Você está na página 1de 9

LUTANDO CONTRA A ANSIEDADE

Leitura Bíblica: Mateus 6.25-34

Proposição: A nossa excessiva preocupação com o futuro revela nossa falta


de confiança nas promessas feitas por Deus.

Introdução

Uma publicação no LinkedIn (uma rede social para contatos profissionais)


feita há dois meses conta a história de uma menina (vamos chama-la assim,
pois tem apenas 19 anos) que afirma: “já me candidatei para diversas áreas,
pois não tenho medo de aprender, mas infelizmente a maioria das
empresas com vagas como “jovem aprendiz” não aceita pessoas que já
tenham participado de programas parecidos; e não aceitam pessoas sem
experiência. Com tantas respostas negativas vindas por e-mail e sem
conseguir entrar em contato com um recrutador sequer, comecei a desistir,
com o estresse e as preocupações relacionadas ao meu futuro afetando a
minha saúde. Hoje estou com paralisia facial, causada por estresse e
ansiedade, e estou fazendo tratamento com fisioterapia e
acompanhamento médico”.

Pensem comigo: uma menina bem jovem, sofrendo toda esta pressão. É
neste patamar de ansiedade que as pessoas estão vivendo atualmente, em
todas as faixas etárias. As crianças estão sofrendo de ansiedade: um
coleguinha tirou uma nota melhor ou recebeu um elogio e os pequenos se
frustram, pois há uma espécie de competitividade implícita desde a mais
tenra idade; os adolescentes estão enfrentando ansiedade: espinhas no
rosto, a briga com o espelho, a pressão da família em relação ao vestibular;
os jovens estão vivendo em ansiedade: com quem vou me casar? onde vou
trabalhar?; os casados estão ansiosos, vivendo a pressão da estabilidade
financeira; a garantia no emprego; o estudo dos filhos; o namoro dos filhos;
o medo de perder o emprego; os idosos vivem ansiosos, é o medo da
doença, medo da solidão, medo de morrer e ansiedade em relação aos
filhos e aos netos.

Visto ser um tema tão comum a todos nós, Jesus o aborda no seu mais
conhecido sermão.

EXPOSIÇÃO

1. O Sermão do Monte, registrado no Evangelho de Mateus entre os


capítulos 5 e 7, é a parte mais conhecida dos ensinamentos de Jesus. Estas
palavras registram o que o Senhor desejava que seus seguidores fossem e
fizessem. O Sermão do Monte exerce um fascínio peculiar em nossas
mentes, pois se revela como algo extremamente prático. Vida pessoal e
vida pública aparecem nesta pregação de Jesus.
A seção que acabamos de ler parece falar sobre a ansiedade e
algumas coisas importantes não podem ser deixadas de lado. Há um
perigo muito grande em lermos esta passagem e deixarmos ela
completamente isolada de seu contexto. Note que Jesus diz no v. 25: “por
isso vos digo”, o que deve nos levar a uma questão: o que é o “isso” a que
Jesus se refere? Ele está nos convidando a pensar em uma questão muito
séria, que só pode ser compreendida à luz do que os versículos
imediatamente anteriores estão afirmando. A mensagem é sobre a relação
com o dinheiro, com as posses materiais, os tesouros terrenos, e o alerta é
bem claro: não é possível servir a Deus e às riquezas com o mesmo coração.
Devemos escolher o melhor dos senhores, que no caso é o Senhor
Deus. A Ele devem pertencer nossa devoção, nosso afeto e nossa
prioridade. Jesus está falando de ambição, pois há uma conotação no
sentido de buscar algo; e Ele deixa claro que só existem duas alternativas
de vida: uma vida pautada pela ambição secular ou uma vida pautada pela
ambição relacionadas aos valores do Reino de Deus.
2. Jesus fala sobre qual princípio está regulamentando nossas vidas,
qual é a nossa prioridade. E aparece neste texto um adjetivo que pode nos
deixar um pouco curiosos quanto ao seu significado: “não andeis
ansiosos”, disse Jesus. A arte do ensino consiste na repetição: “não vos
inquieteis” (v. 31 e v. 34). Notando este tipo de admoestação, somos
comovidos pela sabedoria e pela sensibilidade de Jesus. Ele não está
proibindo seus discípulos de se prepararem para o futuro, mas está
advertindo quanto ao pensamento mundano de que em algum nível as
coisas estão sob o nosso controle. Esta fadiga excessiva que nos leva a temer
pela própria vida, pelo alimento, pelo vestuário e pelo o futuro é
condenadas pelo Senhor.
Ter isso em mente é importante, pois quando lemos a palavra
“ansiedade” ou o adjetivo “ansiosos”, “inquietos”, facilmente queremos
transportar o significado para o que a nossa sociedade costumeiramente
está habituada em definir. A ansiedade mencionada por Jesus é diferente
de um transtorno de ansiedade definido por um manual de psiquiatria.
Para compreendermos o que é a ansiedade neste texto bíblico,
precisaremos estar atentos ao que o próprio Jesus está ensinando. Estar
inquieto com a alimentação, com o vestuário, com a própria vida é o tipo
de ansiedade condenada pela Palavra de Deus. Não se trata de uma
preocupação legítima com futuro, em termos de se preparar para quando
ele chegar, mas daquele tipo de preocupação que tira o sono das pessoas,
que coloca em xeque o controle absoluto de Deus sobre todas as coisas.
3. Jesus ensina que a vida é mais do que alimento e roupas e daí parte
para o argumento da analogia. Ele diz: olhem para as aves que não
armazenam bens e são sustentadas pelo Pai celestial. Irmãos, uma vez que
Deus nos deu a vida, Ele certamente irá nos conceder tudo o que
precisamos para sustentá-la. Jesus não está trazendo uma mensagem
contra o trabalho (se pensarmos bem, as aves trabalham para localizar o
seu alimento), mas contra a preocupação doentia com o futuro.
Certo Rabino afirmou:
“Jamais em minha vida vi um cervo que tirasse figos, nem um leão que
transportasse cargas, nem uma raposa que fosse comerciante e, entretanto, todos
eles se alimentam, sem afã algum. Se eles, que foram criados para me servir, vivem
sem preocupações, quanto mais eu, que fui criado para servir a meu Criador,
deveria viver sem trabalhar em excesso por meu alimento; mas eu corrompi minha
vida, e desse modo, prejudiquei minha substância”
A preocupação é inútil. Ela não pode aumentar nosso tempo de vida.
Aliás, é mais provável que a inquietação encurte a vida do que o contrário.
Em última instância, a duração de nossas vidas está sob o controle
providencial de Deus.
4. Entre os v. 28 e 30, o Senhor fala sobre a preocupação quanto ao
vestuário e a comparação é com os lírios do campo. Diferentemente das
aves, eles não trabalham nem tecem, mas são igualmente sustentados por
Deus. O ponto não é que os discípulos de Jesus devem viver de modo
ocioso, mas que eles devem se desprender da excessiva preocupação. As
flores crescem belas em um dia e no outro dia são queimadas no fogo; e
nem mesmo Salomão, em todo seu esplendor, conseguiu vestir-se com
tamanha beleza. A erva do campo tem um valor passageiro; quanto mais
valor temos nós do que aves e flores?
5. A argumentação de Jesus segue propondo mais pontos pertinentes:
a ansiedade, diz o Senhor, é característica de quem não conhece a Deus tal
como Ele é. Ela é essencialmente desconfiança a respeito de Deus. Mas
quem chama Deus de Pai não fica embaraçado nestas redes de
incredulidade. O Pai celestial o sustenta, de modo que não há lugar para
esta inquietação.
Em contraste com os gentios, que se desesperam na busca por comida,
bebida e vestuário, o discípulo de Jesus é chamado para viver em outra
prioridade. Notem: “buscai primeiro”, ou seja, priorizem, “o reino de Deus
e a sua justiça”. A exortação possui o sentido de reconhecer Jesus Cristo
como Rei, desfrutando desta cidadania na total submissão a Ele. A
consequência clara aparece no mesmo versículo: “e todas estas coisas vos
serão acrescentadas” (v. 33).
Por último, Jesus ensina que a preocupação será derrotada se vivermos
um dia de cada vez. Cada dia com suas exigências, cada momento com
suas demandas; temos um futuro que não podemos prever e não devemos
nos preocupar com coisas que sequer sabemos se irão acontecer.

ENSINO/DOUTRINA

1. Com base nisto, é seguro afirmar que Deus, em sua providência,


cuida de todos os seres criados. A palavra que devemos utilizar é
exatamente esta: providência, cujo significado é “prover algo para”. Hoje
em dia se fala bem pouco sobre a providência de Deus e isto parece
acontecer em função do pensamento naturalista, que interpreta os eventos
da natureza como que se fossem governados por forças independentes e
impessoais. O pensamento cristão ensina que Deus não é um mero
expectador do que está acontecendo no mundo; antes, Ele está empenhado
em criar, governar e preservar todas as coisas. Estas três ações de Deus
estão em uníssono declarando sua providência amorosa e poderosa sobre
o universo. Deus tem uma relação contínua com o universo, preservando
a existência das coisas que Ele criou e dirigindo a criação para os propósitos
que Ele estabeleceu.
Tal ensinamento bíblico é de fundamental importância para a condução
de nossas vidas, pois o significado da providência de Deus é que Ele está
presente e ativo em nossas vidas. O cristão sabe que não é o acaso que lhe
irá proteger quando andar distraído, pois estamos sob os cuidados de
Deus. Podemos encarar o presente e o futuro com confiança; podemos orar,
sabendo que Deus ouve e age enquanto oramos; podemos enfrentar o
perigo, reconhecendo que Deus não está alheio àquilo que pode nos causar
algum dano.
2. O cuidado providencial de Deus abrange todas as coisas: nada pode
ser excluído deste tratamento. A Bíblia nos mostra a mão de Deus
preservando todas as coisas em vários momentos. Ele cuida dos animais,
dando alimento, provendo água. É o que o salmista afirma: Ele envia fontes
para os vales e águas para as montanhas; até a escuridão é fruto desta
providência: é a forma pela qual os animais de caça encontram seu sustento
(Sl 104). Faltaria tempo para comentarmos todas estas ocorrências, mas
aqui vai uma amostra: Deus preservou a nação israelita em um momento
de grande fome ao levar José para tornar-se governador no Egito; mais
tarde, Deus preservou seu povo diante da teimosia de Faraó que insistia
em não lhes dar a libertação; preservou seu povo da morte no deserto,
dando pão do céu e fazendo brotar água da rocha; durante o dia havia uma
coluna de nuvem e à noite uma coluna de fogo para os guiar. O povo de
Deus passou o mar Vermelho a pés secos, ao passo que seus perseguidores
pereceram; grandes vitórias em batalhas terríveis, nas quais estavam em
considerável desvantagem. E os exemplos se multiplicam: Ananias, Misael
e Azarias preservados na fornalha de fogo, sendo lançados lá em função
de sua recusa à idolatria; Daniel preservado na cova dos leões após ter sido
perseguido por sua vida de oração. Quantos exemplos mais, meus irmãos!
A verdade incontestável é que Deus cuida dos seus. E voltando ao que o
salmista diz, podemos também engrandecê-Lo, dizendo: “Que variedade,
Senhor, nas tuas obras! Todas com sabedoria as fizeste; cheia está a terra
das tuas riquezas” (Sl 104.24).
3. Se Deus assim cuida da natureza e cuidou do seu povo no passado,
o que se dirá de seus filhos, no presente? A paternidade de Deus sobre seu
povo parece ser um argumento implícito pelas palavras de Jesus. Notem
que a expressão “Pai celeste” aparece duas vezes nesta porção do texto. A
verdade presente é que Deus cuida de seus filhos. Uma vez que Ele
governa todas as coisas, a natureza (aves, flores) são alvos de Sua
providência; e o que se dirá então de quem é da sua família?
Irmãos, Deus não ignora quem depende dEle. Se Deus cuida assim
de todas as coisas, por que andamos ansiosos? Nossa preocupação
desmedida com o futuro reflete a falta de confiança no Deus que servimos.
Não atentamos para as promessas da graça futura que Ele nos concede.
Não podemos ser dominados pela incredulidade, pela ansiedade, pelo
medo do futuro, ao ponto de isso nos fazer muito mal

APLICAÇÃO

1. A preocupação é uma tentação, mas diferentemente de outras


tentações, nem sempre estamos atentos ao momento em que ela se
apresenta como tal e se instala em nossas vidas. A preocupação é um tipo
de tentação que entra pela porta do nosso coração e a gente dá um
tratamento de enorme hospitalidade. Convidamos a preocupação para
entrar e servimos para ela a nossa melhor refeição. Ela se alimenta e fica
bem forte. Ela parece ser inofensiva, mas com grande agilidade, vai
ganhando espaço e ganhando por inteiro nosso coração. E não dá para
sustentar a fé e a preocupação no mesmo espaço.
Já parou para pensar se começássemos a registrar tudo o que passa
pelos nossos pensamentos durante um dia, por exemplo? Certa vez fiz um
curso de aconselhamento bíblico em que um dos exercícios era exatamente
este: tentar colocar em uma tabela, livremente, o que está ocupando nosso
pensamento no desenrolar do tempo e, consequentemente, o nosso
coração. Preocupações com o futuro costumam estar predominando
nossos pensamentos: é o boleto, é a fatura, é mensalidade, é o gás que está
acabando, é a ida no supermercado que precisa ser feita. A preocupação
turva a nossa visão em relação à glória de Deus e quanto ao seu poder em
sustentar todas as coisas.
2. Gostaria muito de dizer que nós estamos em uma situação
onde estamos livres de todo estresse e ansiedade, mas esta não é a verdade.
Vivemos à beira da ansiedade, em seus diversos níveis. Todos nós sabemos
o que é virar de um lado para o outro da cama à noite, ficando sem dormir
por causa de coisas que nos preocupam. Todos sabemos como é perder o
apetite e não conseguir comer por causa do estresse (ou também comer
demais por causa da inquietação) e de um jeito ou outro, prejudicarmos
nossa saúde. A boa notícia é que Jesus entende. Jesus quer nos ajudar. Esta
passagem bíblica possui esta importância e utilidade. À luz do
ensinamento de Cristo, podemos estar seguros de que Deus não nos quer
prostrados por causa da falta de fé. Jesus está dizendo: tão somente confie
nas promessas que Deus fez para o nosso futuro. Olhe para a natureza, olhe
para a Palavra, olhe para Jesus e descanse na certeza de que Ele suprirá
todas as nossas necessidades.
3. Como deveríamos viver nesta terra? Esta é uma questão prática.
Creio que isso afeta cada um de nós. Precisamos viver, comer, beber, nos
vestir, e cuidar da nossa família. Mas qual é a primeira coisa para nós?
Vamos responder esta pergunta diante de Deus. Pense sobre isso! Quem é
o primeiro? O que é primeiro? Deus é o primeiro em nossa vida? O reino
de Deus é a primeira coisa em nossa busca? Isso é verdade? Se esse for o
caso então nosso Senhor diz: “Todas as demais coisas serão acrescentadas”.

Conclusão

“Eu comparo os problemas pelos quais temos que passar ao longo do ano a um
grande feixe de gravetos, grande demais para que possamos levantá-los. Mas Deus
não exige que carreguemos o todo de uma vez. Ele misericordiosamente desamarra
o fardo e nos dá primeiro um pedaço de pau, que devemos carregar hoje, e depois
outro, que devemos carregar amanhã, e assim por diante. Isso poderíamos
facilmente administrar, se apenas assumíssemos o fardo que nos é designado a cada
dia; mas optamos por aumentar nossos problemas carregando a vara de ontem
novamente hoje, e adicionando o fardo de amanhã à nossa carga, antes de sermos
obrigados a carregá-lo” - John Newton

Soli Deo Gloria

Você também pode gostar