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Resenha

Capítulo I(Práticas coloniais, ideias raciais e o papel da


psicologia, por Hildeberto Vieira Martins)
do livro Processos Psicológicos,
Organizado por Ana Cláudia Lima Monteiro.

“A pesquisa, o ensino e a formação no campo do que aqui


definimos sob a rubrica de saberes psicológicos (psicologia, psicanálise,
psiquiatria) esteve referenciado nos últimos séculos em um modelo
epistemológico e ontológico, de vertente europeia, que se assentava em
bases racional-positivistas e excluía ou desqualificava outras formas de
pensar os fenômenos considerados de ordem psicológica.”(pág 10) O
texto começa “desenhando” o meio hegemônico em que esse discurso
surge e se constrói ao decorrer do capítulo, ao mostrar a desvalorização
de ideias e práticas fora da Europa, o mundo em volta do Eu, a difusão
do individualismo na modernidade, e como tudo isso fomentou a
construção de um mundo etnocêntrico e “único”: “nova “visão de
mundo”, calcada em premissas epistemológicas fundadas na noção de
que “uma e só uma forma de conhecimento verdadeiro”(pág 10).
Com isso a declaração de um “mundo partido”, descrito em
predicados antitéticos: “centro” e “periferia”, “desenvolvidos” e “NÃO
desenvolvidos”, e suas já críticas pós movimentos de descolonização
são pontuais e de extrema relevância após o discurso do primeiro
parágrafo. E logo em seguida, é apresentado o termo “racismo
epistêmico”, a diminuição de outras práticas, ideias e matrizes fora do
campo etnocêntrico. E o que mais me interessa é o surgimento da
produção de diversos “estudos culturais / étnicos/ subalternos/
pós-coloniais” para investigar tal exclusão epistemológica, e levando ao
texto a expressão “giro decolonial”, levando um sentido cinemático e
emblemático para o termo, com uma carga extremamente recheada de
revolta e contra revolta, luta e paz.
“Intentamos demonstrar como a questão racial funcionou e ainda
funciona como um mecanismo fomentador de nossa ideia de Brasil e
que com isso nos torna o que somos, ou seja, uma sociedade marcada
pelo funcionamento de um “credo racial” à brasileira, o que para alguns
intelectuais mais otimistas promoveu uma “democracia racial” ou, por
outro lado, para os mais céticos, só evidencia um “racismo à brasileira”
(GUIMARÃES, 2005; SKIDMORE, 1976; TELLES, 2003).”(pág 12). E na
base hegemônica, que começou a busca pela solução do “problema
negro” no Brasil, que acabou nos marcando como sociedade, o credo
racial, o molde civilizatório. Assim, a produção científica seguiu a
mesma lógica colonialista, marcando o modelo eurocêntrico de
“ciência”. Os intelectuais da época estudavam o “problema negro” e
como seus efeitos influenciavam a sociedade brasileira, novamente,
seguindo uma base europeia, excluindo outras formas de enxergar o
mundo e o comportamento, formas essas que enxergam o indivíduo
como um ser social, um ser como produto de seu meio.
“‘Se a raça é uma categoria mental da modernidade, tem-se que
seu sentido moderno não tem história conhecida antes da
América’(QUIJANO, 2005 apud BALLESTRIN, 2013, grifo nosso)”(pág
14). O uso da ideia de raça(como classificação antropológica) se
enraíza no sujeito moderno, usado como forma de dominação e controle
e, com esse trecho, toda a ideia perpassada ao subcapítulo se encaixa
nessa frase, trazendo uma visão completamente direta e nova,
pessoalmente, quando li tal frase, sublinhei, circulei e anotei:”Uau!
Palmas!!”.
Portanto, os trechos que selecionei não são nada em comparação
com o texto do Hildeberto, toda a profundidade descrita é feita de uma
maneira clara, como num caminho em um campo escuro, que quanto
mais você anda, mais se depara com a grama, as árvores, os bichos, e
assim, acaba situado em total dimensão em tal “espaço”, livre de mais
uma corrente hegemônica.

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