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Introdução
Para atender as necessidades das mudanças nos ambientes de trabalho, com o intuito
de acomodar os trabalhadores, a disciplina de ergonomia foi desenvolvida (NEUMANN et al.,
2021). A partir disso, ergonomia é a ciência que busca estudar e aplicar intervenções
(métodos, princípios e teorias) para melhorar o bem-estar dos trabalhadores dentro de um
sistema, e também o desempenho desse sistema (FERREIRA et al., 2017).
Método
Observação da organização do
trabalho e do processo produtivo:
registro feito com fotos e vídeos.
Recomendações de melhorias
ergonômicas.
O estudo foi realizado em uma empresa familiar de pequeno porte, que trabalha com o
varejo de móveis e eletrodomésticos. A análise do estudo de caso foi realizada no setor de
montagem de móveis, que compreende a oficina da fabricação, a garagem e o depósito para
mercadorias e embalagens. O local possui apenas uma abertura para luz e uma ventilação
natural através do portão principal de entrada. Entretanto, também conta com luz e ventilação
artificial. Os móveis não são fixos e sua disposição varia de acordo com a necessidade dos
funcionários, e até mesmo da quantidade de espaço livre.
O método RULA foi desenvolvido para o uso de investigações ergonômicas nos locais
de trabalho com o intuito de quantificar e qualificar os fatores riscos posturais desenvolvidas
pelas atividades no pescoço, tronco e membros superiores através de observação direta, sendo
capaz de gerar uma lista de ações dirigidas a intervenções necessárias a reduzir as ameaças.
Para aplicação, as partes avaliadas são divididas em dois grupos: A, com os membros
superiores antebraços, braços e punhos; e o B, com os membros inferiores dos pés, pernas,
pescoço e tronco. Cada grupo tem uma tabela, e o avaliador pontua cada postura de acordo
com os ângulos da postura do trabalhador na execução da atividade, gerando um escore para
cada grupo. Os escores são somados em uma tabela adicional, e pontos adicionais são também
somados em relação ao movimento do trabalhador e carga movimentada. Por fim, é gerado
em outra tabela o escore final de acordo com as pontuações aplicadas. As pontuações (1 a 7)
são agrupadas em quatro níveis de ação: nível de ação 1 (pontuação 1-2), postura é aceitável
se não for mantido ou repetido por longos períodos; nível de ação 2 (pontuação 3-4),
necessária investigação e possíveis mudanças; nível de ação 3 (pontuação 5-6), necessária
investigação e mudanças em breve ou rápidas; e nível de ação 4 (pontuação maior que 7),
mudanças imediatas são necessárias.
O método REBA foi desenvolvido para suprir uma necessidade das ferramentas em ser
sensível ao tipo de posturas de trabalho imprevisíveis encontradas nos setores de saúde e
outros serviços. A avaliação postural inclui os antebraços, braços, pernas, pescoço, punho e
tronco. Permite avaliar a atividade muscular causada por posturas tanto dinâmicas quanto
estáticas, além de verificar a extensão da força exercida, mudanças rápidas ou instáveis e
efeito de acoplamento (interface homem-carga), através de observações prolongadas da
jornada de trabalho. Na aplicação prática, o método avalia em forma de pontuação dois
grupos corporais: grupo A, inclui tronco, pescoço e pernas; e grupo B a braço, antebraço e
pulso. Pontuações adicionais podem ser aplicadas em relação a carga/força e acoplamento. As
pontuações A e B são combinadas com uma tabela C (padronizada) para fornecer o escore
final, que pode ter acréscimo de pontuação adicional devido à atividade realizada. As
pontuações também são agrupadas em níveis de ação: 0 (pontuação 1-2) - risco insignificante,
não é necessária intervenção; 1 (pontuação 2-3) - risco baixo, podem ser necessárias ações
corretivas; 2 (pontuação 4-7) - risco médio, é necessária ação corretiva; 3 (pontuação 8-10) -
risco alto, ação corretiva; 4 (pontuação 11-15) - risco muito alto, ação corretiva imediata.
Resultados
Legenda
Dor forte
Dor moderada
Dor leve
Sem dor
Fonte: Autores (2022)
Análise da demanda
Desta forma, observa-se que a empresa demanda urgência na análise das condições de
trabalho para alcançar uma melhor forma de gestão para garantir SSO dos trabalhadores, pois
na atual situação há fatores de risco que podem estar causando dores musculoesqueléticas e
em casos de doenças mais graves a longo prazo. A atualização da norma NR 01 (BRASIL,
2020) obriga todas as empresas a atuarem de forma mais efetiva na gestão dos riscos, com a
implementação do Gerenciamento de Riscos Ocupacionais. Portanto, definiu-se ser necessário
aplicar a AET na fabricação de móveis da empresa com intuito de identificar quais as posturas
e movimentos mais prejudiciais em dois postos de trabalho.
Análise da tarefa
Para análise das atividades que devem ser realizadas, não foi possível ter acesso a
nenhum tipo de documentação referente à tarefa realizada. Desta forma, o montador realiza a
montagem e desmontagem de móveis de acordo com o projeto e normas pré-estabelecidas,
feitos pela própria indústria moveleira e órgãos reguladores. Não há nenhum tipo de
treinamento para a função de montador, os funcionários já sabem realizar a atividade ou
aprenderam com os colegas de trabalho.
Análise da atividade
Além de realizarem a montagem, sua atividade de trabalho não se restringe a isso, pois
os funcionários também trabalham com transporte e carregamento da mercadoria. Ainda
foram constatados outros tipos de atividades e serviços que fogem da fabricação de móveis
realizados a cargo da empresa. Desta forma, foi possível verificar que a tarefa se difere da
atividade, mesmo não havendo um documento com tarefas estabelecidas. A quantidade de
trabalho é sazonal variando de acordo com a demanda do mercado, em algumas épocas há
necessidade de uma demanda maior, como por exemplo no natal.
Diagnóstico
Pelos escores do RULA, foi possível observar quatro posturas preocupantes: PP22,
PP31, PP32 e PP42. O resultado indica nível de ação 3, onde são necessárias mudanças leves
e rápidas. Já escores gerados pelo REBA, indicaram as posturais mais prejudicais PP21, P31,
P32, P34 e as posturas PP4. O nível de ação é de risco alto (nível 3), indicando ser necessárias
ações corretivas. Foi possível perceber que algumas posturas com pontuações altas
apresentaram resultados semelhantes em ambos os métodos: PP21, PP31, PP32 e PP42.
A - Análise dos
Membros Superiores
e Punhos
Braços 2 2 3 5 5 2 2 3 3 4
Antebraços 2 3 3 3 3 3 2 3 3 3
Punho 2 2 3 2 3 2 2 2 2 2
Laterização do punho 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Tabela A 2 3 4 6 7 3 2 3 3 4
Pontuação do 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Trabalho Muscular
Pontuação da 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
força/carga adicional
Tabela C' 3 4 5 7 8 4 3 4 4 5
B - Análise de
Pescoço, Tronco e
Pernas
Pescoço 2 4 2 2 1 1 1 3 3 1
Tronco 3 3 3 2 1 2 5 3 4 3
Pernas 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Tabela B 3 3 3 2 1 1 4 3 4 2
Pontuação do 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Trabalho Muscular
Pontuação da 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
força/carga adicional
Tabela C'' 4 4 4 3 2 2 5 4 5 3
Pontuação final 4 4 5 6 5 3 4 4 5 4
Fonte: Autores (2022)
Grupo A:
Classificação do
tronco, pescoço e
pernas.
Tronco 3 4 3 2 1 2 5 3 4 3
Pescoço 2 3 2 2 1 1 1 3 3 2
Pernas 1 1 1 1 1 1 2 1 2 1
Grupo B: Avaliações
dos membros
superiores (braço,
antebraço e punho).
Braço 2 2 3 5 5 2 2 3 3 4
Antebraço 1 1 1 2 2 2 1 2 2 2
Punho 2 2 3 2 3 2 1 2 1 2
Quadro A 4 6 4 3 1 2 6 5 7 4
Quadro B 2 2 5 8 8 3 1 5 4 6
Classificação de carga 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
ou força
Pontuação do tipo de 1 1 0 1 1 1 0 1 0 0
aperto
Score A 4 6 4 3 1 2 6 5 7 4
Score B 3 3 5 9 9 4 1 6 4 6
Tabela C 4 6 5 7 6 3 6 7 8 6
Pontuação da 2 2 2 3 2 2 2 2 2 1
atividade
Pontuação Final 6 8 7 10 8 5 8 9 10 7
Fonte: Autores (2022)
Figura 05 – Posturas obtidas durante a realização da atividade: (a) PG12, (b) PG14, (c) PG22, (d) PG41
e (e) PG43
A - Análise dos
Membros
Superiores e
Punhos
Braços 4 4 3 4 3 2 3 3 3 5 3 5 2 3
Antebraços 3 3 3 3 3 3 2 2 2 3 3 3 3 2
Punho 2 2 1 2 2 3 2 2 2 2 2 3 3 2
Laterização do 2 1 1 1 1 2 1 1 1 2 1 2 1 2
punho
Tabela A 5 4 2 4 3 4 3 3 3 7 3 7 4 3
Pontuação do 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Trabalho
Muscular
Pontuação da 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
força/carga
adicional
Tabela C' 6 5 3 5 4 5 4 4 4 8 4 8 5 4
B - Análise de
Pescoço, Tronco
e Pernas
Pescoço 4 4 4 4 2 3 2 2 3 3 1 2 1 2
Tronco 3 4 3 3 3 4 4 3 4 2 1 2 1 3
Pernas 1 1 1 1 2 2 2 2 1 2 2 2 1 2
Tabela B 3 4 3 3 4 5 5 4 4 3 2 2 1 4
Pontuação do 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Trabalho
Muscular
Pontuação da 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
força/carga
adicional
Tabela C'' 4 5 4 4 5 6 6 5 5 4 3 3 2 5
Pontuação final 6 6 4 5 5 7 6 5 5 7 3 6 4 5
Fonte: Autores (2022)
P1 P2 P3 P4 P5 P6
PG 11 PG 12 PG 13 PG 14 PG 21 PG 22 PG 31 PG 32 PG 33 PG 41 PG 42 PG 43 PG 51 PG 61
Grupo A:
Classificação do
tronco, pescoço
e pernas.
Tronco 3 5 2 4 3 4 5 4 4 2 1 2 1 4
Pescoço 3 3 3 3 2 3 1 1 2 2 1 2 1 2
Pernas 1 1 1 1 4 4 2 2 2 3 3 3 1 3
Grupo B:
Avaliações dos
membros
superiores
(braço,
antebraço e
punho).
Braço 4 5 3 2 4 3 3 3 3 5 3 4 3 3
Antebraço 2 2 1 2 2 1 1 2 2 2 2 2 2 1
Punho 3 2 2 3 2 3 1 1 1 3 3 3 2 3
Quadro A 5 7 4 6 7 9 6 5 6 5 3 5 1 7
Quadro B 7 8 4 7 6 5 3 4 4 8 5 7 5 5
Classificação de 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
carga ou força
Pontuação do 1 0 1 1 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1
tipo de aperto
Score A 5 7 4 6 7 9 6 5 6 5 3 5 1 7
Score B 8 8 5 8 6 5 3 4 4 9 6 8 6 6
Tabela C 8 10 5 9 9 10 6 5 7 14 9 13 3 9
Pontuação da 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 2 1
atividade
Pontuação Final 10 12 7 11 10 11 7 6 8 15 10 14 5 10
Fonte: Autores (2022)
Recomendações ergonômicas
Inserir prateleiras de disposição para os materiais menores com ajuste de altura dos
montadores a fim de evitar a inclinação e torção na busca por esses materiais, além do
ambiente ficar com maior espaço. Além disso, dispor as ferramentas em suportes na parede,
separando por tamanho e funcionalidade na altura dos trabalhadores, evitando agachar ou
colocar braços acima da cabeça. A mesa construída pelos montadores é essencial em facilitar
as tarefas realizadas, principalmente na montagem dos móveis menores, assim deve-se ser
reformada com objetivo se estar mais segura e ter melhor espaço de uso.
Conclusões
Este trabalho teve como objetivo realizar uma Análise Ergonômica do Trabalho (AET)
no posto de trabalho de um montador na fabricação de dois móveis em uma empresa de
pequeno porte. Para atingir esse objetivo, foram feitas filmagens do processo produtivo da
montagem dos móveis, sendo uma estatura menor e outro maior. A aplicação de metodologias
ergonômicas indicou as posturas que poderiam gerar riscos para a saúde ocupacional desses
trabalhadores a curto e longo prazo.
Através da metodologia AET foi possível concluir que são necessárias ações
ergonômicas nos postos de trabalho analisados para serem realizadas seja de forma a longo
prazo ou imediata. Com a utilização dos três métodos ergonômicos como complementos, os
resultados sugerem maior confiança devido a atender critérios estabelecidos, evidenciando as
posturas mais prejudicais. Pelo método do OWAS foram selecionadas cinco posturas no
móvel pequeno e seis no móvel maior, de acordo com o maior tempo que se repetiam. As
metodologias RULA e REBA apontaram resultados semelhantes que corroboram com esses
resultados. Algumas implicações na saúde dos trabalhadores foram relatadas pelos próprios
montadores com as queixas de dores musculoesqueléticas nos membros superiores.
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