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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA

DISSERTAÇÃO FINAL
ESTUDOS DIRIGIDOS DE FILOSOFIA 2
TÍTULO

Pietra Chimello Contessotto

São Carlos,
10 de Abril de 2023.
RESUMO

Primeiramente abordarei conceitos de uma escritora que antecedeu Butler, Simone


Beauvoir, na qual introduziu conceitos sobre a definição de “mulher”, e dividirei o texto em
duas partes, Sujeito e Política, abordando temas como gênero, sexo e o feminismo, utilizando
três textos como referência, “Problemas de gênero”, “O segundo sexo” e um artigo cujo nome
é “A questão do sujeito no feminismo”.

INTRODUÇÃO

O assunto “mulher”, embora tenha sido introduzido na filosofia pela Simone


Beauvoir, é extremamente complicado, desde sua definição até sua posição na sociedade,
visto isso, Judith Butler dedica seu livro “Problemas de gênero” para tratar sobre a posição
feminina na política e a desconstrução de sexo e gênero, infelizmente seu livro chegou ao
Brasil alguns anos após seu lançamento, tornando de certo modo, uma discussão passada
sobre o assunto.

Em um primeiro momento, apresentarei pontos sobre a definição de sujeito e sua


prática de exclusão e encerrarei discorrendo sobre políticas feministas e sua dependência de
um sujeito pré definido.

SUJEITO MULHER

Iniciaremos de forma breve por uma fala de Beauvoir:

Foi um acontecimento histórico que subordinou o mais fraco ao mais forte:


a diáspora judaica, a introdução a escravidão na América, as conquistas coloniais
são fatos precisos. Nesses casos, para os oprimidos, houve um passo à frente
[...]elas são mulheres em virtude de sua estrutura fisiológica; por mais longe que se
remonte na história, sempre estiveram subordinadas ao homem: sua dependência
não é consequência de um evento ou de uma evolução, ela não aconteceu.
(BEAUVOIR, 1970, p.12-13)
Podemos analisar que a diferenciação masculina e feminina não tem uma datação
histórica, pois ela nunca aconteceu, não podemos comparar outros casos de submissões com
o machismo, pois não conseguimos encontrar o momento que ele começou, implicando uma
série de teorias sobre o homem não ser um dado da natureza e sim um produto de relações
sociais.

Para Beauvoir, a sexualidade faz parte do sujeito, sendo o eterno feminino uma
alienação, a mulher não é apenas vítima, ela é cúmplice desta submissão, pois em sua grande
maioria, se porta com fragilidade, utilizando o corpo a fim de satisfazer seus desejos.

Em um primeiro momento, ao se estudar sobre Butler, percebemos a dependência


radical do sujeito masculino diante do “Outro” (expressão utilizada por Simone Beauvoir ao
se referir as mulheres) expôs repentinamente o caráter ilusório de sua autonomia, ou seja, o
poder parecia operar na criação da estrutura binária no conceito de gênero.

Sendo assim, podemos considerar um sujeito como efeito de poder, mas ao


introduzirmos sexo e gênero a este sujeito encontramos falhas em sua origem, pois ao mesmo
tempo em que o poder produzir ele introduz a exclusão de uma minoria.

Em seu texto, Butler introduz termos como gênero e sexo, sendo muito problemáticos,
devido ao caráter cultural e natural respectivamente, podemos encontrar esta definição no
trecho abaixo:

O gênero estabelece interseções com modalidades raciais, classistas,


étnicas, sexuais e regionais de identidades discursivamente constituídas. Resulta
que se tornou impossível separar a noção de “gênero” das interseções políticas e
culturais em que invariavelmente ela é produzida e mantida. (BUTLER, 1990, p.
21)

O gênero é performaticamente produzido e posto pelas práticas reguladoras da


coerência do gênero, e a teoria do sexo pertencer a pessoa de Beauvoir se torna uma teoria
limitada, restando apenas duas opções (menino ou menina), ao perguntarmos a uma mulher
grávida o que será seu filho, imaginamos apenas duas opções, alimentando o sistema binário
no mundo.

Ademais, ao decorrermos mais sobre o assunto, entendemos o pensamento que nos


vem à mente ao imaginarmos uma mulher e um homem, sendo a figura feminina mais frágil e
doce, completamente inversa da brutalidade masculina, já que fomos ensinados desde nossa
infância sobre, onde meninas não poderiam ir brincar na terra, pois não seria delicado para
uma dama.

Contudo, chegamos a uma questão, existe natureza antes da cultura? Para Butler, o
sexo é necessariamente feminino, nos entregando a tarefa de desnaturalizar o sexo, mas isto
não significa que a desconstrução da política simultaneamente, mas este será o assunto da
segunda divisão.

POLÍTICA

Convém lembrar que ao mesmo tempo em que o poder produz ele cria práticas de
exclusão dentre as classes menos favorecidas na sociedade, sendo assim, os “sujeitos” são a
peça-chave na política, pois os sujeitos jurídicos são invariavelmente produzidos por vias de
prática de exclusão discretas em sociedade, Butler explica esta definição abaixo:

Em outras palavras, a construção política do sujeito procede vinculada a


certos objetivos de legitimação e de exclusão, e essas operações políticas são
efetivamente ocultas e naturalizadas por uma análise política que toma as estruturas
jurídicas como seu fundamento. O poder jurídico “produz” inevitavelmente o que
alega meramente representar; consequentemente, a política tem de se preocupar
com essa função dual do poder: jurídica e produtiva. (BUTLER, 1990, p.19)

Sendo contraditória a afirmação em que o sujeito é crucial para a política feminista, já


que os sujeitos jurídicos produzem por vias de prática de exclusão, ou melhor, mulher é uma
categoria jurídica.

Além disso, Butler começa a questionar a posição do sexo em relação ao gênero, e o


considera neste momento culturalmente constituído também, Butler cria uma linha de
pensamento genealógico do sujeito visando apresentar as verdades sobre as condições sociais,
o que possibilita a inclusão dos considerados não “mulheres” neste grupo, como os Drags que
são a desnaturalização do feminino.

Não seria correto adotar o termo “mulheres”, pois é um termo fantasiosamente criado,
que minimiza os atos e as coloca em situação de submissão, Butler aponta que devemos
desconstruir a identidade, mas isto não implica a desconstrução da política, pois “não há nada
mais político que mostrar como políticos próprios termos que constituem a sociedade”
(MELO, 2021, p.11)

Por muitos anos Butler foi alvo de grupos feministas por sua ideia de desconstrução
de sexo e gênero, levando em consideração a luta de muitos anos pelo reconhecimento da
mulher em sociedade e com os mesmos direitos dos homens, mas atualmente com a evolução
da população e a identificação de outros gêneros e espaços sociais, Butler se tornou
inspiração dentre as mais diversas lutas feministas.

CONCLUSÃO

Em suma, podemos entender questões primordiais sobre “mulher” nos textos de


Simone Beauvoir e Judith Butler, e a diferença entre épocas do feminismo, onde o universo
de Beauvoir a revolução feminista poderia ocorrer, já na Butler, está revolução já havia
ocorrido, mudando o foco para novas políticas e discussões sobre gênero. Para Butler, o
sujeito é essencial para as políticas jurídicas, sendo responsável pela criação e pela exclusão,
sendo abordado por seguinte em novas teorias feministas ao longo dos anos.

BIBLIOGRAFIA

BUTLER, Judith. Problemas de gênero feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro:


Editora Civilização Brasileira, 1990.

BEAUVOIR, Simone. O Segundo Sexo. São Paulo: Difusão Europeia do Livro. 1970.

MELO, Amanda. “Judith Butler e ‘A questão do sujeito’ no feminismo. Pólemos. São Paulo,
Volume 10, 1-21, 2021.

Esta dissertação teve como base o seguinte excerto:

“O “sujeito” é uma questão crucial para a política, e particularmente para a política


feminista [...] a categoria das “mulheres”, o sujeito do feminismo, é produzida e reprimida
pelas mesmas estruturas de poder por intermédio das quais busca-se a emancipação.”

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