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A) Uma voz da democracia paulista, texto de Otto Maria Carpeaux, trata principalmente de
uma apresentação simples, mas pertinente, de um poeta muitas vezes estranho à nova geração
de leitores: Juò Bananére.
Logo no início do texto é observado uma característica da ideia de poesia no Brasil e como
o humor se relaciona a ela. Para Otto, “o conceito de poesia no Brasil sempre foi romântico
ou retórico ou solene”, ou seja, a poesia comumente é associada a uma forma de arte
produzida e consumida por pessoas que integram -e integravam- uma elite intelectual. A
poesia deveria ser bem dita. A linguagem que os poetas utilizavam em suas obras era muitas
vezes uma linguagem “nobre” e cheia de formalidades, diferentemente da linguagem
utilizada pela grande massa. O humor, quando aplicado na poesia, era feito de uma forma que
frequentemente seguia o padrão bem escrito instituído pelas pessoas que compartilhavam
essa posição na elite intelectual.
É nesse contexto que Juò Bananére se diferencia. Esse poeta, considerado por Otto o
precursor do modernismo, tem como característica a paródia e utiliza-se dela como forma de
crítica. Vários pontos importantes são levantados em Uma voz da democracia paulista, entre
eles a importância política que suas paródias representavam.
Através de suas paródias, Bananére traduzia as expressões ditas “nobres” da obra original
para expressões mais populares, representando o modo informal que as classes “menos
intelectuais” falavam. Desse modo, a poesia paródica de Juò ia “revelando as fraquezas da
obra parodiada”, nesse caso, as falsas nobrezas da linguagem. Essas paródias muitas vezes
também ridicularizavam figuras de grande prestígio na São Paulo da época, entre eles o
Vaporelli e grandes poetas parnasianos, tal como Bilac, “o príncipe dos poetas”. Outros
autores de renome também se tornavam alvos de Juò, mas o que mais se destacava era
mesmo a satirização sobre os parnasianos
Essa ridicularização dos “deuses parnasianos” é tratada no texto de Otto com bastante
recorrência, juntamente com a tão referida questão da linguagem. Juò utilizava uma língua
ítalo-paulista (ou ítalo-caipira) em seus poemas para satirizar figuras admiradas pelos
“cartolas”. Essa linguagem Ítalo-paulista era o macarronês, ou seja, duas línguas misturadas
intencionalmente para representar uma fala de alguém que não conhece bem o segundo
idioma. O macarronês foi muito utilizado pelo poeta italiano Folengo como forma de protesto
das classes menos poderosas contra as classes dominantes que idolatravam um “arrogante”
uso de latinismos na poesia. Assim como Folengo, Juò utiliza o macarronês como forma de
protesto à essa classe dominante que provocava essa elitização da literatura. Portanto, assim
como a aristocracia italiana e os humanistas latinizados eram satirizados por Folengo, o
“Vaporelli chi só anda di gartola” (a classe dominante) que admirava os rebuscados sonetos
parnasianos era satirizado por Bananére.
Juò Bananére utilizou dessa língua ítalo-portuguesa das classes mais baixas e dos recém
chegados italianos em São Paulo para enfrentar a imposição da língua parnasiana da classe
dominante. Ridicularizando as admirações e o idioma nobre dos cartolas, Bananére, com seu
humor, mostra uma voz da democracia paulista.
B) Primeiramente, é impossível deixar de comentar como a leitura de palavras grafadas de
uma maneira completamente diferente da qual estamos acostumados causa estranheza. Ao
contrário de muitos poemas, nos quais os leitores comumente releem para entender “a
mensagem” (por causa da ordem das palavras ou por causa de palavras desconhecidas), a
releitura dos poemas de Juò se dá por não compreendermos bem palavras que já
conhecemos e que estão apenas grafadas com um diferente formato. Parece que o
conceito de poesia romântica- tal como Otto diz em seu texto- já está tão instituído em
nós que estranhamos quando nos deparamos com algum poema que foge os parâmetros
aos quais estamos acostumados. De certo modo, é bizarro! Para mim, a leitura dos
poemas de Juò me deixou pensativo: como que eu pude estranhar um poema escrito da
maneira que pessoas próximas de mim falam? Ou pior: como eu pude estranhar um
poema escrito de um modo similar à minha própria fala? Como eu pude estranhar algo
que não me é estranho? É de se pensar...
Ainda sobre a linguagem: durante a leitura dos poemas de Bananère percebi como cresci
pensando na poesia nos moldes “elitistas”. Sempre fui exposto a uma ideia de que os poemas
e os poetas cultuados pelas classes mais altas eram o mais alto nível de arte. Nunca pensei
que leria um dia um poeta que escreveu numa linguagem ítalo-paulista característica de
classes mais populares e a representou em forma de arte. Enquanto lia, sempre me vinha à
cabeça imagens das pessoas que conheço aqui no interior de SP. Senti como se estivesse
subindo numa árvore frutífera sempre pensando nos frutos que estão no topo, sendo que nas
partes mais baixas há frutas igualmente deliciosas.
Outro fato que pude perceber na obra de Juò foi como eu tive que pesquisar mais a fundo os
nomes de pessoas e processos citados por ele para compreender melhor o contexto da época.
Interessante como ler a obra de Juò Bananére é mergulhar também numa época de nossa
história.
Ler Juò Bananére é ver como ser crítico e engraçado ao mesmo tempo. Para mim, foi uma
experiência inesquecível e digna de grande admiração.
Por uma grande parte do poema, é possível interpretar que parte dessa agonia
emocional do eu-lírico se trata do misto de sensações que envolvem sua terra de origem.
Considerando o que o próprio Drummond disse no documentário O Fazendeiro do Ar, de
Fernando Sabino e David Neres, todo homem possui uma “certa fixação pela sua terra de
origem”. Em alguns versos, depreende-se que o poeta sente saudades de sua terra natal, que
provavelmente é uma pequena cidade (no caso do Drummond, a cidade de Itabira, no interior
de Minas Gerais), enquanto vive na cidade grande. Identifica-se tal ideia no verso em que o
poeta se diz sair desanimado do cinema após ouvir o som de uma viola, instrumento musical
muito utilizado em canções mais ao interior das regiões sudeste e centro-oeste. Outro
exemplo é ele exclamar: “ah, ser filho de fazendeiro!”. Aliás, importa salientar nos versos
seguintes como Drummond abrange não apenas um interiorano mais ao sul do país, mas
também os interioranos de todo o Brasil, principalmente nos versos:
ANDRADE, Carlos Drummond de. Explicação. In: ANDRADE, Carlos Drummond de.
Alguma Poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p.27-28.
O Fazendeiro do Ar. Direção: Fernando Sabino e David Neves. Produção: Bem-te-vi Filmes.
Youtube, 2008 (9:34 min). Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=UP66vBqmiNE&t=1s