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XXX Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música – Campina Grande – 2020

Música na Idade Média: texto e melodia a serviço de Deus

MODALIDADE: COMUNICAÇÃO

SUBÁREA: História da Música

Bruna Borges de Mello


Unicamp – b256886@dac.unicamp.br

Resumo. O presente artigo abordará as primícias da música na igreja e do canto gregoriano, tal como
seu desenvolvimento e expansão por toda Europa. O trabalho foi realizado com uma revisão
bibliográfica dos principais autores sobre história da música, tais como Grout e Palisca, Massin e
Pahlen, assim como duas bibliografias em inglês com os autores Jeffery e Knighton e Fallows. Com
base na obra desses autores, é possível concluir que a música sacra evoluiu juntamente com a
propagação do cristianismo e perdurou até os dias de hoje, ainda que em menor dimensão.

Palavras-chave. Música na idade média. Canto gregoriano. Monodia.

1. Introdução (tamanho 12 negrito, espaçamento 1,5 justificado, recuo 2 cm)


Esse trabalho tem como objetivo analisar e entender o surgimento da música na
Igreja, assim como as características que ela absorveu de outras culturas durante sua formação.
Segundo Jeffery (2018):

A música da Europa Ocidental medieval foi criada com a ajuda de três legados de
civilizações mais antigas: a filosofia e o aprendizado da Grécia antiga, a poesia e
narrativas do antigo Israel e a síntese cultural da Igreja primitiva. (...) Foi no período
carolíngio, durante o reinado de Carlos Magno e seus sucessores, que os elementos
herdados dessas três culturas foram reunidos pela primeira vez e moldados na
recensão franca do canto gregoriano - a primeira fielmente música medieval.
(JEFFERY, 2018, p.58)

Nesse contexto, em se tratando de cantochão, o presente trabalho abordará somente


o canto gregoriano, ainda que tenham existido outros tipos.
Assim, será dividido em duas partes. A primeira parte apresentará o início da
música sacra e as influências da cultura judaica e grega, bem como as características da arte da
Grécia que a Igreja abstraiu de suas práticas como uma tentativa de afastar a população recém-
convertida de seu passado pagão. Ainda na primeira parte, o artigo citará brevemente os cantos
litúrgicos de outras regiões, como o galicano, ambrosiano e o moçárabe.
A segunda parte apresentará as características do canto gregoriano; seu surgimento,
expansão, apogeu, assim como seu declínio. De outro modo, falará sobre o desenvolvimento da
notação musical e, por fim, sobre seu repertório e seus principais serviços religiosos: a Missa e
o Ofício.

2. Primórdios da música sacra


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A história da música ocidental, segundo Grout e Palisca (2005, p.16), começa com
a música da Igreja Cristã. Nesse sentido, é possível afirmar que a humanidade sofreu a
influência da Igreja desde o princípio. No entanto, é necessário reconhecer que, antes de tudo,
a Igreja também foi influenciada pela cultura judaica. Como afirma Massin (1997):

A primeira liturgia cristã nasceu, de certa forma, de uma extensão do culto judaico.
De fato, os primeiros cristãos seguiam o culto na sinagoga, a que acrescentavam
cerimônias privadas eucarísticas. O primeiro canto cristão teve origem, portanto, no
canto hebraico. Comparando-se os cantos da igreja antiga com as melodias hebraicas,
é fácil constatar semelhanças evidentes. (MASSIN, 1997, p.137)

Dessa forma, Pahlen (1963, p.32) afirma que os primeiros crentes tentavam
expressar sua adoração a Deus por meio dos cânticos de louvor, contudo não conheciam
melodias que pudessem exprimir a pureza de seus pensamentos. Então, descreve a chegada do
apóstolo Pedro:

Em 54 chegou a Roma o apóstolo Pedro, que ensinou a jovem comunidade cristã a


rezar, alegrando as suas reuniões noturnas com a apresentação de estranhas melodias
de triste beleza e casto entusiasmo. Oriundas do Oriente, de Antioquia, onde Pedro
vivera muito tempo, eram melodias muito antigas, estreitamente ligadas aos cânticos
sagrados dos judeus (PAHLEN, 1963, p.32).

Assim, é possível perceber a atuação da cultura judaica na música cristã em diversos


aspectos, como por exemplo na importância do canto como meio de comunicação com Deus.
Por fim, esse canto, utilizado por quase mil anos, seria entoado pelos missionários como
instrumento de cristianização e seria levado aos pagãos como uma nova religião.
Por outro lado, a Igreja também absorveu aspectos da música grega. Contudo,
diferente dos outros campos artísticos (pintura, literatura, escultura), a música não era escrita.
Dessa forma, os artistas medievais não tinham perspectiva de como se comportava a música na
antiguidade, o que os incapacitava de estudar diretamente o modelo grego. No entanto, ainda
assim é possível identificar a influência da Grécia na música sacra. Em contrapartida, Grout e
Palisca afirmam que nem toda a cultura grega foi aproveitada:

Certos aspectos da vida musical antiga foram liminarmente rejeitados. Um desses


aspectos foi a ideia de cultivar a música apenas pelo prazer que tal arte proporciona.
E, acima de tudo, as formas e tipos de música associados aos grandes espetáculos
públicos, tais como festivais, concursos e representações teatrais, além da música
executada em situações de convívio mais íntimo, foram por muitos considerados
impróprios para a Igreja, não porque lhes desagradasse a música propriamente dita,
mas porque sentiam a necessidade de desviarem o número crescente dos convertidos
de tudo o que os ligava ao seu passado pagão. Esta atitude chegou mesmo a suscitar,
de início, uma grande desconfiança em relação a toda a música instrumental. (GROUT
e PALISCA, 2005, p.34)

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Esse conflito entre o sacro e o pagão tem raiz histórica e se repete durante o
crescimento da sociedade. Nesse sentido, nota-se que, no início, a Igreja era a minoria e tinha
como missão converter a população europeia para o cristianismo. Assim, a inflexibilidade
religiosa quanto à cultura profana se justifica na tentativa de afastamento da comunidade cristã
da sociedade pagã.
Parafraseando Grout e Palisca (2005, p.43), a única música que era digna de ser
ouvida na igreja era aquela que, por meio dos seus encantos, abria a alma aos ensinamentos
cristãos e a predispunha para pensamentos santos. Desse modo, é notória a influência grega,
uma vez que, na Grécia, a música era essencialmente vocal e sempre associada à poesia. Nesse
sentido, seguindo o pensamento medieval, a música sem letra não cumpre seu papel. Dessa
forma, a música instrumental teria sido excluída dos cultos públicos durante a Idade Média.
Ainda sobre a importância do texto no canto litúrgico, Massin (1997, p.134) afirma
que, além de servir como puro louvor, a outra função da música é servir como suporte das
palavras das Sagradas Escrituras escolhidas para a liturgia.
Outrossim, é necessário ter em mente que o conceito de “arte” não existia na
Europa. Dessa forma, o único propósito da música, da pintura e da poesia era servir a Deus.
Para os cristãos, o texto litúrgico e a melodia estavam indissoluvelmente ligados. Segundo
Knighton e Fallows (1992):

Esse aspecto melódico pode de fato ser musical, mas também serve a um propósito
eminentemente prático: tornar as palavras rituais audíveis, memoráveis, poderosas.
Através do canto, a palavra "viva" torna-se material, posta em movimento. É essa
vocalização especial que dá às palavras seu poder, a força simbólica que faz com que
alcancem o efeito desejado. (KNIGHTON e FALLOWS, 1992, p.101)

Nesse sentido, os missionários que percorriam as antigas estradas romanas levaram


esse canto para toda Europa ocidental. De acordo com Massin (1997, p.137), a liturgia cristã
desenvolveu-se rapidamente, em especial após o imperador Constantino, em 313, reconhecer o
cristianismo quando promulgou o édito de Milão. Desse modo, “à medida que a igreja cristã
primitiva se expandia de Jerusalém para a Ásia Menor e para o Ocidente, chegando a África e
à Europa, ia acumulando elementos musicais provenientes de diversas zonas.” (GROUT e
PALISCA, 2005, p.36)
Ainda que a forma principal de cântico eram os inspirados nas Sagradas Escrituras,
surgiram também textos não bíblicos. “Assim, desde muito cedo teve grande importância,
sobretudo nas Igrejas do Oriente, o canto dos hinos, composições poéticas mais ao gosto
popular e que serviam para a difusão doutrinal.” (SEIÇA, 2012, p.10)

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Os mosteiros e igrejas da Síria tiveram um papel importante no desenvolvimento do


canto dos salmos e dos hinos. Estes dois tipos de canto religioso parecem ter-se
difundido a partir da Síria, via Bizâncio, até Milão e outros centros ocidentais. O canto
dos hinos é a primeira atividade musical documentada da igreja cristã. (GROUT e
PALISCA, 2005, p.36)

Em 395, a unidade política do mundo foi desfeita com a divisão do Império Romano
em Ocidente e Oriente, tendo por capitais Roma e Bizâncio. Sobre isso, Grout e Palisca (2005)
afirmam:

No Ocidente, como no Oriente, as igrejas locais eram de início relativamente


independentes. Embora partilhassem, é claro, uma ampla gama de práticas comuns, é
provável que cada região do Ocidente tenha recebido a herança oriental sob uma
forma ligeiramente diferente; estas diferenças originais combinaram-se com as
condições locais particulares, dando origem a várias liturgias e corpos de cânticos
distintos (GROUT e PALISCA, 2005, p. 37,38)

Dessarte, Massin (1997, p.138) afirma ser errado o uso do termo “canto gregoriano”
para definir todas as formas de cantochão. Sobre o canto gregoriano ele ainda diz: “na verdade,
não passa de um dos ramos de um tronco feito de múltiplas liturgias, as quais a reforma do papa
Gregório I teve por objetivo afastar, numa tentativa de fazer adotar, pelo conjunto da
cristandade, a nova liturgia romana.”.
Isto posto, os outros cantos, como o galicano, o moçárabe e o ambrosiano, não
tiveram uma grande desenvoltura como o rito romano. Porém, é notável que exerceram certa
influência sobre o mencionado. Nessa perspectiva, com exceção do canto ambrosiano que se
preservou e se manteve até o presente em certos vales italianos, esses diferentes tipos de
cantochão foram, com o passar do tempo, sendo substituídos pelo canto gregoriano que se
impôs à cristandade oriental.

Depois de Carlos Magno ter sido coroado em 800 como chefe do Sacro Império
Romano, ele próprio e os seus sucessores procuraram impor este repertório gregoriano
e suprimir os diversos dialetos do cantochão, como o céltico, o galicano, o moçárabe,
o ambrosiano, mas não conseguiram eliminar por completo os usos locais. (GROUT
e PALISCA, 2005, p.40)

3. Canto Gregoriano
O canto gregoriano recebe esse nome em virtude do Papa Gregório I (590-604), que
ficou conhecido como o responsável por organizar o repertório litúrgico preservado nos mais
importantes manuscritos francos. Sobre o surgimento desse canto, Seiça (2012) diz:

É opinião maioritária entre os estudiosos que o tecido musical que designamos por
canto gregoriano seja o produto da fusão, ocorrida nos finais do séc. VIII e princípios
do séc. IX, entre a tradição romana e a galicana, no quadro cultural mais amplo da
Reforma Carolíngia, como sinal de unidade religiosa e política. Só mais tarde se dará
a este conjunto de obras o título de gregoriano – de modo a reforçar a autoridade do

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novo canto litúrgico, passa a ser apresentado e venerado como criação direta de uma
das mais proeminentes figuras da Igreja: S. Gregório Magno, papa entre 590 e 604
(SEIÇA, 2012, p.12)

Sabe-se que nos primeiros anos os cantos religiosos eram difundidos por meio da
tradição oral. Dessa forma, de acordo com Seiça (2012, p.8), “a ausência quase absoluta de
documentos musicais torna o conhecimento sobre o tipo de canto praticado pelas primeiras
comunidades cristãs muito escasso e baseado em conjecturas.” Seiça (2012) ainda descreve a
Schola cantorum, principal responsável pela conservação do repertório gregoriano:

Essa transmissão oral fez-se, sobretudo, pela mediação da Schola cantorum, grupo de
cantores especializados dos mosteiros e das catedrais, que, mercê de longos anos de
aprendizagem e prática quotidiana, são capazes de executar, de cor, o vasto repertório.
(SEIÇA, 2012, p.24)

Diante disso, a Schola cantorum foi a responsável por manter os cânticos vivos
durante muitos anos. Deve-se imaginar, nesse contexto, que a formação de cantores era fruto
de muito empenho e tempo, uma vez que a notação musical não era avançada.
Foi Guido d’Arezzo, no século IX, que desenvolveu um sistema de nomenclatura
para as notas baseado no hino Ut queant laxis, em que cada nota correspondia à primeira silaba
das frases do primeiro verso desse hino. Assim, o que hoje conhecemos como dó-ré-mi-fá-sol-
lá-si, surgiu primeiramente como ut-ré-mi-fá-sol-lá.

Como se acentuou, a partir do séc. IX, este novo canto, dotado de sistemas de notação
entretanto inventados, consolida-se e difunde-se, acabando por se tornar praticamente
hegemónico para a Igreja Católica de rito latino. Esta é a época de ouro do gregoriano,
na qual atingirá aquela perfeição formal, estilística, expressiva e litúrgica, que o
tornam num exemplo único e modelo para toda a música na celebração cristã. (SEIÇA,
2012, p.12)

No entanto, ainda não existia um sistema de notação musical; a única forma de


guardar esses cânticos era na memória. Nesse sentido, as primeiras tentativas de registro da
música foram com os cantores que usavam os acentos gráficos para guiar a proclamação dos
textos. Jeffery então afirma que esse hábito é originado da cultura grega:

Falantes do grego antigo aparentemente pronunciavam sílabas acentuadas em um tom


mais alto do que sílabas não acentuadas, de modo que se poderia dizer que o grego
tinha um acento agudo em vez de um acento tônico. Uma vez que um aluno tinha que
aprender a distinguir o alto do baixo, bem como o longo do curto, os textos
pedagógicos marcariam as sílabas agudas com um acento agudo; sua inclinação para
cima sugere visualmente um tom crescente (á é í ó ú). Sílabas não acentuadas podem
ser marcadas com o sinal oposto, o acento grave (à è ì ò ù). Para alguns gramáticos, o
acento agudo sugeria maior comprimento, bem como maior altura, o que contribuiu
para as maneiras como esses acentos são usados nas línguas românicas modernas. O
grego antigo também fazia uso do circunflexo (â ê î ô û), que combinava os acentos
agudo e grave para indicar uma pronúncia que começava em um tom agudo e depois
descia (JEFFERY, 2018, p.25)
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Nesse sentido, o registro musical era feito a partir de sinais gráficos sobrepostos ao
texto; esses sinais chamavam-se neumas. Como não se utilizava linhas de pauta, o sistema
servia como um lembrete das características fundamentais de uma melodia que já havia sido
aprendida, uma vez que não determinava a altura exata dos sons. Além disso, especula-se que
os cantores também improvisavam nos ensaios ou nas apresentações.
Dessa forma, Grout e Palisca (2005, p.59) afirmam que “a notação musical apenas
surgiu quando já se atingira uma considerável uniformidade no quadro da interpretação
improvisada. A notação, em suma, foi tanto uma consequência dessa uniformidade como um
meio de a perpetuar”
De outra parte, como dito anteriormente, a arte não era feita visando o prazer
próprio, mas sim como meio de devotar-se a Deus. Por essa razão, nota-se que os compositores
dos cantos gregorianos eram, em sua maioria, monges e padres em anonimato. Sobre isso, Giga
(1998) declara:

A arte não tinha carisma pessoal, mas sacramental. O artista procurava, antes de mais,
uma forma perfeita que correspondesse a paradigmas sagrados de inspiração celeste.
De acordo com essa mística, a música litúrgica devia, acima de tudo, refletir o sagrado,
a fé, os ensinamentos de Cristo e não apelar aos sentidos, às paixões humanas. (GIGA,
1998, p.350)

Além disso, o canto gregoriano não era composto de forma espontânea. Segundo
Seiça (2012):

(...) o canto gregoriano, diverso nas suas formas e estilos, assenta, no entanto, num
conjunto de fórmulas rítmicas e melódicas, que não só serviam para o compositor
elaborar as obras musicais, como para os cantores as interpretarem: o conhecimento
perfeito de tais fórmulas (de entoação, cadenciais, tônicas, modalmente vinculadas
etc.) permitia a fixação e a execução. Daí que, mesmo eventuais momentos de
improvisação a cargo dos solistas virtuosos, a quem competia o canto das partes mais
complexas, estivessem enquadrados. (SEIÇA, 2012, p.24)

Doravante, falaremos sobre as características do canto gregoriano: é essencialmente


vocal, monódico, sem contraponto e com um ritmo que corresponde ao próprio ritmo do texto,
da fala. Durante toda a Idade Média, a monofonia será a principal forma de composição. Assim,
ainda que os primórdios da polifonia pertencem ao final da era medieval, ela teria seu apogeu
somente no Renascimento.
Em vista disso, o repertório gregoriano “constitui um conjunto muitíssimo vasto e
heterogêneo de melodias, diversas em razão do uso litúrgico, do estilo compositivo e do
contexto histórico da sua elaboração” (SEIÇA, 2012, p.57). Dessa forma, os dois conjuntos
principais de serviços religiosos são a Missa e o Ofício.

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A Missa é o ato mais importante da Igreja e organiza-se em torno da Eucaristia;


normalmente se divide em próprio e ordinário. O próprio é executado de acordo com a época
do ano litúrgico, dessa forma, seu texto pode mudar. Já o ordinário tem texto fixo que se repete
em todas (ou quase todas) as celebrações. As partes que compõem o próprio são: Introito,
Gradual, Aleluia ou Tracto (esse cantado durante a quaresma), Ofertório e Comunhão. O
ordinário, por sua vez, é composto pelo Kyrie, Glória, Credo, Sanctus, Agnus Dei e Ite missa
est ou Benedicamus Domino.
Por outro lado, o Ofício, ou Liturgia das Horas, é celebrado todos os dias em certos
momentos mais significativos do ciclo diário.

O ofício, celebrado pelo clero secular e pelos membros das ordens religiosas, compõe-
se de orações, salmos, cânticos, antífonas, responsos, hinos e leituras. A música para
os ofícios está compilada num livro litúrgico chamado Antiphonale, ou Antifonário.
Os principais momentos musicais dos ofícios são o canto dos salmos, com as
respectivas antífonas, o canto dos hinos e dos cânticos e a entoação das lições
(passagens das Escrituras), com os respectivos responsórios. (GROUT e PALISCA,
2005, p.51)

4. Considerações finais
Tendo em vista o exposto, é possível afirmar que o desenvolvimento da música
sacra esteve intimamente atrelado ao desenvolvimento da religião cristã. Dessa forma, nota-se
que, a fim de afastar seus missionários do passado pagão, a Igreja excluiu de suas atividades
cada particularidade que retomava à cultura profana.
Desse mesmo modo, para os cristãos, o texto litúrgico e a melodia estavam
indissoluvelmente ligados. Assim, o canto gregoriano tinha como matriz os textos das Sagradas
Escrituras, uma vez que a música tinha como principal propósito servir a Deus.
Por fim, Pahlen, sobre o canto gregoriano, (1963, p.33) afirma que “por mil anos
encherá toda a história da música, estreitamente ligada ao desenvolvimento da religião cristã,
com seu triunfo e expansão no mundo.”
Referências

GIGA, Idalete - O simbolismo no canto gregoriano. Humanitas. Vol. 50 (1998)


GROUT, D. & PALISCA, C. História da Música Ocidental. Lisboa: Gradiva, 2005.
JEFFERY, P. (2018). Musical Legacies from the Ancient World. In M. Everist & T. Kelly
(Eds.), The Cambridge History of Medieval Music (The Cambridge History of Music, pp. 15-
68). Cambridge: Cambridge University Press. doi:10.1017/9780511979866.002
KNIGHTON, T. & FALLOWS, D. (ed). Companion to Medieval & Renaissance Music. New
York: Schirmer, 1992.
MASSIN, J. & B. História da Música Ocidental. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
PAHLEN, K. História Universal da Música. São Paulo: Melhoramentos, 1963
SEIÇA, Alberto Medina de. Introdução ao Canto Gregoriano. Coimbra, 2012.

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