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"Acreditamos que quando o árbitro apita e a bola rola, tudo para.

O jogo começa, a torcida


vibra e a atenção se volta aos jogadores que correm no gramado. “Tudo que importa está ali
no campo”, acreditamos. No entanto, nos últimos dias, o mundo testemunhou os episódios de
racismo contra Vinícius Júnior, jogador brasileiro que atua no Real Madrid. Insultos racistas
atravessaram a barreira que separa a torcida dos jogadores no Estádio Mestalla em Valência,
demonstrando que há uma forte conexão entre o que acontece dentro e fora do campo.

Não é a primeira vez que Vinícius Júnior sofre racismo em um campo de futebol. Em 2018, no
Brasil, uma senhora branca proferiu ofensas racistas contra ele após uma partida, sendo
acompanhada por um mar de outros torcedores. As reações a esses acontecimentos são
sempre semelhantes: desculpas, tentativas de minimizar o ocorrido e alegações de que não há
correlação com a cor da pele, mas sim com a postura. Na Espanha, jogadores brancos do outro
time aconselharam Vinícius a esquecer e relevar o incidente. Essas atitudes se repetem de
forma cíclica, levantando questões sobre como lidamos com o problema do racismo.

Os “episódios” de racismo se acumulam e colocam em cheque nossa forma de lidar com a


problemática. Apenas na Espanha, já foram 10 ocorridos em menos de dois anos. Quando nos
lembramos da seleção do Penta, lembramos de um time vitorioso, e não de “episódios de
vitória”, assim como o 7 a 1 em 2014 não é lembrado como “episódios de derrota”. Por que
tratamos o racismo como episódico, em vez de reconhecermos o problema estrutural que ele
representa? No futebol, vitórias e derrotas são resultados de um trabalho coletivo. O racismo
também é uma derrota coletiva e uma das mais vergonhosas. Ele desumaniza, separa e
determina quem merece ser violentado por causa da cor da pele e da história que carrega.

O racismo não diz respeito apenas aos negros. Na verdade, é primeiramente um problema do
branco, segundo Grada Kilomba. É um problema de quem não reconhece o sistema de
violência em que está inserido e o reproduz, mesmo que de forma inconsciente. É importante
lembrar que “sem querer” também mata e é crime. Para alcançar uma verdadeira vitória sobre
o racismo, toda a população precisa entender que o racismo permeia todas as nossas
estruturas mais básicas, como um vício que se recusa a ir embora.

O racismo não se manifesta apenas em ofensas ou violência física, mas também na


desigualdade social. Está presente na fome, na evasão escolar, no analfabetismo, na taxa de
mortalidade, no acesso limitado às universidades e na violência policial, condições que incidem
com muito mais força na população negra. Está na omissão das instituições esportivas, como o
Real Madrid e a Liga espanhola. Está nas próprias regras do jogo.

O combate precisa ser estrutural. É preciso que haja a punição dos racistas, a reformulação dos
sistemas de educação, a redistribuição de renda e de terras, a reforma do sistema político, a
democratização de uma saúde pública entre outros fatores. No fim, é necessário um mundo
novo e transformado, e isso demanda muita luta, Nós, do COMPIR, apoiamos Vinícius Júnior
em sua luta contra os racistas e pelo fim do racismo.

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