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Ministério da Educação

Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul
campus Vacaria

IGOR DA SILVA FAGUNDES, VICENTI CIOTTA LIMA E YASMIN FERNANDES JARDIM

ABC das redes:


Implicações do determinismo tecnológico

Vacaria
2022
IGOR DA SILVA FAGUNDES, VICENTI CIOTTA LIMA E YASMIN FERNANDES
JARDIM
ABC das Redes:
Implicações do determinismo tecnológico

Projeto de Pesquisa apresentado para


conclusão do Componente Curricular de
Projeto de Formação e Integração do
Curso Técnico em Multimídia Integrado ao
Ensino Médio do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Rio
Grande do Sul, campus Vacaria.
Orientadora: Profª. Raquel Folmer
Corrêa
Coorientador: Prof. Adair Adams

Vacaria
2022
SUMÁRIO
1. Introdução 4
2. Desenvolvimento 5
2.1. Fundamentação teórica 5
2.1.1. Noções básicas 5
2.1.1.1. Adestramento, Busca e Cancelamento 5
2.1.1.2. Determinismo Tecnológico 7
2.1.2. Adestramento 8
2.1.2.1. Escolha 8
2.1.3. Busca 10
2.1.4 Cancelamento 10
2.2. Metodologia 10
2.3. Resultados da Investigação 10
5. Cronograma 11
6. Considerações finais 12
7. Referências 13
1. Introdução
No início do século XXI presenciamos um crescimento eufórico de uso em
todas as redes sociais, principalmente naquelas que grande parte da população está
inserida. Tais instrumentos já eram muito utilizados e com a pandemia tiveram uma
multiplicação no seu uso, juntamente a isso conseguimos notar um “modus
operandi” explícito vindo das mesmas.

Com este trabalho buscamos estudar e explicar como funcionalidades


presentes em redes sociais influenciam o comportamento de juventudes. Tendo
como base a obra de Jaron Lanier, categorizamos três ideias intimamente ligadas,
que ajudam a compreender essas relações entre redes sociais e comportamentos,
sendo esses: adestramento, busca e cancelamento.

As três categorias acima citadas podem ser percebidas ao observarmos


atentamente nossas atitudes dentro do mundo tecnológico, afinal, estamos
constantemente buscando likes, comentários e os famosos “biscoitos”, além de
estarmos sempre a procurar aprovação social e submetendo-nos a uma
radicalização das nossas opiniões durante esse período.

No presente momento, nossas intenções com o estudo da obra Dez


Argumentos para Você Deletar Agora suas Redes Sociais" e os conceitos aqui
abordados visam a divulgação dos problemas trazidos pelas funcionalidades criadas
para facilitação de nossa comunicação que acabam propiciando a manipulação e
afetando de forma preocupante as nossas juventudes.

Tem-se consciência de que muitas grandes empresas aprenderam, com o


passar dos anos, a manipular dados, a descobrir como os algoritmos podem dirigir
nossas escolhas para o que eles querem que nós escolhamos. Entre essas
empresas, temos a Meta, anteriormente conhecida como Facebook e uma
importante usuária de tal artimanha. Afinal, tal como indica Lanier (2018) durante
sua obra: “O problema não é uma tecnologia específica, mas o uso da tecnologia
para manipular pessoas” (p. 56).

Tendo em vista esse conhecimento adquirido pelas empresas tecnológicas na


atualidade, o objetivo principal deste trabalho é compreender a influência que
funcionalidades da Meta exercem sobre juventudes.
Os objetivos específicos são:

● Investigar se a Meta utiliza as ferramentas de suas redes sociais para


influência em comportamentos de juventudes de 12 a 18 anos;
● Relatar como a Meta utiliza as funcionalidades de suas redes sociais
para a influência em comportamentos de juventudes de 12 a 18 anos
ao: redirecionar suas escolhas, intensificar sua busca por validação
social e radicalizar suas opiniões mediante a disseminação da “cultura”
do cancelamento;
● Apresentar à comunidade acadêmica do campus Vacaria sobre as
maneiras na qual a Meta utiliza as funcionalidades de suas redes
sociais para influência em comportamentos de juventudes de 12 a 18
anos.

2. Desenvolvimento

2.1. Fundamentação teórica

O trabalho apresentado é um estudo para a realização de uma pesquisa para


examinar possibilidades de promover posicionamentos críticos sobre como a Meta,
por meio das funcionalidades de suas redes sociais, pode influenciar juventudes do
Ensino Médio Integrado.
Portanto, é importante ressaltar que trata-se de uma pesquisa bibliográfica. E
os conceitos a serem abordados dentro da fundamentação teórica desta pesquisa
são: adestramento, busca, cancelamento, determinismo tecnológico e escolha.

2.1.1. Noções básicas

2.1.1.1. Adestramento, Busca e Cancelamento


Após a leitura do livro "Dez Argumentos para Você Deletar Agora suas Redes
Sociais", escrito pelo cientista da computação Jaron Lanier, destacamos três
elementos que são intrínsecos para a influência em comportamentos: Adestramento,
Busca e Cancelamento.

Jaron defende que a influência em comportamentos sempre existiu e passou


a ser normal, seja ela em nossos relacionamentos interpessoais ou até com os
próprios anunciantes. Interferimos no comportamento de pessoas o tempo todo e,
talvez, quando há uma interferência mútua possamos chamar isso de amor.
Anunciantes também tentaram por muito tempo influenciar nossos comportamentos:
com propagandas nas TVs, antes delas nas rádios, antes nos jornais, etc. Portanto,
o autor considera que "[...] o problema não é a mudança comportamental em si. O
problema é quando isso acontece de maneira implacável, robótica e, no fim das
contas, sem sentido [...]" (JARON, 2018, p. 36). Todo esse funcionamento de
influência é administrado por códigos computacionais, podendo ser chamados de
algoritmos, feitos por programadores, técnicos e demais agentes da área.

Sabendo disso, antes do algoritmo partir para a influência em


comportamentos dos usuários, ela precisa reter nossas informações. Essa retenção
de dados irá acontecer de duas formas distintas: (i) a doação compulsória, quando
em qualquer rede social que a pessoa queira se cadastrar precisará colocar
informações pessoais obrigatoriamente, caso contrário não conseguirá fazer a conta
e (ii) por meio da vigilância constante que o algoritmo exerce sobre nós, na qual
"Estamos sendo rastreados e avaliados constantemente, [...]. Estamos sendo
hipnotizados pouco a pouco por técnicos que não podemos ver, para propósitos que
não conhecemos [...]" (LANIER, 2018, p. 13).
Após obter e correlacionar os dados de todas as pessoas, individualmente e
entre elas, os algoritmos partem para a influência em comportamentos. Esse
processo pode ser categorizado em três etapas.

Inicialmente, no Adestramento há um controle no que cada pessoa irá ver ou


não, as redes sociais chamam isso de "feed" ou "timeline", sabendo disso:

"Vamos supor que um algoritmo esteja lhe mostrando uma oportunidade de


comprar alguma coisa cinco segundos depois de você ter visto um vídeo de
gato muito divertido. De vez em quando, um algoritmo adaptável fará um
teste automático para descobrir o que acontece se o intervalo for mudado
para quatro segundos e meio, por exemplo. Será que isso aumentou a
probabilidade de você comprar? Se aumentou, esse ajuste no tempo pode
ser aplicado no futuro não apenas ao seu feed, mas aos de milhares de
outras pessoas que parecem estar correlacionadas a você por alguma
característica" (LANIER, 2018, p. 24).

Para explicar a Busca podemos usar o Experimento Milgram 1, que Lanier


também utiliza em seu livro. O estudo provou que o poder das opiniões de terceiros
foram fortes o suficiente para influenciar os comportamentos de pessoas sem
passagem pela polícia, forçando-as a aplicarem torturas, tudo por conta da pressão
constante de validação social. O mesmo processo vem acontecendo nas mídias
sociais: símbolos de recompensas somados aos feedbacks positivos de outras
pessoas sobre você influenciam o seu comportamento, por exemplo "Quando
recebem uma resposta lisonjeira a alguma publicação nas redes sociais, as pessoas
adquirem o hábito de postar mais." (LANIER, 2018, p. 22). Sean Parker, o primeiro
presidente do Facebook, observa que “Precisamos lhe dar uma pequena dose de
dopamina de vez em quando, porque alguém deu like ou comentou em uma foto ou
uma postagem, ou seja lá o que for [...] Isso é um circuito de feedback de validação
social” (ALLEN, 2017).

O Cancelamento é explicado como algo que corrompe as relações


interpessoais por conta da desinformação. De acordo com Chamath Palihapitiya, ex-

1 Conforme o artigo de Sandra Leal de Melo Dahia: “O experimento de Stanley Milgram realizado
originalmente em 1961, na Universidade de Yale, consistiu em levar sujeitos experimentais a aplicar
(falsos) choques elétricos gradativos até o limite de 450 volts em supostos aprendizes inocentes, sob
a falsa alegação de se verificar o efeito da punição sobre a aprendizagem. [...] Tais indivíduos, de
forma consistente, demonstraram um alto índice de submissão à autoridade do pesquisador ao
obedecerem à ordem de provocar choques elétricos, com a voltagem máxima, em indivíduos
inocentes.” (DAHIA, 2015)
vice-presidente de crescimento de usuários do Facebook, "Criamos ciclos de
feedback de curto prazo impulsionados pela dopamina que estão destruindo o
funcionamento da sociedade [...] Nenhum discurso civil, nenhuma cooperação;
apenas desinformação, inverdades." (BROWN, 2017). Todo esse funcionamento
mudou inclusive o modo que o próprio jornalismo passou a se comunicar com as
pessoas. As histórias passaram a priorizar os cliques e podem ser facilmente
removidas de contexto. O resultado disso, de acordo com Lanier (2018), é uma
desestabilização nas nossas relações sociais, em que o consumo de tantas Fake
News, memes e links questionáveis deixam as pessoas cada vez mais instáveis.
Devido a isto elas passam a ofender-se de maneira extremamente rápida, como se
quisessem entrar em brigas a todo momento, "parece que cada pequeno comentário
se torna uma competição por completa invalidação e destruição pessoal" (LANIER,
2018, p. 72)

2.1.1.2. Determinismo Tecnológico


O conceito de determinismo tecnológico neste projeto é apresentado pelo
filósofo Andrew Feenberg, que realiza importantes pesquisas sobre a tecnologia,
todas muito críticas e questionadoras no que diz respeito ao tema. Para
compreender as relações entre tecnologia e sociedade, realizamos a leitura de seu
texto "O que é Filosofia da Tecnologia?", na qual o autor apresenta o seguinte
quadro interpretativo:

Imagem 1 - Quadro que relaciona a tecnologia enquanto a sua autonomia e neutralidade.


Fonte: O que é a Filosofia da Tecnologia? (FEENBERG, 2003, p. 6)

No quadro acima, Feenberg relaciona a tecnologia quanto a sua autonomia


perante os humanos e a sua neutralidade na questão dos valores. Sobre as
determinações humanas sobre a tecnologia, o autor explica que sendo autônoma ela
tem uma independência para se desenvolver e evoluir sozinha. Já sendo
"humanamente controlada" ela ainda é dependente da humanidade para se
transformar. Na questão sobre seus valores, a classificação da neutralidade diz que
os meios e os fins estão completamente separados. Na "carregada de valores", é o
oposto dessa ideia. Como pode ser visto no quadro, o determinismo encontra-se no
quadrante superior esquerdo, sendo classificado como autônomo e neutro.

O determinismo tecnológico é uma corrente de pensamento muito difundida


na sociedade em que "a força motriz da história é o avanço tecnológico"
(FEENBERG, 2003, p. 6). Nesse caso é a tecnologia que controla os seres
humanos, ela utiliza dos conhecimentos do mundo natural para satisfazer as
necessidades mais básicas da humanidade, como a alimentação, locomoção,
abrigo, entre outros. Para exemplificar, atualmente há alguns aplicativos que
contabilizam quantos passos andamos ou copos de água tomamos em um dia e
ainda há outros que se tornaram essenciais para nós nos movermos a longas
distâncias. "As tecnologias como o automóvel estendem nossos pés enquanto os
computadores estendem nossa inteligência." (FEENBERG, 2003, p. 7). Ou seja,
essa procura para satisfazer as faculdades mais básicas humanas é o que estimula
os próprios avanços tecnológicos. Tudo para controlar nossas necessidades
essenciais.
2.1.2. Adestramento

2.1.2.1. Escolha
Para compreendermos o conceito de escolha que será utilizado no presente
trabalho, estudamos o filósofo e escritor francês Jean-Paul Sartre, que nos traz
algumas outras noções em seu livro "O Existencialismo é um Humanismo" para
entendê-la. Primeiramente, é preciso considerar que Sartre é um pensador que
representa o existencialismo, ou seja, suas ponderações acerca do tema são alheias
a qualquer ideia de religião ou fé.

Uma ideia essencial para o entendimento da escolha é o pensamento de que


"a existência precede a essência" (SARTRE, 1970, p. 4). No viés existencialista
significa que primeiramente nascemos, ou seja, passamos a existir, e apenas após
esse fato seguimos constantemente, por meio das escolhas, nos construindo e
lapidando a nossa própria essência, a "personalidade". Nessa perspectiva o ser
humano não é prisioneiro do seu próprio destino, mas sim é livre para decidir ser e
fazer o que quiser, ele que irá construir a si mesmo. Uma perspectiva humanista,
pois somos os legisladores de nós mesmos, mas claro, haverá consequências.

Ao rebater críticas aos seus pensamentos, Sartre também diz que "o homem
está condenado a ser livre." (1970, p. 7), não nos criamos e, ao sermos lançados no
mundo, seremos responsáveis pelo o que fizermos. Ou seja, tudo gira ao redor do
conceito da escolha e o seu resultado moldará nossa essência. Toda escolha
implica numa responsabilidade, o próprio fato de se isentar de escolher já é uma
decisão. A responsabilidade por suas escolhas leva o ser humano a ter sentimentos
de angústia, desespero e desamparo:

1. Angústia: na perspectiva sartriana o homem é "um legislador que escolhe


simultaneamente a si mesmo e a humanidade inteira" (SARTRE, 1970, p. 4).
Quando escolhemos, não fazemos isso apenas para nós mesmos, porque o
resultado dessas escolhas, sendo eles bons ou ruins, podem impactar
diversas pessoas, mas ainda além disso, essas decisões se tornarão
parâmetros para outros indivíduos;
2. Desespero: nós "só podemos contar com o que depende da nossa vontade"
(SARTRE, 1970, p. 8). Estamos completamente sozinhos em nossas próprias
escolhas, elas dependem apenas de nós mesmos;
3. Desamparo: "nós mesmos que escolhemos o nosso ser." (SARTRE, 1970, p.
7). Não estamos amparados por ninguém. Mesmo que busquemos conselhos
a terceiros, a escolha continuará sendo somente nossa e as
responsabilidades também. Não há outra pessoa para "apertar o botão da
escolha" por nós, estamos sozinhos.

Haverá também aquelas pessoas que responsabilizam outros pelas


consequências de suas escolhas. Esses são chamados por Sartre de pessoas de
má fé, ou seja, quem atribui suas escolhas a terceiros.

Porém o pensamento de Sartre encontra dois dilemas: o nascimento e a


morte. Não podemos escolher como ou onde nascer, somos jogados nesse lugar
que já tem suas próprias interpretações políticas, econômicas e linguísticas, essa é a
facticidade. Assim como também não escolhemos sobre a nossa morte: não há a
escolha de não morrer. Portanto, esses conceitos de Sartre encontram dois limites:
somos colocados neste mundo e seremos tirados dele sem qualquer escolha.

Em resumo, a prisão do ser humano é estar ligado a uma vida de escolhas,


que podemos construir a nós mesmos da maneira que quisermos, onde somos livres
para tudo, menos para deixarmos de sermos assim.

2.1.3. Busca

2.1.4 Cancelamento
2.2. Metodologia

A pesquisa é exploratória, de natureza básica, com abordagem qualitativa e


tem caráter teórico. Realizamos coleta de dados secundários disponíveis em livros e
artigos científicos. O tratamento dos dados ocorre por meio do método de análise
crítico-participativo com visão histórico estrutural (TRIVIÑOS, 1987). As juventudes
do Ensino Médio Integrado consideradas no estudo dizem respeito à comunidade
acadêmica do campus Vacaria. As redes sociais da Meta analisadas até o momento
são WhatsApp, Facebook e Instagram.
2.3. Resultados da Investigação
5. Cronograma
6. Considerações finais
7. Referências

ALLEN, Mike. Sean Parker unloads on Facebook: “God only knows what it's doing
to our children's brains” (2017). Disponível em:
<https://www.axios.com/2017/12/15/sean-parker-unloads-on-facebook-god-only-
knows-what-its-doing-to-our-childrens-brains-1513306792>. Acesso em: 31 de maio
de 2022.

BROWN, Jennings. Former Facebook Exec: “You Don’t Realize It But You Are
Being Programmed” (2017). Disponível em: <https://gizmodo.com/former-facebook-
exec-you-don-t-realize-it-but-you-are-1821181133>. Acesso em 31 de maio de 2022.

DAHIA, Sandra Leal de Melo. Da obediência ao consentimento: reflexões sobre o


experimento de Milgram à luz das instituições modernas (2015). Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/se/a/PWkPLyXbvd7TTYHq5MqNg8c/?lang=pt#>. Acesso
em: 29 de novembro de 2022.

FEENBERG, Andrew. O que é a Filosofia da Tecnologia? (2003). Disponível em:


<http://www.sfu.ca/~andrewf/>. Acesso em: 12 de maio de 2022.

LANIER, Jaron. Dez Argumentos Para Você Deletar Agora Suas Redes Sociais.
1ª Edição. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2018.

SARTRE, Jean-Paul. Existencialismo é um humanismo. Petrópolis/RJ: Vozes,


2012.

TRIVINÕS, Augusto. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais. A pesquisa


Qualitativa em Educação. São Paulo: Atlas, 1987.

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