturar sobre como esse
processo pressupõe resistência à violência capitalista em processo de
formação.
Contra Thomas Malthus, Marx propositadamente desprezava o
fenômeno demográfico. Em sociedades tradicionais, a população crescia em
explosão em relação aos meios de suprimento e alimentação. Essa foi uma das
grandes fontes do fornecimento de pessoas desocupadas nas cidades e não
exclusivamente, nem principalmente, a violência direta no campo. A melhoria
dos regimes alimentares e de higiene resultaram em explosões demográficas
em que as gerações novas tinham de ir para as cidades, como Londres, para
obter algum ganho. E somente a riqueza acumulada poderia dar condições a
existência de fábricas, que eram empreendimentos exercidos em regime de
concentração de renda.

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