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Reflexão n.

º7
Maria Lisboa Costa
Ao longo das últimas intervenções tenho refletido sobre o Processo de decifração,
nomeadamente na aquisição da leitura, num primeiro contacto, com a linguagem escrita.
Primeiramente, devo dizer que a dificuldade, não está em planear uma sequência de
atividades, onde a criança, comesse de uma forma sistemática a dominar a linguagem
escrita, nomeadamente a sua decifração. A dificuldade está, como futura professora, em
arranjar mecanismos de resposta, para as crianças que demonstrem maiores dificuldades
a este nível, e estar informada, para identificar casos especiais, onde é necessária uma
intervenção precoce.

Neste sentido, é primeiramente importante conhecer o processo pelo qual a criança


transforma os “padrões visuais (letras/conjuntos de letras) em padrões fonológicos dessa
língua” (Sim-Sim, 2009, p.9), ou seja, o processo de Decifração, para então
compreender e melhor adequar as estratégias de ensino-aprendizagem. Importa também
reconhecer que existem diferentes métodos pedagógicos de ensino da leitura e que
independentemente, das escolhas metodológicas, a criança atravessa sempre um
conjunto de várias etapas, até chegar à leitura alfabética.

Ehri (1997), citado por Sim-Sim (2009, p. 15), refere que existem três etapas sucessivas
na aquisição da decifração, que devem começar bem antes da entrada da criança, no
1.ºCiclo do Ensino Básico. Assim a primeira fase, pode denominar-se por leitura Pré-
Alfabética, onde o contacto com a informação escrita, deverá reger-se pelo critério do
prazer. Este é o momento onde a criança, começa a reconhecer as palavras mais comuns
do seu dia-a-dia, através do padrão visual, como se verifica, num contexto de Educação
Pré-Escolar, onde as crianças ativamente conseguem reconhecer nos bibes ou nos
materiais ou nomes dos colegas. No entanto, a palavra “MARIA” reconhecida pela
maioria, quando escrita, com outro padrão, mesmo mantendo a sua estrutura
grafemática “Maria” deixa de ser reconhecida.

Após esta etapa, geralmente emerge a fase da leitura parcialmente alfabética, que Inês
Sim-Sim, reconhece como a descoberta do código escrito, nomeadamente a descoberta
do princípio alfabético. Onde as crianças começam a descobrir as letras e a atribuir-lhes
o seu valor fonémico, começam a associar a primeira letra do seu nome ao som e
conseguem, encontrar essa mesma letra em outras palavras, atribuindo-lhes o mesmo
som (2009, p.16)
Após estas duas primeiras fases, a última, prende-se com o ensino formal da decifração
que, como já vimos anteriormente poderá ser feito através de diferentes metodologias.
Nomeadamente através de estratégias que privilegiam a correspondência entre
som/grafema, ou seja, metodologias fónicas ou sublexicais ou, por estratégias que
privilegiam o reconhecimento automático e global da palavra (Sim-Sim, 2009, p.15).

Apesar de, como já vimos anteriormente, o processo da decifração seguir um conjunto


articulado de etapas, existem, também pré-requisitos e fatores que permitem prever o
sucesso e a prontidão do aluno para a leitura. Antes, acreditava-se que o sucesso da
leitura, prendia-se com a aquisição de um elenco de capacidades, no domínio cognitivo
e físico, hoje chegou-se à conclusão de que o que realmente tem influência, é a
quantidade de coisas que as crianças já sabem e dominam, antes mesmo de iniciar o
processo de decifração formal, ou seja quanto maior for o estímulo para a leitura e para
a linguagem escrita, maior será o sucesso, na aquisição da leitura e da escrita (Sim-Sim,
2009, p.21).

No entanto existe, para além do estímulo para a aquisição de conhecimentos pré-


leitores, uma necessidade subjacente à decifração, o domínio do Oral. Segundo
Mackenzie & Hemmings (2014, p.42), o desenvolvimento da linguagem oral, está
intrinsecamente relacionado com a aquisição do processo de decifração, uma vez que,
Segundo Sim-Sim, a interação constante com a língua materna, ajuda a criança a obter,
compreender e adquirir estruturas subjacentes da linguagem (2008, p.21).

Neste sentido, e compreendo agora o processo de aquisição subjacente à decifração


concluo, que um dos principais preditores de sucesso se prende com o estímulo, quer
oral, quer através do contacto da criança, com o código escrito. Neste sentido é
importante conhecer a criança, antes da sua entrada no 1.ºano do 1.ºCiclo do Ensino
Básico, para verificar se existem, ou não, competências pré leitoras, uma vez que, como
vimos anteriormente são o ponto fulcral para o desenvolvimento do processo de
decifração. Se por algum motivo, o professor considerar que não existem ou que são
deficitárias, deverá ele próprio, antes de iniciar o processo formal da leitura, promover a
aquisição dessas, mesmas competências.

É fulcral que a criança, compreenda qual a função da linguagem escrita e que exista
uma relação emotiva da criança com a escrita, para só depois adquirir conhecimento
leitor. Poderá também ser importante para a criança, que o professor comunique com a
família no sentido de promover a emergência destas competências também no seio da
sua família, para de uma forma mais competente colmatar essas mesmas necessidades.

Referências Bibliográficas:

Mackenzie, N. & Hemmings, B. (2014). Predictors of success with writing in the first
year of school. Issues in Educational Research, 24, 41-54.
Sim-Sim, I. (2009). O Ensino da leitura: A decifração. Direção-Geral de Inovação e de
Desenvolvimento Curricular. Lisboa.

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