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MANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA EM

GESTÃO AMBIENTAL

Modulo de Pedologia

2022
UPER

Direitos de autor (copyright)

Este manual é propriedade da Universidade Aberta ISCED (UnISCED), e contém reservados


todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total deste manual, sob
quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou
outros), sem permissão expressa de entidade editora (Universidade Aberta ISCED(UnISCED).

A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos


judiciais em vigor no País.
Universidade Aberta ISCEDE (UnISCED)
Coordenação do Programa de Licenciaturas
Rua Paiva Couceiro. Macuti
Beira - Moçambique
Telefone: 23323501
Cel: +258 823055839

Fax: 23323501
E-mail: direcção@isced.ac.mz
Website: www.isced.ac.mz

Agradecimentos

A Universidade Aberta ISCED (UnISCED) e o autor do presente manual agradecem a


colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual:

Pela coordenação Vice-reitoria Acadêmica da UnISCED

Pelo design Direcção de Qualidade e Avaliação da


UnISCED
Financiamento e logística Instituto Africano de Promoção da Educação
à Distância (IAPED)

Pela revisão final Dr. Inácio Manuel Muthetho

Elaborado Por:
Eng. Celso Cruz – Pós-graduado em Ciência e Sistemas de Informação Geográfica pela
Universidade Nova de Lisboa e Licenciado em Engenharia Agronómica pela Universidade
Eduardo Mondlane.
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

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UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Visão geral 5
Benvindo ao Módulo de Pedologia 5
Objectivos do Módulo 5
Quem deveria estudar este módulo 5
Como está estruturado este módulo 5
Ícones de actividade 8
Habilidades de estudo 8
Precisa de apoio? 10
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) 11
Avaliação 12

TEMA - I: INTRODUÇÃO 14
UNIDADE Temática 1.1. Conceito, importância e ciência do solo 14
UNIDADE Temática 1.2. Constituintes do solo 20

TEMA - II: FACTORES DE FORMAÇÃO DO SOLO 31


UNIDADE Temática 2.1. Clima 34
UNIDADE Temática 2.2. Relevo 38
UNIDADE Temática 2.3. Organismos 41
UNIDADE Temática 2.4. Material de origem 45
UNIDADE Temática 2.5. Tempo 48

TEMA - III: PROCESSOS DE FORMAÇÃO DO SOLO 51


UNIDADE Temática 3.1. Solos bem drenados de clima (sub)húmido 51
UNIDADE Temática 3.2. Solos hidromórficos 66
UNIDADE Temática 3.3. Solos de clima (semi-)árido 77

TEMA - IV: MORFOLOGIA DO SOLO 85


UNIDADE Temática 4.1. O perfil do solo e seus horizontes 88
UNIDADE Temática 4.2. A cor do solo 96
UNIDADE Temática 4.3. A textura do solo 103
UNIDADE Temática 4.4. A estrutura do solo 110
UNIDADE Temática 4.5. A porosidade do solo 117
UNIDADE Temática 4.6. A consistência do solo130

TEMA - V: CLASSIFICAÇÃO DO SOLO 136


UNIDADE Temática 5.1. Solos do mundo 138
UNIDADE Temática 5.2. Agrupamentos principais de solo 149
UNIDADE Temática 5.3. Levantamento de solos 155

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TEMA - VI: DEGRADAÇÃO/CONSERVAÇÃO DO SOLO 159


UNIDADE Temática 6.1. Processos de deterioração do solo 159
UNIDADE Temática 6.2. Erosão 163
UNIDADE Temática 6.3. Conservação de solos 178

TEMA - VII: AVALIAÇÃO DE TERRAS E PLANEAMENTO AMBIENTAL187


UNIDADE Temática 7.1. Avaliação de terras 188
UNIDADE Temática 7.2. Classificação da aptidão das terras 200

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Visão geral

Benvindo ao Módulo de Pedologia

Objectivos do Módulo

Ao terminar o estudo deste módulo de Pedologia deverás ser capaz de:


Entender gênese e a evolução dos solos, identificar e caracterizar as
principais classes de solo e a distribuição geográfica em Moçambique,
compreender os principais quadros de degradação e conhecer as
técnicas de conservação, assimcomo, efectuar o planeamento
ambiental.

Objectivos Específicos

Quem deveria estudar este módulo

Este Módulo foi concebido para estudantes do 1º ano do curso de


licenciatura em Gestão Ambiental da UnISCED. Poderá ocorrer,
contudo, que haja leitores que queiram se actualizar e consolidar seus
conhecimentos nessa disciplina, esses serão bem vindos, não sendo
necessário para tal se inscrever. Mas poderá adquirir o manual.

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UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Como está estruturado este módulo

Este módulo de Pedologia, para estudantes do 1º ano do curso de


licenciatura em Gestão Ambiental, à semelhança dos restantes da
UnISCED, está estruturado como se segue:

Páginas introdutórias

▪ Um índice completo.

▪ Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo,


resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para
melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção
com atenção antes de começar o seu estudo, como
componente de habilidades de estudos.

Conteúdo desta Disciplina / módulo

Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez
comporta certo número de unidades temáticas visualizadas por
um sumário. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma
introdução, objectivos, conteúdos. No final de cada unidade
temática ou do próprio tema, são incorporados antes exercícios de
auto-avaliação, só depois é que aparecem os de avaliação. Os
exercícios de avaliação têm as seguintes caracteristicas: Puros
exercícios teóricos, Problemas não resolvidos e actividades
práticas algunas incluido estudo de casos.

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UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Outros recursos

A equipa dos académicoa e pedagogos da UnISCED pensando em


si, num cantinho, mesmo o recóndido deste nosso vasto
Moçambique e cheio de dúvidas e limitações no seu processo de
aprendizagem, apresenta uma lista de recursos didácticos
adicionais ao seu módulo para você explorar. Para tal a UnISCED
disponibiliza na biblioteca do seu centro de recursos mais material
de estudos relacionado com o seu curso como: Livros e/ou
módulos, CD, CD-ROOM, DVD. Para elém deste material físico ou
electrónico disponível nas bibliotecas física e virtual, pode ter
acesso a Plataforma digital moodle para alargar mais ainda as
possibilidades dos seus estudos.

Auto-avaliação e Tarefas de avaliação

Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final


de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios
de auto-avaliação apresntam duas caracteristicas: primeeiro
apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo,
exercícios que mostram apenas respostas.

Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação


mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de
dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras.
Parte das terefas de avaliação será objecto testes avaliativos onde
o estudante terá de seguida uma nota de teste. Também constará
do exame do fim do módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos
os exrcícios de avaliação é uma grande vantagem.

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UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Comentários e sugestões

Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados


aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza
diadáctico-pedagógica, etc sobre como deveriam ser ou estar
apresentadas. Pode ser que graças as suas observações, o próximo
módulo venha a ser melhorado.

Ícones de actividade

Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens
das folhas. Estes icones servem para identificar diferentes partes do
processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de
texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc.

Habilidades de estudo

O principal objectivo deste capítulo é o de ensinar aprender a


aprender. Aprender aprende-se.

Durante a formação e desenvolvimento de competências, para facilitar


a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará empenho,
dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados apenas se
conseguem com estratégias eficientes e eficazes. Por isso é importante
saber como, onde e quando estudar. Apresentamos algumas sugestões
com as quais esperamos que caro estudante possa rentabilizar o tempo
dedicado aos estudos, procedendo como se segue:

1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de leitura.

2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).

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UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação


crítica dos conteúdos (ESTUDAR).

4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua


aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.

5º Fazer testes valiativos e algumas actividades práticas ou as de estudo


de caso se existirem.

IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo,


respectivamente como, onde e quando estudar, como foi referido no
início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo
reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo
melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de
manhã/de tarde/fins de semana/ao longo da semana? Estudo melhor
com música/num sítio sossegado/num sítio barulhento!? Preciso de
intervalo em cada 30 minutos, em cada hora, etc.

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado
durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto
da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar que
já domina bem o anterior.

Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e


estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é juntar
o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos de cada
tema, no módulo.

Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por tempo


superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora intercalado por
10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-se descanso à
mudança de actividades). Ou seja que durante o intervalo não se
continuar a tratar dos mesmos assuntos das actividades obrigatórias.

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UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual


obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento da
aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado volume de
trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando
interferência entre os conhecimento, perde sequência lógica, por fim
ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai em insegurança,
depressão e desespero, por se achar injustamente incapaz!

Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma


avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda
sistemáticamente), não estudar apenas para responder a questões de
alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, estude
pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que
está a se formar.

Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que


matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que
resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo quanto
tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma


necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o
curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a
matéria de modo que seja mais fácil identificar as partes que está a
estudar e Pode escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições,
datas, nomes, pode também utilizar a margem para colocar
comentários seus relacionados com o que está a ler; a melhor altura
para sublinhar é imediatamente a seguir à compreensão do texto e
não depois de uma primeira leitura; Utilizar o dicionário sempre que
surja um conceito cujo significado não conhece ou não lhe é familiar;

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UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Precisa de apoio?

Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o
material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas como
falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros
ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, páginas trocadas ou
invertidas, etc). Nestes casos, contacte os seriços de atendimento e
apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone, sms,
E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando a
preocupação.

Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes


(Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua
aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da
comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se
torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor, estudante –
CR, etc.

As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante,


tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff do seu CR, com
tutores ou com parte da equipa central da UnISCED indigetada para
acompanhar as sua sessões presenciais. Neste período pode apresentar
dúvidas, tratar assuntos de natureza pedagógica e/ou admibistrativa.

O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30% do


tempo de estudos a distância, é de muita importância, na medida em
que permite lhe situar, em termos do grau de aprendizagem com
relação aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se precisa de
apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver habito de debater
assuntos relacionados com os conteúdos programáticos, constantes
nos diferentes temas e unidade temática, no módulo.

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UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)

O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios nos fóruns,


actividades e auto−avaliação), contudo nem todas deverão ser
entregues, mas é importante que sejam realizadas. As tarefas devem
ser entregues duas semanas antes das sessões presenciais seguintes.

Para cada tarefa serão estabelecidos prazos, e o não cumprimento dos


prazos, implica a não classificação do estudante. Tenha sempre
presente que a nota dos testes conta e é decisiva para ser admitido ao
exame final da disciplina/módulo.

Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo


os mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os
direitos do autor.

O plágio1 é uma viloção do direito intelectual do(s) autor(es). Uma


transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do testo de um autor,
sem o citar é considerado plágio. A honestidade, humildade científica e
o respeito pelos direitos autoriais devem caracterizar a realização dos
trabalhos e seu autor (estudante da UnISCED).

Avaliação

Muitos perguntam: Como é possível avaliar estudantes à distância,


estando eles fisicamente separados e muito distantes do
docente/turor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma
avaliação mais fiável e concistente.

Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com um


mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os conteúdos

1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade
intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização.
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UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial conta com um


máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A avaliação do
estudante consta detalhada do regulamentada de avaliação.

Os testes por si realizados durante o processo de ensino e


aprendizagem pesam 25% e servem para a nota de frequência para ir
aos exames.

Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou módulo e


decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no mínimo
75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência, determinam a
nota final com a qual o estudante conclui a cadeira.

A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira.

Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 3 (três) testes e 1


(um) (exame).

Algumas actividades praticas, relatórios e reflexões serão utilizados


como ferramentas de avaliação formativa.

Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em


consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a
identificação das referências bibliográficas utilizadas, o respeito pelos
direitos do autor, entre outros.

Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de


Avaliação.

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UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

TEMA - I: INTRODUÇÃO

UNIDADE 1.1. Conceito, importância e ciência do solo


UNIDADE 1.2. Constituintes do solo

UNIDADE Temática 1.1. Conceito, importância e ciência do solo

.1.1- Conceito de solo

Todo mundo (pensa que) sabe o que é solo, mas poucos conseguem
definir ou mesmo descrever em termos claros este importante
fenómeno natural. As definições mais comuns mostram que o solo é
visto de muitos ângulos diferentes:
● Do biólogo e agricultor: "O substrato natural para o
crescimento das plantas".
● Do geógrafo: "A manta solta da superfície terrestre".
● Do geólogo: "A camada superficial meteorizada das rochas".
● Do ecólogo: "O corpo natural que forma a interface entre
litosfera, biosfera e atmosfera".

Cada uma dessas definições indica um ou alguns aspectos importantes


do solo, mas nenhum é completo. Talvez a melhor definição dada até o

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UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

presente é aquela do Soil Survey Manual (Soil Conservation Service,


1951):
"A colecção de corpos naturais que ocupam partes da superfície
terrestre, que constituem o meio para o desenvolvimento das plantas e
que possuem propriedades resultantes do efeito integrado do clima e
dos organismos vivos, agindo sobre o material de origem e
condicionado pelo relevo durante um certo período de tempo".

Esta definição incorpora todas as feições do solo indicadas nas


definições anteriores. Além disto, destaca que as características do
solo são condicionadas não apenas pelo material de origem ("rocha
mãe"), mas que o solo é o resultado do efeito integrado de clima,
organismos, material de origem, relevo e tempo: os 5 factores de
formação identificados por Jenny (1941).

Cabe ainda assinalar que esta definição refere aos solos como
"corpos", i.e. individualidades de três dimensões, caracterizadas não
apenas pelos seus constituintes químicos e mineralógicos, mas
também pelo arranjo espacial destes constituintes, e as variações
verticais e laterais. Um solo nunca pode ser identificado com uma
única amostra, muito menos se a amostra for perturbada. Tais
amostras podemos chamar de "material de solo".

1.1.2- A importância do solo

Perguntando sobre o porquê da importância do solo, a resposta é


geralmente: "para a agricultura". Muitas vezes esquecemos que o solo
é o substrato para praticamente todas as nossas actividades. O solo
como substrato fora do âmbito agrícola é de capital importância na

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UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

construção, especialmente de canais de irrigação e drenagem, diques,


barragens, estradas, edifícios grandes.

Alguns usos concretos do material de solo fora do âmbito agrícola são:


- fonte para material de construção (barro, cimento, tijolos);
- porcelana;
- vidro;
- fonte de energia (turfa, praticamente obsoleto)
- alguns minerais para uso industrial (caulinita, bentonita, gesso,
óxidos de ferro e alumínio).

No contexto agrícola destaca-se as seguintes "funções" dos solos:


● O solo como armazém para entrada e saída de nutrientes para
as plantas;
● O solo como armazém para entrada e saída de água e ar no
sistema solo-planta-atmosfera;
● O solo como habitat de microorganismos, minhocas, insectos e
pequenos mamíferos;
● O solo que providencia o meio para as plantas se fixarem sem
cair;

Muitas vezes o solo oferece condições que limitam o potencial agrícola


das terras. Isto está normalmente relacionado com algum desbalanço
numa das "funções" indicadas acima. Por exemplo: excesso de certos
elementos químicos; a presença de camadas compactas que inibam a
entrada e saída livre de água e ar; a ocorrência de doenças ou pragas;
ou o solo não oferece condições adequadas para a penetração das
raízes.

1.1.3- A ciência do solo


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UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

A Ciência do Solo é uma ciência que se situa no ponto de encontro das


ciências Físicas (física, química), Biológicas (botânica, zoologia,
microbiologia, ecologia), Geológicas (mineralogia, geologia,
geomorfologia) e Agrárias (produção de plantas, nutrição vegetal,
agrohidrologia, tecnologia e conservação de solos). Muitas vezes
divide-se a Ciência do solo em 2 ramos principais: A Pedologia e a
Edafologia.

A Pedologia é a parte da Ciência do Solo que trata da origem,


morfologia, distribuição, mapeamento, taxonomia e classificação dos
solos. Divide-se em Pedografia, a descrição sistemática dos solos e a
Pedogênese, que estuda a origem dos solos.

As bases da Pedologia ou Ciência do Solo como também é chamada,


foram lançadas na União Soviética em 1880 por Dokuchaiev, ao
reconhecer que o solo não era um simples amontoado de materiais
não consolidados, em diferentes estágios de alteração, mas resultava
de uma complexa interacção de inúmeros factores genéticos: clima,
organismos e topografia, os quais, agindo durante certo período de
tempo sobre o material de origem, produziam o solo.

A preocupação inicial de Dokuchaiev, de cunho pedológico - explicar a


formação dos solos e estabelecer um sistema de classificação - era,
sem dúvida, uma preocupação oportuna em definir uma nova área de
estudo e delimitar-lhe o espaço dentro do contexto do campo da
Ciência.

A expansão dos estudos pedológicos decorreu, em grande parte, da


necessidade de:
- corrigir a fertilidade natural dos solos, depauperada ao longo

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UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

dos anos de exploração agrícola e agravada pela erosão;


- elevar a fertilidade natural de solos originalmente depauperados;
- neutralizar a acidez do solo;
- agrupar solos apropriados para determinadas culturas;
- preservar os solos contra os perigos da erosão.

A Edafologia é o estudo do solo sob o aspecto de sua utilização pelas


planta, incluindo o uso da terra pelo homem com a finalidade de
proporcionar crescimento às plantas.

Esta divisão é um pouco simplista; pois existem muitos ramos que são
difíceis de incluir nela. Uma outra maneira de encarar a Ciência do Solo
é separar os ramos "puros", onde o solo está no centro de atenção; e
os ramos "mistos", onde o solo é considerado como uma parte dum
sistema maior a ser estudado duma forma multidisciplinar:

Ramos "puros"
O solo como base para construção e maneio (tecnologia do solo)
O solo como substrato das plantas (edafologia)
O solo como produto de formação (pedologia)
O solo como objecto de estudos básicos (química, física, mineralogia,
biologia do solo)
O solo como sistema estochástico multivariável no espaço e no tempo
(geoestatística, GIS)

Ramos "mistos"
O solo como sistema ecológico (eco-pedologia)
O solo para a agricultura sustentável (conservação do solo)
O solo como parte dum sistema de produção
- modelagem de processos solo-planta-atmosfera,

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UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

- avaliação de terras,
- análise de sistemas agrícolas;
O solo como parte do sistema ecológico global
- o solo como tampão para "gases de efeito estufa";
Nos países industrializados:
O solo como depósito de lixo (poluição do solo)

Exercícios

1. Quantas amostras são necessárias para identificar um solo? a- 1


amostra; b- mais de 1 amostra; c- menos de 1 amostra; d- nenhuma
das opções.

2. Qual o ramo da Ciência do Solo que mais se relaciona com a


agricultura? a- Pedologia; b- Edafologia; c- ambos ramos; d- nenhum
das opções.

3. O berço da Pedologia é: a- EUA; b- Europa; c- URSS; d- Rússia.

4. As características do solo são condicionadas por: a- material de


origem; b- factores de formação do solo; c- ambas opções; d-
nenhuma das opções.

5. A Ciência do Solo se situa no ponto de encontro de: a- ciências


Físicas e Biológicas; b- Geológicas e Agrárias; c- ambas opções; d-
nenhuma das opções.

6. A expansão dos estudos pedológicos decorreu, em grande parte, da


necessidade de: a- garantir a conservação dos solos; b- minimizar a
degradação dos solos; c- ambas opções; d- nenhuma das opções.

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UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

UNIDADE Temática 1.2. Constituintes do solo

As tres fases do solo


O solo consiste de três fases:
1) A fase sólida, que consiste de matéria orgânica e material mineral;
2) A fase liquida, que consiste de água com sais e compostos
orgânicos dissolvidos;
3) A fase gasosa, que consiste principalmente dos gases N2, O2 e CO2.

As interacções entre as três fases determinam as propriedades físicas e


químicas do solo. A fase gasosa fornece oxigénio para as raízes,
necessário para o metabolismo da planta. A planta extraí água e
nutrientes da fase liquida. A maioria das características químicas do
solo depende das interacções entre a fase liquida e a fase sólida.

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UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

1.2.1- A fase gasosa

A Tabela 1 mostra que a fase gasosa ou ar do solo tem uma


composição bastante diferente do ar atmosférico.

Tabela 1. Composição do ar atmosférico e do solo.

ar ar do solo
atmosférico

N2 79% 79%

O2 20.9% <20%

CO2 0.03% >>0.03%

Existe uma grande diferença em conteúdos de oxigénio e gás


carbónico. As raízes utilizam O2 para o metabolismo e excretam CO2. A
percentagem de CO2 no solo pode ultrapassar 10%; neste caso as
plantas sufocam devido à falta de oxigénio. Esta situação pode ocorrer
quando o processo de difusão entre o ar no solo e o ar atmosférico for
limitado; o que pode ser causado por (1) estruturas densas (2)

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UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

formação de crosta superficial que é impermeável; (3) humidade


elevada no solo ou combinações destes factores.

1.2.2- A fase líquida

Em princípio todos os elementos que compõem a fase sólida e gasosa


podem ocorrer na solução do solo. Porém, existem em formas e
relações bastante diferentes. Os cations mais comuns são Ca2+, Mg2+,
K+, Na+, NH4+, Al3+ e H+. Elementos na forma de anions mais comuns são
SO42-, SiO44-, H2PO4-,HPO42-, NO3-, Cl-, HCO3- e CO32-. Ocorrem também
"microelementos" (ou "micronutrientes" que as plantas precisam em
quantidades muito pequenas), como Fe2+, Mn2+, Cu2+, Zn2+, MoO43- e
H3BO3 (molécula não dissociada).

Em solos "neutros" com pH entre 6 e 7 os ions mais comuns na solução


do solo são: Ca2+ (Mg2+), HCO3-, (Cl-, SO42-); em solos salinos Na+, (Ca2+,
Mg2+) e Cl-, SO42- são dominantes. Em solos alcalinos (pH > 8.5)
dominam Na+, HCO3 e CO32-. Em solos ácidos ocorrem também Al3+ e
H+.
N e P são nutrientes importantes que ocorrem na solução do solo na
forma de NO3 e H2PO4 (ou HPO42) em concentrações pequenas de
20-200 mg.l-1 e 0.1-1.0 mg.l-1 respectivamente.
Os cations presentes na água do solo ocorrem apenas parcialmente na
solução livre. Em solos não salinos a maior parte fica adsorvido na
superfície de partículas da fase sólida, que costuma ter uma carga
negativa. Os anions ocorrem principalmente na solução livre do solo.

1.2.3- A fase sólida

A Tabela 2 apresenta uma classificação dos elementos mais comuns na


fase sólida, baseada nas propriedades químicas e mineralógicas.

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UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Matéria orgânica
A matéria orgânica consiste de resíduos vegetais e animais, que
ocorrem em vários estágios de decomposição. Se o material for
decomposto e misturado com partículas de material mineral, de tal
maneira que o reconhecimento do material original é impossível
fala-se de húmus. O húmus é um produto relativamente estável.

Todas as formas de matéria orgânica têm uma função importante no


solo. O material não decomposto (cobertura morta, folhas) protege a
superfície do solo contra erosão pelo vento e água e contra a radiação
terrestre e irradiação solar, evitando flutuações extremas de
temperatura e humidade. Ainda funciona como fonte de energia para
uma grande parte da fauna do solo. A sua mineralização
(decomposição) é acompanhado da libertação gradual de nutrientes
incorporados, principalmente N e P, mas também K e Mg.

Tabela 2 Os elementos mais comuns da fase sólida no solo

Fase sólida

Matéria orgânica Matéria mineral

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UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

sesqui- sais
silicatos
óxidos

ferrihidr cristalinos amorfos bem moderadam


não ou bem
ita ente
parcialment decompost solúveis
(amorfo solúveis
e a
); quartzo; alúmino NaCl, CaSO4.2H2O
decompost (húmus)
goetita, piroxenas, -silica NaHCO3,
a
hematit amfibolas,fel coloides MgSO4.7
(detritos)
a, dspatos, (alofano H2O
magneti muscovita s)
ta, (primários);
gibbsita caolinita,
(cristali haloisita,
no) vermiculita,
ilita,
montmoriloni
ta ('minerais
de argila',
secundários)

O húmus consiste de polímeros complexos compostos de cadeias de


carbono com muitos grupos activos como carbóxidos (-COOH), aminos
(NH2) e hidróxidos (OH). Esta forma de matéria orgânica é estável e
tem uma função importante como reserva de nutrientes na forma
adsorvida, como mostra a Figura 1.

24
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

As cargas negativas, que existem sob valores de pH elevados, podem


ser compensadas por catiões como K+, Ca2+, Mg2+ e Na+. Estes
cations estão adsorvidos na superfície dos complexos orgânicos por
forças electrostáticas (não estão incorporados na estrutura molecular)
e podem facilmente ser trocados por outros cations na solução do
solo. Por isto chamam-se estes cations de cations trocáveis (Ing:
exchangeable cations). Sob valores de pH baixos (<5.0) os grupos OH e
COOH continuam associados. Como a carga negativa depende do pH
do ambiente, esta carga é denominada carga variável (variable
charge).

O húmus tem uma superfície específica muito grande, que pode


exceder 800 m2.g1. Sob valores elevados de pH, a densidade de cargas
negativas está na faixa de 1-3.10-3meq.m2. Consequentemente este
material pode adsorver uma quantidade considerável de cations, assim
dando uma contribuição importante à capacidade de troca de cations
(CTC) (Ing: cation exchange capacity; CEC), i.e. a "capacidade do
complexo coloidal do solo em adsorver cations, expressa em
meq/100g ou cmol(+)/kg".

Então para 1 g de húmus, encontra-se uma CTC de 800*(1 a 3)*103


meq.g1 = 0.8 a 2.4 meq.g1 de húmus; o valor actual dependendo do
tipo de húmus e do pH.
25
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Material mineral
Existem vários métodos para classificar os componentes da fase sólida
inorgânica. A Tabela 2 faz isto com base na mineralogia e nas
propriedades físico-químicas. A Tabela 3 apresenta uma classificação
baseada no tamanho das partículas. A maior parte desta tabela é
baseada no sistema da USDA (Departamentos de Agricultura dos
Estados Unidos da América), adoptada em muitos países inclusive em
Moçambique (INIA, 1985) e pela FAO. Recentemente a FAO (1990)
revisou este sistema. Desta revisão apenas a parte referente aos
"elementos grosseiros" (>2 mm) foi adoptada em Moçambique
(INIA/UEM, 1995).

Tabela 3 Classes de tamanhos de partículas de material de


solo, segundo o sistema de INIA/UEM (1995)

blocos grandes
Fragmentos de rocha
blocos 2

pedras
coarse elements, ou
rock fragments > 2 mm cascalho grosseiro

cascalho médio

cascalho fino 0

26
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

areia muito grossa

areia grossa 0
areia areia média 0.2
sand 0.05 - 2 mm
areia fina 0.
Terra fina
areia muito fina 0.0

fine earth limo (silte 0.002-0.05 mm limo (silte (B.)) grosso 2


(B.)) = 2-50 μm
limo (silte (B.)) fino
<2mm silt

argila argila grossa


clay <2 μm argila fina

Minerais primários e secundários


Os minerais do solo fornecem nutrientes para as plantas. Portanto a
fertilidade natural do solo depende em grande parte dos tipos e
quantidades de minerais presentes.
Os tipos e proporções entre vários minerais no solo dependem do
material de origem do solo: a "rocha mãe" (Ing: parent rock, parent
material). Com base na sua génese podemos distinguir:
● Rochas ígneas e eruptivas
● Rochas metamórficas
● Rochas sedimentares

Estes três tipos de rochas formam a crosta terrestre. Rochas


metamórficas podem ser derivadas de rochas ígneas ou de rochas
sedimentares. Durante o processo de metamorfose, os minerais
presentes são transformados pelo processo de recristalização.

27
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Todas as rochas contêm minerais primários (Ing: primary minerals),


i.e. minerais que não sofreram alterações químicas desde a deposição
ou cristalização no magma fundido. As rochas sedimentares também
contêm minerais secundários (Ing: secondary minerals). Um mineral
secundário é um mineral resultante da decomposição de um mineral
primário ou da reprecipitação dos produtos de decomposição de
minerais primários. Os íons envolvidos na formação de minerais
secundários podem ser fornecidos pela decomposição dos minerais "in
situ", mas também podem ter sido transportados vertical ou
lateralmente pela água no solo.

O tipo de mineral secundário que é formado e a velocidade das


reacções depende de: (1) tipo e concentração de ions na solução do
solo; (2) pH do solo; (3) clima do solo: regime de temperatura e
humidade; (4) factores biológicos

A maioria dos minerais primários tem uma estrutura (micro)cristalina.


Minerais secundários podem ter uma estrutura (micro)cristalina ou
amorfa.

Ao conjunto das alterações físicas e químicas nas rochas, na superfície


da terra (ou próximo) pelos agentes atmosféricos e que leva à
destruição de minerais primários e formação de minerais secundários
chama-se meteorização, ou (no Brasil) intemperismo. (Ing:
weathering).

28
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Exercícios de Auto-Avaliação

1. O solo consiste de: a- fase solida e liquida; b- fase gasosa ; c- ambas


opções; d- nenhuma das opções.

2. As interacções entre as fases do solo determinam: a- as


propriedades físicas; b- as propriedades químicas; c- ambas opções;
d- nenhuma das opções.

3. A planta extraí nutrientes que necessita: a- da fase sólida; b- da fase


liquida; c- ambas opções; d- nenhuma das opções.

4. A maioria das características químicas do solo depende da


interacções entre: a- fase liquida e gasosa; b- fase solida e gasosa; c- a
fase liquida e a fase sólida; d- nenhuma das opções.

5. A matéria orgânica consiste de: a- resíduos vegetais; b-residuos


animais; c- ambas opções; d- nenhuma das opções.

6. O húmus é um produto relativamente estável, resultante do


processo de decomposicao e mineralizacao da materia organica, onde
é possivel reconhecer o material original: a- verdade; b- falso

Exercícios

1. No parágrafo 1.2 afirma-se que N e P ocorrem na solução do


solo em quantidades pequenas. Supondo um solo com
200 mg.l-1 de NO3- e 1 mg.l-1 de HPO42-, e com densidade
aparente (dap; massa por unidade de volume de material de
solo não perturbado) de 1.25 kg.l1 e 50% de água. Quanto seria
a quantidade de P e N em solução expresso em kg.ha1? Isto

29
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

seria suficiente para a nutrição de uma cultura de milho que


produz 10.000 kg/ha de grãos? Há outros fontes de N e P?

2. a. Porque o Al3+ não ocorre em solos alcalinos?

b. Porque o HCO3- não ocorre em solos ácidos?

3. Parágrafo 1.3.1: O material orgânico não decomposto


(cobertura morta, folhas) protege a superfície do solo contra
erosão pelo vento e água e contra a radiação terrestre e
irradiação solar, evitando flutuações extremas de temperatura
e humidade. Ainda funciona como fonte de energia para uma
grande parte da fauna do solo.

a. Quais são os mecanismos de protecção da cobertura


morta

contra a erosão hídrica?

b. Porque pode ser importante proteger o solo contra a


radiação terrestre?

c. Dê exemplos de tipos de plantas e animais que usam o


material orgânico do solo como fonte de energia.

4. Porque os sais solúveis praticamente não ocorrem em solos de


clima húmido?. Dê uma excessão.

5. Calcula a CTC dos seguintes solos:

Solo 1: 10% de caolinita; 90% de areia; 3% de matéria orgânica.

Solo 2: 10% de montmorilonita; 90% de areia; 3% de matéria


orgânica.

Solo 3: 50% de caolinita; 50% de areia; 3% de matéria orgânica;

30
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Solo 4: 50% de montmorilonita; 50% de areia; 3% de matéria


orgânica.

Solo 5: 10% de caolinita; 90% de areia; 0.5% de matéria


orgânica.

Solo 6: 10% de montmorilonita; 90% de areia; 0.5% de matéria


orgânica.

Solo 7: 50% de caolinita; 50% de areia; 0.5% de matéria


orgânica;

Solo 8: 50% de montmorilonita; 50% de areia; 0.5% de matéria


orgânica.

O que você pode concluir sobre a importância do húmus para


diferentes tipos de solos, para a adsorção de bases?

6. O tipo de mineral secundário que é formado e a velocidade das


reacções depende de: (1) tipo e concentração de ions na
solução do solo; (2) pH do solo; (3) clima do solo: regime de
temperatura e humidade; (4) factores biológicos. Explique com
exemplos!

31
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

TEMA - II: FACTORES DE FORMAÇÃO DO SOLO

UNIDADE 2.1. Clima


UNIDADE 2.2. Relevo
UNIDADE 2.3. Organismos
UNIDADE 2.4. Material de origem
UNIDADE 2.5. Tempo

Factores de formação do solo


Baseado em Oliveira et al., 1992

Todos os solos existentes na paisagem reflectem sua história. Desde o


primeiro instante da sua génese até o presente, fenómenos físicos e
químicos diferenciados ocorreram no material que lhes deu origem;
tendo motivado progressivas transformações que se reflectem na sua
morfologia e nos seus atributos físicos, químicos e mineralógicos.

Podemos distinguir cinco factores de formação do solo que motivam


directa ou indirectamente as manifestações mais ou menos agressivas
de transformação: clima, relevo, seres vivos, material de origem e
tempo (JENNY, 1941).

É preciso sempre ter em mente que qualquer solo é o produto do


efeito da acção combinada de todos esses factores de formação: é o
resultado de acções, condicionamentos e interacções envolvendo tais
factores de diversas formas, como indicado esquematicamente na
Figura 2.

32
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

33
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

É verdade que diferenças em um deles, por exemplo relevo, podem ser


a principal causa para o desenvolvimento de determinado solo. Porém,

34
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

as diferenças de relevo estão associadas com variações na vegetação,


com o regime hídrico do solo e, provavelmente, com sua drenagem,
exercendo conjuntamente influência no seu desenvolvimento.

Quando atenção é dada apenas a um dos factores de formação,


subestimando ou ignorando o efeito combinado de todos, podem
ocorrer sérios erros de entendimento da variabilidade dos solos na
paisagem, implicando incorrecta compreensão da sua identificação.

Numa perspectiva muito simplista e abreviada, o clima e os seres vivos


podem ser tidos como factores activos que exercem acções
modificadores, providenciam energia e fornecem compostos líquidos,
gasosos e sólidos orgânicos. O relevo é responsável, sobretudo, por
condicionamentos modificadores das acções exercidas pelos
anteriores, similarmente, ao tempo, que é responsável pela duração
em que as acções exercidas possam operar. O material originário
responde pela diversidade de matéria-prima, passível às modificações
que se venham a operar à medida que a formação dos solos se
processe.

UNIDADE Temática 2.1. Clima

Clima
35
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

O clima constitui um dos mais activos e importantes factores de


formação do solo. De seus elementos, destacam-se a temperatura, a
precipitação pluvial, a deficiência e o excedente hídrico.

É preciso ressaltar que há distinção entre clima atmosférico e clima do


solo, não obstante haja entre ambos uma estreita relação. Dentro
duma área fisiográfica podem ocorrer condições particulares que
determinam variação no clima do solo, às vezes a curta distância.

Moçambique, devido a sua grande extensão norte-sul, oferece


condições muito diferenciadas de recebimento das radiações do sol.
Assim, na região de baixa latitude (norte), a energia solar que atinge a
superfície da terra é, em igualdade de condições de relevo, bem maior
do que a recebida pelas províncias sulinas. A latitude influi, portanto,
directamente nos regimes térmicos regionais. Isso é muito importante
no fenómeno de desenvolvimento dos solos, pois a velocidade de
muitas reacções químicas é directamente (e positivamente)
relacionada à temperatura.

Além da temperatura, a quantidade de água de chuvas que atinge e


penetra a superfície, é factor igualmente destacado nos processos de
formação dos solos. Regiões húmidas, com excedentes de água,
apresentam normalmente solos mais evoluídos do que regiões secas,
porque os processos ocorrem num meio aquoso (na interface
líquido-sólido), e porque a remoção contínua de subprodutos das
reacções, (sob clima húmido) causa o procedimento dessas, sem que
equilíbrios, possam se estabelecer.

O enorme volume de água que percola através dos solos nas regiões
húmidas, promove a hidratação de constituintes e favorece a remoção

36
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

dos catiões libertados dos minerais pela hidrólise2, acelerando as


transformações de constituintes e, consequentemente, o processo
evolutivo do solo.

É pelos fenómenos de hidratação e de hidrólise, aliados ao de redução


e oxidação, que a solução do solo age sobre os minerais das rochas, do
material de origem e dos horizontes do perfil do solo, alterando-os e
promovendo o transporte selectivo de elementos libertados e de
compostos neo-formados, quer de um horizonte para outro, quer
mesmo removendo-os do perfil rumo aos rios, lagos e oceanos.

Deve-se ainda ressaltar que cabe à precipitação pluvial, especialmente


pela sua erosividade3, importante participação na modelagem da
paisagem. É claro que nos processos erosivos, tanto nos episódicos,
como nos catastróficos, há retirada de material do solo e das rochas
das áreas situadas nas porções mais altas da paisagem (zona de
ablação) e sua deposição (sedimentação) nas partes mais baixas. Em
certas regiões também o vento pode actuar como um importante
agente erosivo.

2
Hidrólise: reacção entre os íons H+ e OH- da água com os constituintes
mineralógicos das rochas.
3
Erosividade: poder intrínseco da chuva em causar erosão, que depende da
sua intensidade, frequência e duração.

37
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Figura 3. Velocidade de produção (A) e decomposição (B) de


matéria orgânica sob drenagem boa (B1) e má (B2), em função da
temperatura média anual (Fonte: Van Dam, 1971).

Além das chuvas, outros elementos climáticos intervêm no regime


hídrico dos solos e na lixiviação dos mesmos. A evaporação na
superfície dos solos pode causar o movimento ascendente da solução
do solo por efeito da transmissão por capilaridade, o que pode levar à
acumulação de sais solúveis. Assim, afora o regime de chuvas, a
insolação, a humidade relativa do ar e a incidência de ventos têm
influência nos processos de formação dos solos.

O clima tem um marcado efeito condicionador na distribuição dos


seres vivos, particularmente no tocante à vegetação primária. Assim,
as formações vegetais naturais guardam relações de dependência com
as condições climáticas, incluindo a influência do regime de humidade
dos solos. Exemplos marcantes são, entre outros, as florestas
equatoriais ombrófilas (húmidas) densas no médio Amazonas e África

38
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Central; os bosques abertos e savanas das regiões sub-húmidas e


semi-áridas da África Austral e as florestas de clima temperado
(pinheiros) no Canadá.

O ciclo do material orgânico no solo está intimamente relacionado com


o clima e com as espécies que determinam a velocidade de produção e
decomposição de matéria orgânica. Tanto a velocidade de produção
como de decomposição aumentam com a temperatura, e dependem
do regime hídrico, mas de formas diferentes. Assim, o teor de matéria
orgânica do solo no ponto de equilíbrio pode ser considerada como
função do clima pedológico, como ilustrado simplificadamente na
Figura 3.

Os aspectos climáticos são, portanto, muito importantes no que


concerne à distribuição dos solos na paisagem. Áreas territoriais com
prevalência de importantes diferenças do ponto de vista climático são
cobertas por solos diferentes.

Exercícios

1. Qualquer ponto da superfície terrestre, sempre recebe a mesma


quantidade de radiação solar: a- verdade; b- falso.

2. Regiões húmidas apresentam normalmente, solos mais evoluídos do


que regiões secas: a- verdade; b- falso.

3. Tanto a velocidade de produção como de decomposição, aumentam


linearmente com a temperatura (relação linear directa): a- verdade; b-
falso.

39
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

4. Áreas territoriais mesmo com prevalência de importantes diferenças


do ponto de vista climático, geralmente são cobertas por solos
semelhantes: a- verdade; b- falso.

5- A evaporação na superfície dos solos pode torna-los mais salinos: a-


verdade; b- falso.

6- Nas regiões húmidas, o processo evolutivo do solo é mais acelerado:


a- verdade; b- falso.

UNIDADE Temática 2.2. Relevo

Relevo
O termo relevo refere-se às formas do terreno que compõe a
paisagem. O relevo influência a formação dos solos de diversas formas
interligadas:
● dinâmica da água, tanto no sentido vertical (infiltração), como
no sentido lateral (escoamento superficial e fluxo da água
subterrânea), resultando em variações de:
● processos de erosão e sedimentação;
● hidrólise e lixiviação;
● clima do solo (humidade);
● clima do solo (temperatura e humidade) através da incidência
diferenciada da radiação solar;
● clima do solo (temperatura) através do decréscimo das
temperaturas com o aumento da altitude.

A água que cai sobre um terreno e não se evapora, tem dois possíveis
caminhos: penetrar no solo ou escorrer pela superfície. Geralmente,
segue concomitantemente ambos os caminhos, com maior ou menor

40
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

participação de um ou outro, dependendo das condições do relevo


(declive e comprimento da vertente), da cobertura vegetal e de
factores intrínsecos do solo.

Em terrenos declivosos, a quantidade de água que penetra no solo é,


em igualdade de incidência de precipitação pluvial, normalmente
menor que nos terrenos menos inclinados. Na coexistência de ambas
as situações, compartilhando uma porção da paisagem, as áreas
menos declivosas recebem o acréscimo de água do escoamento
superficial proveniente das áreas mais altas.

A quantidade e velocidade do escoamento superficial da água


dependem tanto do declive como do comprimento da vertente e da
presença de obstáculos (microrrelevo). Nos casos em que a energia
cinética da chuva for suficiente para deslocar partículas da superfície
do solo, depende da quantidade e velocidade da água que escoa pela
superfície se estas partículas podem ser removidas e transportadas
(erosão) e/ou sedimentadas. A remoção das partículas do solo pela
erosão, em termos de formação do solo é considerado um fenómeno
de rejuvenescimento, pois o solo mais "maduro" é constantemente
removido (ablação) enquanto o material parental fica mais exposta à
superfície.

O relevo, ao favorecer ou limitar a penetração da água no solo, age


sobre o seu regime hídrico e, consequentemente, também sobre a sua
evolução: a variação do volume de água que percola no solo implica
directamente o grau de eficiência dos fenómenos de hidratação,
hidrólise e, destacadamente, o de lixiviação, promovendo
transferência de solutos.

41
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Em terrenos aplainados, a eliminação da água pelo escoamento


superficial é fraca. Assim, num sistema aberto (de drenagem livre), há
um acentuado fluxo de água através do perfil favorecendo a lixiviação.
Num sistema (mais) fechado, onde os solos ocorrem em terreno plano
e/ou deprimido com condições que restringem o fluxo da água (i.e.
restrição da drenagem) a lixiviação é muito limitada. Nestes sistemas,
as condições são ideais para os fenómenos de redução, devido ao
prolongado encharcamento, resultando em solos particulares,
denominados hidromórficos: solos caracterizados pela presença de
cores/ou mosqueamentos acinzentados ou até azulados/esverdeados.
Na circunstância extrema de ambiente permanentemente saturada
com água (pântano), dá-se o acúmulo superficial crescente de matéria
orgânica, podendo originar os chamados solos orgânicos.

Solos de terrenos íngremes apresentam, em geral, clima mais seco do


que aqueles de relevo mais suave. Em consequência, a vegetação
natural dos solos das vertentes declivosas consiste de matas mais
secas do que os solos de terrenos menos íngremes. Nas áreas cuja
vegetação revela menor disponibilidade de água e/ou maior
transitoriedade de residência das águas pluviais, as reacções de
hidrólise e dissolução processam-se em condições hídricas menos
favoráveis e é aumentada a frequência de alternação de
humedecimento e secagem dos constituintes coloidais inorgânicos.
Disso resultam solos relativamente menos profundos e menos
evoluídos do que os situados em condições de relevo mais suave, onde
as condições hídricas determinam um ambiente húmido mais
duradouro.

Outra implicação do relevo é sobre a taxa de radiação e,


consequentemente, sobre o clima do solo em diferentes situações de

42
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

exposição do terreno à acção solar. Em regiões montanhosas, por


exemplo, dependendo da orientação das encostas, a variação de
incidência da radiação solar é significativa. Nas vertentes mais
sombreadas (face sudeste, no hemisfério sul), as temperaturas dos
solos são menores, assim como a evapotranspiração, condicionando
ambientes mais húmidos, em comparação com as vertentes voltadas
para o noroeste, mais ensolaradas à tarde (encostas soalheiras).
Resultam, dessas condições, solos com morfologia e composição
diferenciadas segundo as posições das encostas.

Ainda como acção indirecta do relevo, exercendo condicionamento


modificador no clima, pode-se citar o "zoneamento altitudinal" do
clima pelos aumentos de grande magnitude da elevação dos terrenos
nas regiões serranas em comparação às terras baixas adjacentes. As
temperaturas decrescem com a altitude, constatando-se uma
diminuição de 0.5ºC nas temperaturas médias (média das médias)
anuais para cada 100 m. As manifestações mais notórias nos solos são
decorrentes do aumento das condições de humidade, com suas
consequências no contexto mineralo-químico, e a diminuição das
temperaturas, favorecendo a acumulação de matéria orgânica, exibida
pela espessura e cor escura dos horizontes superficiais dos solos das
regiões montanhosas.

UNIDADE Temática 2.3. Organismos

Organismos
Os organismos - microflora, microfauna, macrofauna e macroflora -
pelas suas manifestações de vida, quer na superfície, quer no interior
dos solos, actuam como agentes de formação do solo. O homem
43
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

também faz parte desse contexto, pois, pela sua actuação, pode
modificar intensamente as condições originais do solo. A macroflora,
de entre os organismos, sobressai pela sua intensa e mais evidente
actuação como factor pedogenético.

A acção mais importante da macroflora é nos fenómenos de adição de


compostos orgânicos, tanto na superfície, através dos resíduos
vegetais aí depositados, como no interior do solo, mediante restos que
se decompõem. Dependendo da espécie fornecedora e do clima,
formam-se variados compostos orgânicos, promovendo acções
específicas sobre a complexação de compostos químicos e as
translocações selectivas no solo.
A vegetação tem uma participação activa nos processos de troca
catiónica no material do solo, pela acção do contacto directo das raízes
com as superfícies coloidais. Também tem uma participação relevante
no armazenamento de nutrientes do sistema, pela absorção de
nutrientes da solução do solo (às vezes de profundidades
consideráveis), os quais retornam ao solo devolvidos nos resíduos
vegetais na superfície, ou são exportados pela retirada de matéria
vegetal, por exemplo pelas colheitas agrícolas.

Fenómenos importantes de reciclagem de nutrientes são comuns em


matas. Há registros de solos com soma de bases4 de mais de 200
mmolc.kg1 na camada superficial e menos de 20 mmolc.kg1 nos
horizontes subsuperficiais (OLIVEIRA & MENK, 1984). Esses transportes
selectivos, efectuados pelas soluções vasculares, portanto
independentes das forças da gravidade, são valiosos para a
diferenciação de horizontes.

4
bases: termo muito usado para indicar cations não ácidos, os mais
comuns no solo são Na+, K+, Ca++ e Mg++

44
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Os remanejamentos mecânicos realizados nos vazios deixados pelas


raízes que se decompõem no interior do solo, assim como aqueles
devidos à queda de árvores, influem no processo de homogeneização
do material do solo. Similarmente, a pressão resultante do
crescimento dos órgãos subterrâneos das plantas e o efeito
aglutinante pela aderência das radicelas e a extracção de líquidos
exercem acção mecânica.

A cobertura vegetal, composta pela macroflora, tem uma acção


passiva como agente atenuante da agressividade climática. Sua acção
protectora depende de sua estrutura e tipo. Assim, tomando apenas
os casos extremos, há, nas florestas densas uma cobertura eficaz,
protectora contra a acção directa das chuvas. Nas regiões semi-áridas
as chuvas, raras e usualmente torrenciais, encontram uma vegetação
bem menos efectiva na protecção do solo, resultando em acentuadas
enxurradas de forte poder erosivo.

A cobertura vegetal, proporcionando sombreamento e um manto de


resíduos vegetais, revestindo a superfície dos terrenos, também exerce
efeito atenuador na temperatura do horizonte superficial dos solos,
repercutindo na diminuição da evaporação. A cobertura vegetal
desempenha também uma função protectora na fixação de materiais
sólidos, como nas dunas ou nas planícies aluvionais.

É interessante mencionar a acção exercida pelas florestas, através da


transpiração das plantas, particularmente notável nas regiões
equatoriais de alta densidade vegetal. Não só têm participação
relevante na composição gasosa da atmosfera como intervêm no ciclo
da água, retirando-a dos solos e transferindo-a no estado gasoso à

45
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

atmosfera. Bem ilustrativo é o facto de, naqueles ambientes florestais


equatoriais húmidos e superhúmidos, os terrenos se apresentarem,
por algum tempo, mais húmidos logo após as derrubadas.

Cabe ainda lembrar o efeito da cobertura vegetal nas condições


microclimáticas e até climáticas regionais que podem sofrer mudanças
com as grandes alterações na cobertura vegetal em amplas extensões
territoriais.
Muito relevante é a acção dos organismos exercida na composição do
ar dos solos. A função respiratória dos seres vivos e as transformações
inerentes ao metabolismo alimentar afectam reacções de oxidação, de
redução, de carbonatação, condicionando a solubilização de minerais
das rochas, de compostos químicos inorgânicos delas derivados,
tornando-os disponíveis ou não na água do solo.

A macrofauna actua sobretudo como agente homogeneizador dos


solos; desfazendo a estrutura rochosa e/ou estratificação do material
de origem. São muito citados os efeitos dos tatus, pangolins, toupeiras
e de muitos roedores que cavam buracos. A chamada mesofauna,
consistindo de minhocas e insectos como térmitas e formigas, bem
como as larvas de muitos insectos voadores, são responsáveis pela
formação dum sistema de poros estáveis e heterogéneos. Estes poros
melhoram o enraizamento das plantas e a disponibilidade de água,
bem como a remoção de excessos de água e consequente aeração do
solo. Vários pesquisadores atribuem a típica microestrutura dos solos
vermelhos fortemente meteorizados das regiões tropicais à acção das
térmitas.

Os micróbios, por sua vez, têm acção marcante na decomposição dos


compostos orgânicos, na fixação de nitrogénio, em certos processos de

46
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

oxidação e/ou redução. Todas estas acções têm importantes reflexos


na morfologia e composição dos solos.

O homem constitui um elemento perturbador da constituição e


arranjo das camadas dos solos, através das modificações que imprime
na paisagem: desmatamentos, reflorestamentos, aberturas de
estradas, aplainamentos, escavações; ou através de alterações que
visam a modificação directa do solo, como arrações e gradagens,
aplicação de correctivos e fertilizantes, irrigação, drenagem; ou mesmo
através da simples e continuada deposição de restos da sua faina
diária.

UNIDADE Temática 2.4. Material de origem

Material de origem
O termo material de origem ou material parental (Ing. parent material)
refere ao material inconsolidado a partir do qual o solo se desenvolve
(Soil Survey Staff, 1951).

No caso dos solos desenvolvidos em sedimentos não consolidados,


estes sedimentos formam o material de origem. Nas descrições
pedológicas podem ser indicadas como camada C.

No caso dos substratos rochosos, o material de origem distingue-se da


rocha mãe (Ing. parent rock) por já ter sofrido processos de

47
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

meteorização5, que transformaram a rocha dura num material não


consolidado, mas que ainda conserve a estrutura rochosa,
denominado saprolita. Nas descrições pedológicas este material é
indicado como horizonte C, e a rocha mãe, como camada R.

A distinção entre a formação do material parental a partir da rocha


mãe, e a formação dos solos é apenas uma questão de visualização
conceitual, porque, como fenómenos naturais, ambas se devem à
interferência dos mesmos agentes e são ocasionados por reacções da
mesma natureza e que se efectivam mediante alterações,
decomposições e neoformações análogas. Pode-se dizer que a
meteorização age, tanto na produção de material saprolítico derivado
das rochas, como no processamento da formação dos solos. Existem
muitos casos em que o solo assenta praticamente directamente na
rocha mãe, não há horizonte C. Isto significa que a formação do solo
acompanha a transformação da rocha mãe em saprolito.

Não é sempre fácil identificar o material de origem com certeza.


Especialmente em regiões tropicais, ao longo dos tempos, foram
frequentes os retrabalhamentos dos mantos superficiais; sendo os
produtos da meteorização sobre as rochas transportadas tanto a curta
como a longa distância. Por outro lado, as condições de meteorização
no ambiente tropical húmido e subhúmido são notavelmente
agressivas, promovendo intensas alterações e decomposição muito
adiantada dos constituintes iniciais. Nessas circunstâncias, torna-se
difícil vislumbrar o que tenha existido e vindo a transformar-se nos
solos presentemente encontrados.
5
conjunto de processos físicos, químicos e biológicos, que atuam sobre as
rochas e minerais expostos na interface litosfera - atmosfera,
desintegrando-os e decompondo-os quimicamente. No Brasil, o termo
meteorização é considerado obsoleto entre os pedólogos, preferindo-se
"intemperismo".

48
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Os materiais de origem dos solos podem ser provenientes do substrato


em que se encontram (solos ditos autóctones), ou oriundos de fontes
distantes. No primeiro caso, a produção do material de origem e o
desenvolvimento dos solos têm lugar directamente a partir da rocha
subjacente e as transmutações operam (ou operaram) em materiais de
origem de natureza comparável àquela dos actuais produtos de
meteorização do substrato sobre o qual se encontra.

Nos materiais oriundos de outros locais, próximos ou não, os materiais


de origem dos solos sobrepõem-se ao substrato rochoso local. Esses
materiais são chamados pseudo-autóctones se forem de composição
similar aos produtos de meteorização do substrato a que se encontram
sotopostos, como acontece frequentemente nos retrabalhamentos
ocorridos a curta distância. Materiais de composição distinta, são
indicadas por alóctones.

O material de origem, qualquer que seja sua fonte, tem primordial


importância em muitos atributos dos solos, entre os quais se destacam
a textura, a cor e a composição química e mineralógica.

A composição granulométrica dos constituintes sólidos inorgânicos em


que consistem os solos, depende intimamente da granulometria e da
constituição mineralógica do material de origem, aliada às condições
climáticas locais: materiais de origem de constituição arenoquartzosa
(arenitos, coberturas superficiais arenosas) vão originar, em qualquer
condição climática, solos de textura arenosa, muito porosos, com
pequena capacidade de retenção de humidade e baixíssima fertilidade,
salvo os que ocasionalmente tenham ou tiveram adição de

49
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

constituintes alienígenas favoráveis, como o acréscimo de detritos


conchíferos existentes em locais do litoral.

Materiais oriundos de rochas como o diabásico, basalto, diorito,


micaxisto, mármore e ardósica, sob condições de clima quente e
húmido e em terrenos de topografia suave, tendem a originar solos
profundos e argilosos de variada composição química e mineralógica.
No entanto, é importante ressaltar que de um mesmo material de
origem, dependendo das condições impostas pelos outros factores de
formação podem resultar solos muito diferentes.

Usualmente, a composição mineralógica dos solos e a sua constituição


química dependem directamente da natureza das fontes que lhes
deram origem. Materiais de origem bem providos em minerais ricos
em cálcio, ferro, magnésio, fósforo, potássio e outros elementos,
facultam naturalmente condições, mas não constituem garantia, para
que os solos apresentem teores elevados desses elementos. Como
corolário, verifica-se que fontes pobres, por via de regra, geram solos
pobres. Todavia, a natureza engendra situações aparentemente
paradoxais, que muitas vezes podem ser explicadas por adições
externas, p.e.: solos que recebem poeiras vulcânicas; que recebem
elementos químicos veiculados pelas brisas marítimas; e, em áreas de
poluição atmosférica intensa, solos afligidos pelas chuvas ácidas6.

A neoformação de minerais de argila, como a caulinita e a smectita,


depende também da existência de determinados elementos na
solução do solo, os quais têm como fonte o material de origem.

6
Nota-se que estes materiais devem ser considerados como parte do
material de origem, e não como produtos da formação do solo.

50
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Adicionalmente, o material de origem influi na intensidade das


reacções perante o tempo necessário para as transformações que se
devem realizar no transcurso da formação dos solos. Por exemplo, no
material de origem proporcionado por um siltito existem menos
constituintes a alterar, decompor, mobilizar, translocar para
processamento da formação de solos evoluídos, do que nos produtos
derivados de um diabásico. No segundo caso, a formação de um solo
evoluído seria mais demorada, caso os demais factores da formação
dos solos forem iguais.

UNIDADE Temática 2.5. Tempo

Tempo
Dos factores de formação, o tempo é mais passivo: não adiciona, não
exporta material nem gera energia que possa acelerar os fenómenos
de meteorização mecânica e química, necessários à formação de um
solo. Contudo, o estado do "sistema solo" não é estático, varia no
decorrer das transformações, transportes, adições e perdas que têm
lugar na sua formação e evolução.

A história da maioria dos solos tem início num passado mais ou menos
remoto, a partir de um imaginário tempo zero. A partir desse
referencial, os materiais que lhe deram origem, começaram a sofrer
uma série contínua de transformações, as quais são tanto mais
intensas e rápidas quanto mais agressivas forem as acções
pedogenéticas actuantes.

A despeito dessa formação conceitual simplificada, não existe um


divisor rigoroso entre o que se deseje visualizar como mais afecto à
51
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

meteorização do substrato rochoso e produção de material originário


(catamorfismo propriamente dito) num lado, e à geração dos solos
(pedogênese, em sentido restrito) noutro lado. Na realidade, com
referência ao material originário, os fenómenos são contínuos, sendo
pouco comuns os casos em que se pode, de facto, reconhecer o início
da formação dos solos.

O conhecimento da duração do período de gestão dos solos é,


contudo, muito complexo. A geomorfologia ensina que, na África e
América do Sul, é possível encontrar desde materiais de origem
recente até aqueles que se situam entre os mais velhos de que se tem
notícia na Terra.

Nas planícies aluvionais que ainda recebem, através das inundações,


adições periódicas de material, encontram-se exemplos de cronologia
muito recente. Por outro lado, nas extensas áreas continentais, como
os planaltos que constituem os divisores dos grandes sistemas
hidrográficos - por exemplo o soco precambriano encontram-se velhas
superfícies de aplainamento, cobertas por depósitos superficiais
correlativos, os quais têm a mais longa história entre os solos Africanos
e mesmo no contexto geográfico mundial. Seu início de formação
deu-se há muitos milhões de anos.

Entre esses casos extremos, há toda uma profusão de áreas, com


materiais dos quais resultaram solos das cronologias mais variadas.

É interessante fazer a distinção entre idade (cronologia) e maturidade


(evolução) dos solos. Alguns solos podem apresentar idade absoluta
relativamente pequena e ser bem mais maduros (evoluídos) que
outros com idade absoluta bem maior. A idade absoluta de um solo é a

52
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

medida dos anos transcorridos desde seu início até determinado


momento, enquanto a maturidade é expressa pela evolução por ele
sofrida, manifesta por seus atributos, em dado momento de sua
existência.

Em igualdade de condições de duração de eventos pedogenéticos


concernentes a determinado material de origem em zonas semi-áridas
e os concernentes a um material de origem numa zona quente e
húmida, e admitida igualdade de condições de relevo, os solos
resultantes são menos evoluídos na zona semi-árida do que na região
quente e húmida, onde as temperaturas e precipitações elevadas
aliadas a eficiente actividade biológica favorecem a meteorização física
e química e, consequentemente, aceleram a evolução pedológica.

O factor de formação tempo é tido, portanto, como uma combinação


do período através do qual o solo se formou e a velocidade e
intensidade das actividades químicas, físicas e biológicas responsáveis
pela transformação do material de origem "bruto" em um solo. O
conhecimento de tempo da formação em termos cronológicos
absolutos (reais), só é possível em casos raros em que a natureza
propicia condições favoráveis, ou a acção humana faculta a datação
cronológica de eventos realizados que ocasionaram a sua formação.

TEMA - III: PROCESSOS DE FORMAÇÃO DO SOLO

UNIDADE 3.1. Solos bem drenados de clima (sub)húmidos


UNIDADE 3.2. Solos hidromórficos
UNIDADE 3.3. Solos de clima (semi-)árido

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UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

UNIDADE Temática 3.1. Solos bem drenados de clima (sub)húmido

3.1- Processos típicos para solos bem drenados de clima (sub)húmido


Apesar dos processos discutidos nesta unidade temática serem típicos
para solos bem drenados de clima húmido ou subhúmido, estes
processos não são totalmente confinados para estas condições. Alguns
dos processos discutidos podem ocorrer também em solos
hidromórficos ou sob clima árido.

3.1.1- Hidrólise e Lixiviação

i. Dissolução e lixiviação de carbonato de cálcio


O material de origem de muitos sedimentos (eólicos, marinhos,
fluviais) contém quantidades consideráveis de calcário. Depois da
deposição desse material num clima húmido (com uma precipitação
que excede a evapotranspiração) vários processos afectarão a
composição química do material. O carbonato de cálcio é dissolvido e
pode ser removido com a água de drenagem. Esse processo chamado
decalcificação começa na superfície do solo, e estende-se
subsequentementemente para as camadas mais profundas.

Como a velocidade de dissolução do carbonato de cálcio é elevada em


comparação com a velocidade de percolação de água, o percolado fica
rapidamente saturado com carbonato de cálcio. Portanto a dissolução
somente pode ocorrer na parte superior da camada que ainda contêm
calcário. Consequentemente o limite entre o solo superficial
decalcificado e o solo subsuperficial com calcário tende a ser abrupto.
Na prática este limite costuma ser mais gradual, enquanto o processo

54
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

decorre a pouca profundidade (<1.5m), devido à actividade biológica


que causa uma certa homogeneização dos materiais.

Figura 4. Solubilidade de Carbonato de cálcio em


função da pressão parcial
de CO2 a 5oC e a 20oC (Van Breemen and
Protz, 1988)

Na ausência de ácidos fortes no solo, a solubilidade de CaCO3 depende


da pressão de CO2 na pedosfera (atmosfera do solo) e da temperatura.
A Figura 4 mostra esta relação, baseada no equilíbrio para a reacção
(1)

55
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

CaCO3 + CO2 + H2O → Ca2+ + 2HCO3- (1)

A solubilidade é maior sob pressão parcial de CO2 alta e temperatura


baixa. A pressão de CO2 na pedosfera está comumente entre 0.1 e
1 kPa, i.e. várias ordens de magnitude maior que no ar livre
(3.102 kPa). Este valor alto é causado pela combinação da actividade
respiratória de microorganismos e raízes, e a lenta difusão de CO2 do
solo para a atmosfera. Resumindo, a velocidade de decalcificação
depende da velocidade de percolação de água; da velocidade de
produção de CO2 pelas raízes e microorganismos; da velocidade de
difusão de CO2 do solo para a atmosfera; e da temperatura.

ii. Lixiviação de sílica e cations básicos


Praticamente todos os componentes do solo dissolvem em água, mas
a maioria destes componentes são pouco solúveis e dissolvem numa
velocidade muito menor que partículas finas de carbonato de cálcio. O
quartzo por exemplo tem uma solubilidade muito baixa: 4 a 8 mg de
SiO2 por litro. A concentração de silica em equilíbrio com vários
minerais de argila varia entre 5 e >120 mg de SiO2 por litro,
dependendo (entre outros factores) do pH, e da concentração de
outras substâncias dissolvidas como Al, Fe, Mg e K.

Enquanto o solo tiver carbonato de cálcio, o pH ficará geralmente


entre 7 e 8,5. Neste ambiente a solubilidade de muitos minerais de
sílica é muito baixa. Depois da decalcificação o pH pode baixar para
valores entre 5 e 7, nos quais os silicatos são muito mais solúveis. A
dissolução (meteorização) de silicatos em água contendo CO2 resulta
em sílica dissolvida (H4SiO4) e K+, Ca2+, Mg2+, bem como bicarbonatos,

56
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

que são removidos com a água que percola pelo solo. Este processo de
dessilicação é ilustrado pela seguinte reacção:

2KAlSi3O8 + 11H2O +2CO2 → 2K+ + 2HCO3-+

(K-feldspato) + 4H4SiO4 + Al2Si2O5(OH)4

(caolinita) (2)

A reacção 2 é um exemplo de dissolução parcial dum mineral primário


(feldspato), e a formação simultânea dum mineral secundário
(caolinita). Minerais primários são geralmente instáveis em solos e
tendem a decompor (meteorizar). Minerais secundários também
podem ser meteorizados, particularmente sob condições ácidas ou se
houver forte lixiviação (precipitação pluviométrica muito elevada que
mantém a solução do solo muito diluída e consequentemente
"agressiva"):

Al2Si2O5(OH)4 + 5H2O → 2H4SiO4 + 2Al(OH)3 (3)

(caolinita) (gibbsita)

Minerais secundários formados de minerais primários e produtos de


meteorização contínua (p.e. gibbsita) de minerais secundários contêm
relativamente mais Al e menos sílica e bases do que os minerais
originais.
A dissolução de silicatos num ambiente com clima húmido (onde há
lixiviação) é geralmente lenta demais para a solução do solo chegar ao
estado de equilíbrio. Por isto a velocidade de meteorização destes
minerais é determinada principalmente pela cinética de dissolução, e
menos (como no caso de calcário) pela velocidade de lixiviação.
Consequentemente, a transição entre o material meteorizado, com

57
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

predominância de minerais secundários e o material de origem, tende


a ser difusa; e uma mesma camada pode conter tanto minerais
primários, como secundários.

iii. Formação de óxidos de ferro; coloração bruna e vermelha do


solo
A solubilidade de Fe(III) é muito baixa. O Fe(II) que ocorre em
pequenas concentrações em muitos silicatos é mais solúvel que Fe(III).
No entanto, se o solo for bem drenado, o Fe(II), liberado durante o
processo de meteorização é prontamente oxidado ao Fe(III). Neste
estado o ferro fica precipitado na forma de cristais muito pequenos de
goetita (α-FeOOH). Este processo é responsável pela cor acastanhada
de muitos solos. Sob condições de temperatura elevada e baixa
humidade, em certas regiões tropicais e mediterrâneas, uma mistura
de goetita e hematita (αFe2O3, vermelha) são responsáveis por uma
coloração avermelhada.

iv. Formação de minerais secundários de alumínio


O alumínio também tem uma solubilidade muito baixa num ambiente
com pH neutro. Se a concentração de sílica continuar muito baixa,
como em regiões com alta precipitação, gibbsita, Al(OH)3, pode ser
formada (Eq. 3). Geralmente no entanto, o alumínio, juntos com parte
da sílica e dos cations básicos (Mg, K) liberados durante a
meteorização de silicatos, são transformados em minerais de argila.
Este processo é ilustrado pela Equação (2): Feldspato é meteorizado,
resultando na formação de H4SiO4, K+, HCO3 e caolinita.

O mineral de argila que é formado depende da composição da solução


do solo. Condições de pH relativamente alto (>7) e concentrações
elevadas de sílica e magnésio são favoráveis para a formação de

58
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

montmorilonita. A caolinita é formada sob condições de pH mais baixo


e soluções mais diluídas. Se a lixiviação for forte e o solo contiver
minerais de argila expansíveis como vermiculita ou smectita, um outro
processo pode ocorrer: camadas de hidróxido de alumínio podem ser
formadas entre as lâminas das partículas de argila. O resultado desta
"interstratificação" é o desaparecimento do poder de expansão e a
diminuição da capacidade de troca de cations. Esta argila
interstratificada é chamada clorita pedogenética.

3.1.2- Transporte vertical de argila de material do solo


Muitos solos tem um horizonte subsuperficial com teor de argila maior
do que os horizontes sub e sobrejacentes. A origem de muitos destes
horizontes é pedogenética (são o resultado de processos ocorrendo no
solo), e não geogénica (p. e. sedimentação laminada). Estes horizontes
chamados "texturais" ou "árgicos" são diagnóstico para a maioria dos
sistemas de classificação de solos, e interferem em certas
propriedades do solo.

i. Eluviação e iluviação de argila

Sob certas condições, partículas de argila podem facilmente ficar


dispersas e ser transportadas para baixo com a água que está
percolando no perfil do solo. Em outras condições as partículas
tendem a ficar floculadas e não podem migrar facilmente. Discutir-se-á
primeiramente as condições sob as quais as partículas ficam dispersas
ou floculadas; depois serão discutidos os processos de dispersão,
migração e iluviação, que causam a formação de horizontes texturais.

59
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

A espessura da camada dupla difusa (CDD, a camada sob influência


das cargas negativas das lâminas de argila) depende principalmente da
concentração de sais na solução do solo e da composição catiónica no
complexo de troca. Se a concentração de sais for elevada, como em
solos salinos, a CDD fica comprimida, e a argila tende a ficar floculada,
independentemente da natureza dos cations trocáveis.

Se a concentração de sais for baixa, a CDD também ficará comprimida


(e a argila floculada), se o complexo de troca for dominado por ions
divalentes (Ca2+, Mg2+) ou trivalentes (Al3+). A CDD expandirá, e a argila
poderá dispersar, se a contribuição de ions Na+ no complexo de troca
for importante (>10% da CTC). Na figura 5 indica-se deforma
esquematizada, como a estabilidade de argilas contra a dispersão
depende do tipos de cations dominantes na solução e do pH do solo.

Quanto mais baixo o pH, maior será a concentração de alumínio (Al3+)


na solução do solo em equilíbrio com minerais que contêm alumínio.
Isto é consequência da reacção de equilíbrio:

Al(OH)3 + 3H+ → Al3+ + 3H2O (4)

Sob pH baixo (<5) o teor de Al3+ é suficientemente elevado para


manter a argila floculada, mesmo se a participação de Na+ for grande.
Sob pH maior que 5, o teor de Al3+ trocável fica demasiadamente baixo
para uma floculação efectiva. Entre pH 5 e 7 as concentrações de
cations divalentes são geralmente pequenas (a menos que haja uma
fonte de Ca2+ relativamente bem solúvel, como p.e. gipso), e a argila
pode dispersar mais facilmente.

60
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Figura 5. Estabilidade de argila contra a dispersão em solos não


salinos
(esquemática). Fonte: Brinkman & Van Breemen,
1988.
Em solos com pH entre 7 e 8.5 as concentrações de cations divalentes
estão geralmente na ordem de 1 a 2 mmol.l-1, o que é suficiente para
manter a argila floculada. Na maioria dos solos que contêm carbonato
de cálcio, o (quase) equilíbrio da solução do solo com CaCO3, mantém
a concentração de Ca dissolvido neste nível; pelo menos no intervalo
de pH 6,5 a 8,5. Se o pH for maior que 9, o que ocorre em solos com
Na2CO3, a solubilidade de CaCO3 é deprimida, porque o equilíbrio da
reacção Ca2+ + CO32- → CaCO3 é puxado para a direita, devido à
concentração elevada de CO32-. Como resultado o cálcio é removido do
complexo de troca e precipita como CaCO3 sólido, enquanto a
participação de sódio no complexo de troca aumenta. A argila com alto
teor de sódio trocável é facilmente dispersível.

A estabilidade de argila contra dispersão também aumenta se as


partículas de argila forem cimentadas por hidróxidos ou óxidos de
ferro, como em solos fortemente meteorizados.

61
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Mesmo se a argila for susceptível à dispersão, normalmente as


partículas de argila não entram em suspensão espontaneamente. A
suspensão ocorre muitas vezes como resultado de pequenas
"explosões de ar". Isto ocorre tipicamente com as primeiras chuvas
depois duma época seca, quando agregados na superfície do solo
ficam rapidamente imersos.
O ar nos poros desses agregados é comprimido pela água que está
entrando pela força capilar. A pressão do ar nos agregados pode ficar
tão grande que os agregados ficam destruídos por uma pequena
"explosão". Como resultado disto, a argila pode entrar em suspensão,
e ficará dispersa se as composições do complexo de troca e da solução
do solo permitirem.

A suspensão pode mover-se para baixo através dos poros largos ou


pode ser "chupada" por acção capilar pelos poros finos. Se a água for
absorvida pela massa do solo, as lâminas de argila serão empurradas
contra as paredes dos poros médios e largos. Isto resultará na
formação de películas de argila orientada, também chamadas
"argilãs" (Ing: argillans ou clayskins). As películas podem ser
identificados sob o microscópio na análise de lâminas delgadas. Ao
olho nú podem dar um aspecto de "cerosidade" (lustrosidade) às faces
dos agregados, mas que podem facilmente ser confundidos com "faces
de pressão". "Ferri-argilãs" são películas que obtiveram uma cor
acastanhada devido à presença de óxidos de ferro.

Geralmente a argila transmigrada tem um teor relativamente elevado


de argila fina (<0.2 μ), o que indica que as partículas finas são
transportadas com maior facilidade do que as partículas mais grossas.
Uma migração vertical de argila secular ou milenar pode dar origem à

62
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

formação de um "horizonte textural", caracterizado pela presença de


argila iluviada.

As películas não duram para sempre. Parte deles passará pelo intestino
de animais do solo para aparecer como pequenos agregados de argila
orientada, chamados "papules". Com o tempo a orientação nos
"papules" pode desaparecer. Isto explica porque há muitas vezes uma
discrepância entre a quantidade de argila orientada no horizonte
textural, e a quantidade iluviada, como deduzida das diferenças
texturais ao longo do perfil. Uma outra razão para discrepâncias pode
ser a actuação de outros processos que podem dar origem a uma
diferenciação textural como:
● destruição de minerais de argila no horizonte superficial;
● neo-formação de argila a partir de minerais primários no solo
sub-superficial;
● erosão selectiva de partículas finas da superfície, deixando as
mais grosseiras;
● transporte lateral de argila em suspensão;
● descontinuidade litológica, p.e. um sedimento de material mais
grosseiro sobre um de granulação mais fina.

Da discussão acima podemos concluir que os processos de


translocação vertical de argila e consequente formação do horizonte B
texturais só podem ocorrer sob condições especiais:
(1) a argila deve ser facilmente dispersível (pH 5-7 ou >9; baixa
concentração de sais);
(2) as condições climáticas devem favorecer as "explosões de ar"
(chuvas fortes depois de períodos secos);
(3) deve haver percolação suficiente para a migração de argila.

63
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

É muito comum observar horizontes texturais em solos sob condições


não favoráveis para sua formação. Nestes casos o horizonte textural
pode ser um fenómeno fóssil. Por exemplo: a meteorização contínua e
a lixiviação de cations básicos do solo pode resultar num teor elevado
de Al trocável, estabilizando os agregados e terminando o processo de
migração de argila. As películas existentes serão transformados em
papules, e (depois de séculos) podem ser destruídos completamente
pela actividade faunal. No entanto, traços de argila orientada podem
persistir durante muito tempo (milhares de anos), especialmente em
profundidades maiores no solo, onde a actividade biológica é restrita.

ii. Translocação vertical de material do solo


O impacto directo de gotas de chuva na superfície do solo pode suprir
energia suficiente para deslocar partículas maiores que argila. Neste
caso a suspensão contém não apenas argila, mas também partículas
de limo (silte), areia fina e matéria orgânica. A suspensão pode mover
para baixo pelos maiores bioporos e pelas fendilhas.

Assim que a velocidade de percolação diminui, este material será


depositado na forma de "entupimentos", laminares ou massivos, no
fundo das fendilhas ou poros. Este transporte em "massa", procede-se
numa velocidade maior que migração de argila, e pode causar
problemas sérios de compactação de horizontes subsuperficiais.
Translocação vertical de material de solo é um processo natural em
regiões de clima sub-húmido a semi-árido, onde a vegetação natural
não oferece ao solo uma cobertura completa, especialmente no fim da
estação seca. Solos sódicos são particularmente vulneráveis por causa
da sua fraca estabilidade estrutural e da actividade biológica limitada
nestes solos.

64
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

O mesmo processo pode ocorrer também em regiões húmidas, mas


não sob cobertura vegetal natural. As condições mais propícias para
translocação em clima húmido ocorrem quando o solo está
descoberto, por exemplo depois do preparo do solo para o cultivo.

3.1.3- Quelação e lixiviação por ácidos orgânicos: Queluviação


Certos solos, geralmente arenosos, apresentam uma sequência típica
de horizontes, caracterizada por um horizonte distinto, de cor
esbranquiçada, de eluviação sobre um horizonte de cor preta ou
vermelha escura, de iluviação. A morfologia típica destes chamados
Podzóis é o resultado de processos de interacções específicas entre
ácidos orgânicos, ferro e alumínio, indicados por queluviação ou
podzolização. Este capítulo discute os processos envolvidos e as
condições sob quais ocorrem.

i. Processos no horizonte superficial: queluviação


Conjuntos de grupos carboxílicos e fenólicos de ácidos fúlvicos7
apresentam uma afinidade muito forte com cations metálicos
trivalentes, como Al+ e Fe+. Compostos de ácidos fúlvicos com alumínio
ou ferro chamam-se quelatos (do grego: chela=garra). A solubilidade
de quelatos é muito maior do que a solubilidade de minerais de Al ou
Fe (III). Assim, a concentração de Al na solução do solo pode aumentar
várias ordens de magnitude na presença de quelantes. Porém, quando
todos as "garras" estiverem ocupadas com Al ou Fe, a solubilidade do
complexo diminui acentuadamente, e o complexo saturado
precipitará.
7
ácidos fúlvicos: fração de matéria orgânica que mantém se solúvel após a
acidificação com HCl do extrato com solução de NaOH a 0.5 M; consiste de
moléculas relativamente pequenas, pouco polimerizados, bem solúveis em
água, com teor relativamente baixo em C (43-52 %); rico em grupos
funcionais (Van Breemen et al., 1992).

65
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Como resultado quantidades apreciáveis de Al e/ou Fe podem ser


transportadas como quelatos para a parte inferior do perfil do solo.
Este processo chama-se queluviação (= quelação + eluviação).

Ácidos orgânicos simples, também podem ter um papel na migração


de Al sob temperaturas baixas (p.e. <10oC). Sob temperaturas
elevadas, como nos trópicos, ácidos orgânicos com peso molecular
pequeno, não tem muita importância, porque são rapidamente
decompostos em CO2 e H2O, ou transformados em ácidos fúlvicos.
Ácidos fúlvicos são formados em quantidades relativamente grandes
se a decomposição de matéria orgânica for lenta devido à escassez de
nutrientes ou devido à temperatura baixa ou condições
excessivamente húmidas (aeração limitada).

Como estes ambientes são desfavoráveis para o desenvolvimento de


uma mesofauna activa, a maior parte do material orgânico fica
concentrado na parte superior do solo, ou mesmo na superfície.
Destas camadas orgânicas ("horizontes O" ou "H"), grandes
quantidades de ácidos fúlvicos podem ser dissolvidos e entrar na água
que está percolando no solo. A necessidade de uma camada de
material orgânico no topo do solo mineral limita o processo de
queluviação aos solos não aráveis com uma cobertura vegetal mais ou
menos natural.

Se o solo contiver quantidades apreciáveis de óxidos de ferro livres ou


de minerais meteorizáveis que podem fornecer Fe e Al, os ácidos
fúlvicos ficarão prontamente saturados com Al e Fe. Neste caso os
complexos precipitarão numa profundidade muito rasa, p.e. alguns
mm abaixo da superfície orgânica, e o resultado do processo será
facilmente obliterado pela homogeneização biológica. Porém, se o solo

66
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

puder suprir apenas pequenas quantidades de Al ou F, ou se Al e Fe


forem liberados numa velocidade pequena em comparação com a
velocidade de produção de ácidos fúlvicos, os quelatos formados
podem migrar sobre distâncias maiores: decímetros até mesmo
centenas de metros. Nos casos mais comuns os quelatos ficam
saturados com Fe e Al depois de terem migrados alguns decímetros, e
precipitam. Esta é a profundidade mais comum para um horizonte "B
espódico" dum Podzol. Em solos arenosos com muito pouco Fe ou Al,
uma grande parte dos ácidos fúlvicos pode terminar na água
subterrânea ou nos chamados "córregos de água negra". Nestas
condições o horizonte B espódico pode estar ausente.

ii. Processos de iluviação


A precipitação de ferro e alumínio com ácidos fúlvicos não ocorre
exclusivamente depois da saturação dos ácidos fúlvicos. Ácidos fúlvicos
parcialmente saturados também podem precipitar, quando o solvente
(água) desaparece, por exemplo, num Podzol bem drenado durante
um período seco depois de uma chuva pesada. Os quelatos
precipitarão neste caso na profundidade até onde a água da chuva
penetrou no solo.
Uma parte da matéria orgânica pode ser decomposta pela actividade
microbiológica, resultando na saturação do restante dos ácidos
fúlvicos, que ficam estáveis contra dissolução na próxima chuva. As
chamadas "fibras de húmus" ou "lamelas" em Podzóis bem drenados
provavelmente se formaram desta maneira. Uma vez que um
horizonte de acumulação de quelatos estiver formado, a matéria
orgânica pode ser lentamente decomposta por microorganismos. Os
cations (Al, Fe) serão liberados e precipitarão como óxidos ou
hidróxidos livres ou como interstratificação em minerais de argila
expansíveis.

67
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

iii. Condições favoráveis para a queluviação


Como pode ser deduzido dos parágrafos anteriores, a queluviação
ocorre principalmente em solos com excesso de precipitação sobre
evapotranspiração. Sob condições mais secas, a lixiviação é lenta
demais e as concentrações de cations básicos são geralmente
demasiadamente grandes para a formação de ácidos fúlvicos livres.
Sob clima húmido com estação fria bem definida, os Podzóis podem
ocorrer em vários materiais de origem não calcários.

Em climas húmidos mais quentes, os Podzóis estão praticamente


confinados a areias quartzosas pobres, tanto nos bem como nos mal
drenadas. Solos arenosos moderadamente pobres podem apresentar
um horizonte B espódico, somente sob drenagem impedida. Condições
de drenagem impedida são mais favoráveis para a formação de ácidos
fúlvicos, e podem também resultar na redução química de Fe3+ para
Fe2+, que é mais solúvel. Quelatos com Fe2+ não precipitam facilmente
e podem ser lixiviados para a água subterrânea. Por isso muitos
Podzóis mal drenados apresentam um horizonte de iluviação
relativamente pobre em ferro.

UNIDADE Temática 3.2. Solos hidromórficos

3.2- Processos em solos hidromórficos

Processos de oxidação e redução, envolvendo Fe(III), Mn(III), S(VI) e O2


como oxidantes, e matéria orgânica, Fe(II), Mn(II) e S(II) como
redutores influenciam muitas propriedades morfológicas e químicas

68
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

do solo. Isto vale particularmente para solos periodicamente (p.e.


sazonalmente) encharcados.

3.2.1- Redução do solo

i. Matéria orgânica como fonte de energia, diferentes


aceptores de electrões
A fotossíntese dá origem a centros locais de condições fortemente
reduzidas (material orgânico), bem como a um reservatório de
oxigénio. Organismos não fotossintéticos tendem a manter o
equilíbrio, ao decompor (oxidar) material orgânico morto. A maior
parte de material orgânico é decomposto no solo. Em solos bem
aerados o aceptor de eléctrons (oxidante) neste processo de oxidação
é o O2, na reacção invertida de fotossíntese:

CH2O + O2 → CO2 + H2O (5)

Se o oxigénio não estiver disponível, outros elementos redutíveis


presentes no solo podem aceitar eléctrons da matéria orgânica. Na
presença de diferentes tipos de oxidantes, o material orgânico será
oxidado numa sequência de reacções, seguindo um potencial redox
decrescente. O primeiro elemento a ser reduzido é o O2. Depois que o
O2 é virtualmente completamente gasto, o nitrato começa a ser
utilizado; seguido por respectivamente Mn(IV), Mn(III), Fe(III) e S(VI).
Por exemplo, a redução de Fe(III) para Fe(II), somente pode ocorrer
sob as seguintes condições: (1) presença de matéria orgânica;
(2) ausência de oxigénio, nitrato e óxidos de manganês facilmente
reduzíveis; e (3) presença de microorganismos anaeróbios. O requisito
de ausência de oxigénio pode ser satisfeito quando o solo estiver
alagado. O intercâmbio de gases no solo é virtualmente zero no solo
69
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

encharcado porque a difusão de gases na água é aproximadamente 104


vezes menor do que na fase gasosa. A alguns mm dos poros aerados, o
solo tende a tornar-se anaeróbio, pois o consumo potencial de
oxigénio é maior do que a reposição pela difusão.

Como as concentrações de Mn, N e S (N e S principalmente


incorporados na matéria orgânica) no solo são relativamente
pequenas, o ferro é geralmente o oxidante principal em solos
periodicamente alagados. Depois da redução de praticamente todo
ferro e enxofre, pode ocorrer o processo de fermentação. Neste
processo uma parte da matéria orgânica é oxidada (para CO2);
enquanto uma outra parte fica reduzida, por exemplo para gás
metano, (CH4, "gás de pântano"). A continuação da respiração sob
potenciais redox cada vez mais baixos providencia cada vez menos
energia por unidade de matéria orgânica oxidada.

O material do solo não pode ficar reduzido se não houver pelo menos
um pouco (alguns décimos de um porcento) de matéria orgânica como
fonte de energia. Sem isto não há actividade dos microorganismos
anaeróbios heterotróficos, cuja respiração induz o processo de
redução.

ii. Produtos da redução do solo


Os produtos das reacções de redução incluem N2 e N2O (gasosos) de
nitrato; Mn2+ e Fe2+ (solúveis e trocáveis) e compostos sólidos de Mn(II)
e Fe(II) de óxidos de ferro (Fe(III)) e manganês (Mn(IV)); e H2S, de
sulfato. Se as condições para a redução de Fe(III) forem favoráveis (solo
fértil com microorganismos adaptados a encharcamentos
temporários), entre 1 e 20%, às vezes mesmo até 90%, do Fe(III) livre
(não incorporado em silicatos) pode ser reduzido para Fe(II) dentro de

70
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

um a três meses de encharcamento. Normalmente apenas uma


fracção pequena do Fe(II) aparece na solução do solo como Fe2+. A
maior parte fica na forma trocável ou sólida, por exemplo como FeS
(mackinawita (não datado)), FeS2 (pirita), ou oxi-hidróxidos amorfos de
Fe(II) ou de misturas de Fe(II) e Fe(III). Estes últimos podem ser
responsáveis por cores cinzentas ou esverdeadas, comumente
observadas em solos hidromórficos. Produtos de fermentação de
matéria orgânica incluem gás hidrogénio (H2), gás metano(CH4) e H2S
em adição a CO2 e bicarbonato.

O desaparecimento de NO3- ou SO42- e o aparecimento de Mn2+ e Fe2+


com a redução do solo tende a elevar o pH. Como resultado, solos
ácidos com pH entre 4 e 6 podem ficar praticamente neutros. Isto será
explicado a seguir para o caso de ferro.

A reacção geral para a redução de goetita (FeOOH) é:

FeOOH + 1/4CH2O + 2H+ → Fe2+ + 1/4CO2 + 7/4H2O (6)

Esta reacção mostra que 1/4 mol de "matéria orgânica" (CH2O) é


oxidada para CO2, junto com a redução de 1 mol de FeOOH para Fe2+.
Veja bem que é consumida uma quantidade de H+ equivalente à
quantidade de Fe2+ formada. Na realidade pouco H+ livre é presente na
solução do solo, e estabelece-se uma cadeia de reacções que
providenciam H+, p.e. da hidrólise de Al3+ trocável, ou da dissociação
de CO2 (CO2 + H2O → HCO3- + H+). No primeiro caso Al3+ trocável será
trocado por Fe2+; no segundo caso Fe2+ ficará na solução do solo junto
com bicarbonato HCO3-. De qualquer maneira, o efeito será o aumento
do pH.

71
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

iii. Marcas visíveis de condições reduzidas


Sob condições aeróbias, materiais de solo contendo compostos de
ferro livre tem cores características, de vermelha para castanha, se não
estiverem cobertas pela cor escura da matéria orgânica. Sob condições
reduzidas há uma predominância de cores "frias", de cinzenta para
esverdeada ou azulada, em dependência da concentração de
compostos com Fe(II); ou preto se partículas finas de FeS tiverem
tingido o solo. A pirita praticamente não altera a cor do solo.
Dependendo da distribuição de poros, da presença de matéria
orgânica e da ocorrência de sítios mais ou menos compactados no
perfil do solo, pode haver mais ou menos heterogeneidade do
potencial redox sobre pequenas distâncias, o que se expressa em
mosqueamento. Concentrações elevadas de óxidos de ferro podem
permanecer visíveis localmente durante muitos anos, mesmo se o
"matriz" do solo estiver reduzido.

3.2.2- Alternação de redução e oxidação

i. Redistribuição de ferro e manganês


A maioria dos solos sazonalmente encharcados apresenta partes com
predominância de cores acastanhadas ou avermelhadas devido a
presença de (hidróxidos ou óxidos de Fe(III); bem como partes com
cores acinzentadas, devido à presença de Fe(II); ou à ausência de
qualquer composto de ferro livre. Manchas pretas distintas de óxido
de manganês podem estar associadas a manchas vermelhas de óxidos
de ferro.
Praticamente todos os sistemas de classificação de solos usam os
fenómenos de mosqueamento devido à presença de concentrações
locais de Fe(III) ou Mn(III&IV) para diferenciar solos bem drenados de
solos (sazonalmente) mal ou imperfeitamente drenados. O termo

72
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

"glei" (Ing: gley) é muito usado para denominar o material de solo


com mosquedo azulado e avermelhado.

Solos glei "freáticos" são solos cujo subsolo é permanentemente


saturado com água e que sazonalmente encharcados até a superfície.
Solos glei superficiais comumente chamados "pseudogleis", são solos
que apresentam um horizonte superficial sazonalmente saturado com
água enquanto os horizontes subsuperficiais ficam
predominantemente bem aeradas, devido à presença duma camada
pouco permeável numa certa profundidade. Esta camada pouco
permeável pode ser um horizonte B textural; uma camada de textura
argilosa em sedimentos de textura mais grosseira; ou uma camada
fisicamente compactada, devido ao uso inadequado de máquinas
pesadas, ou ao maneio de solos de arroz irrigado.

A Figura 6 mostra esquematicamente os perfis destes dois tipos de


solos hidromórficos. A Figura 7 mostra a relação destes tipos de solo
com a fisiografia. Em solos, glei o interior dos elementos estruturais
tende a ser acinzentado, enquanto o solo nas paredes dos poros largos
e das faces dos elementos estruturais, onde O2 da atmosfera consegue
penetrar, mostra concentrações elevadas de óxidos de Fe(III)
castanho/avermelhado e de Mn(IV), preto.
No entanto, em solos com pseudoglei, as cores acinzentadas dominam
as partes mais porosas, que ficam rapidamente encharcadas com água
percolando de cima. As acumulações de óxidos de Mn(IV) e Fe(III)
ocorrem na zona de transição para o horizonte subjacente, aerado; no
interior dos elementos estruturais. Se o movimento vertical de água
estiver fortemente impedido, pode predominar uma translocação
lateral de ferro.

73
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Figura 6. Morfologia de um perfil com glei freático (A) e com


pseudoglei (B).

A continuação dos processos de gleização pode depois de muito


tempo (milhares de ano) levar à formação de um horizonte com
enriquecimento absoluto de ferro, (p.e. transportado lateralmente de
áreas vizinhas mais elevadas; Figura 7).

74
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Figura 7. Posições de solos glei freáticos e de água de


superfície numa paisagem hipotética.

Em solos fortemente meteorizados o teor de ferro pode ficar


localmente tão elevado que o material do solo poderá ficar
irreversivelmente endurecido se ficar sujeito a períodos alternados de
humedecimento e secagem. Este material chama-se plintita (Ing:
plinthite). Um nome obsoleto, mas ainda muito popular para este
material é laterita8, que também é usado para denominar o material já
irreversivelmente endurecido. Este material passou a chamar-se
oficialmente de petro-plintita. Outros nomes para a petroplintita são
ferricrete e couraça.

Os seguintes processos individuais podem ser resumidos como partes


do processo global da segregação de ferro associada com reacções do
tipo redox (processos similares ocorrem com o Mn):

a) dissolução de ferro livre (III) pela redução para Fe2+. Isto pode
ocorrer se (1) houver presença de matéria orgânica como fonte
de energia para microorganismos; (2) o solo estiver saturado
com água para diminuir a difusão de O2; e (3) houver
microorganismos capazes de reduzir Fe(III).

b) transporte de Fe2+ por difusão, ou por transporte em massa


(percolação ou capilaridade);

8
Do latim: later = tijolo

75
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

c) imobilização de Fe2+ por um dos seguintes processos: (1)


precipitação de compostos de Fe(II), favorecida por pH alto ou
concentração elevado de sulfureto; (2) adsorção no complexo
de troca catiónica; ou (3) oxidação para Fe(III), o que pode ser
catalisado por microorganismos;

d) oxidação do Fe(II) por O2 livre, transportado pela difusão ou


(sob drenagem rápida) por convecção.

ii. Ferrólise
A ferrólise, (Ing, ferrolysis=dissolution by iron) é um processo
pedogenético, governado por reacções (bio)químicas relacionadas com
condições alternadas de oxidação e redução do solo.
Solos sob forte influência de ferrólise são comuns em áreas planas
(p.e. terraços), sazonalmente inundadas pela água da chuva
(pseudo-glei). Estes solos são caracterizados por horizontes superficiais
ácidos, de cor parda, com baixo teor de argila e matéria orgânica,
sobrejacentes a um horizonte subsuperficial pouco alterado.

O processo compreende o seguinte ciclo de reacções.

1) Quando o solo ficar reduzido, na estação chuvosa, o Fe2+,


formado (veja Equação 5.2) troca com os cations básicos (Ca2+,
Mg2+, K+, Na+) do complexo de troca, e/ou com Al3+ (em solos
ácidos).

2) Os cations básicos e parte de Fe2+ libertados, podem ser


lixiviados juntos com anions, como por exemplo HCO3-,
formado durante a redução. O Al3+ libertado do complexo de

76
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

troca pode precipitar na forma de hidróxidos de Al, devido às


condições menos ácidas.

3) Durante a aeração, no período seco, o Fe2+ no complexo ficará


oxidado para compostos de Fe(III) insolúveis, por exemplo:

4Fe2+ + O2 + 6H2O → 8H+ + 4FeOOH (7)

Os lugares deixados no complexo de troca pelo Fe2+ serão


ocupados pelo H+ liberado.

4) Minerais de argila são parcialmente dissolvidos pelas bordas,


devido à acidez e à instabilidade de argila com saturação
elevada de H+. O complexo de troca fica saturado com Al3+
proveniente da argila dissolvida.

5) Na estação chuvosa o solo fica saturado e o ciclo recomeça.

A continuação prolongada deste ciclo levará à destruição duma parte


significativa da argila no horizonte superficial. Geralmente há uma
transição abrupta ou clara para o horizonte subsuperficial bem aerado.
A sílica libertada pode ser parcialmente lixiviada ou precipitada na
forma de agregados de tamanho de limo ou areia fina. Os hidróxidos
de Al formados (passo 2) podem formar interestratificações em
minerais expansíveis dando origem à clorita.
iii. Génese de solos tiomórficos
Solos tiomórficos são solos que acumularam grandes quantidades de
sulfetos durante a formação do material parental, sob condições

77
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

anaeróbias, e que, quando drenados, acidificam acentuadamente para


valores de pH inferiores a 4.

Solos tiomórficos ocorrem frequentemente em planícies costeiras


onde sedimentos contendo pirita (FeS2) foram drenados e expostos à
atmosfera.

Pirita é formado nos sedimentos por reacções químicas e


microbiológicas, de redução de sulfato na presença de óxidos de ferro;
o resultado líquido destas reacções pode ser:

Fe2O3 + 4SO42- + 8CH2O + ½O2 → 2FeS2↓ + 8HCO3- + 4H2O (8)

Nesta reacção CH2O representa matéria orgânica.

Pode-se constatar que os ingredientes essenciais para a formação de


pirita são: (1) sulfato, (2) minerais contendo Fe(III), (3) matéria
orgânica, e (4) condições de aeração limitada. Um outro factor
importante é a presença de correntes (marés), que garantem o
suprimento limitado de O2 (e de SO42-) e a remoção do bicarbonato.

Um ambiente particularmente propício para a formação de pirita é


formada pelos mangais, com um fluxo constante das marés, a presença
de quantidades elevadas de matéria orgânica (da vegetação) e de SO42-
(da água do mar). Em correntes de água doce a concentração de
sulfatos é baixo demais para a formação de quantidades apreciáveis de
pirita.
A drenagem, natural ou artificial de um solo contendo pirita pode
induzir modificações dramáticas. Dentro de algumas semanas de

78
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

aeração os efeitos da oxidação de pirita começam a ficar aparente:


aparecem manchas acastanhadas de óxidos de Fe(III), e, se o poder
tampão do solo não for muito grande, o pH diminui acentuadamente
(até valores entre 2.5 e 3.5) e manchas amarelas do mineral jarosita
podem formar-se.

As seguintes reacções químicas são responsáveis por estes fenómenos:

4FeS2 + 15O2 + 10H2O → 4FeOOH + 8H2SO4 (9)

ácido sulfúrico!

4FeS2 + 15O2 + 10H2O + 4/3K+ → 4KFe3(SO4)2(OH)6 + 16/3 SO42 + 12H+


jarosita (10)

A reacção (9) pode ser catalisada pela acção de bactérias (Thiobacillus


spp), que usam a pirita como fonte de energia. Uma consequência da
diminuição do pH é a destruição de partes dos minerais de argila, e a
liberação de alumínio das redes cristalinas, na forma de Al3+. O Al3+
estabiliza a argila ao trocar com H+ no complexo de troca. Parte da Al3+
fica na solução do solo, onde pode causar toxicidade para a maioria
das plantas.
A jarosita em si não é muito importante para as características físicas
ou químicas do solo. No entanto é uma importante indicação
morfológica para reconhecer os solos tiomórficos, devido à cor
amarela clara, que faz lembrar dejectos de gato. Uma denominação
popular para os solos tiomórficos em inglês é cat clays. A jarosita não é
estável sob pH>4; e uma actividade elevada de K+ (o que é comum em
solos de origem marinho) é necessária para a sua formação.

79
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Nem todos os solos que contêm pirita no estado reduzida se tornarão


solos tiomórficos após a drenagem. A maioria dos sedimentos
marinhos contêm substâncias neutralisantes como cations trocáveis ou
básicas, como carbonato de cálcio (conchas!), que podem amenizar ou
mesmo prever os efeitos da oxidação de pirita. Na presença de cations
trocáveis abundantes, a acidez pode ser mais facilmente lixiviada. O
calcário reage com o ácido sulfúrico, formando CO2 e gipso
(CaSO4.2H2O).

O alagamento e a consequente redução dum solo tiomórfico implica a


transformação de SO42- para H2S, e portanto o aumento do pH. Por isto
muitos solos tiomórficos podem ser aptos para o cultivo de arroz
irrigado.

UNIDADE Temática 3.3. Solos de clima (semi-)árido

3.3- Processos em solos de clima (semi-)árido

3.3.1- Acumulação de carbonato de cálcio e gipso

i. Calcário secundário
Calcário secundário é o calcário formado no solo como resultado de
processos de formação do solo, que podem envolver dissolução,
transporte, e precipitação ou neoformação a partir de ions de Ca+ e
CO3-- , HCO3- e/ou CO2.

Em climas semi-áridos, com um excesso relativamente pequeno de


evapotranspiração potencial sobre a precipitação, a maior parte da
água pluviométrica é absorvida e transpirada pelas plantas após ter
80
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

penetrado o solo até uma certa profundidade. Ocasionalmente,


pancadas de chuva muito fortes podem causar a percolação para uma
profundidade além do alcance das raízes. Uma parte dessa água pode
eventualmente chegar ao lençol freático.

Se o solo for bem drenado, com o lençol freático a vários metros de


profundidade, estas percolações ocasionais seriam suficientes para
remover a maior parte dos sais bem solúveis, produtos da
meteorização ou provenientes da chuva ou de poeiras. Porém, a
remoção de sais pouco solúveis, como carbonato de cálcio, é
insignificante nessas condições. Consequentemente estes solos se
tornarão calcários, não salinos. No entanto, o carbonato de cálcio é
translocado dentro do perfil do solo por processos que envolvem a
dissolução, transporte e precipitação.

O carbonato de cálcio dissolvido nos horizontes superficiais do solo


pela água proveniente da chuva, relativamente agressiva, será
transportado para uma certa profundidade, e precipitirá novamente
quando a água evaporar directamente, p.e. em poros largos ou
fissuras. Deste modo o solo superficial ficará lentamente decalcificado,
e um horizonte com CaCO3 secundário (Ing: secondary lime) é formado
numa certa profundidade. Se este horizonte for bem definido, pode
ser classificado como horizonte cálcico (Ing: calcic horizon). Quanto
menor for o excesso de evapotranspiração sobre precipitação, maior
será a profundidade deste horizonte.

O calcário secundário consiste primeiramente de fios macios de


material poeirento, parecendo-se com o micélio de fungos, pelo que é
chamado de pseudomicélio. Acumulação prolongada deste, dá origem

81
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

a nódulos macios e duros, que podem ser arredondados ou na forma


de tubos em volto de poros ou raízes.

Como águas freáticas geralmente contêm bicarbonato de cálcio, a


acumulação de calcário é um processo muito comum em regiões
(semi-)áridas com o lençol freático raso. Se o lençol freático estiver
dentro do alcance da acção capilar, a evapotranspiração será elevada,
e o processo de acumulação poderá proceder rapidamente. A
recristalização do material macio pode levar à formação dum horizonte
concrecionário duro e adensado: horizonte petrocálcico.

ii. Formação do horizonte gípsico


O gipso (CaSO4.2H2O) pode acumular-se num horizonte distinto como
resultado de processos similares aos discutidos para CaCO3. O gipso
será levado mais longe pela água (evaporando) do que o carbonato de
cálcio, pois é mais solúvel. Mesmo sob regimes de humidade com
apenas algumas centenas de mm de chuva por ano, a concentração de
sais bem solúveis em solos bem drenados pode ser baixa, enquanto o
gipso e o carbonato de cálcio acumulam. Em solos de regiões áridas,
com lençol freático profundo, muitas vezes há ocorrência de gipso na
forma de pequenos (<2cm) cristais claros e planos nos primeiros 20 cm
do solo.

3.3.2- Salinização e Sodificação

i. Salinização
A acumulação de sais solúveis no solo ocorre se a evapo(transpi)ração
for maior ou igual à precipitação efectiva. Sais podem provir da

82
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

meteorização de rochas ou de sedimentos locais ou podem ter sido


transportados pela água ou pela poeira.

A salinização é um processo geral em regiões áridas e semi-áridas; mas


pode ocorrer também localmente, em regiões sub-húmidas. Condições
favoráveis para a salinização em climas sub-húmidos ocorrem quando
há suprimento lateral de água de partes mais elevadas, como em
depressões; ou na presença de um lençol freático raso, que permite
evaporação, enquanto a precipitação efectiva for baixa, devido ao
escoamento superficial. A salinização também pode ocorrer em
regiões húmidas: áreas costeiras, com intrusão de água das marés.

No entanto, em regiões áridas também podem ocorrer situações que


mantém a concentração de sais a níveis baixos. Tal é o caso por
exemplo do suprimento superficial de água por escoamento de sítios
mais elevados ou ao longo de grandes rios por inundação em
combinação com um sistema de drenagem para remover os sais
lavados da parte superior do perfil.

O grau de salinização pode mostrar uma grande variabilidade espacial


e temporal. O teor de sais numa certa camada do solo não é uma
propriedade permanente porque os sais podem dissolver, ser
transportados e precipitar rapidamente. A variabilidade temporal pode
estar ligada às variações sazonais e anuais de precipitação e a
variações da solubilidade de sais em função da temperatura. Variações
espaciais podem estar correladas com factores topográficos, hídricos e
edáficos.
Diferentes minerais secundários dominam em áreas sub-húmidas e
áridas; ou numa planície aluvial numa região árida: carbonato de cálcio
nos lugares menos áridos; depois respectivamente gipso, sulfato de

83
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

magnésio, sulfato de sódio e cloreto de sódio, e finalmente, apenas


sob condições extremamente áridas, os higroscópios e muito bem
solúveis cloretos de cálcio e magnésio. Esta sequência (que na prática
ocorre somente em casos simples) pode ser derivada das solubilidades
relativas de sais, e depende do tipo de água e da presença de fontes
que podem dar origem a diferentes tipos de sais.
ii. Sodificação
Sodificação é o tipo de salinização que leva ao aumento da relação
entre o sódio e cations di-(e tri-)valentes: a percentagem de sódio
trocável (PST). Níveis elevados de Na são nocivos para as culturas.
Além disso, a sodificação traz o risco de diminuição da estabilidade da
estrutura, seguido pela dispersão de material argiloso. Na literatura
antiga os termos "alcalinização" e "solos alcalinos" foram usados para
denominar respectivamente sodificação e solos sódicos. Estes termos
são equívocos, pois a sodificação não está restrita aos solos com uma
reacção alcalina, embora a ocorrência desta combinação seja muito
comum.
A sodificação pode ser causada por dois processos diferentes:

(1) Um solo originalmente não salino fica salinizado por sais de


sódio, p.e. pelo suprimento de água freática contendo cloreto
ou sulfato de sódio. A saturação por Na+ no complexo de troca
aumenta devido à troca de cations divalentes por Na+,que é
favorecida sob elevadas concentrações destes. Os solos sódicos
formados desta maneira tem pH geralmente em torno de 8.5.

(2) A evapo(transpi)ração duma solução que contém mais


alcalinidade9 do que cations divalentes - na prática
principalmente Ca2+. A evaporação desta solução causa a

9
.) alcalinidade: soma das equivalências de anions alcalinos: 2*(CO32-) + (HCO3-) + (OH-) ; na prática principalmente HCO3-

84
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

precipitação de CaCO3 até que a maior parte dos ions Ca2+


tenham sido consumidos, enquanto as concentrações dos sais
bem solúveis (bicarbonato de sódio e carbonato de sódio)
continuam a aumentar. O Ca2+ trocável também é removido do
complexo de troca e precipita como CaCO3:
Ca2+troc + 2Na+aq + 2HCO3-aq → CaCO3↓ + CO2 + H2O + 2Na+troc (11)

Este tipo de sodificação é muito efectivo, produzindo solos sódicos


com o suprimento de muito pouco Na+. Os solos produzidos têm pH
maior que 8.5; podendo chegar a 11.

Em certos casos o primeiro tipo de sodificação pode também levar a


valores de pH>8.5. Por exemplo em "playa's" com acumulação de
Na2SO4. Na presença de matéria orgânica e inundações sazonais, o
sulfato fica reduzido, o que resulta na formação de H2S (que pode sair
do sistema por volatilização) e Na2CO3. Enquanto a concentração de
sais for elevada, a argila fica floculada, mesmo se o complexo de troca
estiver saturado com sódio. No entanto, quando a solução do solo ficar
diluída, p.e. pela água da chuva, a argila ficará facilmente dispersa
(Capítulo 2). Isto poderá levar à eluviação de argila e a formação de um
horizonte B que é favorecida sob elevadas concentrações destes. Os
solos sódicos formados desta maneira tem pH geralmente em torno de
8.5.

Quantidades apreciáveis de sais podem acumular debaixo da zona


radicular, em material muito pouco permeável, sem prejudicar as
culturas. Estas características podem ser aproveitadas para a
agricultura, em esquemas de irrigação bem manejados, em áreas com
Vertissolos.
O arroz é moderadamente tolerante para com a salinidade, e pode ser
cultivado em solos salinos, se houver disponibilidade de água de boa
85
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

qualidade para irrigação para manter a conductividade eléctrica da


camada superficial (0-20cm) abaixo de 6 dS.m-1. Desta maneira,
pode-se combinar a lavagem de sais com o cultivo de arroz.

Maneio de solos sódicos


A diluição de sais em solos sódicos pela adição de água proveniente de
chuva ou irrigação, causa a expansão da camada dupla difusa (CDD)
das partículas de argila, seguida da dispersão das mesmas. O resultado
pode ser a formação de camadas muito compactadas no solo, devido
ao colapso de poros ou o seu enchimento com a suspensão dispersa
da camada superior. Em solos com textura franco-siltosa ou mais
argilosa isto resultará numa conductividade hidráulica muito baixa.

Para prevenir a compactação do solo, sais solúveis de cálcio (p.e. gipso)


são normalmente aplicados antes da dessalinização. Em solos sódicos
com pH elevado, o alto teor de carbonato solúvel deprime o nível de
Ca2+ solúvel (reacção ?), e consequentemente a troca de Na+ por Ca2+.
Enxofre elementar ou pirita podem serusados como aditivo em solos
sódicos de pH elevado. Ambas substâncias oxidarão para ácido
sulfúrico (reacção ?).

No entanto, uma vez compactado, a percolação de água pelo solo será


lenta, e ficará difícil recuperar o solo até uma profundidade maior que
alguns cm da superfície. Algum sucesso pode ser obtido pela plantação
de árvores resistentes, para desenvolver um sistema de bioporos. Os
benefícios adicionais desta prática incluem a adição de matéria
orgânica para melhorar a estabilidade estrutural, e o aumento da
pressão parcial de CO2 no solo, o que promove a dissolução de CaCO3
(Reacção ?).

86
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

O cultivo de arroz irrigado também tende a melhorar os solos sódicos.


Os efeitos benéficos desta cultura provavelmente estão relacionados
também com a elevação do nível de CO2 no solo, e com a inundação
contínua que promove a lixiviação vertical.

Enquanto uma percentagem de sódio trocável (PST) excedendo 15%


geralmente causa problemas em solos argilosos com mineralogia
mista, isto não acontece em Vertissolos que se expandem e contraem
fortemente com Na+ entre 6 e 15%, sob condições alternadas de
humedecimento e secagem, o que resulta numa estrutura estável,
especialmente se houver um teor elevado de matéria orgânica ou
óxidos de ferro. Se a PST for menor que 6%, o solo tende a ficar maciço
e pouco permeável, mesmo ao secar; enquanto somente sob valores
muito elevados (PST>20-25%) ocorre uma dispersão séria ao
humedecer. Assim, um teor moderado a elevado de Na+ trocável ajuda
a manter uma boa estrutura em Vertissolos.

Em solos muito ácidos (pH<4.5), a PST elevada também não interfere


na estabilidade da estrutura do solo, por causa da presença de Al3+
como cation dominante no complexo de troca .

Exercícios

1- Indica duas razões porque os solos em declives íngremes


apresentam geralmente clima mais seco do que os
terrenos mais suaves.

87
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

TEMA - IV: MORFOLOGIA DO SOLO

UNIDADE 4.1. O perfil do solo e seus horizontes


UNIDADE 4.2. A cor do solo
UNIDADE 4.3. A textura do solo
UNIDADE 4.4. A estrutura do solo
UNIDADE 4.5. A porosidade do solo
UNIDADE 4.6. A consistência do solo

Morfologia do solo
(Adaptado de Spiers, 1984)

Os diversos solos possuem propriedades mensuráveis ou descritíveis,


que nos possibilitam classificá-los, descrevê-los avaliá-los para vários
fins e cartografá-los. Diferenças entre solos podem ser locais ou
regionais e são evidentes tanto no aspecto que apresentam à
superfície, como também em profundidade.

Solos diferentes são resultados de diferentes combinações dos factores


responsáveis pela sua formação e exibirão perfis próprios,

88
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

caracterizados pelas propriedades dos seus horizontes. Dessas


propriedades, aquelas que são mais facilmente acessíveis e
prontamente perceptíveis são as morfológicas, obtidas nas descrições
morfológicas, efectuadas no campo, em um perfil de solo.

A descrição morfológica de um solo é a expressão da aparência deste


solo, segundo as características macroscópicas prontamente
perceptíveis. A morfologia corresponde então à "anatomia do solo".
Em seu conjunto, as características morfológicas constituem a base
para definir este corpo natural que é o solo, e a definição se
completará com as demais determinações do laboratório.
A morfologia compreende somente propriedades directamente
observáveis, que devem ser distinguidas de propriedades inferidas ou
deduzidas dos solos. Assim, uma descrição morfológica constará
apenas do relatório do aspecto ou forma do solo, como, por exemplo,
a sua cor, estrutura, consistência.

A morfologia, além de sua importância para a caracterização do solo,


fornece muitos elementos para interpretações de importância agrícola,
tais como: drenagem, permeabilidade, compactação, susceptibilidade
à erosão, possibilidade de uso de máquinas, etc. Para quem executa
levantamentos de solos, a morfologia é de capital importância, pois
permite rapidamente identificar e cartografar solos de determinada
região pela aparência do seu perfil, com reduzida necessidade de
dados de laboratório.

Na história da ciência do solo, podemos distinguir um período em que


a descrição morfológica do solo era considerada a maneira mais
importante da sua caracterização. Com o melhoramento de acesso às
análises fisico-químicas, e sobretudo o avanço da informática nas

89
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

ciências agrárias, a morfologia perdeu grande parte do seu brilho,


devido à dificuldade de exprimi-la numericamente. Actualmente este
brilho está a renovar-se com a introdução de programas de
computador mais "inteligentes", e com a percepção de que o melhor
lugar para analisar o solo é no campo, como corpo tridimensional, e
não através de frascos separados com terra moída.

No entanto, as propriedades morfológicas por si só geralmente são


insuficientes para que se possa classificar os solos e avaliar o seu
potencial de uso. Contudo, permitem-nos sempre separar no campo
diferentes unidades homogéneas, que poderão posteriormente ser
caracterizadas e classificadas mais detalhadamente, tomando em
conta também as análises de laboratório efectuadas em amostras
provenientes de perfis representativos de cada uma das unidades
cartográficas.

É óbvio que para uma descrição morfológica poder ser de alguma


utilidade como transmissor de informação e como base para a
avaliação do potencial de uso do solo, deve ser usada uma
terminologia clara e objectiva. Infelizmente há vários sistemas de
"normas de descrição", que usam terminologia similar, mas muitas
vezes com significado ligeiramente diferente, dando origem a bastante
confusão. Por isto é importante que o pedólogo ao descrever um perfil
sempre anote o método usado, com o ano da edição do manual; e siga
rigorosamente o vocabulário recomendado. Comentários devem ser
anotados separadamente. O resultado pode ser um texto que para a
maioria dos leigos seja um tanto chato e de leitura difícil. Para o
verdadeiro pedólogo seria um prazer de reconstruir na sua imaginação
o solo descrito e poder apontar muitos aspectos de importância
prática.

90
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

A terminologia no texto a seguir é baseada no método de descrição


internacionalmente mais aceite: Os "Guidelines for soil profile
description" da FAO (1977), que foi adaptado pelo INIA para uso em
Moçambique. Em 1990 os "guidelines" foram reeditados sob o nome
"Guidelines for soil description". Parte das modificações está sendo
implementada pelo INIA.

UNIDADE Temática 4.1. O perfil do solo e seus horizontes

4.1- O perfil do solo e seus horizontes


Adaptado de Oliveira et al., 1992

4.1.1- Nomenclatura e definições


Solo é a colecção de corpos naturais que ocupam parte da superfície
terrestre e constituem o meio natural para desenvolvimento das
plantas terrestres. São dotados de atributos resultantes da diversidade
de efeitos de açcão integrada do clima e dos organismos, agindo sobre
o material de origem, em determinadas condições de relevo, durante
certo período de tempo (Soil Conservation Service, 1951).

Da acção combinada dos factores de formação do solo, determinando


os processos pedogenéticos - adições, perdas, transformações,
transportes selectivos (Simonson, 1959) - que se operam no material

91
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

de origem, resultam secções mais ou menos paralelas à superfície do


terreno e que se sucedem verticalmente compondo os solos. São
secções interrelacionadas, guardando entre si vínculos concernentes a
sua natureza, em consequência do processamento da formação dos
solos. Essas secções, denominadas horizontes, diferenciam-se umas
das outras pela organização, pelos constituintes ou pelo
comportamento.

Quando os atributos possuídos são bem manifestos através da


morfologia, torna-se relativamente fácil a identificação e delimitação
dos horizontes de um solo. Porém, quando o solo é pouco diversificado
verticalmente, a expressão dos horizontes é pouco distinta, sendo por
vezes bastante difícil detectar-lhes os limites.

Uma secção paralela à superfície, que é pouco ou nada diferenciado


pelos processos pedogenéticos é denominada camada (p.e. a rocha
mãe; uma camada de material orgânico acumulado na superfície;
sedimentos estratificados).

À secção vertical, através do solo, englobando a sucessão de


horizontes ou camadas, acrescidas do material mineral subjacente,
pouco ou nada transformado pelos processos pedogenéticos e o
manto superficial de resíduos orgânicos, dá-se o nome de perfil do
solo (Ing: soil profile).

4.1.2- O perfil do solo

Não obstante o perfil seja concebido como um plano ortogonal à


superfície do terreno, na prática, ao examiná-lo e descrevê-lo, são

92
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

consideradas características que só podem ser detectadas e


identificadas se o material constitutivo do solo for inspeccionado em
três dimensões, ou seja, se em vez de se examinar simplesmente a
face exposta naquele plano, o exame interiorizar-se, atingindo pelo
menos alguns decímetros para dentro.

O objecto de atenção usualmente consiste numa secção com aquela


espessura por um a dois metros de largura e que se aprofunda desde a
superfície do terreno até, quando possível e necessário, a zona de
material saprolítico ou o próprio substrato rochoso consolidado.

A rigor, o exame, a descrição e a tomada de amostras para análises


dizem respeito a um volume de solo, compreendendo o que se
manifeste de atributos na face exposta e o contido na intraface . Nesse
contexto foi formulado o conceito de pedon, referente à parcela
tridimensional abrangendo a inteireza dos horizontes, perfazendo
volume mínimo que possibilite expressar a variabilidade de atributos
no sentido lateral de cada horizonte em si, bem como a variabilidade
sequencial dos horizontes que compõem o perfil considerado.

O exame de perfis é realizado em exposições de barrancos ou em


trincheiras, suficientemente profundos para permitir uma visão
abrangente. Para aproveitamento das exposições em cortes de
estradas torna-se necessário avivar a face dos taludes, removendo
alguns decímetros da superfície exposta. Em vista de estar sujeita à
contaminação com poeira, lavagem pela chuva, escorrimento de
material, secagem e humedecimento e à acção de animais e plantas, a
face do talude pode apresentar modificações sensíveis em muitos
atributos e, assim, interferir na verificação dos atributos que

93
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

individualizam os horizontes e, consequentemente, na identificação do


solo.

Em trabalhos de levantamento de solos, quando não há exposição de


barrancos e torna-se impraticável a abertura de trincheira, é comum o
uso de sondagens. Naturalmente, o recurso das sondagens não
permite um exame circunstanciado, só é realizável mediante a
inspecção dos horizontes in situ.

4.1.3- Horizontes e camadas

Determinado solo é conhecido através da individualização de seus


horizontes e/ou camadas. É discriminado dos demais segundo a
sequência e a natureza de seus horizontes: sua constituição qualitativa
e quantitativa, conformação própria, organização dos constituintes e
manifestação de atributos decorrentes.

Em exame de campo, os horizontes são identificados pela constatação


de atributos morfológicos (prontamente perceptíveis), tais como:
estrutura, textura, cor, consistência e cerosidade. Nem sempre a
verificação desses atributos é suficiente para identificar os horizontes:
tornam-se necessárias, então, informações adicionais quanto a
atributos físicos e/ou químicos e/ou mineralógicos, mediante análises
de laboratório em amostras adequadamente colectadas.

A denominação dos horizontes e camadas é feita por símbolos


representados por letras e números. Esses símbolos
convencionalmente informam a relação genética existente entre
horizontes no conjunto do perfil. São o resultado das interpretações

94
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

feitas pelo operador durante a descrição do perfil, tendo por base as


constatações morfológicas e inferências delas decorrentes, acrescidas,
quando necessário, de dados de laboratório.

A notação aplicada aos horizontes, na sua identificação durante o


exame e descrição do perfil do solo, é o registro da interpretação feita
pelo operador. Tais denominações constituem expressão do
julgamento concernente a todas as transformações ocorridas,
causadas por processos pedogenéticos, gerando os horizontes como
presentemente são, em distinção comparativa com a natureza
presumível do que existiu anteriormente - material de origem - às
custas do qual veio a se formar cada horizonte.

As designações dos horizontes e camadas do solo passaram por


modificações em tempos recentes, visando sanar deficiências que
vieram se comprovando através dos muitos anos de uso das normas
preconizadas no "Soil Survey Manual" (Soil Conservation Service,
1951).
Neste texto, a orientação seguida é a das normas publicadas pelo
Instituto de Investigação Agrária (INIA, 1985) que se coadunam com os
critérios das designações preconizadas pela FAO (1977) e com as
normas actuais do serviço de conservação do solo dos Estados Unidos
da América (Soil Conservation Service, 1981).

Os horizontes e camadas principais (Ing: master horizons) do solo são


simbolizados pelas seguintes letras maiúsculas: O, H, A, E, B, C e R. Três
são sempre denotativas de horizontes: A, E e B; R é sempre indicativa
de camada; enquanto O e H podem ser de denotação variável. Na
descrição de perfis, normalmente adicionam-se, a essas letra, outras,

95
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

minúsculas, e números arábicos que completam a designação dada


pelas letras maiúsculas aos horizontes principais.

A seguir vem uma descrição dos conceitos de cada horizonte principal.


Para as definições oficiais refira-se a para INIA (1985). Alguns exemplos
de representações gráficas de perfis com seus horizontes estão na
Figura 8.
O Horizonte (ou camada) orgânico superficial, formado em
condições de drenagem desimpedida - sem prolongada
estagnação de água - constituindo recobrimento detrítico
pouco ou semi-decomposto de material essencialmente
vegetal, como folhas, galhos e ramos, acumulado na superfície
de solos minerais ou orgânicos.

Este horizonte é encontrado comumente em solos sob mata,


sendo muito pouco duradouro após desmatamento.

H Horizonte (ou camada) orgânica, formada na superfície por


acumulação de restos essencialmente vegetais depositados sob
condições de prolongada ou permanente estagnação de água.

Tem origem em planícies aluviais alagadiças ou depressões


pantanosas; sendo as turfas exemplo de material dessa
natureza.

96
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Figura 8. Exemplos esquemáticos da divisão de perfis em horizontes

A Horizonte mineral superficial ou subjacente ao horizonte (ou


camada) O ou H, de maior actividade biológica e caracterizado
por (1) a acumulação de matéria orgânica humificada,
intimamente associada à matéria mineral, ou por evidências de
cultivo, pastagem ou tipos similares de perturbação.

É geralmente o horizonte que está à superfície dos solos e de


maior interesse para o cultivo. É a porção mais viva, de maior
acção da flora e fauna (macro e micro) responsáveis pela
produção do húmus e pelas transformações biológicas que nele
se processam. Constitui a secção mais sujeita às mudanças de
temperatura, humidade, e composição gasosa. Geralmente
exibe cor mais escura que os horizontes subjacentes. Sua
espessura é variada. Normalmente tem entre 15 e 30 cm;

97
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

porém, em certos casos pode atingir mais de 100 cm de


profundidade.

E Horizonte mineral cuja característica principal é a perda de


argila silicatada, compostos de ferro ou de alumínio,
separadamente ou em combinações, com resultante
concentração de quartzo ou outros minerais resistentes do
tamanho de areia e limo.

Situa-se geralmente abaixo do horizonte A, do qual se


diferencia pela cor mais clara, e, usualmente, do horizonte
subjacente também pela cor mais clara e pelo teor de argila ou
de matéria orgânica menor. É bastante típico para os chamados
Podzóis e, comumente, apresenta-se no perfil precedendo
mudança textural abrupta para horizonte mais argiloso, ou
precedendo horizonte menos permeável.

B Horizonte mineral, subsuperficial, situado sob horizonte A, E,


ou, raramente O ou H, com evidências de modificações
acentuadas do material de origem e/ou ganho de constituintes
minerais ou orgânicos migrados de horizontes suprajacentes.

Na sequência do perfil, o horizonte B não se caracteriza por


perdas. Situa-se fora da acção dos mais intensos
processamentos biológicos. Existem muitos tipos de horizonte
B, em função dos processos pedogenéticos e do estágio de
formação (idade). É um horizonte dotado de propriedades mais
estáveis, pela posição mais protegida das mudanças
atmosféricas na superfície, e eventuais estragos provocados
pela acção humana. É reconhecido como horizonte de maior

98
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

valor diagnóstico para distinção de classes de solos em todos os


sistemas de classificação de solos.

C Horizonte (ou camada) mineral de material não consolidado,


pouco afectado pelos processos pedogenéticos e que não
possui as características dos horizontes H, O, A, E ou B.

O horizonte ou camada C constitui a secção sob o sólum10.


Grande parte dos seus atributos manifestam-se com
persistência de características litológicas (herdadas da origem).

O material pode ser ou não de igual natureza daquele em que


os horizontes do solum se formaram. Compreende-se como
horizonte C a capa (autóctona ou alóctona) de produtos
detríticos de alteração inicial das rochas de origem, saprólito e
rochas semiconsolidadas que, quando molhadas, podem ser
cortadas com uma pá direita. O horizonte C não forma uma
barreira impenetrável para as raízes das plantas.

R Assentada rochosa consolidada.

Camada mineral de material consolidado que, em muitos solos,


constitui o substrato rochoso, isto é, embasamento litológico de
tal sorte coeso que, quando húmido, não pode ser cortado com
uma pá direita. É a rocha sã. A rocha é obviamente variável
conforme a composição mineralógica, textura, jazimento,
estratificação etc. A camada R pode apresentar fendas, mas
estas são tão poucas e tão pequenas que apenas poucas raízes
podem penetrar.

10
Sólum: designação referente ao conjunto dos horizontes A e B de um perfil de solo.

99
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

É comum distinguir horizontes com características de dois horizontes


principais ao mesmo tempo. Estes horizontes de transição podem-se
identificar com uma combinação de duas letras maiúsculas (p.e. AE,
AB, BC, CA). A primeira letra indica o horizonte principal que
corresponde melhor com o horizonte de transição. Horizontes que
consistem de uma mistura de partes reconhecíveis de dois horizontes
principais são indicadas por letras maiúsculas separadas por uma
barra, p.e.: A/B, E/B, C/A.

Letras minúsculas acrescentadas à letra maiúscula do horizonte ou


camada principal (sufixos) indicam as características específicas do
horizonte; p.e. Bt: horizonte B com evidências de acumulação de argila
iluvial. Para uma lista completa destas letras sufixos refira-se a página
35 do Manual de INIA/UEM (1995).

Números e sufixos podem ser usados para subdividir um horizonte


principal; p.e. Bt1, Bt2, Bt3. Neste exemplo, todos os subhorizontes do
horizonte principal B são caracterizados por uma acumulação
pedogênica de argila. Os subhorizontes podem diferenciar-se quanto a
cor, textura, grau de acumulação de argila, etc….Números e prefixos
são usados para designar descontinuidades litológicas, p.e. A, Bt1, Bt2,
2C. Neste exemplo o horizonte 2C é aparentemente diferente do
material de origem dos horizontes A, Bt1 e Bt2.

UNIDADE Temática 4.2. A cor do solo

4.2- A cor do solo


(tradução adaptada de Van den Berg, 1986)

100
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

4.2.1- Como descrever a cor do solo

Antigamente dava-se nomes subjectivos à cor do solo, como castanha,


vermelha, acinzentada (escala nominal) ou castanha escura, castanha
média, castanha clara (escala ordinal), sem consenso sobre o
significado exacto destes nomes. Actualmente a medição das cores é
feita normalmente pela comparação da cor duma amostra de terra
com um jogo padronizado de fichas coloridas.

Existem dois jogos padronizados de fichas coloridas largamente


aceites: os "Munsell soil colour charts" dos EUA e os "Revised standard
soil colour charts" editado no Japão. O último jogo contém mais cores
e é mais barato.

Os códigos usados para identificar as cores são as mesmas, mas há


pequenas diferenças entre as cores com código igual; especialmente
nas cores mais avermelhadas. Os nomes em inglês dados para as cores
também são diferentes. Portanto, é importante registar o tipo de jogo
de fichas usado para evitar confusão.

Cada ficha colorida leva uma identificação da cor que indica três
propriedades características da cor: matiz (Ing: Hue), valor (Ing: value)
e croma (Ing: chroma).

Figura 9. (A) Esquema demonstrativo das componentes das cores; (B)

101
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

os matizes que compõem o espectro e que aparecem nos cartões


Munsell. Fonte: Kiehl (1979).

i. Matiz
O matiz representa a cor espectral dominante como vermelho,
amarelo, verde. A cor espectral é determinada pelo comprimento da
onda (wavelength) da luz reflectida, que diminui na sequência
vermelho, amarelo, verde, azul, violeta, indicados pelos códigos R (de
red), Y (de yellow), G (de green), B (de blue) e P (de purple)
respectivamente. Estas cinco cores principais, bem como as cores
transicionais: YR, GY, BG, PB e RP podem ser arranjados num círculo,
dividido em 10 fatias iguais, conforme indicado na Figura 9.

Por sua vez, cada fatia que representa a variação dentro duma cor ou
transição entre cores, é dividida em quatro partes (2.5, 5, 7.5 e 10),
cada uma representada por uma página (ou carta, chart) no caderno,
como o exemplo na Figura 10. Cada página é indentificada por uma ou
duas letras maiúsculas (R, YR etc.), precedidas pelo número que indica
a parte da fatia: 2.5, 5, 7.5 ou 10. Quanto maior o número, menor a
onda de luz (p.e. o matiz 10YR é mais amarelo e menos vermelho que
7.5YR). O matiz é indicado no topo de cada página. Para a maioria dos
solos as cores mais comuns estão entre 10R e 5Y.

102
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

ii. Valor
O valor (p.e. 5/ ) representa a relativa claridade da cor, i.e. a
quantidade de luz reflectida. O valor é expressa numa escala de 0 a 10,
onde o 0 não reflecte nada (preto) e o 10 reflecte toda a luz. Para a

103
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

maioria dos solos o valor está entre 2 e 8. Nas cartas Munsell e


Japonesas, indicam-se os valores no lado esquerdo de cada página:
valores baixos (escuro) no fundo e elevados no topo (Figuras 9 e 10).

iii. Croma
O croma (p.e. /4) representa a relativa pureza saturação da cor. Isto
significa o grau de mistura da cor espectral (matiz) com uma cor neutra
como branca ou cinza. O croma é expressa numa escala de 0 a 10,
onde 0 significa que a contribuição do matiz de interesse é 0 (cor
preta, branca ou acinzentada) enquanto croma 10 significa que toda
luz reflectida é do matiz indicado.

Nas cartas Munsell e Japonesas, indicam-se as cromas na parte de


baixo de cada página, de 1 (esquerda) a 8 (a direita), como indicada na
Figura 10. Para cores totalmente acromáticos (acinzentado, branco,
preto), com croma zero, pode-se colocar a letra N (neutro) no lugar da
designação do matiz (p.e. N5/ ).

iv. Anotação
Para registar a cor Munsell usa-se a anotação matiz, valor, croma, com
uma barra ("/") entre o valor e o croma. Por exemplo o código 10YR3/2
representa uma cor com matiz=10YR, valor=3 e croma=2. Na
determinação da cor deve-se manter a amostra o mais perto possível
das fichas e então escolher a cor mais similar.

v. Interpolação
É muito comum que a cor da amostra é intermediária entre duas ou
mais fichas. Nestes casos precisa-se fazer uma interpolação.
Geralmente pode-se fazer isto com uma margem de erro de 1.0
unidades para matiz e 0.5 unidades para valor e croma.

104
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

vi. Cores a serem determinadas


Ao descrever o solo no campo, as cores de material de todos os
horizontes devem ser determinadas tanto numa superfície "fresca",
como numa amostra pulverizada. Sempre deve-se anotar se a cor foi
determinada numa amostra seca ou húmida, pois a humidade faz uma
diferença enorme no valor e no croma. O matiz é praticamente
independente do grau de humidade. Quando a amostra tem cores
averiguados deve-se descrever tanto as cores dominantes ("matiz"),
como as cores de menor ocorrência, p.e. de manchas ou das faces dos
elementos estruturais. Além da cor das manchas deve-se anotar a sua
abundância, seu tamanho e contraste com o matiz, bem como a
clareza dos seus limites, conforme as normas indicadas por INIA/UEM
(1995).

4.2.2- A importância da cor do solo


A cor do solo, em si, não tem muita importância para o uso e maneio
do mesmo. Tem uma certa influência sobre o regime de temperatura
do solo, pois solos escuros absorvem mais radiação do que solos com
cor clara. Isto pode ter algum efeito sobre a germinação de sementes e
o desenvolvimento radicular.

Para os pedólogos a cor é considerada uma característica fundamental,


e é por isto usada na nomenclatura de muitos sistemas de
classificação, p.e. "brown forest soils", "chernozem" (Russo: Terra
Preta), "Latossolo Roxo" etc. Esta importância deve-se a existência de
muitas correlações entre a cor do solo e outras características que são
muito mais difíceis de medir. A validade destas correlações geralmente
se restringe a áreas geográficas limitadas a certos tipos de solo.
Portanto deve-se evitar extrapolações.
105
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Algumas inferências gerais que podem ser feitas a partir da cor do solo
são:

a- Conteúdo de matéria orgânica: Elevado teor de matéria


orgânica corresponde com cor escura (valor e croma baixos).

b- Tipo de óxidos e oxi-hidróxidos de ferro: Solos com hematite


(Fe2O3) apresentam uma cor vermelha mais intensa do que os
solos que contém ferro na forma de goetita (FeOOH,
amarelo-acastanhado), ferrihidrita (ocre) ou lepidocrocita
(FeOOH, rubi-avermelhado a vermelho-castanho). A presença
de certos compostos de ferro reflecte os processos de
formação do solo; p.e. hematita é característica para solos bem
drenados, fortemente intemperizados de regiões tropicais;
lepidocrocita é formado em solos hidromórficos e ferrihidrita é
um produto de oxidação rápida.

c- Condições de drenagem: Solos bem drenados (sem excesso de


água: permanentemente sob condições oxidativas) apresentam
cores uniformes, avermelhadas ou acastanhadas, com cromas
elevados. Solos imperfeitamente drenados (excesso de água
em certos períodos do ano: ambiente alternadamente
oxidativo e reductivo) apresentam mosqueamento
acinzentado, vermelho e preto, devido à redistribuição de ferro
e manganês durante as fases reductivas. Solos muito mal
drenados (permanentemente encharcados: condições
reductivas) apresentam cores uniformes neutras (acinzentada),
por vezes azuladas ou esverdeadas com baixo croma.

d- Presença dum "horizonte sulfúrico" (Ing: sulphuric horizon): Um


horizonte sulfúrico forma-se em solos desenvolvidos em
planícies costeiras, em sedimentos que contêm pirita (FeS2) e

106
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

pouco calcário. A drenagem destes solos resultará na formação


de produtos de oxidação fortemente ácidas (ácido sulfúrico),
bem como do mineral jarosita (KFe3(SO4)2(OH)6). Manchas de
jarosita apresentam uma cor amarela típica, geralmente
aproximadamente 2.5Y 8/6.

UNIDADE Temática 4.3. A textura do solo

4.3- A textura do solo


(tradução adaptada de Van den Berg, 1986)

4.3.1- Nomenclatura
A textura do solo, ou distribuição das partículas por tamanhos,
refere-se a ocorrência relativa das várias classes de tamanho dos graus
minerais individuais do solo. A textura refere especificamente para as
proporções de argila (Ing: clay), limo (Br: silte; Ing: silt) e areia (Ing:
sand) na fracção de terra fina (Ing: fine earth fraction), i.e. a fracção de
partículas com diâmetro menor que 2 mm.

Infelizmente, os termos argila, limo e areia podem ter diversos


significados, o que pode ser uma fonte de confusão. Por exemplo
"argila" pode significar uma classe de tamanhos de partículas, uma
classe textural do solo ou um grupo de minerais.

i. Classes de tamanhos de partículas

Existem vários métodos para definir grupos de partículas minerais


conforme o seu tamanho. O padrão internacionalmente mais
divulgado é o sistema da USDA, adoptado pela FAO (1977) e pelo INIA
(1985), que já foi apresentada na Tabela 3, juntos com o novo sistema
da FAO (1990).
107
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

ii. Classes de textura

Na natureza, o material do solo muito raramente consiste de apenas


uma das classes de tamanhos de partículas descritas acima. Vários
sistemas foram desenvolvidos para denominar diferentes materiais do
solo de acordo com a proporção de cada classe textural. A maioria
destes sistemas usam uma representação gráfica na forma de um
triângulo, com as proporções de areia, limo e argila ao longo das
vertentes. A superfície do triângulo é dividido em partes, chamadas
classes texturais (Ing: texture classes). O triângulo textural mais usado
é o do USDA, adoptado pela FAO e pelo INIA, e é apresentado na
Figura 11a.

As classes de textura "areia", "areia franca" e "franca arenosa" são


ainda subdivididas, de acordo com as proporções de partículas de
areia fina, média e grossa, conforme a Figura 11b. Nesta figura
toma-se o total da fracção areia como 100%. Uma outra maneira para
indicar a "grossura" de material de solo arenoso é pelo M50, que é o
mediano dos tamanhos de partículas de areia.

Para fins práticos, p.e. mapeamento numa escala de reconhecimento,


muitas vezes é preferível usar classes de textura mais gerais, p.e. como
na Figura 11c, usada pela FAO (1990) na Legenda Revisada do Mapa
Mundial de Solos.

108
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

109
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Figura 11 Triângulos texturais: (a) classes de textura; (b) subclasses de


areia;
(c) classes gerais de textura, conforme FAO 1994; INIA/UEM,
1995

iii. Determinação da textura

No campo, a textura do solo é determinada pelo trabalhamento duma


amostra húmida ou molhada entre os dedos. A areia aparece como
grãos ásperos, sem nenhuma aderência. A argila providencia
plasticidade e, às vezes, pegajosidade à amostra. O limo aparece como
um material sedoso, farinhoso, sem a plasticidade e pegajosidade da
argila. Na prática a estimação directa do limo é difícil. Normalmente
estima-se primeiramente os teores de areia e argila, para em seguida
calcular o teor de limo como 100%-(areia+argila). Num solo muito

110
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

argiloso consegue-se detectar a presença de pequenas quantidades de


areia entre os dentes (não fazer com material de solo da superfície).

O valor do M50 pode ser estimado através da comparação com


amostras padronizadas de areia dentro de pequenas recipientes num
chamado "régua de areia".

Estimar a textura no campo é uma questão de prática. Um técnico


experiente geralmente consegue estimar os teores de argila e areia
dum solo com qual ele está familiarizado com uma margem de erro de
aproximadamente 5%. No entanto, existe um grande perigo de erros
sistemáticos, i.e. constantemente superestimar ou subestimar. Este
perigo existe especialmente ao mudar duma região para outra com
diferentes tipos de solo, com mineralogia diferente. A mesma
percentagem de argila pode parecer bem diferente. Um outro perigo
existe ao analisar amostras tiradas ao longo duma transecção,
encontrando mudanças graduais na textura.

A única maneira segura para evitar erros sistemáticos é fazer


"checagens" regulares com amostras de textura conhecida,
determinada no laboratório. Estas amostras devem ser provenientes
da região que está sendo analisada e representar a variação dos
diferentes solos presentes.

É bom ressaltar que resultados de laboratório nem sempre tem a


precisão sugerida pelo número de dígitos atrás do ponto decimal. Os
resultados dependem muito do método usado, especialmente no caso
de solos formadas em cinzas vulcânicas e solos com teor elevado de
calcário, matéria orgânica ou sesquióxidos. No caso de solos orgânicos
e solos com teor elevado de carbonato de cálcio, o conceito textura

111
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

começa a perder sentido. Além disto, laboratórios são manejados por


técnicos (pessoas) que costumam errar.

iv. Fragmentos de rocha e nódulos minerais

As partículas grosseiras (i.e. > 2mm) podem ser divididas entre


fragmentos de rocha e nódulos. Fragmentos de rocha são pedaços
mais ou menos meteorizados do material de origem, que ainda
mantém a estrutura original da rocha e cuja coerência é herdada do
material de origem. Nódulos são corpos discretos não orgânicos
caracterizados por enriquecimento secundário de uma substância
impregnante ou cimentante; i.e., a coerência de nódulos resulta de
processos pedogênicos.

Os nódulos também podem ter tamanho < 2mm, mas nestes casos
passam muitas vezes despercebidos e são incluídos na terra fina; a não
ser que eles se apresentem como um material distinto (cor, forma,
tamanho) do matriz do solo. Por exemplo os nódulos de manganês
apresentam-se comumente como concreções muito finas,
arredondadas, duras e pretas, às vezes indicada por “chumbinho”. Este
material é geralmente facilmente distinguível do matriz do solo.

A determinação da percentagem de materiais com diâmetro maior que


2 mm pode ser feita no laboratório pela crivagem da terra por uma
malha de 2 mm. Então determina-se a porcentagem do material
grosseiro como a percentagem do peso de material que não passou
pelo crivo, em relação ao peso total da amostra. No campo, a
estimação da quantidade de fragmentos de rocha e nódulos é feita
mais convenientemente visualmente, no perfil. Uma maneira mais
exacta é de separar a terra fina dos fragmentos grosseiros e fazer

112
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

montes separadas. Na descrição do perfil caracteriza-se os fragmentos


de rocha em termos de abundância, tamanho, forma, grau de
meteorização e natureza, conforme as indicações do Manual de
INIA/UEM (1995): p. 55-57.

Os nódulos minerais (p. 57-59 do mesmo manual) são descritos


conforme sua abundância, tipo, tamanho, forma, dureza, natureza e
cor. Para indicar a natureza dos fragmentos de rocha usam-se termos
litológicos, como p.e. quartzo, basalto, arenito, xisto etc. A natureza
dos nódulos minerais indica-se pelo principal constituinte (p.e.
carbonatos, enxofre, ferro). Exemplos de descrições completas da
ocorrência de fragmentos de rocha são: (1) Pouco cascalho médio
angular, fortemente meteorizado de origem não identificado. (2)
comuns pedras arredondadas, frescas de basalto. Exemplos para
nódulos: (1) poucos nódulos finos e médios irregulares brandos
avermelhados de ferro; (2) raras concreções finas, arredondadas,
duras, pretas de manganês.

4.3.2- A importância da textura do solo


A textura do solo é uma característica fundamental. Muitas
propriedades físicas e químicas importantes são co-determinadas pela
textura, porque é a textura que condiciona a quantidade de superfícies
(minerais) nas quais ocorrem a maioria das reacções. Portanto, a
textura no campo pode ser usado para obter indicações globais de
outras propriedades do solo. Por exemplo: (1) a capacidade de troca
catiónica aumenta com o teor de argila; (2) a sensibilidade à erosão
hídrica do solo aumenta com o teor de limo e areia muito fina; (3) a
capacidade de retenção de água é menor em solos arenosos do que
em solos argilosos, enquanto (4) a velocidade de ascensão capilar é

113
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

maior nos solos arenosos (mas a influência da capilaridade chega até


níveis mais elevados em solos argilosos).

Estes tipos de inferência devem ser sempre baseados em dados


exactos, obtidos no laboratório ou no campo, da área de estudo.
Nunca deve-se transferir relações entre textura e outras propriedades,
que foram estabelecidas numa área, para uma outra área, sem
validação ou testes suplementares, porque diferenças em tipo e teor
de matéria orgânica, mineralogia da argila, presença de horizontes
diferentes etc. podem ter uma influência muito grande nestas
relações.

O valor prático de dados sobre a textura do solo também diminuem


com o aumento de constituintes que não são analisados no laboratório
durante a análise granulométrica da terra fina. A matéria orgânica
influencia nas características hídricas, nas características de troca
catiónica, na estabilidade da estrutura e muitas outras propriedades
físicas e químicas do solo. Características importantes da matéria
orgânica neste respeito são a sua origem (de que tipo de vegetação) e
o seu grau de decomposição. Fragmentos grosseiros influenciam na
capacidade de armazenamento, infiltração e disponibilidade de água.
Também limitam o volume de material do solo que as raízes podem
explorar e que providencia nutrientes às plantas. A presença de
cascalho grosseiro, pedras e blocos, mesmo poucos, significa uma
limitação severa para o uso de implementos agrícolas.

Efeitos positivos de fragmentos grosseiros são a protecção da


superfície do solo contra forças erosivas e a limitação que estes
fragmentos impõem à evaporação da superfície do solo.

114
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Constituintes do solo como óxidos e hidróxidos de ferro e de alumínio,


carbonatos e gesso podem, mesmo em pequenas concentrações agir
como agentes cimentantes, o que pode causar uma textura
aparentemente mais grosseira do que a textura determinada no
laboratório. Se seus teores forem elevados, estes constituintes podem
dominar as propriedades do solo, como é o caso da plintita (com muito
ferro), bancos de conchas (carbonatos de cálcio) e horizontes
petrogípsicos ou petrocálcicos.

UNIDADE Temática 4.4. A estrutura do solo

4.4- A estrutura do solo

4.4.1- Definições

Segundo a Soil Conservation Service da USDA (1981), a estrutura do


solo refere a “organização natural das partículas de solo em unidades,
que são separadas por superfícies de fraqueza, que persistem por mais
que um ciclo de humedecimento e secagem in situ. Uma unidade
estrutural individual chama-se agregado (Ing: agregate ou ped).

Os agregados distinguem-se dos (1) torrões (Ing: clods), cuja formação


é causada por perturbações, como aração, que moldam o solo em
corpos transientes; (2) fragmentos (Ing: fragments) de solo que são
formados por fendilhamento ou quebras do solo, e que não
reaparecem no mesmo lugar sob secagem; e (3) concreções (Ing:

115
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

concretions) ou nódulos (Ing: nodules), que estão relacionados com


concentrações locais de substâncias que cimentam as partículas
formando unidades discretas dentro do solo.

4.4.2- Descrição da estrutura


Para a descrição da estrutura deve-se colectar um torrão grande do
solo do perfil, de várias partes se for necessário; em vez de observar a
estrutura do solo apenas da face do perfil.

i. Material do solo estruturado e não estruturado


Uma massa de solo que têm agregados chama-se estruturada (Ing:
pedal). Certos solos, como por exemplo solos aluvionares jovens
"imaturos" (barros) ou solos de textura grosseira com pouco húmus,
não têm agregados. Os solos jovens aluvionares não têm agregados,
porém teralo-ãos depois de vários ciclos de dissecação e
humedecimento. Uma areia eólica (duna) nunca terá agregados, por
falta de material aglutinante. Solos sem agregados chamam-se em
inglês apedal11. Alguns autores consideram estes solos como sem
estrutura. Podem ser distinguidos entre maciços, se o material for
coerente, e graus simples, se o material não for coerente, como no
caso da areia dunar. Nota bem que neste contexto o termo maciço só
diz respeito à presença ou não de agregados. Alguns destes solos
podem conter poros largos e ter boas condições para o crescimento de
plantas, enquanto outros são absolutamente impenetráveis por causa
duma elevada densidade, ou distribuição desfavorável de tamanhos de
poros.

11
No Brasil os termos pedal e apedal já foram incorporados no jargão
pedológico, e distingue-se solos pedais e apedais.

116
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

ii. Grau, classe e tipo de estrutura


A estrutura do solo pode ser descrito de acordo com seu grau, classe e
tipo, de acordo com as definições do Manual para a descrição do Solo
(INIA/UEM, 1995; pág. 43-46). Por exemplo, um horizonte de solo
pode ser descrito como tendo uma estrutura forte média anisoforme
subangular. Isto significa que o tipo de estrutura é anisoforme
subangular; o tamanho dos agregados (classe) é média; e o grau de
desenvolvimento é forte. Modelos de tipos de estrutura estão
apresentados na Figura 12.

Figura 12 Tipos de estrutura de solo. (A) granular ou


grumoso; (B) anisoforme subangular e anisoforme
angular; (C) prismático; (D) colunar; (E) laminar.

117
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

iii. Agregados simples e compostos


É bastante comum que num horizonte de solo ocorra mais que uma
estrutura. Em alguns casos as duas estruturas podem ocorrer lado a
lado, por exemplo anisoforme subangular e granular num horizonte A.
Em outros casos pode haver um horizonte de transição cuja parte
superior é caracterizada por uma estrutura diferente da parte inferior,
p. e. anisoforme angular e prismática. Uma terceira forma são os
agregados compostos (Ing: compound).

Um agregado composto pode ser subdividido em agregados simples de


acordo com as superfícies de fraqueza naturais. Em alguns casos os
agregados compostos podem ser subdivididos em agregados que por
sua vez também são compostos. Um agregado não composto (i.e.
agregado simples; Ing: simple ped) não pode ser subdividido em
elementos menores ao longo de superfícies de fraqueza naturais. Na
prática isto significa que obtém-se pedaços com faces diferentes das
faces dos agregados originais, i.e. formam-se torrões. As faces destes
pedaços têm cor diferente, tem menos lustrosidade e são mais
ásperos.

iv. Representação gráfica da estrutura


Para pessoas inexperientes fica difícil imaginar o perfil do solo,
somente ao ler uma descrição em palavras ou símbolos de códigos. A
representação gráfica dos dados mais importantes relacionados com a
estrutura do solo pode ajudar a criar esta imagem. Em princípio, o
único benefício para tal representação gráfica é que isto providencia
uma figura sugestiva.

118
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

4.4.3- Pedogénese e a estrutura do solo

A estrutura do solo reflecte os processos de formação do solo. Os tipos


de estrutura podem pertencer a um ou mais dos seguintes grupos, de
acordo com a maneira de formação do solo:

● estruturas geogênicas, herdadas do material de origem, p.e.


estratificação sedimentar, lâminas de xisto;

● estruturas biogénicas, produzidas pela actividade biológica;

● estruturas fisicogénicas, que resultam dos processos físicos,


como expansão e encolhimento relacionados com mudanças
de temperatura e humidade.

Muitos pedólogos não incluem as estruturas geogénicas nas estruturas


do solo.

Um tipo especial de estrutura fisicogénica (ou biogênica) é a


antropogénica, formada sob influência da actividade humana, como
aração, movimento de veículos e "puddling" de arrozais. Estas
actividades causam além de perturbações e compactação directa, uma
maior exposição do solo à atmosfera.

Exemplos típicos de estruturas biogênicas são a estrutura granular e


grumosa; as estruturas prismática e anisoforme angulosa são
tipicamente fisicogênicas, enquanto a estrutura laminar é comumente
induzida pela acção humana ou herdada duma estratificação
geogénica.

Ocorrem muitas transições entre os três grupos genéticos principais.


Por exemplo, a estrutura anisoforme subangulosa pode ser
119
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

considerada transicional entre biogénica e fisicogénica; a estrutura


laminar pode ser uma transição entre uma estrutura geogênica e
fisicogênica; e solos sem estrutura com estratificação localmente
perturbada pela actividade biológica (raízes, pequenos animais) são
transicionais entre geogênicos e biogênicos.

São raros os casos em que existem dados exactos sobre como um


certo tipo de estrutura se formou. Em muitos casos o modo de
formação ainda é polémico, como no caso dos ferralsolos (Veja o tema
Classificação do Solo). Estes solos, típicos para planaltos antigos das
regiões tropicais húmidas, apresentam uma estrutura forte granular
muito fina (agregados <<1 mm) até grande profundidade. Alguns
cientistas consideram esta estrutura como sendo biogênica,
relacionada com a presença de térmitas (Br:cupins). Como esta
estrutura pode ocorrer até 6 m de profundidade ou mais, outros
acham que esta estrutura é fisicogênica, formada pela agregação das
partículas primárias de óxidos e/ou hidróxidos de ferro e/ou alumínio.

Ao descrever o perfil dum solo deve-se separar estritamente os factos


das inferências. Portanto, recomenda-se descrever a estrutura
somente em termos de grau, classe e tipo. Suposições relativas à
formação podem ser dadas separadamente.

A seguir vem uma discussão mais aprofundada das estruturas


fisicogênicas e biogênicas. A importância da estrutura do solo para o
seu maneio e aptidão são discutidas nos temas posteriores.

i. Estruturas Fisicogénicas
Estruturas de solo fisicogénicas são formadas por processos de
fragmentação e agregação. A fragmentação pode ser causada por

120
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

exemplo, pela dessecagem ou congelamento. A dessecagem, devido à


evapotranspiração, causa o encolhimento da fracção coloidal (argila e
matéria orgânica) e resulta no fendilhamento da massa do solo. Solos
que contêm poucos materiais sujeitos ao encolhimento, por exemplo
areias pobres em húmus, não têm agregados. Por outro lado, um solo
muito argiloso numa bacia de decantação aluvial, mostra agregação
distinta durante um verão seco. O humedecimento de tal solo, resulta
virtualmente no desaparecimento total ou parcial das fendilhas, por
causa da expansão dos minerais. No entanto, as fendilhas podem
permanecer como superfícies naturais de fraqueza, ao longo das quais
o solo formará fendilhas novas sob um novo ciclo de dessecagem. Este
efeito será favorecido pelo revestimento das faces dos agregados com
películas, por exemplo de argila, provenientes de horizontes
sobrepostos. Um efeito semelhante é obtido por ciclos de
congelamento e degelamento.

Os processos que favorecem a agregação das partículas de solo são a


adesão e a coesão. Os principais agentes aglutinantes são a matéria
orgânica, o ferro, os carbonatos e as partículas de argila. A estabilidade
de agregados (a sua resistência contra a destruição), depende, além de
outros factores, dos tipos e teores de agentes aglutinantes, da
concentração e dos tipos de cations adsorvidos no complexo de troca
de cations, e os tipos de minerais de argila.

ii. Estruturas biogénicas


As estruturas biogénicas são formadas principalmente pala acção das
minhocas nas regiões de clima temperado, e insectos, como formigas e
térmitas nos países de clima tropical. Estes pequenos animais são
responsáveis pela granulação do solo, a transformação de agregados
angulares para subangulares, etc. A actividade radicular também tem

121
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

um papel neste respeito. A formação de muitos tipos de estrutura em


solos usados para fins agrícolas, pode ser explicada pela influência
conjunta da actividade biológica e processos físicos. A parte arada dum
solo de textura franca, que a muito tempo está sendo usado para o
cultivo intensivo de cereais ou batatas, tem agregados fisicogénicos e
(poucos) poros biogênicos (Slager, 1966).

UNIDADE Temática 4.5. A porosidade do solo

4.5- A porosidade do solo

4.5.1- Definição
Considera-se como poros, todos os espaços não ocupados pela fracção
sólida no solo. Os poros estão relacionados com o arranjo das
partículas primárias, padrões de enraizamento, escavações de animais
e outros processos de formação do solo, como fendilhamento,
translocação, lixiviação etc.

Em Inglês, existem dois termos para a porosidade: "voids", cuja


tradução mais aproximada seria "vazios", e "pores". O termo "pores" é
um pouco mais restrito, excluindo por exemplo fendilhas e planos.

O volume do espaço poroso (porosidade) em solos minerais está


geralmente entre 1/3 (p.e. areias e material franco compactos) e 2/3
(p.e. solos vulcânicos e solos "fofos" com teor relativamente elevado
de matéria orgânica) do volume total do solo; sendo a média
aproximadamente 1/2. Em solos orgânicos (histossolos=turfas) a
porosidade pode ser muito maior e chegar a mais de 90%.

122
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Nota-se bem que a porosidade do solo não é uma característica


constante, mesmo em solos não cultivados. A porosidade de solos
minerais com argila 2:1 (p.e. montmorilonita) pode sofrer
modificações consideráveis ao humedecer e dessacar. Solos orgânicos
quando alagados também apresentam uma porosidade maior do que
quando forem drenados, devido às forças "boiantes" da água freática
(efeito esponja). Por isto, na classificação do solo, usa-se a humidade
do solo a uma sucção de 33 kPa (±1/3 bar) como humidade padrão
para a determinação da porosidade do solo. Em solos esqueléticos
(p.e. areias) e solos com argila 1:1 (p.e. caulinita) a porosidade do solo
é praticamente independente da sua humidade.

4.5.2- Descrição dos poros


Não somente a porosidade total, mas também a geometria dos poros
são características importantes, que merecem ser incluídas numa
descrição morfológica. Infelizmente não existe nenhum método
prático para descrever adequadamente a rede complexa de poros
interligados ou fechados. A descrição no campo deve ser focalizada
nos poros formados pela acção das raízes, animais e bolhas de ar, bem
como qualquer arranjo incomum que podem ser vistos ao olho nu
(macroporos) ou com ajuda de um lente de aumento de bolso.

O sistema da FAO (1990) descreve os poros conforme o tipo, o


tamanho e a abundância. Uma lista de tipos de poros está no Quadro
1. O Manual para a descrição do solo (INIA/UEM, 1995), só trata dos
poros cilíndricos (canais).

123
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

4.5.3- Formação dos poros

Da mesma forma que a estrutura, os poros podem ser divididos


geneticamente entre geogénicos, fisicogénicos e biogénicos. Poros
intersticiais em sedimentos arenosos são geogénicos; fendilhas,
formadas sob humedecimento e dessecagem, congelamento e
degelamento são fisicogénicas, bem como os poros vesiculares
formados por bolinhas de gás. Canais tubulares e poros intersticiais
compostos, são biogénicos. Canais biogénicos são comumente
chamados de bioporos.

Os bioporos são formados pela actividade de raízes e/ou animais no


solo. Os raízes não podem penetrar um solo de textura arenosa, com
arranjo de partículas adensado. Primeiramente o solo deve ser
perfurado ou solto pela acção animal ou artificialmente (p.e. lavoura).
Em seguida o material do solo se arranja em volta das raízes; e quando
as raízes morrem e são decompostas, resulta um bioporo.

Muitos bioporos são fósseis. Por exemplo, em solos bem drenados


formados em loess (sedimento plistocênico de origem eólico) pode-se

124
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

encontrar bioporos até vários metros de profundidade. Uma boa parte


destes poros resultam da sedimentação eólica na vegetação existente.
Um processo similar é importante em solos aluvionares. Por exemplo,
o suprimento de oxigénio em espécies como Avicennia (mangrove),
que ocorrem ao longo do litoral Moçambicano, crescendo numa lama
fisicamente "imatura" é garantido pelos pneumatóforos, em volta das
árvores.

Quando a superfície do solo sobe, devido à sedimentação, os


pneumatóforos acompanham a mudança. Muitas vezes ocorre nestes
solos uma acumulação de óxidos de ferro no ambiente oxigenado em
volta dos pneumatóforos. Depois de reclamar e drenar estes solos, a
aerênquima dentro dos pneumatóforos encolhe e deixa um sistema
extensivo de bioporos grosseiros e muito estáveis, graças aos
revestimentos secundários (películas) de óxidos de ferro.
Bioporos grosseiros podem-se formar também como consequência do
crescimento lateral das raízes.

Os principais animais formadores de bioporos são as minhocas nos


países de clima temperado e as térmitas e formigas nas regiões de
clima tropical. Outros animais como baratas, besourinhos, centopeias
etc. também podem ser importantes sob certas circunstâncias.
Animais grandes, como camundongos, coelhos, cachorros do mato,
tatus e javalis também podem ter uma função importante ao
transportar e soltar o material do solo. Roedores e insectos grandes
são responsáveis pela formação de "crotovinas" (cavidades
preenchidas com material dum horizonte ou camada diferente), que
podem ocorrer até profundidades consideráveis.

125
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

4.5.4- A importância dos poros


O tamanho, a forma e a abundância de poros são características
importantes que influenciam na aptidão de uso do solo. As principais
funções dos poros estão relacionados com o transporte de gases, o
transporte e armazenamento de água e a penetração dos raízes.

i. Transporte de gases
Os poros grosseiros são responsáveis pela difusão do ar no solo
(aeração). O oxigénio no solo é consumido pelas raízes das plantas e
por animais, fungos e bactérias presentes no solo, resultando na
produção de CO2. Quando o intercâmbio do ar entre o solo e a
atmosfera é suboptimal, ocorrerá deficiência de oxigénio, que impede
o crescimento dos raízes. Em geral a aeração é mais intensa quando os
poros são mais grosseiros e contínuos e pouco tortuosos.

Em solos arenosos sem estrutura o transporte de ar ocorre pelos poros


intersticiais simples (entre os grãos de areia). Em solos de textura mais
fina, o transporte de ar ocorre pelos poros intersticiais compostos
(entre agregados) e pelos canais tubulares. Em solos argilosos com
fendilhamento os poros planares também são usados para transportar
gases.

ii. Transporte de água


Os mesmos poros largos que cuidam da aeração do solo removem
também os excessos de água no solo. Quanto mais largos os poros,
mais eficiente é a remoção de água. Existe uma relação clara entre a
abundância de canais largos e a conductividade hidráulica dum solo
saturado com água.

126
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

A maioria dos canais e poros intersticiais continua aberta mesmo se o


solo estiver molhado. Muitos vazios planares, no entanto, fecham sob
humedecimento, devido à expansão do material de solo. Este
fenómeno explica a conductividade hidráulica elevada destes solos
quando secos e muito baixa quando molhados.

iii. Armazenamento de água


O armazenamento de água ocorre nos poros finos (capilares) e em
certas partes finas dos poros largos, enquanto forem capazes de
segurar a água contra a força gravitacional. É importante que o
transporte de água pelos poros grosseiros não seja demasiadamente
rápido, já que o material do solo adjacente precisa de tempo suficiente
para absorver água.

iv. Penetração de raízes

As características do sistema poroso também determina a presença ou


não de barreiras mecânicas para as raízes. Wiersum (1957) achou que
as raízes primárias e secundárias da maioria das culturas só são
capazes de entrar poros com paredes rígidas se estes tiverem diâmetro
superior a 0.2 mm. Em solos arenosos, sem estrutura pedológica
(grãos simples), nos quais o tamanho dos poros intersticiais depende
somente do tamanho dos grãos do esqueleto do solo, só ocorrem
poros mais grosseiros que 0.2 mm se os grãos de areia forem maiores
que 0.8 mm. No entanto, areia tão grosseira tem uma capacidade de
retenção de água muito baixa.

Em solos de textura franca ou argilosa, as raízes podem seguir poros


intersticiais compostos, canais ou planos. Os últimos são, em geral, não
muito atractivos para o crescimento de raízes, especialmente em solos

127
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

com montmorilonita, pois a secagem do solo causa um alargamento


destes planos de tal maneira que as raízes ficam muito expostos ao ar
e a dessecação. Ao molhar, os planos fecharão e a aeração ficará
limitada. As raízes podem mesmo ficar danificados fisicamente pela
pressão das faces dos agregados. Uma vez que uma raiz entrou no
solo, dependerá da rigidez das paredes do poro se o raiz conseguirá
alargá-lo durante seu crescimento.

Deve ter ficado claro que para termos um ambiente com balanço
hídrico favorável, com boa aeração e sem barreiras para o
desenvolvimento radicular, deve-se ter poros contínuos de tamanhos
diferentes durante todo o ano. Hoeksema (1954) resumiu estas
condições a um "sistema permanente de poros heterogéneos e
contínuos" (permanent heterogeneous system of continuous voids).

4.5.5- Deterioração e regeneração da estrutura

i. Actividades de maneio que proporcionam a deterioração


estrutural

O homem muitas vezes causa mudanças estruturais desfavoráveis com


actividades como:
● remoção da vegetação natural;
● aração (lavoura);
● uso de máquinas pesadas;
● intensidade excessiva de cultivo;
● intensidade excessiva de pastagem.

A remoção da vegetação natural causa fortes mudanças da actividade


biológica no solo. A exposição à atmosfera do solo nu torna o solo
muito mais vulnerável às influências das variações meteorológicas. A

128
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

incidência directa da radiação causa grande elevação da temperatura


do solo superficial, o que resulta num aumento pronunciado da
velocidade de decomposição matéria orgânica por microorganismos e
processos químicos. A matéria orgânica tem um papel importante
como agente aglutinante de partículas; e a diminuição do teor de
matéria orgânica no solo torna a sua estrutura menos estável.

Os agregados menos estáveis são facilmente destruídos pelo impacto


directo das gotas de chuva (splash). Isto torna o solo mais vulnerável à
erosão hídrica ou eólica, havendo subsequentemente uma diminuição
da actividade biológica, devido às variações extremas de temperatura
e humidade e a teores mais baixos de matéria orgânica.

A aração na lavoura causa um aumento da superfície do solo exposto à


atmosfera pela destruição mecânica de agregados e a formação de
uma superfície "rugosa". Isto favorece a oxidação da matéria orgânica
e por consequência, a diminuição da estabilidade estrutural, o que
pode dar origem ao esboroamento (Ing: slaking) dos agregados, i.e. a
destruição ou desintegração de agregados do solo nos seus
constituintes originais, comumente observado em solos recentemente
arados e sujeitos ao impacto das chuvas. Durante este processo as
partículas de limo, argila, areia e matéria orgânica ficam sorteadas pela
água e formam uma crosta adensada na superfície do solo.

O uso de máquinas pesadas favorece a compactação mecânica. Por


exemplo, um tractor num solo cultivado exerce pressão mecânica sob
as rodas, devido ao peso da máquina, vibração do motor e
deslizamentos pelo movimento das rodas. A compactação é pior
quando as actividades são exercidas sob condições desfavoráveis
(excesso de humidade no solo). A regeneração da estrutura pela

129
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

actividade biológica é limitada, entre outras razões devido à falta de


alimentos adequados para os animais em condições de lavoura.

A intensidade excessiva de cultivo causa geralmente em primeira


instância a degradação química (empobrecimento nutricional), seguido
pela degradação física, devido à exposição excessiva do solo, sob uma
cultura que já não pode formar uma cobertura vegetal fechada, por
falta de nutrientes. A intensidade excessiva de cultivo não é
exclusividade da agricultura moderna; ao contrário. Na agricultura
moderna geralmente repõem-se os nutrientes absorvidos pela cultura.
É um fenómeno muito comum em regiões de transição de agricultura
familiar para agricultura privada, e quando o aumento da densidade
populacional força os agricultores a manter pousios cada vez menores
ou cultivar áreas menos aptas para a agricultura.

Uma outra situação é em regiões socialmente desestabilisadas (p.e.


devido à guerra) com imigração de agricultores sem experiência nos
solos da região (por exemplo, parte das zonas verdes de Maputo).

A intensidade excessiva de pecuária causa problemas semelhantes à


combinação da intensidade excessiva de cultivo (se os produtos da
pecuária forem tirados da área) e a mecanização. Neste caso é o
pisoteio do gado que pode causar a degradação física. Em pastagens
demasiadamente grandes o gado costuma andar sempre nos mesmos
caminhos, iniciando sulcos de erosão. Este problema é especialmente
grave em regiões semi-áridas, em que há insuficiência de forragem,
verificando-se que nos anos mais secos o gado consome praticamente
toda vegetação, deixando o solo descoberto e susceptível à erosão das
primeiras chuvas torrenciais.

130
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

ii. Morfologia de estruturas deterioradas


A combinação dos processos acima mencionados resulta na formação
duma crosta de grãos simples, maciça ou estratificada na superfície do
solo; e/ou dum imperme de lavoura com estrutura laminar ou
anisoforme angular no limite inferior do horizonte Ap.

A formação duma crosta externa (como resultado de slaking), é


geralmente mais pronunciada em solos com elevado teor de limo ou
areia fina e relativamente pouca argila (p.e. franco siltoso, areia franca
fina) bem como em solos com elevado teor de sódio trocável. As
crostas superficiais são caracterizadas pela presença de vesículas,
relacionados com confinamento de gases, numa estrutura adensada.
As crostas podem ocorrer nas áreas baixas entre os torrões de terra,
ou cobrir toda a superfície.

Em solos com teor de argila mais elevada, os agregados são melhor


desenvolvidos. No entanto, desagregação em profundidade ou
"micro-erosão" (transporte por fendilhas de material da superfície do
solo para camada inferior) podem resultar na formação duma camada
adensada sob a profundidade de lavoura:

imperme induzido ou imperme de lavoura (Br: pã induzido ou pã de


arado; Ing: plough pan). Em solos de textura média estas camadas
consistem de agregados laminares adensados, com poucos poros
visíveis. Nos solos argilosos costumam ter estrutura anisoforme
angular, devido ao fendilhamento como consequência do
encolhimento ao secar. Em solos de textura arenosa este imperme se
manifesta como uma camada muito adensada sem estrutura.
Impermes induzidos têm 5 a 10 cm de espessura, mas a compactação
causada pela vibração e pressão pode continuar até mais baixo,

131
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

reflectindo-se por um aumento de microporos e a diminuição de poros


grosseiros.

iii. Características do solo que promovem a deterioração


estrutural

Deve-se ressaltar que as características do solo que promovem a


deterioração estrutural não estão exclusivamente relacionadas com a
textura do solo, como pode ter sido sugerido nos exemplos acima.
Entre as características do solo que agravam a deterioração estrutural
destacam-se:
● Elevado teor de limo ou areia fina
● Teor de matéria orgânica muito baixo ou muito elevado
● Ausência de carbonato de cálcio
● Baixo teor de alumínio e ferro
● Sodicidade/alcalinidade
● Excesso de humidade

O limo e a areia fina são as fracções do solo que são (1) fracamente
coesivas, devido à sua baixa superfície específica e baixa densidade de
cargas (em comparação com a argila) e (2) facilmente transportáveis
por serem de tamanho reduzido (em comparação com a areia média e
grossa).
A matéria orgânica, o carbonato de cálcio e óxidos de ferro e alumínio
têm a capacidade de estabelecer ligações fortes entre as partículas do
solo, formando desta maneira agregados estáveis. No entanto, solos
com matéria orgânica muito elevada são muito untuosos (Ing:
smearing) e esponjosos, o que pode facilitar a vedação dos poros, e
compactação por máquinas ou gado.

132
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Solos com excesso de humidade, especialmente com elevado teor de


argila e/ou matéria orgânica, são facilmente deformáveis. A
plasticidade e pegajosidade de solos molhados causam untadura
(smearing) quando trabalhados, ou pisoteados.

iv. Efeitos práticos da degradação do solo


Crostas superficiais e impermes induzidos são prejudiciais, pois
impedem o transporte vertical de água e ar pelo solo, implicando
aumento do risco de ocorrência de excesso de água no solo superficial,
além de impor uma restrição ao desenvolvimento radicular. Isto não só
afecta o crescimento das plantas, como também dificulta as operações
de maneio, e torna o solo mais sensível à compactação.

A deterioração estrutural torna o solo mais sensível à erosão, por duas


razões: (1) partículas dos agregados instáveis ou das crostas
superficiais podem ser facilmente deslocados pelo impacto de gotas
de chuva, como explicado acima e (2) as camadas adensadas na
superfície têm baixa capacidade de infiltração, e consequentemente
haverá maior escoamento superficial de água. Com a perda do solo e
água também perde-se nutrientes e matéria orgânica do horizonte A.
O horizonte E ou B ficará à superfície do solo. Estes horizontes
geralmente têm propriedades físicas e químicas menos favoráveis
(especialmente o E) para o crescimento das plantas do que o horizonte
A.
Em solos com características físicas e/ou químicas degradadas, fica
mais difícil obter uma cobertura vegetal completa do que em solos
com suas características originais preservadas. Por isto, uma maior
parte do solo fica exposta à atmosfera durante mais tempo,
tornando-lhe mais vulnerável aos processos de deterioração
estrutural.

133
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

O acima exposto deixa claro que, os processos de deterioração


estrutural formam um espiral vicioso, o que os torna ainda mais
perigosos.

v. Melhoramento de estruturas deterioradas

Para melhorar a estrutura de camadas deterioradas ou adensadas


naturalmente, deve-se promover a formação dum "sistema
permanente de poros heterogéneos e contínuos". Alguns exemplos
são:

● Arar para soltar uma superfície adensada e compactada

● Fazer uma aração profunda para misturar camadas com


características favoráveis e desfavoráveis (p.e. areia pobre em
matéria orgânica com areia húmida, para aumentar a
profundidade potencial de enraizamento).

● Fazer uma aração profunda para soltar o subsolo de textura


arenosa com arranjo adensado de partículas.

● Quebrar/Misturar camadas que actuam como barreiras


mecânicas para o desenvolvimento radicular e transporte de
água e ar.

Se estas operações forem executadas sob condições desfavoráveis


(demasiadamente molhado) ou se forem executadas em solos que não
são aptos para tal, o resultado (no médio ou longo prazo) será
deterioração estrutural em vez de melhoramento.

vi. Prevenção da deterioração estrutural

134
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Para prevenir a deterioração estrutural deve-se:

● Estimular a actividade biológica pelo suprimento de matéria


orgânica ao solo (p.e. "mulching", adubação com estrume,
rotação com pousio, evitar retirar todos os órgãos da planta
sem deixar nada para ser incorporada na terra (p.e. batata
doce);

● aplicar gesso aos solos com elevado Na+ trocável;

● minimizar o período que os solos estão descobertos;

● minimizar as práticas de maneio do solo;

● promover a remoção de excessos de água por sistemas de


drenagem;

● adoptar práticas para evitar erosão, tais como; plantar em


contornos, culturas consociadas, terraceamento.

135
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

UNIDADE Temática 4.6. A consistência do solo

4.6- A consistência do solo

4.6.1- Conceitos e definições

A consistência do solo refere à resistência do material do solo para


deformações ou ruptura. A consistência depende do grau e tipo de
coesão (entre materiais similares) e adesão (entre materiais
diferentes), do solo e das condições de humidade.

A consistência do solo é uma função da superfície específica, da


quantidade e da força dos contactos por unidade de área de superfície.
Portanto, varia com o tamanho, a forma, a natureza e o arranjo das
partículas do solo e da natureza dos "filmes" de humidade em volta
destas partículas.

A água exibe coesão, como indicado por sua tensão superficial. As


moléculas de água, sendo dipolares, também são absorvidas e se
orientam em partículas de solo com cargas eletroestatícas negativas ou
positivas. Sob secagem, partículas vizinhas se atraem, e o solo
desenvolve maior coesão e força mecânica, o que resulta em
encolhimento.

A adição de água tem um efeito oposto à secagem, por aumentar a


largura de filmes de água em volta das partículas do solo. Quantidades
adicionais de água tornam o solo plástico, e mesmo perder a sua
coesão, aproximando um fluido. Portanto, sob teores diferentes de
água, o solo apresenta consistências diferentes. Em solos cimentados,

136
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

também outras forças que a adesão entre as partículas do solo estão


envolvidas.

Segundo o "Soil Survey Manual (Manual de Levantamento de Solos,


Soil Conservation Service, 1981) Material de solo é considerado
cimentado, se um agregado não se desintegra depois de uma hora de
imersão em água". Se o agregado se desintegra, o material não é
considerado de cimentado. Agentes cimentantes podem ser: calcário,
gesso, ferro e sílica.

O termo compacto refere para material com uma consistência húmida


que é firme a extremamente firme, e um arranjo cerrado das
partículas. Material compacto não se desintegra depois de uma hora
de imersão em água. Compacidade é um termo genérico que pode
referir a material compactado, resultante da acção externa (p.e.
máquinas pesadas) ou material adensado, que resulta de processos
naturais, pedogenéticos (p.e. iluviação de argila de horizonte A ou E
para horizontes Bt) ou geogenéticos (p.e. sedimentação cerrado).

4.6.2- Descrição da consistência e cimentação do solo


A terminologia para a descrição da consistência do solo no campo
(INIA/UEM, 1995) inclui termos diferentes para os três estágios de
humidade: molhado, húmido e seco.

Geralmente não é necessário descrever a consistência do solo sob


todas estas três condições padronizadas. A consistência húmida é
geralmente mais importante, pois é o estado mais comum de muitos
solos. A consistência do solo seco é geralmente útil, mas não é
relevante em solos que nunca estão secos. A mesma coisa se aplica
para a consistência do solo molhado. Um problema prático para a
137
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

determinação da consistência no campo, é que é bastante difícil de


secar uma amostra no campo. Também é difícil obter no campo uma
amostra húmida a partir duma amostra seca.

O grau da cimentação não depende do teor de humidade no solo.


Descreve-se a consistência do solo seco e húmido, bem como o grau
de cimentação, em termos duma característica que pode-se chamar
resistência à ruptura (Ing: soil strength), ou seja, a força ou pressão
mínima necessária para quebrar o material. A resistência à ruptura é
descrita em termos de solto, friável, firme para material húmido; solto,
brando, duro para material seco; e não cimentado, cimentado para
material cimentante. No caso de material cimentante também
descreve-se a continuidade e a estrutura do material, bem como a
natureza do agente que causa a cimentação.

A consistência de material molhado é descrita em termos da


pegajosidade (Ing: stickiness): a qualidade de adesão do material do
solo a outros objectos; e a plasticidade (Ing: plasticity): a habilidade
do material do solo de mudar continuamente de forma sob a
influência de uma pressão aplicada e de conservar a forma impressa
após cessar a pressão.

A pegajosidade e a plasticidade do solo dependem do grau de


destruição da estrutura, bem como da humidade. A determinação
destas características deve ser feita sob condições padronizadas, numa
amostra de solo cuja estrutura é completamente destruída, e que
contém água suficiente para expressar o máximo de pegajosidade e
plasticidade. Desta maneira possibilita-se a comparação entre graus de
pegajosidade e plasticidade de solos diferentes.

138
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

As classes e definições dos vários tipos de consistência estão nas


páginas 47-49 do Manual Para a Descrição do Solo (INIA/UEM, 1995).
Os termos para a descrição da cimentação e compacidade estão nas
páginas 52 e 53 do mesmo manual.
Tabela 4 Comparação de consistência de um Ferralsolo argiloso e um
Vertissolo argiloso duma região subtropical
(fonte: Brasil, 1973)

Profundi C% Argila Consistência

Solo Horizo dade %


seco húmido
nte (cm)

Ah 0-15 1.8 74 ligeirament friável pou

Ferralsolo e dura plás

Húmico Bws 90-150 0.7 82 dura friável pou


plás

Ah 0-20 1.8 60 muito dura muito mui

Vertissolo firme plás

éutrico A/C 43-50 0.8 64 extremam muito mui


ente dura firme plás

4.6.3- A importância da consistência e cimentação do material do


solo

i. Importância pedológica
A consistência do solo não depende apenas da textura e da humidade
do solo, mas também da mineralogia da argila, dos cations trocáveis e
do teor de matéria orgânica. Portanto, é uma característica do solo
139
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

bastante complexa. Isto é ilustrado na Tabela 4, que compara a


consistência dum Ferralsolo argiloso com a dum Vertissolo argiloso. A
mineralogia do Ferralsolo é dominada pela caulinita e por óxidos e
hidróxidos de ferro e alumínio. Os Vertissolos são ricos em smectitas
(Veja o tema de Classificação do Solo).

ii. Importância para o maneio do solo


A consistência do solo também é de grande importância prática, em
relação ao uso do solo, tanto para fins agrícolas, como para obras de
engenharia. As consistências no estado seco e húmido determinam,
juntos com outros factores, as possibilidades de trabalhar o solo, p.e. a
facilidade de preparação do solo para a sementeira, uma actividade
que deve-se evitar em solo molhado.

A presença de material de solo cimentado, a uma profundidade rasa, é


uma limitação séria neste respeito. As consistências húmida e molhada
também são importantes para determinar a transitabilidade do solo e
o risco de compactação do solo pelas máquinas agrícolas e pelo gado,
actividades que muitas vezes não podem ser evitadas quando o solo
estiver molhado. A consistência do solo também está correlacionada
com o enraizamento dos horizontes.

Exercícios

1- Explica porque a velocidade de ascensão capilar é maior


em solos de textura arenosa, enquanto a altura de
equilíbrio da ascensão capilar é maior em solos argilosos.

2- Explica como fragmentos de rochas e pedras influenciam no


armazenamento e na infiltração de água.

140
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

3- Avicennia (mangue) possui pneumatóforas, para abastecer


o sistema radicular com oxigénio. Explica como isto
beneficia (ou não) a porosidade do solo, mesmo depois do
solo ser drenado e usado para agricultura.
4- Descreva em seis linhas a importância da estrutura e
porosidade e qual o sistema de porosidade e estrutura seria
ideal para culturas.
5- Porque a matéria orgânica é decomposta mais rapidamente
sob cultivo do que sob condições naturais?. Isto é sempre
uma desvantagem?
6- O uso de máquinas pesadas em solos demasiadamente
húmidos causa compactação. Quais problemas podem ser
esperados se o solo for muito seco.
7- Explica a ocorrência de poros vesiculares em crostas.

141
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

TEMA - V: CLASSIFICAÇÃO DO SOLO

UNIDADE 5.1. Mapa dos solos do mundo (FAO/UNESCO/ISRIC)


UNIDADE 5.2. Os agrupamentos principais dos solos
UNIDADE 5.3. Levantamento de solos

Classificação do solo
(traduzido livremente do inglês de Pape et al., 1992)

A ciência do solo foi primeiramente desenvolvida na Rússia e mais


tarde nos Estados Unidos. Ambos países tem vastas áreas de depósitos
plistocênicos de origem glacial e eólica, uniformes que formam uma
paisagem com relevo suavemente ondulado. Naquelas áreas existe
uma correlação bastante clara entre zonas climatológicas e tipos de
solo. Portanto, não é de estranhar, que os primeiros sistemas de
classificação de solos destes países foram desenvolvidos em base deste
zoneamento (Dokuchaev and Sibiceff, citado por Glinka, 1914; Baldwin
et al., 1938).

Solos que correspondem com as condições normais das suas zonas


foram chamados solos zonais (Ing: zonal soils). Solos que eram
diferentes das condições normais por causa da influência dominante
de um factor de formação específica, sem ser o clima atmosférico (p.e.
drenagem impedida ou material de origem distinta) eram chamados

142
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

solos intrazonais (Ing: Intrazonal soils); enquanto solos que podem


ocorrer em qualquer zona climática, por serem incipientes (nos
primeiros estágios do seu desenvolvimento) eram chamados azonais
(Ing: azonal soils).

Subdivisões subsequentes, baseadas na génese dos solos resultaram


num sistema de classificação genética. No entanto, pedólogos podem
discordar quanto à génese dum solo, o que em muitos casos resulta
em diferentes nomes para um mesmo solo. A falta de um sistema de
nomenclatura mundialmente aceite, ainda aumentou a confusão.

Ficou claro que um sistema de classificação de solos deve ser baseado


em propriedades mensuráveis (factos objectivos), e não na suposta
génese do solo (teorias subjectivas). Como resultado, foram
desenvolvidos sistemas de classificação morfométricos, dos quais os
mais importantes são: a legenda do mapa dos solos do mundo
(FAO/Unesco/ISRIC, 1974, 1988), o sistema americano Soil Taxonomy
(Soil survey staff, 1975, 1990), o sistema francês (CPCS, 1967) e, para
solos tropicais, o sistema brasileiro (Camargo et al., 1987; Oliveira et
al., 1992).

Apesar de estes sistemas serem morfométricos, a filosofia por traz


deles continua sendo principalmente baseada na suposta génese dos
solos. No entanto, critérios diagnósticos são baseados em
características mensuráveis (dos horizontes) do solo. Estas
características são considerados os sintomas de processos
pedogenéticos passados.

143
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Nestes apontamentos será empregado o sistema revisto da


FAO/Unesco/ISRIC (1988/1990), para ilustrar a classificação e
nomenclatura.

UNIDADE Temática 5.1. Solos do mundo

5.1- O mapa dos solos do mundo (FAO/UNESCO/ISRIC)


A FAO e UNESCO, em cooperação com a ISSS (Sociedade Internacional
de Ciência do Solo), começaram em 1961 com a preparação de um
mapa dos solos do mundo na escala 1:5M, que foi compilado de
material existente. Este trabalho envolveu a cooperação de mais de
300 cientistas de solo do mundo inteiro. A publicação foi feita em 19
folhas de mapa e 10 volumes de textos explanatórios (FAO,
1971-1981).

O volume I, a Legenda discute o sistema de classificação de solos


usado, bem como as regras e convenções para o uso de unidades
taxonómicas na legenda dos mapas (a maioria das unidades de
mapeamento são associações de unidades taxonómicas). Os outros
nove volumes compreendem a avaliação geral para uso agrícola da
maioria das unidades de solo, enquanto os apêndices contêm
descrições de perfis e dados analíticos.

Recentemente começou-se a sentir a necessidade de incorporar novas


informações nos mapas existentes, e de rever a legenda, levando em

144
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

conta novos conceitos de classificação e uma melhor compreensão das


condições dos solos. Isto resultou na revisão da legenda do mapa
(FAO/Unesco/ISRIC, 1988), corrigida em 1990. Existe a intenção de
actualizar os mapas continuamente pelo armazenamento digitalisado
de novos dados num sistema de informação geográfica (GIS) do qual
mapas ou dados estatísticos podem ser extraído sob encomenda. No
entanto, é pouco provável a publicação de uma nova edição dos textos
explanatórios (Volumes II-X; FAO, 1971-1981), será publicada.

O sistema da FAO/Unesco/ISRIC (1988) tem uma estrutura hierárquica,


com 28 Agrupamentos Principais de Solo (Ing: Major Soil Groupings)
no nível de generalização mais elevado, subdivididos em 153 Unidades
de Solo (Ing: Soil Units) no segundo nível. Também foi introduzido
nesta edição revisada um terceiro nível de Subunidades de Solo (Ing:
Soil Subunits), que foi considerado necessário, visto a utilização
generalizada do sistema em escalas maiores que 1:5M. As
Subunidades de Solo podem ser consideradas intergrades entre duas
Unidades de Solo, ou têm alguma característica especial além das
requeridas para a Unidade do Solo (extragrades).

Tabela 5. Descrição sumária de horizontes de diagnóstico (diagnostic


horizons) do sistema FAO/UNESCO/ISRIC (1990).

H hístico horizonte superficial turfoso (C-orgânico > 12%) com espessura en


histic H 40 cm; em alguns casos até 60 cm.

145
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

A mólico horizonte superficial, escurecido pela presença de matéria orgâni


mollic A (0.6% < Corg <12%); com espessura >25 cm; saturação por bases
teor baixo de P2O5.

A úmbrico Como A mólico, mas saturação por bases < 50%


umbric A

A fímico Como A mólico ou úmbrico, mas espessura > 50 cm, e teor de P2O
fimic A elevado, devido à adubação prolongada com misturas de terra, es
e/ou resíduos orgânicos domésticos.

A ócrico Horizonte superficial com coloração demasiadamente clara, espe


ochric A demasiadamente fina e/ou teor de C-orgânico ou P2O5 demasiada
pequeno para ser qualificado como horizonte A mólico, úmbrico o

E álbico Horizonte com evidências de perda de argila e óxidos de ferro livr


albic E eluviação; dando origem a cores esbranquiçadas das partículas in
do solo

B ferrálico Horizonte subsuperficial com as seguintes evidências de forte


ferralic B intemperismo: poucos ou nenhum minerais meteorizáveis; argila
dominada por caolinita e sesquióxidos; capacidade de troca de cá
≤ 16 cmol(+).kg-1 de argila; relação limo/argila ≤ 0.2.

B árgico Horizonte subsuperficial com evidências de enriquecimento pedo


argic B de argila. Sem as propriedades do horizonte B ferrálico; com PST
(porcentagem de sódio trocável) < 15%; geralmente com estrutur
prismática.

B nátrico Como B árgico, mas com PST≥15% e geralmente com estrutura co


natric B

B espódico Horizonte subsuperficial apresentando evidências de iluviação de


spodic B orgânica com sesquióxidos.

146
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

B câmbico Horizonte subsuperficial geneticamente demasiadamente incipie


cambic B satisfazer os critérios para um horizonte B árgico, nátrico, espódic
ferrálico; mas apresentando evidências de alteração pedogênica,
diferenciação de cor, presença de estrutura ou remoção de carbo

cálcico Horizonte com evidência distinta de enriquecimento de carbonat


calcic cálcio.

petrocálcico Horizonte cálcico continuamente cimentado ou endurecido.


petrocalcic

gípsico Horizonte com evidência distinta de enriquecimento de gesso


gypsic

petrogípsico Horizonte gípsico, endurecido de tal maneira que fragmentos do


petrogypsic não se desfazem em água e impenetrável para raízes.

sulfúrico Horizonte de espessura >15 cm , apresentando mosqueamento a


sulfuric de jarosita e com pH (água, 1:1)<3.5.

147
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

O sistema da FAO/Unesco/ISRIC (1988/1990), também reconhece


unidades de mapeamento não-taxonómicas, chamadas fases. As fases
marcam características especiais da terra que possam limitar o seu uso
agrícola, como a ocorrência de inundações, a presença de rochas ou de
um horizonte endurecido. Neste texto serão discutidos apenas os
Agrupamentos Principais de Solo.

A maioria dos nomes dos Agrupamentos Principais de Solo, foi


emprestada de uma nomenclatura tradicional e amplamente
reconhecida, como Andossolo, Vertissolo, Solonchak, Solonetz,
Chernozém e Podzol. No entanto, estes nomes foram redefinidos,
mantendo o sentido original, mas com requisitos mais objectivos. O
uso de nomes tradicionais com sentido diferente em lugares diferentes
foi evitado.

5.1.1. Horizontes e propriedades de diagnóstico

Todos os taxões do sistema (Agrupamentos Principais de Solo,


Unidades de Solo e Subunidades de Solo) foram definidos em termos
de propriedades chaves mensuráveis e observáveis. Certas
propriedades chave foram agrupadas em horizontes de diagnóstico
(Ing: diagnostic horizons), que formam os identificadores básicos para
a classificação do solo. Uma descrição genérica dos horizontes de
diagnóstico usados neste sistema de classificação está na Tabela 5.

Além disto, o sistema usa propriedades de diagnóstico (Ing: diagnostic


properties) para permitir uma diferenciação maior. Muitas destas
propriedades chave, apesar de terem forte conotação genética, têm
implicações práticas para o uso e maneio da terra, como pode ser
verificada na Tabela 6.
148
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Nota-se bem, que há uma distinção entre a designação de horizontes


usada na descrição de perfis de solo e os horizontes de diagnóstico,
usados na classificação do solo. A designação de horizontes faz parte
duma nomenclatura na qual horizontes principais, indicados como H,
O, A, E, B, C ou R, são relacionados com as camadas de solo descritas e
interpretadas no campo. A escolha do código do horizonte é por
julgamento pessoal baseada na suposta génese do solo.

No entanto, horizontes de diagnóstico são definidos mais


quantitativamente e a sua presença ou ausência pode ser acertada na
base de medições objectivas de campo e/ou laboratório. Também
convém realçar-se que horizontes principais não devem
necessariamente corresponder com horizontes de diagnóstico. Por
exemplo o horizonte A dum perfil pode ser demasiadamente raso para
poder ser qualificado de horizonte A mólico. Mesmo assim, o solo
pode ter um horizonte A mólico se os horizontes A e AB forem
considerados como conjunto que satisfaz todos os requisitos.

149
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Tabela 6. Descrição sumária das propriedades de diagnóstico da


legenda da FAO (1990)
calcárico (calcaric) solo com material calcário, pelo menos entre 20 e 50 c

calcário material de solo com >2% de carbonato de cálcio, ou q


(calcareous) forte efervescência com HCl (10%).

calcário brando acumulações de carbonato de cálcio precipitado in situ


pulverulento suficientemente brandas para serem riscadas à unha.
soft powdery lime

camada camada com temperatura permanentemente ≤0oC


permanentemente
gelada (permafrost)

consistência untuosa consistência que muda sob pressão do estado sólido-p


(smeary consistence) estado líquido, e volta ao estágio original depois (tixot

fortemente húmico materiais de solo com > 1.4% de C-orgânico como méd
(strongly humic) de 0 a 100 cm de profundidade.

gipsífero (gypsiferous) material de solo com >5% de gesso (CaSO4.2H2O)

materiais orgânicos do materiais de solo com elevado teor de C-orgâncio (sat


solo água ou artificialmente drenado: C>12% se argila=0%;
(organic soil materials) argila>60%; não saturados: C>20%)

materiais sulfídricos material de solo saturado com água (reduzido) com S≥


(sulfidic materials) > 3*carbonatos (equivalência). (acidez potencial > pod
neutralizante)

minerais meteorizáveis minerais que liberam nutrientes e ferro ou alumínio ao


(weatherable minerals)

mudança abrupta de forte aumento do teor de argila entre duas camadas o


textura sobre distância <5 cm
(abrupt textural change)

150
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

penetração em forma de penetrações estreitas de um horizonte E álbico num h


dedos árgico ou B nátrico subjacente; principalmente ao long
(interfingering) verticais dos agregados.

penetração em forma de penetrações relativamente largas de um horizonte A o


línguas (tonguing) horizonte B subjacente.

plintite uma mistura rica em ferro, pobre em matéria orgânica


(plinthite) quartzo que endurece irreversivelmente sob ciclos de
secagem.

propriedades ândicas material proveniente de erupções vulcânicas com pou


(andic properties) de alteração pedogenética.

propriedades ferrálicas solos com horizonte B fortemente meteorizado, evide


(ferralic properties) baixa (<24 cmol(+).kg1 de argila).

propriedades férricas solo apresentando evidências de redistribuição de ferr


(ferric properties) manchas ou nódulos grandes e vermelhos

propriedades flúvicas sedimentos aluviais recentes


(fluvic prop.)

propriedades géricas material de solo extremamente meteorizado, evidenci


(geric properties) de bases + Al trocáveis <1.5 cmol(+).kg1 de argila, ou Δ

propriedades gleicas e evidências de saturação prolongada com água devido


estágnicas freático elevado (prop. gleicas) ou estagnação de água
(gleyic + stagnic prop.) estágnicas).

propriedades níticas estrutura forte anisoforme angular, composto por elem


(nitic properties) anisoformes menores, com superfícies lustrosas.

propriedades sálicas salino (ECe>15dS.m-1, ou >4dS.m-1 se pH(H2O, 1:1>8.5),


(salic properties) 30 cm de profundidade.

propriedades sódicas complexo de troca de cations com elevada saturação p


(sodic properties) (≥15%) ou por sódio + magnésio (≥50%).

151
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

propriedades vérticas presença de fendas, superfícies de deslizamento e/ou


(vertic properties) forma de paralelepípedos ou cunhas, mas insuficiente
expressiva para qualificar o solo como Vertissolo.

rocha dura contínua rocha contínua e dura de tal forma que não pode ser e
(continuous hard rock)

superfícies de superfícies polidos e estriadas produzidas pelo movim


deslizamento pressão de uma massa de solo sobre outro.
(slickensides)

Alguns dos horizontes de diagnóstico do sistema da FAO/Unesco/ISRIC


são formas especiais de horizontes A ou B; p.e. A mólico; B ferrálico.
Outros horizontes de diagnóstico não coincidem com horizontes
principais específicos; p.e. cálcico ou gípsico.

Para a classificação de um solo segundo o sistema da


FAO/Unesco/ISRIC, segue-se o seguinte caminho:

1) Determine se algum horizonte ou conjunto de horizontes


satisfaz os requisitos para um dos horizontes de diagnóstico.

2) Siga a tabela de determinação (keys). Se cruzar com o nome de


uma propriedade de diagnóstico requerida deve-se controlar
se o solo ou parte do solo satisfaz este requisito.

3) A classificação termina ao encontrar um solo que satisfaz todos


os requisitos.

As definições da maioria dos critérios diagnósticos (horizontes e


propriedades) coincidem com critérios usados para o sistema
americano de classificação de solos: Soil Taxonomy (os sistemas foram
desenvolvidos paralelamente com muitas interacções). De um lado isto
152
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

facilita a correlação entre os dois sistemas. Do outro lado, a


similaridade de alguns nomes pode causar confusão.

O mesmo vale para a versão original do sistema da FAO/Unesco


(1974), que ainda por cima sofreu muitas modificações por institutos
nacionais de levantamento, para adaptar a legenda às condições
específicas locais. Por isto convém sempre, ao examinar mapas ou
documentos sobre a descrição e classificação de solos, verificar a
proveniência e o sistema de classificação (original ou adaptado) que foi
usado.
A Figura 13 apresenta uma relação esquemática dos Agrupamentos
Principais de Solo, abreviada da "Key". A Tabela 7 mostra a extensão
dos Agrupamentos Principais de Solos no mundo e em Moçambique.

Pontos fortes da Legenda da FAO como sistema de classificação são:


(1) a possibilidade de sua aplicação global; (2) a base é razoavelmente
sólida e sustentada por cientistas de muitos países que garantiram a
inclusão dos principais solos do mundo ao primeiro nível; (3) em geral
o sistema é relativamente simples e portanto assimilável por não
cientistas de solo com formação superior.

Pontos fracos da Legenda são: (1) os critérios para uso em nível


detalhado (3o) nível não são muito objectivos, o que pode levar à
aplicação incontrolada de adendos, ou à identificação de grupos
demasiadamente gerais de solos; (2) os critérios para distinguir os
Agrupamentos Principais não são muito lógicos; (3) algumas definições
são bastante complicadas; (4) o sistema usa definições bastante
rígidas, que podem implicar o "corte" de corpos naturais de solos.
Estes pontos fracos tornam o sistema pouco acessível para pessoas

153
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

sem formação superior, e pouco útil para uso em levantamentos


detalhados.

╚═══════>solo
orgânico───────────────────┬───────────────
───────→sim──→Histossolo
não←────────────────────────────────────┘
└──────→modificado fortemente pela acção
humana─┬──────────────→sim──→Antrossolo
não←─────────────────────────────────────
────────┘
└──────→profundidade do solum <30
cm────┬──────────────────────→sim──→Leptoss
olo
não←─────────────────────────────────────

└──────→solo argiloso, com fendas largas e
profundas────┬──────→sim──→Vertissolo
não←─────────────────────────────────────
────────────────┘
└──────→propriedades
flúvicas────┬─────────────────────────────→si
m──→Fluvissolo
não←──────────────────────────────┘

154
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

└──────→propriedades
sálicas────┬──────────────────────────────→s
im──→Solonchak
não←─────────────────────────────┘
└──────→propriedades gleicas a <50
cm─────┬────────────────────→sim──→Gleissolo
não←─────────────────────────────────────
──┘
└──────→propriedades
ândicas────┬──────────────────────────────
→sim──→Andossolo
não←─────────────────────────────┘
└──────→arenosa, sem hor. diag. além de A ócrico e E
álbico───┬→sim──→Arenossolo
não←─────────────────────────────────────
──────────────────────┘
└──────→sem hor. diag. além de A ócrico ou
úmbrico──────┬──────→sim──→Regossolo
não←─────────────────────────────────────
────────────────┘
└──────→horizonte B
espódico───┬───────────────────────────────
→sim──→Podzol
não←────────────────────────────┘
└──────→com
plintite───┬────────────────────────────────
───────→sim──→Plintossolo
não←────────────────────┘

155
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

└──────→horizonte B
ferrálico────┬─────────────────────────────→s
im──→Ferralsolo
não←──────────────────────────────┘
└──────→hor. E e propriedades estágnicas sobre hor.
denso─────┬→sim──→Planossolo
não←─────────────────────────────────────
──────────────────────┘
└──────→horizonte B
nátrico────┬───────────────────────────────
→sim──→Solonetz
não←────────────────────────────┘ hor. B
árgico+
└──────→hor.A─┬→sim──→croma────┬─→sim─→faces
de agregados──┬──→sim──→Greizem
mólico │ húmido<2 │ esbranquiçadas no A │
não←───────────┘ não não
│ hor.(petro)cálcico←─────┘ hor (petro)cálcico←─┘
│ ou calcário brando pulv. ou calcário brando
pulv→sim──→Chernozem
│ ou hor.
(petro)gípsico←─────não←──────────────────────
─┘

└─────────────┬─────────────────────────
─────────→sim──→Castanozem
│ │

└──────────────────────────────────→não──
→Faeozem

156
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

└──────→hor B árgico com penetração em


forma de dedos do hor E ou nódulos de
Fe────────────┬──→sim──→Podzoluvissolo
não←─────────────────────────────────────
───────────────────┘
└──────→hor
(petro)gípsico──────┬─────────────────────────
─────→sim──→Gipsissolo
não←─────────────────────────────┘
└──────→hor (petro)cálcico ou calcário brando
pulv.┬───────────→sim──→Calcissolo
não←─────────────────────────────────────
───────────┘
└──────→B árgico─┬→sim─→prop. níticas + B árgico
profundo───┬──→sim──→Nitissolo
┌─────┘
┌───────────────────────────────────────
─┘
│ ↓ ┌─→sat.
base>50%────────→Luvissolo
↓ não ┌→CTC-argila > 24─────┤
não │ │ └─→sat.
base<50%────────→Alissolo
│ └──┤
│ │ ┌─→sat.
base<50%────────→Acrissolo
│ └→CTC-argila 24──────┤
│ └─→sat.
base>50%────────→Lixissolo

157
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

horizonte B
câmbico──────────────────────────────────→
sim──→Cambissolo

Figura 13. Relação esquemática dos Grupos Principais


de Solos segundo FAO/Unesco/ISRIC (1990)

158
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Tabela 7. Extensão dos Agrupamentos Principais de Solos no mundo e


em Moçambique.
Fontes: World Soil Resources Report 66 Rev 1 (FAO,1993); INIA,
1995.

Grupo de Solo No mundo (FAO, 1991) Em Moçamb


(INIA, 199

* 1000 ha % * 1000 ha

Acrissolos 5 961

Alissolos 996 600(1 8(1 -

Andossolos 107 045 1 -

Arenossolos 901 885 7 22 563

Cambissolos 1 573 402 13 2 985

Calcissolos 796 169 6 2 552

Chernozéns 229 218 2 97

Ferralsolos 742 600 6 5 509

Fluvissolos 356 235 3 4 697

Gleissolos 718 830 6 1 075

Greizéns 33 883 <1

Gipsissolos 90 017 1

Histossolos 273 248 2

Castanozéns 467 757 4

Leptossolos 1 655 318 13 6 727

Lixissolos 436 520 4 17 639

159
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Luvissolos 648 505 5 3 677

Nitissolos 205 518 2 1 235

Faeozéns 154 239 1 81

Planossolos 129 896 1 -

Plintossolos 61 135 1 -

Podzóis 487 513 4 -

Podzoluvissolos 321 065 3 -

Regossolos 578 971 5 -

Solonchaks 187 325 2 2 246

Solonetz 135 267 1 -

Vertissolos 337 322 3 541

área total 12 625 483 100 77 584


(1
Acrissolos + Alissolos

Nas próximas páginas deste tema, apresenta-se um sumário das


características principais de todos os agrupamentos principais,
segundo a classificação da FAO (Legenda).

UNIDADE Temática 5.2. Agrupamentos principais de solos

5.2- Chave para os agrupamentos principais dos solo

5.2.1- HISTOSSOLOS (HS)

160
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Solos com horizonte H ou O de espessura igual ou superior a 40 cm


(60 cm ou mais se o material orgânico consistir principalmente de
esfagno ou musgos ou se tiver uma densidade inferior a 0.1 Mg m3) a
partir da superfície do solo ou, considerando cumulativamente, nos 80
cm superficiais; a espessura do horizonte H ou O pode ser menor
quando o horizonte assentar sobre rocha ou material fragmentado
cujos interstícios são preenchidos por material orgânico.

5.2.2- ANTROSSOLOS (AT)


Outros solos nos quais as actividades humanas provocaram
modificações profundas ou soterramento dos horizontes originais, pela
remoção ou perturbação de horizontes superficiais, abertura de valas
e aterros, aplicações seculares de materiais orgânicos, irrigação muito
prolongada, etc.

5.2.3- LEPTOSSOLOS (LP)


Outros solos limitados em profundidade por rocha dura contínua, ou
por materiais muito calcários (com um teor equivalente em carbonato
de cálcio superior a 40 por cento), ou por uma camada cimentada
contínua nos 30 cm superficiais ou com menos de 20 por cento de
terra fina até uma profundidade de 75 cm da superfície. Admite-se a
presença de horizontes de diagnóstico.

5.2.4- VERTISSOLOS (VR)


Outros solos que, depois de misturados os 18 cm superficiais, têm pelo
menos 30 por cento de argila em todos os horizontes até uma
profundidade de 50 cm ou mais ; com fendas desenvolvendo-se a
partir da superfície, as quais, por algum período na maioria dos anos (a
menos que o solo seja irrigado), têm pelo menos 1 cm de largura até
uma profundidade de 50 cm ; com superfícies de deslizamento que se

161
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

interceptam e/ou elementos estruturais em forma de cunha ou


paralelepípedo a qualquer profundidade entre os 25 e 100 cm a partir
da superfície.

5.2.5- FLUVISSOLOS (FL)


Outros solos com propriedades flúvicas e sem outros horizontes de
diagnóstico que não seja horizonte A ócrico, A mólico, A úmbrico ou H
hístico, ou horizonte sulfúrico ou material sulfídrico nos 125 cm
superficiais.

5.2.6- SOLONCHAKS (SC)


Outros solos com propriedades sálicas e sem outros horizontes de
diagnóstico que não seja A ócrico, úmbrico ou mólico, horizonte H
hístico, horizonte B câmbico, horizonte cálcico ou gípsico.

5.2.7- GLEISSOLOS (GL)


Outros solos, excluindo materiais de textura grosseira12/ sem horizonte
H hístico, com propriedades gleicas dentro dos 50 cm superficiais, sem
outros horizontes de diagnóstico que não seja horizonte A, horizonte H
hístico, horizonte B câmbico, horizonte sulfúrico, cálcico ou gípsico e
sem plintite nos 125 cm superficiais.
5.2.8- ANDOSSOLOS (AN)
Outros solos com propriedades ândicas até uma profundidade igual ou
superior a 35 cm da superfície; com horizonte A mólico ou úmbrico,
possivelmente sobre horizonte B câmbico; ou com horizonte A ócrico e
horizonte B câmbico; sem outros horizontes de diagnóstico.

5.2.9- ARENOSSOLOS (AR)

12
/ Como definido adiante para os Arenossolos (FAO/AGLS, comunicação pessoal).

162
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Outros solos com textura mais grosseira que francoarenosa até uma
profundidade de, pelo menos, 100 cm da superfície, com menos de 35
por cento de fragmentos de rocha ou outros fragmentos grosseiros em
todos os sub-horizontes nos 100 cm superficiais; sem outros
horizontes de diagnóstico que não seja horizonte A ócrico ou E álbico.

5.2.10- REGOSSOLOS (RG)


Outros solos sem outros horizontes de diagnóstico que não seja
horizonte A ócrico ou úmbrico; sem calcário brando pulverulento13/.

5.2.11- PODZÓIS (PZ)


Outros solos com horizonte B espódico.

5.2.12- PLINTOSSOLOS (PT)


Outros solos com percentagem de plintite igual ou superior a 25 por
cento (em volume) num horizonte de, pelo menos, 15 cm de espessura
nos 50 cm superficiais ou numa profundidade de 125 cm quando o
horizonte se situa abaixo dum horizonte E álbico ou dum horizonte
com propriedades estágnicas ou com propriedades gleicas dentro dos
100 cm superficiais.

5.2.13- FERRALSOLOS (FR)


Outros solos com horizonte B ferrálico.

5.2.14- PLANOSSOLOS (PL)


Outros solos com horizonte E que, em pelo menos uma parte,
apresenta propriedades estágnicas e que assenta abruptamente sobre
um horizonte pouco permeável nos 125 cm superficiais; sem horizonte
B nátrico.
13
/ Emenda sob orientação de FAO/AGLS (comunicação pessoal).

163
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

5.2.15- SOLONETZ (SN)


Outros solos com horizonte B nátrico.

5.2.16- GREIZÉNS (GR)


Outros solos caracterizados por horizonte A mólico com croma,
húmido, inferior ou igual a 2 até uma profundidade mínima de 15 cm;
com unidades estruturais cujas faces apresentam grãos de silte e areia
sem revestimentos; com horizonte B árgico

5.2.17- CHERNOZÉNS (CH)


Outros solos caracterizados por horizonte A mólico com croma,
húmido, igual ou inferior a 2 até uma profundidade mínima de 15 cm;
com horizonte cálcico e/ou petrocálcico e/ou concentrações de
calcário brando pulverulento dentro dos 125 cm superficiais.

5.2.18- CASTANOZÉNS (KS)


Outros solos caracterizados por horizonte A mólico com croma,
húmido, superior a 2, até uma profundidade mínima de 15 cm;
apresentando uma ou mais das seguintes características: horizonte
cálcico, petrocálcico ou gípsico ou concentrações de calcário brando
pulverulento dentro dos 125 cm superficiais.

5.2.19- FAEOZÉNS (PH)


Outros solos com horizonte A mólico; com saturação por bases (por
NH4OAc) igual ou superior a 50 por cento ao longo dos 125 cm
superficiais.
5.2.20- PODZOLUVISSOLOS (PD)
Outros solos com horizonte B árgico com limite superior irregular ou
descontínuo, resultante da profunda penetração em forma de línguas

164
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

do horizonte E no horizonte B, ou da formação de nódulos discretos


maiores de 2 cm, com exteriores enriquecidos e 40 fracamente
cimentados ou endurecidos com ferro e com matizes mais vermelhos e
cromas mais fortes que as partes internas.

5.2.21- GIPSISSOLOS (GY)


Outros solos com horizonte gípsico e/ou petrogípsico nos 125 cm
superficiais; sem outros horizontes de diagnóstico que não seja
horizonte A ócrico, horizonte B câmbico ou horizonte B árgico
impregnado por gipso ou carbonato de cálcio, horizonte cálcico ou
petrocálcico.

5.2.22- CALCISSOLOS (CL)


Outros solos com horizonte cálcico e/ou petrocálcico e/ou
concentrações de calcário brando pulverulento dentro dos 125 cm
superficiais; sem outros horizontes de diagnóstico que não seja
horizonte A ócrico, horizonte B câmbico ou horizonte B árgico calcário.

5.2.23- NITISSOLOS (NT)


Outros solos com horizonte B árgico que apresenta uma distribuição
de argila sem decréscimo superior a 20 por cento em relação ao teor
máximo nos 150 cm superficiais; com limites graduais a difusos entre
horizontes A e B; com propriedades níticas em algum subhorizonte nos
125 cm superficiais; sem propriedades férricas14/.

5.2.24- ALISSOLOS (AL)

14
/ Emenda sob orientação de FAO/AGLS (comunicação pessoal); Vide
Capítulo VI.

165
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Outros solos com horizonte B árgico com capacidade de troca catiónica


igual ou superior a 24 cmol(+) kg1 de argila e saturação por bases (por
NH4OAc) inferior a 50 por cento em pelo menos parte do horizonte B
nos 125 cm superficiais15/.

5.2.25- ACRISSOLOS (AC)


Outros solos com horizonte B árgico com capacidade de troca catiónica
inferior a 24 cmol(+) kg1 de argila e que têm16/ saturação por bases (por
NH4OAc) inferior a 50 por cento em pelo menos parte do horizonte B
nos 125 cm superficiais.

5.2.26- LUVISSOLOS (LV)


Outros solos com horizonte B árgico com capacidade de troca catiónica
igual ou superior a 24 cmol(+) kg1 de argila e saturação por bases (por
NH4OAc) de 50 por cento ou mais em todo o horizonte B até uma
profundidade de 125 cm.

5.2.27- LIXISSOLOS (LX)


Outros solos com horizonte B árgico com capacidade de troca catiónica
inferior a 24 cmol(+) kg1 de argila, em pelo menos parte17/ do
horizonte; e saturação por bases (por NH4OAc) de 50 por cento ou
mais em todo o horizonte B até uma profundidade de 125 cm.

5.2.28- CAMBISSOLOS (CM)


Outros solos com horizonte B câmbico

15
/ Segundo FAO/AGLS (comunicação pessoal) os Alissolos devem ter
CTC ≥ 24 cmol(+).kg1 argila em pelo menos parte do horizonte B.
Nota-se que isto contradiz a tradução em espanhol da Legenda.
16
/ Vide rodapé para Alissolos.
17
/ Trecho modificado conforme FAO/AGLS (comunicação pessoal); Vide
também Capítulo VI.

166
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

UNIDADE Temática 5.3. Levantamento de solos

5.3- Levantamento de solos

5.3.1- Conceito

i. Definição
É o inventário da distribuição geográfica dos solos. Compreende o
exame sistemático, descrição, classificação e mapeamento de solos de
uma dada área.

ii. Objectivos
Múltiplo
Envolve a elaboração dum mapa pedológico, mostrando a distribuição
das unidades de solos definidas primeiramente de acordo com a sua
morfologia e que são acompanhadas de dados de campo e
laboratoriais sobre outras características físicas, químicas e biológicas.

Específico
O objectivo é previamente conhecido e assim as características mais
relevantes do solo a levantar/mapear são seleccionadas.

iii. Usuários do levantamento


● Agricultores
● Extensionistas (serviços de extensão agrícola)
● Investigadores
● Engenheiros (agrón., Florest., Civís, etc)

167
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

● Agências de Planeamento
● Organizações de Desenvolvimento
● Investidores Privados

iv. Apresentação de um levantamento


1. Mapa de solos
● Delimitação das unidades de mapeamento/solos
● Escala
● Orientação/base topográfica
● Símbolos/Chaves/Cores

2. Legenda

3. Relatório
A. Capítulo introdutório
B. Capítulo do texto principal
B.1 O Ambiente (localização, clima, geomorfologia, vegetação & uso
de terras, etc)
B.2 Métodos (gabinete, campo e laboratoriais)
B.3 Solos (unidade de mapeamento, características gerais,
classificação, etc)
B.4 Interpretação (Avaliação de terras: métodos, requisitos do
uso de terras, características e qualidades relevantes da terra)
C. Capítulo de fecho (referências bibliogr., glossário, ilustrações, etc)
D. Apêndices
● Informação adicional (levantamento, classificação, métodos,
etc)
● Descrição detalhada dos perfís.
● Resultados analíticos (laborat.) dos solos

168
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

● Mapas

5.3.2- A sequência de actividades dum levantamento

i. Actividades preparatórias
Compreende a colecta de dados de base da área;
● Imagens obtidas por teledetecção (eg. fotog. aéreas)
● Mapas existentes (eg. topográf., geológico, veget.)
● Informação diversa (eg. dados clima, fisiografia)

ii. Análise dos dados colhidos e interpretação de fotografias


aéreas
▪ Análise do material colectado
▪ Primeira análise das fotografias aéreas
▪ Esboço da legenda
▪ Interpretação de blocos de fotografias aéreas
▪ Delineação das unidades de solos ou de mapeamento e
definição da estratégia de amostragem no campo.

Como resultado da delineação das unidades do solo ou de


mapeamento na base das fotografias aéreas, temos um MAPA
MOSÁICO. Este poderá ser georeferenciado com a ajuda do mapa
topográfico, resultando um MAPA BASE que servirá de objecto de
ajustamento (correcção e enriquecimento) aquando do trabalho de
campo.

iii. Trabalho de campo


❑ Preparação

169
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

❑ Reconhecimento da área
❑ Melhoramento da base topográfica (MAPA BASE)
❑ Amostragem de campo (sondagens), selecção e descrição dos
perfís.
❑ Colecta de amostras para determinações laboratoriais
❑ Verificação e reajustamento de fronteiras das unidades de solos
❑ Ajustamento da legenda

170
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

171
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

TEMA - VI: DEGRADAÇÃO/CONSERVAÇÃO DO SOLO

UNIDADE Temática 6.1. Processos de deterioração do solo

6.1- Processos de deterioração do solo


Os processos de deterioração do solo são as principais causas da
deterioração das qualidades da terra. Distinguem-se três tipos de
deterioração do solo: Física, biológica e química, cada um dos quais
apresentando diferentes processos.

6.1.1- Deterioração biológica

Por deterioração biológica entende-se a perturbação e/ou a redução


da actividade e diversidade da fauna do solo bem assim como a
redução do teor da matéria orgânica do solo. Isto pode ser causado
pela remoção da cobertura vegetal aliada as elevadas temperaturas
nos trópicos ou a aplicação excessiva de fertilizantes e outros químicos
poluentes. A prevalência de excesso de humidade devido a regas
excessivas, deficiente ou ma drenagem cria condições de anaerobiose,
promovendo uma fraca diversidade da fauna do solo e vegetação. A
deterioração biológica muitas vezes acompanha a deterioração física e
química.

6.1.2- Deterioração química

172
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Este parágrafo abarca todos os processos que resultam na deficiência


ou excesso de um certo componente químico. Por deficiência
geralmente refere-se aos nutrientes da planta e por excesso as
substancias toxicas quer pela quantidade ou natureza para o
desenvolvimento das plantas.
A depleção dos nutrientes e a principal causa da deterioração química
do solo. Solos com argila de baixa actividade aliam o facto de sofrerem
de lixiviação excessiva de catiões, o que reduz a saturação de bases no
complexo de troca catiónica.

6.1.3- Deterioração física


Com a deterioração física entende-se a degradação das propriedades
físicas do solo. Algumas causas da degradação física do solo são:

i. Compactação do solo pelas máquinas

A Compactação resulta da redução da porosidade estrutural aliada ao


aumento da densidade do solo pela tracção das maquinas afectando
negativamente a relação planta-solo.

A compactação pode ser definida como sendo a compressão da massa


do solo para um volume menor. Ao longo do processo da compactação
as propriedades estruturais, as conductividades hidráulica e térmica, a
transferencia de gases, etc mudam. Isto por outro lado vai afectar os
processos químicos e biológicos. O grau de compactação pode ser
expresso em termos de densidade, porosidade ou consistência do solo.

173
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

O efeito da compactação do solo é a redução dos espaços entre os


agregados (poros) com a consequente redução da agua a armazenar e
a circulação do ar outro efeito directo é o aumento da resistência do
solo, pelo adensamento deste pela acção das maquinas, com a
consequente dificuldade de penetração das raízes. A Consequência
final sobre as culturas é de longe obvia uma vez reduzido o volume do
solo facilmente explorável pelas raízes das plantas.
A compactação do solo pelo uso das maquinas induz a mudança no
regime de ar-água, afectando assim a actividade microbiana de tal
maneira que o azoto no solo tenda a expressar-se mais na forma de
amónio que na forma de nitrados. A impossibilização das raízes
poderem explorar nutrientes e agua nas zonas mais profundas pode
resultar também numa menor resistência das plantas aos efeitos dos
agentes patogenos das camadas superficiais.

A acção das maquinas não se restringe simplesmente a compactação,


tal é o caso das lavouras feitas com o tractor equipado com arado de
discos, no sentido que a mesma é feita com o objectivo de destruir a
camada compacta (lavoura profunda). A resposta da planta a esta
pratica seria, portanto, contraria a aquela dada pela compactação.

ii. crostas superficiais

174
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Crosta é uma camada dura e fina formada na superfície do solo como


resultado das forcas dispersivas das gotas de chuva ou agua de
irrigação seguida pela secagem. A formação da crosta envolve o
colapso parcial ou total dos agregados de estrutura do solo resultado
do impacto directo das gotas de agua durante a fase de
humedecimento. Nesta fase as partículas de textura inferior a de limo
ficam dispersas e durante o processo de secagem preenchem os poros
superficiais do solo.

Enquanto os processos de secagem descritos acima se restringem a


camada superficial do solo, outras formas naturais de formação de
camadas compactas no subsolo podem ocorrer; tal é o caso do
fragipan e do duripan.

iii. Fragipan

Camada natural e dura quando seca mas que se desmorona quando


humedecida, formada naturalmente numa profundidade geralmente
compreendida entre 40 e 80 cm. Sua origem pode dever-se:

a. Compactação devido a ligeiros processos de embebimento


de água (Swelling) e encolhimento (Shriking), sem lugar a
compensações verticais por falta de superfícies de
deslizamento (Slikensides).

175
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

b. Desihidratação dos silicatos amorfos acumulados numa certa


descontinuidade litológica. A desidratação pode dever-se a
presença de raízes que absorvem a agua para a transpiração
das plantas.

c. Translocação da argila para camadas profundas resultando


num adensamento das mesmas.

d. Em diferença dos duripans, os fragipans podem apresentar


fendas e quando humedecidas perdem estrutura.

iv. Duripans
Os duripans são camadas cimentadas por sílica de tal maneira que não
perdem a sua estrutura durante prolongado período sob acção da
humidade. A sílica não acumula nos poros ou canais do solo, mas
cimenta as partículas da matriz do solo. Esta sílica é resultante da
desihidratação da sílica amorfa derivada mais de rochas vulcânicas
ricas em vidro vulcânico que de granitos e outros sedimentos.

Porque a formação de fragipans e duripans faz parte da génese do


próprio solo a acção do homem no sentido de contrariar é quase nula.
Este tipo de camadas é tomado como uma característica significativa
no uso e maneio do solo ("fase do solo") pela FAO-UNESCO soil Map of
the world.

UNIDADE Temática 6.2. Erosão

6.2- Erosão

176
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Erosão é o processo de separação e transporte de partículas do solo


pela água ou vento (Ellison, 1947). Uma distinção deve ser feita entre
erosão geológica e acelerada.
Na erosão geológica, o processo de formação do solo e o processo de
erosão mantêm um balanço favorável, adequado ao crescimento da
maioria das plantas.
Na erosão acelerada, a deterioração e perda do solo é usualmente
resultado das actividades do Homem.

i. Erosão geológica
A erosão geológica, usualmente referida como a erosão natural, ocorre
quando o solo está no seu meio ambiente natural, geralmente
protegido por uma capa de vegetação nativa. Este tipo de erosão
auxiliado pelo complexo processo de meteorização das rochas, é o
factor preponderantemente responsável pela formação dos solos. O
processo contínuo da erosão produziu a maioria dos actuais traços
topográficos, e as produtivas planícies aluvionares resultam da erosão
geológica. O transporte do material da superfície do solo na erosão
geológica resulta da acção da água e/ou vento e/ou da força
gravitacional.

A água causa erosão através do impacto das gotas de chuva no solo


(splash erosion); o escoamento superficial de água que resulta em
erosão laminar (sheet - interrill erosion), ou em erosão em sulcos e em
ravinas, devido ao fluxo superficial concentrado (rill - e gully erosion);
erosão causada pelos rios, pela acção das ondas (erosão da praia ou
"foreshore"), e pelo fluxo de água subsuperficial ("tunnel" ou erosão
de túnel).

177
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

O vento leva e transporta partículas de solo causando a perda de


partículas de limo e areia muito fina do solo (tempestades de poeira -
dust storms) e o transporte e acumulação de areia fina e média no
lado sotavento da área (tempestades de areia - sand storms), deixando
o material mais grosseiro no seu lugar original (pavimento de deserto).

A força da gravidade pode causar (além do transporte de partículas em


suspensão pelo escoamento superficial de água) movimentos em
massa como queda de rochas, terra, arrastamento de solos e fluxos de
lama no qual a água joga um papel como peso, lubrificante ou agente
transportador.

ii. Erosão acelerada ou erosão causada pelo homem

A erosão acelerada é a perda em excesso à erosão geológica e é


causada principalmente pela água e vento. Avança mais rapidamente
que a erosão geológica e está associada com mudanças na cobertura
natural ou condições do solo; geralmente tem lugar depois que o
Homem perturba o balanço natural, removendo a cobertura vegetal
protectora para introduzir as suas actividades de exploração da terra,
principalmente a agricultura.

A agricultura acelera todos os processos físicos e químicos da


Natureza, e também o processo de erosão. Isto, combinado com o uso
de técnicas impróprias de maneio da terra, e a falta de respeito pela
protecção do solo, dá à água e ao vento a oportunidade de danificar a
terra. Menos vegetação para travar o vento, origina erosão pelo vento;
menos vegetação para absorver a energia da chuva, dá mais erosão
pela água (erosão de impacto, superficial), etc.

178
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

6.2.1- História da erosão


A erosão é um processo natural: deslocamento e transporte de
partículas do solo pela água e vento dum sítio para outro. Muitas das
nossas terras mais férteis foram formadas pelo mar e pelos rios como
sedimentação de material erodido noutros locais (montanhas) exº
vales do Infulene, Umbelúzi, Incomati, Limpopo, Nilo, Tigris e Eufrates.

As primeiras civilizações cresceram todas em superfícies aluvionares


(Nilo, Tigris, China, Eufrates) e dependeram das sedimentações
(especialmente de material limoso) durante as cheias para manter a
fertilidade dos solos.

Certamente elas não tinham nenhum interesse nos problemas de


erosão nas partes altas das bacias, e provavelmente nem tinham
conhecimento disso.

Naquela altura a erosão era principalmente um fenómeno natural


chamado erosão geológica (processo muito lento). Com o crescimento
populacional, as planícies ficaram demasiadamente povoadas.
Resultados de estudos sobre as primeiras civilizações, mostram que a
maior causa de queda de muitas civilizações florescentes foi a
degradação dos solos (p.e. Lowdermilk, 1953: Ruínas do grande
Zimbabwe).

Quando a densidade demográfica excessiva e a (consequente) falta de


terras, obrigaram as pessoas a intensificar a utilização das terras e a
ocupar as terras mais altas até às montanhas, a erosão começou a
acelerar, até chegar ao nível actual, tão elevado que está a ameaçar a
sobrevivência humana. A população derruba florestas e remove a

179
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

vegetação para fazer agricultura, deixando a terra susceptível à


agressividade da chuva e do vento.

Os resultados são:
- O vento ou a enxurrada remove o material fino do horizonte
superficial do solo, diminuindo a fertilidade do solo;
- O impacto directo das gotas de chuva na superfície do solo
causa a degradação estrutural do solo e o selamento (formação
de crostas pouco permeáveis).
- O vento cobre com areia as terras férteis na margem do
deserto (exº atrás das dunas)
- Menor infiltração da chuva, provocando níveis freáticos mais
baixos e menores caudais nos rios no tempo seco.
- Maior escoamento superficial de água, provocando aumento
da erosão dos solos,
- Maior perda de terras para agricultura, maior transporte de
sedimentos pelos rios, maior sedimentação no fundo destes,
cheias maiores com inundações mais frequentes, etc.
EXº erosão na HIMALAIA ----> resultados no Bangladesh.

Mas não é só nos países em desenvolvimento que existem problemas


de erosão. O problema também é grave na Europa e EUA. Em 1934
uma investigação nos EUA mostrou, que dos 160 milhões de ha de
terras aráveis:
20 milhões estavam arruinados
20 milhões estavam quase arruinados
40 milhões tinham perdido mais de metade do solo
40 milhões tinham perdido mais de um quarto do solo!!
Então, 75% da área total dos EUA estava seriamente afectada.

180
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

A Figura 14 mostra esquematicamente a actuação dos processos de


erosão em escala mundial.

Figura 14. Processo de erosão

6.2.2- Distribuição geográfica da erosão

i. Erosão pela água


Em escala global, pode-se notar uma relação interessante entre a
erosão pela água é a precipitação média anual (Figura 15). Regiões
com pouca precipitação geralmente não têm problemas de erosão
pela água, porque geralmente toda água pluvial infiltra, e não há muito
escoamento superficial. No entanto, em regiões com uma precipitação
elevada (maior que 1000 mm/ano), normalmente existe uma

181
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

vegetação permanente (floresta) densa que protege os solos contra a


erosão; então as áreas mais susceptíveis à erosão pela água são as
regiões com precipitação média!

Figura 15. Relação entre precipitação anual e erosão hídrica

pela
água (Fonte: Hudson, 1981)

Não é só a quantidade de precipitação anual que conta, mas também a


distribuição anual. Chuvas tropicais intensas provocam muito mais
erosão do que as chuvas regulares de climas mais moderados. Então as
áreas com precipitação destrutiva estão globalmente entre as latitudes
40o N e 40o S.

Exemplo de excepções:
- condições semi áridas com pouca chuva, mas muito
concentrada;

182
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

- declives fortes e solos sensíveis podem dar erosão nos climas


moderados.

A Figura 16 mostra a distribuição da precipitação média anual no


Mundo, e a Figura 17 as áreas susceptíveis à erosão hídrica.

Figura 16: Mapa de precipitação média


anual no Mundo (Fonte: Hudson, 1981)

183
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

ii. Erosão pelo vento

Existem duas condições para criar problemas sérios de erosão pelo


vento:
(1) só material de solo seco pode ser levantada pelo vento; então
as áreas susceptíveis devem ter pouca precipitação média
anual: menos que 250 - 300 mm/ano.

Figura 18. Mapa de distribuição geográfica de erosão pelo vento


(Fonte: Hudson, 1981)
(2) para poder haver transporte de material de solos a grande
escala, precisa-se de ventos prevalecentes constantes a todos
os níveis, não só na terra mas também em níveis mais altos; e
estes estão associados com grandes planícies (Figura 18).

184
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Juntando as áreas susceptíveis à erosão hídrica com aquelas


susceptíveis à erosão eólica, vemos que a maior parte do Mundo é
susceptível à erosão!

6.2.3- Perda do solo pela erosão

Os factores mais importantes que influenciam na erosão são: clima,


relevo, solos, vegetação e maneio (homem). Durante muitos anos
foram feitas tentativas para qualificar e quantificar os efeitos do clima,
solos, relevo, vegetação e maneio da terra sobre a erosão. A equação
mundialmente mais aceite para estimar a perda de solo pela erosão,
foi desenvolvida na base de mais de 40 anos de medições em muitos
Estados dos EUA (Wischmeier, 1958). Esta equação, pretensiosamente
chamada de Equação Universal de Perda de Terras (Universal Soil Loss
Equation: USLE), está esquematicamente apresentada na Figura 19.

185
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Figura 19: Equação universal da perda de solo (USLE) (Fonte: Hudson,


1981)

A USLE calcula/estima a perda de terras A (ton.ha-1) como função de:


R: factor erosivo da chuva (EtI 30) (MJ.mm.ha1.h1)
K: factor de erodibilidade do solo (ton.ha-1R-1)
L: factor do comprimento do declive (proporção)
S: factor da inclinação do declive ( " )
P: factor da prática de conservação ( " )
C: factor do maneio de culturas ( " )

Erosividade (R)
É a capacidade potencial da precipitação para causar erosão. Índices
diferentes têm sido desenvolvidos para quantificar a erosividade.

186
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Características físicas do solo (K)


As propriedades físicas do solo afectam a capacidade de infiltração e a
facilidade com que o material de solo pode ser deslocado e
transportado.

Estas propriedades que influenciam a erosão incluem: Estrutura do


solo, textura, matéria orgânica, humidade e densidade, assim como
características químicas e biológicas do solo. A estabilidade estrutural
da camada arável joga um papel muito importante. Uma estrutura
estável resiste à desintegração de agregados do solo, e estes solos
mantêm-se porosos, com uma elevada taxa de infiltração.

Neste contexto, a distribuição do tamanho das partículas, a saturação


em Na do complexo sortivo do solo (PST), os tipos de minerais
argilosos e a matéria orgânica, são de grande importância. Teores
elevados de areia e limo correspondem com estabilidade estrutural
fraca.

O solo com uma estrutura instável desintegra-se rapidamente: o efeito


compactador e enlameador das gotas de chuva promove o
escoamento superficial. Um bom solo de estrutura estável apresenta
agregados granulares ou grumosos no horizonte A, com porosidade
elevada e heterogénea.

Além da estabilidade estrutural da camada arável a profundidade do


perfil do solo é também muito importante. Um perfil profundo (sem
horizontes impedindo o movimento da água) significa uma boa
capacidade de armazenamento de água e consequente pequeno risco
de saturação do horizonte superficial.

187
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

A vulnerabilidade do solo à erosão é geralmente chamada


erodibilidade do solo, definida como a quantidade de solo perdida
como consequência da acção de agentes erosivos (exº chuva,
velocidade do fluxo), num terreno descoberto, sem praticas
conservacionistas. A correlação da perda de solo com propriedades
físicas e químicas não foi ainda totalmente desenvolvida.

Figura 20: Relação entre erosão e declive (inclinação e comprimento)

Relevo
Os traços topográficos que influem na erosão são: grau e comprimento
do declive, tamanho e forma da bacia. Em declives fortes altas
velocidades causam erosão séria por arraste e transporte de
sedimentos. A velocidade da água de escoamento superficial varia com
a raiz quadrada da queda vertical mas, a erosão aumenta
exponencialmente por causa do efeito conjunto do maior splash

188
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

erosion, maior volume do "run off"(menos infiltração), e maior


velocidade do run off (Figura 20).

Além disso o comprimento do declive é muito importante; quanto


maior o comprimento, maior será o volume de excesso de água
acumulado sobre ele, todo o qual escoará do declive num volume e
velocidade sempre crescente (Figura 20).

Vegetação e maneio de culturas (cobertura do solo)


Tabela 8. Cobertura do solo e erosão pela água (anonymous, 1981)

Cobertura vegetal inclinação escoamento perda


(%) superficial ton/ha
(%)

100% de cobertura gramineas 36 6.9


20% de cobertura gramineas 20 29.0
floresta natural 7-15 2.4
citrinos com cobertura morta 7 2.6
citrinos sem cobertura morta 7 9.2
cultura com cobertura morta 7 13.9
cultura com solo nú 7 21.0
solo nú 7 39.0
pousio natural 7 -
formação de solos - -

Uma cobertura do solo com vegetação, seja esta espontânea ou de


origem agrícola, é da mais alta importância, porque quebra a energia
das gotas de chuva, reduz o escoamento superficial e estabiliza a
superfície do terreno. A Tabela 8 apresenta um exemplo do efeito da
vegetação no controle da erosão. Nota bem que para intensidades de

189
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

precipitação extremas as perdas de solo podem ser consideravelmente


maiores.

Florestas e boas pastagens parecem ser a melhor cobertura para o


solo, absorvendo a energia cinética dos aguaceiros e reduzindo o
escoamento. Os dados também tornam claro que um bom maneio é
muito importante (anonymus, 1981).

O importante papel da vegetação na redução da erosão é através de:


1) intercepção da chuva e absorção da energia das gotas de
chuva. Isto reduz a erosão por impacto das gotas e o fecho
da superfície do solo;
2) aumento da actividade biológica no solo o que ajuda a sua
agregação e porosidade;
3) aumento do teor de matéria orgânica;
4) aumento da transpiração que diminui a humidade do solo,
resultando no aumento da capacidade de armazenamento
de água, reduzindo o escoamento superficial;
5) retardamento da erosão por diminuição da velocidade de
escoamento;
6) restrição do movimento do solo pelas raízes;
7) filtração das partículas do solo.

Estas influências vegetais variam com a estação, tipo de cultura, grau


de desenvolvimento, solo e clima, assim como também com o tipo de
material vegetal, nomeadamente raízes, topos das plantas e resíduos
das plantas (Stocking, 1987).

O factor "C" do maneio das culturas ou vegetação na "USLE" é a


proporção (média anual) entre a perda de material de solo do terreno

190
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

cultivado ou com vegetação, e a perda de material de solo do terreno


preparado sem culturas. Este factor inclui os efeitos de cobertura,
sequência de colheitas, nível de produtividade, duração da estação de
crescimento, prácticas de lavoura, maneio de resíduos e a distribuição
das chuvas erosivas no tempo.

Por exemplo, um período da primavera quando o solo está recém


arado e sem nenhuma cobertura de plantas, seria de elevado risco se
as chuvas são altamente erosivas mas menos importantes se estas são
leves. Similarmente, o efeito do estado da terra sobre a erosão, após a
colheita no Outono, vai depender de se as chuvas do Outono são ou
não severas.

6.2.4- Limites aceitáveis de erosão


Parar a erosão totalmente é praticamente impossível porque sempre
existiu erosão (geológica), mas ao menos devemos de travar a erosão
acelerada até um nível aceitável para não continuar a perder terreno
agrícola. Definir um nível aceitável de erosão é difícil. A resposta usual
é que o objectivo da conservação do solo é que a terra só é usada de
tal modo que o uso pode continuar indefinidamente [uso sustentável
(sustainable land use)], i.e. sem afectar a fertilidade do solo,
productividade, etc.). Isso quer dizer que a erosão do solo não pode
ser maior que a sua formação. A velocidade de formação dos solos
depende de muitos factores (clima, solo, material de origem etc) e é
difícil medir mas a melhor estimativa é:

± 0.025 mm - 0.080 mm (0.3 - 1 ton/ha)/ano (condições não


perturbadas)
± 0.250 mm (3.4 ton/ha)/ano (com lavoura)

191
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

N.B.- a agricultura acelera a formação do solo com um factor 3-10


(Hudson, 1981).

A perda aceitável de solo depende também das condições do mesmo.


Perder solo num local com apenas alguns dm de solo em cima da
rocha é muito pior que perder solo num local com solo fértil profundo.
Uma indicação qualitativa da perda aceitável de solo chama-se
tolerância à erosão.

O limite máximo aceitável de perda de solo foi estabelecido em 0.8mm


(11 ton/ha)/ano nos EUA (Hudson, 1981). A federação Central Africana
usa metas de 9 ton/ha/ano para solos arenosos e 11/ha/ano para
argilosos. Note bem que estes limites são ainda 3 vezes maiores que a
velocidade de formação do solo, e mesmo estas metas ainda não
foram conseguidas!

Exercícios

1. As nuvens de poeira consistem principalmente de partículas em


suspensão. Porém, em geral o movimento por saltação é
considerado o mais importante na erosão eólica. Indique duas
razões porque.

2. Em muitos casos, o pousio (ou pastagem) como parte da rotação


de culturas, resulta num aumento da fertilidade química do solo
(p.e. teores de P, K, Ca, Mg), maior do que pode ser explicado pela
meteorização dos minerais. Alguns cientistas têm uma explicação
para este fenómeno, que envolve a erosão eólica. Tem uma ideia
de como isto pode funcionar?

192
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

3. Calcule analiticamente a relação entre intensidade de chuva e


energia, para chuvas com gotas esféricas, caindo com uma
velocidade terminal de 8 m/s

4. Porque a velocidade terminal de gotas grandes é maior do que de


gotas pequenas?

UNIDADE Temática 6.3. Conservação de solos

6.3- Conservação de solos


Hoje em dia toda a gente sabe que a erosão do solo é uma séria
ameaça ao bem estar do Homem, ou mesmo à sua sobrevivência. No
início do século a ciência do solo era quase desconhecida, e o Homem
levou muito tempo a realizar-se da seriedade deste problema.
Começou então o desenvolvimento de programas de conservação de
solos.

- A conservação de solos pode ser definida como o conjunto de


medidas de preservação do solo, mantendo a fertilidade e o
balanço entre a perda de solos e a sua formação. Então a
conservação de solos é principalmente preventiva.

- Controle de erosão: é uma parte da conservação de solos que


pode ser definida como o conjunto de medidas usadas para
diminuir a perda de solos, até a equilibrar com a formação de
solos, e reparar os danos de erosão já feitos, então o controle
de erosão é mais curativo.

193
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

- Engenharia de conservação de solos: É a aplicação dos


princípios de engenharia à solução dos problemas de maneio
dos solos e água com respeito à sua conservação.
A engenharia de conservação de solos envolve:
- protecção do solo
- controlo da erosão
- drenagem superficial do excesso de chuva
- diminuir o efeito do vento

Tudo o que se pode resumir como: conservação da água e diminuir o


efeito do vento. Problemas de erosão acelerada são principalmente
causados pelo Homem, ao remover a cobertura protectora da
vegetação
natural.

- Medidas agronómicas têm como objectivo proteger o solo


através de: cobertura vegetal, uso de cobertura morta (mulch),
rotação de culturas, cultivo em faixas de defesa (bufferstrips),
etc.

- drenagem superficial é a remoção do excesso de água de


maneira controlada por meio de terraços, sulcos ("ridging"),
valas, controlo de "gullies" e pequenas obras de arte.

- conservação da água são todas as medidas para manter a água


no campo, aumentar a capacidade de infiltração do solo,
diminuir a evaporação, por meio de práticas modificadas de
maneio de culturas e preparação de solos, incluindo técnicas de
cobertura morta ou adubação verde, trabalhos segundo as
curvas de nível, terraços, buracos, represas, etc.

194
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

O motor da erosão é a água e/ou o vento, então todas as medidas de


conservação da água e diminuição dos efeitos do vento são: Medidas
de conservação de solos.

6.3.1- Tipos de medidas de conservação

i. Medidas biológicas (influenciam os factores C e K)

A protecção biológica quer dizer oferecer boa protecção ao solo,


criando o estabelecimento duma vegetação que quebra a energia
cinética das gotas de chuva, aumenta a retenção superficial, mantém e
melhora a capacidade de infiltração de água do solo. As seguintes
medidas podem ser distinguidas:

A. reflorestamento
B. Plantação de árvores de produção (pomares)
C. estabelecimento de pastagens
D. Rotação de culturas
E. Sistema de cultivo adaptado
F. Culturas múltiplas

ii. Melhoramento do solo (influencia os factores K e C)

Uma estrutura estável do solo é um pré-requisito para prevenir a


erosão. Em muitos casos a estabilidade estrutural deixa muito a
desejar, a extinção de agregados resulta em fechamento da superfície
e então começa o escoamento superficial. O melhoramento da
estabilidade estrutural é de grande importância. Um bom suplemento

195
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

de matéria orgânica é necessário. Vários métodos são conhecidos para


fazer isto; na maioria dos casos são aplicados em conjunto com
melhoramento de, métodos de culturas e de cultivo (preparo da terra).
A. Cobertura "morta" «mulching»
B. "Leys" (rotação de culturas)
C. Melhoramento da fertilidade

iii. Operações adaptadas de cultivo

O preparo intensivo pode levar a deterioração rápida da estrutura do


solo. Porque uma estrutura estável é muito importante, (menor
erodibilidade do solo), métodos têm sido desenvolvidos para as
culturas crescerem com um mínimo de actividades de lavoura: cultivo
mínimo (minimum tillage) plantio directo, (zero tillage).
O chamado método "lavrar/plantar" (plough and planting), reduz tudo
a uma só operação - a plantação ocorre no mesmo passo que a
lavoura. Para esta operação a condição do solo deve estar apta, de
contrário é impossível obter uma terra suficientemente fina para
semear. Quanto a estes métodos é importante que a cultura anterior
sempre deixa uma cobertura suficiente para a protecção da terra entre
a semeadura e fechamento completo da cultura nova. Também deve
haver um maneio sanitário adequado (rotação de culturas, herbicidas,
pesticidas).

Em terra parcialmente afectada pela erosão, operações de lavoura


podem remover sulcos de uma maneira eficiente. Mas é melhor
prevenir a formação de sulcos por medidas de boa conservação em vez
de tentar remediar a sua já ocorrência.

196
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

A subsolagem (Ing: subsoiling) é aplicada como medida contra a


erosão. Em geral "ripping" é feito até uma profundidade de 0.3 - 0.9 m
e é usado para promover penetração mais rápida e maior retenção da
chuva, o que por sua vez resulta em cobertura vegetativa aumentada
em áreas tratadas. É comumente usado em associação com bancos
protectivos, mas em alguns casos tem sido a única medida adoptada.

Em favor deste método está o aspecto que nenhum obstáculo é feito


no campo, que possa atrapalhar as actividades agrícolas. Ocorre que
uma camada rija calcária ou argilosa pode ser quebrada pela
subsolagem, pedras movidas para a superfície podem ser usadas para
muros de pedras úteis para o controle da erosão.

"Ripping" das valas dos terraços pode ser útil para promover
infiltração. A capacidade de infiltração também pode ser aumentada
para drenagem de terras ("tiles").

Quando feitas sem maiores cuidados, (usando máquinas muito


pesadas, terra demasiadamente húmida) as operações de lavoura,
incluindo a subsolagem, podem ter um efeito muito negativo,
acelerando a deterioração estrutural, causando a formação de
camadas compactadas e consequentemente diminuindo a capacidade
de infiltração e estimulando a erosão.

iv. Maneio do terreno (influencia o factor P (e LS))


A. Cultivo paralelo às curvas de nível ("contour farming")
B. Cultivo em faixas ("stripcropping")
B1. Culturas em faixas de rotação
B2. Cultivo em faixas de contorno ("contour strip cropping")

197
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

B3. Cultivo em faixas de defesa ("buffer strip cropping")


B4. Cultivo em faixas do campo ("field strip cropping")

v. Medidas mecânicas (terraplanagem)


São todos os trabalhos de terraplanagem, com o objectivo de
controlar, diminuir e desviar o escoamento superficial, por exº
terraços. Estes trabalhos devem ser desenhados e executados com
muito rigor e precisão. Em geral é melhor não implementar medidas
mecânicas do que tomar medidas mal desenhadas ou fazê-las mal;
pois estes casos originarão concentrações de água, que causarão mais
erosão do que na situação original. Podemos distinguir os seguintes
tipos de medidas mecânicas:
A - Terraços de valas (channel terraces)
B - Terraços de bancos (bench terraces)
B1 - banco descendo para fora #
B2 - banco horizontal (level bench)
B3 - banco descendo para dentro #
B4 - terraços de rega
B5 - terraços de escadas
B6 - terraços de pomar
C - Linhas de pedras (stone lines)
6.3.2- Plano de conservação
Deve ficar claro que os métodos preventivos de combate à erosão são
preferíveis aos curativos. Com as medidas preventivas a danificação da
terra pode ser evitada. Como vantagens das medidas preventivas, em
primeiro, lugar não haverá perdas financeiras devido à produção mais
baixa e em segundo lugar, as medidas preventivas tais como técnicas
de produção adaptadas, podem ser tomadas pelo próprio agricultor.

198
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Muitas destas medidas não requerem planeamento detalhado, nem


engenharia complicada nem altos investimentos; porém, para alcançar
melhores resultados, o uso da terra terá que ser devidamente
planificado.

Os factores envolvidos são: precipitação, condições do solo, topografia,


uso actual da terra (incluindo vegetação) e Homem. A análise da
contribuição dos factores levará ao diagnóstico dos sintomas actuais
de erosão, aos riscos de erosão e como se poderá medir forças com
isto.

Baseando-se nos resultados e sua avaliação, a terra será classificada de


acordo com a sua capacidade de produzir uma colheita sustentável
numa base permanente sob usos e tratamentos específicos.

Restrições impostas por condições naturais afectam a intensidade do


uso da terra, as práticas correctivas a aplicar e a produtividade. O
maneio e tipo de agricultura influenciam o planeamento e medidas a
tomar (ex. agricultura mecanizada de grande escala versus trabalho
manual de pequena escala). O plano de conservação de solos como
um todo deve ser baseado num desenho bem calculado que inclui os
trabalhos agrícolas bem detalhados [em nível de (conjunto
homogéneo de) propriedade(s)].

Planeamento de conservação do solo


A protecção mecânica é cara e consome tempo, sendo assim merece
planeamento cuidadoso. Os seguintes princípios desenvolvidos por
Hudson (1981) devem ser considerados:

199
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

1) Trabalhos de protecção mecânica estão usualmente confinados


à terra arável por 2 razoes: os trabalhos são caros e geralmente
só o alto valor da terra arável justifica as despesas adicionais.
Não é económico construir trabalhos de protecção mecânica
em terra de pasto grosseira, quando os custos de construção
são ± tão altos como o preço de compra da terra.
A 2ª razão é que a terra arável é em geral vulnerável à erosão, e
assim é mais difícil manter esta sob controle sem recorrer a
trabalhos mecânicos. Isto não significa que a protecção
mecânica só deve ser usada em terra arável, nem que esta
automáticamente necessite protecção mecânica.

2) O objectivo primário dos trabalhos de protecção e conservação


do solo deve ser o controle à erosão. Se, sem reduzir a sua
eficácia como trabalhos de controle desta, eles poderem
também conservar a água por armazenamento ou
melhoramento da infiltração melhor ainda, mas se ao tentar
alcançar este 2º benefício o 1º objectivo é reduzido, o
resultado pode ser como uma máquina de dupla aquisição, que
não faz bem os dois trabalhos e que é menos eficiente que
duas separadas.
Por exº o uso adicional de cursos de água vegetados para
descarregamento de água subsuperficial pode causar mau
desenvolvimento da vegetação devido a humedecimento
contínuo e erosão severa do curso de água a descargas altas de
escoamento.

3) Trabalhos mecânicos podem não ser necessários para a solução


dum problema de erosão ou podem ser uma solução mas não
necessáriamente a melhor.

200
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Por exº terra arável num declive suave pode ser sériamente
afectada se não tiver protecção, mas um sistema de lavrar aos
contornos ou culturas em faixas pode ser uma solução mais
simples e mais barata que terraços de valas.

4) Os trabalhos de protecção mecânica são potencialmente


perigosos por 2 razoes:
(1) concentram a água de superfície em valas onde é
potencialmente mais perigoso e tendente a causar "scour
erosion" que quando dispersa; (2) como resultado desta
concentração, um sistema de protecção que falha quase
sempre resulta em danos muito mais sérios do que se não
houvesse nenhuma protecção mecânica.

5) Manutenção: trabalhos na terra feitos pelo homem são objecto


de estragos e desastres constantemente e a sua eficácia terá
vida curta a não ser que tenham adequada manutenção e
reparação. Os agentes naturais de destruição são a erosão e
sedimentação, mas, danos muito mais sérios são causados por
trilhos do Homem e gado sobre os trabalhos da terra, ou por
animais escavadores (lebres, doninhas, que vivem em tocas) ou
térmites. Seja qual for a probabilidade ou severidade dos
danos, algum desgaste é inevitável e alguma manutenção
regular é essencial a intervalos adequados.

6) Os trabalhos de protecção mecânica devem ser projectados


para se adaptarem aos métodos de construção que vão ser
usados. O tipo de maquinaria também deve ser considerado no
planeamento do trabalho. Por exº não tem uso nenhum
desenhar um dreno de água das chuvas com um metro de

201
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

largura se vai ser escavado por um bulldozer cuja lâmina tem 2


metros. O desenho neste caso deve começar pela hipótese que
a largura mínima são 2 metros e então decidir a profundidade
apropriada.

7) Similarmente, a escolha e desenho dos trabalhos devem estar


relacionados com as condiçoes locais particulares. Um dreno
para água da chuva com 2 metros de largura e um de
profundidade pode ser bom teoricamente, mas, se o solo tem
0.5 m de profundidade, sobre rocha dura, pode ser achado um
melhor desenho. (terraços).

8) Planeamento integrado: Os trabalhos de protecção mecânica


para um pedaço individual de terra arável serão desenhados
especificamente para esta, mas também devem ser planeados
como parte dum plano integrado para toda a área da bacia e
não isoladamente. Irá a solução dos problemas de hoje
adaptar-se ao desenvolvimento futuro? Irão os drenos e cursos
de água agora propostos afectar o acesso a uma farm
adjacente?, Irão os sistemas rodoviários adaptar-se bem com
os drenos? Um sistema de protecção mecânica contra erosão
interactuará com muitos outros aspectos do maneio e uso da
terra, e assim estas questões devem ser todas consideradas no
plano. Esta lista deve ser complementada com o seguinte:

9) Os trabalhos de protecção mecânica devem ser eficazes sem


causar outros problemas seja onde for. Muitas estradas são
muito bem desenhadas, com uma valeta ao lado da estrada
para levar a água desta, assim evitando a erosão da estrada.

202
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Frequentemente o escoamento é deixado livre em terra arável


causando severa erosão, maioritariamente em ravinas.
10) O desenho deve ser tal que não impeça com as suas medidas,
actividades agrícolas nem durante a execução, nem após a
conclusão dos trabalhos (largura dos terraços).

11) Observando o precedente o desenho mais barato deve ser


escolhido.

12) A execução dos trabalhos deve começar no ponto mais alto da


área do projecto (bacia), evitando que chuvas fortes durante a
execução possam danificar as estruturas já acabadas em baixo.
Assim:
1º os cursos de água vegetados;
2º as valas de captação que drenam para o curso de água.
3º os terraços de valas, trabalhando de cima para baixo.

203
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

TEMA - VII: AVALIAÇÃO DE TERRAS E PLANEAMENTO AMBIENTAL

UNIDADE 7.1. Avaliação de terras


UNIDADE 7.2. Classificação da aptidão das terras

UNIDADE Temática 7.1. Avaliação de terras

7.1- Avaliação de terras

7.1.1- Terra

Terra compreende todo o meio físico que influi no uso potencial da


terra (p.e. clima, relevo, solos, hidrologia e vegetação). Inclui os
resultados da actividade humana, passada e presente (p.e. limpeza de
matas, recuperação ao mar, salinização, etc.). Características
puramente sociais e económicas não estão incluídas.Unidade
cartográfica de terra é uma área cartografada com características
específicas.

Terra é portanto um conceito mais vasto que solo ou terra. Muitas


vezes as diferenças, entre unidades cartográficas de terra, são devidas
a diferenças no solo ou formações pelo que os levantamentos de solos
são um componente importante para o delineamento das unidades
cartográficas de terras. No entanto, a terra inclui outros aspectos do
meio ambiente.

7.1.2- Uso da terra


A avaliação da aptidão das terras envolve comparações entre unidades
cartográficas de terras e usos específicos da terra. Estes são limitados
àqueles que parecem ser relevantes nas condições físicas, económicas

204
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

e sociais gerais da zona. Os usos da terra podem ser grandes tipos de


uso da terra ou tipos de utilização da terra.

Um grande tipo de uso da terra é uma grande divisão da utilização


rural da terra, tais como agricultura de sequeiro, agricultura de
regadio, pastagem, floresta ou turismo. São normalmente usados em
avaliação de natureza qualitativa e de reconhecimento.

Um tipo de utilização da terra é uma forma de uso da terra descrito ou


definido de modo mais detalhado que o anterior. Nas avaliações
quantitativas e detalhadas é esta forma que se utiliza. O nível de
detalhe depende dos objectivos pelo que qualquer nível inferior ao do
tipo principal de uso da terra é considerado tipo de utilização da terra.

Os atributos de um tipo de utilização da terra tem de ser definidos e


isto inclui:

🢧 Produto incluindo bens (p. ex: culturas, gado, madeira),

serviços(p. ex: áreas de recreio) ou outros benefícios (p. ex:


conservação de vida selvagem).

🢧 Destino do produto, incluindo se é para autoconsumo ou

venda.

🢧 Intensidade do capital

🢧 Intensidade de mão-de-obra

🢧 Meios de trabalho (humano, material, máquinas

🢧 Conhecimento técnico e atitudes dos utilizadores da terra.

205
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

🢧 Tecnologia empregue (p.e. melhoramento e maquinaria,

fertilizantes, raças de gado, transportes, métodos de abate de


árvores).

🢧 Infra-estrutura necessária (p. e. moinhos, fábricas de chá,

serviços de apoio técnico).

🢧 Tamanho e configuração das parcelas, incluindo se dispersas ou

concentradas.

🢧 Posse da terra, o modo, legal ou usual, como são passados os

direitos da terra, por indivíduos ou grupos.

🢧 Níveis de rendimento, expresso per capita, por unidade de

produção (p.e. empresa agrícola) ou por unidade de área.

Exemplos de Tipos de Utilização da terra


1. Cultura de sequeiro anual, basicamente amendoim, com milho
de subsistência, por pequenos agricultores com baixas fontes
de capital, usando pequenos melhoramentos com tracção
animal, com grande intensidade de mão-de-obra, em terra livre
de 5-10 ha.
2. Idêntica à anterior no que diz respeito a produção, capital,
mão-de-obra, energia e tecnologia, nas áreas de 200-500 ha
trabalhada em base comunal.
3. Produção comercial do trigo em grandes empresas, com alto
nível de capital, e baixo de mão-de-obra, e elevado nível de
mecanização e inputs.
4. Extensivas pastagens com gado, com níveis médios de
mão-de-obra e capital, sendo controlada e possuída por
serviços governamentais.

206
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

5. Um parque nacional para recreio e turismo.

Quando mais do que um tipo de utilização da terra numa área, dois


modos há de os definir:
● Um tipo de utilização múltiplo é quando mais do que um são
utilizados na mesma área, ao mesmo tempo, cada um cos as
suas particularidades (ex: floresta para madeira e recreio).
● Um tipo de utilização da terra composto é quando rios tipos
se sucedem no tempo (rotação) ou quando a unidade
cartográfica da terra é pequena para isolar os diferentes usos
nas áreas diferentes.

i. Características da terra, Qualidades da terra e Critério de


Diagnóstico

Uma característica da terra é um atributo da terra que pode ser


medido ou estimado. Exemplos são declive do terreno, precipitação,
textura do solo, capacidade da água disponível, biomassa da
vegetação, etc. As unidades cartográficas de terra, baseadas em
levantamentos de solo, são normalmente descritos em termos de
características da terra. Na avaliação de terras deve usar-se as
qualidades e não as características devido à sua interacção.

Uma qualidade da terra é um atributo complexo da terra que


influencia a aptidão de modo diverso consoante o tipo de uso. Podem
ser expressas de um modo positivo ou negativo.
Exemplos são: disponibilidade da água, resistência à erosão, problemas
de inundações, valor nutritivo das pastagens, transitabilidade.

207
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Quando houver dados suficientes podem utilizar-se qualidades


agregadas, p.e. produção das culturas, aumento médio anual das
espécies para abate (floresta). As qualidades podem, por vezes, ser
medidas ou estimadas directamente mas, frequentemente, são
descritas pelas características. Qualidades e características empregues
para determinar limites de aptidão das terras (em classes ou
subclasses) são conhecidas como critério de diagnóstico.

Um critério de diagnóstico é uma variável que se entende ter uma


influência nos resultados de, ou investimentos necessários para um
determinado uso, e que serve de base para determinar a aptidão de
uma dada área de terra, para esse uso. Pode ser uma qualidade ou
uma característica ou uma junção de várias características.

A. Qualidades relacionadas com a produtividade de culturas ou outras


plantas em crescimento.

▪ Rendimento da cultura (resultado de várias qualidades abaixo

listadas)

▪ Água disponível

▪ Nutrientes disponíveis

▪ Disponibilidade de oxigénio na zona radicular

▪ Capacidade de suporte para raízes

▪ Condições de germinação

▪ Facilidade de trabalho da terra

▪ Salinidade ou alcalinidade

208
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

▪ Toxidade do solo

▪ Resistência à erosão do solo

▪ Pragas e doenças relacionadas com a terra

▪ Possibilidade de inundações (incl. Frequência, períodos)

▪ Regime térmico

▪ Radiação (fotoperiodo)

▪ Acidentes climáticos que afectam o desenvolvimento das

plantas(incl. Vento, geada)

▪ Humidade do ar se afecta o crescimento

▪ Períodos de seca para o amadurecimento das produções.

B. Qualidades relacionadas com a produção de animais domésticos

▪ Produtividade dos pastos (resultados de várias qualidades

listada em A)

▪ Problemas climáticos que afectam os animais

▪ Pestes e doenças endémicas

▪ Valor nutritivo dos pastos

▪ Toxicidade dos pastos

▪ Resistência da vegetação à degradação

▪ Resistência à erosão sob pastoreio


209
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

▪ Disponibilidade de água potável.

C. Qualidades relacionadas com a produção florestal (natural ou


plantada)

▪ Aumento médio anual de espécies (resultado de várias

qualidades em A.)

▪ Tipos e quantidades de espécies naturais

▪ Factores locais que afectam o estabelecimento de novas

árvores

▪ Pragas e doenças

▪ Perigo de fogo.

D. Qualidades relacionadas com exploração e investimentos


(agricultura, pecuária, floresta.)

▪ Factores do terreno afectando a mecanização

▪ Factores do terreno afectando a construção de vias de acesso

▪ Tamanho das unidades potenciais de exploração (blocos,

empresas, campos)

▪ Localização em relação a mercados e fontes de abastecimento.

Para cada critério de diagnóstico haverá um valor ou grupo de


valores, critérios que servirão para definir limites das classes de
aptidão.

210
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Exemplos ilustrativos destes conceitos


“DISPONIBILIDADE DE OXIGÉNIO NA ZONA RADICULAR”
o Critério de diagnóstico: período em que o potencial redox na
curva radicular é menor que +200 mv. Ou, mais
frequentemente, períodos em que a zona radicular se encontra
a baixo da toalha freática.
- boa → menos que 3 meses
- moderada → de 3 a 6 meses
- baixa → mais que 6 meses

No caso de falta de informação sobre a altura do lençol freático,


poderão funcionar como critério de diagnóstico a coloração do solo, a
classe de drenagem ou a vegetação natural. Neste caso a quantidade
“disponibilidade de oxigénio” é determinada por característica. No
entanto, o mais frequente é várias características definirem uma
qualidade.

“DISPONIBILIDADE DE ÁGUA PARA AS PLANTAS”


Esta qualidade é uma das mais importantes da terra para uso rural.
Afecta outras qualidades. Há várias características que a afectam como
sejam:

o Quantidade de precipitação , a sua distribuição e variação sazonal,


(temperatura, humidade, vento) ⇒ evapotranspiração potencial,
capacidade de água disponível (profundidade efectiva do solo,
capacidade de campo e coeficiente de emurchecimento de cada
horizonte ⇒ textura, matéria orgânica), o intervalo provável de
recorrência do coeficiente de emurchecimento (estimado em
período curto). Nenhuma destas características poderá ser usada
para critério de diagnóstico, mas, por vezes utiliza-se a capacidade

211
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

de água disponível do sol, ou ainda a profundidade efectiva do


solo.
- boa → 40 cm
- moderada → 30-40 cm

7.1.3- O valor da terra

Por vezes o valor da terra é aumentado devido à sua escassez ou à


raridade de uma, ou mais, das suas qualidades numa determinada
região ou país. É o que sucede com reservas naturais.

7.1.4- Necessidades e limitações


Necessidades do tipo de uso da terra são o conjunto de qualidades da
terra que determina as condições de maneio e produção de
determinada forma de utilização.

7.1.5- Melhoramentos da terra


Os melhoramentos da terra são actividades que melhoram as
qualidades da própria terra. Não confundir com melhoramentos do
uso da terra.

Um grande melhoramento da terra é um melhoramento substancial e


razoavelmente permanente, das qualidades da terra afectando uma
determinada utilização. É necessário um grande investimento inicial.
Após terminado, continua a ter custos de manutenção permanentes

212
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

mas a terra em si está melhor, para determinado uso, que


anteriormente. Exemplos são:

❑ Grandes esquemas de rega

❑ Drenagem de pântanos

❑ Recuperação de terras salinas.

Um pequeno melhoramento da terra é aquele tem relativamente


pequenos efeitos e/ou não é permanente, ou ainda que está ao nível
da capacidade dos agricultores. Exemplos são:

❑ Limpeza de pedras

❑ Erradicação de infestantes persistentes

❑ Drenagem do campo por valor??.

Esta diferenciação dos tipos de melhoramento tem apenas como


objectivo apoiar na classificação da aptidão das terras. A distinção é
relativa, não é clara e é válida apenas no contexto local. Em caso de
dúvida, o principal critério é se o melhoramento está, ou não, dentro
das capacidades técnicas e financeiras dos agricultores, ou outros
utilizadores da terra.

7.1.6- Objectivos da avaliação de terras


A avaliação deve responder às seguintes questões:

▪ Qual a utilização actual da terra e o que acontecerá se for

cultivada?

213
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

▪ Quais os XX possíveis dentro da actual forma de utilização da

terra?

▪ Quais as outras formas de utilização da terra, possíveis no

aspecto físico e relevantes no aspecto sócio-económico?

▪ Qual destas utilizações oferece garantias de produção

constantes e outros benefícios?

▪ Que factores adversos, físicos, económicos ou sociais, estão

associados em cada uma destas formas de utilização?

▪ Quais os inputs anuais (recorrente) necessários para obter a

produção desejada e minimizar os efeitos adversos?

▪ Quais os benefícios de cada tipo de utilização?

▪ Quais as mudanças da terra necessárias e praticáveis e como

podem ser conseguidas?

▪ Que input inicial é necessário para a implementação destas

mudanças?

▪ Quando se prevêem alterações, incluindo alterações da terra?

A avaliação não determina nem toma decisões, antes propõe


hipóteses, suficientemente baseadas em dados apresentados, de
modo a que as decisões possam ser formadas. Normalmente dá
informações sobre 2 ou 3 formas potenciais de utilização da terra (ou
das várias parcelas) incluindo as consequências, benéficas ou adversas,
de cada uma.

214
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

7.1.7- Metodologia da avaliação de terras


Esta secção descreve como executar uma avaliação de terras. As
actividades e a programação do trabalho, dependem do tipo de
abordagem.
As principais actividades são:
● Consultas iniciais dependendo dos objectivos da avaliação, e os
dados e pressupostos em que vai ser observada.
● Descrição dos tipos de uso da terra em consideração, e
estabelecimento das suas necessidades.
● Descrição das unidades cartográficas de terra, e suas
qualidades.
● Comparação de formas de utilização com tipos de terra
presentes.
● Análise económica e social
● Classificação da aptidão de terras (qualitativa ou quantitativas)
● Apresentação dos resultados da avaliação.

7.1.8- Avaliação de terras e planeamento da utilização da terra

A avaliação de terras é apenas parte do planeamento da utilização da


terra. O planeamento deve seguir o seguinte esquema de actividades e
decisões:
I. Reconhecimento de uma necessidade de mudança;
II. Identificação dos objectivos;
III. Formulação de propostas, envolvendo formas alternativas de
uso da terra, e reconhecimento das suas principais
necessidades;
IV. Reconhecimento e demarcação dos principais tipos de terras
presentes na área;

215
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

V. Comparação e avaliação de cada tipo de terra para os


diferentes tipos de uso da terra;
VI. Selecção de um tipo preferencial de uso da terra para tipo de
terra;
VII. Desenho do projecto, ou outra análise detalhada de um grupo
seleccionado de alternativas para diferentes parcelas da área.
(Em alguns casos pode tomar a forma de um estudo de
viabilidade);
VIII. Decisão para implementação;
IX. Implementação;
X. Escalonamento e controle das operações.

A avaliação de terras é a componente III, IV e V e dá informação para


as actividades subsequentes.

Princípios
1. A aptidão da terra é determinada e definida para tipos de
utilização específicos.
2. A avaliação requer comparação entre benefícios obtidos e
os inputs necessários para os diferentes tipos de terra.
3. É necessário uma abordagem multisectorial.
4. A avaliação é feita em moldes relevantes no contexto físico,
económico e social da área em questão.
5. A aptidão reporta-se a uma utilização constante.
6. A avaliação envolve comparação entre mais do que uma
forma de utilização da terra.

Níveis de intensidade e abordagem

❖ Níveis de intensidade

216
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

❖ Abordagens à avaliação de terras

❖ Abordagem em paralelo

● dá resultados mais rapidamente


● levantamento e recolha de dados mais concentrados

❖ Abordagem de duas etapas

● clara sequência de actividades


● Melhor organização do trabalho e recrutamento de pessoal

A natureza do "Flamework"

❖ Orientação geral

❖ Aplicação mundial

7.1.9- Aptidão das terras e capacidade das terras


O termo capacidade da terra é usado em vários sistemas de
classificação (incl. USDA, SCS). Nestes sistemas, normalmente, as
unidades cartográficas de solos são agrupadas, primeiramente, com
base na sua capacidade para produzirem as culturas normais e pastos
sem grande deterioração ao longo do tempo.

O termo aptidão da terra é usado pela FAO (frament land evaluation)


e pretende-se que seja, cada vez mais utilizado em todo o mundo. É o
que utilizaremos nas aulas.

217
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

UNIDADE Temática 7.2. Classificação da aptidão das terras

7.2- Classificação da aptidão das terras


(land Suitability classifications)

A aptidão das terras é definida para uma determinada terra em relação


a um tipo de uso. A terra pode ser considerada na sua presente
condição ou após melhoramentos.
O processo de classificação da aptidão das terras é o levantamento e
agrupamento de áreas específicas da terra em termos da sua aptidão
para utilizações definidas.

Estruturas da classificação da aptidão


1. Ordens de aptidão das terras – reflectindo tipos de aptidão
2. Classes de aptidão das terras – reflectindo graus de aptidão
dentro da ordens
3. Subclasses de aptidão de terras - reflectindo tipos de
limitações, ou principais formas de melhoramento necessárias,
dentro das classes
4. Unidades de aptidão das terras – reflectindo pequenas
diferenças no maneio necessário, dentro das subclasses

218
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

7.2.1- Ordens de aptidão das terras


As ordens indicam se a terra é ou não apta para determinado tipo de
utilização da terra. Há apenas duas ordens apresentadas em tabelas,
mapas, etc., pelos símbolos A (S) e N respectivamente.

Ordem A (S) – APTA – terra em que a utilização constante, do tipo em


consideração, produzirá benefícios que justificam os investimentos,
sem riscos inaceitáveis de degradação dos recursos rurais.

Ordem N – NÃO APTA – terras cujas qualidades parecem impedir o uso


constante do tipo em consideração.

7.2.2- Classe de aptidão das terras


As classes reflectem graus de aptidão. São numeradas,
sequencialmente, por números árabes em ordem decrescente de
aptidão dentro das ordens. Dentro da ordem A – apta – o número de
classes não é definido. Deve restringir-se ao mínimo possível. Pode ser
apenas A1 e A2 ou poderá ir até um máximo de 5.

Normalmente recomenda-se a utilização de 3 classes (A1, A2, A3) que


se podem definir como:
Classe A1 (S1) – Altamente Apta – terra não tendo limitações
significativas para um determinado uso contínuo, ou representando
apenas limitações menores que não reduzirão significativamente a
produtividade ou os benefícios e que não aumentará os investimentos
acima de um nível aceitável.

219
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Classe A2 (S2) – Moderadamente Apta – terra tendo limitações que no


conjunto são moderadamente severas para um determinado uso
contínuo. As limitações não diminuirão a produtividade ou benefícios e
aumentarão os investimentos necessários, na medida em que o ganho
geral com esse uso, embora ainda atractivo, será bastante inferior ao
esperado na classe A1.

Classe A3 (S3) – Marginalmente Apta – terra tendo limitações que no


conjunto são severas para a utilização contínua em questão e portanto
reduzirá a produtividade ou benefícios, ou aumentará os necessários
investimentos, de tal modo que a actividade será apenas
marginalmente justificada.
Dentro da ordem N (não apta), há normalmente 2 classes:
Classe N1 – Actualmente não Apta – terra tendo limitações que
poderão, com tempo, ser ultrapassadas mas que não podem ser
corrigidas com a actual tecnologia a custos aceitáveis. As limitações
são tão severas que impedem a utilização desta terra para uso
contínuo em questão.

Classe N2 – Permanentemente não Apta – terra tendo limitações que


parecem suficientemente severas para excluir qualquer possibilidade
de uso contínuo do modo pretendido.

7.2.3- Subclasses de aptidão das terras


As subclasses reflectem tipos de limitações, p. ex: deficiência de água,
possibilidade de erosão. As subclasses são indicadas por letras
minúsculas com significado mnemónico, por ex: A2a, A2e, A3zae. Não
há subclasses na classe A1.
Cada qualidade reflecte uma limitação pelo que poderá haver tantas
subclasses quantas as qualidades em estudo.

220
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

● O número de subclasses deve ser mantido num mínimo que


distinga satisfatoriamente as terras das mesmas classe que
diferem significativamente, nas necessidades de maneio ou
necessidades de melhoramento, devido a limitações diferentes.
● Devem ser utilizadas o mínimo possível de limitações para cada
subclasse (no máximo duas). O símbolo dominante (i. e. O que
determina a classe) deve, se possível, ser usado sozinho.

7.2.4- Unidades de aptidão das terras


As unidades são subdivisões dentro da subclasse. Todas as unidades
dentro de uma subclasse têm o mesmo grau de aptidão ao nível da
classe e semelhantes limitações ao nível da subclasse. As unidades
diferem umas das outras nas suas características de produção ou em
pequenos aspectos de maneio necessário (frequentemente definidos
por diferenças de detalhe nas suas limitações). As unidades permitem
uma interpretação detalhada ao nível do planeamento da empresa.
As unidades de aptidão são distinguidas por números árabes após um
hífen, p. ex: A3ze-1, A3ze-2. Não há limite ao número de unidades em
cada subclasse.

Aptidão condicional
Em alguns casos pode acrescentar-se a designação Condicionalmente
Apta para condensar e simplificar a apresentação. Condicionalmente
apta é uma fase da ordem A. É indicada por um c minúsculo e o
número da classe, p. ex: Ac2. A parte indica a aptidão após a(s)
condição(ões) ter sido cumprida.

A frase condicionalmente apta deve ser evitada, sempre que possível.


Só poderá ser empregue quando se colocarem todas as seguintes
estipulações:

221
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

I. sem a(s) condição(ões) satisfeita(s), a terra ou é não apta ou


pertence á classe mais baixa de Apta;
II. A aptidão após a(s) condição(ões) satisfeita(s) é bastante mais
elevada (normalmente, pelo menos 2 classes);
III. A área de terra condicionalmente apta é muito pequena
comparada com o total de áreas em estudo.

7.2.5- Gama das classificações


Há quatro tipos principais de classificações, dependendo se é
qualitativa ou quantitativa e se se refere à aptidão actual ou potencial.
Qualquer classificação é um levantamento e agrupamento das
unidades de terra em termos da sua aptidão para uma utilização
definida.

Uma classificação qualitativa é aquela em que a relativa aptidão é


apenas expressa em termos qualitativos, sem cálculos precisos de
custos e retornos.

Uma classificação quantitativa é aquela em que a distinção entre


classes é definida em termos numéricos comuns, o que permite
comparações objectivas entre classes em relação a diferentes tipos de
uso.
Uma classificação da aptidão real (actual) refere-se à aptidão para
determinado uso, nas condições actuais, sem grandes melhoramentos.

Uma classificação da aptidão potencial refere-se à aptidão para


determinado uso de terra, das unidades nas suas condições futuras,
após terem sido executados determinados grandes melhoramentos,
quando necessários.

222
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

Estas distinções entre os quatro tipos de classificações, não diferem


completamente a sua natureza. Considerações importantes a ter em
conta, são a localização e a amortização dos custos em capital, e não
só. Uma classificação da aptidão tem de ser conjugada com o modo
como se obtiveram os dados e nos pressupostos em que foram
baseados.

7.2.6- Resultados da avaliação da aptidão das terras

Os resultados de uma avaliação incluirão normalmente os seguintes


tipos de informação:
1. O contexto, físico, económico e social, em que a avaliação se
baseou, tantos dados como pressupostos;
2. A descrição das formas de utilização da terra relevante para a
área, tanto mais detalhada quanto maior a intensidade do
estudo;
3. Mapas, tabelas e texto mostrando graus de aptidão das
unidades cartográficas de terra, para cada tipo de uso
considerado, assim como o critério de diagnóstico. A avaliação
é feita separadamente para cada tipo de uso;
4. Especificações do maneio e melhoramento para cada tipo de
uso em cada unidade cartográfica para que foi considerada
apta. Aqui também o detalhe depende do estudo;
5. A análise económica e social das consequências da utilização
de cada tipo de uso;
6. Os dados básicos e mapas de onde a avaliação partiu;

223
UnISCED - MANUAL DE PEDOLOGIA

7. Informação sobre o grau de confiança das estimativas de


aptidão. Esta informação é bastante importante para as
tomadas de decisões;

Os mapas finais são bastante importantes. Na avaliação quantitativa,


toda a informação sobre a terra e a forma de utilização, são
igualmente importantes.

A classificação da aptidão, e portanto a avaliação das terras em si, e


por si só não define o tipo de utilização a dar à terra. Pode acontecer
que uma unidade foi classificada como A1 para floresta e A3 para fins
agrícolas. Isto não quer dizer que se vai fazer floresta nesta unidade. As
alternativas viáveis, física e economicamente, são apresentadas, com
informação sobre as consequências de cada uma, como base para as
estruturas de decisão optarem.

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