O homem realizado para a Gestalt-terapia é o homem aberto, em constante processo de
atualização, transformação e realização criativa, capaz de unir-se e de separar-se
ritmicamente, de tocar e de ser tocado pelo mundo. É o homem singular, que cresce de modo contínuo, responsável pela própria existência e consciente de seu lugar e de sua participação no mundo que o cerca. A relação terapêutica em Gestalt- terapia, compreendida como intersubjetividade, é o lugar da ética: morada, hospitalidade, solidariedade, ternura, cuidado, encontro; solo fértil a partir do qual o paciente pode enraizar-se, acontecer em sua singularidade, atualizar suas potencialidades e destinar-se, ou seja, colocar-se em marcha e em travessia. Nessa perspectiva, a Gestalt-terapia é prática dialógica, contínuo confronto com a alteridade, a abertura e a disponibilidade para se deslocar dos próprios referenciais e ser tocado e transformado pelo modo de funcionar do paciente, que nos revelará o que antes dele desconhecíamos. A terapia é, então, travessia e transformação compartilhadas. (Franzão e Fukumitsu, 2014, p. 20)
Como instrumento de orientação para o trabalho terapêutico, os Gestalt-terapeutas
se utilizam do ciclo do contato para identificar o contato em funcionamento e, consequentemente, suas interrupções. Segundo a Gestalt Terapia, o contato pode ser interrompido ou dificultado por diversos fatores, como conflitos internos, traumas, repressões, medos, entre outros. Essas interrupções podem gerar problemas emocionais e comportamentais, e o objetivo da terapia é ajudar o indivíduo a identificar essas interrupções e retomar o contato com o ambiente. Dessa forma, para a Gestalt Terapia, o contato não é apenas uma questão de interação física com o meio, mas também envolve a percepção, a consciência e a ação do indivíduo. Ele é considerado um processo complexo e dinâmico que influencia diretamente a saúde emocional e psicológica das pessoas. O ciclo de contato é uma ferramenta para compreender como as pessoas percebem, experimentam e agem no mundo, ajudando-as a identificar as interrupções no processo e a desenvolver novas maneiras de se relacionar com o ambiente.
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A autorregulação organísmica, segundo Goldstein, é o princípio natural que rege o
funcionamento do organismo. Natural porque Goldstein concebeu esse princípio como próprio do organismo. Goldstein equiparava a autorregulação organísmica ao princípio homeostático da biologia, nessa ciência, o termo “homeostase” é utilizado para designar a manutenção das condições estáveis ou constantes no meio interno do corpo humano. Em essência, todos os órgãos e tecidos do corpo desempenham funções inter-relacionadas que ajudam a manter tais condições (Hall, 2011, apud, Franzão e Fukumitsu, 2014, p. 51).
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Todo contato é criativo e dinâmico. Como o organismo não é passivo do
contato –este é espontâneo –o organismoassimila o ambiente. O que é selecionado e assimilado é sempre novo, sendo que o organismo persiste pela assimilação do novo, pela mudança e crescimento. No processo de assimilação o organismo é sucessivamente modificado, assim como o ambiente. Este processo faz com que o individuo se encontre sempre em ajustamento. É pelo ajustamento criativo que a mudança e o crescimento se dão. O futuro, o porvir, é a marca efetiva desse processo, sendo que a identificação e alienação dessas possibilidades, o surgimento de uma nova figura, é o ajustamento criativo (onde o novo é assimilado).
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Para autorregular-se organismicamente a pessoa precisa suprir adequadamente suas
necessidades. Para tanto, deve ter awareness delas, estando em contato simultaneamente com elas e com as possibilidades de satisfazê-las no meio. Necessidades diferentes podem ocorrer ao mesmo tempo, e quando isso acontece torna-se necessário que a pessoa perceba a necessidade dominante, estabelecendo aquilo que Perls denominou de hierarquia de necessidades. Uma vez que essa hierarquia esteja clara, é possível fazer os ajustes necessários entre suas necessidades e as possibilidades do ambiente, processo esse que denominamos ajustamento criativo – assunto que Beatriz Helena Paranhos Cardella aborda no Capítulo 6: “Ajustamento criativo e hierarquia de valores ou necessidades”. Perls, Hefferline e Goodman (1997, p. 44-5) dizem: [...] o contato não pode aceitar a novidade de forma passiva ou meramente se ajustar a ela, porque a novidade tem de ser assimilada. Todo contato é ajustamento criativo do organismo e ambiente. Resposta consciente (aware) no campo. É o agente de crescimento no campo. --
o conceito de figura-fundo se refere à forma como a pessoa percebe seu ambiente e
como ela organiza as informações em sua experiência. A figura é o objeto de interesse no momento, enquanto o fundo é o resto do ambiente. Quando ocorre uma mudança na figura, ocorre uma mudança no fundo e vice-versa.
Para a Gestalt-terapia, figura-fundo é uma das principais leis da percepção, que
afirma que, em qualquer situação, há um elemento que se destaca e se torna a figura, enquanto o resto se torna o fundo. Essa distinção é feita pela awareness do sujeito, que dá significado à experiência.