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Aspectos Fisiológicos da Atividade Aérea e seus Riscos

O ser humano sempre foi impulsionado por desejos e desafios. Um dos


maiores sempre foi o de voar. Após inúmeras tentativas, finalmente
conseguimos chegar aos céus. Porem o ser humano, em sua fisiologia, não é
evoluído para o voo e por isso, problemas e situações adversas foram
observados, como ilusões, hipóxia e disbarismo. Com o passar do tempo, a
tecnologia embarcada se desenvolveu a tal ponto de um avião ser capaz de
fazer todo o voo de forma automatizada, porem, ainda sim se observa
acidentes e incidentes onde a percepção humana e seus sentidos, foram
fatores principais para o acidente.
A audição, visão e o equilíbrio são os principais sentidos humanos para
o voo. Porém, apesar de aguçados, eles também são passiveis de ilusões.
Entre os tipos mais comuns de ilusões temos as ilusões causadas por agentes
visuais e as ilusões vestibulares. Entre as visuais, podemos relacionar a
Autocinese, que é a ilusão de movimento e alteração de profundidade em
relação a um objeto durante noites muito escuras e olhar fixo em tal ponto; o
“Black Hole”, que é uma ilusão criada entre uma pista muito iluminada em
contraste com um entorno escuro, que pode causar a ilusão de se estar mais
alto que realmente está, levando o piloto a fazer uma rampa de aproximação
mais baixa que o normal e consequentemente fora do gabarito de segurança.
Existem ainda as ilusões causadas por terrenos uniformes, como o mar, que
causa uma falsa sensação de estar voando mais alto do que realmente se está.
Há também a ilusão quanto a largura de uma pista, que faz com que o
observador sinta que está mais alto ( pistas estreitas) ou mais baixo (pistas
largas) do que realmente está.
Já entre as vestibulares, observamos a ilusão de vertigem, que é a
sensação errada que se dá durante uma curva prolongada, de estar curvando
para o lado oposto ao real da curva; a ilusão somatográfica, que é a de estar
descendo, durante uma desaceleração brusca, ou de subida, em uma
aceleração elevada. Podemos citar também a ilusão de desnivelamento e o
espiral da morte. As duas passam a sensação de nivelamento da aeronave,
quando na verdade a mesma se encontra em curva.
Na aviação também podemos observar outros fenômenos do corpo
humano, como o disbarismo, que pode ser definido como um conjunto de
disfunções relacionadas a variação de pressão ambiente. Um dos mais comuns
na aviação é a hipóxia, que é uma suboxigenação das células, normalmente
causada por altitudes elevadas, onde a presença de oxigênio é menor. Para
evitar tal fenômeno, as aeronaves de alta performance são pressurizadas,
permitindo que a aeronave voe em grandes altitudes mantendo a pressão
interna a níveis baixos.
Nós, pilotos, temos que estar muito atentos para evitar que situações
como essas ocorram em nossos voos, principalmente os da hipoxia, que
considero o mais perigoso, por ser algo rápido e, na maioria das vezes,
silencioso. A história nos mostra casos onde vidas foram perdidas por causa do
efeito da hipoxia na tripulação, como é o caso do voo Helios 522, que em 2005
bateu em um morro ao norte de Atenas, Grécia, por falta de combustível, após
ter voado por mais de 3hs sem nenhum comando por parte dos pilotos, que
estavam desacordados devido aos efeitos da hipoxia, que começou logo após
a decolagem com a não pressurização da cabine.
Acredito que todos deveriam ter a chance de poder experimentar uma
câmara hipobárica, como a que tem no Instituto de Medicina Aeroespacial
Brigadeiro Médico Roberto Teixeira (IMAE), a fim de poder conhecer os efeitos
da hipoxia em seu organismo e assim saber identificar e combater com
antecedência tal ameaça.
Por ter de estar sempre atento, combatendo constantes ameaças
externas e internas, a profissão de aviador é uma profissão extremamente
desgastante e estressante. Isso faz com que surja mais uma ameaça,
silenciosa e decorrente também de todas essas acima citadas, que é o stress e
a fadiga. O stress, que está ligado a questões psicológicas, apesar de ser
inerente a profissão, deve ser controlado e monitorado, para que não evolua e
leve a casos mais sério, assim como a fadiga, que está ligada a questões
físicas, onde temos que controlar para que não chegue a uma fadiga crônica. A
fadiga e o stress podem ser causados por fatores individuais, ambientais,
organizacionais e operacionais, levando o individuo ao um estado de exaustão
física e mental, prejudicando-o na execução de suas tarefas, como também
influenciando todos ao seu redor. Uma tripulação onde o comandante está sob
estresse e fadiga é totalmente prejudicada e influenciada pelo mesmo,
diminuindo os níveis de segurança operacional e gerando mais estresse e
fadiga em todos a sua volta.
Por isso é de suma importância estarmos sempre atento as mais
diversas ameaças que possam surgi em nossos voos, nos preparando,
conhecendo nossos limites, cuidando de nossa saúde, nosso corpo, e
principalmente, nossa mente, pois é nela que está a solução para todas essas
ameaças.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DESORIENTAÇÃO ESPACIAL DE CAUSA VESTIBULAR NA AVIAÇÃO –


disponível em:
https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/25985/1/AnaMRodrigues.pdf
acesso em: 21/07/21

ILUSÃO SOMATOGRÁFICA NAS OPERAÇÕES AÉREAS: UMA ANÁLISE


DE TRÊS CASOS – disponível em:
https://www.riuni.unisul.br/handle/12345/10851
acesso em 20/07/21

FADIGA NO TRABALHO DE PILOTOS: UMA PSICOLOGIA SISTÊMICA DA


AVIAÇÃO CIVIL – disponível em:
https://bdtd.ucb.br:8443/jspui/bitstream/tede/2423/2/VictorRafaelRezendeC
elestinoTese2017.pdf
acesso em 21/07/21

FATORES HUMANOS NA AVIAÇÃO – disponível em:


https://www2.anac.gov.br/arquivos/carta/fatores_hum_ok.pdf
acesso em 22/07/21

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