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A MULHER IDEAL: UMA CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO PATRIARCADO,

ANALISANDO A PARTIR DA OBRA “O SEGUNDO SEXO” DE SIMONE DE


BEAUVOIR

Nara Rúbia Nascimento Costa1

RESUMO
O presente trabalho visa destacar a obra O Segundo Sexo, escrito por Simone de Beauvoir,
uma autora multifacetada, onde sua bibliografia molda seu pensamento existencialista, suas
literaturas se tornaram leitura obrigatória em diversos campos de estudos da teoria feminista
fazendo uma análise histórica e social sobre o estereótipo de uma mulher idealizada pela
hegemonia masculina. Delineando um breve esboço histórico até se chegar ao século XXI, e
observando os padrões de comportamento calcado pelo sistema patriarcal e como eles se
refletem atualmente, principalmente no contexto político.

Palavras-chave: Simone Beauvoir. Estereótipo. Mulher ideal. Sec. XXI.

1. INTRODUÇÃO
Esta pesquisa tem por objetivo traçar considerações relevantes acerca do papel
atribuído à mulher sobre o aspecto histórico, social e político. Antes dessas análises, é de
extrema importância contextualizar a questão de gênero na nossa sociedade, e discussões que
se fazem sobre igualdade e equidade a participação ativa no cenário político. Escrito em 1949,
O segundo sexo é a obra-prima de Simone de Beauvoir, considerada como um farol a
iluminar o feminismo, obra que causou grande fervor na sociedade da época por trazer atona
um leque de ideias, que insuflam nas mulheres da época um levante contra a discriminação
que afligem as mulheres, publicada em dois volumes.
A obra publicada em dois volumes, no primeiro (O segundo sexo), Beauvoir nos
apresenta fatos e mitos sobre as mulheres, ela analisa diversas perspectivas entre elas, a
biologia, a psicológica, a materialista, a histórica, a literária e a antropológica. Beauvoir
aponta que estas perspectivas não são capazes de definir a mulher, porém, todos têm uma
parcela de contribuição para a definição dada à mulher perante o masculino. A autora
clarificou muito bem a questão da formação da identidade feminina, identidade esta que seria
resultante do que se espera de uma mulher perante a sociedade. Afirma a autora que essa
identidade é definida ainda no nascimento da menina, visto que, a menina deve guiar-se pela
mãe e sempre obedecer ao pai.
Beauvoir direciona suas reflexões para investigar “de onde vem a submissão da
mulher? ”2, e para isso seu discurso caminha em direção a um panorama entre a submissão da
mulher e a submissão das minorias étnicas, que segundo ela, são consideradas inferiores por
questões puramente históricas como, por exemplo, a dispersão de povos, por motivos políticos
ou religiosos e a própria escravidão, já no caso da mulher a pensadora aponta que não houve

1
Graduanda em Licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal do Amapá- Campus Santana. E-mail:
nararubianascimentocosta@gmail.com
2
BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo - Livro 1: Fatos e mitos. 4. ed. São Paulo: Difusão Europeia do
Livro, 1970. cap. 1, p. 28.
um marco crucial para isso. A autora menciona3 a submissão das chamadas minorias étnica,
realizando um paralelo entre a mulher e as minorias étnicas (judeus, negros, etc.), seguindo o
argumento enfatizando que essas minorias foram inferiorizadas devido aos acontecimentos
históricos, contudo, as mulheres não foram inferiorizadas por tal fenômeno, porém a mulher
comunga com o homem da experiência humana. Mas, o fato que estreita sua relação com o
homem não é igual a nem um outro.
A mulher dentro da história não teve um grande papel de destaque ou notabilidade
passando apenas de uma personagem coadjuvante, um objeto, um bem e até mesmo
considerada uma moeda de troca, e a partir disso o casamento se tornou crucial nas relações
sociais e econômicas, pois a união entre famílias era comum pelo matrimônio, um acordo
estabelecido entre as famílias (encabeçando pela figura do pai) e que ambos lucravam com
esta união. Já com relação à atividade desenvolvida pelos homens, Beauvoir destaca “Foi a
atividade do macho que, criando valores, constituiu a existência, ela própria, como valor:
venceu as forças confusas da vida, escravizou a natureza e a mulher”. (BEAUVOIR, 1970,
p.85). A questão da formação da identidade feminina, identidade esta que seria resultante do
que se espera de uma mulher perante a sociedade. Identidade essa que é definida ainda no
nascimento da menina, visto que, a menina deve guiar-se pela figura maternal e submeter as
vontades ao pai
A educação da mulher foi algo que não tinha tanta importância para a família da
mesma, estava sempre num segundo plano. A história mostra que a educação feminina era
voltada especificamente para as atividades domésticas.  As mulheres não podiam estudar,
aprender ou ter mais conhecimento que o marido, ouviam frequentemente que o estudo era
um desperdício de tempo. Uma mulher deveria apenas aprender a cuidar da casa, do marido e
de seus filhos. Pensava-se que o estudo para uma mulher não serviria para nada, pois sua
função na sociedade era ser uma boa mãe e esposa. A educação para meninas era feita no lar e
voltada especificamente para o lar. Não havia outras possibilidades, pois ser uma boa
mãe/esposa era tudo o único caminho para uma mulher. Beauvoir expõe:
Além dos poderes concretos que possuem, revestem-se de um
prestígio cuja tradição a educação da criança mantém: o presente
envolve o passado e no passado toda a história foi feita pelos homens.
No momento em que as mulheres começam a tomar parte na
elaboração do mundo, esse mundo é ainda um mundo que pertence
aos homens. (BEAUVOIR, 1970, p.15)

A autora explica que as mulheres não possuem um lugar de prestigio, são subjugadas e
até vistas como uma personagem coadjuvante na história. O sexo feminino possuí um
histórico de discriminação. Reprimidas pela supremacia patriarcal que permeia toda a
sociedade, as mulheres precisaram de muita força para alcançar direitos iguais e, mesmo
depois de muito tempo e com todo o crescimento do movimento feminista que visa a equidade
entre os sexos, a batalha ainda é diária e contínua. A educação das meninas quando criança
não era vista sobre uma ótica de importância, pois o sexo feminino passava sempre pela
neutralidade, em segundo plano, passava despercebida.
2. METODOLOGIA DA PESQUISA

3
BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo - Livro 1: Fatos e mitos. 4. ed. São Paulo: Difusão Europeia do
Livro, 1970. cap. 1, p. 152.
Nossa metodologia será fundamentalmente bibliográfica, com aspectos comparativos,
analíticos e sintéticos. Faremos uso de atual bibliografia sobre o assunto, amplamente
disponível em sites, livros e revistas.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista dos aspectos observados, é nítido de que a mulher herdou reflexos
negativos deixados pela hegemonia patriarcal e podemos analisar esses resquícios na
atualidade, um cenário de opressão que impede que a mulher escolha e trace o seu próprio
destino. A mulher tinha sua vida voltada apenas ao casamento e a família. Era como se ela
tivesse seu caminho determinado, e não haveria outra possibilidade de escolha. A opressão é
uma barreira para a mulher, pois ela impede a sua liberdade. Na visão de Beauvoir não há
nada que pré-determine a existência da mulher, e de fato não há. Carregamos essa sina de
como devemos ser e nunca duvidar do porquê disso ou daquilo. Hoje podemos ter a liberdade
de nos questionarmos e romper essas barreiras, ocupar lugares onde seria inimaginável, são
conquistas que demandaram tempo e tem que serem exercidas com consciência. A imagem
feminina é idealizada historicamente e isso se arrasta por geração a geração. Aquelas que se
rebelam contra esse padrão pré-estabelecido são contrariadas e expostas como loucas.
Cabe se ampliar mais discussões para que se possa discutir o tema, até porque essa
temática lida com questões puramente relacionadas ao gênero feminino e que envolve uma
gama de problemáticas que ainda se busca tratar e dialogar. E a partir disso é necessário
estimular estratégias sociais, educacionais e políticas que as transformem em práticas.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ALMEIDA, Giseliane Medeiros; CRUZ, Maria Helena Santana. Puta, vagabunda e esposa:
Uma análise sobre a opressão patriarcalista conjugal…(*)
BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo 1. Fatos e Mitos. 4ª Edição. Difusão Europeia do
Livro, 1970, São Paulo.
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