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P O R T O A L E G R E

http://dx.doi.org/10.15448/1984-6746.2019.3.34599

O FENÔMENO DA IDOLATRIA:
UM DIÁLOGO TEOLÓGICO E FILOSÓFICO
The phenomenon of idolatry:
a theological and philosophical dialogue
El fenómeno de la idolatría:
un diálogo teológico y filosófico

Jair Inácio Tauchen 1


Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.

Resumo
A pesquisa apresenta o fenômeno da “idolatria” através de um diálogo interdisciplinar
entre teologia e a filosofia. O aporte conceitual examina a idolatria enquanto expressão
da divindade que oprime e exige a imolação de sacrifícios humanos. O problema con-
siste em saber se a idolatria acontece somente através do culto aos ídolos ou pode se
desenvolver mesmo sem imagens? A idolatria consiste em qualquer realidade divinizada
pelo homem. Ela constitui-se ao substituir o divino por algo que a represente. Enfim,
a idolatria esconde e legitima a opressão, especialmente, dos mais pobres, causando
assimetrias e exclusão social.
Palavras-chave: Idolatria. Deuses. Ídolos. Imagens

1
Doutor e Pós-doutorando (PNPD/CAPES) em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul (PUCRS), Porto Alegre, RS, Brasil. ORCID: http://orcid.org/0000-0002-
1974-016X. E-mail: jairtauchen@gmail.com

Este artigo está licenciado sob forma de uma E-ISSN: 1984-6746


licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional, que
RECEBIDO EM: 26/06/2019
permite uso irrestrito, distribuição e reprodução em qualquer APROVADO EM: 28/08/2019
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Abstract
The research presents the phenomenon of “idolatry” through an interdisciplinary dialogue
between theology and philosophy. The conceptual contribution examines idolatry as an
expression of the deity that oppresses and demands the immolation of human sacrifices.
The problem is whether idolatry happens only through worshiping idols or can develop
even without images? Idolatry consists of any reality divinized by man. It is constituted
by replacing the divine with something that represents it. Finally, idolatry hides and
legitimizes oppression, especially the poorest, causing asymmetries and social exclusion.
Keywords: Idolatry. Gods. Images. Idols.

Resumen
La investigación presenta el fenómeno de la “idolatría” a través de un diálogo inter-
disciplinario entre teología y filosofía. La contribución conceptual analiza la idolatría
como una expresión de la divinidad que oprime y exige la inmolación de sacrificios
humanos. El problema consiste justamente en saber si la idolatría ocurre sólo a través
de la adoración a los ídolos o puede desarrollarse incluso sin imágenes? La idolatría
consiste en cualquier realidad divinizado por el hombre. Ella se constituye al reem-
plazar a la divinidad por algo que le representa. En fin, la idolatría oculta y legitima la
opresión, especialmente, de los más pobres, provocando asimetrías y exclusión social.
Palabras clave: Idolatría. Dioses. Ídolos. Imágenes.

Introdução

O tema da idolatria na teologia bíblica é muito abrangente; está


presente no Judaísmo e no Cristianismo2. Por conseguinte, é necessário
estabelecer fundamentos claros para poder interpretar os textos bíblicos,
muitas vezes restritivos e violentos, mediante uma análise respeitosa das
diversidades espirituais que fazem parte da vida do homem. A prática
religiosa da idolatria permeia o processo do politeísmo e monoteísmo do

2
O artigo é um excerto da tese de doutorado do próprio autor: Por uma crítica da idolatria
em articulação com a teologia e a economia – um diálogo interdisciplinar, defendida em 2018 na
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

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Antigo Testamento e do Novo Testamento3 Ela está diretamente ligada ao


significado de denúncia, repulsa, intolerância, discriminação e condenação
dos cultos que utilizam imagens, o que permite uma interpretação ampla.
Essa interpretação, muitas vezes tida como fundamentalista e religiosa-
mente intolerante, é um grande desafio para a sociedade atual marcada
pela emergência das diversidades culturais, religiosas e de orientação sexual.
Considerando a abrangência do tema na teologia bíblica, o propósito
do artigo é analisar a idolatria como uma estrutura que oprime e exige
entrega e sacrifícios da vida humana. Por isso, diante das inúmeras narra-
tivas bíblicas, faz-se necessário escolher algumas que exibem ídolos como
deuses que legitimam a opressão, apoiam poderes dominadores, interferem
na comunidade humana e são incapazes de ouvir o clamor dos pobres4.
Na tradição cristã, o ídolo ou culto dos ídolos encontra-se no sentido
oposto ao culto do verdadeiro Deus proclamado pelas escrituras. O mes-
mo ocorre em relação à fé, pois se o reconhecimento do Deus verdadeiro
depende da fé e o culto a Deus apenas pode acontecer a partir da fé, a
idolatria aproxima-se da incredulidade. Assim, o verdadeiro culto a Deus
é incompatível ao deus dinheiro ou ao deus mercado que, por sua vez,
deve ser compreendido como idolatria. O idólatra guarda dinheiro e bens
somente para si, um culto como se fosse deus. Comportamento reprovado
pelo Evangelho quando se refere a servir a Deus e ao dinheiro ao mesmo

3
O Antigo Testamento comparado com o Novo possui uma abordagem sobre a idolatria muito
maior. No Novo Testamento os Evangelhos e os outros livros praticamente não abordam o
tema de forma patente, mas consta em alguns relatos no Atos, em alguns escritos paulinos e
no Apocalipse de maneira mais elaborada. Beale (2014, p. 28) questiona se em razão disso é
possível “concluir que o problema da idolatria cessara ou deixara de ser tão agudo na história
posterior de Israel na época de Jesus, ou então que não era problema na igreja do primeiro século?”.
4
O sociólogo e filósofo alemão Erich Fromm (1983, p. 123) entende o processo idolátrico da
seguinte forma: “a essência do que era chamado ‘idolatria’ pelos antigos profetas não está em o
homem adorar muitos deuses em vez de um único. Está em os ídolos serem a obra das mãos do
próprio homem – eles são coisas e, no entanto, o homem curva-se ante a elas e as reverencia;
adora aquilo que ele mesmo criou. Ao fazê-lo ele se transforma em coisa. Transfere às coisas
de sua criação os atributos da vida e, em vez de experenciar-se como pessoa criadora, só entra
em contato consigo mesmo através da adoração do ídolo. Ele se alheou às forças de sua própria
vida, à riqueza de suas próprias potencialidades, e só entra em contato consigo mesmo de
maneira indireta, e submetendo-se à vida congelada nos ídolos”.

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tempo. Jesus, ao afirmar que não é possível prestar culto simultanea-


mente a Deus e a Mamon (Mt 6,24), renova o que os profetas do Antigo
Testamento já haviam denunciado. No Novo Testamento o enfoque da
idolatria continua atual: “Mamon”, nesse caso, refere-se aos bens que as
pessoas acumulam e não utilizam. Quem se utiliza disso como sentido da
vida, não considera a Palavra de Deus, vive sob o mando da idolatria. A
ganância pelo dinheiro deve ser desmascarada em sua imagem de justiça.
Os teólogos latino-americanos, ao criticarem as relações do mercado no
contexto econômico, são impulsionados a considerar a Sagrada Escritura como
elemento balizador a fim de interpretar o mundo que os cerca e fundamentar
a questão da idolatria. Por isso, o termo “ídolo” deve expressar um significado
maior do que apenas uma imagem ou estátua. A idolatria pode ser qualquer
realidade divinizada pelo homem. Sempre que o homem substitui o poder
divino por outra confiança, cai em idolatria. As possibilidades são inúmeras,
por exemplo, a divinização do poder, do Estado, das raças, do capital.
A idolatria no sentido econômico e empresarial tem algo diferente
da idolatria na Bíblia. O mercado, o dinheiro e o capital são criações
humanas, são ídolos adorados que se tornam insaciáveis. O verdadeiro
Deus segundo a tradição bíblica quer que o ser humano ocupe o centro
da história com suas necessidades concretas atendidas. De outro modo,
os ídolos do mercado, do dinheiro, estão ligados à exploração e à injus-
tiça na sociedade; diferente do Deus que se tornou humano em Jesus de
Nazaré que não ordena sacrifício algum, os ídolos do mercado exigem
sacrifícios. Aliás, Ele próprio se entregou como sacrifício, no Cristianismo.

1 O problema da idolatria: imagem ou ídolo?

No Antigo Testamento em Gênesis 1, relata-se que Deus criou o ser


humano à sua imagem e semelhança, capaz de refletir a sua gloria. A
questão é saber se no decorrer da história até a atualidade esse propósito
foi cumprido. O que o homem como criatura de Deus reflete atualmente?
O ser humano, conforme a narrativa bíblica, foi criado para refletir Deus e
quando isso não acontece reflete outra coisa. Reflete, sobretudo, aquilo
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com o qual está comprometido, seja com o Deus criador ou com qualquer
outro objeto da criação. Assim, quando não adora o Deus verdadeiro em
vez de assemelhar-se com Ele, o idólatra assemelha-se com o ídolo que
adora. O problema da idolatria, considerando a revelação bíblica do pri-
meiro e do segundo mandamento, é que ele camufla a nobreza entre Deus,
o Criador e a criatura. O fato de representar Deus por alguma imagem
divina o desvia da verdadeira natureza espiritual. Ou seja, criar outros
deuses e tirar o Deus do seu devido lugar é diminuir a glória do Criador.
Adão e Eva foram criados à imagem de Deus com o propósito de
refletir sua glória e povoar a terra com essa finalidade. Ao abandonar o
compromisso com Deus, deixaram de refletir sua imagem e passaram a
reverenciar outra coisa no lugar de Deus. Trocaram a reverência ao Deus
criador por outro objeto de adoração. Idolatria é adorar qualquer coisa a
não ser Deus. Adão trocou a lealdade a Deus pela fidelidade a ele próprio
e a satanás, refletindo características da serpente.
O fato de Adão refletir no princípio a imagem de Deus, revela um con-
ceito antigo até mesmo fora dos limites de Israel. Por exemplo, na Síria e
no Egito era comum colocar imagens de divindades no templo dos quais
os reis eram imagens vivas do deus, o próprio reflexo desse deus. Destarte,
justifica-se a fabricação das imagens com metais nobres com a finalidade de
refletir a glória do deus que representavam. O rei era a imagem viva do deus.
A Bíblia contém inúmeras passagens condenando o culto que envolve a
utilização de imagens, que incita atos de violência, que discrimina e empre-
ga a intolerância em nome de Deus. A questão das imagens/ídolos esteve
presente no conflito entre católicos e reformados; esteve e está presente
nas discussões conturbadas entre o cristianismo e as religiões africanas e
indígenas; na relação do hinduísmo com outras religiões que utilizam imagens
em seus templos. O termo geralmente é utilizado no sentido de demonizar
ou diminuir a dignidade das religiões, um processo discriminatório e violen-
to que pesa sobre as religiões dos povos africanos e povos originários das
Américas, mediante uma infeliz interpretação de um possível respaldo na
“Palavra de Deus”, especialmente em textos do Antigo Testamento.

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A religião de Israel5 utilizou por muitos séculos imagens de todos os


tipos, formas e tamanhos representando deuses e deusas nos cultos, tanto
nos centros urbanos, como nas vilas camponesas. Migrou de um complexo
sistema politeísta para um monoteísmo centralizado em Jerusalém como
único local de culto e com um único código litúrgico. Somente no período
da Judeia como província do Império Persa é que o monoteísmo, culto
sem imagem, tornou-se oficial em Judá.6
A utilização de imagens nos cultos públicos e santuários foi comum
até aproximadamente 720 a. C. quando ocorreu a reforma de Ezequias e
Josias. Fato comprovado pelas escavações arqueológicas que encontraram
inúmeras imagens relacionadas a esse período; algo também comprovado
pelos textos bíblicos que empregam certa naturalidade e por não esboçar
nenhuma crítica ao se referir à utilização das imagens nos cultos religiosos
(Gn 31,19. 34. 35; Jz 17,5; 18,14-20; 1Sm 19, 13-16). A proibição das imagens
entra em vigor após as reformas de Ezequias e de Josias (Dt 7,25-26; 16,21-22).
Sobre o emprego do termo ídolo ou imagem relacionados à Bíblia,
Dietrich (2015, p. 346) chama atenção para a sua tradução para o português.
Geralmente a tradução carrega uma conotação pejorativa e depreciativa
envolvendo o objeto como algo condenável, especialmente quando na fase
politeísta, antes das reformas de Ezequias e Josias, o texto bíblico depara-se
com alguma imagem utilizada no culto público: “muitas traduções usam ou
acrescentam a palavra ‘ídolo’ para traduzir palavras que no hebraico indicam
simplesmente alguma ‘imagem’.” Quando se faz referência isolada à palavra
“imagem”, o seu significado é neutro, não está imbuído de nenhuma carga
negativa e pejorativa, diferente do significado de “ídolo”. Dietrich (2015,
p. 346) apresenta um exemplo: na religião católica ou mesmo nas religi-

5
Segundo Dietrich (2015, p. 342), a história de Israel não começou em 1800 a. C. na Babilônia
com a migração de Abraão como tradicionalmente é conjecturado. Teve início bem mais tarde
entre 1500 e 1300 a. C. em Canaã. Neste período ocorreu a sedentarização de algumas famílias
de pastores em três regiões montanhosas da Palestina: Siquém, Betel e Hebron. Todo esse
território fazia parte da região conhecida na época como Canaã.
6
Alguns textos bíblicos do Antigo Testamento que mencionam a utilização de imagens em cultos:
Gn 31, 19.30-35; Is 6, 1-13; Jz 6,24-30; 1Sm 19,13-16; 1Rs 12,28-29; 2Rs 18,4; 23,4-14; Jr 44, 15-19.

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ões afro-brasileiras uma pessoa pode dizer: “na cabeceira da minha cama
tenho três imagens”, mas é improvável que dirá: “na cabeceira da minha
cama tenho três ídolos.” O mesmo é válido para os terreiros de candomblé,
umbanda, batuques e outras religiões que utilizam imagens em seus cultos;
elas não irão se referir a essas imagens chamando-as de “ídolos”. Portanto,
a religião de Israel no período pré-exílico quando faz referência à utilização
de imagens em cultos, não pode ser interpretada como “idolatria”.
Essa interpretação é comum nas traduções. Empregam a palavra
ídolo na tradução portuguesa da palavra hebraica que se refere a objetos,
mas que no texto bíblico transmite a simples indicação de uma imagem. É
oportuno apresentar mais alguns exemplos sugeridos por Dietrich (2015,
p. 346-347) que comprovam o problema da tradução. O texto bíblico
utilizado para análise é Gn 31,19:
Bíblia de Jerusalém (BJ): “Labão fora tosquiar os rebanhos e Raquel
roubou os ídolos domésticos que pertenciam a seu pai.”
A Bíblia da CNBB: “Como Labão tinha ido à tosquia das ovelhas, Raquel
roubou as estatuetas dos ídolos de seu pai.”
Tradução ecumênica da Bíblia (TEB): “Laban tinha ido tosquiar o seu
gado e Raquel roubou os ídolos que pertenciam a seu pai.”
Bíblia de Estudo Almeida: “Tendo ido Labão fazer a tosquia das ovelhas,
Raquel furtou os ídolos do lar que pertenciam a seu pai.”
A Nova Versão Internacional (NVI) Bíblia de Estudo Arqueológica:
“Enquanto Labão tinha saído para tosquiar suas ovelhas, Raquel roubou
os ídolos do clã.
No hebraico o versículo citado não tem nenhuma palavra que possa ser
traduzida como “ídolo”. Segundo Dietrich (2015, p. 347), “o texto menciona
a palavra terafim e o faz com a maior naturalidade. Terafim era o nome
dado às imagens dos deuses domésticos que muito provavelmente eram os
ancestrais divinizados de cada família, eram os Elohim das famílias.” Todas
as famílias tinham seu Elohim (Gn 31,53). Portanto, nesse texto bíblico
não existe conotação de crítica à posse das imagens em cultos familiares
porque para os autores dessa narrativa a utilização de imagens era comum

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e, consequentemente, elas não possuem o significado de ídolos. A tradu-


ção da palavra terafim do hebraico para o português com o significado de
“ídolos” “revela que os tradutores assimilaram as proposições das reformas
de Ezequias (720 aC) e de Josias (620 aC), e as têm como verdadeiras re-
velações da vontade de Javé.” (DIETRICH, 2015, p. 347). Porém, utilizaram
de forma retroativa em tradições anteriores às reformas de Ezequias e de
Josias. Quando as traduções apresentam a palavra “ídolos” onde não exis-
te e nem pressupõe esse significado no texto hebraico estão criando um
anacronismo que mascara o período politeísta de Israel antes das reformas.7
As reformas centralizadoras de Ezequias e Josias (i) estabeleceram o
templo de Jerusalém como único local de culto em Israel; (ii) designa Javé
como Deus de Israel; (iii) proíbe o culto a qualquer outra divindade; (iv)
condena o uso de imagem que represente Javé ou qualquer outra divinda-
de. A partir dessa reforma, todas as imagens passam a ser consideradas
ídolos e, por conseguinte, são tidas como crime de idolatria.
A idolatria acontece somente através do culto aos ídolos ou pode se de-
senvolver mesmo sem imagens? A crítica às imagens ocorre mais em função
do tipo do culto, da religião e das consequências a que estão associadas do que
das imagens em si. Dietrich (2015, p. 349), entende que pode haver “idolatria”
sem necessariamente haver imagens. A questão da idolatria transcende à
questão das imagens. Como exemplo, é conveniente recorrer a uma das
respostas mais claras de toda a Escritura, representada pelo Salmo 115, 4-8:

São de prata e ouro os ídolos deles,


e foram feitos por mãos humanas;
esses têm boca e não falam,
têm olhos e não veem,

7
Nesse sentido, Dietrich (2015, p. 349) entende que “esse procedimento acaba também por
falsear ou até mesmo esvaziar completamente o sentido libertador da crítica à idolatria. Pois
acaba focando o peso dessa crítica no uso da imagem em si. Idolatria nesse caso é possuir ima-
gens, usar imagens como representação do Divino, substituir o Divino por algo que se possa
manipular, usar. Mas não é esse o motivo original da crítica profética às imagens na Bíblia.”

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têm ouvidos e não escutam,


têm nariz e não cheiram;
têm mãos e não apalpam,
têm pés e não andam,
nem sua garganta produz sussurro algum.
Os ídolos deles são obras de mãos humanas.

O que o salmo condena não é o fato de as imagens serem de “ouro e


prata, feitas por mãos humanas” que se caracterizam pela imobilidade e
insensibilidade, mas, sobretudo, o fato de denunciar aqueles que produ-
zem e confiam nessas imagens. Aqueles que fabricam e adoram os ídolos
ficarão igual a esses ídolos e o castigo será tornarem-se semelhantes a
eles: “têm olhos e não veem”. Ou seja, não ouvem e não veem as coisas
do espírito, mesmo tendo um deus por trás deles, ficaram tão cegos e
tão surdos espiritualmente quanto esses ídolos. A idolatria, nesse caso,
expressa uma religiosidade enganadora e revela que o maior pecado de
Israel foi a idolatria. O ídolo nada mais é do que uma obra “feita por mãos
humanas”, um produto da vontade do homem que tem “boca, olhos,
ouvido, nariz, mãos, pés, garganta” (Salmo 115, 4-8), semelhante a uma
estátua inanimada.8 Ou, nas palavras do apóstolo Paulo, quando comenta
em I Cor 12,2 o referido Salmo, chama os ídolos de “mudos” seguindo a
polêmica da falta de comunicação, pois “não têm boca e não falam”.
A crítica de que os ídolos não têm vida está amparada no fato de que
os fabricantes e adoradores acreditavam que os deuses falam e ensinam
por meio dos ídolos, mas na verdade dentro da imagem somente existe

8
Nesse sentido é oportuno o comentário de Beale (2014, p. 21): “[...] quando se retratam os
ídolos com olhos e orelhas que não enxergam nem ouvem, afirma-se que seus adoradores têm
olhos e orelhas, mas não veem nem ouvem”. O homem foi criado por Deus para ser uma criatura
refletora. Portanto, vai refletir aquilo com que está comprometido, pode ser o Deus verdadeiro
ou alguma imagem criada. O Salmo 115, 4-8 tem muita semelhança com a narrativa de Is 6, 1-13.
Outro fato interessante segundo Beale (2014, p. 48) é que sempre que o povo de Israel é “men-
cionado como quem ‘têm olhos para ver, mas não veem, têm ouvidos para ouvir, mas são capazes
de ouvir’ (ou textos semelhantes a esse) ele está sendo condenado e castigado por ser idólatra.

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o vazio. Confiar e seguir esses deuses é seguir no caminho tortuoso, é


tornar-se semelhante aos ídolos ocos espiritualmente.
Duas outras passagens bíblicas do Antigo Testamento merecem
uma atenção especial, em virtude da condenação das imagens corres-
pondentes aos “deuses de metal fundido” e os “deuses de ouro e prata”.
Novamente, o contexto de proibir exclusivamente um tipo específico de
imagens remete ao período anterior às reformas.
Ex 20,23: “vocês não farão para mim deuses de prata e deuses de
ouro, vocês não farão para vocês”.
Ex 34,17: “deuses de metal fundido não farás para ti”.
Dietrich (2015, p. 352) chama atenção para dois aspectos nesses versícu-
los. O primeiro é que são chamados de “deuses” tanto as imagens de “metal
fundido” como as de “prata e ouro”. É importante frisar que em nenhum
momento transparece uma conotação pejorativa; não são chamados de
ídolos e não sugere uma palavra com termo neutro como “imagem”. Para
o autor da narrativa, essas imagens são “deuses” mesmo expressando uma
condenação. Nesse caso, no que diz respeito a interpretar imagens no sen-
tido de deuses, o argumento encontra amparo em Gn 31,30 quando Labão
ao procurar os seus Terafins questiona: “por que roubaste meus deuses?”9
Outro aspecto interessante é que a proibição aponta especificamente
um tipo de imagem. Em Ex 20,23 proíbem-se as imagens feitas de “prata
e ouro”; é bem provável que esse versículo determine a crítica mais antiga
aos deuses de prata e os deuses de ouro. A narrativa em Ex 34,17 proíbe
somente as de “metal fundido”. Diante disso, é possível deduzir que as
imagens de cerâmica, pedra, madeira ou outro material não são proibidas.
Em Ex 20,22-26 é possível encontrar outra passagem na qual uma
proibição é bem específica. Nessa narrativa, a proibição de fazer “deuses
de prata e deuses de ouro” está ligada à proibição de fazer “altar de pedras

9
Aqui, novamente, o sentido dos “deuses” deve ser interpretado como Elohim, ancestrais
divinizados e amplamente utilizados por todas as famílias. Não existe uma conotação pejorativa
ou repressiva no versículo ao utilizar a expressão “deuses”.

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lavradas”. Esses versículos tratam das primeiras tradições da redação do


Código da Aliança, quando ainda era possível levantar altar fora de Jerusalém
e não existia uma centralização do culto, portanto, anterior às reformas de
Ezequias e Josias. Na primeira parte, o Código deixa claro que tipo de altar
é permitido. São permitidos altares de terra e pedras naturais. E, também,
o tipo de altar que não é permitido fazer: o de pedras lavradas. Assim, é
possível perceber que a mesma especificidade de proibir “deuses de prata
e deuses de ouro” está presente na proibição do altar de “pedras lavradas”.
Agora é necessário perguntar: onde estavam localizados esses altares?
É adequado apresentar a interpretação de Dietrich (2015, p. 353) segundo
a qual “somos levados a concluir que estas proibições ecoam algumas das
primeiras críticas da profecia camponesa (Amós, Oseias) contra o uso da
religião para explorar os camponeses”. Para tornar o argumento ainda mais
claro, chama atenção para a especificidade da proibição. São proibidos
deuses de metal fundido, deuses de prata e deuses de ouro. Conclui-se
que as imagens de pedra, de madeira e de cerâmica estão autorizadas. Mas
por que somente as de metal são proibidas? Primeiro é preciso saber quem
são e onde se encontram os que podem fazer imagens de prata, de ouro
e construir altares de pedras lavradas? Segundo Dietrich (2015, p. 353), as
perguntas têm a mesma resposta: “eram encontrados nas principais cidades.
Talvez somente nas capitais e nas cidades com ‘santuários do rei’ (Am 7,13)”.
Fica claro que esse tipo de culto é característico das cidades. A justificativa
é que os materiais empregados são caros e precisam ser importados, como
também, os artesãos que dominam a técnica. Isso somente é possível através
da riqueza e do poder adquiridas às custas da opressão dos camponeses
que viviam e trabalhavam nas proximidades das muralhas das cidades.10

10
É oportuna a interpretação de Dietrich (2015, p. 353): “estes versículos ecoam os primeiros
gritos dos camponeses contra o uso da religião para explorá-los. É no geral um grito contra a
religião oficial das monarquias e seus centros de culto, nos quais a ostentação de altares caros
e deuses de metal fundido, ou mesmo de ouro e de prata, tinham a função de legitimar a explo-
ração das famílias camponesas (Os 8,4-5; 13,2; cf. Lv 19,6; Dt 9, 12. 16; 27,15; 1Rs 14,9; Is 30,22).”

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Como já foi comentado, antes das reformas as leis contra imagens


não tinham o mesmo propósito dos discursos teológicos que atualmente
condenam as pessoas, os povos, as religiões, ao utilizarem imagens em seus
cultos. Em Israel, no período pré-exílico, as vilas camponesas mantinham
em seus locais de culto, altares de terra, imagens de madeira, de pedra, de
cerâmica. É importante destacar que nesses rituais litúrgicos e nesses vila-
rejos “ninguém ficava mais rico ou mais pobre.” Os cultos estavam ligados
diretamente às necessidades concretas da vida e não ao acúmulo de riqueza
e poder. Portanto, é possível questionar se a “idolatria” está presente no culto
que utiliza diversos deuses, deusas e imagens, todas elas ligadas a defesa
da vida, ou no culto centralizado em um só lugar, um só Deus, mas que
não está ligado à promoção da vida, por permitir a exploração e opressão.
É muito provável que o alerta desses profetas camponeses tenha con-
tribuído para a constituição das leis de Israel, especialmente, nas reformas
de Ezequias e Josias. Outro fato perceptível e comentado por Dietrich
(2015, p. 354) é o “lado ambíguo da religião oficial: leis que na origem
eram contra o acúmulo de riqueza e de poder realizado pela monarquia,
integradas nas reformas eram postas a serviço da monarquia e visavam
dar-lhe legitimidade.” Isso deve levar a uma reflexão quando se abordam
outras religiões que utilizam imagens em seus cultos, especialmente no
Brasil, as mais perseguidas: as afro-brasileiras, as indígenas e as populares.
Em muitas ocasiões, a condenação dessas religiões dá a impressão de
estar carregada do mesmo espírito centralizador e opressor que esteve
presente nas reformas concentradoras de riqueza e poder comandadas
por Ezequias e Josias. É primordial deixar de lado o espírito conservador,
imperialista e, perante a diversidade dos ritos religiosos, buscar o respeito
e a convivência pacífica para entender o que é adorar a Deus.

2 A idolatria e o culto a imagens

A adoração de imagens no período politeísta representando suas


divindades fazia parte da religiosidade, da cultura e da tradição, especial-

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mente no Egito, Síria e Mesopotâmia. As divindades se faziam presentes


no cotidiano das pessoas e eram invocadas para favorecer uma colheita,
aumentar o rebanho, proteger a família, garantir a justiça. Elas acreditavam
que essa era a maneira adequada de prestar culto e receber a proteção
de um deus. Um exemplo dessa proteção é a narrativa de Gn 31,49, já
mencionada, na qual Raquel roubou os terafins que pertenciam a seu pai
Labão antes de sair da sua casa, como símbolo de proteção e de justiça.
A proibição do culto às divindades e a produção das imagens que as
representassem teve origem para o povo de Israel na revelação de Deus
a Moisés no monte Sinai. Inclusive, não era permitido fazer imagens do
próprio Javé. A revelação de Deus a Moisés no Sinai estabeleceu o conceito
de idolatria. A monolatria em Israel foi um processo lento principalmente
até o período do rei Josias no qual Javé foi reconhecido como o único Deus.
No princípio, Javé era apenas um dos deuses cultuado, somente depois
é que ficou reconhecido como o único deus, o Deus dos pais, de Abraão,
de Isaac, de Jacó, o Deus criador de tudo11.
A proibição do culto às imagens na Bíblia ocorre em função do ídolo
(imagem) não ser deus e ter sido produzido por mão humana. A idolatria
é um processo no qual se concebe a uma imagem uma função divina que
não possui. Segundo Mckenzie (2003, p. 436), nesse sentido, nenhuma “
figura humana ou de animal poderia representá-lo. Representar Javé por
meio de imagens seria o mesmo que o reduzir ao nível da natureza e, por
conseguinte, rebaixá-lo ao nível de divindades adoradas por imagens”.
Mesmo sabendo qual era a vontade de Deus de não construir imagem que
o representasse e não prestar culto a outra divindade, por que em mo-
mentos específicos da história, a lei não foi cumprida e se voltou a cultuar
imagens? Como forma de entender esse retrocesso histórico, é oportuna

11
Na narrativa do texto bíblico Ex 20, 3-5 é possível constatar: “não tenha você outros deuses
diante de mim. Não faça para você imagem de deus, qualquer representação do que existe no
céu, na terra ou nas águas que estão debaixo da terra. Não se prostre diante desses deuses,
não lhes sirva, porque eu, Javé seu Deus, sou um Deus ciumento.”

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a análise de duas narrativas bíblicas, amplamente conhecidas e dotadas


de grande clareza que facilitará um entendimento mais aprofundado.
A primeira narrativa bíblica refere-se ao bezerro de Aarão. O texto
discorre sobre quando Moisés subiu a montanha para se encontrar com
Deus. Durante a subida, o povo permaneceu embaixo aguardando o retor-
no de Moisés que segundo o texto bíblico (Ex 24,18), demorou quarenta
dias. Tempo suficiente para o povo se sentir sozinho, desamparado, sem
liderança. O período de quarenta dias pode representar o simbolismo de
um tempo suficiente para um encontro com Deus e de preparação para o
novo momento histórico. Outra interpretação simbólica encontra amparo
no texto quando Moisés se encontra com Deus no alto da montanha, en-
quanto o povo permanece embaixo, desamparado e desprovido de uma
divindade. A inquietação e reclamação do povo não tardam a aparecer,
conforme Ex 32,1: “... porque não sabemos o que aconteceu com esse
Moisés, o homem que nos tirou da terra do Egito”. O povo ainda não
reconhece em Moisés como o enviado por Deus, o Profeta da Lei, aquele
que foi encarregado para liderá-los. Até então, é apenas “esse Moisés”.
Outro elemento é que o povo não percebe que é o Senhor Javé quem os
libertou do Egito e que permanece junto na caminhada como o Deus libertador.
Quando se sente desamparado e perdido, pede a Aarão uma divindade para
protegê-los: Ex 32,1 – “Vamos! Faça para nós deuses que caminhem à nossa
frente”. É preciso destacar que nesse período o culto é politeísta e o povo
não quer viver sem a proteção de uma divindade. Sente a necessidade de ter
Elohim12 concreto, presente e que conforme narra o versículo, “que caminhem
à nossa frente”. O povo solicita a confecção de deuses para Aarão e, para não
entrar em conflito, atende o pedido. O pecado do povo está na impaciência de
não esperar o retorno de Moisés. O bezerro de ouro foi celebrado com altar,
festa, comida e bebida, como se fosse o Senhor Javé. A narrativa do texto

12
O termo hebraico Elohim é utilizado no plural, traduzido por deuses. Embora muitas vezes
é, também, empregado no singular, como deus. No caso do versículo em discussão, o termo é
traduzido no plural embora seja apenas um bezerro, é possível interpretar como uma repre-
sentação de um grupo de deuses (TOGNERI, 2015, p. 368).

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bíblico Ex 32,22-24 deixa visível os motivos e a intenção de atribuir a culpa


ao povo, a confecção do bezerro de ouro, conforme explicação para Moisés:

Não fique irritado meu Senhor. Você sabe que este povo é inclinado
para o mal. Eles me pediram: “Faça para nós deuses que caminhem à
nossa frente, porque não sabemos o que é feito desse Moisés, o homem
que nos tirou da terra do Egito”. Eu disse então: “Quem tiver ouro, que o
retire”. Eles me trouxeram, eu levei ao fogo, e saiu esse bezerro.
Quando Moisés subiu à montanha o povo ficou sem liderança e, até
o momento, Moisés era o líder que tinha a ligação com o Senhor Javé, di-
ferente de Aarão que não desfrutava dessa intimidade. Segundo Togneri
(2015, p. 369), “o texto culpa totalmente o povo pela quebra e ruptura da
Aliança com o Senhor. Esse relato nos lembra da frase e da ação de Jesus,
muito tempo depois, ao olhar a multidão e se compadecer deles (do povo)
(Mc 6,34).” O que está por trás da narrativa é a incompreensão do povo no
Deus libertador. Precisa de um tempo maior para entender os desígnios
de Javé. Isso se percebe ao substitui-lo por uma imagem de metal fundido,
um bezerro13 de ouro, moldado por Aarão, do ouro que o povo deu, reti-
rado dos brincos que tinham nas orelhas. Depois de criado, o povo disse:
“Israel, este são os deuses, que tiraram você da terra do Egito.” (Ex 32,4)14

13
A tradução do termo hebraico ‘egel’ por bezerro, segundo Togneri (2015, p. 370), não é fiel em
virtude do termo se referir a um jovem touro com aproximadamente três anos de idade. Deve-se
considerar o fato de o povo estar no deserto e é muito improvável que tenham animais de grande
porte, mesmo assim tem como imagem protetora um bezerro, “ou um pequeno touro”. Togneri
indica a possibilidade de “ser fruto do culto a Apis ou à deusa Hator desenvolvido no Egito?”
Existe a possibilidade de Aarão ser natural do Egito e, talvez, esses deuses, o tenham inspirado
na fabricação do bezerro de ouro. Togneri, também menciona a interpretação de Cole (1981, p.
207) sobre essa questão: “a santidade do touro como símbolo de força e capacidade reprodutiva
corre desde o culto a Baal em Canaã até o hinduísmo popular do sul da Índia de hoje, onde quer
que a religião seja vista como forma do culto da fertilidade comum aos criadores de animais.
14
Outra interpretação sobre a atitude de Aarão que merece destaque é a desenvolvida por
Adiñach (2010, p. 362): “a atitude de Aarão pode ser vista como tentativa de criar uma religião
a partir dos desejos das pessoas e não a partir da palavra revelada. Uma religião que não se
fundamenta na pergunta ‘O que Deus espera de nós?’ mas na interrogação ‘Qual Deus as
pessoas querem ter?’”.

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Outro fato para entender o culto politeísta do povo de Israel está na


narrativa de Ex 12,38: “junto com os filhos de Israel, subiu também com eles
grande mistura de gente”. Durante o exílio uniram-se ao povo de Israel muitas
outras pessoas que traziam consigo a prática da cultura religiosa a diversas di-
vindades representadas por imagens e o bezerro de ouro pode ser um exemplo
disso. Também é preciso considerar o período em que a narrativa foi escrita,
bem posterior aos acontecimentos e, por isso, carregada com o sentimento
de pecado, quando ainda o povo não tinha consciência de quem era o Javé.
A segunda narrativa bíblica é sobre os dois bezerros de Jeroboão (1Rs
12,26-33). O texto está relacionado à época da divisão da monarquia em
reino do Sul – Judá, sob o reinado de Roboão, e reino do Norte – Israel,
comandado por Jeroboão em torno de 930 a. C. O povo do Norte, sob a
influência de Jeroboão, deve ter adquirido o apoio dos anciões das 10 tribos
para romper com a tradição do Sul de rejeitar o Templo de Jerusalém e,
também, suspender as peregrinações para as grandes festas na capital
dourada. Havia sido determinado pelas tábuas da Lei na Arca da Aliança
que o povo se apresentasse em sua honra, por ocasião a três festejos em
Jerusalém: na Festa da Páscoa (celebração da saída do Egito e dos Pães
sem Fermento), na Festa de Pentecostes (celebração da colheita) e na
Festa das Tendas (celebração do final do período agrícola).
Com o propósito de evitar que o povo do Norte se dirigisse ao Templo
de Jerusalém (CHAMPLIN, 2000, p. 1411) que era grandioso, preocupado
por Judá ser um lugar com uma religiosidade especial e impedir que o povo
passasse a seguir o Rei Roboão, Jeroboão mandou construir dois bezerros de
ouro e os colocou em dois santuários de forma estratégica. A distância que
os dividia era em torno de 160 quilômetros. Em Dã, no Norte, sopé do Monte
Heron, favorecia o deslocamento das tribos do Norte de Israel e, em Betel,
no Sul, apenas 20 quilômetros de Jerusalém, entre os territórios de Efraim
e Benjamim (TOGNERI, 2015, p. 372). Os bezerros foram denominados por
Jeroboão como: “os deuses que fizeram vocês sair da terra do Egito” (1Rs 12,28).

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Parece claro que a intenção de Jeroboão era afastar o seu povo da influência
do governo do Sul a fim de proteger o seu reinado, pois tinha receio de perder
o apoio da população e até mesmo, a sua vida, conforme a narrativa bíblica:
Jeroboão disse em seu coração: “Agora mesmo o reino poderá voltar
para a casa de Davi. Se este povo subir e oferecer sacrifícios na casa de
Javé em Jerusalém, seu coração vai se virar para seu senhor Roboão, rei
de Judá. Eles acabarão me matando e passando para o lado de Roboão,
rei de Judá (1Rs 12,26-27).

Nesse caso é preciso considerar, segundo Togneri (2015, p. 371), o


fato do reino do Norte desejar sua própria religiosidade a fim de manter
o povo sob o jugo de Jeroboão. As estratégias utilizadas foram construir
os bezerros de ouro, reconstruir os templos de Betel e Dã, comemorar a
Festa das Tendas, com data diferente da de Judá, e criar novo sacerdócio.
Tudo com a intenção de manter independência da tradição religiosa do
reino do Sul. Pela tradição, Jeroboão não podia ter iniciado o culto em Dã
e Betel, fazendo com que o povo fosse em procissão cultuar os bezerros,
recaindo em uma situação de pecado. Não era lícito celebrar a Páscoa e
outras festas fora do domínio de Jerusalém, como também, não podia
alterar o calendário das festas. A quebra dessa tradição, para Crocetti
(1994, p. 117), tornava o culto em Israel idolátrico.
Diante do exposto, é possível fazer algumas considerações sobre as
duas narrativas bíblicas, permanecendo fiel ao propósito de identificar a
idolatria como um processo de dominação e exploração do povo, por reis
dominadores, que se utilizam da criação de uma divindade para legitimar
a opressão e interferir na comunidade humana. A primeira é que o poder
atribuído a Deus acabou por legitimar o poder absoluto do autoritarismo,
da ditadura e dos impérios na terra. A outra, é que o símbolo da grandeza
de Deus serviu para justificar o poder e o desejo ilimitado dos homens.
O relevante na primeira narrativa é que o bezerro de Aarão foi solicitado
pelo povo que permanecia impaciente com a ausência de Moisés, com senti-
mento de abandono e desejoso de um deus que caminhasse à sua frente. A

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construção do bezerro de Aarão foi fruto da participação do povo, feito com


os brincos de ouro que traziam nas orelhas. Enquanto, na segunda narrativa,
os dois bezerros de Jeroboão (ok)foram feitos por iniciativa própria, criados
pelo medo da morte e da perda do poder, ou seja, impostos por Jeroboão,
mesmo com a conivência das dez tribos do Norte. As imagens dos bezerros
tinham a intenção de representar os deuses que os tiraram do Egito, por
conseguinte, não reconheciam Javé como Deus libertador. O povo não teve a
participação direta na construção dos bezerros, nem forai consultado, embora
o ouro utilizado possa ter sido resultado da exploração e do jugo desse povo.
Na narrativa de “Ex 32,1-10 o povo é ativo e em 1 Rs 12,26-33 o povo é
passivo” (TOGNERI, 2015, p. 373). Na primeira narrativa o povo se sente
só, abandonado, solicita um deus que caminhe à sua frente. Na segunda, é
o rei Jeroboão que teme ficar isolado, perder o apoio do povo e sua própria
vida. Para se proteger, oferece uma representação de Deus, com imagens
representando divindades. É possível perceber na narrativa que o povo não
se revolta com a mudança na tradição religiosa imposta por Jeroboão, pois
foi ele quem decidiu onde seriam colocados os bezerros. O povo se deixa
dominar e passa a frequentar em peregrinação os santuários de Betel e Dã,
como também aceita a alteração das datas festivas. Na verdade, tornaram-se
uma nação tão morta espiritualmente quanto os ídolos que passaram a adorar.
No entanto, a construção dos bezerros e a entrega ao povo teve o
mesmo sentido para o povo e para Jeroboão: “Israel, estes são os seus deu-
ses que tiraram você da terra do Egito” (Ex 32,4: 1Rs 12,28). Isso significa
que o povo ainda não reconhecia Javé como o Deus libertador, necessitava
de imagens, deuses visíveis. A dificuldade estava em acreditar no Senhor
Javé, Deus libertador invisível, que se revela através da palavra e de ações
e que não pode ser comparado e representado por nenhuma imagem.

3 A questão idolátrica no Cristianismo

Ao ler a Bíblia facilmente surge o seguinte questionamento: qual Deus


é o verdadeiro? Existe o reconhecimento que Deus é profundamente “hu-

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mano”, vivo e ao revelar seu nome em Ex 3,14 deixa claro: “Eu sou aquele
que é”.15 Deus se mostra como absoluto16.
A Bíblia também relata que “somos a imagem e semelhança de Deus”
e que Deus é bondade, amor, justiça. Portanto, permanecendo fiel ao
relato, o homem deveria praticar a bondade, o amor a justiça. No entanto,
o que se percebe é que não é bem assim. “Fizemos Deus à nossa imagem
e semelhança. O ser humano cria a sua própria divindade e a adora como
sua própria imagem” (CLÓVIS; BERNARDINO, 2015, p. 396). Segundo o
exposto, o Deus que se vê, reflete aquilo que se é. Assim, a sociedade
contemporânea violenta, possivelmente terá deuses violentos.
Desde os tempos antigos quando o “Deus de Abraão, o Deus de Isaac,
o Deus de Jacó” foi substituído por outros deuses, as religiões procuram

15
O texto de Ex 3,14 apresenta diferentes traduções, interpretações e inúmeros debates. Por
exemplo, a Bíblia do Peregrino, edições Paulinas, traduz Ex 3,14 como “Sou o que sou”. A opção
foi seguir a tradução da Bíblia de Jerusalém: “Eu sou aquele que é”. É enriquecedor o comentário
que a Bíblia de Jerusalém apresenta sobre Ex 3,14. “Essa narrativa, é um dos pontos altos do
AT, coloca dois problemas: o primeiro filosófico, diz respeito à etimologia do nome ‘Iahweh’;
o segundo exegético e teológico, o sentido geral da narrativa e o alcance da revelação que
transmite. 1° Procura-se explicar a nome de Iahweh através de outras línguas que não fossem
o hebraico, ou então através de diversas raízes hebraicas. É preciso, provavelmente, ver aí o
verbo ‘ser’ numa forma arcaica. Alguns reconhecem aqui uma forma causativa deste verbo:
‘Ele faz ser’, ‘Ele traz a existência’. Muito mais provavelmente trata-se de uma forma do tema
simples, e o termo significa: ‘Ele é’. 2° Quanto à interpretação, o termo é explicado no v. 14,
que é um antigo acréscimo da mesma tradição. Discute-se sobre o significado desta explicação:
‘ehyeh’ ‘asher’ ehyeh’. Deus, falando de si mesmo, só pode empregar a primeira pessoa: ‘Eu sou’.
O hebraico pode ser traduzido literalmente: ‘Eu sou o que sou’. Isso significaria que Deus não
quer revelar o seu nome. Mais precisamente, Deus dá aqui o seu nome que, segundo a concep-
ção semita, deve defini-lo de certa maneira. Contudo, o hebraico pode ser também traduzido
literalmente: ‘Eu sou aquele que sou’; e segundo as regras de sintaxe hebraica, isso corresponde
a ‘Eu sou aquele que é’, ‘Eu sou o existente’. Foi assim que compreenderam os tradutores da
Setenta: Ego, eimi ho ôn. Deus é o único verdadeiramente existente. Isto significa que ele é
transcendente e permanece um mistério para o homem. E, além disso, ele age na história do
seu povo e na história humana, a qual ele dirige para um fim. Esta passagem contém em po-
tência os desenvolvimentos que a sequência da Revelação lhe dará (Cf. Ap 1,8: ‘Aquele-que-é,
Aquele-que-era e Aquele-que-vem, o Todo Poderoso’”). (Cf. BÍBLIA DE JERUSALÉM, 1985).
16
Sobre esse sentido absoluto, é oportuno o comentário de Gutiérrez (1990, p. 36-37): “ser
princípio absoluto não significa desinteressar-se pela história. Pelo contrário, ao revelar seu
nome, que não é puro conceito, Javé manifesta a sua decisão de participar dela. O ser de Deus
está ligado no decurso histórico. O eterno se faz presente no temporal, o absoluto na história,
sem ser, porém, apenas uma presença: é também comunhão, é dom [...] ‘Eu sou’ (Javé) princípio
absoluto e ativo, origem de tudo, é igualmente o Deus do passado, o Deus dos patriarcas, dos
antepassados, daqueles aos quais Moisés agora é enviado”.

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apresentar o Deus verdadeiro e oferecer uma proposta segura de salvação.


Muitas se apresentam como a verdadeira, a única, acusando as outras de
falsas, ao mesmo tempo que templos são erguidos, novas propostas reli-
giosas são ofertadas. No entanto, apesar da bonita retórica, desconhecem
o Deus do qual o homem é “imagem e semelhança”, “mesmo falando deste
Deus, vão criando para o povo ídolos que não salvam e não são capazes
de ouvir o clamor dos pobres” (CLÓVIS; BERNARDINO, 2015, p. 396).
Com um olhar atento sobre o Novo Testamento é possível perceber
que ídolo para Jesus é uma realidade histórica concreta e diretamente
vinculada ao dinheiro, como, por exemplo, no Evangelho de Mateus:
“Ninguém pode servir a dois senhores. Com efeito ou odiará um e amará
o outro, ou se apegará ao primeiro e desprezará o segundo. Não podeis
servir a Deus e ao Dinheiro” (Mt 6,24). Também no Evangelho de Lucas
a narrativa é praticamente a mesma: “Ninguém pode servir a dois se-
nhores: com efeito, ou odiará um e amará o outro. Ou se apegará a um
e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e o Dinheiro” (Lc 16,13).
Portanto, a questão dos ídolos vai além da veneração das imagens criadas.
O tema refere-se aos amantes do dinheiro, que acumulam e guardam
seu tesouro como se fosse algo divino, acreditando ser fonte de bênção
e felicidade. É justamente o que o Apóstolo Paulo denuncia: o dinheiro
é um ídolo. Assim, os ídolos não se limitam apenas ao culto das imagens,
mas também se referem a atitudes do coração.
Transformar o dinheiro em poder soberano é o mesmo que negar o
Deus da vida, da vida dos pobres, dos que não têm dinheiro. À sombra da
idolatria se esconde e legitima a opressão das pessoas, especialmente das
mais pobres; oculta-se a justiça trazendo consequências imediatas e reais
sobre essas pessoas, como por exemplo, a injustiça, a ganância, a maldade
e o assassinato. O tema transparece na carta aos Romanos: “Manifesta-se,
com efeito, a ira de Deus, do alto do céu, contra toda impiedade e injustiça
dos homens que mantêm a verdade prisioneira da injustiça...” (Rm 1,18-32).
Os Evangelhos apresentam Deus com várias denominações, como
Emanuel, o Deus conosco (Mt, 1,23), o Deus justo (Rm 9,14), um Deus fiel

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(1Cor 1,9). No entanto, a síntese de tudo encontra amparo na expressão:


“Deus é amor” (1Jo 4,18). O povo ao experimentar o amor de Deus, é
convidado a abandonar os ídolos e a servir o Deus vivo e verdadeiro (1Ts
1,9). Deus vivo no sentido que a revelação tem a ver com a vida, Ele cria e
defende a vida. Idolatria é a manipulação de Deus, é criar uma realidade
na qual se coloca a confiança em alguém ou alguma coisa que não é Deus.
Assim como na história de Israel o problema da idolatria foi uma
constante, o mesmo acontece no cristianismo. Facilmente o Deus da vida
apresentado por Jesus é trocado por um simulacro divino, produto huma-
no que provoca opressão e sofrimento nas pessoas. Clóvis e Bernardino
(2015, p. 401) destacam que “nenhum sistema religioso é fiel a Deus se
permite a exploração ou a negação da dignidade do ser humano.” Aceitar
a injustiça social, a fome, a violência, ações que desrespeitam a vida e o
meio ambiente constitui uma prova que falsos deuses são adorados, en-
cobertos pelo véu do egoísmo, do individualismo do poder econômico. O
ídolo provoca uma fascinação que em certas ocasiões passa a impressão
que suas “propostas” são mais palatáveis que as do Deus bíblico. No en-
tendimento de Keller (2016, p. 15) a idolatria manifesta-se quando “um
ídolo tem uma posição de controle tão grande em seu coração que você
é capaz de gastar com ele a maior parte de sua paixão e energia, seus
recursos financeiros e emocionais, sem pensar duas vezes”.
O cenário religioso do Império Romano apresentava um conjunto de
deuses espalhados por todo Império no qual Estado e religião se confundiam.
As autoridades públicas eram responsáveis pela organização da religião oficial
e, a fim de manter a legitimidade nas relações sociais e políticas, os impe-
radores se autodivinizavam proclamando-se deuses e passando a exigir de
seus súditos o devido culto. Essa estrutura da sociedade Romana provocou
enorme dificuldade no início do cristianismo em função de não se admitir
questionamentos sobre a religião e ritos em prol dos imperadores. O fato de
Jesus anunciar o Reino de Deus e, no seu “projeto político”, assumir a defesa
dos pobres, dos doentes, dos marginalizados, questionando o desrespeito
à vida, provocou um enfrentamento com o Império Romano. Contestar a

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religião do Império consistia em colocar-se contra o Estado e, em virtude


disso, no princípio houve um confronto ideológico, posteriormente, um
embate jurídico, até culminar na morte de Jesus e na perseguição dos cristãos.
Atualmente é o sistema capitalista neoliberal que assume o papel do
Império Romano ao transferir o plano do Deus da vida para o mercado
que privilegia alguns indivíduos através do sacrifício da maioria. A idola-
tria tem a função simbólica de legitimar a opressão do poder econômico
vigente e político. Isso é facilmente percebido quando o ídolo passa a
ser mais importante que o homem, tornando-o explorado e dominado.

Considerações finais

O problema da idolatria na revelação bíblica, cuja interpretação não pode


estar ancorada no fundamentalismo e na intolerância, está em camuflar a
nobreza entre Deus, o Criador, e a criatura. Todo poder atribuído a Deus
acabou por legitimar o poder absoluto do autoritarismo, da ditadura e dos
impérios na terra. Serviu para justificar o poder e o desejo ilimitado dos homens.
Um processo que culminou na dominação e na exploração do povo por reis
dominadores que se utilizaram da criação de uma divindade para legitimar
a opressão. Assim, foi possível depreender que a idolatria pode ser qualquer
realidade divinizada pelo homem; ela se constitui ao substituir o divino por algo
que se possa manipular e usar. À sombra da idolatria se esconde e se legitima
a opressão, especialmente dos mais pobres, e se oculta a justiça trazendo
consequências imediatas e reais como a ganância, a maldade e a exclusão.
Foi possível corroborar, também, que a idolatria é uma divindade que
oprime e exige a entrega e o sacrifício humano; outro ponto demonstrado
foi que os ídolos são deuses que legitimam a opressão, apoiam poderes
dominadores, interferem na comunidade humana e são incapazes de ouvir
o clamor dos pobres. O sacrifício exigido não é mais em nome de Deus,
mas de uma instituição que foi transcendentalizada. É o caso do mercado
que se utilizou da religião como instrumento para justificar e legitimar o
projeto econômico de expansão, dominação e opressão.

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