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Como citar este material:

GARCIA, Fabio Gallo. Como fazer investimentos 2. Rio de Janeiro: FGV, 2022.

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deste material são protegidos por direitos autorais e outros direitos de propriedade intelectual, de
forma que é proibida a reprodução no todo ou em parte, sem a devida autorização.
INTRODUÇÃO
Para ter uma melhor experiência de aprendizado, recomendamos
que você realize o “Curso 2: como fazer investimentos – básico” –, antes
de iniciar este. Aqui, trataremos da relação entre risco e retorno.
Abordaremos temas e conceitos necessários para que o investidor possa
realizar os seus investimentos de maneira correta, com mais segurança e
mais chances de sucesso. Nesse sentido, o objetivo é aprofundar
conhecimentos para a realização de investimentos.
Ao final do curso, você deverá saber responder:
 O que é uma carteira bem diversifica de ações?
 Qual a importância da correlação entre ativos?
 O que é risco sistemático?
 Vale a pena investir em ouro?
 O que é investimento exótico?
 Como investir em derivativos?
SUMÁRIO
MÓDULO I – CARTEIRA DE INVESTIMENTOS ................................................................................... 7

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 7
INVESTIMENTOS EM AÇÕES OU EM RENDA FIXA?......................................................................... 8

MÓDULO II – TIPOS DE INVESTIMENTOS ...................................................................................... 15

INVESTIMENTOS EM AÇÕES............................................................................................................15
Investimento em fundos de ações ........................................................................................16
Investimento direto na Bolsa de Valores..............................................................................17
INVESTIMENTOS EM DERIVADOS ...................................................................................................22
Mercado futuro ........................................................................................................................23
Mercado de opções .................................................................................................................24
INVESTIMENTOS EM OURO.............................................................................................................24
Estratégia de investimentos ...................................................................................................25
Modos de investir ....................................................................................................................25
Tributação .................................................................................................................................25
Investimentos exóticos ......................................................................................................26

MÓDULO III – PROPENSÃO AO RISCO ........................................................................................... 29

ESPECULAÇÃO ..................................................................................................................................29
INVESTIMENTO DE VALOR ..............................................................................................................30

CONLUSÃO ..................................................................................................................................... 33

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................ 35

PROFESSOR-AUTOR ....................................................................................................................... 36
MÓDULO I – CARTEIRA DE INVESTIMENTOS

Este módulo introduz ao leitor as diferenças entre o investimento em renda fixa e renda
variável; aborda a importância de saber compor uma carteira de investimentos composta por renda
fixa e variável, e a vantagem de diversificar o risco.

Introdução
Durante o trabalho, em uma pausa para o café, dois colegas interessados em investimento
conversam. Igor entende um pouco sobre fundos de investimentos e sente-se à vontade para montar
a sua própria carteira de ações. No entanto, aproveita o bate-papo para tirar algumas dúvidas com
Franco. Vamos acompanhar esse diálogo a seguir:

Igor

Estava lendo o jornal e vi que a Bolsa está barata, mesmo muito instável. Acho que o
momento de entrar no mercado é agora. O que você acha?

Franco

Igor, saiba que, quanto mais instável e, aparentemente, barato estiver o mercado, maior deve
ser a atenção no estabelecimento da nossa estratégia de investimentos. Investir nos
mercados em períodos de alta volatilidade exige um grau de conhecimento e de dedicação
maior do que em outros momentos. Maior volatilidade significa maior grau de risco!
Igor

Mas o que é volatilidade?

Franco

Volatilidade é a amplitude de mudança do preço no tempo. Uma grande alteração de preço


em curto período de tempo é considerada alta volatilidade.

Alta volatilidade significa um grande potencial de retorno ou de perda, uma vez que os preços
podem subir ou cair substancialmente. Por exemplo, quando os investidores ficam nervosos
alterando as suas posições em alta velocidade, temos um mercado com alta volatilidade. Nesse caso,
os investidores estão incertos sobre a direção futura do mercado de ações ou sobre a economia como
um todo e, consequentemente, alteram as suas posições com base em qualquer notícia.
Acompanhando a conversa de Igor e Franco, o assunto investimentos parece difícil, mas não
há nada tão complicado que não possamos entender com um pouco de dedicação. E é isso o que
vamos fazer agora!

Investimentos em ações ou em renda fixa?


Uma carteira bem diversificada de investimentos deve conter ações e renda fixa. O
balanceamento entre os dois tipos de ativos financeiros deve obedecer, primeiramente, ao objetivo
da carteira. Além disso, deve apresentar o grau de risco aceitável pelo investidor.
Você já deve ter ouvido dizer que devemos aplicar os recursos poupados em uma carteira. Isso é
muito importante! O investidor deve sempre dividir o montante que deseja aplicar em mais de uma
classe de ativos, diversificando os seus investimentos. Isso significa que ele obterá o retorno médio
ponderado dos retornos dos ativos investidos. Dessa forma, o risco da carteira não será a soma dos riscos.
Combinar títulos em carteiras reduz o risco total do investimento. Nesse caso, ativos com
retorno menor do que o esperado poderão ter a queda compensada, em algum grau, por ativos com
retorno superior ao esperado.
Um ativo pertencente a uma carteira, geralmente, possui menos risco do que o mesmo ativo
isoladamente. Investidores racionais preferem deter carteiras em vez de um único título.
Um ativo pode compensar a perda em outro, dependendo da correlação entre esses ativos. A
correlação verifica a tendência de duas variáveis moverem-se juntas, podendo ser positiva ou negativa.
No caso de dois ativos com alto grau de correlação positiva, se um cair mais que o esperado,
o outro também cairá. No caso de duas ações que tenham grau de correlação negativo, se uma cair
mais que o esperado, a outra subirá.

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Para ter uma ideia do comportamento da correlação entre alguns investimentos de nosso
mercado, vejamos o gráfico a seguir. O gráfico 1 apresenta, no período de 1995 até 2012, o
comportamento:
 do Ibovespa como representação da renda variável;
 do CDI como representação de renda fixa e
 da variação do dólar.

Gráfico 1 – Rentabilidade comparativa entre Ibovespa, CDI e Dólar

Observamos como pode ser realizada a diversificação de uma carteira. No que diz respeito
aos investimentos, também devemos ter cuidado com a estatística.
Para entender melhor, vejamos o gráfico que apresenta o rendimento bruto anual do Ibovespa
e do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), de 1995 até 2018.
O Ibovespa é o principal indicador do desempenho médio das cotações de mercado das ações
no Brasil, mede a evolução de preços das ações da [B]3 a bolsa de valores de São Paulo. Trata-se do
valor atual de uma carteira teórica de ações constituída em janeiro de 1968. O valor de carteira é
reajustado a todo instante – conforme as cotações se alteram, novos preços se refletem no índice.
Quando ouvimos dizer que a Bolsa caiu, significa que, naquele momento, o Ibovespa sofreu
queda. Em outros termos, na média, as ações negociadas na Bovespa tiveram uma queda.

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Gráfico 2 – Rendimento bruto anual do Ibovespa e do CDI

Será que foi mesmo? Uma primeira leitura do gráfico pode-nos levar a acreditar que, graças
à média de rentabilidade de 18% do Ibovespa, frente à média de 17% do CDI, a Bolsa, nesse
período, foi um investimento tão bom quanto a renda fixa.
Caso utilizemos as médias de rentabilidade de 18% do Ibovespa e de 17% do CDI para
verificar o retorno acumulado no período, obteremos os resultados apresentados na tabela 1:

Tabela 1 – Rentabilidade do Ibovespa e do CDI

Data IBOVESPA R$ 100,00 CDI R$ 100,00

1995 18,00% R$ 118,00 17,00% R$ 117,00

1996 18,00% R$ 139,24 17,00% R$ 136,89

1997 18,00% R$ 164,30 17,00% R$ 160,16

1998 18,00% R$ 193,88 17,00% R$ 187,39

1999 18,00% R$ 228,78 17,00% R$ 219,24

2000 18,00% R$ 269,96 17,00% R$ 256,52

2001 18,00% R$ 318,55 17,00% R$ 300,12

2002 18,00% R$ 375,89 17,00% R$ 351,15

2003 18,00% R$ 443,55 17,00% R$ 410,84

2004 18,00% R$ 523,38 17,00% R$ 480,68

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2005 18,00% R$ 617,59 17,00% R$ 562,40

2006 18,00% R$ 728,76 17,00% R$ 658,01

2007 18,00% R$ 859,94 17,00% R$ 769,87

2008 18,00% R$ 1.014,72 17,00% R$ 900,75

2009 18,00% R$ 1.197,37 17,00% R$ 1.053,87

2010 18,00% R$ 1.412,90 17,00% R$ 1.233,03

2011 18,00% R$ 1.667,22 17,00% R$ 1.442,65

2012 18,00% R$ 1.967,33 17,00% R$ 1.687,90

2012 18,00% R$ 2.321,44 17,00% R$ 1.974,84

2014 18,00% R$ 2.739,30 17,00% R$ 2.310,56

2015 18,00% R$ 3.232,38 17,00% R$ 2.703,36

2016 18,00% R$ 3.814,21 17,00% R$ 3.162,93

2017 18,00% R$ 3.918,94 17,00% R$ 3.241,05

2018 18,00% R$ 4.519,61 17,00% R$ 3.713,90

Retorno 4419,61% 3613,90%

Essa tabela apresenta resultados da aplicação de R$ 100,00, no início de 1995, que acumulam
rentabilidade até o último dia útil de 2018.
Aqui, precisamos fazer um alerta: cuidado com a estatística! A conclusão de que a
rentabilidade da Bolsa no período de 1995 a 2018 foi igual do que Renda Fixa não é verdadeira!
Para mostrar a verdadeira situação de retorno dessas classes de ativos, vejamos a tabela 2:

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Tabela 2 – Retorno efetivo do Ibovespa e do CDI

Data IBOVESPA R$ 100,00 CDI R$ 100,00

1995 -1,26% R$ 98,74 53,07% R$ 153,07

1996 63,76% R$ 161,69 27,13% R$ 194,60

1997 44,83% R$ 234,18 24,58% R$ 242,44

1998 -33,46% R$ 155,81 28,57% R$ 311,72

1999 151,93% R$ 392,54 25,13% R$ 390,05

2000 -10,72% R$ 350,47 17,32% R$ 457,60

2001 -11,02% R$ 311,84 17,29% R$ 536,70

2002 -17,01% R$ 258,80 19,11% R$ 639,25

2003 97,34% R$ 510,71 23,25% R$ 787,86

2004 17,81% R$ 601,67 16,17% R$ 915,29

2005 -3,57% R$ 580,19 19,00% R$ 1.089,20

2006 32,93% R$ 771,25 15,04% R$ 1.253,05

2007 43,65% R$ 1.107,90 11,82% R$ 1.401,16

2008 -41,22% R$ 651,22 12,36% R$ 1.574,32

2009 82,66% R$ 1.189,53 8,60% R$ 1.709,71

2010 1,04% R$ 1.201,90 9,75% R$ 1.876,43

2011 -18,11% R$ 984,23 11,60% R$ 2.094,00

2012 7,40% R$ 1.057,07 8,40% R$ 2.269,83

2013 -15,50% R$ 893,22 8,06% R$ 2.452,86

2014 -17,96% R$ 732,80 10,81% R$ 2.718,10

2015 -13,31% R$ 635,26 13,24% R$ 3.077,94

2016 38,93% R$ 882,57 14,00% R$ 3.508,80

2017 23,38% R$ 1.088,92 9,93% R$ 3.857,05

2018 15,03% R$ 1.252,58 6,42% R$ 4.104,70

Retorno 1152,58% 4004,70%

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A tabela 2 apresenta os resultados da Bolsa e do CDI ao aplicar a rentabilidade realmente
ocorrida em cada um dos períodos.
Agora, você deve estar se perguntando: investir em ações não é uma boa opção?
Ações também podem ser um bom investimento! Os resultados apresentados nas últimas
tabelas apenas nos mostram que não podemos confiar cegamente nas médias. Além disso, devemos
ter uma conduta mais cuidadosa quando estamos construindo nossa carteira de investimentos.

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MÓDULO II – TIPOS DE INVESTIMENTOS

Neste módulo, vamos analisar três tipos de investimentos em renda variável: ações, derivados e
ouro.

Investimentos em ações
Em mercado de capitais, existe uma máxima: “comprar na baixa e vender na alta”. No
entanto, saber quando é a baixa e quando é a alta não é tão simples. Mesmo para os especialistas no
mercado, é muito difícil identificar o momento exato de comprar ou vender uma ação.
Decidir sobre quais ações comprar passa, primeiramente, pela análise da sua perspectiva
acerca do investimento que está realizando. Devemo-nos perguntar sobre nossa intenção e o
horizonte de tempo no que diz respeito ao investimento em ações.
Existem dois tipos de ações – ordinárias e preferenciais. Para recordar os conceitos sobre ações
ordinárias e preferenciais, assim como outros conhecimentos gerais sobre investimentos, acesse o
“Curso 2: Como fazer investimentos – básico”.
Consideremos uma perspectiva de longo prazo e o interesse de obter um fluxo constante de
recebimentos, tais como dividendos, de forma geral. Nesse caso, o mais indicado será a ação preferencial.
Precisamos entender que quem compra uma ação vai ganhar ou perder conforme o seu
desempenho futuro. Quando compramos uma ação, estamos comprando expectativas, e não o seu
desempenho passado. Os ganhos realizados no passado podem não se repetir.
Quando investimos em ações, devemo-nos perguntar: devo aplicar o meu dinheiro
diretamente em ações ou fazê-lo por meio de um fundo de ações? O investimento direto depende
do nível de conhecimento e da disponibilidade de tempo.
Investimento em fundos de ações
Realizar investimentos por meio de fundos traz algumas vantagens, principalmente, para o
pequeno investidor. Algumas dessas vantagens são:
 gestão profissional;
 ganhos de escala;
 diversificação de risco;
 redução de custos;
 acesso fácil e
 flexibilidade.

Ao escolher um fundo mútuo de investimento, devemos considerar alguns fatores


importantes. Vejamos:

a) Desempenho
Ao avaliar o desempenho de um fundo, devemos levar em consideração a relação risco versus
retorno, ou seja, a rentabilidade face ao risco. Devemos ter cautela com ofertas de fundos que trazem
somente informação da sua rentabilidade, sem mencionar seu risco.
Uma das medidas de avaliação de fundos mais conhecidas é o índice Sharpe – índice que
verifica o desempenho do fundo comparando a relação entre risco e retorno. Usualmente, é
estabelecida uma taxa mínima de referência, por exemplo, a taxa do CDI. Quanto maior o índice,
maior será a eficiência do fundo em relação ao risco assumido.
Consultar os dados dos rankings da Anbima – Associação Brasileira das Entidades dos
Mercados Financeiro e de Capitais –, a Revista Exame, entre outros, é mais uma forma adequada
de análise de fundos.

b) Gestão da carteira
Devemos estar cientes de qual é a prática de administração de ativos do gestor do fundo
analisado, ou seja, qual o modelo de gestão de ativos do fundo. Por exemplo, na gestão ativa, o
gestor altera, constantemente, a carteira buscando o seu melhor desempenho. Por outro lado, na
gestão passiva, a carteira é gerida buscando obter o mesmo resultado de um benchmark, por
exemplo, o Ibovespa. Com isso, estaremos cientes do risco a que estaremos sujeitos.

c) Alavancagem
Um fundo é considerado alavancado sempre que existir possibilidade de perda superior ao
seu patrimônio. O regulamento do fundo determina qual o limite de alavancagem, ou seja, se o
fundo pode assumir alavancagem ou perda na busca de maior rentabilidade.

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Há casos de alavancagem maior do que o patrimônio do fundo, por exemplo, 300%. Nesse
caso, o investidor pode perder toda a aplicação e ainda ter de despender recursos equivalentes a duas
vezes o montante inicialmente aplicado, para cobrir os prejuízos. Quanto mais alavancado estiver o
fundo, maior será o seu nível de risco.

d) Prospecto de venda
Documento explicativo do funcionamento do fundo que divulga ao público as principais
características relativas à política de investimento do fundo e aos riscos envolvidos.

e) Regulamento
O investidor será regido pelo regulamento, de forma que tem o direito de receber o
regulamento do fundo. O regulamento deve conter as normas, os direitos e deveres das partes, a
política de investimento, entre outras informações.

Investimento direto na Bolsa de Valores


Para criar nossa própria carteira de ações, precisamos ter alguns conhecimentos básicos e de
mercado. Vejamos:

a) Diversificação
Falamos várias vezes sobre a necessidade de diversificação da carteira, mas uma informação é
especialmente importante. Para uma carteira ser considerada bem diversificada, tem de ter um
mínimo de ações – de diferentes setores, devido à correlação. Isso porque o risco total das ações
pode ser dividido em duas partes:
 Risco diversificável – risco específico da empresa que é sistemático. É a parte do risco de
uma ação que é eliminada quando juntamos, na mesma carteira, várias ações.
 Risco não diversificável – risco sistemático, conhecido como Beta – β. É a parte do risco
total que permanece após diversificação.

b) Formas de análise de ações


São duas as chamadas escolas de análise de ações:
 Escola fundamentalista – os analistas fundamentalistas buscam avaliar o valor
intrínseco dos títulos por meio dos fundamentos da empresa. Esse valor depende das
condições macroeconômicas, setoriais e da própria empresa.
 Escola técnica – também conhecida como escola grafista. Pela análise de gráficos do
desempenho anterior das ações, os analistas técnicos avaliam se a tendência é de alta ou
de baixa da ação. A partir daí, determinam se é hora de vender ou comprar ações.

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c) Compra de ações
Vejamos um esquema da compra de ações:

Figura 1 – Fluxo de operações no mercado de capitais

O cliente pode optar entre dois caminhos para dar uma ordem de compra ou venda:
 o cliente dá a ordem à sua corretora, que atua no pregão da Bolsa de Valores ou
 o cliente atua diretamente no pregão por meio do home broker 1.

d) Tipos de ordens
Os investidores podem dar várias ordens específicas às suas corretoras:
 Ordem a mercado – determina somente a quantidade e as características dos títulos por
comprar ou vender. A ordem será executada ao preço de mercado vigente. A corretora
deverá executar a ordem a partir do momento que recebê-la.
 Ordem limitada – determina o preço máximo ou mínimo de compra ou venda. A
ordem será executada por preço igual ou melhor do que eles.
 Ordem administrada – o investidor especifica somente a quantidade e as características
dos valores mobiliários ou direitos que deseja comprar ou vender. A execução da ordem
ficará a critério da corretora.
 Ordem casada – compra de um título e venda de outro em conjunto.
 Ordem de financiamento – determina a ordem de compra ou venda de um título em
um mercado e, ao mesmo tempo, venda ou compra de título igual em outro mercado,
com vencimentos diferentes.
 Ordem de on-stop – especifica o nível de preço a partir do qual a ordem deve ser
executada. Uma ordem de compra deve ser executada a partir do momento em que:
 no caso de alta de preço, ocorra um negócio a preço igual ou superior ao preço
especificado e
 no caso de baixa de preço, ocorra um negócio a preço igual ou inferior ao preço
especificado.

1
Sistema via internet da [B]3 que permite que os investidores se conectem, diretamente, no pregão de títulos e valores
mobiliários. Isso que permite que as ordens de compra e venda sejam enviadas, via internet, por meio do site de uma corretora.

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 ordem discricionária – pessoa física ou jurídica que administra carteira de títulos e
valores mobiliários ou um representante de mais de um cliente, ambos com função de
estabelecer as condições de execução da ordem. Após executada, o ordenante irá indicar:
 o nome do investidor ou dos investidores;
 a quantidade de títulos ou valores mobiliários a ser atribuída a cada um deles e
 o preço.

e) Compra à vista e venda a termo


Pode ser de dois tipos:
 operações em margem – modalidade operacional em bolsas, no mercado à vista, pela
qual o investidor pode vender ações emprestadas por uma corretora ou tomar dinheiro
emprestado em uma corretora para a compra de ações, e
 banco de títulos BTC – serviço por meio do qual os investidores disponibilizam títulos
para empréstimo e os interessados os tomam, mediante aporte de garantias.

f) Momento de compra
Nem sempre é fácil determinar o momento certo de comprar, de forma que devemos entrar
no mercado operando dentro de uma estratégia traçada para nossa carteira. Atenção! Não devemos
nos deixar levar por momentos de euforia de mercado.

g) Momento de venda
Uma estratégia interessante para aproveitar bem as oportunidades é lançar mão da ordem de
on-stop. Esse tipo de estratégia permite aproveitar os possíveis ganhos, além de estabelecer um
patamar máximo de perda em determinada ação.

Exemplo

No caso de uma ação comprada por R$ 100, podemos estabelecer que o limite de perda
seja de 5%. Desse modo, podemos dar a ordem de on-stop ao corretor para que ele venda a
ação, sem nos consultar, quando o preço dela atingir R$ 95. Observemos a linha inferior
roxa no gráfico.

No caso de alta de preços, a ordem de on-stop poderá ser alterada para um valor mais alto. A
ordem pode ser alterada para cima conforme os preços da ação forem subindo. Observemos
a linha superior azul no gráfico.

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Figura 2 – Estratégia Stop-Losses

Dessa forma, a ação será vendida rapidamente quando o preço cair, e os ganhos serão
realizados enquanto o seu preço estiver em alta. Esse é o segredo para aumentar os
ganhos e diminuir os prejuízos. Deixar que o corretor efetue a venda sem consultá-lo inibe
a tentação de ficarmos esperando uma reversão da queda. Para isso, é imprescindível ser
um investidor ativo.

h) Bolsa de Valores
Tem o objetivo de manter organizado o mercado de títulos e de outros valores mobiliários –
ações, cupons de ações, debêntures e derivativos. Possui autonomia financeira, patrimonial e
administrativa, sob supervisão da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e seguindo as normas
do CMN (Conselho Monetário Nacional).
As bolsas de valores apresentam as cotações dos títulos, fiscalizam as corretoras e outros
agentes, divulgam informações sobre as empresas e sobre todos os negócios. Além disso,
proporcionam, ao mercado, liquidez e preços justos para os títulos negociados no seu ambiente.
Os objetivos da Bolsa de Valores são:
 manter o mercado livre, aberto e organizado;
 realizar o pregão;
 registrar e liquidar operações;
 ser um sistema de negociação que permita liquidez ao mercado;

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 fiscalizar o cumprimento das normas;
 divulgar as operações efetuadas e
 assegurar garantias aos títulos.

i) [B]3 Brasil, Bolsa, Balcão


A B3 S.A. é uma das maiores empresas provedoras de infraestrutura para o mercado financeiro
do mundo em valor de mercado, oferecendo serviços de negociação (bolsa), pós-negociação
(clearing), registro de operações de balcão e de financiamento de veículos e imóveis.
A B3 foi criada em março de 2017, a partir da combinação de atividades da
BM&FBOVESPA, bolsa de valores, mercadorias e futuros, com a CETIP – empresa prestadora de
serviços financeiros no mercado de balcão organizado. Essa combinação consolidou a atuação da
companhia como provedora de infraestrutura para o mercado financeiro, permitindo a ampliação
do leque de serviços e produtos oferecidos aos seus clientes, bem como a criação de eficiências para
a companhia e para o mercado.
A criação da Bolsa de Valores de São Paulo ocorreu em 23 de agosto de 1890. Organização
autorreguladora sob a Supervisão da CVM, desenvolve, implanta e provê sistemas para a negociação
de ações, derivativos de ações, títulos de renda fixa, títulos públicos federais, derivativos financeiros,
moedas à vista e commodities agropecuárias. Realiza registro, compensação e liquidação de ativos e
valores mobiliários. Tem o papel de fomentar o mercado de capitais brasileiro.

j) Direitos dos acionistas


Por possuírem ações de uma empresa, os acionistas têm uma série de direitos:
 Dividendos – parte do lucro obtido por uma empresa é reinvestida no próprio negócio,
e parte é distribuída aos acionistas na forma de dividendos em dinheiro.
 Juros sobre o capital próprio – em vez de distribuir dividendos, as empresas podem optar
por distribuir parte dos seus lucros pagando juros sobre o capital colocado pelos acionistas.
 Bonificação em ações – nas ocasiões em que as empresas aumentam o seu capital,
incorporando reservas e lucros, existe a possibilidade de que sejam distribuídas,
gratuitamente, novas ações aos atuais acionistas, proporcionalmente ao número de ações
que cada um possui.
 Desdobramento do número de ações – split – com o objetivo de aumentar a liquidez das
ações, a empresa pode provocar o desdobramento do número de ações. Isso não altera o
capital, mas modifica o valor unitário da ação. Por exemplo, quando o detentor de uma
ação passa a possuir cinco ações.
 Direito de subscrição – quando a empresa lança novas ações para aumentar o capital,
os atuais acionistas têm o direito de adquirir um lote proporcional ao número de
ações que já possuem.

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Saiba mais – tributação

Quadro 1 – Quadro de imposto de renda em ações

20% sobre os ganhos líquidos auferidos em operações de day-trade

15% sobre os ganhos líquidos auferidos nas alienações (venda) efetuadas

0,005% imposto de renda retido na fonte em operações de alienação (venda) de ações


no mercado à vista

1% imposto de renda retido na fonte sobre ganhos em operações de day-trade

Isenções – são isentos do imposto de renda os ganhos líquidos auferidos por pessoa física
em operações efetuadas com ações, no mercado à vista de bolsas de valores, se o total das
alienações realizadas no mês não exceder R$ 20.000,00.

Como calcular o imposto – o imposto é devido sobre o ganho líquido apurado, mês a mês,
nas operações realizadas.

Investimentos em derivados
Derivativos são ativos financeiros cujo valor é derivado do valor de outros instrumentos. Por
isso, investir em derivativos exige muito mais conhecimento em finanças do que os investidores
costumam ter. Conhecimentos profundos de matemática financeira são essenciais!
O mercado de derivativos é um paraíso para o especulador. Podemos ganhar muito dinheiro
com pouco investimento. Isso ocorre devido à alavancagem da operação.
Alavancagem é a possibilidade de aumentar os seus retornos sem utilizar mais dos seus recursos.
Ao conseguir um empréstimo e investir em ações, você está alavancado. Nesse caso, pode ganhar
muito, mas também pode perder muito. Os instrumentos derivativos são, em geral, de alavancagem.
O investidor pode entrar nesse mercado com uma pequena fração em relação ao valor total da
operação. No entanto, é preciso ter cuidado, uma vez que é possível perder todo o capital rapidamente.
Os mercados de derivativos mais conhecidos pelos investidores são: mercado futuro, mercado
a termo e mercado de opções. A seguir, veremos cada um deles em detalhes.

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Mercado futuro
No mercado futuro, há dois tipos de contratos – contrato a termo e contrato futuro. As
principais diferenças entre esses tipos são:
a) Contrato a termo
 operações típicas de balcão;
 contratos entre partes que estipulam valores, datas, moeda de liquidação, etc.;
 operações contratadas entre as partes e
 contratos a termo realizados em Bolsas de Valores, que são operadas no mercado de
balcão organizado.

b) Contrato futuro
 negociados em Bolsa;
 contrato padronizado;
 Bolsa de Valores é garantidora de todas as operações;
 Assim é chamada: Comprada de todos os vendidos e Vendida de todos os
comprados.
 Bolsa de Valores exige garantias que são o ajuste diário – as margens e os fundos de
garantia.

No entanto, existem outros tipos de derivativos, como swaps, collars, etc. O mercado futuro é
marcado pela negociação de ativos que serão entregues, no futuro, por um preço fixado na data de
negociação. Esses ativos podem ser ações, títulos de renda fixa, taxa de juros, produtos agrícolas,
moedas, etc.
É preciso ficar atento a um detalhe importante: nos contratos do mercado futuro, tanto o
vendedor quanto o comprador são obrigados a cumprir o combinado. A seguir, vejamos dois exemplos.

exemplo 1

Um produtor vende uma saca de café para entregá-la ao comprador em 30 dias. A saca de 60
kg vale hoje R$ 500,00. Para saber o preço futuro, somamos, ao valor à vista, o custo de
carregamento do produto – os juros sobre o capital investido e o custo de manter o café
estocado. Com isso, chegamos ao valor futuro de, por exemplo, R$ 530,00.

Ao assinar o contrato futuro, o investidor ou vendedor está se comprometendo a entregar a


saca de café, dentro de um mês, por R$ 530,00. Se ocorrer uma inesperada falta de café e o
valor da saca saltar para R$ 600,00, o investidor ou comprador vai receber somente o
combinado, R$ 530,00. Por outro lado, se o valor da saca de café cair para R$ 100,00, o
vendedor terá garantidos os R$ 530,00.

23
exemplo 2

Um investidor adquiriu uma opção de compra de ações da Vale, ao preço de R$ 58,00 na


BM&F Bovespa, com vencimento para daqui a um mês.

Na data marcada, o investidor deve decidir se irá exercer o contrato. Se optar por fazê-lo,
deverá pagar os R$ 58,00 por ação. Como esse investidor possui uma opção, só vai realizar a
compra se o preço da ação estiver acima de R$ 58,00 no vencimento. Caso contrário, irá
deixar o contrato expirar sem exercê-lo.

Mercado de opções
Obter ganhos com opções parece fácil, mas não é bem assim. Para sermos o titular de um
contrato de opções, temos de pagar um valor denominado prêmio. Em caso do não exercício da
opção, perdemos o valor inicialmente pago.
Vamos retomar o exemplo anterior. Digamos que o prêmio sobre cada ação da Vale tenha
sido de R$ 3,00. Lembre-se de que o preço de exercício da ação é de R$ 58,00.
Se essa ação estiver sendo negociada na Bolsa por R$ 100,00 no dia do vencimento do
contrato, nosso ganho será de R$ 39,00 por opção. No entanto, se ela estiver a R$ 10,00, teremos
perdido todo nosso investimento.
Investir em derivativos não é para qualquer um, já que os contratos são complexos e de difícil
entendimento. Desse modo, derivativos só devem ser utilizados por quem realmente os conhece e sabe
dos riscos que implicam. Se você deseja investir em derivativos, antes de qualquer coisa, estude muito.
Você sabe a diferença entre o mercado futuro e o mercado de opções? A principal diferença
entre o mercado futuro e o mercado de opções é que, nos mercados futuros, ambas as partes são
obrigadas a cumprir o contrato. Já no mercado de opções, não. O titular do contrato tem a opção
de exercê-lo ou não.

Investimentos em ouro
Em momentos de crise, o investimento em ouro é visto como um porto seguro. O ouro pode
ser mantido como reserva de valor. No entanto, com a modernização dos mercados e com
instrumentos financeiros mais sofisticados, hoje em dia, temos formas mais interessantes de
proteção do dinheiro.

24
Estratégia de investimentos
Para investir no mercado de ouro, devemos ter uma estratégia bem definida para a carteira.
É importante considerar que há risco de liquidez.
Ao analisar os preços do ouro ao longo dos últimos 20 anos, verificamos que, até o início de
2004, o preço ficou abaixo de US$ 10 mil o quilo; depois disso, esse valor não parou de subir. No
final de 2010, os preços estavam entre US$ 42 a 52 mil, mostrando volatilidade e atingindo o pico
em 2012, quando foi cotado a US$ 60 mil. A partir daí, perdeu folego. No segundo semestre de
2018, o preço do ouro caiu abaixo dos US$ 40 mil o quilo.

Modos de investir
Hoje em dia, comprar ouro é muito fácil. Embora seja um ativo de fácil aplicação no Brasil,
há baixa liquidez na negociação do ouro. Para investir em ouro, basta se cadastrar em uma corretora.
Os negócios ocorrem na [B]3 e o metal pode ser adquirido:
 em barras;
 fracionariamente – com variações de 1, 2, 5, 10, 25 –, na forma de lâminas e
 embutido em cartões, diretamente pela internet.

No entanto, não são todas as corretoras que negociam ouro.

Lembre-se! Qualquer metal preciso fora de custódia, para ser


negociado, deve passar por avaliação de empresa
especializada. Essa análise visa garantir o grau de pureza do
metal, e isso traz custos.

Existem duas maneiras básicas de investimento em ouro. Compramos o ouro e temos um lugar
seguro para guardá-lo ou contratamos uma instituição financeira para mantê-lo sob custódia. Além
disso, em vez de investir em barras de ouro físicas, podemos aplicar em títulos que têm como referência
o preço do ouro no mercado futuro e de opções. São os contratos financeiros da B3.

Tributação
Nas operações com ouro, a incidência de imposto de renda é de 15% sobre o ganho de capital.
Além do investimento em ouro, há outras formas de aplicação financeira fora dos mercados mais
tradicionais de títulos. São os chamados investimentos exóticos. A seguir, vamos conhece-los melhor.

25
Investimentos exóticos
Há outras formas de aplicação financeira fora dos mercados mais tradicionais de títulos. São
os denominados investimentos exóticos – investimentos em animais, vinhos e obras de arte. Vejamos:
a) Animais
É bem longa a lista de animais em que podemos investir: boi, avestruz, abelha, rã, chinchila,
escargot, jacaré, faisão, peixes, carneiro, coelho, frango de corte, galinha poedeira e outros.
A entrada no mercado de animais pode ocorrer de duas maneiras: tornando-se um criador ou
comprando cotas de participação de uma empresa que cria animais.
Cotas de participação têm como vantagem permitir que os investidores tenham acesso a esse
mercado com pequenos valores. O investidor assina um contrato de parceria com uma empresa
especializada, equivalente a certa quantidade de, por exemplo, arrobas de boi. O contrato garante
um percentual mínimo de retorno. A Comissão de Valores Mobiliários regula esse tipo de
investimento por meio de contratos de investimento coletivo.

Lembre-se! Esse mercado possui características próprias. Por


isso, é importante estudar bastante a forma de criação, os
prazos de engorda, as possíveis doenças e outros fatores.

Há inúmeros casos de empresas que ludibriaram muitos investidores. Mais do que em outros
investimentos, a aplicação em animais requer um conhecimento profundo das condições da
empresa que vai gerir o seu dinheiro.

b) Arte
Comprar obras de arte a título de investimento exige muito conhecimento desse mercado,
desde o tipo de obra de arte específica em que se pretende investir até o seu desempenho. Além
disso, devemos ter confiança no perito que atesta a autenticidade da obra, entre outros detalhes.
Se você é daqueles que olha para uma pintura e se pergunta “o que é isso?”, talvez seja melhor
evitar esse mercado.

Lembre-se! Um Picasso, um Matisse ou um Renoir só pode


ser comprado com muitos milhões de reais.

Podemos comprar obras de arte em galerias e leilões. Nos leilões, o ambiente e a competição
são estimulantes para o processo de compra, mas também há duas outras vantagens:
 A certeza de não estar comprando uma falsificação, ainda que devamos tomar algumas
precauções, como exigir contratos e certificações.
 O valor que pagamos é o preço pelo qual o mercado estava disposto a vender a peça.
Nesse sentido, os leilões funcionam como um termômetro do mercado.

Cuidado! Os riscos são altos, principalmente, os de liquidez.

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c) Vinhos
Outra modalidade de investimentos é aplicar em vinhos nobres. A aplicação pode ser feita
tanto diretamente ou por meio de fundos.
Vários fundos divulgam que a sua rentabilidade é muito boa, acima de 30% ao ano. No
entanto, estudos que comparam os fundos de investimentos em vinhos com fundos de renda fixa e
corrigem os valores mostram que não há ganhos efetivos.

27
MÓDULO III – PROPENSÃO AO RISCO

Neste módulo, vamos tratar da propensão do investidor ao risco.

Especulação
Para muitos, o termo especulação tem conotação ruim. No entanto, precisamos entender que
o especulador é um investidor com muito apetite para o risco. No mercado financeiro, especular é
um termo muito próximo a jogar. Dessa forma, jogamos esperando ganhar. Especular é para poucos.
Algumas condições são necessárias para quem quer ser um especulador:
 ter um montante razoável de dinheiro – existe o risco dessa quantia desaparecer
quando aplicada;
 possuir alta tolerância à volatilidade e
 suportar constantes alterações nos preços.

Aplicar em ambientes de alta volatilidade significa que estamos buscando uma recompensa.
Essa palavra é muito adequada justamente pelo fato de estarmos correndo alto grau de risco. Dessa
forma, queremos uma compensação pela grande exposição à perda.
Nessa hora, podemos cometer as maiores inconsequências, como comprar na alta e vender
na baixa, sair da posição quando os preços já estão no fundo do poço ou voltar para a posição de
alta quando os preços estão prestes a cair novamente.
Quando o ambiente dos mercados é de alta volatilidade, podemos segmentar – de maneira
simples e extremada – os investidores em dois tipos:
 Investidor médio – pessoas sem grandes conhecimentos sobre investimentos e que não
têm tempo para se dedicar às análises sobre empresas e mercados.
 Especulador – investidor, profissional ou não, que possui fortes conhecimentos de
mercado e tem disponibilidade de tempo para se dedicar as operações.

Podemos apelidar o perfil especulador de perfil James Bond. O especulador deve decidir de
maneira rápida e certeira, no entanto, a despeito desse apetite ao risco, investir dessa maneira requer:
 Conhecimento de mercado – o especulador precisa de conhecimento técnico – saber
ler os acontecimentos de mercado – para poder tomar decisões acertadas.
 Disciplina – o especulador necessita de disciplina, porque investir de forma especulativa
exige organização, ordem e sistematização.
 Tempo disponível – o tempo é fator importante para que o especulador possa ler muito,
realizar análises, buscar informações de mercado e estar sempre on-line com o mercado.
Enquanto aquele mercado estiver aberto, o especulador deve estar atuante.
 Timing – é o senso de agir no momento certo. Isso só se conquista com a experiência.

Tecnologia à disposição é essencial para o especulador. O investidor que opera com esse perfil
não dá muita atenção para a análise fundamentalista. A sua atuação é baseada em notícias de
mercado e análise técnica – gráficos são as suas fontes inspiradoras.
O especulador não se interessa pela diversificação dos investimentos. Se diversificar, ele
pode eliminar os ganhos de alguns investimentos com a perda em outros. Nesse caso, a carteira
teria um retorno normal.
No caso dos investidores médios, o grande erro que muitos podem cometer é abandonar as
suas estratégias de longo prazo por influência de flutuações de preços. Principalmente por falta de
conhecimento, muitos investidores com esse perfil não têm estratégia alguma para os seus
investimentos. A maioria sequer mantém uma carteira bem diversificada. Esses investidores adoram
dicas de cocheira e alteram as suas posições com base em qualquer notícia. Nesse caso, a chance de
sofrerem perdas é muito grande.

Investimento de valor
A filosofia de investimentos conhecida como investimento de valor é uma abordagem muito
adequada e diferenciada para o investidor com perfil de menor propensão ao risco, oposto do
especulador. O investimento de valor tem uma perspectiva de longo prazo. Essa abordagem possui duas
características que a definem e a distinguem de outras filosofias de investimentos: disciplina e paciência.

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Usualmente, o investidor de valor aplica o seu dinheiro em títulos que não são populares ou
que não são amplamente acompanhados pelos outros agentes de mercado. Por esse motivo, algumas
vezes, a abordagem de investimento de valor é descrita de maneira superficial.
Investimento de valor lida com conceitos de valor intrínseco, margem de segurança e análise
fundamental. Os conceitos são tratados, na literatura clássica, por Benjamin Graham e David Dodd
(1934) e por um dos seus maiores entusiastas, o megainvestidor Warren Buffett. Com bases nesses
conceitos, constrói a sua estrutura de análise e políticas de investimentos.
Vamos conhecer as duas regras básicas da filosofia de investimentos do megainvestidor e
Warren Buffett – investidor, industrialista e filantropo, nascido em Omaha, nos Estados Unidos,
em agosto de 1930. Mais bem-sucedido investidor no mundo, é o principal acionista, presidente
do conselho e diretor executivo da Berkshire Hathaway – companhia americana com vasta gama de
empresas. Vejamos:
 regra no 1 – nunca perca dinheiro e
 regra no 2 – nunca esqueça a regra no 1.

Outras duas frases mostram bem o seu pensamento:

Dou grande importância à certeza. Toda a noção de fator de risco não faz o
menor sentido para mim. Não se faz negócio quando o risco é significativo.
Mas não é arriscado comprar títulos por uma fração do seu valor real. O
risco está em não saber o que você está fazendo (LOWE, 2008, p. 105).

O investidor de valor deve mirar no longo prazo e entender que é essencial a estruturação de
uma estratégia de investimentos. Levar máximas de finanças ao pé da letra é um erro comumente
cometido por esse tipo de agente.
Por exemplo, investidor médio que assume como absoluto o mito que diz que sempre
devemos realizar o prejuízo, esquecendo que isso é algo feito dentro de uma estratégia, está
cometendo um erro. Não podemos confundir prejuízo econômico com prejuízo financeiro.
Sentimos no bolso apenas o segundo. Esse, sim, é irrecuperável.

31
CONLUSÃO

Investir e enriquecer com investimentos é o sonho das pessoas. O problema é que muitos
acreditam que isso é possível do dia para a noite. No entanto, sabemos que isso não é verdade.
Muitos investidores têm um conceito preexistente no seu modo de investir. Quem nunca ouviu
os famosos mitos dos investimentos, máximas em finanças ou mesmo axiomas de investimentos?
O traço comum de todos os mitos dos investimentos é que eles instigam nosso
comportamento, pois contêm algo de nossa natureza – esperança, ganância, medo. Esses mitos são
expostos ao longo de histórias, obviamente, de sucesso. Algumas delas vêm baseadas em testes
empíricos, outras contêm um personagem importante, como Paul Getty, que fez US$ 1 bi no início
do século XX, ou W. Buffett, presente em todas as listas dos mais ricos do mundo.
Sempre há verdades nessas histórias, mas elas nem sempre podem ser replicadas, uma vez que
dependem do ambiente econômico, do perfil do investidor e, até mesmo, do fator sorte.

Preocupação não é doença, mas sinal de saúde. Se você não está


preocupado, não está arriscando o bastante.
Somente compre ações que cresceram muito nos meses anteriores; esse
crescimento vai induzir outros a também comprarem. Será uma profecia
alto realizável.
Resista à tentação das diversificações.
Comprei na alta. Agora que caiu, vou comprar mais, porque, na média,
estou bem [sic].
O mercado, como Deus, ajuda aqueles que o ajudam.
Não importa o que os professores dizem
(Buffett. W.).
Muitas publicações ou cursos têm orientado os investidores com divisões predeterminadas para
definir a sua carteira de investimentos como se fossem máximas. São determinadas as porcentagens
para renda fixa e renda variável, e as classes de ativos, como se isso pudesse ser generalizado.
As pessoas têm rendas diferentes, modos diversos de viver as suas vidas, culturas diferentes, enfim,
condutas financeiras das mais diversas. Desse modo, como podemos preestabelecer combinações?
Investir exige muito planejamento, disciplina e conhecimento – essa receita é indicada para
todos. No entanto, como lidar com isso tudo? Uma boa saída para conviver com todo esse contexto
é lembrar-se de Aristóteles, que dizia: “A virtude está no meio”.
Chegamos ao fim deste curso! Espero que você esteja confiante para fazer os seus
investimentos. Em breve, veremo-nos no curso 5 da série sobre finanças pessoais. Até lá!

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BIBLIOGRAFIA
GARCIA, Fabio Gallo; EID JUNIOR, William. Como fazer Investimentos. São Paulo: Publifolha, 2001.

LOWE, Janet. Warren Buffett: Lições do maior de todos os investidores. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

Sites:
MINISTÉRIO DA ECONOMIA. Receita Federal. Disponível em:
< http://receita.economia.gov.br/ >. Acesso em: maio, 2019.

B3. Bolsa de Valores. Disponível em: < http://www.b3.com.br/pt_br/ >. Acesso em: maio, 2019.

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PROFESSOR-AUTOR
Fabio Gallo Garcia é doutor em Finanças pela FGV-EAESP/University of Texas at Austin,
doutorando em Filosofia pela PUC/SP, mestre em Administração Contábil e Financeira pela FGV-
EAESP, bacharel em Administração de Empresas pela Fundação Octávio Bastos e graduado em
Engenharia de Agrimensura pela Faculdade de Agrimensura de Pirassununga.
Dedica-se ao estudo das finanças internacionais e finanças comportamentais. Trabalha com
pesquisa na área da Teoria de Sinalização, em que explora a assimetria de informações no mercado
de capitais, além de desenvolver temas em Banking, Contabilidade Gerencial e Finanças Pessoais.
Tem realizado trabalhos de valuation, consultoria e treinamento para empresas, como
Telebras, Saeg, Comusa, Semasa, Vale, Petrobras, Itaú BBA, Itaú Unibanco, Bradesco, CEF,
Sincredi, Emae, Banco Santander, Citibank, entre outras.
Foi diretor administrativo-financeiro da Companhia de Processamento de Dados do Estado
de São Paulo (PRODESP), tendo exercido o cargo de chief financial officer da Eutectic, do Brasil, e
de outras empresas de grande porte. Atuou como vice-reitor da PUC/SP. Atualmente, é sócio da
Sinalização e Arte, Comunicação Visual, All Signs, Giolaser Itaim e Axia Valorem Consultoria.
Também é membro do Conselho de Administração da Rossi Residencial e Conselho Fiscal da
Azevedo & Travassos.

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