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BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo, v1. Primeira parte: destino.

Tradução Sérgio
Milliet. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, p. 9-91, 2019.

Caroline Vivian Smozinski*

Universidade Federal Fluminense – Brasil

Simone de Beauvoir era uma filósofa francesa existencialista, formada em matemática,


literatura e línguas, e filosofia. Nasceu em 09 de janeiro de 1908 e faleceu no dia 14 de
abril de 1986, com 78 anos. Durante a sua vida, viveu momentos históricos como a
segunda guerra mundial, a guerra entra a França e a Alemanha e a introdução dos direitos
trabalhistas na França. Em 1949, com 41 anos, publicou o livro “O segundo sexo”, que
discutia sobre os padrões imposto às mulheres pela sociedade. A autora foi uma das
precursoras do pensamento feminista e existencialista.

O livro apresenta fatos (ainda que sem fazer referência a alguns deles), analisa obras e
conta histórias sobre a concepção e o papel da mulher. É uma leitura considerada simples,
para os padrões da época, porém, bem intensa. A leitura é extremamente densa e rica em
detalhes, onde o leitor se vê lendo outros livros e realizados pesquisas em sites de busca
no intuito de entender as referências e as reflexões da autora, mas é algo que pode ser
superado se a pessoa que está lendo já tem um bom entendimento de outros autores, do
contexto e das literaturas relacionadas à época. O livro é composto por dois volumes, o
primeiro volume trata sobre os fatos e os mitos, e o segundo volume discorre sobre a
experiência vivida.

Na introdução, a autora contextualiza o lugar da mulher, utilizando afirmações de


filósofos para exemplificar a alteridade imposta a mulher. Ela situa a mulher como o
“Outro”, porque para a sociedade a mulher apenas executava uma função, um papel
inferior diante do desempenhado pelo homem. E por meio dessas discussões, a autora
busca desmistificar esse papel atribuído a mulher.

Na primeira parte, intitulada “Destino”, a autora fala sobre os dados biológicos, o ponto
de vista psicanalítico e do materialismo histórico:

*Contato: cvsmozinski@id.uff.br
1. Os dados da biologia

Nessa seção, a autora cita as diferenças biológicas existentes entre o homem e a mulher,
ao mesmo tempo que comenta sobre a reprodução assexuada, citando que a sexualidade
não está contida na reprodução, logo a definição da mulher não deve ser feita a partir de
seus órgãos reprodutores. A autora discorre sobre o sexismo biológico e como a biologia
da mulher foi base para a legitimação da sua opressão. E afirma que existe diferenças sim,
entre os sexos, contudo, quando o pleno emprego da força corporal não é exigido, essas
diferenças se anulam.

2. O ponto de vista psicanalítico

Neste capítulo, a autora faz uma espécie de questionamento aos psicanalistas, pois eles
situaram o homem como figura concreta, e a mulher um ser privado do pênis, sendo a
ausência do pênis um fator que impede a mulher de se tornar presente a si própria,
excluindo a libido feminina (e a feminilidade), considerando apenas a libido a partir do
macho (como impulso, energia).

A autora também comenta que os psicanalistas definem o homem como ser humano e a
mulher como fêmea. E todas as vezes que se conduz como ser humano, é afirmado que
ela imita o macho. Logo, exclui-se o estudo da mulher no contexto de ser humano em
busca de valores, dentro de uma estrutura social, que não seja ela mesma caracterizada a
partir do homem.

3. O ponto de vista do materialismo histórico

Nesta parte, a autora traça um paralelo entre o homem e a mulher, no que diz respeito a
força de trabalho. Nos primórdios da sociedade, a mulher participava ativamente da vida
econômica, por meio do manejo e cultivo de plantações. No momento em que foi
demandado um trabalho físico mais intenso, houve o início da escravização do homem e
da propriedade privada, logo, o homem também se tornava proprietário da mulher. No
texto, Simone demonstra que a sociedade patriarcal estabeleceu um estereótipo do que é
“ser mulher” que foi naturalizado na sociedade e reproduzido pela própria mulher como
um produto da cultura. A autora também menciona que em sociedades onde não são mais
necessárias a força física de trabalho, a mulher voltará a estar em igualdade com o homem.

A obra de Simone Beauvoir trouxe reflexões acerca do universo da feminilidade, onde,


nessa primeira parte, buscou-se contextualizar os dados biológicos, psicanalíticos e os
mitos para descontextualizar a visão sobre o “ser mulher”. O livro permitiu que fosse
trazido para a luz a discussão sobre as construções sociológicas do papel da mulher na
sociedade, desmitificando lugares impostos que antes não eram questionados
abertamente, e que desde então tornassem pauta nas lutas pela equalização dos direitos
das mulheres.

Referência

BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo, v1. Primeira parte: destino. Tradução Sérgio
Milliet. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, p. 9-91, 2019.

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