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GESTALT-TERAPIA:

REVISITANDO AS BASES
CONCEITUAIS
1. Humano como ser-no-mundo
2. Humano como ser que se encontra permanentemente em busca de um estado de
equilíbrio em sua relação com o mundo e com ele mesmo.
1. Contato: Recurso primário para a busca deste estado de equilíbrio.
3. Humano como ser dotado de criatividade, a qual lhe possibilita novos modos de se
expressar e agir, transformando o mundo ao seu redor e, neste movimento,
transformando-se permanentemente.
4. A criatividade como essencial ao processo autorregulativo do organismo
(Ajustamento criativo)

PARA COMEÇO DE
CONVERSA...
Então...
▶ Estar vivo demanda permanentemente lidar com
demandas diversas no âmbito fisiológico,
psicológico e social, as quais exigem escolhas,
deliberações, ações.
▶ É preciso saber discriminar e escolher aquilo que é
prioritário em cada momento (Contato - Hierarquia
de necessidades)

O ADOECIMENTO PSÍQUICO ESTÁ


DIRETAMENTE RELACIONADO AOS
BLOQUEIOS E RUPTURAS QUE
PODEM OCORRER NO CICLO
NATURAL DA AUTORREGULAÇÃO
ORGANÍSMICA
PENSANDO ESTE PRINCÍPIO À LUZ DA PSICOLOGIA DA
GESTALT...

▶ A necessidade dominante do organismo no aqui-agora


torna-se figura em primeiro plano, enquanto as demais
recuam temporariamente ao fundo.
▶ Reversibilidade figura-fundo é fundamental a
Autorregulação Organísmica.
▶ A interrupção deste fluxo figura-fundo reverte-se em
processos não saudáveis ou disfuncionais.
▶ Produção de situações inacabadas. (Gestalten abertas)

▶ A terapia gestáltica busca restabelecer a fluidez do


processo de formação figura/fundo por meio da análise
das estruturas internas da experiência presente (Lima,
2014, p.95)
“Quando o processo homeostático falha em
alguma escala, quando o organismo se mantém
num estado de desequilíbrio por muito tempo e é
incapaz de satisfazer suas necessidades, está
doente.” (Perls, 1981, p20)

VAMOS PENSAR UM POUCO?


“Quando o processo homeostático falha em alguma escala, quando o organismo se
mantém num estado de desequilíbrio por muito tempo e é incapaz de satisfazer suas
necessidades, está doente.” (Perls, 1981, p20)

▶ Nem sempre as trocas com o meio acontecem de maneira satisfatória.


▶ Muitas vezes,ao criar novas formas em busca da satisfação das necessidades
a pessoa desenvolve padrões comportamentais pouco saudáveis, ou seja,
disfuncionais,que geram outros desequilíbrios
sintoma
▶ As disfuncionalidades ocorrem sempre que o indivíduo ou grupo não se
percebe capaz de criar novas formas de satisfação de suas necessidades,
estagna seu fluxo autorregulativo e estanca. (Lima, 2014, p.97)
O SINTOMA E A BUSCA DE AUTORREGULAÇÃO

▶ Quando uma pessoa passa por situações permanentes


ligadas ao impedimento de se autorrealizar, ela pode, na
tentativa de se autorregular, criar reações sintomáticas.
▶ Todo sintoma foi, um dia, uma tentativa de se autorregular
diante de impedimentos do meio.
▶ O sintoma se configura como a melhor maneira ou aquela
possível ao sujeito de se AUTORREGULAR em sua relação
com o meio psicológico naquele momento de sua vida.
▶ O sintoma precisa ser visto como uma TOTALIDADE que
fala de um sujeito que precisa ser visto também em sua
TOTALIDADE.
▶ O sintoma nos sinaliza partes de um todo, mas não é o todo.
Vamos pensar um pouco?
É possível a Autorregulação
Organísmica sem contato?

Por quê?
▶ Não há como acontecer Autorregulação organísmica
(nem ajustamento criativo) sem contato.

▶ O contato propicia a identificação – e compreensão -


do meio e das próprias necessidades,
hierarquizando-as.
Autorregulação organísmica e contato

▶ A dificuldade de discriminar é a dificuldade de distinguir-se do meio (ex: pessoas


que são demasiadamente influenciadas pelo social)
▶ Bom contato é aquele que propicia a realização de necessidades.
▶ Contato e fuga
▶ São opostos dialéticos.
▶ São nossos meios de lidar na fronteira de contato com objetos do campo.
▶ São nossos meios de satisfazer nossas necessidades, de continuar os progressivos
processos da vida.
▶ Não são por si só bom nem mau, são meios que hora podem se configurar de forma
saudável, hora não.

Para Perls o indivíduo que consegue discriminar entre entrar em contato ou fugir do contato de
acordo com o seu momento, buscando dar conta de suas necessidades, ele está saudável.
Contato
(Awareness)

Pré-contat
o Mobilização
(Sensaçã de energia
o)

Ciclo do Contato

Pós-contat Ação
o (Contato
(Retração) ou Fuga)

Contato
Pleno
AJUSTAMENTO CRIATIVO SAUDÁVEL E
NÃO-SAUDÁVEL (DISFUNCIONAL)

▶ O ajustamento criativo saudável atende as nossas necessidades, considerando as


possibilidades do meio e mesmo as demandas deste.
▶ Awareness de nossas necessidades prioritárias. (Lembre-se: nossas necessidades mudam)
▶ Awareness das necessidades do meio.
▶ Awareness das características da relação com o outro/meio.
▶ No ajustamento criativo disfuncional a satisfação de certas necessidades pode ser
sentida como uma ameaça à relação com o outro.
▶ Algum grau de desorganização perceptiva está a interferir na awareness.
▶ Gestalten abertas
▶ A pessoa percebe (sente) que não há outras possibilidades de escolha e age de maneira
estereotipada.
▶ As situações presentes parecem idênticas às do passado (repetições, cristalizações).
O SELF EM GESTALT-TERAPIA
▶ Não pode ser considerado como instância, mas como sistema cuja função é variável,
dependendo da necessidade organísmica e do meio no qual esse organismo busca sua
satisfação.
▶ Age como integrador de experiências e promove o ajustamento criativo necessário a cada
momento.
▶ Visão de self tradicional: atrelada à noção de “eu” ou “eu mesmo” , instância individual
(cada um é jogado de volta sobre si mesmo e sozinho)
▶ Visão de self fenomenológico: profundamente articulado ao contato e às relações, não
existindo fora destes.
▶ Incorpora e é incorporado nessas relações que o indivíduo mantém: consigo próprio, com os
outros e com o mundo natural e cultural (Távora, 2014, p. 67)

Diferencia-se da ideia de “personalidade”, assim


como de “natureza-base” da pessoa, pois funciona
articulado diretamente com os conceitos de campo e
ajustamento criativo
“ O Self é a nossa maneira particular de estarmos envolvidos em qualquer
processo, nosso modo de expressão individual em nosso contato com o
meio (...) ele é o agente de contato com o presente, que permite nosso
ajustamento criador” (Latner)

“O processo ativo e permanente de perceber, selecionar, interpretar, sentir,


valorizar, estimar, prever, agir, integrar e dar sentido a si e ao ambiente,
mapeando a si mesmo enquanto em ação no campo.” (Távora)

Estamos nos remetendo a uma teoria de self


integrada à experiência, ou seja, a uma relação
homem-mundo.

É o contato que produz o “si mesmo” e


não o contrário
O SELF EM GT ASSUME FUNÇÕES OU
ASPECTOS:

▶ FUNÇÃO ID: de todas as funções é a que


parece necessitar menos de “consciência”, uma
vez que está ligada as funções e atos
automáticos, como a satisfação de necessidades
vitais e pulsões internas. (Ginger e Ginger,
1995)

▶ “É o fundo determinado que se dissolve em


suas possibilidades, incluindo as excitações
orgânicas e as situações passadas inacabadas
que se tornam conscientes, o ambiente
percebido de maneira vaga e os sentimentos
insipientes que conectam o organismo e o
ambiente” (Távora, 2014)
▶ FUNÇÃO EGO:
Trata-se de uma função ativa do self em que há
deliberação de atitude por parte do indivíduo,
tanto no sentido de assimilação como no de
rejeição.
▶ A partir da tomada de consciência, o indivíduo
deliberadamente manipula o ambiente,
contatando-o ou fugindo, dependendo do
movimento que precisa fazer, ou melhor, do tipo
de contato que precisa estabelecer para fechar
uma Gestalt. (Ginger e Ginger, 1995)

▶ “É a identificação progressiva com as


possibilidades e a alienação destas, a limitação e a
intensificação do contato em andamento,
incluindo o comportamento motor, a agressão, a
orientação e a manipulação.” (Távora, 2014)
▶ FUNÇÃO PERSONALIDADE: Está
intimamente ligada a autoimagem de cada
um; a grosso modo, é como cada um se
percebe. Esta função tem por tarefa básica
assegurar a integração das experiências
anteriores, construindo a identidade de cada
um ao longo do tempo (Embora sempre
provisória). (Ginger e Ginger, 1995)
▶ “É a figura criada na qual o self se
transforma e assimila ao organismo,
unindo-a com os resultados de um
crescimento anterior.” (Távora, 2014)
SELF SAUDÁVEL X PERTURBAÇÕES DE
FUNCIONAMENTO DO SELF

• Self saudável: há uma variação de intensidade das três funções de self saudável,
conforme os momentos e a necessidade.
• Ajustamento conforme as condições sempre flutuantes do meio físico e social.
(Fluidez)
• As perturbações neste funcionamento atrapalham a fluidez
normal das emoções, do pensamento, do comportamento
no ciclo da experiência (Ciclo de contato)
• Psicose: perturbação na função Id. A sensibilidade e a
disponibilidade do sujeito às excitações externas
(perceptivas) ou internas (proprioceptivas) são
perturbadas.
• Neurose: perda da função ego ou da função
personalidade: a escolha da atitude adequada é difícil
ou desadaptada. (Ginger e Ginger, 2005)
RETOMANDO CONTATO

▶ O que possibilita a experiência na interação Homem-Mundo é


contato.
▶ O que se trabalha em GT são exatamente as “confusões”, os
impedimentos que ocorrem na fronteira de contato e que diminuem
as possibilidades de crescimento e transformação criativa da relação
homem-mundo.
CICLOS DE CONTATO INTERROMPIDOS

▶ Nem sempre os Ciclos de Contato se completam.


Gestalten Inacabadas

▶ Estes Ciclos interrompidos dão-se por perturbações na fronteira de


contato, as quais podem ser de origem interna ou externa ao sujeito.

Mecanismos de defesa ou de
evitação de contato

▶ Estes mecanismos podem ser saudáveis ou patológicos, conforme sua


intensidade, maleabilidade, situação em que é acionado
DEFESAS
NO PROCESSO
TERAPÊUTICO

“Elas pressionam o organismo constantemente na busca de sua satisfação. O


acúmulo delas leva a neurose. São defesas ou perdas das funções do ego. Não
são necessariamente patológicas, podem ser saudáveis.

A GT não visa arrancar, vencer ou superar as resistências/defesas usadas para


evitar o contato. Visa torná-las mais conscientes, mais adaptadas a situação do
momento. São as vezes uma reação saudável de adaptação.”
DEFLEXÃ
O


Evitação de contato ou awareness.
Não receber informações/sentimentos oriundos do
ambiente ou...
▶ Não expressar estas informações/sentimentos no
ambiente.

Pessoas que defletem se negam ao contato,


de forma a se isolarem do meio/mundo.
Eu
CONFLUÊNCIA
▶ Quando há falhas significativas na fronteira de contato organismo-meio.

▶ A confluência faz o indivíduo não poder vivenciar a si-mesmo porque perdeu-se. Ele não tem clareza
do que é SEU e do que é do OUTRO.

▶ A fronteira EU-NÃO EU, perde a sua nitidez, impedindo assim um bom contato. Não torna-se
possível evitar/afastar nem entrar em contato com o outro, nem consigo mesmo.

▶ A confluência está na base de muitas doenças psicossomáticas pelo conflito interno entre as
necessidades do indivíduo, pela total incapacidade de compreender-se.

▶ Ela também gera muitos problemas sócio-relacionais. Pessoas muito confluentes vêem o outro como
uma extensão de si. Carregam muitas expectativas.

Pessoas confluentes usam muito o NÓS. Quem as


escuta não sabe se ela está falando de si ou do resto
do mundo.
INTROJEÇÃO
▶ Na relação com o meio precisamos saber o que é do meio e o que nosso.

▶ O que realmente assimilamos do meio, digerimos e passa a ser nosso, não entrando em contradição
com outros conteúdos nossos.

▶ Porém se não digerimos, o que ingerimos se torna um “corpo estranho” a nós.

▶ Quando conceitos, padrões de comportamento, valores impostos chegam a nós pelo mundo externo
e os aceitamos de forma acrítica realizamos INTROJEÇÕES.

▶ Algumas INTROJEÇÕES tornam-se um peso para nós.

▶ Corre-se o risco de se ter tanto dos outros que não sobra espaço para o que é seu.

Pessoas que introjetam muito usam o EU, quando


na verdade deveriam dizer ELES.
PROJEÇÃO
▶ É a tendência de fazer do MEIO / OUTRO, responsável pelo que se origina em nós
mesmos.

▶ Na projeção o indivíduo faz hipóteses baseadas em suas próprias fantasias e não as


reconhece como apenas hipóteses, mas como verdades.

▶ O indivíduo nega e não aceita partes de sua própria personalidade.

▶ Introjeções excessivas levam a sentimentos de auto-desvalorização e acabam por produzir


também projeções. Ex: pessoas que ocupam sempre um lugar vitimizante.

Pessoas que projetam muito usam o ELES, quando


na verdade deveriam dizer EU.
RETROFLEXÃO
▶ A pessoa retroflexiva faz consigo o que gostaria de fazer aos outros. Volta impulsos contra si,
tornando-se seu pior inimigo.

▶ É como se o SI-MESMO fosse outra pessoa. A fronteira de contato fica entre EU e


EU-MESMO.

▶ Não acredita que qualquer ação sua poderá chegar a mudanças. Então não investe no mundo,
investe em si –mesma. Se fechando em um sistema independente, as vezes auto-suficiente.

▶ “Estou cansado de mim mesmo” “Estou envergonhada de mim mesma”; “Preciso me


controlar”; “Vou me forçar a ...”

Quando falam deixam a impressão que


ELA e ELA-MESMA são duas pessoas
diferentes.
PROFLEXÃO

▶ Uma junção entre a projeção e a retroflexão

▶ A pessoa age no meio projetando sua necessidade, sem


assumi-la como sua, ou seja, retroflexionando a parte que
lhe pertence
EGOTISMO

▶ O contato com o outro gera ansiedade e, por isto, busca


isolar-se como forma de controle.

▶ Acumula conhecimentos e relações apenas em função das


vantagens que pode receber.

▶ Foca-se apenas em si na relação com o campo.

▶ Sentem-se ansiosos ao se abrirem para os outros, por


sentirem como uma experiência ameaçadora.

Eu
Mecanismos Neuróticos ou Disfuncionais
▶ Surgem da dificuldade da pessoa em encontrar e manter equilíbrio entre ela
e o mundo.

▶ Interrupções no fluxo natural de figuras, tornando-as “inacabadas”. Há


perdas na qualidade do contato.

▶ Fixação no passado que não muda.

▶ Acúmulo de situações não resolvidas que causam a perca da capacidade de


hierarquizar necessidades, cristalizando determinadas situações e
tornando-as “figuras rígidas”.
▶ Medo, ansiedade e frustração estão
sempre presentes.

ORGANIZANDO
CONCEITOS 3

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