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Não Treinados e Não Tridentinos: Ordens Sagradas e a

Inaptidão Canônica (2003)


Rev. Anthony Cekada

Luiz Guilerme Muniz


Tradução
Editora Restauração

Sumário
1 O problema do clero não treinado no movimento tradicionalista. 2

2 Aptidão Canônica: Os Requisitos 3


2.1 Conduta Virtuosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2.2 O Conhecimento Necessário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.2.1 Conhecimento de Latim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.2.2 Filosofia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.2.3 Teologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.2.4 Preparação de Cursos, Exames . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.2.5 Ordens e Estudos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

3 Ordenação de Não Apto: Ilícito e Pecaminoso 9

4 Validade das Ordens dos Bispos Não Aptos 10


4.1 Batismo por um Leigo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
4.2 Cismáticos Etíopes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
4.3 Cismáticos Velha Igreja Católica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
4.4 Um Bispo Casado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

5 Uso de Ordens pelos Canonicamente Inaptos 13


5.1 Ordens de um Bispo Católico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
5.2 Ordens de um Cismático . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

6 Objecções e Evasões 15
6.1 Estudo Privado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
6.2 Pio XII . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
6.3 Cânones Inaplicáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
6.4 Necessidade de Padres . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
6.5 "Minha Vocação" . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
6.6 Maus Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
6.7 Somos Monges Contemplativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
6.8 Muito Trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

7 Resumo e Conclusões 18

8 Bibliografia: 20

1
1 O problema do clero não treinado no movimento tradicio-
nalista.
OS INCIDENTES a seguir ocorreram de fato em diferentes capelas católicas tradicionais nos
Estados Unidos:

• Um homem casado, vestido com paramentos sacerdotais, está diante de um altar tentando
oferecer a Missa Tridentina, mas é óbvio que ele não tem ideia de como proceder. O coroinha
(um leigo devoto) se levanta, se coloca ao lado do "Padre" e, pelo restante da Missa, diz ao
celebrante confuso o que fazer a seguir.

• O "Padre" está realizando serviços da Semana Santa em uma capela tradicionalista na Loui-
siana. Ele compra algum “boudin”, uma espécie de salsicha de chouriço cajun apimentada, e
casualmente menciona que a comeu a maior parte dela no estacionamento do supermercado.
O dia é Sexta-Feira Santa.

• O "Padre" esqueceu de consagrar uma hóstia extra para a Benção após a Missa. Ele abençoa
a congregação com um ostensório vazio e diz ao coroinha: "Espero que ninguém perceba."

EM CADA um desses incidentes (e muitos outros semelhantes), nos deparamos com um fenômeno
estranho e perturbador: o suposto padre tradicionalista que foi ordenado sem o devido treinamento
no seminário.
Em alguns casos, ele pode ter sido treinado como irmão religioso ou talvez até passado um
ou dois anos em um seminário. Mas ele nunca completou os estudos eclesiásticos necessários
(latim, filosofia, teologia). Um bispo idoso, crédulo ou negligente o ordenou de acordo com o
rito tradicional, e ele começa a oferecer Missa e ouvir confissões em uma capela tradicionalista.
Ou pior, ele pode não ter nem mesmo essas credenciais insignificantes. Ele é um criador de
frangos, enfermeiro, liquidante de propriedades, fabricante de paramentos, cozinheiro, médico, ex-
detento, professor ou ex-seminarista expulso três vezes, às vezes com um histórico matrimonial
incongruente (casado, divorciado, anulado). Um dia ele aparece em algum lugar para oferecer a
Missa Tridentina, alegando ser um padre ou bispo católico. Descobre-se que ele foi ordenado ou
consagrado por um "bispo" igualmente não treinado com ligações com os Velhos Católicos,1 a
Igreja Apostólica Brasileira,2 Palmar de Troya,3 ou outros.
Permitir que tais homens exerçam a função como padres em nosso meio é, no mínimo, contra-
ditório. Como tradicionalistas, valorizamos a Missa Tridentina. Mas uma Missa Tridentina deve
ser celebrada por um padre "tridentino" - ou seja, treinado de acordo com as normas do Concílio
de Trento.
Aqueles de nós que têm idade suficiente para lembrar como o sistema tridentino funcionava e
quais eram os padrões estabelecidos acham a ideia de um padre não treinado não apenas bizarra,
1
Um grupo de corpos cismáticos ligados aos jansenistas do século XVII em Utrecht, ou aos liberais do século
XIX que rejeitaram a infalibilidade papal. Para uma visão geral, consulte artigo de pe. A. Cekada, "Warning on
the Old Catholics” (Aviso sobre os Velhos Católicos), The Roman Catholic (1980).
2
Fundada em 1945 por Mgr Carlos Duarte Costa (1888-1961), ex-Bispo de Bocatú, Brasil, que foi excomungado
por atacar a autoridade do papa. Este foi um movimento liberal que instituiu uma liturgia vernacular e aboliu o
celibato clerical e a confissão auricular.
3
Movimento espanhol anti-Vaticano II fundado pelo vidente Clemente Dominguez. Em 1976, vários bispos para o
grupo foram consagrados pelo ex-arcebispo de Hué, Mgr P.M. Ngô-dinh-Thuc (1897-1984), que mais tarde repudiou
Palmar. Os padres tradicionalistas que Mgr Thuc consagrou como bispos em 1981, Pe. M.L. Guérard des Lauriers
OP, Moisés Carmona Rivera e Adolfo Zamora Hernandez eram sede-vacantistas que não tinham ligação com Palmar.

2
mas também positivamente horripilante. No início dos anos 1960, aos quatorze anos, comecei a
vida eclesiástica entrando em um seminário menor com outros 125 garotos. Todos nós sabíamos
exatamente o que a Igreja exigia antes que pudéssemos ser ordenados: seis anos de seminário
menor (com latim todos os anos) e mais seis anos de seminário maior (dois de filosofia e quatro
de teologia). Somente se perseverássemos por doze anos - tendo sido testados e julgados a cada
passo - poderíamos esperar ser ordenados. Não havia exceções, porque (como até mesmo os meninos
sabiam naquela época) o sacerdócio era o trabalho mais importante do mundo, e um dia a salvação
ou a condenação de uma alma dependeria de você.
Os leigos às vezes toleram o padre tradicionalista não treinado e não tridentino porque não
entendem os requisitos rigorosos para a ordenação sacerdotal. Em outros casos, os leigos podem
achar que "sacramentos válidos" são tudo o que importa e que o restante é apenas enfeite legalista
- então, por que ser exigente? No entanto, a experiência ensina que um padre não instruído e mal
formado é uma bomba-relógio prestes a explodir. Quando a explosão acontece, o escândalo segue,
e as almas são afastadas da Missa tradicional.
E quando um padre ou bispo desse tipo emerge de um submundo eclesiástico onde ninguém
recebeu treinamento adequado, é realmente seguro assumir que sua ordenação ou consagração era
válida de qualquer maneira?
Mas em qualquer caso, válido ou não, a presença de uma pessoa desse tipo no altar e no
confessionário degrada o sacerdócio e coloca em perigo as almas.
Como ministro de um curso geral de direito canônico e um curso de direito sacramental em uma
instituição que forma jovens para se tornarem padres católicos tradicionais, o Most Holy Trinity
Seminary, resolvi escrever um artigo explicando alguns dos princípios estabelecidos pelo direito
canônico, teologia moral e pronunciamentos papais sobre a recepção e confirmação das Ordens
Sagradas.
Aqui, abordarei os seguintes tópicos:
1. A aptidão canônica para a ordenação - ou seja, os critérios estabelecidos pelo direito canônico
para determinar se um candidato é adequado ou não para o sacerdócio.
2. A pecaminosidade de conferir as Ordens Sagradas a um candidato inadequado.
3. Se as ordens conferidas por bispos que eles próprios eram canonicamente inadequados para
o estado sacerdotal podem ser presumidas como válidas.
4. Se um candidato inadequado que recebeu as ordens pode exercê-las.
5. Algumas objeções.
Como veremos, as normas da Igreja são rigorosas, e aqueles que não as cumprem não estão aptos
a receber, exercer ou conferir o sacramento das Ordens Sagradas. Portanto, as atividades desse
clero devem ser evitadas por católicos tradicionais em todos os lugares.
Espero também que esta discussão ajude o leitor leigo a entender e apreciar melhor a formação
em seminários tradicionais recebida pelos padres católicos. "

2 Aptidão Canônica: Os Requisitos


MERAMENTE DESEJAR ser padre, mesmo que por um motivo digno, não significa que você
tenha uma verdadeira vocação. Teólogos morais e canonistas ensinam que um candidato também
deve possuir aptidão canônica (idoneitas canonica).

3
O Cânon 974.1 estabelece os dois critérios gerais que são a chave para determinar a aptidão
canônica de um candidato:
1. "Conduta moral que esteja de acordo com a ordem a ser recebida" - ou seja, virtude.
2. "O conhecimento necessário."4 Se um candidato não possui essas qualidades, ele é canonica-
mente inadequado, não será um bom negócio para ninguém ele ser padre, e sua ordenação
seria gravemente ilícita.
Normalmente, onde e como esse julgamento é feito? Os decretos do Concílio de Trento prescreveram
que "aqueles que serão ordenados devem viver em um seminário, serem formados na disciplina
eclesiástica e receber as Ordens Sagradas após terem sido devidamente julgados."5
O Cânon 972.1 estabelece a regra geral: "Todos os candidatos às ordens sagradas... são obri-
gados a viver em um seminário, pelo menos durante todo o curso de seus estudos de teologia."6
O programa do seminário garante que os ordenandos sejam "devidamente julgados" (rite pro-
bati) com base em sua conduta e conhecimento e, portanto, sejam canonicamente aptos para a
ordenação.
Virtude e conhecimento só podem ser adquiridos, testados e julgados ao longo de um longo
período de tempo. A seguir, apresento uma visão geral da formação espiritual e intelectual que o
seminário deve fornecer.

2.1 Conduta Virtuosa


Que tipo de "conduta moral" (mores congruentes) é necessária em um candidato às Ordens
Sagradas?
O canonista Regatillo explica que isso significa os dotes gratiae - as virtudes sobrenaturais
(obtidas pela Graça), especialmente "piedade, castidade, ausência de avareza, zelo pelas almas,
espírito de disciplina e obediência."7
São necessários anos, como a prática prudente da Igreja mostrou, para instilar essas virtudes
em um candidato e verificar que elas se tornaram parte de seu caráter.
Em sua encíclica sobre o sacerdócio católico e a formação de seminários, o Papa Pio XI destaca
o cuidado que deve ser exercido ao fazer esse julgamento:
"Escutem o aviso de Crisóstomo, que citamos: ’Não imponha as mãos após a primeira
tentativa, nem após a segunda, nem mesmo a terceira, mas somente após uma obser-
vação frequente e cuidadosa, e um exame minucioso.’ Este aviso se aplica de maneira
especial à questão da retidão de vida dos candidatos ao sacerdócio. ’Não é suficiente’,
diz o Santo Bispo e Doutor Santo Afonso de Ligório, ’que o Bispo não saiba nada de
mal sobre o ordenando; ele deve ter evidências positivas de sua retidão’."8
4
“Mores ordini recipiendo congruentes,” “debita scientia.” O cânon lista outros cinco requisitos que são fáceis
de verificar: Confirmação, idade canônica, recepção das ordens menores, observância dos intervalos de tempo
(interstícios) entre as ordenações e título canônico para as ordens maiores.
5
F. Wernz SJ & P. Vidal SJ, Ius Canonicum (Roma: Gregoriana 1934), 4:218.
6
Canon 972.1. “Curandum ut ad sacros ordines adspirantes inde a teneris annis in Seminario recipiantur; sed
omnes ibidem commorari tenentur saltem per integrum sacra theologiae curriculum.” Tradução: "Deve-se cuidar
para que aqueles que aspiram às ordens sagradas sejam recebidos no Seminário desde tenra idade; no entanto, todos
devem permanecer lá, pelo menos, durante todo o currículo de teologia sagrada." Vou discutir uma exceção abaixo.
7
E.F. Regatillo SJ, Jus Sacramentarium, 2ª ed. (Santander: Sal Terrae 1949) 912.
8
Encíclica Ad Catholici Sacerdotii, 20 de dezembro de 1935, AAS 28 (1936), 42-3. O cânon 973.3 utiliza uma
linguagem quase idêntica à citação de Santo Afonso. 5. F. Wernz SJ & P. Vidal SJ, Ius Canonicum (Rome:
Gregorian 1934), 4:218.

4
Os principais elementos de um programa de seminário que asseguram isso são:

1. O Regulamento do Seminário. Isso organiza a vida diária do seminarista e o forma


nas virtudes que convêm a um clérigo. Regula a conduta geral, práticas espirituais, vestuá-
rio adequado, momentos de silêncio, obrigações domésticas, recreação aceitável, permissões
necessárias, etc.

2. A Agenda Diária. A vida no seminário segue uma agenda diária bastante detalhada
com atividades espirituais comuns regularmente recorrentes (meditação, leitura espiritual,
Rosário, Ofício Divino). Aqui está nossa agenda no Most Holy Trinity Seminary:

(a) 5:40 Levantar


(b) 6:20 Meditação
(c) 6:50 Angelus
(d) 7:00 Missa
(e) 7:50 Café da manhã
(f) 8:30 Aula ou Estudo
(g) 12:30 Refeição Principal
(h) 1:00 Recreação
(i) 1:45 Aula ou Estudo
(j) 3:15 Lanche
(k) 3:30 Esportes ou Exercício
(l) 4:30 Limpeza
(m) 5:00 Vésperas, Cantadas
(n) 5:45 Leitura Espiritual ou Conferência
(o) 6:00 Jantar Leve
(p) 6:30 Recreação
(q) 8:00 Rosário, Grande Silêncio
(r) 9:00 Retirar para os quartos
(s) 11:00 Apagar as Luzes

Uma agenda como essa inculca no seminarista o hábito de regularidade na vida espiritual que
ele deve levar consigo após a ordenação. Segui-la fielmente por muitos anos, além disso, indica
a autodisciplina e seriedade de propósito que são indispensáveis para uma vida sacerdotal
devota e zelosa.

3 Direção Espiritual Regular. Cada seminarista é obrigado a ter um diretor espiritual - um


padre que não seja o Reitor do seminário e que é suposto orientá-lo em sua vida espiritual
pessoal. O seminarista se encontra regularmente com seu diretor para discutir seu progresso
espiritual e deficiências.

5
4 Observação e Correção pelos Superiores. Os superiores do seminário devem conhecer
bem os seminaristas e, quando necessário, corrigi-los por várias faltas ou deficiências. Isso
é feito de forma privada ou pública, a critério do superior. O seminarista aprende a aceitar
tais correções graciosamente como um meio para a virtude.

5 Avaliação do Corpo Docente Antes das Ordens. Os padres do corpo docente do


seminário devem discutir e (quando necessário) votar sobre a aptidão de um candidato antes
de ele ser promovido às Ordens Sagradas.

2.2 O Conhecimento Necessário


Papa após papa ensina que a capacidade intelectual e o conhecimento são indispensáveis para
o padre.
Em seu motu proprio que prescreve o Juramento Antimodernista, o Papa São Pio X adverte
que o "cultivo da mente" e a "experiência na doutrina" são ainda mais necessárias nos candidatos
às Ordens Sagradas que terão que combater os erros insidiosos dos modernistas.9
Pio XI adverte: "Qualquer pessoa que assumir o ministério sagrado sem treinamento ou com-
petência deve tremer por seu próprio destino, pois o Senhor não permitirá que sua ignorância fique
impune... Se alguma vez houve uma obrigação para os padres serem homens de aprendizado, é
ainda mais urgente no presente momento."10
Pio XII enfatiza ainda mais que o padre não poderá combater eficazmente os erros modernos "a
menos que tenha aprendido completamente os fundamentos sólidos da teologia e filosofia católicas...
Em conformidade com nosso dever apostólico, insistimos seriamente na importância de um alto
padrão de treinamento intelectual para os clérigos."11
O Código de Direito Canônico estabelece os requisitos gerais para a formação intelectual do
candidato.
Primeiro, presume que ele terá passado cerca de seis anos em um seminário menor (ensino
médio, escola técnica), onde já terá aprendido bem o latim, juntamente com as outras disciplinas
que se espera que um homem educado em seu país estude.12
Em seguida, para o currículo do seminário maior que precede a ordenação sacerdotal, o Código
prescreve dois anos de estudo de filosofia (e disciplinas relacionadas) e pelo menos quatro anos de
estudo de teologia.13
Os seguintes pontos devem ser observados:
9
Motu proprio Sacrorum Antistitum, 1 September 1910, AAS 2 (1910), 666, 667–8.
10
Apostolic Letter Unigenitus Dei Filius, 19 March 1924, AAS 16 (1924), 137.
11
Exhortation to all the clergy Menti Nostrae, 23 September 1950, AAS 42 (1950), 688, 689.
12
See Canon 1364.
13
Canon 1365.1–2. “§1. In philosophiam rationalem cum affinibus disciplinis alumni per integrum saltem biennium
incumbant. §2. Cursus theologicus saltem integro quadriennio contineantur, et, praeter theologiam dogmaticam et
moralem, complecti praesertim debet studium sacrae Scripturae, historiae ecclesiasticae, juris canonici, liturgiae,
sacrae eloquentiae et cantus ecclesiastici. § 3. Habeantur etiam lectiones de theologia pastorali, additis practicis
exercitationibus praesertim de ratione tradendi pueris aliisve catechismum, audiendi confessiones, visitandi infirmos,
assistendi moribundis.” Tradução: "§1. Os alunos devem dedicar pelo menos dois anos ao estudo da filosofia racional
e disciplinas afins. §2. Os cursos de teologia devem ter a duração de pelo menos quatro anos e devem incluir, além
da teologia dogmática e moral, o estudo especial das Sagradas Escrituras, da história da Igreja, do direito canônico,
da liturgia, da retórica sagrada e do canto litúrgico. §3. Também devem ser incluídas aulas de teologia pastoral, com
exercícios práticos, especialmente sobre como ensinar catecismo a crianças e ouvir confissões, visitar os enfermos e
assistir os moribundos."

6
2.2.1 Conhecimento de Latim
Um padre deve conhecer o latim não apenas por causa da Missa, mas também porque o latim
é a língua do Breviário e da teologia católica. Um padre ignorante do latim não entenderá o
Breviário (Ofício Divino), que forma a parte principal de sua oração diária. Logo se tornará um
exercício mecânico para ele, em vez de uma alegria; ele será surdo e não compreenderá a voz da
oração oficial da Igreja. A ignorância do latim virtualmente garante a ignorância da teologia, ou,
na melhor das hipóteses, que o entendimento de um padre nunca será mais do que superficial.
Todos os tratados importantes sobre dogma, teologia moral e direito canônico estão disponíveis
apenas em latim. A ignorância do latim o afasta desse vasto e profundo corpo de conhecimento.
Aqui está Pio XI sobre a questão: "Todos os clérigos sem exceção devem ter adquirido um
conhecimento profundo e domínio da língua... Como alguém pode esperar detectar e refutar esses
erros [teológicos] a menos que compreenda adequadamente o significado dos dogmas da fé e a força
das palavras nas quais eles são solenemente definidos, em uma palavra, a menos que ele conheça a
língua que a Igreja usa."14
E Pio XII: "Que não haja padre que não possa ler e falar latim com facilidade e destreza... O
ministro sagrado que é ignorante no latim deve ser considerado como lamentavelmente carente de
refinamento mental."15
E aqui, enfatizamos o que os papas e o direito canônico realmente exigem: não apenas que um
seminarista possa pronunciar o latim, tenha "tido" algum latim ou tenha "passado" em um ou
dois cursos de latim, mas que o seminarista realmente conheça e entenda o latim.
Para fazer isso, é necessário um bom professor, um estudante dedicado e prática incessante.
No Most Holy Trinity Seminary, o latim é ensinado em três níveis: básico (gramática e sintaxe
fundamentais), intermediário (composição em prosa) e avançado (composição em prosa, traduções
de leituras dos Padres da Igreja). O seminarista faz exercícios e traduções em uma aula de uma
hora e meia, cinco tardes por semana, até que o padre-instrutor esteja satisfeito de que o aluno
compreende a gramática e a sintaxe do latim de dentro para fora.
Às vezes, isso leva vários anos.
O seminarista é então submetido a um teste no qual deve traduzir textos teológicos em latim.
Se o instrutor e o Reitor estiverem satisfeitos e convencidos de que o seminarista entende sufici-
entemente a língua, ele é dispensado da aula. Se não estiverem convencidos, o seminarista volta
para a aula até que aprenda o suficiente para convencê-los de seu conhecimento.
Além disso, ensino um curso sobre os Salmos em Latim do Breviário. Eles formam a parte
principal do Ofício Divino, que os clérigos devem rezar todos os dias após o Subdiaconato.
Os seminaristas devem traduzir os Salmos linha por linha na aula, fazer questionários diá-
rios sobre o vocabulário especial dos Salmos e aprender o significado das aproximadamente 240
passagens em latim no Saltério que são particularmente difíceis de entender.

2.2.2 Filosofia
Esta disciplina busca transmitir um conhecimento sistemático e íntimo das causas e razões das
coisas no universo. Ela considera o mundo, a causa do mundo e o próprio homem (sua natureza,
origem, operações, fim moral e atividades científicas).
14
Apostolic Letter Officium Omnium Ecclesiarum, 1 August 1922, AAS 14 (1922), 453–4.
15
Allocution to the Discalced Carmelites Magis Quam, 23 September 1951, in Discorsi e Radiomessagi di sua
Santità Pio XII (Vatican: 1952) 13:258. “. . . reputandus est lamentabili mentis laborare squalore.” Tradução livre:
". . . ele é considerado como quem sofre com lamentável debilidade da mente".

7
Um entendimento da filosofia escolástica ("tomista") é um pré-requisito necessário para enten-
der a teologia católica.
Os principais cursos desta disciplina são Lógica, Cosmologia, Psicologia Natural, Metafísica,
Ética, Teodiceia e História da Filosofia, e no Most Holy Trinity requerem mais de 400 horas de
aulas ao longo de três anos.

2.2.3 Teologia
Esta é "a ciência de Deus e das coisas divinas" que examina sistematicamente a revelação
sobrenatural à luz da fé cristã.
Abaixo está uma lista de cursos de teologia ministrados no Most Holy Trinity Seminary. Eles
são típicos dos requisitos do programa de teologia padrão pré-Concílio Vaticano II, embora alguns
materiais possam ter sido divididos de maneira diferente.
Os dois primeiros tópicos listados, Teologia Dogmática e Moral, compreendem os dois principais
cursos durante esses quatro anos. O primeiro é um estudo sistemático da fé; o segundo, um exame
minucioso dos princípios e prática da moral, e, portanto, especialmente importante para ouvir
confissões.

• Teologia Dogmática. Revelação. A Igreja. O Único Deus. A Trindade. Deus, o Criador.


Graça. A Palavra Encarnada. Sacramentos. Últimas Coisas. (680 hrs.)

• Teologia Moral. Princípios Gerais. Virtudes Teológicas. Virtudes Cardeais. Teologia Ascé-
tica e Mística. (420 hrs.)

• Sagrada Escritura. Introdução. (75 hrs.) Leitura e Comentário de Textos. (Horas Variáveis.)

• Direito Canônico. Introdução Geral. Direito Sacramental (180 hrs.)

• Liturgia. História/Introdução Geral. Ritos em Particular. Era Moderna e a Nova Missa.


Rubricas da Missa. Tradução do Saltério do Breviário. (240 hrs.)

• História da Igreja. Igreja Primitiva. Idade Média. Era Moderna. (210 hrs.)

• Prática. Homilética. Canto Gregoriano. Prática da Missa. Teologia Pastoral.

2.2.4 Preparação de Cursos, Exames


Para ensinar uma disciplina eficazmente, o professor deve preparar extensas notas para si mesmo
e para os alunos. Da primeira vez que um professor ensina um curso importante, ele precisa de
cerca de 3-4 horas para preparar notas para cada hora de aula real.
O seminarista usa essas notas para estudar para os exames, que no Most Holy Trinity ele faz
três vezes por ano. É claro que você deve passar nos exames para todas as disciplinas principais.

2.2.5 Ordens e Estudos


O Código de Direito Canônico também prescreve o ponto que um seminarista deve ter atingido
em sua educação antes de sua promoção a cada ordem maior. Essas regras se aplicavam igualmente
aos padres diocesanos e de ordens religiosas:

• Tonsura, Ordens Menores. Não antes de começar a teologia.

8
• Subdiaconato. Não antes do final do terceiro ano de teologia.

• Diaconato. Não antes do início do quarto ano de teologia.

• Sacerdócio. Não antes do meio do quarto ano de teologia.16

Isso era a lei geral da Igreja. Dispensas às vezes permitiam a confirmação mais precoce do subdi-
aconato e diaconato.

3 Ordenação de Não Apto: Ilícito e Pecaminoso


ESSA É A formação espiritual e acadêmica que a Igreja prescreve para garantir que os can-
didatos ao sacerdócio sejam adequadamente julgados (rite probati) quanto à posse de "conduta
moral" e o "conhecimento necessário", que, juntos, constituem a "adequação canônica" (idoneitas
canonica) para as Ordens Sagradas.
E se um candidato não tiver a formação necessária e, portanto, for canonicamente inapto?
A lei da Igreja é clara:
Primeiro, ordená-lo seria ilícito. O Cânon 974 estabelece a conduta moral e o conhecimento
necessário como condições para a ordenação "lícita", e examinamos em detalhes o que compreende
essas condições.
Segundo, o Cânon 973 proíbe um bispo, sob pena de pecado mortal, de ordenar um candidato
canonicamente inapto.
"O bispo não deve conferir ordens sagradas a ninguém a menos que tenha provas positivas,
equivalentes a uma certeza moral, da adequação canônica do candidato; caso contrário, ele [o
bispo] não apenas peca gravemente, mas também se expõe ao perigo de compartilhar a culpa de
outro."17
Duas coisas sobre isso são particularmente dignas de nota:

• O cânon se aplica não apenas à confirmação do sacerdócio, mas também às ordens sagradas
mais baixas de diaconato e subdiaconato.

• O cânon enfatiza a natureza grave dessa proibição ao afirmar que, se o bispo a violar, ele
"peca gravemente". Este é um dos poucos trechos do Código que mencionam especificamente
o pecado mortal como consequência da violação de um cânon. O canonista Regatillo explica
que isso é um pecado "contra o bem público, que é prejudicado em grande medida pelos
ministros indignos".18
Canon 976.1-2. “Nemo sive saecularis sive religiosus ad primam tonsuram promoveatur ante inceptum cursum
16

theologicam. Firmo praescripto can. 975, subdiaconatus ne conferatur, nisi exeunte tertio cursus theologici anno;
diaconatus, nisi incepto quarto anno; presbyteratus, nisi post medietatem eiusdem quarti anni.” Tradução: "Nin-
guém, seja secular ou religioso, deve ser promovido à primeira tonsura antes de iniciar o curso de teologia. De
acordo com a rígida prescrição do Cânon 975, o subdiaconato não deve ser conferido até que o terceiro ano do
curso de teologia tenha começado; o diaconato não deve ser conferido até que o quarto ano tenha começado; e o
sacerdócio não deve ser conferido até depois da metade desse quarto ano."
17
Canon 973.3. “Episcopus sacros ordines nemini conferat quin ex positivis argumentis moraliter certus sit de ejus
canonica idoneitate; secus non solum gravissime peccat, sed etiam periculo sese committit alienis communicandi
peccatis.” (My emphasis.) Tradução: "O bispo não deve conferir sagrados ordens a ninguém sem que esteja
moralmente certo da sua adequação canônica, com base em argumentos positivos; caso contrário, não apenas peca
gravemente, mas também se expõe ao perigo de compartilhar os pecados de outrem." (Meu destaque)
18
Jus Sacramentarium, 919.

9
E, finalmente, no certificado emitido após a ordenação, o bispo ordenante deve jurar que o can-
didato que ele promoveu foi devidamente examinado antecipadamente e "considerado apto" -
idoneum repertum.19

4 Validade das Ordens dos Bispos Não Aptos


JÁ DEMONSTREI amplamente em outro lugar que canonistas, teólogos morais e vários decre-
tos eclesiásticos concederam uma presunção geral de validade a ordenações e consagrações episco-
pais conferidas por bispos católicos, bispos ortodoxos e bispos cismáticos da Velha Igreja Católica
em certos países.20
Essas autoridades presumem que todos esses bispos seguem os ritos prescritos em seus res-
pectivos livros litúrgicos, e assim empregam a matéria essencial (imposição das mãos) e a forma
(fórmula apropriada para cada ordem) necessárias para a validade de uma ordenação.
Mas até onde essa presunção se estende? Ela se aplica mesmo a ordens conferidas por um
"bispo" tradicionalista do submundo do tipo mencionado no início deste artigo - alguém canonica-
mente inapto para o próprio sacerdócio, sem uma educação eclesiástica adequada, sumariamente
ordenado sacerdote e elevado ao episcopado, talvez por um bispo igualmente ignorante e canoni-
camente inapto?
Duvido que algum canonista romano tenha explorado tal questão em um manual de direito
canônico pré-Concílio Vaticano II - Ordens Sagradas conferidas, digamos, por um bispo que era
agricultor e não treinado em latim e teologia.
No entanto, o princípio a ser aplicado é bastante claro: a menos que alguém tenha recebido
treinamento adequado, nenhuma presunção de validade é conferida aos sacramentos que ele con-
fere, porque ele pode não saber o suficiente para conferi-los validamente. Isso pode ser deduzido
facilmente a partir dos seguintes casos.

4.1 Batismo por um Leigo


Todos aprendemos na catequese que, embora o padre seja o ministro ordinário do batismo, em
uma emergência, até um leigo pode administrar validamente o sacramento.
No entanto, o teólogo moral Merkelbach afirma que a validade desse batismo muitas vezes é
suspeita na prática e recomenda que o padre confira novamente o sacramento condicionalmente,
a menos que testemunhas possam confirmar o que aconteceu, ou a menos que alguém "completa-
mente sério... confiável, circunspecto, instruído no rito do batismo, afirme que batizou a criança
adequadamente."21
Portanto, enquanto um batismo conferido pelo ministro ordinário sempre goza de uma pre-
sunção de validade, nenhuma presunção semelhante é concedida quando ele é conferido por outra
pessoa que não foi devidamente treinada. Em vez disso, alguém que sabe o que é necessário (neste
Veja S. Pietrzyk, A Practical Formulary in Accordance with the Code of Canon Law (Formulário Prático de
19

Acordo com o Código de Direito Canônico) (Little Rock: Pioneer 1949), 168. Em uma fórmula alternativa, o bispo
atesta que o candidato atendeu a todos os requisitos prescritos pelo Concílio de Trento e pelo Código.
20
"The Validity of the Thuc Consecrations" (A Validade das Consagrações de Thuc), Sacerdotium 3 (Primavera
de 1992), 20-21.
21
B. Merkelbach, Summa Theologiae Moralis, 8th ed. (Montreal: Desclée 1949) 3:165. “. . . persona omnino seria,
etiam mera obstetrix, quae sit fide digna, circumspecta, et in ritu baptizandi instructa. . . ” Tradução: "...a pessoa
deve ser completamente séria, até mesmo uma parteira, que seja digna de fé, cautelosa e instruída no rito do
batismo..."

10
caso, o pároco) deve realizar uma investigação para determinar se o sacramento foi conferido
validamente.22
Aqui, as ordenações do bispo agricultor mencionado no artigo estão na mesma categoria dos
batismos conferidos por pessoas ignorantes e não treinadas - sua validade não é presumida, mas é
suspeita.

4.2 Cismáticos Etíopes


Embora a Igreja tratasse as ordenações conferidas pela maioria dos grupos cismáticos orientais
como válidas, houve pelo menos uma exceção.
Os clérigos cismáticos etíopes eram amplamente considerados como ignorantes e mal alfabeti-
zados; o mesmo acontecia com os coptas cismáticos (egípcios) que forneciam aos etíopes o único
bispo autorizado a ordenar padres em seu país. Este bispo, chamado "Abuna", era sempre um
copta. Ele, portanto, não estava familiarizado com os ritos etíopes e a língua litúrgica (Ge’ez), e
sua prática era ordenar milhares de padres de uma só vez na mesma cerimônia.23
Diante disso, Roma decretou que qualquer padre etíope que quisesse se converter e funcionar
como padre católico tinha que afirmar primeiro que o Abuna impôs as mãos sobre sua cabeça e
recitou as orações prescritas. Caso contrário, ele teria que se submeter à ordenação condicional.24
Portanto, quando o ministro das Ordens Sagradas parecia não possuir o devido conhecimento
e não podia ser confiável para realizar o rito prescrito adequadamente, Roma não concedia uma
presunção geral de validade e insistia em uma investigação para cada caso específico.25

4.3 Cismáticos Velha Igreja Católica


Canonistas como Beste26 e Regatillo27 concedem a presunção de validade apenas às ordenações
conferidas pelos bispos da Velha Igreja Católica na Holanda, Alemanha e Suíça. Das ordenações
conferidas pelos inúmeros outros bispos da Velha Igreja Católica que atuavam (nos EUA, Inglaterra,
etc.) na época em que estavam escrevendo, os canonistas não dizem nada.
Aqui também, a distinção parece basear-se em saber se o clero tinha ou não uma educação
eclesiástica. Na Holanda, Alemanha e Suíça, o clero da Velha Igreja Católica era obrigado a ter
treinamento teológico.28 Nos outros países, os bispos da Velha Igreja Católica conferiam ordenações
e consagrações indiscriminadamente a centenas de candidatos não treinados.
22
Uma série de perguntas a serem feitas é fornecida por Merkelbach 3:141.
23
Veja A. Fortescue, The Lesser Eastern Churches (As Igrejas Menores do Oriente) (Londres: CTS 1913) 308 e
seguintes.
24
Holy Roman Inquisition, Response Ordinatio Presbyteri (Santa Inquisição Romana, Resposta Ordinatio Presby-
teri), 10 de abril de 1704, em P. Gasparri, Tractatus Canonicus de Sacra Ordinatione (Paris: Delhomme 1893) 1057.
Esta resposta também refuta o argumento apresentado pela Sociedade de São Pio V de que os padres católicos con-
sagrados bispos pelo Arcebispo Thuc em 1981 não poderiam atestar o fato de suas próprias consagrações. Se as
declarações de africanos ignorantes sobre suas ordenações (alguns estavam completamente nus quando ordenados
[Fortescue, 311n]) fossem prova suficiente para Roma, não haveria problema em aceitar a palavra de um teólogo do-
minicano (Dom Guérard) ou de um professor de seminário e pároco (Dom Carmona) que afirma ter sido devidamente
consagrado bispo.
25
A resposta da Inquisição (supra) fornece as perguntas a serem feitas em cada caso.
26
U. Beste, Introductio in Codicem (Collegeville MN: St. John’s 1946), 951.
27
Jus Sacramentarium, 878.
28
Os Velhos Católicos holandeses estudavam em sua escola teológica em Utrecht ou em uma universidade, os
alemães em uma escola teológica em Bonn e os suíços na Universidade de Berne. P. Baumgarten, “Old Catholics”
(Católicos Velhos) Catholic Encyclopedia (New York: Appleton 1913) 11:235–6. Esses grupos também eram organi-
zados e um tanto centralizados. Eles consagravam um número limitado de bispos, mantinham registros adequados,

11
Para demonstrar o problema que isso representa para a validade das Ordens Sagradas conferidas
no último grupo, precisamos considerar apenas uma série de bispos da Velha Igreja Católica nos
EUA: Mathew (consagrado em 1908), de Landas Berghes (1913), Carfora (1916), Rogers (1942),
Brown (1969).
Enquanto o primeiro e o terceiro bispos da linha, Mathew e Carfora, eram padres católicos de-
vidamente treinados e, presumivelmente, saberiam como conferir um sacramento adequadamente,
o segundo e o quarto, de Landas Berghes e Rogers, são identificados apenas como, respectivamente,
"um nobre austríaco distinto" e "um negro das Índias Ocidentais".29
No entanto, navegar pela segunda cerimônia mais complexa do Rito Romano - a Consagração
Episcopal - e acertar as partes essenciais (ou mesmo saber o que são) não é exatamente algo que
um leigo adquire na corte de um imperador dos Habsburgos ou em um campo de cana-de-açúcar do
Caribe. Portanto, não há motivo para assumir que de Landas Berghes ou Rogers tinham alguma
ideia de como conferir esse sacramento validamente.
Este problema é complicado por mais um: a ordenação presbiteral de Rogers era duvidosa, o
que, por sua vez, tornaria sua consagração episcopal duvidosa.30
Portanto, quando chegamos a Brown em 1969, não há como saber se suas ordenações são válidas
ou não.
Esses problemas são encontrados em todo o conselho com as ordenações derivadas não ape-
nas dos Velhos Católicos,31 mas também dos cismáticos nacionalistas brasileiros.32 Sacramentos
conferidos pelos ignorantes não podem ser presumidos como válidos.

4.4 Um Bispo Casado


Por fim, uma história real sobre como alguns dos clérigos mencionados no início deste artigo
na verdade conferem sacramentos ilustrará o problema de assumir que eles foram ordenados ou
consagrados validamente.
Um bispo casado ordenou outro homem casado como padre, usando uma cópia fotográfica do
rito de ordenação tradicional. No entanto, a cópia estava sem a página que continha a forma
sacramental essencial que deve ser recitada para que uma ordenação seja válida.
Uma vez que esse bispo aspirante não tinha treinamento, ele não fazia ideia de que algo estava
errado. O erro só foi detectado porque um sacerdote apóstata (devidamente treinado) estava
presente. Mas não se preocupe. O sacerdote apóstata "corrigiu" o erro sozinho depois, impondo
seguiam os antigos ritos de ordenação e tinham linhas claras de sucessão.
29
P. Anson, Bishops at Large (Bispos sem Diocese) (Londres: Faber 1964) 189, 433.
30
Ele parece ter sido ordenado padre na sucessão de Vilatte (Anson, 433), cuja validade era incerta. De acordo
com a maioria dos teólogos, a ordenação presbiteral é necessária para receber validamente a consagração episcopal.
31
Apologistas da validade das ordenações dos Velhos Católicos ou dos Velhos Católicos Romanos nos Estados
Unidos (os termos são intercambiáveis) invariavelmente tentam apoiar seu caso citando o mesmo grupo de decla-
rações publicadas por vários autores católicos. No entanto, com uma exceção, essas declarações não apareceram
em obras teológicas, mas em obras populares (vários dicionários religiosos para leigos, visões gerais de seitas não
católicas, etc.), ou se referem aos corpos Velhos Católicos na Europa sobre os quais não há disputa quanto às suas
ordenações. O único artigo citado de uma revista acadêmica ("Movimentos Cismáticos entre Católicos", American
Ecclesiastical Review 21 [julho de 1899], 2–3) é de uma passagem sobre a questão específica da ordenação sacerdotal
de René Vilatte, que não pode ser contestada. A passagem citada não prova nada sobre as posteriores consagrações
episcopais Velhas Católicas nos Estados Unidos, que eram um verdadeiro caos do tipo já descrito acima.
32
Entre esses bispos, encontramos, por exemplo, um vendedor de paramentos preso duas vezes por fraude e um
seminarista desistente que, a partir de 1961, percorreu pelo menos três diferentes seitas Velhas Católicas nacionalistas
e orientais.

12
as mãos e recitando a forma correta - depois de anunciar que havia sido secretamente consagrado
bispo pelo próprio Pio XII!
*****
A partir do exposto, fica claro que aqueles que não possuem a formação necessária para o sacer-
dócio não podem ser confiáveis para ordenar padres e consagrar bispos validamente. Portanto, as
Ordens Sagradas conferidas no cenário underground por velhos católicos não treinados, cismáticos
brasileiros ou agricultores Palmerianos, enfermeiros e liquidantes de propriedades, não desfrutam
de nenhuma presunção de validade.
Na ordem prática, portanto, seus sacramentos devem ser tratados como "absolutamente nulos
e completamente inválidos."

5 Uso de Ordens pelos Canonicamente Inaptos


NOS ANOS desde o Concílio Vaticano II, vários candidatos inaptos conseguiram obter Ordens
Sagradas de bispos católicos ou bispos não católicos, como os Velhos Católicos ou os cismáticos
brasileiros, e depois passaram a atuar em capelas tradicionalistas.
Supondo que possa ser provado em um caso específico que as ordens recebidas dessa maneira
são válidas, seria permitido a uma pessoa assim exercê-las, dada a escassez de padres católicos
tradicionalistas?

5.1 Ordens de um Bispo Católico


O propósito específico de muitos cânones que regulam as Ordens Sagradas era evitar que um
bispo católico ordenasse um candidato inapto para o sacerdócio, seja por desconhecimento ou por
conhecimento, e, caso contrário, evitar que tal pessoa exercesse o sacerdócio.
Além das muitas regulamentações já citadas, outros cânones designavam o bispo diocesano como
o ministro adequado das Ordens Sagradas para todos os seus súditos (assim, como guardião contra
os inaptos),33 proibiam um bispo (sob pena de suspensão)34 de ordenar sem a devida permissão
os súditos de outro bispo,35 exigiam cartas de recomendação para cada ordenando (verificando
estudos, caráter moral, ausência de impedimentos),36 exigiam exames em teologia para promoção
às Ordens Maiores,37 legislavam sobre o proclamas (para descobrir impedimentos),38 proibiam
(exceto após investigação rigorosa e, em alguns casos, uma dispensa do Vaticano) a admissão de
seminaristas que tivessem sido demitidos de ou até voluntariamente deixado outros seminários ou
institutos religiosos.39
Mesmo que um candidato inapto conseguisse contornar essas barreiras e, de alguma forma,
encontrasse um bispo católico suficientemente crédulo ou descuidado para ordená-lo - um bispo
33
Cânon 955.1. Esta era a regra para o clero secular. Um procedimento ligeiramente diferente se aplicava aos
religiosos, mas o efeito era o mesmo.
34
Canon 2373.
35
Canons 955–963.
36
Cânon 993. Novamente, uma regra ligeiramente diferente se aplicava aos religiosos
37
Canons 996-7.
38
Canons 998–1000.
39
Cânon 1363.3. SC Religious & SC Seminaries, Decreto conjunto Consiliis Initis, 25 de julho de 1941, AAS
33 (1941), 371. SC Seminaries, comunicado privado ao Arcebispo de Toledo, 8 de maio de 1945. SC Seminaries,
comunicado privado ao Vigário Geral de Colônia, Rispondiamo, 12 de janeiro de 1950, Ochoa, Leges Ecclesiae post
Codicem (Roma: 1969) 2:2727-8.

13
aposentado, por exemplo - outras leis da Igreja ainda o teriam impedido de exercer suas ordens
ilicitamente obtidas.
Sem um celebret (o documento de seu bispo diocesano que atesta sua boa situação), ele não
poderia celebrar a Missa publicamente em nenhuma igreja, e, sem um indulto para celebrar em
um altar portátil, ele não poderia celebrar a Missa em nenhum outro lugar. Sem faculdades
do Ordinário diocesano, ele não poderia pregar, realizar batismos solenes, levar a comunhão aos
doentes, conferir a absolvição e a extrema unção (exceto em caso de perigo de morte), testemunhar
casamentos ou até mesmo abençoar terços e escapulários.
E, como é óbvio, o direito canônico proíbe explicitamente um homem casado que conseguiu
receber as Ordens Sagradas de exercê-las.40
Em resumo, o direito da Igreja teria impedido o sacerdote canonicamente inapto de realizar
quase todos os atos sacerdotais, porque apenas um sacerdote que recebeu a formação no seminário
requerida teria sido autorizado a realizá-los.

5.2 Ordens de um Cismático


Em não poucas instâncias desde o Concílio Vaticano II, nos deparamos com o caso de um
católico tradicional que recebe a ordenação ou até mesmo a consagração episcopal de um bispo
não católico (como um Velho Católico ou um cismático brasileiro, por exemplo), e depois começa a
ministrar aos católicos tradicionais. Em alguns casos, ele faz uma Profissão de Fé e uma Abjuração
de Erro na tentativa de retificar a anomalia de receber as ordens de um cismático.
Como já observei em outro lugar, receber ordens dessa maneira pode não, por si só, incorrer em
excomunhão, muito menos em uma que "infectaria" automaticamente leigos desavisados associados
a uma pessoa assim ordenada.
Dito isso, embora um escritor tradicionalista chame essas ordenações de "ouro manchado", o
adjetivo correto é "roubado". As Ordens Sagradas são propriedade da Igreja, cuja lei proíbe que
os canonicamente inaptos as recebam ou exerçam.
Embora a Igreja geralmente tenha permitido que aqueles que foram criados e ordenados no
cisma exercessem suas ordens quando abjuravam e eram recebidos na Igreja, um católico que saía
da Igreja para receber as Ordens Sagradas - mesmo que a validade delas fosse certa - não tinha
permissão para exercê-las, mesmo que se arrependesse de sua ação.
Em 1709, a Santa Sé recebeu a seguinte pergunta sobre a recepção de ordens de um cismático:
"Uma vez que há necessidade de padres para servir as igrejas armênias católicas tanto em
Aspaan quanto em Giulfa, onde não há bispos armênios católicos, é permitido enviar alguém para
ser ordenado e receber as Ordens Sagradas de um dos bispos cismáticos e hereges?"
O Santo Ofício respondeu: "Isso de forma alguma é permitido, e aqueles ordenados por tais
bispos são irregulares e suspensos do exercício das Ordens."41
40
Canon 132.3. “Conjugatus qui sine dispensatione apostolica ordines majores, licet bona fide, suscepit, ab
eorunem ordinum exercitio prohibetur.” Tradução: Cânon 132.3. "Um casado que tenha recebido as ordens maiores
sem a dispensa apostólica, embora de boa fé, é proibido de exercer essas ordens."
41
Santo Ofício, Decreto Bisognando, 21 de novembro de 1709, 278, em Collectanea S.C. de Propaganda Fide:
1602–1906 (Roma: Polyglot 1907) 1:92. "Bisognando qualche ministro per servizio delle chiese degli armeni cattolici,
tanto in Aspaan quanto in Giulfa, per non esservi vescovi armeni cattolici, si mandano ad ordinare ed a prender gli
ordini sacri da qualcuno dei vescovi scismatici ed eretici. R. Nullo modo licere; et ordinati ab hujusmodi Episcopis
sunt irregulares, ac suspensi ab exercitio Ordinum." (Tradução: "Quando for necessário algum ministro para o
serviço das igrejas armênias católicas, tanto em Aspaan quanto em Giulfa, uma vez que não há bispos católicos
armênios, eles são enviados para serem ordenados e receber ordens sagradas por algum dos bispos cismáticos e
hereges. Resposta: De maneira alguma é permitido; e aqueles ordenados por tais bispos são irregulares e suspensos

14
Essa também foi a prática da Igreja no caso mais recente de René Villatte (1854-1929).
Villatte, que abandonou vários seminários e comunidades religiosas católicas, foi ordenado padre
em 1885 pelo bispo velho católico suíço de Berne e, em seguida, (dizem) foi consagrado bispo em
1892 por cismáticos sírio-jacobitas no Ceilão (Sri Lanka). Esse personagem errático consagrou pelo
menos sete bispos entre 1898 e 1929; ninguém sabe quantos padres ele ordenou.42
Em 1925, ele fez uma declaração formal de arrependimento diante do Núncio Apostólico em
Paris, foi recebido de volta na Igreja e teve permissão para viver na aposentadoria na Abadia
Cisterciense de Pont-Colbert, em Versalhes.
Mesmo que não houvesse dúvida sobre a validade de sua ordenação sacerdotal, Vilatte não
pôde exercer as ordens que recebeu fora da Igreja. Ele foi tratado como leigo.43
Esse é o princípio a ser aplicado ao suposto padre ou bispo católico tradicionalista que recebeu
a ordenação sacerdotal ou a consagração episcopal de cismáticos. Suas ordens - mesmo que ele
possa provar sua validade além de qualquer dúvida - são "roubadas". É proibido que ele as exerça
e, assim, se beneficie de seu roubo.

6 Objecções e Evasões
Aqui estão várias objeções que ouvi sobre o que foi exposto acima, juntamente com minhas
respostas:

6.1 Estudo Privado


Posso estudar por conta própria enquanto moro em casa e, em seguida, encontrar um bispo
para me ordenar.
"A formação teológica deve ser feita, não de forma privada, mas em escolas instituídas para
esse fim, de acordo com o curso de estudos prescrito no cânon 1365."44
E a lei prescreve que você deve morar no seminário: "A obrigação que afeta o curso de teologia
requer não apenas estudo em um seminário, mas residência efetiva, e a obrigação é grave."45
O propósito dessa lei não é apenas garantir uma formação acadêmica adequada. Em um semi-
nário, os superiores observarão, formarão e julgarão o caráter e o comportamento do seminarista
- algo muito difícil de fazer se ele não vive em comunidade com eles. Além disso, a teologia não
é apenas algum tipo de curso avançado de catecismo, mas uma ciência real. Você precisa de
professores qualificados que expliquem o material e o testem.
do exercício das Ordens.")
42
Consulte Anson, 91-129.
43
Anson, 126-8. No que diz respeito às suas ordenações episcopais, Monsenhor Chaptal, Bispo Auxiliar de Paris,
afirmou que o Cardeal Merry del Val não considerava as ordenações e consagrações de Vilatte como válidas porque
haviam sido tão "comercializadas." Anson, 128. O Padre Joseph van Grevenbroek, abade da Abadia Cisterciense
de Spring Bank, onde eu era noviço, havia sido um jovem sacerdote em Pont-Colbert quando Vilatte ainda estava
vivo e nos contou que o abade de Pont-Colbert, Padre Janssens, tentou pressionar o Cardeal Merry del Val a emitir
um comunicado sobre a validade das consagrações episcopais de Vilatte. O Cardeal respondeu: "Nunca emitiremos
uma decisão."
44
Canon 976.3 “Cursus theologicus peractus esse debet non privatim, sed in scholis ad id institutis secundum
studiorum rationem can. 1365 determinatam.”
45
J. Abbo & J. Hannon, The Sacred Canons (St. Louis: Herder 1957) 2:972.

15
6.2 Pio XII
O Papa Pio XII não foi para um seminário, mas estudou por conta própria em casa e depois
foi ordenado. Se ele fez isso, qualquer um pode fazer.
Falso. Pio XII, devido a problemas de saúde, recebeu permissão especial do Cardeal Vigário
de Roma para morar em casa enquanto estudava para o sacerdócio.
Isso é consistente com uma exceção permitida pelo Cânon 972.1, permitindo ao Ordinário
dispensar um seminarista da obrigação de residir em um seminário, "em um caso particular e por
um motivo grave."46
O jovem Pacelli não "estudou por conta própria". Embora morasse em casa, frequentou aulas na
Pontifícia Universidade Gregoriana, estudou filosofia, latim e grego na Universidade de La Sapienza
e fez teologia no Ateneu Papal de São Apolinário, onde obteve um Baccalaureate e Licentiate em
teologia summa cum laude.

6.3 Cânones Inaplicáveis


Devido à situação na Igreja, os cânones que prescrevem uma formação espiritual e acadêmica
extensa para os padres não se aplicam mais.
Também falso. Canonistas como Cicognani47 e Bouscaren-Ellis48 estabelecem critérios especí-
ficos para quando uma lei eclesiástica cessa. Comentaristas concordam que a cessação intrínseca
de uma lei eclesiástica ocorre apenas quando ela se torna inútil, prejudicial ou irracional.
À luz das muitas pronunciações papais sobre a grave obrigação de ordenar apenas aqueles
que foram devidamente formados, ninguém pode fazer tal argumento contra as leis citadas acima.
Também não se pode invocar a epiqueia ou a equidade aqui, pois isso deve ser regido pelo que os
moralistas chamam de gnomê, um tipo de prudência madura no julgamento.49 Os papas, como
vimos, alertaram repetidamente que é imprudente e perigoso ordenar os ineptos canonicamente.

6.4 Necessidade de Padres


Vivemos em tempos extraordinários. Nossa maior necessidade é ter mais padres para celebrar
a Missa tradicional. Então, o que importa se eles não têm treinamento adequado? Ter a Missa é
tudo o que importa.
Primeiro, ouça Pio XI: "Um padre bem treinado vale mais do que muitos treinados de forma
inadequada ou quase nada. Pois tais seriam não apenas inconfiáveis, mas uma fonte provável de
tristeza para a Igreja."50 Depois, Santo Tomás: "Deus nunca abandona Sua Igreja; e assim, o
número de padres será sempre suficiente para as necessidades dos fiéis, desde que os dignos sejam
promovidos e os indignos sejam afastados... Se um dia se tornar impossível manter o número atual,
é melhor ter alguns bons padres do que uma multidão de maus."51
46
“in casis particularibus, gravi de causa.”
47
Canon Law, 2nd rev. ed., trans. by Joseph M. O’Hara (Westminster MD: Newman 1934), 625.
48
T. Bouscaren & A. Ellis, Canon Law: A Text and Commentary (Milwaukee: Bruce 1946), 35.
49
See D. Prümmer, Manuale Theologiae Moralis, 10th ed. (Barcelona: Herder 1946) 1:231, 634.
50
Ad Catholici Sacerdotii, loc. cit., 44. My emphasis.
51
Sum. Theol. Suppl., 36.4.1. My emphasis.

16
6.5 "Minha Vocação"
Um católico tradicional que persevera em querer ser padre, mesmo que tenha sido rejeitado por
vários seminários tradicionalistas e não tenha recebido formação adequada, estaria justificado em
obter a ordenação de qualquer maneira.
Essa pessoa é um "tipo" recorrente, tanto na história do movimento Católico Velho quanto em
certos círculos tradicionalistas modernos. Ele é o católico que quer ser padre, mas é repetidamente
informado por vários superiores de seminários e religiosos que ele é inadequado para o sacerdócio
por motivos intelectuais, espirituais, morais ou psicológicos. Em vez de aceitar o julgamento deles,
ele decide que sabe melhor, então convence um bispo católico aposentado a ordená-lo ou vai a
um cismático que não apenas o ordena, mas até o torna bispo. Sem confusão, sem necessidade
de passar anos em um seminário onde ele é testado e julgado por "prova positiva de retidão" e
"conhecimento necessário." O aspirante a padre nunca percebe que seu ato demonstra que lhe
faltam as virtudes (prudência, humildade, etc.) ou o conhecimento (de direito canônico, etc.) que
um candidato à ordenação deve possuir. Em outras palavras, o fato de ele ter recebido as Ordens
Sagradas dessa maneira confirma o que seus superiores lhe disseram anteriormente: ele não tem
vocação e não está apto para ser padre.

6.6 Maus Resultados


Muitos padres produzidos pelo sistema antigo antes do Vaticano II se mostraram ruins, assim
como muitos padres produzidos pelos seminários tradicionalistas após o Vaticano II. Por que insistir
em passar por todo esse problema?
A razão, em ambos os casos, é a natureza humana caída. Padres que foram bem treinados
ainda podem cair em pecado ou abandonar a fé. Tais falhas individuais não desacreditam o
sistema estabelecido pelo Concílio de Trento e prescrito pelo direito canônico. Como qualquer pai
sabe, você pode fornecer de maneira fiel e consistente às crianças toda a formação religiosa e moral
adequada exigida nos manuais para pais católicos, mas a criança, como adulto, ainda pode optar
por se desviar. A coisa importante para a salvação do próprio pai, no entanto, é que ele fez o seu
dever.

6.7 Somos Monges Contemplativos


Somos monges, então não precisamos de toda essa formação acadêmica rigorosa em latim,
filosofia e teologia antes da ordenação. Além disso, atividades intelectuais e discussões tornam os
padres mundanos e orgulhosos. Nosso único interesse é a contemplação.
Isso pode parecer plausível para leigos e até mesmo para alguns padres, mas como ex-monge
Cisterciense, não concordo. A abadia que frequentei e outra abadia para a qual fui posteriormente
enviado eram ambas casas contemplativas com observâncias monásticas rigorosas. No entanto,
os monges de ambas eram sempre obrigados a receber a mesma formação acadêmica antes da
ordenação que os outros padres recebiam.
Pio XI, além disso, disse que você precisa dos estudos: "O principal objetivo desta Carta é
exortar os religiosos, quer já tenham sido ordenados ou estejam se preparando para a admissão
ao sacerdócio, a um estudo assíduo das ciências sagradas; a menos que estejam completamente
familiarizados com essas disciplinas, eles não serão capazes de cumprir adequadamente os deveres
de sua vocação."52 Além disso, não se pode usar a carta contemplativa como justificativa para a
52
Unigenitusque Dei Filius, loc. cit., 136–7

17
ignorância: "É um erro para eles [aqueles que levam uma vida contemplativa no claustro] pensarem
que, se os estudos teológicos fossem negligenciados antes da ordenação ou subsequentemente aban-
donados, podem facilmente habitar na altura e ser elevados à união interior com Deus, mesmo que
lhes falte aquele conhecimento abundante de Deus e dos mistérios da fé que é derivado da ciência
sagrada."53

6.8 Muito Trabalho


Fornecer toda a formação acadêmica tradicionalmente necessária é impossível. Não há profes-
sores ou padres suficientes para fazer todo esse trabalho Ensinar cursos de latim, filosofia e teologia
é muito trabalho. Mas é possível em nossos tempos dar aos seminaristas uma formação acadêmica
completa que será suficiente para o trabalho sacerdotal deles. Existem muitos manuais básicos
excelentes de seminários que cobrem todo o terreno necessário para os cursos exigidos. Leva muito
tempo e disciplina para o professor preparar aulas com base nesses manuais e para o aluno aprender
o material que eles contêm. O esforço necessário para organizar e supervisionar isso vale a pena,
porque produz um padre devidamente formado, digno de sua vocação.
9. Polêmica Esteril. Você está se envolvendo em uma polêmica intelectual estéril na qual
não temos interesse. Seus comentários são desonestos, não espirituais e divisivos. Como padre,
você deveria mantê-los para si mesmo.
Você é como o fariseu que se considerava orgulhosamente alguém especial acima da multidão
de indignos do mundo! Aqui está Pio XI sobre nossa responsabilidade de falar contra um clero
mal formado: "Que conta terrível, Veneráveis Irmãos, teremos de dar ao Príncipe dos Pastores, ao
Bispo Supremo das almas, se entregarmos essas almas a guias incompetentes e líderes incapazes."54

7 Resumo e Conclusões
Podemos resumir o exposto acima da seguinte forma:

1. A lei da Igreja exige que qualquer pessoa ordenada ao sacerdócio possua aptidão canônica
(idoneitas canonica). Os dois critérios principais que determinam a aptidão canônica de um
candidato para a ordenação são (a) conduta virtuosa (mores congruentes) e (b) o conhe-
cimento necessário (debita scientia). O sistema de seminário estabelecido pelo Concílio de
Trento e prescrito pelo direito canônico fornece aos candidatos à ordenação uma formação
espiritual adequada (por meio das regras do seminário, horário diário, direção espiritual regu-
lar, observação e correção, e avaliação do corpo docente) e a educação eclesiástica necessária
(conhecimento e compreensão do latim, dois anos de filosofia, quatro anos de teologia). O
sistema tridentino garante que os ordenandos sejam "devidamente julgados" (rite probati)
por um longo período de tempo, tanto em sua conduta quanto em seu conhecimento, e que,
portanto, eles sejam realmente aptos canonicamente para a ordenação. A legislação papal
e as pronunciações repetidamente alertam que esses requisitos são obrigações graves e que
ignorá-los coloca em perigo as almas dos fiéis. Um candidato que não foi "devidamente jul-
gado" de acordo com as normas da lei quanto à sua virtude e conhecimento é canonicamente
inadequado para o sacerdócio.
Ibid. 137.
53

Ad Catholici Sacerdotii, 44. A última parte da frase não apenas é mais enfática em latim, mas também é muito
54

habilmente equilibrada: "...rectoribus inertis imperitisque magistris..." (Tradução da frase em latim: "diretores
inertes e mestres inexperientes.")

18
2. Um bispo que confere ordens maiores a um candidato canonicamente inadequado comete
pecado mortal. (Cânon 973.)

3. As ordens sagradas conferidas por um bispo canonicamente inadequado - aquele que, entre os
Católicos Velhos, cismáticos brasileiros, hierarquia de Palmar de Troya e outros, não possuía
a formação no seminário necessária - não desfrutam de nenhuma presunção de validade. Na
prática, portanto, as ordens sacerdotais ou episcopais derivadas de tais bispos devem ser
tratadas como inválidas.

4. Mesmo que em um caso particular um candidato canonicamente inadequado pudesse provar


que sua ordenação sacerdotal ou consagração episcopal era certamente válida, ele ainda seria
proibido de exercer as ordens assim recebidas, independentemente de serem conferidas por
um prelado católico ou cismático.

*****

A lei e a tradição da Igreja, portanto, exigem que seus ministros sejam formados e testados
em relação à sua virtude e conhecimento antes de receberem a dignidade das Sagradas Ordens e
que os não aptos sejam excluídos. Um padre ou bispo que seja inapto do ponto de vista canônico,
mesmo que tenha sido ordenado validamente, desonra o sacerdócio católico e coloca em perigo a
salvação das almas toda vez que sobe ao altar, entra no confessionário ou, pior ainda, veste uma
mitra e ordena a Sagradas Ordens outros ignorantes e inaptos.
A dignidade do sacerdócio de Cristo e o bem geral da Igreja exigem que os leigos católicos
tradicionais se recusem a receber ministrações sacramentais desses homens e não apoiem seus
apostolados. Fazer o contrário concede credibilidade e respeitabilidade ao que merece apenas
desprezo e condenação, como evidenciado pelas palavras aterrorizantes do Papa Pio XI: "Qualquer
um que assumir o ministério sagrado sem treinamento ou competência deve tremer por seu próprio
destino, pois o Senhor não deixará sua ignorância sem punição; é o Senhor quem proferiu o aviso
terrível: ’Porque rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei para que não sejas sacerdote
para mim’." (Oséias 4:6) Se o próprio Senhor rejeita os inaptos, os leigos católicos tradicionais
não podem fazer menos - pois o único tipo de pessoa apta a celebrar uma Missa Tridentina é um
verdadeiro padre Tridentino.

19
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