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ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO NA FABRICAÇÃO DE

MÓVEIS EM UMA MOVELARIA DE PEQUENO PORTE

Lara Karine Dias Silva, UFRGS, larakads@gmail.com


Lucas Gomes Miranda Bispo, UFRGS, lucasbispoprod@gmail.com
Italo Rodeghiero Neto, UFRGS, italorneto@gmail.com
Fernando Gonçalves Amaral, UFRGS, amaral@producao.ufrgs.br

Palavras-chave: Posturas; RULA; REBA; Distúrbios osteomusculares.

Introdução

As recentes inovações organizacionais e tecnológicas advindas da globalização têm


provocado mudanças disruptivas na competitividade de mercado e no ambiente de trabalho,
influenciando diretamente nas relações dos trabalhadores. Esse novo contexto é caracterizado
com o aumento do ritmo de trabalho e da produtividade (LAUX et al., 2016), forçando
exigências para adaptação dos trabalhadores (CANDOTTI et al., 2011), que acarretam efeitos
negativos ao bem-estar e na saúde dos trabalhadores (BISPO et al., 2020).

Entretanto, muitas indústrias ainda exigem o trabalho manual intenso dos


trabalhadores (POLAT et al., 2016) para se manterem competitivas diante das mudanças
globais, como na indústria moveleira. Adoção de posturas estáticas desconfortáveis (flexão,
torção e agachado), atividades pesadas e repetitivas e que envolvem levantar, empurrar e
puxar cargas pesadas com frequência e forças exacerbadas para operar são aspectos
relacionados ao trabalho na movelaria. Devido a essas características, os trabalhadores estão
expostos a diversos fatores de risco que levam aos distúrbios osteomusculares relacionados ao
trabalho (DORT) (MIRKA et al., 2002; GUIMARÃES et al., 2015; SUHARDI; ASTUTI;
WIDODO, 2015; THETKATHUEK; MEEPRADIT, 2018). E, por isso, a incidência de
DORT neste setor é maior (BEVAN, 2015). Fatores como poeira, produtos químicos, ruído,
vibrações de ferramentas, máquinas perigosas, tráfego de veículos, incêndios e explosões,
estão frequentemente expostos (GUIMARÃES et al., 2015). A má postura de trabalho afeta
na produtividade e aumento de DORT em trabalhadores de movelarias (KALINKARA et al.,
2017) devido à alta carga de trabalho física que realizam nas atividades (SCHAUB et al.,
2012).
Quando relacionadas às empresas de pequeno porte, os trabalhadores estão ainda mais
expostos a fatores de riscos e sofrem com DORT (NEJAD et al., 2013; THETKATHUEK;
MEEPRADIT, 2018). Normalmente, os produtos fabricados nestas empresas geram maior
esforço físico devido serem pesados, volumosos e complicados de montar. Além disso,
possuem força de trabalho humana limitada, layout desorganizado e inadequado para o
maquinário, os trabalhadores são envolvidos em diversas atribuições e excessivo trabalho
manual (JAIN et al., 2021).

Para atender as necessidades das mudanças nos ambientes de trabalho, com o intuito
de acomodar os trabalhadores, a disciplina de ergonomia foi desenvolvida (NEUMANN et al.,
2021). A partir disso, ergonomia é a ciência que busca estudar e aplicar intervenções
(métodos, princípios e teorias) para melhorar o bem-estar dos trabalhadores dentro de um
sistema, e também o desempenho desse sistema (FERREIRA et al., 2017).

No Brasil, a AET é regulamentada pela norma NR 17 em que instaura os aspectos e


fatores mais importantes a serem considerados pela metodologia (BRASIL, 2021). Com isso,
auxilia tanto auditores fiscais quanto profissionais na área de saúde e segurança (ARAÚJO et
al., 2018). Recentemente, a NR 17 foi atualizada tendo como principal mudança a inserção da
etapa Análise Ergonômica Preliminar (AEP) na avaliação dos fatores de risco ergonômicos,
que antecede a realização da AET. Porém, os cincos aspectos para estudo das condições de
trabalho continuam os mesmos: organização do trabalho; levantamento, transporte e descarga
individual de cargas; mobiliário dos postos de trabalho; máquinas, equipamentos e
ferramentas manuais; e condições de conforto. Na prática da atuação do ergonomista, essa
mudança implementa na norma as demandas em que se deve aplicar a AET, para tornar as
análises mais objetivas e efetivas.

Estudos anteriores mostram a aplicação do método AET em processos de diferentes


setores para avaliar e melhorar as condições de trabalho dos trabalhadores, como da profissão
da docência (VIEIRA et al., 2020), produção de ferramentas (GUIMARÃES et al., 2018),
produção de produto químicos (SANTOS; SILVA, 2017), escritório administrativo
(SAMPAIO; BATISTA, 2021), distribuição de medicamentos (DUTRA; LAUREANO;
DUTRA, 2017), de jardinagem e paisagismo (MISKALO et al., 2017), tratamento de resíduos
na produção de aço (YAZIGI et al., 2015) cultura de moluscos marinhos (GUERTLER et al.,
2016), trabalho de costura na indústria de confecção (MHAMDI et al., 2015) e motoristas de
ônibus (ARAÚJO et al., 2018). Além disso, estudos mostraram que as etapas do método
podem auxiliar em outras aplicações, como na avaliação de risco de pacientes na atenção
primária à saúde (JATOBÁ et al., 2016), o impacto de um novo regime de horário em turno
de trabalho (CUNHA et al., 2020) e na avaliação das trocas de turno com e sem reunião (LE
BRIS et al., 2012).

Para extrair os dados da população estudada, algumas ferramentas podem ser


utilizadas a fim de identificar sintomas osteomusculares e as inadequações de posturas e
movimentos. Dentre os diversos métodos de avaliação, as técnicas observacionais têm sido
utilizadas com maior frequência (KEE, 2021). Souza e Mazini Filho (2017) utilizaram
questionários, RULA (Rapid Upper Limb Assessment), diagrama de corpo e checklist para
avaliar as características da função, as posturas e movimentos, dores e sobrecarga física dos
trabalhadores de um supermercado, respectivamente. Dal-pozzo et al. (2018) também
utilizaram o RULA para identificar postura e movimentos de trabalhadores na atividade em
torno mecânico. Enquanto Sahu et al. (2013), avaliaram as posturas de oleiros e escultores
através das ferramentas RULA e REBA (Rapid Entire Body Assessment), além do
questionário nórdico para avaliar o desconforto musculoesquelético.

Em relação à indústria moveleira, estudos utilizaram o método AET e outras


ferramentas para avaliar os fatores de risco em trabalhadores que levam a DORT e acidentes
de trabalho. Com o método OWAS (Ovako Working Posture Analysis System) descobriu-se
que os aspectos de ambiente de trabalho e projetos operacionais inadequados ocasionam alta
carga de trabalho e graves distúrbios físicos (ÖZKAYA; POLAT; KALINKARA, 2018). Os
métodos RULA (COLIM et al., 2020) e REBA (SUHARDI; ASTUTI; WIDODO, 2015)
indicaram que diferentes atividades (estáticas ou dinâmicas) no processo de transformações de
móveis têm alto nível de risco para os trabalhadores. O estudo de Colim et al. (2020)
verificou, através dos resultados dos escores do RULA, que a adoção de soluções robóticas
eliminou fatores de risco na fabricação de móveis.

Entretanto, a fabricação de móveis da empresa deste estudo de caso tem como


característica o trabalho manual em todo o processo produtivo e de pequeno porte,
ocasionando um maior número de fatores de risco aos trabalhadores. Diante do exposto, o
presente artigo teve como objetivo analisar as condições de trabalho de trabalhadores de uma
pequena empresa de movelaria. A partir de uma AET, as posturas e movimentos realizados
pelos trabalhadores no posto de trabalho foram avaliados, e puderem ser sugeridas melhorias.

Método

O presente trabalho se caracteriza como um estudo de caso, sendo uma pesquisa


exploratória com abordagem quali-quantitativa (SILVA; MENEZES, 2005). A metodologia
de Análise Ergonômica do Trabalho (AET) foi usada para realizar a análise das condições de
trabalho dos trabalhadores no posto de trabalho. Com isso, realizou-se o estudo da demanda, a
análise da atividade, análise da tarefa, o diagnóstico e as recomendações de melhorias
ergonômicas. A Figura 01 resume o procedimento realizado para o estudo.

Figura 01 – Procedimento das fases do estudo

Observação da organização do
trabalho e do processo produtivo:
registro feito com fotos e vídeos.

Recomendações de melhorias
ergonômicas.

Estudo das condições de trabalho


Aplicação de métodos para avaliar de forma geral.
as posturas dos trabalhadores.

Estudo das atividades prescritas.


Estudo das atividades realizadas
no posto de trabalho.

Fonte: Autores (2022)

Caracterização do ambiente e da amostra

O estudo foi realizado em uma empresa familiar de pequeno porte, que trabalha com o
varejo de móveis e eletrodomésticos. A análise do estudo de caso foi realizada no setor de
montagem de móveis, que compreende a oficina da fabricação, a garagem e o depósito para
mercadorias e embalagens. O local possui apenas uma abertura para luz e uma ventilação
natural através do portão principal de entrada. Entretanto, também conta com luz e ventilação
artificial. Os móveis não são fixos e sua disposição varia de acordo com a necessidade dos
funcionários, e até mesmo da quantidade de espaço livre.

O setor de montagem analisado possui 12 montadores da empresa, que ficam


distribuídos na fabricação dos produtos de acordo com as solicitações das ordens de serviço.
Desses, três funcionários aceitaram participar da pesquisa, respondendo aos questionamentos
sobre as condições de trabalho e sendo observados na atividade que executam.
Instrumentos e coleta de dados

A coleta de dados foi realizada em duas etapas principais. A primeira consistiu em


analisar in loco o posto de trabalho, onde foram feitos observações e registros em vídeos e
fotos do processo produtivo na fabricação de dois móveis. Nesta etapa, buscou-se identificar
as atividades e tarefas executadas e as posturas em que operadores se posicionavam nas
condições de trabalho, bem como outros aspectos que achavam relevantes relatar sobre o
modo operacional. Além disso, os funcionários foram entrevistados com intuito de extrair
informações sobre as condições de trabalho, e convidados a responder sobre percepção de
distúrbios osteomusculares por meio da versão adaptada do Nordic Musculoskeletal
Questionnaire (KUORINKA et al., 1987). Foi utilizada uma escala Likert de cinco níveis (1 -
Sem dor; 2 – Dor leve; 3 - Dor moderada; 4 - Dor forte; 5 - Dor extrema) para extrair as
percepções. Foram escolhidas a montagem de dois móveis: (i) móvel com dimensões
menores, executada em menor tempo e necessitando de um apoio na altura do trabalhador na
fabricação; e (ii) móvel com dimensões maiores, maior tempo de fabricação e as atividades
realizadas no chão do ambiente de trabalho.

A segunda etapa consistiu em analisar e caracterizar o trabalho de acordo com as


informações obtidas na etapa anterior. Com isso, foi possível compreender o fluxo de
processos de trabalho e identificar os problemas. Em seguida, foram definidos os métodos
para avaliar as posturas do trabalhador nos postos de trabalho. Os instrumentos utilizados
nesta pesquisa para averiguar as condições ergonômicas do trabalho foram baseados nos
conhecimentos da NR 17, que instituiu a realização da AET.

Primeiramente, utilizou-se o método OWAS com intuito de identificar as posturas


prejudiciais para os trabalhadores que permitem passar maior quantidade de tempo na
fabricação do móvel. A técnica de observação do trabalho OWAS foi desenvolvida a fim de
identificar e avaliar todo o corpo as posturas prejudiciais em quatro categorias: costas, braços,
pernas e carga levantada ou força utilizada. Os graus de nocividade das avaliações podem ser
agrupados em quatro categorias, sendo que quanto maior o grau, as intervenções ergonômicas
são mais urgentes: 1 - postura normal e sem necessidade de atenção; 2 - postura deve ser
considerada em próxima avaliação; 3 - postura precisava de atenção em futuro próximo; 4 -
postura precisava de atenção imediata. Uma das maneiras de avaliação da postura através do
OWAS é em relação a um intervalo de tempo fixo, em que neste trabalho foi definido em um
período de 15 segundos.

Após, foram aplicadas as metodologias RULA e REBA para o diagnóstico das


posturas prejudiciais identificadas pelo OWAS. Esses dois métodos são utilizados para avaliar
o estresse postural dos trabalhadores, em que os avaliadores pontuam as posturas de acordo
com as especificações das fichas de observações dos métodos. Com isso, é possível verificar a
necessidade de intervenções pelo nível de nocividade das posturas geradas pelas pontuações.

O método RULA foi desenvolvido para o uso de investigações ergonômicas nos locais
de trabalho com o intuito de quantificar e qualificar os fatores riscos posturais desenvolvidas
pelas atividades no pescoço, tronco e membros superiores através de observação direta, sendo
capaz de gerar uma lista de ações dirigidas a intervenções necessárias a reduzir as ameaças.
Para aplicação, as partes avaliadas são divididas em dois grupos: A, com os membros
superiores antebraços, braços e punhos; e o B, com os membros inferiores dos pés, pernas,
pescoço e tronco. Cada grupo tem uma tabela, e o avaliador pontua cada postura de acordo
com os ângulos da postura do trabalhador na execução da atividade, gerando um escore para
cada grupo. Os escores são somados em uma tabela adicional, e pontos adicionais são também
somados em relação ao movimento do trabalhador e carga movimentada. Por fim, é gerado
em outra tabela o escore final de acordo com as pontuações aplicadas. As pontuações (1 a 7)
são agrupadas em quatro níveis de ação: nível de ação 1 (pontuação 1-2), postura é aceitável
se não for mantido ou repetido por longos períodos; nível de ação 2 (pontuação 3-4),
necessária investigação e possíveis mudanças; nível de ação 3 (pontuação 5-6), necessária
investigação e mudanças em breve ou rápidas; e nível de ação 4 (pontuação maior que 7),
mudanças imediatas são necessárias.

O método REBA foi desenvolvido para suprir uma necessidade das ferramentas em ser
sensível ao tipo de posturas de trabalho imprevisíveis encontradas nos setores de saúde e
outros serviços. A avaliação postural inclui os antebraços, braços, pernas, pescoço, punho e
tronco. Permite avaliar a atividade muscular causada por posturas tanto dinâmicas quanto
estáticas, além de verificar a extensão da força exercida, mudanças rápidas ou instáveis e
efeito de acoplamento (interface homem-carga), através de observações prolongadas da
jornada de trabalho. Na aplicação prática, o método avalia em forma de pontuação dois
grupos corporais: grupo A, inclui tronco, pescoço e pernas; e grupo B a braço, antebraço e
pulso. Pontuações adicionais podem ser aplicadas em relação a carga/força e acoplamento. As
pontuações A e B são combinadas com uma tabela C (padronizada) para fornecer o escore
final, que pode ter acréscimo de pontuação adicional devido à atividade realizada. As
pontuações também são agrupadas em níveis de ação: 0 (pontuação 1-2) - risco insignificante,
não é necessária intervenção; 1 (pontuação 2-3) - risco baixo, podem ser necessárias ações
corretivas; 2 (pontuação 4-7) - risco médio, é necessária ação corretiva; 3 (pontuação 8-10) -
risco alto, ação corretiva; 4 (pontuação 11-15) - risco muito alto, ação corretiva imediata.
Resultados

A empresa se caracteriza como uma empresa familiar de pequeno porte, gerenciada


por uma sociedade de irmãos, que atua no setor de móveis e eletrodomésticos. A sede da
empresa fica localizada na cidade de Caetité, no sudoeste da Bahia, atuando há 61 anos de
mercado. Ainda conta com duas filiais localizadas em cidades circunvizinhas. Além da
fabricação e entrega dos produtos, a empresa possui como diferencial a montagem de
produtos a domicílio, quando necessário. Ainda, pode-se apontar que a empresa conta com
uma frota de carros, de pequeno, médio e grande porte, para realizar a entrega de seus
produtos.

A Tabela 1 apresenta as características de dois dos três trabalhadores entrevistados.


Todos são montadores do sexo masculino, casados, com filhos, que não realizam atividade
física e idade superior a 35 anos. Em relação ao trabalho, possuem carga horária de 44h
semanais e não tiveram treinamento para exercer o cargo, tendo ao menos 8 anos de
experiência no cargo. Desses, um deles possui outro emprego de caráter informal também no
setor de movelaria, para garantir uma maior renda.

Tabela 1 – Características dos trabalhadores participantes


Característica Trabalhador X Trabalhador Y
Gênero Masculino Masculino
Idade 59 54
Estado Civil Casado Casado
Quantidade de filhos 2 2
Realiza atividades físicas Não Não
Função Montador Montador
Teve treinamento para a função Não Não
Tempo na empresa (Anos) 16 24
Carga horária de trabalho semanal (Horas) 44 44
Outro emprego Sim Não
Fonte: Autores (2022)

Em relação ao desconforto muscular, a Figura 02 mostra a prevalência na percepção


das dores dos montadores. Observa-se que as dores mais intensas são relatadas nos membros
superiores, principalmente no pescoço, cervical, ombros e nas costas para os dois
trabalhadores. O trabalhador 1 indagou dor moderada nos tornozelos e pés, e dor leve nas
pernas. Enquanto que o trabalhador 2, relatou dor moderada nos joelhos e dor leve nos
punhos.
Figura 02 – Prevalência de dor nos trabalhadores: (a) trabalhador X; (b) trabalhador Y.

Legenda
Dor forte
Dor moderada
Dor leve
Sem dor
Fonte: Autores (2022)

Análise da demanda

Na análise da empresa do estudo de caso como um todo, foi possível verificar a


negligência em aspectos relacionados às ações ergonômicas para garantir condições de
trabalho, conforto e bem-estar dos funcionários. Desde o ambiente de trabalho, manuseio das
ferramentas e as atividades realizadas pelos trabalhadores na fabricação dos móveis foram
constatados problemas que requerem ações por parte dos gestores. Tanto que, durante as
entrevistas, uma das queixas mais recorrentes relatadas foram dores na coluna.

Nesse sentido, não há na empresa processos estabelecidos para a área de saúde e


segurança ocupacional (SSO) - não existe o setor específico de SSO, tendo por exemplo
problema com falta de equipamentos de proteção individual (EPI) adequados. A empresa
também não possui documentos com as descrições dos processos, dos cargos e funções, das
atividades, metas e aplicação de qualidade e norma nos projetos dos móveis.

Os montadores são a base operacional da empresa, exercendo funções que exigem


capacidade física intensa. Em alguns casos, eles próprios tiveram que realizar adaptações para
conseguir executar as atividades de forma mais confortável. Assim, são os principais
responsáveis pela sua saúde e segurança do trabalho. Por isso, há necessidade de atenção para
os trabalhadores e suas atividades executadas. A NR 17 aponta que é necessário avaliar
ergonomicamente as situações de trabalho de modo que o trabalho se adeque ao trabalhador e
não o contrário (BRASIL, 2021).

Desta forma, observa-se que a empresa demanda urgência na análise das condições de
trabalho para alcançar uma melhor forma de gestão para garantir SSO dos trabalhadores, pois
na atual situação há fatores de risco que podem estar causando dores musculoesqueléticas e
em casos de doenças mais graves a longo prazo. A atualização da norma NR 01 (BRASIL,
2020) obriga todas as empresas a atuarem de forma mais efetiva na gestão dos riscos, com a
implementação do Gerenciamento de Riscos Ocupacionais. Portanto, definiu-se ser necessário
aplicar a AET na fabricação de móveis da empresa com intuito de identificar quais as posturas
e movimentos mais prejudiciais em dois postos de trabalho.

Análise da tarefa

Para análise das atividades que devem ser realizadas, não foi possível ter acesso a
nenhum tipo de documentação referente à tarefa realizada. Desta forma, o montador realiza a
montagem e desmontagem de móveis de acordo com o projeto e normas pré-estabelecidas,
feitos pela própria indústria moveleira e órgãos reguladores. Não há nenhum tipo de
treinamento para a função de montador, os funcionários já sabem realizar a atividade ou
aprenderam com os colegas de trabalho.

No mapeamento do processo produtivo dividiu-se as atividades entre empresa e as


executadas pelo montador, apresentado na Figura 03. Quando cliente define móvel deseja, é
confirmada a compra e gerada ordem de serviço para o setor de montagem. As principais
atividades do montador é receber a ordem para conferir o projeto do móvel e iniciar a
montagem ao separar as matérias-primas. Uma etapa importante é onde ocorrerá a montagem
do móvel, pois influencia diretamente no ambiente de trabalho do montador, em que pode ser
na oficina da empresa ou a domicílio. Após finalização, entrega-se a ordem de serviço para
área administrativa da empresa. Caso tenha ocorrido tudo como o esperado na fase de
finalização, o montador retorna a empresa, onde separa novas matérias-primas. Devido a
configuração do processo produtivo pode-se caracterizar o layout como posicional, pois o
móvel fica fixo e o trabalhador que se move realizando as atividades e utilizando das
ferramentas específica para cada projeto. Vale ressaltar, que este estudo de caso ocorreu na
montagem de móveis na oficina da empresa.
Figura 03 - Mapeamento do processo produtivo da montagem de móveis.

Fonte: Autores (2022)

Análise da atividade

O ciclo de trabalho da montagem e a quantidade de trabalhadores no projeto do móvel


varia de acordo com o tamanho e complexidade do móvel. Assim, a fabricação pode levar
várias horas de trabalho em posição desconfortável. Além disso, as características do trabalho
podem ser classificadas em estáticas e dinâmicas, pois para alguns móveis o montador pode se
deslocar e agachar várias vezes; em outros, a montagem ocorre ficando parado, em pé e
realizando os trabalhados apenas com os membros superiores.

Além de realizarem a montagem, sua atividade de trabalho não se restringe a isso, pois
os funcionários também trabalham com transporte e carregamento da mercadoria. Ainda
foram constatados outros tipos de atividades e serviços que fogem da fabricação de móveis
realizados a cargo da empresa. Desta forma, foi possível verificar que a tarefa se difere da
atividade, mesmo não havendo um documento com tarefas estabelecidas. A quantidade de
trabalho é sazonal variando de acordo com a demanda do mercado, em algumas épocas há
necessidade de uma demanda maior, como por exemplo no natal.

No projeto do móvel com dimensões menores, o trabalho é realizado por um montador


e ocorre sobre uma bancada na altura da cintura do trabalhador. Segundo os trabalhadores, a
construção da mesa foi para facilitar o trabalho a fim de melhorar suas condições de trabalho,
em que a altura diminui a quantidade ou intensidade das posições desconfortáveis. O
montador realiza o trabalho utilizando predominantemente os membros superiores para
encaixar as partes do móvel. Para isso, usa parafusos, pregos, pinos e outras peças com auxílio
de ferramentas como martelo e furadeira. Com uso dessas ferramentas o móvel é construído
na horizontal, o trabalhador passa maior parte da atividade em posição inclinada. Há pequenos
deslocamentos quando é necessário pegar as partes do móvel e as ferramentas que ficam no
chão ou em outra bancada. O processo inicia com a montagem da base do móvel e encaixado
nas partes laterais. Após, os elementos do interior do móvel são encaixados até a extremidade
superior, que é finalizada com a móvel em posição horizontal. Vale ressaltar que o móvel se
trata de uma estante de nichos, não possui portas. Não houve qualquer comunicação e nem
pausas durante a fabricação do móvel. Vale ressaltar, que apenas a máscara facial (devido a
COVID-19) e botas foram utilizadas como EPI.

O móvel com dimensões maiores é construído em um apoio com peças de madeiras no


chão do local de trabalho, sendo montado por um montador e com tempo de fabricação três
vezes maior. Basicamente são utilizadas as mesmas ferramentas e peças de encaixe do móvel
menor, sendo o que diferencia é que se utiliza uma maior quantidade. O processo também
inicia com a montagem da base para apoiar a construção na posição vertical. Em seguida, são
encaixados nas laterais, as partes internas até a extremidade superior. Por último, foram
encaixados os elementos da parte de trás, as portas e gavetas. Para todo esse processo, o
trabalhador é obrigado a realizar diversos deslocamentos, pois as partes do móvel, as peças e
as ferramentas não ficam próximas. Além disso, é necessário ficar agachado em alguns
momentos para encaixar as partes inferiores. Já para as partes superiores, os braços ficam
levantados acima ou na mesma altura dos troncos enquanto se utiliza de diferentes
ferramentas. A montagem das gavetas e peças das portas são realizadas em uma bancada com
as mesmas características do da fabricação do móvel menor. O montador também só utilizava
máscara facial e botas como EPI.

Diagnóstico

Com a aplicação da metodologia ergonômica OWAS (Tabela 2), através da


observação do vídeo da montagem dos móveis pequeno e grande, foram verificadas todas as
posturas dos montadores durante todo processo produtivo, e a definição para análise das mais
prejudiciais em relação as que mais se repetem. Definiremos a nomenclatura PP para as
posturas do móvel pequeno e PG para as posturas do móvel grande. Para o móvel pequeno
foram identificadas 14 diferentes posturas, sendo as que mais se repetem: PP3 (22%), PP1
(18%), PP2 (15%) e PP4 (9%). A postura PP5 repetiu-se apenas duas vezes na fabricação,
mas inseriu-se na análise devido ao alto valor final na avaliação do OWAS. No móvel grande
foram identificadas 13 posturas, sendo as posturas PG1 e PG2 as que mais se repetem com
31% e 25% do tempo, respectivamente. As posturas PG3 (13%), PG4 (6,25%) e PG 5
(5,47%) também se repetiram. Já a postura PG6 se repetiu apenas quatro vezes durante o
tempo, e decidiu-se inserir na análise devido a avaliação do OWAS.

Tabela 2 - Resultado das posturas da avaliação do OWAS


Resultado das posturas da avaliação do OWAS

Móvel pequeno Móvel grande


Postura Dorso Braço Pernas Carga Postura Dorso Braço Pernas Carga
PP1 4 1 1 1 PG1 4 1 1 1
PP2 1 1 1 1 PG2 2 1 5 1
PP3 1 2 1 1 PG3 4 1 6 1
PP4 2 1 1 1 PG4 1 3 2 1
PP5 4 2 1 1 PG5 1 1 1 1
PG6 4 1 3 1
Fonte: Autores (2022)

Com as posturas prejudicais identificadas aplicou-se as metodologias RULA e o


REBA. Como se tratavam de posturas com repetitividade e significância, observou-se
algumas diferenças posturais em cada postura caracterizada pelo OWAS, ou seja, em uma
mesma postura definida avaliou-se diferentes momentos posturais. Assim, optou-se em
avaliar aquelas que visivelmente dentro do mesmo ciclo de tempo poderiam gerar maior
desconforto.

Pelos escores do RULA, foi possível observar quatro posturas preocupantes: PP22,
PP31, PP32 e PP42. O resultado indica nível de ação 3, onde são necessárias mudanças leves
e rápidas. Já escores gerados pelo REBA, indicaram as posturais mais prejudicais PP21, P31,
P32, P34 e as posturas PP4. O nível de ação é de risco alto (nível 3), indicando ser necessárias
ações corretivas. Foi possível perceber que algumas posturas com pontuações altas
apresentaram resultados semelhantes em ambos os métodos: PP21, PP31, PP32 e PP42.

A Figura 04 apresenta as atividades que são realizadas com as posturas prejudiciais.


Nas três primeiras posturas o trabalhador está realizando a atividade com o manuseio de uma
ferramenta que emite vibrações, sendo ainda necessário empregar um pouco de força física, e
em posição de pé. Na PP21 o trabalhador tem que ficar várias vezes em pé com o tronco
torcido para montagem do móvel e encaixe das peças. Enquanto na PP31 e PP32 o braço
direito fica de forma elevada, percebe-se ainda falta de apoio ao colocar força com uso da
ferramenta, sendo o braço esquerdo utilizado para isso. Na posição PP42, a atividade do
trabalhador é pegar matéria-prima para encaixe, inclinando sempre o corpo devido as peças
estarem distantes. Por isso, a atividade é realizada diversas vezes durante a fabricação.
Figura 04 – Posturas obtidas durante a realização da atividade: (a) PP21, (b) PP31, (c) PP32 e (d) PP42.

Fonte: Autores (2022)

As Tabelas 3 e 4 apresentam os resultados obtidos através da metodologia RULA e


REBA para o móvel pequeno, respectivamente.

Tabela 3 – Resultados do RULA para o móvel pequeno


RULA - Análise do móvel pequeno

PP1 PP2 PP3 PP4 PP5


PP 11 PP 21 PP 22 PP 31 PP 32 PP 33 PP 34 PP 41 PP 42 PP 51

A - Análise dos
Membros Superiores
e Punhos
Braços 2 2 3 5 5 2 2 3 3 4
Antebraços 2 3 3 3 3 3 2 3 3 3
Punho 2 2 3 2 3 2 2 2 2 2
Laterização do punho 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Tabela A 2 3 4 6 7 3 2 3 3 4
Pontuação do 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Trabalho Muscular
Pontuação da 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
força/carga adicional
Tabela C' 3 4 5 7 8 4 3 4 4 5
B - Análise de
Pescoço, Tronco e
Pernas
Pescoço 2 4 2 2 1 1 1 3 3 1
Tronco 3 3 3 2 1 2 5 3 4 3
Pernas 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Tabela B 3 3 3 2 1 1 4 3 4 2
Pontuação do 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Trabalho Muscular
Pontuação da 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
força/carga adicional
Tabela C'' 4 4 4 3 2 2 5 4 5 3
Pontuação final 4 4 5 6 5 3 4 4 5 4
Fonte: Autores (2022)

Tabela 4 - Resultados do REBA para o móvel pequeno


REBA -Análise do móvel pequeno

PP1 PP2 PP3 PP4 PP5


PP 11 PP 21 PP 22 PP 31 PP 32 PP 33 PP 34 PP 41 PP 42 PP 51

Grupo A:
Classificação do
tronco, pescoço e
pernas.
Tronco 3 4 3 2 1 2 5 3 4 3
Pescoço 2 3 2 2 1 1 1 3 3 2
Pernas 1 1 1 1 1 1 2 1 2 1
Grupo B: Avaliações
dos membros
superiores (braço,
antebraço e punho).
Braço 2 2 3 5 5 2 2 3 3 4
Antebraço 1 1 1 2 2 2 1 2 2 2
Punho 2 2 3 2 3 2 1 2 1 2
Quadro A 4 6 4 3 1 2 6 5 7 4
Quadro B 2 2 5 8 8 3 1 5 4 6
Classificação de carga 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
ou força
Pontuação do tipo de 1 1 0 1 1 1 0 1 0 0
aperto
Score A 4 6 4 3 1 2 6 5 7 4
Score B 3 3 5 9 9 4 1 6 4 6
Tabela C 4 6 5 7 6 3 6 7 8 6
Pontuação da 2 2 2 3 2 2 2 2 2 1
atividade
Pontuação Final 6 8 7 10 8 5 8 9 10 7
Fonte: Autores (2022)

Os escores das metodologias RULA e REBA identificaram resultados preocupantes,


indicando que a fabricação de móveis maiores são mais prejudiciais e podem gerar mais
desconfortos. Pelo RULA, as posturas PG 22 e PG41 tiveram maiores escores, tendo como
nível de ação 4, que indica necessidade de mudanças imediatas. Com exceção as posturas
PG13 e PG 42, os escores das outras posturas indicam necessidade de mudanças leves (nível
de ação 3). Os escores do REBA mostraram cinco posturas com altos valores: PG12, PG14,
PG22, PG41 e PG43. Esses resultados sugerem risco muito alto, levando a um nível de ação 4
para considerar mudanças imediatas.

A Figura 05 apresenta as tarefas realizadas pelos trabalhadores nas posturas com


pontuações altas obtidas em ambos os métodos. Nas posturas PG12 e PG14, o trabalhador
executa as atividades se apresentando de pé, utilizando ferramentas que vibram nas mãos e
utilize força que se percebe o uso intensivo dos ombros, braços e punhos, e que ainda ficam
com tronco torcido e pescoço inclinado. Essa atividade é realizada diversas vezes nos
encaixes das peças e ocorre na mesa próxima ao móvel que está sendo fabricado. Para a
PG22, o trabalhador se encontra agachado e curvado, rotacionado o punho para parafusar um
prego manualmente. Nesta mesma posição, pode-se utilizar a ferramenta furadeira para
encaixe de pregos e parafusos. Para as posturas P41 e P43, uma das pernas tem um ângulo de
dobra e se apoia no próprio móvel, também faz uso da furadeira em uma das mãos, com
braços e ombros sempre elevados.

Figura 05 – Posturas obtidas durante a realização da atividade: (a) PG12, (b) PG14, (c) PG22, (d) PG41
e (e) PG43

Fonte: Autores (2022)

As Tabelas 5 e 6 apresentam os resultados obtidos através da metodologia RULA e


REBA para o móvel grande, respectivamente.

Tabela 5 - Resultados do RULA para o móvel grande


RULA - Análise do móvel grande
PG1 PG2 PG3 PG4 PG5 PG6
PG 11 PG 12 PG 13 PG 14 PG 21 PG 22 PG 31 PG 32 PG 33 PG 41 PG 42 PG 43 PG 51 PG 61

A - Análise dos
Membros
Superiores e
Punhos
Braços 4 4 3 4 3 2 3 3 3 5 3 5 2 3
Antebraços 3 3 3 3 3 3 2 2 2 3 3 3 3 2
Punho 2 2 1 2 2 3 2 2 2 2 2 3 3 2
Laterização do 2 1 1 1 1 2 1 1 1 2 1 2 1 2
punho
Tabela A 5 4 2 4 3 4 3 3 3 7 3 7 4 3
Pontuação do 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Trabalho
Muscular
Pontuação da 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
força/carga
adicional
Tabela C' 6 5 3 5 4 5 4 4 4 8 4 8 5 4
B - Análise de
Pescoço, Tronco
e Pernas
Pescoço 4 4 4 4 2 3 2 2 3 3 1 2 1 2
Tronco 3 4 3 3 3 4 4 3 4 2 1 2 1 3
Pernas 1 1 1 1 2 2 2 2 1 2 2 2 1 2
Tabela B 3 4 3 3 4 5 5 4 4 3 2 2 1 4
Pontuação do 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Trabalho
Muscular
Pontuação da 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
força/carga
adicional
Tabela C'' 4 5 4 4 5 6 6 5 5 4 3 3 2 5
Pontuação final 6 6 4 5 5 7 6 5 5 7 3 6 4 5
Fonte: Autores (2022)

Tabela 6 - Resultados do REBA para o móvel grande


REBA - Análise do móvel grande

P1 P2 P3 P4 P5 P6
PG 11 PG 12 PG 13 PG 14 PG 21 PG 22 PG 31 PG 32 PG 33 PG 41 PG 42 PG 43 PG 51 PG 61

Grupo A:
Classificação do
tronco, pescoço
e pernas.
Tronco 3 5 2 4 3 4 5 4 4 2 1 2 1 4
Pescoço 3 3 3 3 2 3 1 1 2 2 1 2 1 2
Pernas 1 1 1 1 4 4 2 2 2 3 3 3 1 3
Grupo B:
Avaliações dos
membros
superiores
(braço,
antebraço e
punho).
Braço 4 5 3 2 4 3 3 3 3 5 3 4 3 3
Antebraço 2 2 1 2 2 1 1 2 2 2 2 2 2 1
Punho 3 2 2 3 2 3 1 1 1 3 3 3 2 3
Quadro A 5 7 4 6 7 9 6 5 6 5 3 5 1 7
Quadro B 7 8 4 7 6 5 3 4 4 8 5 7 5 5
Classificação de 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
carga ou força
Pontuação do 1 0 1 1 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1
tipo de aperto
Score A 5 7 4 6 7 9 6 5 6 5 3 5 1 7
Score B 8 8 5 8 6 5 3 4 4 9 6 8 6 6
Tabela C 8 10 5 9 9 10 6 5 7 14 9 13 3 9
Pontuação da 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 2 1
atividade
Pontuação Final 10 12 7 11 10 11 7 6 8 15 10 14 5 10
Fonte: Autores (2022)

Recomendações ergonômicas

Com o diagnóstico e a análise realizados nessa pesquisa, sugere-se algumas mudanças


ergonômicas, de layout e na organização do trabalho. Em relação ao ambiente de trabalho,
recomenda-se uma limpeza na oficina para aumentar espaço de trabalho e retirar materiais
desnecessários e sujeiras. Implementar como requisito de organização a não utilização do
espaço em agregar outros materiais, como motocicletas. Utilizar um depósito para
equipamentos e matéria-prima com dimensões maiores para separar do posto de trabalho,
tendo uma melhor organização do ambiente para movimentações. Para isso, também é
necessária uma gestão do estoque das matérias-primas. Essas ações visam fazer com que a
oficina seja apenas para o espaço do processo produtivo com maior efetividade.

Inserir prateleiras de disposição para os materiais menores com ajuste de altura dos
montadores a fim de evitar a inclinação e torção na busca por esses materiais, além do
ambiente ficar com maior espaço. Além disso, dispor as ferramentas em suportes na parede,
separando por tamanho e funcionalidade na altura dos trabalhadores, evitando agachar ou
colocar braços acima da cabeça. A mesa construída pelos montadores é essencial em facilitar
as tarefas realizadas, principalmente na montagem dos móveis menores, assim deve-se ser
reformada com objetivo se estar mais segura e ter melhor espaço de uso.

Uma das principais recomendações e com maior urgência é implementação de uma


gestão de risco para utilização de EPI adequados. É crucial para os montares esses
equipamentos para garantir sua segurança e saúde. Além disso, atualização da NR01, obriga
as empresas possuírem programa de prevenção a riscos ocupacionais. Para realização das
atividades é sugerida a rotação das atividades devido aos projetos serem únicos e terem
diferentes demandas ergonômicas e riscos. Como no caso dos móveis maiores, em que se
mostrou exigir maiores esforço físicos, podem ser realizados por dois ou mais montadores.
Nesse sentido, é importante ser realizado uma inspeção para adaptar o mobiliário a NR 17.
Também sugere-se implementar programas de atividade física, que podem aliviar as dores e
estresse na execução das atividades.

Conclusões
Este trabalho teve como objetivo realizar uma Análise Ergonômica do Trabalho (AET)
no posto de trabalho de um montador na fabricação de dois móveis em uma empresa de
pequeno porte. Para atingir esse objetivo, foram feitas filmagens do processo produtivo da
montagem dos móveis, sendo uma estatura menor e outro maior. A aplicação de metodologias
ergonômicas indicou as posturas que poderiam gerar riscos para a saúde ocupacional desses
trabalhadores a curto e longo prazo.

Através da metodologia AET foi possível concluir que são necessárias ações
ergonômicas nos postos de trabalho analisados para serem realizadas seja de forma a longo
prazo ou imediata. Com a utilização dos três métodos ergonômicos como complementos, os
resultados sugerem maior confiança devido a atender critérios estabelecidos, evidenciando as
posturas mais prejudicais. Pelo método do OWAS foram selecionadas cinco posturas no
móvel pequeno e seis no móvel maior, de acordo com o maior tempo que se repetiam. As
metodologias RULA e REBA apontaram resultados semelhantes que corroboram com esses
resultados. Algumas implicações na saúde dos trabalhadores foram relatadas pelos próprios
montadores com as queixas de dores musculoesqueléticas nos membros superiores.

A partir disso, as avaliações do RULA e REBA identificaram no móvel de pequeno


porte quatro posturas de maior impacto, tendo nível de ação 3 que indicam a realização de
mudanças rapidamente. Para o móvel de grande porte, foram identificadas duas posturas com
alto valor de escore indicando nível de ação 4, necessitando assim de mudanças imediatas, e
quatro posturas para mudanças rápidas (nível de ação 3). Esses resultados sugerem que essas
posturas já estejam causando prejuízos aos trabalhadores que requerem mudanças imediatas, e
modificações levando em conta a longo prazo também são importantes para a saúde dos
montadores.

A partir das constatações deste estudo, recomendações para medidas ergonômicas


visando a melhora nas condições de trabalho e preservação da saúde do trabalhador foram
realizadas, principalmente em relação a organização dos postos de trabalho, o uso de EPI
adequados, a rotação das atividades de trabalho, adaptação do mobiliário a atividade de
trabalho de acordo com a NR17 e a inserção de programas de atividade física.

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