Você está na página 1de 20

UNIDADE 1

Ética e Responsabilidade
SOCIAL

Organizadores:
Estelamaris Dihl | Juliana Meregalli | Michelle Clos | Robinson Henrique Scholz
unidade

1
V.1 | 2022

Ética nas Organizações e no


Exercício Profissional
Prezado estudante,

Estamos começando uma unidade desta disciplina. Os textos que a compõem foram organizados com
cuidado e atenção, para que você tenha contato com um conteúdo completo e atualizado tanto quanto
possível. Leia com dedicação, realize as atividades e tire suas dúvidas com os tutores. Dessa forma, você,
com certeza, alcançará os objetivos propostos para essa disciplina.

Objetivo Geral
Estudar a ética profissional dos indivíduos e suas relações interpessoais no ambiente de trabalho.

Objetivos Específicos
• Compreender a cidadania como participação social e política;
• Distinguir os conceitos de Ética e Moral.

Questões Contextuais
• Você já pensou como a ética está presente em nosso dia a dia?
• Qual a diferença entre ética e moral?
• Como a ética profissional influencia o trabalho nas organizações?
• Como a ética está presente nos ambientes organizacionais?
10 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL | Michelle Clos | Robinson Henrique Scholz

1.1 Conceitos de Ética


Para começarmos os nossos estudos nesta Unidade, você precisa saber que
desde a Grécia Antiga, filósofos discutem a essência da ética. Durante o processo de
formação humana ao longo dos séculos, a ética sempre esteve presente, no sentido de
poder organizar a vida em sociedade e as relações humanas (e claro, com a natureza).
Assim, para você saber, a origem da palavra vem de “ethos” e significa “modo de ser”
ou “caráter” (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2012, p. 83). Dessa forma, o comportamento
exercido pelas pessoas por meio de seus pensamentos manifestados pelas suas ações, são
o campo de estudos da ética. Agora, enquanto conceito, a ética é uma ciência dentro da
filosofia que se propõe a estudar o modo de ser e o modo de fazer cotidianamente dos
indivíduos (ASHLEY, 2019). Em outras palavras, é o estudo das regras morais e uma
orientação individual para tomada de decisão.

Um dos primeiros filósofos a sistematizar e conceituar o estudo da ética foi


Aristóteles, por volta de 200 a.C. Ele entendia a ética enquanto uma construção pessoal de
uma vida virtuosa objetivando a felicidade. É como você pensar dessa maneira: você tem
uma essência em si mesmo, uma natureza própria que orienta os seus comportamentos
e uma finalidade, um propósito para sua existência. O resultado dessa tríade,
para Aristóteles, é a felicidade por meio de uma vida bem vivida.

Figura 1.1 – Felicidade em Aristóteles.

Essência + Natureza + Finalidade = Felicidade

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

Em seu modo de pensar sobre a felicidade, Aristóteles acreditava que ela somente
pode ser alcançada por meio de uma vida virtuosa. Para o filósofo grego, a justa medida é
o que torna o homem capaz de decidir eticamente em busca da felicidade, avaliando suas
ações, emoções, comportamentos na busca de seu propósito. Mas, a ética em Aristóteles
não para por aqui. Para os humanos alcançarem a sua felicidade, é preciso desenvolver a
Ética nas Organizações e no Exercício Profissional | UNIDADE 1 11

virtude, com prática, parcimônia e sabedoria. Por meio do (re)conhecimento da virtude


e ela sendo posta em prática, é que cada ser humano consegue desenvolver sua felicidade,
assumindo seu compromisso ético da vida em sociedade.

DESTAQUE
Mas o que é virtude? Para Aristóteles, autor da Ética das Virtudes expressada na
sua obra “Ética a Nicômaco”, a virtude é a prática da justa medida, da sabedoria
para agir bem em cada situação em particular. São exemplos de virtude:
a bondade, a coragem e a justiça e a justa medida (ROBINSON; GARRATT, 2005).

Sendo assim, você pode perceber que o fim de todas as ações humanas é a
virtude, meio pelo qual a felicidade é alcançada. Importante destacar que o corpo
teórico proposto por Aristóteles foi desenvolvido para funcionar no que ele entende
por polis, ou seja, um modo de pensar e agir a partir de determinada sociedade,
cultura, tempo e espaço.

Quadro 1.1 – Quadro Aristotélico das virtudes e dos vícios.

VIRTUDE VÍCIO POR EXCESSO VÍCIO POR FALTA


Coragem Temeridade Covardia
Temperança Libertinagem Insensibilidade
Prodigalidade Esbanjamento Avareza
Magnificência Vulgaridade Vileza
Respeito próprio Vaidade Modéstia
Prudência Ambição Moleza
Justa indignação Inveja Malevolência

Fonte: Chauí (2005, p. 448).

SAIBA MAIS
Acesse o portal da Academia Brasileira de Direito de Estado (ABDET) e leia a
versão online e integral da obra ‘Ética a Nicômaco’, de Aristóteles, disponível
em: http://gg.gg/edzdl.
12 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL | Michelle Clos | Robinson Henrique Scholz

Na sua vida cotidiana, bem como no trabalho em que você exerce no contexto
das organizações, a ética é um fator determinante para se estabelecer a confiança e o
convívio em sociedade. A ética reflete no comportamento das pessoas, suas posturas e
atitudes. Para que você entenda melhor, Dessler (2014) relata que uma pesquisa de mais
de 30 anos conclui que três fatores determinam escolhas éticas:

• A primeira é descobrir as maçãs podres, ou seja, as pessoas que mais tendem


a fazer escolhas antiéticas, pois as pessoas que têm maior desenvolvimento
cognitivo pensam no que suas decisões podem causar e acabam buscando
princípios éticos.

• A segunda é desvendar o que corrobora para posicionamentos éticos ruins.


Incrivelmente, questões simples são as maiores causadoras de decisões ruins,
principalmente. Por pensarem que danos menos graves causam menos incômodo.

• E a terceira é referente aos ambientes desfavoráveis, também chamados de


ambientes “venenosos”. Muitas vezes causados pelas próprias empresas ao
promoverem a ideia de cada um por si. Isso gera competitividade entre as
partes envolvidas em um conflito ou negociação e favorece o acontecimento de
decisões antiéticas.

Sendo assim, para Dessler (2014) a ética se inclui no estudo da administração


do fator humano, pois ela colabora para o funcionamento dos processos, até porque,
quem está por trás dos processos são pessoas e essas pessoas não conseguem manter o
trabalho se seus gestores forem vistos como antiéticos.

Além destas questões aqui levantadas, é importante que você saiba que a ética,
em essência, é a reflexão acerca da moral. Portanto, ao longo da história do pensamento,
diferentes teorias éticas foram construídas, como a aristotélica, a utilitarista, a Kantiana
e a cristã. Importante destacar que um modelo ético pode funcionar em determinado
tipo de sociedade, mas não necessariamente em todas elas (ASHLEY, 2019).

Vamos compreender esse assunto tendo em vista que uma empresa estrutura
seus negócios a partir da ética cristã, por exemplo, a qual tende a desenvolver práticas
caritativas, distribuir lucros, além de adotar uma política de preços acessíveis e tem
pouco interesse em lucro abusivo. Estas empresas sao as que tendem a se comprometer
com o desenvolvimento da comunidade na qual estão inseridas e fazem doações regulares
para igrejas (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2012). Mas, por que isto? Os princípios cristãos
orientam a vida em comunidade com práticas de abnegação, doação e auxílio aos mais
Ética nas Organizações e no Exercício Profissional | UNIDADE 1 13

necessitados como meios de alcançar paz e crescimento interior. Este tipo de modelo
empresarial não funciona em sociedade capitalistas avançadas ou simplesmente não é o
modelo ético que referencia a maior parte dos negócios em curso no país, por exemplo.

Agora, é relevante que você entenda que existem modelos de negócios distintos,
que podem ser de uma microempresa até uma multinacional, não é mesmo? Nesse
sentido, nem todas assumem uma ética cristã em seus negócios. Assim, por outro lado, a
ética Kantiana, baseada na razão, sustenta que a ética deve ser universal, independente
da cultura e que as ações devem ser guiadas a partir do questionamento: isto fará bem
à coletividade? Se a resposta for positiva, é uma atitude ética, se não, é antiético.
No pensamento ético, Kant desenvolve o que se torna um de seus principais conceitos:
o imperativo categórico (KANT, 2007).

GLOSSÁRIO
O imperativo categórico indica que ao se deparar com um dilema, o sujeito
deve perguntar-se: “seria saudável para a sociedade se todos fizessem isso
que estou prestes a fazer?”. Se não for, você deve evitar a ação através do uso
da racionalidade.

Bom, os estudos sobre a ética são vastos e recomendo que você continue seus
estudos, entendendo que em resposta à compreensão da ética social, surge no século
XIX a ética utilitarista proposta por John Stuart Mill, a qual assim como o nome
propõe, está relacionada com a utilidade da decisão. Em outras palavras, uma decisão
pode ser antiética na perspectiva de Kant ao prejudicar a sociedade se a maior parte
das pessoas optassem por fazê-lo, como por exemplo mentir, mas pode ser ética se for
útil naquilo que se propõe, sobretudo se a mentira evitar um transtorno maior para um
grupo grande de pessoas (MILL, 2000).

Lembre-se que as diferentes teorias éticas nos demonstram que não há uma
unidade na concepção de certo ou errado, justo ou injusto, mas sim, modos de
interpretação e análise de fatos da vida social capazes de orientar para tomadas de
decisões na vida privada e pública.
14 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL | Michelle Clos | Robinson Henrique Scholz

SAIBA MAIS
Figura 1.2 - Immanuel Kant

Fonte: Wikimedia Commons (2022).

Immanuel Kant nasceu em 22 de abril de 1724, em Königsberg, na Prússia


Oriental – atual Kaliningrado, parte de Rússia. Aos 16 anos, ingressou no curso
de teologia da Universidade de Königsberg. Escreveu os primeiros ensaios
em 1755, influenciado pelos tratados de física de Newton e pelo racionalismo
do filósofo Leibniz. A partir de 1760 se distanciou dessa corrente e passou a
seguir a moral filosófica de Rousseau.

Em 1770 se tornou professor de lógica da Universidade de Königsberg e enfrentou


dificuldades para expor suas ideias em razão da oposição do luteranismo
ortodoxo. Morreu em 1804, em Königsberg, cidade de onde nunca saiu.

Para saber mais sobre o filósofo Kant, acesse o Especial Immanuel Kant, da
Revista Guia do Estudante Abril: http://gg.gg/edzeg.

A partir dos estudos sobre a ética e seus principais pensadores, vamos


compreender a diferença entre a ética e a moral a seguir. Vamos lá?
Ética nas Organizações e no Exercício Profissional | UNIDADE 1 15

1.2 Ética Versus Moral


Vimos até agora que a ética é um tipo de saber normativo, mas não é equivalente à
norma ou moral. É uma parte da filosofia e, como tal, se dedica a refletir e entender sobre
os aspectos morais da vida cotidiana. Neste sentido, todos somos orientados por algum
tipo de ética, afinal, é esta orientação que nos conduz às nossas tomadas de decisão.

Mas, qual é a função da ética? Para Cortina e Martinez (2010, p. 21), existe
uma tripla função:

1. Esclarecer o que é a moral, quais são seus traços específicos;

2. Fundamentar a moralidade, ou seja, procurar averiguar quais são as razões que


conferem sentido ao esforço dos seres humanos de viver moralmente;

3. Aplicar aos diferentes âmbitos da vida social os resultados obtidos nas


duas primeiras funções, de maneira que se adote nesses âmbitos sociais
uma moral crítica.

Figura 1.3 – Funções da ética.

Estudar a moral

Justificar os
fundamentos
da moral

Ética
Aplicar os resultados de estudo e dos
fundamentos da moral em decisões
críticas.

Fonte: Adaptado de Cortina e Martinez (2010).


16 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL | Michelle Clos | Robinson Henrique Scholz

Agora, eu te pergunto: qual a diferença entre ética e moral? Pois bem, enquanto que
a ética é a teoria que estuda hábitos e costumes, como uma filosofia da moral, a moral é o
conjunto de normas e regras que determinam o comportamento de indivíduos em algum grupo
social. Importante que você saiba que a diferença essencial entre os conceitos é que, enquanto
a ética tem a ver com o que cada um deseja para si, suas aspirações e como quer chegar ao
objetivo, a moral é o conjunto de normas passadas escritas ou oralmente e convencionadas
socialmente. O mais interessante no estudo da ética e da moral, é observarmos que as éticas
pessoais ao se alterarem, impactam na ética da coletividade e consequentemente no código
moral vigente em determinado tempo e espaço (ASHLEY, 2019).

VÍDEO

Quer saber mais sobre a diferença entre ética e moral? Ótimo! Para isso, você
pode acessar o vídeo disponível neste link: http://gg.gg/11gp83.

1.2.1 Atitudes Imorais e Amorais


Em se tratando de moral, é imperativo que você possa estabelecer processos
cognitivos e práticos sobre as ações executadas na sociedade, sejam elas em qualquer
espaço. Sabe por que? Porque regras, crenças, dogmas e leis estão presentes nos mais
variados contextos e precisamos estar em constante processo de aprendizado e adaptação.
Quando ultrapassados as fronteiras da moral ou não as respeitamos, podemos estar
realizando atitudes imorais ou amorais. Vamos saber mais sobre cada uma delas?

As atitudes imorais são aquelas que desrespeitam as regras morais estabelecidas


na sociedade. Pode-se dizer que imoral é tudo aquilo que fere os códigos escritos e
orais já convencionados (CORTINA; MARTINEZ, 2010). Em ambientes públicos,
a contratação de parentes é considerada ilegal e imoral, ao que dá-se o nome de
nepotismo. O mesmo conceito de imoralidade não se aplica às empresas familiares,
para as quais os laços são fundamentais nas escolhas de cargos de gestão e sucessão.
Ética nas Organizações e no Exercício Profissional | UNIDADE 1 17

Já as atitudes amorais são realizadas por aqueles que não tem compressão das
regras morais (CORTINA; MARTINEZ, 2010). Crianças, por exemplo, até determinada
idade, não tem compreensão dos códigos morais para vestimentas e comportamentos,
portanto não é possível exigir que participem ou respondam com discernimento
crítico. Assim como também é considerado comportamento amoral sujeitos de culturas
diferentes, que vivem fora do contexto em que as regras foram criadas ou que não tem
capacidade de compreender as normas morais. Por exemplo, quando brasileiros viajam
para a Ásia e não aprenderam, ainda, as regras, costumes e a cultura do lugar. Dessa
forma, podem cometer atitudes amorais por conta do desconhecimento, devendo haver
um aprendizado sobre a moral presente no país em que estiver no continente asiático.

SAIBA MAIS
No contexto das organizações, podemos analisar as atitudes imorais e
amorais, por meio de análises sobre as práticas realizadas pelos trabalhadores
e interessados no negócio. Para contribuir nos seus estudos, acesse o artigo
intitulado “Relação entre Manipulação Amoral, Identificação Organizacional
e Satisfação com a vida”, disponível neste link: http://gg.gg/11gp90.

A partir da compreensão e apropriação da moral em um determinado contexto de


relação social e/ou profissional, o sujeito tem a capacidade de desenvolver as condutas
éticas com base nas suas responsabilidades assumidas sobre os seus atos. Saberemos
mais sobre isso no próximo subcapítulo.

1.3 Ética nas Relações Sociais


A vida em sociedade pressupõe capacidade de se relacionar e de conviver em
grupos. Com a disseminação da virtualidade e das redes sociais, as trocas instantâneas
de mensagens, imagens, vídeos e áudios criou uma arena nova de relações, para as
quais os limites da moralidade ainda estão em processo de readequação. Contudo,
atitudes antiéticas e imorais estão presentes na sociedade brasileira desde o nosso
processo de colonização.

Leonardo Boff em seu texto, que veremos a seguir, nos convida a refletir sobre
a crise que a sociedade brasileira vive com a ética, ou melhor, com o que o autor define
enquanto falta de ética desde o princípio e nos propõe alternativas simples e possíveis
para mudanças individuais nas relações sociais que estabelecemos cotidianamente.
18 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL | Michelle Clos | Robinson Henrique Scholz

DESTAQUE
A escandalosa falta de ética do Brasil

“O país, sob qualquer ângulo que o considerarmos, é contaminado por uma


espantosa falta de ética. O bem é só bom quando é um bem para mim e para os
outros; não é um valor buscado e vivido, mas o que predomina é a esperteza,
o dar-se bem, o ser espertinho, o jeitinho e a lei de Gerson.

Os vários escândalos que se deram a conhecer, revelam uma falta de


consciência ética alarmante. Diria, sem exagero, que o corpo social brasileiro
está de tal maneira putrefato que onde quer que aconteça um pequeno
arranhão já mostra sua purulência.

A falta de ética se revela nas mínimas coisas, desde as mentirinhas ditas em


casa aos pais, a cola na escola ou nos concursos, o suborno de agentes da
polícia rodoviária quando alguém é surpreendido numa infração de trânsito até
em fazer pipi na rua.

Essa falta generalizada de ética deita raízes em nossa pré-história. É uma


consequência perversa da colonização. Ela impôs ao colonizado a submissão,
a total dependência à vontade do outro e a renúncia a ter a sua própria vida.
Estava entregue ao arbítrio do invasor. Para escapar da punição, se obriga a
mentir, a esconder intenções e a fingir. Isso leva a uma corrupção da mente.

A ética da submissão e do medo como mostrou J. Le Goff (O medo no Ocidente)


leva fatalmente a uma ruptura com a ética, quer dizer, começa a faltar com
a verdade, a nunca poder ser transparente e, quando pode, prejudica seu
opressor. O colonizado se obrigou, como forma de sobrevivência, a mentir e
a encontrar um “jeitinho” de burlar a vontade do senhor. A Casa Grande e
a Senzala são um nicho, produtor de falta de ética: pela relação desigual de
senhor e de escravo. O ethos do senhor é profundamente antiético: ele pode
dispor do outro como quiser, abusar sexualmente das escravas e vender seus
filhos pequenos para que não tivessem apego a eles. Nada de mais cruel e
antiético que isso.

Esse tipo de ética desumana cria hábitos e práticas que, de uma forma ou de
outra, continuam, no inconsciente coletivo de nossa sociedade. [...]

Para ser brevíssimo: tudo deve começar na família. Criar caráter (um dos
sentidos de ética) nos filhos, formá-los na busca do bem e da verdade e não
se deixar seduzir pela lei de Gerson e evitar, sistematicamente, o jeitinho.
Princípio básico: tratar sempre humanamente o outro. Tomar absolutamente
sério a lei áurea: “não faça ao outro o que não quer que te façam a ti”.
Siga o princípio de Kant: que o princípio que te leva fazer o bem, seja válido
para também para os outros.

(cont.)
Ética nas Organizações e no Exercício Profissional | UNIDADE 1 19

Oriente-se pelos dez mandamentos que são universais. Traduzidos para hoje:
o “não matar” significa, venere a vida, cultive uma cultura da não violência.
O “não roubar”: aja com justiça e correção e lute por uma ordem econômica
justa. O “não cometer adultério”: amem-se e respeitem-se, e obriguem-se a
uma cultura da igualdade e parceria entre o homem e a mulher.

Isso é o mínimo que podemos fazer para arejar a atmosfera ética de nosso
país. Repetindo o grande Aristóteles:“não refletimos para saber o que seja a
ética, mas para tornarmo-nos pessoas éticas”.
Fonte: ‘A escandalosa falta de ética no Brasil’, publicado no portal Carta Maior,
disponível em: http://gg.gg/11gpdm.

A partir da reflexão de Leonardo Boff, você pode refletir sobre seus pensamentos
e comportamentos, analisando os impactos que este gera na realidade em que você está
inserido. Por exemplo, qual a sua postura quando você está comprando algo e o troco
que você recebe vem a mais do valor real; Como você trata as pessoas mais idosas na
sua família; como você lida com a questão da prevenção do meio ambiente, no que se
refere à questão dos resíduos, por exemplo?

São muitas as situações em que a ética está presente nas relações sociais, pois
os humanos são seres que precisam de relações em sociedade para viverem, e assim,
a moral e o comportamento ético se fazem presentes. Contribuindo no seu entendimento,
vamos conhecer os seis princípios da ética socia (ASHLEY, 2019):

1. Dignidade da Pessoa Humana: a Convenção Americana sobre Direitos


Humanos, de 1969, estabelece, em seu art. 11, § 1º, que “Toda pessoa humana
tem direito ao respeito de sua honra e ao reconhecimento de sua dignidade.”.
É característica intrínseca e inalienável de cada ser humano, colocando-o como
merecedor do respeito e da consideração do estado e da sociedade.

2. Direito de propriedade: o direito de propriedade é o direito das pessoas de


possuírem coisas para atender às suas necessidades, para seu uso; é um direito
pacificamente reconhecido por todos.

3. Primazia do trabalho: o trabalho – atividade que o ser humano realiza para


sobreviver, ganhar a vida e crescer como pessoa – é a atividade de primordial
importância, sem dúvida a mais expressiva da pessoa humana. A pessoa mesma
está em seu trabalho. É comum as pessoas apresentarem-se pelo nome e pelo
trabalho. Não só a subsistência pessoal e de familiares depende do trabalho,
mas antes a própria pessoa, seu crescimento, seu desenvolvimento.
20 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL | Michelle Clos | Robinson Henrique Scholz

4. Primazia do bem comum: o interesse do coletivo deve se sobrepor ao interesse


individual, pois o avanço de uma sociedade depende do esforço conjunto das
pessoas e só pode ser alcançado com a colaboração de todos os integrantes
do grupo. Os seres humanos buscam naturalmente a união, primeiramente
porque são essencialmente sociais e em segundo lugar porque sentem inúmeras
limitações ao agir isoladamente. É o conjunto de condições sociais que permite
e favorece aos membros da sociedade o seu desenvolvimento pessoal e integral.

5. Solidariedade: um dos traços mais fortes da natureza humana. A pessoa


imediatamente identifica o próximo como seu igual, ainda que não o conheça,
ainda que de outra raça ou de outra língua. A solidariedade entre os seres
humanos decorre diretamente do fato de todos serem da mesma natureza.
É a chamada fraternidade humana.

6. Subsidiariedade: a participação ativa das pessoas e de todos os grupos sociais


nas esferas superiores, econômicas, políticas e sociais, de cada país e do mundo
é a base desse princípio. Em latim, subsidere significa “sentar-se debaixo”, estar
na reserva. Subsídio é o auxílio dado; quem recebe é dito subsidiado; quem doa
é o subsidiário. Devido à presença do sufixo -idade, a palavra subsidiariedade
significa o estado ou a qualidade de subsidiário. A organização social funciona
porque o ser humano a sustenta na base.

VÍDEO

Vamos conhecer mais sobre o pensamento de Leonardo Boff sobre a ética?


Assista ao vídeo neste link: http://gg.gg/11gpex e conheça este grande
pesquisador e seus pensamentos.
Ética nas Organizações e no Exercício Profissional | UNIDADE 1 21

1.4 Ética Empresarial e Ética Profissional


Agora, você vai entender que há uma diferença substancial entre ética nas
organizações e ética das organizações. Enquanto a primeira requer modo de resposta às
regras por parte dos indivíduos que ali trabalham, a ética das organizações demonstra
o modo como ela se relaciona com a sociedade/comunidade na qual está inserida
(ASHLEY, 2019). Seria como se você tivesse suas regras morais culturais aprendidas
na família e levadas aos ambientes de trabalho (ética nas organizações) e como você se
comporta em relação às regras, valores, princípios e comportamentos da empresa (ética
das organizações) que estão em sua cultura organizacional, por exemplo.

Atualmente, existem pelo menos dois tipos de código de ética no campo das
organizações: Códigos de Ética Profissionais, que definem condutas, deveres
e atividades dos profissionais (Código de Ética do Administrador) e Códigos de
Ética Empresariais, que definem o projeto comum que caracterizam e unem a
empresa (ALONSO, 2006).

Anote aí nos seus estudos: empresas não são apenas constituições jurídicas,
mas são, sobretudo, estruturas compostas por pessoas, que possuem condutas éticas
individuais e que, portanto, são passíveis de erros, preconceitos e ações antiéticas
ou imorais. Uma das estratégias que as organizações utilizam para minimizar as
divergências entre a ética da empresa e a ética do colaborador são os manuais de
conduta ou código de ética da empresa, documento de ampla divulgação no espaço
organizacional e que serve de balizador e orientador das práticas e comportamentos
individuais (PHILIPPI; SAMPAIO; FERNANDES, 2017).

Podemos entender a ética profissional como um modo de ser prático-social


que se objetiva por meio da práxis consciente e racional do indivíduo. Já a ética
empresarial é pautada nos valores que uma empresa escolhe, nas preocupações
sociais, na responsabilidade com seu corpo de colaboradores e com o entorno,
de modo a desenvolver práticas socioambientais que inspirem respeito junto aos clientes,
fornecedores, parceiros e concorrentes. A postura ética é fundamental, independente
do porte da empresa ou do setor de atuação, pois demonstrações de transparência,
credibilidade e responsabilidade fortalecem a marca e inspiram confiança tanto interna
quanto externa (BARROS, 2011).
22 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL | Michelle Clos | Robinson Henrique Scholz

DESTAQUE
“O Instituto Brasileiro de Direito e Ética Empresarial (IBDEE) completou três anos
de existência. Buscamos neste tempo refletir sobre a cultura organizacional
das empresas brasileiras e seu papel em um país com menos corrupção, além
da criação de uma sociedade mais justa e sustentável.

Em 2018 realizamos a pesquisa Acordos de Colaboração 2018 – Percepção do


empresariado sobre o tema e práticas adotadas. Constatamos neste estudo que
30% das empresas participantes já tiveram que se submeter a algum acordo
de colaboração com órgãos do Poder Público. A pergunta que nos fazemos é
por que as empresas brasileiras preferem não agir de acordo com as normas e
com os princípios éticos que delas se espera.

Alguns fatores influenciam para que elas sigam praticando atos ilegais e de
corrupção. O principal deles talvez seja o enorme tamanho do Estado brasileiro,
que tudo regula e em tudo está presente, criando tantas barreiras para a
atividade empresarial que o famoso “jeitinho brasileiro” acaba se tornando
uma questão de sobrevivência.

Também merece destaque a cultura organizacional brasileira. Os empresários


não corrompem, necessariamente, para ter mais lucro. Às vezes, fazem para
não ter prejuízo, ou pior, porque não sabem fazer negócios de outra maneira.

Neste ponto nos confrontamos com uma questão central: a necessidade


de conscientização do empresariado, que muitas vezes cegos diante de
seus atos, são incapazes de reconhecê-los como antiéticos e vorazmente
prejudiciais ao nosso país”.

Rodrigo Bertoccelli é presidente do Instituto Brasileiro de Direito e Ética


Empresarial (IBDEE)

Uma questão importante no campo da ética é a discussão dos limites de um


posicionamento ético em meio a uma sociedade capitalista, na qual o acúmulo de capital
se alia à práticas como trabalho escravo, subcontratação, exploração do trabalho infantil
e exploração ambiental. O exercício da ética no contexto empresarial é um desafio
permanente e tensiona gestores, colaboradores e consumidores quando confrontados
com situações que violam direitos humanos ou cometem atos de corrupção (PHILIPPI;
SAMPAIO; FERNANDES, 2017). É possível uma empresa ética na atual sociedade
brasileira? Veja os exemplos a seguir, para que possamos finalizar esta Unidade:
Ética nas Organizações e no Exercício Profissional | UNIDADE 1 23

DESTAQUE
Você sabe quais são as empresas consideradas éticas no Brasil?

Programa Empresa Íntegra: ética e compliance nos pequenos negócios

A criação da Lei n.° 12.846, de 2013, a Lei Anticorrupção Empresarial, inovou


o ambiente legal brasileiro com a responsabilização objetiva administrativa e
civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública,
nacional e estrangeira. Ou seja, a responsabilização por atos de corrupção,
que antes punia apenas a pessoa física, o executivo ou colaborador a quem
era imputada suposta irregularidade, passou a alcançar igualmente a pessoa
jurídica – a própria empresa.

A lei incentiva a implementação de programas de conformidade, conhecido


como compliance, estabelecendo critérios para promover a transparência
necessária nas relações entre poder público e empresas, definindo atos de
corrupção e responsabilizando os agentes corruptores.

Para saber mais, acesse o texto “Programa Empresa Íntegra: ética e


compliance nos pequenos negócios”, de Márcio Francisco Benedusi,
disponível no portal do Sebrae-RS: http://gg.gg/11gpgv.

VÍDEO

Compreender o exercício da ética empresarial requer estudo, observação,


comportamento e conhecimento sobre o ambiente de trabalho, bem como o
contexto em que se está inserido. Para poder contribuir nos estudos sobre este
assunto, assista ao vídeo do Prof. Leandro Karnal, em que ele explora o assunto
com exemplo. O vídeo está disponível neste link: http://gg.gg/11gphr.
24 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL | Michelle Clos | Robinson Henrique Scholz

Síntese da Unidade
Nesta Unidade, você teve a oportunidade de estudar algumas teorias que
envolvem a ética e a moral, tanto na vida pessoal quanto profissional. A ética é um
conceito que tende a se confundir com moral, tendo em vista que ambos têm objetos de
estudo muito semelhantes. Contudo, é preciso destacar que a ética é o estudo da moral
e da moralidade, tem caráter reflexivo para um melhor viver, enquanto a moral é o
conjunto de regras construídas socialmente de grupos específicos. Portanto, não existem
pessoas sem nenhum tipo de ética, mas pessoas moralistas, imorais ou amorais.

Em se tratando de atitudes no âmbito da moral, estudamos que as pessoas


que agem sem precedentes, mesmo conhecendo as regras, os costumes e a cultura da
sociedade em que está inserida, são atitudes imorais. Já a conduta relacionada a uma
ação sem o conhecimento prévio se está certo ou errado, justo ou injusto, entre outras,
é porque a pessoa não tinha a informação e a educação sobre a moralidade em torno da
ação realizada naquele contexto, caracterizando, assim, como uma atitude amoral.

Ao longo da formação profissional, a ética e a moral são temas recorrentes, tendo


em vista o impacto que o trabalho autônomo de profissionais graduados exerce sobre
a população em geral. É preciso estar atento para atitudes antiéticas nas organizações,
pois comprometem a sociedade em seu aspecto mais amplo. Contribuindo, a ética
profissional e organizacional demonstram como a empresa desenvolve seu trabalho,
sua postura para com os clientes, fornecedores, concorrentes, entre outros elementos.
A conduta ética assumida pelos profissionais de uma empresa alimentam a conduta ética
empresarial, que permite o desenvolvimento da imagem da empresa perante o mercado
com o qual ela atua.
Ética nas Organizações e no Exercício Profissional | UNIDADE 1 25

Bibliografia
ASHLEY, P. A. Ética, responsabilidade social e sustentabilidade nos negócios: (des)
construindo limites e possibilidades. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
ALONSO, A. H. Ética das Profissões. São Paulo: Loyola, 2006.
BARBIERI, J. C; CAJAZEIRA, J. E. R. Responsabilidade social empresarial e
empresa sustentável: da teoria à prática. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
BARROS, J. D. A. Práxis: considerações sobre as assimilações de um conceito pelo
materialismo histórico. História Social, n.º 20, 2011.
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. 13 ed. São Paulo: Ática, 2005.
CORTINA, A.; MARTINEZ, E. Ética. São Paulo: Loyola, 2010.
DESSLER, G. Administração de recursos humanos. 3. ed. São Paulo: Pearson
Education do Brasil, 2014.
IBRAHIN, F. I. D. Educação ambiental: estudos dos problemas, ações e instrumentos
para o desenvolvimento da sociedade. São Paulo: Érica, 2014.
KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. Lisboa: Edições 70, 2007.
MILL, J. S. Utilitarismo/liberdade. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
PHILIPPI J. A.; SAMPAIO, C. A. C.; FERNANDES, V. Gestão empresarial e
sustentabilidade. Barueri: Manole, 2017.
ROBINSON, D.; GARRATT, C. Entendendo: ética. São Paulo: Leya, 2013.
CONTRIBUA COM A QUALIDADE DO SEU CURSO
Se você encontrar algum problema neste material, entre em
contato pelo email eadproducao@unilasalle.edu.br. Descreva o
que você encontrou e indique a página.

Lembre-se: a boa educação se faz com a contribuição de todos!


Av. Victor Barreto, 2288 | Canoas - RS
CEP: 92010-000 | 0800 541 8500
eadproducao@unilasalle.edu.br

Você também pode gostar