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CLÍNICAS GESTÁLTICAS

TTP FENOMENOLÓGICA

Anna Karynne Melo


REVISITANDO CONCEITOS CENTRAIS
• CONTATO: forma como o indivíduo se relaciona com o meio e consigo mesmo. formação
de figura contra um fundo (contexto). o contato e a fuga são opostos dialéticos e são
meios de lidar, na fronteira de contato, com objetos do campo organismo-meio. Todo
contato, seja hostil ou amigável, ampliará nossas esferas, integrará nossa personalidade
e, por assimilação, contribuirá para as nossas capacidades, desde que não esteja repleto
de perigo insuportável e haja uma possibilidade de dominá-lo.
• FRONTEIRA DE CONTATO: é na fronteira que o indivíduo contata o meio por meio da
manutenção de sua diferença – é na fronteira que os perigos são rejeitados e superados
e o assimilável é selecionado
• AWARENESS: processo de estar em contato vigilante com o evento de maior
importância no campo organismo-meio. formação fluente e livre de gestalten, por meio
da qual aquilo que é de maior interesse vem para o primeiro plano e permite ser
trabalhado e assimilado de modo a poder se dissolver no fundo e dando espaço para o
surgimento de uma nova gestalt relevante.
• AJUSTAMENTO CRIATIVO: processo através do qual o sujeito
se relaciona de forma criativa no campo organismo-meio na
busca da satisfação das suas necessidade. Busca de uma
reorganização.
CICLO DE CONTATO

PRÉ CONTATO

RETRAIMENTO CONTATO

CONTATO
PÓS CONTATO
FINAL
Para o clínico, o que importa é o que emerge no
campo clínico como figura, o inédito e suas
vulnerabilidades;

Vulnerabilidades de afeto, de desejo (em relação


ao outro) e das representações (social);

Essas vulnerabilidades dizem respeito às funções


do Self: ID, Ego, Personalidade
Função ID

Função
EGO

Função
PERSONALIDADE
Vulnerabilidade da função ID: ajustamento criativo
psicótico;

Vulnerabilidade da função Ego: ajustamento


criativo neurótico (do ato);

Vulnerabilidade da função personalidade


(dimensão antropológica): ajustamento criativo
sofrimento
• TIPOS DE AJUSTAMENTO CRIATIVO: 1. Saudável/Funcional: bom
contato, contato com qualidade, formação de figura e fundo nítida,
discriminação da necessidade e modo de satisfação. ; 2. Neurótico:
atravessado pela ansiedade decorrente de um processo de evitações
sistemáticas; 3. Psicótico: atravessado pela angústia de não encontrar
em si um fundo com experiências que se apresentem diante das
solicitações do outro/mundo.

• Ajustamento Criativo disfuncional: Caracterizada pela ausência de um


bom contato. Evitação de contato. A evitação é disfuncional, a não ser
que o sujeito esteja diante de um perigo real. Interrupção do processo de
awareness. Formas/hábitos de interrupção da experiência de contato
CLÍNICAS GESTÁLTICAS
• A clínica do ajustamento psicótico é eminentemente ética. A função ID
vincula-se à dimensão ética da experiência do contato (acolhimento à
presença ou ausência de outrem). Ajustamento de busca. Formações
psicóticas como resposta criativa;

• A clínica do ajustamento do sofrimento vincula-se à dimensão


antropológica. Ajustamento de inclusão psicossocial. Pedido de socorro
como resposta criativa;

• A clínica do ajustamento neurótico tem uma gênese política por se tratar


de uma maneira de operar ante a vulnerabilidade da função de ato.
Manipulação neurótica, Fuga ao conflito e Aniquilação do meio social são
respostas criativas.
AJUSTAMENTO CRIATIVO PSICÓTICO
• Comprometimento da função ID que se mostra incapaz de disponibilizar,
de maneira organizada, um fundo de excitamentos ou intenções;

• Ajustamento de busca: simulação daquilo que não encontram ou busca


suprir aquilo que falta ou em excesso na própria relação social;

• Há sempre uma demanda insistente ante a qual o sujeito não consegue


ou não sabe como responder. Demandas estas presentes no campo
como as formas de comunicação sobre o que nos constitui (trabalho,
valores, sentimentos, pensamentos, história....),e nossos desejos e
projetos não representados de forma tão objetiva e repetições;

• Está relacionado à impossibilidade de o sujeito fazer contato com as


perdas (excitamentos) e com as faltas (desejos) que se sobrepõem aos
valores antropológicos compartilhados.
AJUSTAMENTO CRIATIVO PSICÓTICO
• Discurso produzido na relação de campo em que figura a
vulnerabilidade específica, relativa à incapacidade do sujeito
para simbolizar o objeto no laço social

• A demanda social, que exige história e biografia, torna-se


ameaçadora e cheia de muitos mistérios

• Os excitamentos podem estar ausentes ou aparecem como


excessos e ostensivos. (ciclo de contato – formação de figura e
fundo)
• Ajustamento psicótico é a forma como sujeito lida com sua
impossibilidade de viver a ambiguidade entre ele e o mundo.
Ou a impossibilidade de fazer um bom contato;

• Para o sujeito, a demanda social requer uma resposta


defensiva, na forma de suplência (substituto, extra) produzida a
partir da fixação da realidade, mas sem conseguir alcançar uma
simbolização;

• São ajustamentos criativos protagonizados por sujeitos com um


fundo habitado por um passado que se tornou estranho e
vulnerável (ou um fundo de excitamentos que não se apresenta),
ou o futuro parece impossível (uma vez que há excitamento
demais para articular como horizonte de desejo).
• Os mecanismos de defesa se configuram como defesas contra a
vulnerabilidade denunciada pelas demandas no campo relacional

• Os excitamentos desencadeiam uma vulnerabilidade: a angústia. E


em relação à esta, os sujeitos precisam fazer algo: buscar na
realidade partes ou totalidades que substituam os excitamentos.
Assim, procuram fixar-se à realidade como se ela pudesse fazer, às
vezes, do excitamento.

• Esse ajustamento criativo é uma tentativa de participar do jogo social;

• Ajustamento criativo possível para o sujeito diante da demanda


insistente a que foi submetido;
FUNDO
FIGURA
• O sujeito recria/repete estas criações da realidade de modo
ficcional, sem conseguir ultrapassá-la e com isso, frustrando os
demandantes

• O fundo como morada é algo estranho, perdido, com um tempo


indefinido (não histórico e não biográfico);

• O fundo não consegue dar suporte (ausência ou excesso) no


fluxo de contato para que o sujeito responda ao laço social;

• Com isso, o sujeito cria/inventa possíveis respostas para dar


conta da relação campo organismo-ambiente
• O fundo não disponibiliza um dado para a formação da figura-fundo
ou disponibiliza em excesso que o processo de ajustamento fica
desarticulado.

• Com isso, o sujeito fica buscando o controle do fundo ou o seu


preenchimento

• Duas situações:
• 1. o sujeito não pode contar com as formas habituais retidas nas
vivências de contatos anteriores;

• 2. o sujeito recebe em abundância de modo que não consegue


identificar o que é dominante e qual o objeto que está requisitando.
• A questão é: essa forma de participação (formações psicóticas) é
aceita ou rejeitada (exclusão social) na relação social?;

• Como as demandas por excitamento não param e não há uma


aceitação desse modo de ajustamento, pode, muitas vezes,
levar o sujeito ao surto;

• Surto: exagero do ajustamento numa tentativa desesperada


para ser incluído. O que significa que o surto é uma modalidade
de ajustamento de inclusão. Perda do controle da situação;

• A alucinação e o delírio são tentativas (fixas) de comunicação e


busca do controle da situação
CLÍNICA GT
CLÍNICA GESTÁLTICA
• Integração da personalidade/todo
• Possibilitar o desenvolvimento das potencialidades intrínsecas de
cada um a partir de seu próprio crescimento
• Compreender a experiência e analisar o grau de contato
• O psicoterapeuta é um facilitador de um processo de compreensão
do sujeito, das suas formas de lidar com suas situações, o seu
modo de se interromper e impedir seus contatos e sua criatividade.
(PHG, 1997)
• Compreensão do sujeito em sua forma de lidar
com as situações, seu modo de interromper e impedir
seus contatos e, sua capacidade de criação
• A clínica da GT busca arregimentar a força do ajustamento criativo

• Não se busca a solução do problema

• A clínica tem um caráter ético: possibilita que o sujeito se arrisque,


num ambiente e relação segura, perante suas inibições e possa
encontrar uma relação de acolhimento e variabilidade de suas
experiências.

• Criação de novas alternativas para lidar com o sofrimento. Uma


ampliação do que pode promover o ajustamento criativo saudável
• Ação de acolhida a um sujeito que se apresenta em situação de
vulnerabilidade. Acolhida da morada
• É preciso dar espaço para a expressão da diferença e da
singularidade da humanidade do sujeito, o que significa dar guarida
à suas imagens, aos seus valores e ao possíveis sinais de
interlocução, de modo a busca a integração

• Acolhimento das diversas formações psicóticas (delírios,


alucinações) sem interdição na busca de alcançar a mínima
estabilidade
• Não fazer exigências simbólicas e sim, ser facilitador da
possibilidade de simbolização.
EXEMPLO

• Exemplo: numa sessão, o paciente começa a falar das muitas pessoas


que dizem o que ele deve fazer, “muito barulho, falam muito”, não suporta
essas pessoas, por isso, precisava jogar coisas nelas para que pudessem
deixa-lo em paz. Perguntei se as pessoas estavam ali, pois não via o que
ele via, disse que sim e o paciente se levanta e começa a jogar coisas –
disse que estava jogando pedras. Me levantei e perguntei se poderia
ajudá-lo a jogar as pedras junto com ele. Disse que sim. Falei que como
não os via, ele precisava me dizer onde estavam e assim ele fez, ficamos
alguns minutos jogando as pedras, ele me dizia onde estavam e eu
jogava na mesma direção que ele. Até um momento que eu disse que
estava bem cansada de fazer isso e parecia que eles não iam embora.
Daí ele parou e me olhou, dizendo: também me sinto cansado. Sentou e
conversamos sobre isso.
• Nesse pequeno trecho de sessão deve-se a liberdade de
expressão, acolhimento das formações psicóticas e a
facilitação da simbolização.
• Não como uma exigência do psicoterapeuta, mas a partir da
fala de cansada e da sensação que não iam embora, ele pode
integrar as partes.
• O importante é buscar a reconstrução do ajustamento criativo
que, naquele momento, está desarticulado. É buscar pequenos
deslocamentos na direção da estabilização das formações
psicóticas enquanto totalidades que possam ter uma aceitação
social.
• Na clínica dos ajustamentos psicóticos é importante trabalhar
com a família e quem mais fizer parte do mundo social do
sujeito
• A escuta é de acolhimento e não de interpretação, portanto, é
silenciosa
• Outro exemplo: num discurso delirante, o clínico busca
facilitar com que o discurso torne-se um relato de algo
passado, como se ele fosse um contador de história. Com
isso, ele pode perceber os desencaixes da história
• Importante trabalhar com o sujeito no sentido que ele possa
identificar suas demandas
REFERÊNCIAS
• Belmino, M.C. ( 2015). Gestalt-terapia e atenção psicossocial.
Fortaleza:Premius.
• . (2017). A ontologia gestáltica de Paul Goodman e
seus desdobramentos clínicos, políticos e educacionais. Rio de
Janeiro: Via Verita.
• Granzotto, M.J.M. & Granzotto, R.L. (2012). Clínicas gestálticas:
sentido ético, político e antropológico da teoria do self. São Paulo:
Summus.
• . (2012). Psicose e sofrimento. São Paulo: Summus.

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