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LUTANDO CONTRA A IMPACIÊNCIA

Leitura Bíblica: Tiago 5.7-11

Proposição: A impaciência em relação a Deus e ao próximo revela


nossa incredulidade em relação às promessas divinas.

Introdução

Entre os meses de maio e junho deste ano o WhatsApp liberou uma


funcionalidade que há muito tempo estava sendo requisitada por
seus usuários: a possibilidade de aceleração dos áudios recebidos.
Agora eles podem reproduzir as mensagens recebidas em velocidade
normal ou em fatores de aceleração de 1,5x ou 2x. Certamente existem
vantagens neste recurso, que já estavam presentes em plataformas
como o Spotify e YouTube: ouvir uma aula ou podcast com esta
aceleração pode ser uma alternativa válida para alguns estudantes,
por exemplo.

Apesar de o recurso do WhatsApp ter sido recebido com enorme


entusiasmo pelos usuários, a psiquiatra Regiane Kunz Bezerra afirma
que esta pressa, esta necessidade de acelerar tudo, pode ser um
motivo de alerta. Em uma entrevista ao site Tecnoblog, ela questiona:

“O que a gente precisa pensar é que, apesar da vantagem, se não é mais uma
forma de mostrar que tentamos acelerar tudo. Essa pressa é justificada?
Muitas vezes precisamos que as coisas durem o tempo que elas precisam
durar. Qual a necessidade dessa pressa toda?”

O sócio diretor da FSB Comunicação Jaderson Alencar no site da


revista Exame também faz uma reflexão neste sentido:
“Nós, como sociedade, nos transformamos em aceleradores de
conteúdo, de emoções, de momentos. Aceleramos as refeições, a
intimidade, a apreciação de feed alheio. O tempo virou tão escasso
frente a todas as responsabilidades que ele próprio nos impõe que
acabamos nos perdendo, achando que a economia de minutos nos
salvaria de todo o resto”.

Portanto, meus irmãos, tentem não acelerar os áudios recebidos, se


puder. Pegue os cinco minutinhos do seu tempo para ouvir alguém
que gastou os mesmos minutos direcionados a você.

Vivemos na sociedade da pressa, do imediatismo, da impaciência. E


nosso irmão Tiago tem algo importante a nos falar sobre isto.

EXPOSIÇÃO

1. Os crentes judeus do primeiro século conviviam com o desafio


diário de viver em boas obras, perseverando em meio às dificuldades
e esperando a vinda do Senhor. E neste contexto, a teologia é de
grande valia, assim como é para nós, em nossos dias. Mas uma
abordagem prática, no sentido de mostrar como a sabedoria do alto
pode ser relacionada com o cotidiano, é extremamente útil. A carta de
Tiago possui este viés: escrita entre dez e quinze anos após a morte
de Jesus, ela ecoa diversos ensinos do Salvador, especialmente do que
foi trazido no Sermão do Monte, além de possuir diversas referências
ao Antigo Testamento (de seus 39 livros, pelo menos 22 são
lembrados em algum momento desta epístola).
Tiago não aceita a ideia de que um ensino deve produzir apenas
frutos acadêmicos; o que ele diz é que a doutrina correta se desdobra
em vida correta. Não devemos ser meramente ouvintes da Palavra,
devemos ser também praticantes, ele diz. Embora não sejamos
justificados por obras, as boas obras são necessárias, constituindo
evidências inevitáveis de nossa fé em Cristo.
2. Tiago escreveu para cristãos espalhados por todo o mundo, os
quais viviam debaixo de enorme hostilidade e perseguição. Diante
deste pano de fundo, nossos irmãos não deveriam defender a fé
somente com declarações teológicas vigorosas, mas também por
ações amorosas que evidenciassem o poder de Cristo atuando em e
através de suas vidas. Aliás, Tiago combate aquele que é o principal
antagonista do evangelho: qual seria ele, meus irmãos? Qual o
principal antagonista do evangelho? Seria o secularismo, seria o
liberalismo teológico, seria o comunismo? Não, o maior inimigo do
verdadeiro evangelho está dentro das igrejas, é o evangelho não
vivido. Quantas dificuldades temos por causa desta realidade!
Quanto tempo perdemos em escândalos, em maledicências, em
maldade, em intrigas, uma vez que esta mensagem preciosa não tem
sido vivida integralmente por aqueles que alegam ser discípulos de
Jesus. O fato é que perdemos energia com muitos problemas dentro
da igreja, energia esta que deveria ser canalizada em esforços para
alcançarmos aqueles que estão perdidos mundo afora.
3. Montar um esboço panorâmico de Tiago pode ser uma tarefa
bem complicada. Este livro é uma coleção de provérbios que parece
não possuir uma relação especifica entre cada uma delas. Uma das
divisões mais convincentes para a epístola seria o entendimento de
que existem dois blocos textuais: o primeira, que seria exatamente o
primeiro capítulo, fala de como maturidade cristã em nível pessoal se
desenvolve; e a segunda, composta pelos capítulos dois, três, quatro
e cinco, fala a respeito de como uma comunidade cristã é edificada.
É na reta final da última parte da carta que encontramos o texto
que serve como base para este sermão. A preocupação de Tiago é falar
sobre a paciência. Conte comigo quantas vezes no texto a ideia de
paciência se faz presente: “pacientes”, “paciência” (v. 7), “pacientes”
(v. 8), “paciência” (v. 10) e “paciência” (v. 11): são cinco ocorrências.
A ideia de paciência tem a ver tanto com esperar de modo calmo,
quanto com resistir de modo firme e resistente.
Vejamos como isto se desdobra: entre os versículos 7 e 8, Tiago
chama os irmãos à paciência, dando um exemplo da vida cotidiana
(que é o exemplo do lavrador), concluindo que a nossa paciência deve
ser também alimentada em relação à vinda do Senhor; no versículo 9,
os irmãos são chamados a não se queixarem uns dos outros; já entre
os versículos 10 e 11, os irmãos são estimulados a viver em paciência
diante do sofrimento, seguindo o exemplo dos profetas que falaram
em nome do Senhor e de Jó, que foi recompensado no fim por causa
da misericórdia e compaixão do Senhor.

ENSINO/DOUTRINA

1. A paciência é “a capacidade de esperar sem se tornar apressado


ou impetuoso”. Ser paciente também significa demonstrar resistência
à dor e à infelicidade. Tem um sinônimo desta palavra que aparece
bastante em nossas versões da Bíblia em língua portuguesa, que é
“longanimidade”. A ideia é de deixar longe, de adiar, a paixão, a ira,
o furor; ou ainda e manter sob controle as emoções de forma que
mesmo em uma situação de extrema pressão estas emoções não
provoquem uma rápida explosão. Quando este pavio explode
estamos vivendo em uma crise de impaciência.
2. Mesmo as emoções mais assustadoras podem ser boas, pois nos
ajudam a viver neste mundo como filhos de Deus, criados para
glorificar o nome do Senhor e desfrutá-Lo graciosamente. Há uma
proposta muito interessante para o papel das emoções em nossas
vidas que é explorada por Alasdair Groves e Winston Smith em um
livro cujo título em inglês pode ser traduzido como
“Desembrulhando as Emoções: a Dádiva Divina das Emoções”. Ele
afirma que nossas emoções revelam em qual patamar está nossa
conexão com Deus. Colocando em outras palavras, emoções servem
para adorar a Deus, o que pode parecer bem estranho, uma vez que
pensamos em adoração como cantar, ouvir um sermão ou viver em
comunhão. Ele prossegue dizendo que nossas emoções são, em
última instância, respostas a Deus. Cremos que tudo o que acontece
ao nosso redor está debaixo do controle soberano Deus, pois é isto
que a Palavra de Deus nos ensina: Deus, em seus decretos, segundo o
conselho da Sua vontade e para a Sua própria glória preordenou tudo
o que acontece. A isto se referem os grandes eventos (como a
encarnação de Cristo, sua morte e ressurreição) e os pequenos eventos
(não cai sequer um pardal do céu se não for essa a vontade do
Senhor). Portanto, aquela situação de emprego ou desemprego, o
estado civil de solteiro ou casado, a condição de saúde ou de doença
em nossas vidas não estão debaixo do acaso, das coincidências ou
mesmo de nossa deliberação. Se alguém bateu em nosso carro, ou um
temporal arrancou o telhado de casa, ou se aconteceu um acidente
com uma pessoa muito amada, tudo isto está debaixo do controle
providencial de Deus. Isto não exime os indivíduos de suas
responsabilidades pessoais por seus atos, mas coloca as coisas na
perspectiva correta: Deus é quem dispõe o que está acontecendo no
mundo.
E isto tem a muito a ver com as nossas emoções. Como reagimos
àquilo que foge do que temos programado? Somos mais treinados
para agir do que para reagir, e aí está o papel de nossas emoções como
respostas, em última instância, ao que Deus está fazendo no mundo.
No fundo, no fundo, quando fico impaciente com o que está
acontecendo comigo, estou reagindo ao que Deus está fazendo.
Mesmo sem sair de nós uma só palavra, já reagimos emocionalmente
e isto fazemos em resposta a Deus.
3. Eis aí então a impaciência. É o que começamos a sentir quando
duvidamos da sabedoria do tempo de Deus e de Sua orientação.
Nossos planos são adiados ou interrompidos e aí vem ela mais uma
vez: na fila do caixa, no semáforo (e o pole position debaixo não viu
que a luz verde abriu) e em tantas outras situações. Há também a
impaciência demonstrada em nossa relação direta com Deus: quando
vão se concretizar as coisas que estou esperando que aconteçam?
Abraçamos promessas individuais e fazemos delas um refúgio para
nossas emoções, pensando que irão acontecer infalivelmente:
salvação de nossos familiares, uma cura de determinada doença, uma
porta de emprego específica. E Tiago vai além: “sejam pacientes em
relação à promessa da vinda do Senhor”. A vinda do Senhor está às
portas. Enquanto Jesus não volta não esperamos vida fácil neste
mundo, que é repleto de aflições. Assim, devemos ser pacientes até
Jesus voltar.
É Jesus quem irá colocar todas as coisas em ordem,
desempenhando seu papel de juiz e libertador. Por isto, enquanto
aguardam a manifestação do Senhor seguimos os exemplos do
agricultor (que faz o seu trabalho e aguarda o fruto precioso da terra
até receber as chuvas), dos profetas que falaram em nome do Senhor,
de Jó, que em situação difícil foi abençoado pela compaixão e graça
do Senhor. Esta expectativa do cumprimento das promessas do
Senhor pode nos deixar impacientes, o que nos leva a nos queixarmos
uns dos outros; desabafamos a pressão de eventos estressantes de um
ambiente de trabalho difícil ou de uma doença nas pessoas próximas
de nós.
4. E nossa impaciência revela nossa incredulidade. Se nós
acreditássemos que a nossa longa espera no sinal vermelho fosse
Deus nos mantendo distantes de um acidente prestes a acontecer, nós
seríamos pacientes e contentes. Se nós acreditássemos que a nossa
perna quebrada fosse a maneira de Deus revelar um câncer em seu
início na radiografia, para que pudéssemos sobreviver, não
murmuraríamos pela inconveniência. Se acreditássemos que o
telefonema no meio da noite fosse a maneira de Deus de nos despertar
para sentir o cheiro de fumaça do aparelho eletrônico que está
pegando fogo, não resmungaríamos com a perda do sono. John Piper
fala muito a respeito disso, pontuando que estas interrupções
(indesejadas, na verdade) são atos de Deus para que possamos estar
de olhos atentos ao que Ele está realizando para a Sua glória.
A história de toda a Bíblia diz que atrasos, desvios, interrupções,
frustrações, oposições destroem nossos planos, devemos ter em
mente que Deus tem um propósito soberano em realizar algo
grandioso. E é aí que está o nosso aparato para lutarmos contra a
impaciência.

APLICAÇÃO

Tiago fala sobre paciência em um contexto de sofrimento.


Olhemos para os profetas, que falaram em nome do Senhor e
sofreram, colocando a paciência em ação. Jeremias padeceu pela
fidelidade a Deus; contraditado por Hananias, preso, ameaçado de
morte. Amós também foi acusado por Amazias, um líder religioso da
cidade de Betel chamado Amazias. Elias foi ameaçado pela rainha
Jezabel. Estes homens de Deus enfrentaram adversidades, mas se
mantiveram firmes e venceram. São colocados como exemplo para
nós.
Não seria o caso de estarmos encarando a vida cristã como uma
religião de fim de semana? Nosso engajamento é superficial e nem
sempre sentimos a oposição do mundo. A mensagem de Cristo
consola os aflitos e incomoda os acomodados. Se a igreja não
incomoda o mundo, há algo errado com ela. Os profetas
incomodaram! Jesus incomodou! A oposição e até mesmo o
sofrimento fazem parte do inventário cristão. Isto não quer dizer que
os cristãos devem ser beligerantes, sempre brigões ou criadores de
casos. Quer sim dizer que devem ser fiéis em qualquer circunstância.
A fidelidade produzirá a inimizade do mundo. E não podemos recuar
diante das dificuldades. É nessas ocasiões que a verdadeira fé se
manifesta e a paciência se desenvolve em meio a estas tribulações.
2. Paciência, meus irmãos, não é resignação calada. Tem muita
gente sofrendo sem manifestar seus sentimentos de maneira
adequada, pensando que este tipo de postura irá revelar falta de fé.
Lembremo-nos do exemplo de Jó, que o próprio escrito bíblico traz à
tona: Jó chorou, se lamentou, discutiu com seus amigos e refletiu
verbalmente a respeito de sua dor. Ser paciente não é ser passivo. No
meio de uma pressão enorme, ele apegou-se a Deus. Jo perseverou; e
mostrou-se constante em sua fé, a despeito de seu grande sofrimento
físico, das zombarias de seus “amigos”, e até das blasfêmias de sua
esposa, que lhe recomendou amaldiçoar a seu Deus e morrer. Foi esse
o tipo de “constância” que Jó demonstrou supremamente, debaixo
das mais adversas circunstâncias, mediante o que reteve sua fé em
Deus.
O Senhor reverteu sua história pois é cheio de misericórdia e
compaixão. Ele, portanto, abençoa os que sofrem e confiam nEle. O
sofrimento nem sempre é castigo contra o pecado, servindo também
para que os propósitos de Deus se cumpram de maneira gloriosa.
E quantos de nós nos encontramos neste tipo de processo?
Familiares doentes, pessoas queridas que faleceram recentemente,
tensão por questões profissionais. Sejamos pacientes, meus irmãos!
Lutemos contra a incredulidade que nos faz duvidar de que Deus está
conduzindo todas as coisas, inclusive o tempo em que as coisas
acontecem.
Conclusão

Ser paciente é ter o coração fortalecido no Senhor mesmo em face de


um agudo sofrimento pode durar a vida inteira, sem um final feliz
aos nossos olhos.

Não é a história de todo mundo que termina tão bem nesta vida.
Benjamin Warfield foi um teólogo mundialmente renomado, que
ensinou no Seminário de Princeton por quase trinta e quatro anos.
Lemos livros importantes dele até hoje em nossos seminários. Bíblia.
Mas o que a maioria das pessoas não sabe é que, em 1876, com a idade
de vinte e cinco anos, ele se casou com Annie Pierce Kinkead e saiu
em lua de mel para a Alemanha. Durante uma violenta tempestade,
Annie foi atingida por um raio e ficou permanentemente paralisada.
Depois de cuidar dela por trinta e nove anos, Warfield a enterrou em
1915. Por causa de suas necessidades extraordinárias, Warfield
raramente deixava sua casa por mais de duas horas, durante todos
esses anos de casamento. Ela nunca foi curada.

Esta é simplesmente a história da paciência espetacular e a fidelidade


de um homem a uma mulher por quase quarenta anos, do que nunca
foi planejado pelo homem.

Warfield, este homem que suportou o sofrimento de toda uma vida,


afirmou ao comentar o versículo que diz: “Sabemos que Deus age em
todas as coisas para o bem daqueles que o amam” (Romanos 8.28):

Embora sejamos muito fracos para ajudar a nós mesmos, e cegos


demais para pedir pelo que precisamos, e possamos apenas gemer em
anseios informes, Deus é o autor de nossos anseios ... e ele governará
assim todas as coisas para que colhamos apenas o bem de tudo os que
se abater sobre nós”.

Que Ele nos conceda graça para que possamos permanecer com os
corações fortalecidos, crendo que os seus propósitos soberanos serão
cumpridos no tempo certo.

Soli Deo Gloria

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