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AJUSTAMENTOS NEURÓTICOS

Rosana Zanella

Projeção

 Projetar é o ato pelo qual “colocamos” no entorno algo que


originalmente nos pertence.
 Em seu aspecto relacional, como função de contato com o mundo, é o
recurso que nos permite enriquecer a vida com nossa obra criativa
pessoal. A realização de uma tarefa artística, a elaboração de uma
teoria, o planejamento de uma viagem de férias, ou a construção da
casa de nossos sonhos não seriam possíveis sem a projeção.

Projeção

 Em seu aspecto limitador, projetar é o ato pelo qual atribuímos uma


parte de nosso ser ao entorno. A intensidade e rigidez de tal manobra
dependem de vários fatores complexos entre si e do papel central que
este mecanismo em particular ocupa, na constelação de mecanismos
associados para a manutenção da equação pessoal (gestalt fixa).
 É necessário, na descrição do mecanismo, estabelecer uma
diferenciação operativa entre a projeção como mecanismo universal, o
projetado como conteúdo da mesma e a posição desse mecanismo
como prevalente (primário) ou secundário na estrutura de
personalidade.

Projeção

 A projeção se refere ao mecanismo comum a toda a espécie


humana; o projetado nos fala de uma pessoa em particular, e a
posição do uso do mecanismo na estrutura ou gestalt fixa nos fala,
neste caso, de um estilo projetivo.

Introjeção

 Introjetar é o ato pelo qual algo, que originalmente pertencia ao meio,


e o introduzimos em nosso ser.
 Em seu aspecto relacional, facilitador da vida, é o recurso que
utilizamos para poder nos alimentar no plano físico, emocional,
psicológico e espiritual. Tanto quando comemos, assim como quando
lemos um livro, devemos, antes de qualquer coisa, introduzir o
material em nosso organismo ou em nossa mente, para depois poder
assimilá-lo e crescer. O mesmo acontece com o afeto e o carinho
necessários para viver. Muitas vezes encontramos, no consultório,
pessoas que bloquearam a capacidade de “deixar” entrar o amor que
necessitam.

Introjeção

 Introjetar, em seu aspecto limitador, é também introduzir em nosso


ser algo que originalmente pertencia ao meio, porém sem assimilá-lo
ou digeri-lo. Como decorrência, o material permanece “autônomo” em
nosso interior, ocupando um espaço em nossa identidade, que diminui
nossa consciência e nossa liberdade.
 Os mandatos familiares e sociais e os preconceitos são bons exemplos
das conseqüências da introjeção. Muitas vezes, tais mandatos entram
em conflito como nossos impulsos e necessidades, gerando um
“conflito de interesses” intrapsíquico.
 Ou seja, a pessoa discute com suas vozes internas sem saber a quem
obedecer. As descrições psicanalíticas do chamado “super ego”
persecutório são um bom exemplo do sofrimento que podem gerar
estas estruturas – ou complexos autônomos, como Jung os chamava.

Introjeção e Projeção

 Os dois mecanismos (projeção e introjeção) estão, na realidade,


associados, pois muitas vezes o conteúdo de uma introjeção é
projetado, como no caso dos preconceitos raciais, ou o das fobias,
como quando uma criança resolve o conflito dos mandatos familiares
– de ter que ser “bonzinho”, por exemplo – que se confrontam com
sua agressividade, causada pelos ciúmes contra um irmãozinho,
projetando sua raiva sobre um cachorro ou sobre um brinquedo.

 Às vezes, presenciamos um verdadeiro “esvaziamento” da


personalidade do paciente, por causa da somatória de introjeções e
projeções, resultantes do conflito gerado pelos “introjetos” com partes
do ser. Por um lado, os introjetos ocupam espaço e, por outro lado, as
projeções “esvaziam” a pessoa.

Introjeção e Projeção

 Tal como fizemos no caso da Projeção, também aqui é necessário


estabelecer uma diferença entre o mecanismo universal da Introjeção,
o introjetado ou introjeto e o lugar que o mecanismo ocupa como
prevalente ou secundário na manutenção da estrutura de
personalidade, sendo este último o que nos permitirá identificar um
estilo introjetivo.

Retroflexão

 Retroflexão é o ato pelo qual retornamos a energia de uma ação, que


deveria direcionar-se no meio e para o meio, para nós mesmos.

 Em seu aspecto relacional, é a capacidade de auto-observação, de


auto-análise que permite converter-nos em pessoas responsáveis e
maduras emocionalmente.

 Também representa a capacidade de sermos conscientes de nós


mesmos, tanto como a possibilidade de postergar nossas
necessidades e desejos em função dos outros, como ocorre na
paternidade e na maternidade. Seria impensável que alguém pudesse
ser uma boa mãe, um bom pai, ou um bom servidor da comunidade,
sem a capacidade de retroflexão.

Retroflexão

 Retrofletir, no seu aspecto limitador, impede-nos dirigir e expressar


nossos sentimentos para com o mundo, assim como também de pedir
aquilo que necessitamos e desejamos.

 Neste sentido, distinguimos dois tipos de retroflexão: fazer a nós


mesmos o que gostaríamos de fazer aos outros e fazer a nós mesmos
o que gostaríamos que os outros nos fizessem. Como se vê em ambos
os casos, a energia da ação criada pela necessidade ou sentimento
não alcança seu destino verdadeiro, voltando-se sobre sua origem.
 No primeiro caso, um exemplo típico é o da raiva que, ao invés de
dirigir-se até o causador de nosso sentimento, volta-se sobre nós
mesmos em forma de culpa. No segundo caso, é nossa necessidade
de carinho, atenção, ajuda, etc, o que não chega ao destino,
voltando-se sobre nós mesmos em forma de auto-suficiência.

Retroflexão

 No primeiro caso, parece que a matriz emocional é a central, que nos


diz que não é seguro (possibilidade de retaliação, abandono, rejeição,
etc.) expressar nossas emoções fortes com os demais. Parece claro
que a pessoa não se sente muito segura de seu valor em relação às
outras pessoas, que a rodeiam (baixa auto-estima); o que acaba por
situá-la numa constante espiral de auto-postergação.
 No segundo caso, o fator central parece ser a desconfiança de que os
demais poderão prover-nos daquilo que necessitarmos, o que for
resolvido através do desenvolvimento de um argumento de vida auto-
suficiente.

Deflexão

 Defletir é o ato pelo qual impedimos o contato com experiências


(relações, sentimentos, demandas, necessidades, etc.), tanto
provenientes do meio externo como do interno.
 Em seu aspecto relacional, é a capacidade de descartar informação
para poder focalizar em algo que é de nosso interesse ou que, por sua
urgência, demanda nossa atenção.
 Sem a capacidade de defletir, jamais poderíamos prestar atenção a
alguma coisa em particular, pois nos veríamos invadidos pela enorme
quantidade de informação proveniente de nossos sentidos e do meio.
Também não poderíamos defender-nos do material que não estamos
disponíveis para assimilar, num determinado momento.
 As crianças, em suas fases de obstinação e negação, são um bom
exemplo da utilidade da deflexão.

Deflexão

 Defletir, em seu pólo limitador, impede-nos de estar presentes e em


contato com o que está acontecendo no aqui-e-agora. Neste sentido,
converte-se no mecanismo “evitativo” por excelência, levando-nos,
em casos extremos, a uma vida centrífuga e ansiosa.
 Neste caso também, devemos separar o uso da deflexão de sua
posição como mecanismo prevalente de uma estrutura de
personalidade, constituindo-se, então, num estilo defletivo de estar no
mundo.

Confluência

 Confluir é o ato mediante o qual diluímos nossas fronteiras ou limites


para nos fundir com o outro, os outros, ou o meio que nos rodeia.
 Em seu aspecto relacional, é a confluência que nos permite sentir
parte de um grupo, uma família ou da natureza em geral. A
capacidade de amar está indissoluvelmente unida à capacidade de
confluir.
 A palavra confluir pode ser decomposta como co-fluir, co-fundir-se ou
confundir-se e podemos utilizar tais diferenças para catalogar o
aspecto positivo ou o limitador do mecanismo, dependendo das
circunstâncias.
 A capacidade de fluir com uma situação é condição para a entrega. O
poder fundir-nos num abraço ou permitir estar confundidos ao longo
de uma experiência emocional também são exemplos positivos do uso
da confluência.

Confluência

 Confluir, em seu aspecto limitador, é a capacidade de diluir nossa


integridade a serviço de nos perdermos no ambiente, seja uma
situação, um grupo, uma instituição, uma ideologia, uma relação, etc.
 As evitações de conflitos, responsabilidades, intensidade das relações,
desacordos, discriminação ou de manifestações de nossa
individualidade, parecem ser alguns dos temas centrais na aplicação
da confluência como mecanismo .

Egotismo

 O Egotismo representa a capacidade de sustentar as fronteiras de


nossa identidade perante as circunstâncias de nossa vida.
 Em seu aspecto positivo, é a habilidade para a auto-afirmação e a
manutenção de nossa auto-estima.

Egotismo

 Em seu aspecto limitador, converte-se na incapacidade de reconhecer


nossas limitações e erros, deixando-nos na posição de sustentar
temerariamente “nossas razões”, mesmo frente a todas as evidências
em contrário. Representa o individualismo ao extremo e a
impossibilidade de perceber os outros como “outros” e não como
meras extensões de nossas necessidades.
 Paul Goodman (anarquista, filósofo e escritor pioneiro da Terapia
Gestáltica) – que fez originalmente a descrição deste mecanismo –
identificou o egotismo como parte fundamental da estrutura de
personalidade de homens e mulheres, em nossa cultura
“selvagemente” individualista.

Proflexão

 Fluxo de energia dirigido ao meio para que o outro reaja de maneira


desejada e esperada. É fazer aos outros o que gostaríamos que outro
nos fizesse.
 O proflexor costuma assumir uma atitude servil em relação ao outro,
na tentativa de manipulá-lo.
Proflexão

 Proflexor ativo – realiza uma pesquisa das necessidades e desejos de


outra pessoa e procura realizá-los, esperando que ela faça o mesmo.
 Proflexão passiva – é caracterizada por uma submissão frequente, na
tentativa de corresponder às expectativas do outro, para que sua
dedicação seja apreciada e reconhecida.

 Envolve expectativas não explícitas e desejos não expressos na


relação. A pessoa assume o papel de servidor incansável, mas busca
sempre resultados, sentindo-se injustiçado, explorado e ressentido se
o outro não corresponde às suas expectativas.

Proflexão

 Em seu aspecto relacional a proflexão nos ajuda a descobrir os


desejos do outro e nosso desejo de agradá-lo porque o amamos. É o
caso de comprarmos um presente para alguém pensando o quanto
gostaríamos de ganhar tal presente. Se não cobrarmos o outro,é um
aspecto relacional.
 Em seu aspecto limitador, fazendo para o outro o que queremos que
nos façam, sentimo-nos insatisfeitos e injustiçados: eu faço tudo para
você e não recebo nada em troca. Acaba tendo um aspecto
manipulador por não deixar claro o nosso desejo.

Ajustamentos neuróticos?

 Não pode haver empatia sem um certo grau de projeção.

 Não pode haver aprendizagem sem introjeção.

 Não é possível conceber uma relação humana sem um certo grau


de contenção ou postergação de necessidades próprias
(retroflexão).

 Não pode haver uma tomada de decisão sem um certo grau de


deflexão. (selecionar ou descartar figuras.

 Não se pode pensar em pertencer a qualquer comunidade sem um


certo grau de confluência.
 Não pode haver sentido de si mesmo sem uma certa dose de
egotismo.

 Não pode haver sentido de compartilhar sem um certo grau de


proflexão.

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