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ESTÁTICA

Eduardo Alcides Peter


Propriedades
geométricas – parte I
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste capítulo, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Explicar o conceito de centro de gravidade e centro de massa.


„„ Descrever o conceito de centroide de linha, área e volume.
„„ Determinar a localização do centro de gravidade e do centroide para
um sistema de partículas discretas de forma arbitrária.

Introdução
As propriedades geométricas possuem papel fundamental para o dimen-
sionamento de estruturas. Através das propriedades é possível determinar,
por exemplo, a direção e o sentido das forças resultantes (para o cálculo
das reações de apoio e a determinação das forças internas em elementos
estruturais). É fundamental que o engenheiro seja capaz de entender,
aplicar e trabalhar com os conceitos fundamentais das propriedades
geométricas.
Neste capítulo, você aprenderá a explicar o conceito de centro de
gravidade e centro de massa, bem como será capaz de descrever os
conceitos de centroide de linha, área e volume. Você será capaz, ainda,
de determinar a localização do centro de gravidade e do centroide para
um sistema de partículas discretas com uma forma qualquer.

Centro de gravidade e centro de massa


O centro de gravidade e o centro de massa são conceitos fundamentais da
estática. Através desses conceitos é possível determinar a localização, a direção
e o sentido de forças resultantes (um exemplo é a força peso resultante de um
objeto: qual a sua direção e sentido?).
2 Propriedades geométricas – parte I

Centro de gravidade
O conceito de centro de gravidade (também chamado de baricentro, que
designa o centro dos pesos) é relativamente simples: o centro de gravidade
de um corpo representa o ponto onde pode ser considerada a aplicação da
força da gravidade resultante de todo o corpo, que por sua vez é formado por
partículas. O centro de gravidade é o ponto no qual se pode equilibrar todas as
forças de atração. Isto é, caso seja aplicada uma força de mesma intensidade
e sentido contrário à força peso no centro de gravidade, o corpo ficará em
equilíbrio estático. Para obter-se o centro de gravidade de um objeto é preciso
definir um sistema referencial.
No caso de um corpo constituído por N partículas pontuais, o centro de
gravidade nas direções x e y, em um determinado sistema referencial, pode
ser calculado como:

{
N N
xg = ∑ xi Fi / ∑ Fi
i i

N N
yg = ∑ yi Fi / ∑ Fi
i i

Onde xg e yg são os centros de gravidade do objeto nas direções x e y, xi é


a posição x de cada partícula e Fi é a força gravitacional sobre a partícula i.

Não necessariamente o centro de gravidade precisa ser um ponto pertencente ao


corpo. No caso de um anel perfeito, o seu centro de gravidade está exatamente no
centro do anel (fora, portanto, dos limites físicos do anel).

Centro de massa
Para entender o conceito de centro de massa, imagine um corpo homogêneo
constituído por N pequenos pedaços em um determinado referencial. O centro
de massa desse corpo é determinado matematicamente somando-se os produtos
Propriedades geométricas – parte I 3

da massa de cada pedaço e da distância da origem do referencial até o centro


de cada pequeno pedaço em cada direção separadamente e dividindo-se pela
soma das massas dos pedaços. O resultado é um valor médio de coordenadas
em cada direção, que é exatamente o centro de massa. O centro de massa de
um corpo é definido, portanto, como sendo um ponto hipotético que representa
a posição média da distribuição de massa de um corpo.
O conceito de centro de massa é, muitas vezes, confundido com o conceito
de centro de gravidade. A confusão é justificável quando o corpo analisado
está sob a influência de um campo gravitacional constante: nesse caso, os
dois pontos são coincidentes.
Caso o campo gravitacional não seja uniforme (e isso acontece quando se
analisa corpos com grandes dimensões na superfície terrestre, por exemplo),
o centro de gravidade não coincide com o centro de massa. A razão é simples:
o centro de massa avalia a distribuição de massa de um corpo, enquanto o
centro de gravidade avalia a distribuição de forças de um corpo. Se o campo
gravitacional muda significativamente ao longo da extensão do corpo, haverá
uma porção do corpo onde o peso será maior ou menor para uma mesma massa,
alterando a posição média da distribuição de forças e, consequentemente, o
centro de gravidade do corpo.
Assim, no caso de um corpo constituído por N partículas pontuais, o centro
de massa nas direções x e y, em um determinado sistema referencial, pode
ser calculado como:

{
N N
xm = ∑ xi mi / ∑ mi
i i

N N
ym = ∑ yi mi / ∑ mi
i i

Onde: xm e ym são os centros de massa do objeto nas direções x e y, xi é a


posição x de cada partícula e mi é a massa da partícula i.
São mostrados alguns exemplos na Figura 1. No painel a) mostra-se um anel,
onde o centro de massa e de gravidade estão no centro do anel. No painel b)
mostra-se um quadrado, onde o centro de massa e de gravidade estão no
centro geométrico da figura. Já no painel c) mostra-se o centro de massa e de
gravidade de um quadrado composto por dois materiais diferentes (com pesos
específicos diferentes), representados por diferentes hachuras. Nesse caso, o
centro de massa não coincide com o centro geométrico do objeto.
4 Propriedades geométricas – parte I

a) b) c)

F m
F m F m

Figura 1. Exemplo de figuras com seus respectivos centros de massa (m) e gravidade (F).

Centroides
O centroide é definido como sendo um ponto que representa o centro geomé-
trico de uma forma geométrica. Caso a forma geométrica represente um corpo
uniforme (ou seja, com mesma massa), o centroide coincide com o centro de
massa do corpo. Adicionalmente, caso o corpo esteja submetido a um campo
gravitacional constante, o centroide e o centro de massa coincidem com o
centro de gravidade. O centroide pode ser: de linha, de área ou de volume.

Centroide de linha
No caso do centroide de linha, o centroide é um ponto que representa o centro
geométrico da forma geométrica que é uma linha. A forma geométrica pode
ser composta por linhas curvas ou por uma combinação de linhas. De forma
que se pode expressar o centroide como sendo:

{
N N
xC = ∑ xi li / ∑ li
i i

N N
yC = ∑ yi li / ∑ li
i i

Onde: xC e yC são os centroides do objeto nas direções x e y, xi é o centro


em x de cada linha e li é o comprimento da linha i.
Propriedades geométricas – parte I 5

Centroide de área
No caso do centroide de área, o centroide é um ponto que representa o centro
geométrico da forma geométrica que pode ser expressa em um plano. A forma
geométrica pode ser composta pelas mais diferentes formas geométricas. O
centroide de área pode ser escrito como sendo:

{
N N
xC = ∑ xi Ai / ∑ Ai
i i

N N
yC = ∑ yi Ai / ∑ Ai
i i

Onde: xC e yC são os centroides do objeto nas direções x e y, xi é a posição


centroide no eixo x de cada elemento que compõe a forma geométrica e Ai é a
área da i-ésima parte que compõe a forma geométrica analisada.

Centroide de volume
No caso do centroide de volume, o centroide é um ponto que representa o centro
geométrico da forma geométrica que é um volume. A forma geométrica pode
ser composta por diversos volumes, conectados ou não entre si. De forma que
se pode expressar o centroide como sendo:

{
N N
xC = ∑ xi Vi / ∑ Vi
i i

N N
yC = ∑ yi Vi / ∑ Vi
i i

Onde: xC e yC são os centroides do objeto nas direções x e y, xi é a posição


x do centroide do elemento i e Vi é o volume do elemento i que compõem o
volume da forma analisada.

O centroide pode ser aplicado para a determinação de área e de volume, em sólidos


de revolução, por exemplo, por meio do Teorema de Pappus-Guldinus.
6 Propriedades geométricas – parte I

Determinação do centro de gravidade e


centroide

Centro de gravidade e centroide para


um sistema de partículas
Uma das formas mais fáceis de entender os conceitos de centro de gravidade e
centroide é através da aplicação em um sistema de partículas. Por exemplo, o
centro de gravidade de um sistema de partículas pode ser encontrado através
da posição média das partículas, com relação a um sistema de referências,
utilizando como ponderação o peso de cada uma das partículas. Assim:

{
N N
xg = ∑ xi Pi / ∑ Pi
i i

N N
yg = ∑ yi Pi / ∑ Pi
i i

Onde xg e yg representam o centro de gravidade do sistema de partículas


em um plano e Pi é o peso da i-ésima partícula.

Calcule o centro de gravidade do sistema de partículas mostrado a seguir (Figura 2).

(5,10) A B
(10,10)
10N 10N
y C D
(10,5)
(5,5) 10N
10N

x
Figura 2. Exemplo de sistema de partícu-
las para cálculo do centro de gravidade.
Propriedades geométricas – parte I 7

Neste caso, o sistema é composto por quatro partículas: A, B, C e D.


O centro de gravidade pode ser calculado através das seguintes expressões:

{
∑DA xiPi Pi 10
xg = = (x + x + x + x ) = (5 + 10 + 5 + 10) = 7,5
∑DA yiPi Pi ∑DA 1 A B C D 10 ∙ 4

∑DA yiPi Pi 10
yg = = (y + y + y + y ) = (10 + 10 + 5 + 5) = 7,5
∑DA Pi Pi ∑DA 1 A B C D 10 ∙ 4

O centro de gravidade é, portanto, o ponto (7,5; 7,5).


Pode ser o caso de que os pesos de cada partícula sejam diferentes, como no sistema
a seguir (Figura 3):

(5,10) A B
(10,10)
20N 20N
y C D
(10,5)
(5,5) 20N
10N

x
Figura 3. Exemplo de sistema de partí-
culas com pesos diferentes entre si para
cálculo do centro de gravidade.

Nesse caso, tem-se:

{
∑DA xi Pi (5 ∙ 20 + 10 ∙ 20 + 5 ∙ 10 + 20 ∙ 10) 550
xg = = = = 7,86
∑DA Pi (20 + 20 + 10 + 20) 70

∑DA yi Pi (10 ∙ 20 + 10 ∙ 20 + 5 ∙ 10 + 20 ∙ 10) 650


yg = = = = 9,29
∑DA Pi (20 + 20 + 10 + 20) 70

Sendo o centro de gravidade (7,86; 9,29).

O centro de gravidade pode ser de um sistema distribuído em um volume, de modo


que cada ponto possua três coordenadas. Como no exemplo a seguir.
8 Propriedades geométricas – parte I

Determine o centro de gravidade de um sistema composto pelos seguintes pontos


(Tabela 1):

Tabela 1. Exemplo de pontos com coordenadas triplas em um sistema, para


cálculo do centro de gravidade.

Coordenada Coordenada Coordenada


Ponto Peso (N)
x (m) y (m) z (m)

A 2 3 1 30

B 3 2 0 40

C 4 4 -1 10

Assim:

{
∑DA xi Pi (2 ∙ 30 + 3 ∙ 40 + 4 ∙ 10)
xg = = = 2,75m
∑DA Pi (30 + 40 + 10)

∑DA yi Pi (3 ∙ 30 + 2 ∙ 40 + 4 ∙ 10)
yg = = = 2,625m
∑DA Pi (30 + 40 + 10)
∑DA zi Pi (1 ∙ 30 + 0 ∙ 40 + (–1) ∙ 10)
zg = = = 0,25m
∑DA Pi (30 + 40 + 10)

Logo, o centro de gravidade nesse caso é: (2,75; 2,625; 0,25).

Centro de gravidade e centroide para corpos


de forma arbitrária
Pode ser o caso que não se esteja analisando o centro de gravidade ou o cen-
troide de um sistema de partículas e, sim, de um corpo com forma arbitrária.
Pode-se pensar que um corpo é composto por infinitas partículas, de modo
que os centros de gravidade e centroide são calculados como no caso de um
sistema de partículas. Do ponto de vista computacional, essa solução parece
simples e mais adequada. Entretanto, é inviável de ser feita manualmente.
Propriedades geométricas – parte I 9

Assim sendo, quando se tem um corpo de forma arbitrária, procura-se


dividi-lo em pedaços ou formas com centroides e centros de gravidade conhe-
cidos. Com isto é possível calcular os referidos pontos de forma simplificada.
No exemplo a seguir, é calculado o centro de gravidade de um corpo
retangular.

Calcule o centro de gravidade do corpo retangular abaixo mostrado (as dimensões


estão em centímetros) (Figura 4).

20kN/m2 10kN/m2200

y
200

200 200 200


200

200

Figura 4. Exemplo de corpo retangular para


cálculo do centro de gravidade.

O corpo é constituído de dois materiais diferentes, conforme mostra a figura. Um


deles possui um peso específico de 20 kN/m2 e o outro 10 kN/m2.
10 Propriedades geométricas – parte I

Digamos que você não saiba qual é o centro de gravidade de um retângulo homo-
gêneo. Você pode dividir a figura da seguinte maneira (Figura 5):

200
3
y
2

200
200 200 200
200

200 x

Figura 5. Exemplo de divisão de um retângulo


para cálculo do centro de gravidade.

Onde agora 1, 2 e 3 são quadrados, com centro de massa conhecidos.


Os quadrados 1 e 2 possuem 2 m x 2 m e são constituídos de material de 20 kN/m2.
Assim sendo, tanto 1 quanto 2 possuem massa de 80 kN. Já o quadrado 3, de 4 m x
4 m, possui massa de 160 kN. Os centros de gravidade destes elementos coincidem
com os seus respectivos centroides. Dessa forma (Figura 6):

1
3
500

y 2
400
300

300
600
x

Figura 6. Exemplo de divisão de um retângulo em qua-


drados de centros de gravidade conhecidos para cálculo
do centro de gravidade do retângulo.
Propriedades geométricas – parte I 11

Deste modo, monta-se a Tabela 2:

Tabela 2. Centros de massa, pesos e áreas dos pontos que representam as di-
visões do retângulo do exemplo.

Centro de Centro de Área


Figura Peso (kN)
massa x (m) massa y (m) (m2)

1 3 3 80 4

2 3 5 80 4

3 6 4 160 16

O centro de gravidade pode ser calculado como:

{
∑DA xi Pi (3 ∙ 80 + 3 ∙ 80 + 6 ∙ 160) 1440
xg = = = = 4,5m
∑DA Pi (80 + 80 + 160) 320

∑DA yi Pi (3 ∙ 80 + 5 ∙ 80 + 4 ∙ 160) 1280


yg = = = = 4m
∑DA Pi (80 + 80 + 160) 320

Logo, o centro de gravidade é (4,5 m; 4 m).

Considerando o mesmo corpo, agora calcula-se o centroide.


12 Propriedades geométricas – parte I

Calcule o centroide do corpo retangular abaixo mostrado (as dimensões estão em


centímetros) (Figura 7).

20kN/m3 10kN/m3

200
y

200
200 200 200
200

200 x

Figura 7. Exemplo de corpo retangular para cál-


culo do centroide.

O corpo é constituído de dois materiais diferentes, conforme mostra a figura. Um


deles possui um peso específico de e 20 kN/m3 e o outro 10 kN/m3. Entretanto, isso não
importa para o cálculo do centroide, que leva em consideração apenas as características
geométricas do corpo.
Digamos que você não saiba qual é o centroide de um retângulo. Você pode dividir
a figura da seguinte maneira (Figura 8):

1
200

3
y
2
200

200 200 200


200

200 x

Figura 8. Exemplo de divisão de um retângulo


para cálculo do centroide.
Propriedades geométricas – parte I 13

Onde agora as figuras 1, 2 e 3 são quadrados, com centroides conhecidos.


Os quadrados 1 e 2 possuem 2 m x 2 m enquanto o quadrado 3, é de 4 m x 4 m. Assim:

1
500 3

y 2

400
300

300
300 600
x

Figura 9. Exemplo de divisão de um retângulo em


quadrados de centroides conhecidos para cálculo do
centroide do retângulo.

Desse modo, monta-se a Tabela 3:

Tabela 3. Centroides e áreas dos pontos que representam as divisões do retân-


gulo do exemplo.

Figura Centroide x (m) Centroide y (m) Área (m2)

1 3 3 4

2 3 5 4

3 6 4 16

{
O centroide pode ser calculado como:
∑DA xi Ai (3 ∙ 4 + 3 ∙ 4 + 6 ∙ 16) 120
xC = = = = 5m
∑DA Ai (4 + 4 + 16) 24

∑DA yi Ai (3 ∙ 4 + 5 ∙ 4 + 4 ∙ 16) 96
yg = = = = 4m
∑DA Ai (4 + 4 + 16) 24

Logo, o centro de gravidade é (5 m; 4 m). Note como neste caso o centro de gravidade
é diferente do centro de massa. A razão é que o corpo analisado não é homogêneo.
14 Propriedades geométricas – parte I

Leituras recomendadas

BEER, F. P. et al. Mecânica vetorial para engenheiros: estática. 9. ed. Porto Alegre: AMGH,
2012.
BEER, F. P.; JOHNSTON JR, E. R. Mecânica vetorial para engenheiros: cinemática e dinâ-
mica. 5. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004.
HIBBELER, R. C. Dinâmica: mecânica para engenharia. 12. ed. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2011.
HIGDON, A.; STILES, W. B. Mecânica: estática e dinâmica. São Paulo: Prentice Hall, 1984.
MARTHA, L. Análise de estruturas. 2. ed. São Paulo: Elsevier, 2017.
MERIAM, J. L.; KRAIGE, L. G. Mecânica para engenharia: estática. 6. ed. Rio de Janeiro:
LTC, 2012. v. 1.
PLESHA, M. E.; GRAY, G. L.; CONSTANZO, F. Mecânica para engenharia: estática. Porto
Alegre: Bookman, 2014.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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