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AULA 1

PRODUÇÃO DE COSMÉTICOS

Profª Patrícia Rondon Gallina


TEMA 1 – CONCEITOS DE QUÍMICA APLICADOS À COSMETOLOGIA

A história dos cosméticos teve início há muito tempo. Embora seja


conhecido que na época pré-histórica já se utilizassem tintas como uma
maquiagem para pintar o corpo, foi no Antigo Egito que os produtos cosméticos
ganharam destaque e passaram a ser produzidos em escala maior. Acreditava-se
que, cuidando do corpo, a beleza poderia ser eternizada, sendo vista como sinal
de prosperidade. A cultura egípcia acreditava em vida após a morte e, por isso,
seu povo cultivava o corpo, para que ele estivesse bem cuidado para a “próxima”
vida. Era comum também que em suas tumbas fosse colocado tudo o que eles
possuíam de valor. No sarcófago de Tutankamon, de 1400 a.C., foram
encontrados diversos potes de azeites que eram utilizados para o tratamento do
corpo e também diversas embalagens de cremes cosméticos. Cleópatra, rainha
do Egito e símbolo da beleza egípcia, também ficou muito conhecida pelos seus
banhos diários de leite de cabra e sua maquiagem marcante feita com kajal preto.
Naquela época, os cosméticos eram feitos principalmente com produtos
naturais, de origem mineral ou vegetal, com poucos recursos de matérias-primas.
Com o desenvolvimento da indústria, matérias-primas mais eficientes foram
descobertas e aumentaram significativamente as possibilidades envolvendo esta
categoria de produtos. Entre elas, podemos citar como exemplo a descoberta dos
tensoativos, que permitiram quebrar a tensão superficial entre água e óleo,
formando emulsões.
A química por trás desses produtos tem grande relevância no que diz
respeito a moléculas menos irritativas para a pele e para os olhos, por exemplo,
ou que atuem na renovação celular, proporcionando o rejuvenescimento da pele
sem que haja intervenções cirúrgicas. Ela também desenvolve um papel
importante para a combinação de bases e ativos que necessitam de uma
combinação precisa de fatores para que o produto seja efetivo e não perca sua
eficácia e estabilidade após a comercialização, mantendo a sua qualidade até o
fim do prazo de validade estipulado.
Atualmente, existem diversas bases cosméticas disponíveis no mercado
que são utilizadas para a incorporação de ativos. Para escolher a base adequada,
deve-se levar em consideração alguns fatores, como ação esperada, modo de
uso, características químicas do ativo, compatibilidade com o veículo escolhido e
também a embalagem que será utilizada para a comercialização do produto. Para

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que seja possível compreender a escolha de bases e sua compatibilidade com os
ativos cosméticos, primeiro iremos rever alguns conceitos de química.

1.1 Ligações químicas

Segundo a teoria de valência criada em 1916 por de Lewis e Kossel, os


átomos possuem a capacidade de se ligar uns aos outros. Na camada de valência
estão os elétrons mais distantes do núcleo, ou seja, a camada de valência é
aquela que irá sofrer menor força de atração dos prótons. Com exceção dos gases
nobres e do hidrogênio, os demais elementos químicos devem possuir oito
elétrons em sua camada de valência para que possa se tornar uma molécula
estável, conformação denominada de regra do octeto. Para que ela ocorra, os
átomos devem doar ou receber elétrons e, então, serão estabelecidas as ligações
químicas. Veremos, a seguir, como ocorrem as ligações iônicas e as ligações
covalentes, que são os dois principais modelos de reações químicas, lembrando
que esses não são os únicos, porém, são os modelos de maior interesse para
compreendermos os outros temas.

1.1.2 Ligações iônicas

Nas ligações iônicas, os átomos tendem a doar ou receber elétrons de


maneira definitiva. Normalmente este tipo de ligação ocorre entre metais e não
metais. Os não metais possuem em sua camada de valência de 5 a 7 elétrons,
enquanto que os metais possuem de 1 a 3 elétrons em sua camada. Essa
configuração permite que os metais doem seus elétrons e os não metais recebam,
dessa forma, os dois átomos conseguem alcançar a estabilidade.
Um exemplo clássico de ligação iônica é a reação entre o átomo de cloro
(Cl) e o de sódio (Na), em que o sódio possui 1 elétron na sua camada de valência,
que é doado de forma definitiva para o cloro, que possui 7 elétrons. Ao receber o
elétron doado, o cloro fica com 8 elétrons, e as duas moléculas atingem a
estabilidade.

1.1.3 Ligações covalentes

Ao contrário do que ocorre nas ligações iônicas, na ligação covalente


ocorre um compartilhamento de elétrons para que os dois ou mais átomos
envolvidos na reação possam se estabilizar.

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Esse tipo de reação costuma ocorrer entre metais e não metais, ou pode
estar associada a átomos de hidrogênio, em que ambos possuem tendência a
receber elétrons.
Podemos citar como exemplo para reações covalentes a molécula de água,
na qual os dois hidrogênios (H) que possuem 1 elétron na sua camada de valência
irão compartilhar seu elétron com o oxigênio (O), que possui 6 elétrons em sua
última camada. Dessa forma, o oxigênio irá ficar estável com 8 elétrons, e o
oxigênio, que não segue a regra do octeto, irá alcançar a estabilidade com 2
elétrons em sua camada de valência.

1.2 Eletronegatividade

Em uma ligação covalente em que ocorre o compartilhamento de elétrons,


podemos dizer que existe uma força de atração que é exercida pelos átomos
puxando o elétron compartilhado para mais perto do seu núcleo. Quando os átomos
são diferentes, um deles possui maior força de atração do que o outro, processo
chamado de ligação covalente polar, ou simplesmente de ligação polarizada.
Quando esse processo ocorre entre átomos iguais, a força exercida por eles
também é igual, nesse caso, a ligação recebe o nome de ligação covalente apolar.
Para identificar o grau de eletronegatividade de um elemento químico,
devemos consultar a tabela periódica e o esquema criado por Linus Pauling, que
descreve o valor eletronegativo de cada elemento.

1.3 Polaridade das ligações químicas

Uma vez que compreendemos a relação de eletronegatividade, é possível


determinar quais ligações são polares e quais possuem características apolares.

• Ligações apolares: costumam ocorrer entre dois elementos iguais,


possuem eletronegatividade igual ou muito próxima a zero;
• Ligações polares: costumam ocorrer entre dois elementos químicos
diferentes, possuem eletronegatividade maior que zero.

Quando a força exercida por um dos átomos é muito superior à força


exercida pelo outro, tem-se eletronegatividades iguais ou superiores a 1,7. Essa
ligação química compartilhada não aguenta a força de atração e se rompe,
formando uma ligação iônica.

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1.3.1 Polaridade aplicada a cosméticos

Quando pensamos em química de produtos cosméticos, um dos fatores


mais importantes a serem levados em consideração é a polaridade dos produtos,
isso porque sabe-se que produtos polares são solúveis em outros produtos
polares, e o mesmo ocorre entre produtos apolares que são solúveis apenas em
produtos apolares. Devemos lembrar sempre da regra “semelhante dissolve
semelhante”.
Sabendo disso, conseguimos compreender porque muitas formulações
cosméticas não dão certo, quebram ou formam grumos. Isso ocorre porque não
conseguimos incorporar corretamente um ativo na base cosmética escolhida.
Para corrigir esse erro, devemos verificar a solubilidade dos componentes do
sistema.
De forma geral, podemos dizer que compostos orgânicos são apolares, ou
seja, possuem pouca ou nenhuma afinidade com a água, devendo ser
solubilizados em óleo. E compostos inorgânicos, como sais provenientes de
ligações iônicas, são polares, ou seja, devem ser solubilizados em água.

TEMA 2 – BASES COSMÉTICAS

Também conhecidas como veículos ou excipientes, as bases cosméticas


são responsáveis por ser o meio de incorporação dos ativos cosméticos. Elas
também são as responsáveis por dar forma e características físicas aos
cosméticos.
Atualmente, existem diversas opções de bases cosméticas disponíveis no
mercado. Devido ao grande número de opções, o sensorial se tornou um grande
diferencial para conquistar os consumidores, podendo apresentar características
que agradem mais a um tipo de público do que outro, como as bases com
sensorial mais aquoso, por exemplo, que tendem a agradar ao público que possui
pele oleosa, enquanto as bases mais pesadas, com absorção lenta, costumam
agradar mais pessoas que possuem pele seca e também os idosos que desejam
possuir um produto com sensorial mais hidratante.
Espera-se que um produto cosmético possua características como fácil
espalhabilidade, boa absorção, fácil aplicação, aspecto agradável e estabilidade
físico-química e microbiológica.

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Existem uma infinidade de bases cosméticas, e a cada dia, novas são
lançadas. A seguir, veremos os quatro tipos de bases mais conhecidas e que
possuem maior aplicação, como as emulsões, conhecidas por serem o modelo
mais popular, e também gel, gel-creme e os pós.

2.1 Emulsão

As emulsões são amplamente utilizadas na indústria de cosméticos, sendo


indicadas para todos os tipos de pele, em especial as normais e secas. Pode-se
dizer que é a base mais escolhida para as formulações, porque é possível misturar
duas fases diferentes em um sistema heterogêneo, no qual é acrescido um
tensoativo, permitindo que uma fase seja dispersa na outra em forma de pequenas
gotículas. Dessa forma, quando vemos uma emulsão a olho nu, ela parece um
sistema homogêneo, porém, ao observarmos no microscópio, é possível
identificar pequenas partículas distribuídas de forma irregular. Essas gotículas
formam a fase interna da emulsão, também conhecida como fase dispersa, e o
líquido dispersante é chamado de fase externa.
De acordo com a viscosidade, é possível classificar as emulsões em três
formas:

• Sem viscosidade: leite;


• Pouca viscosidade: loções;
• Alta viscosidade: cremes.

A emulsão é dividida em três fases: a aquosa, a oleosa e a interface:

• Fase aquosa: esta fase é comporta pela água e também por outros
componentes hidrofílicos, como polímeros, corantes, umectantes,
conservantes, sequestrantes e demais ativos hidrossolúveis;
• Fase oleosa: esta fase é formada por todos os ativos e ingredientes que
não são compatíveis, como a água, ceras e óleos;
• Interface: a interface é a fase em que os tensoativos estão presentes.

As emulsões são classificadas segundo a sua hidrofilia/lipofilia.

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2.2 Água em óleo (A/O)

As emulsões A/O evitam que a pele perca água por meio de oclusão. Por
isso, costumam ser utilizadas em cremes noturnos, cremes para os pés e mãos e
também em protetores solares resistentes à água. Nesse tipo de sistema, a água
fica dispersa na fase oleosa.

Figura 1 – Emulsão A/O

Crédito: Magnetix/Shutterstock.

2.2.1 Óleo em água (O/A)

As emulsões O/A são uma versão mais leve do que a anterior, por isso,
costumam ser utilizadas em hidratantes faciais e também corporais, leites de
limpeza e também em protetores solares. Nesse tipo de emulsão, a fase oleosa é
que fica dispersa na fase aquosa.

Figura 2 – Emulsão O/A

Crédito: Magnetix/Shutterstock.

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2.3 Gel

Os géis hidrofílicos costumam ser empregados em formulações voltadas


para peles mistas e oleosas devido a sua característica aquosa, que seca com
facilidade e não deixa a pele oleosa. O gel é formado por uma fase aquosa e um
agente gelificante que confere o aspecto sólido à formulação.
A preparação é considerada semissólida com aspecto gelatinoso, em que
ativos hidrossolúveis ou lipossomas são incorporados à fase aquosa. A
formulação também recebe pequenas partículas, normalmente polímeros que irão
doar viscosidade à base.
O sensorial de um gel associado ao polímero escolhido para dar
viscosidade à formulação, que pode ter origem sintética ou natural e fará com que
ela tenha um aspecto mais pegajoso ou até mesmo toque seco. Ainda é possível
adicionar à formulação modificadores de sensorial, como silicones e umectantes
que irão corrigir o aspecto pegajoso e tornar a formulação mais atraente para o
consumidor.
Os géis podem ser classificados em iônicos e não iônicos, de acordo com
as características do polímero empregado na fórmula. Quando o gel é não iônico,
ele pode ser estabilizado em uma ampla faixa de pH, já o gel iônico é estável
apenas em pH neutro ou bem próximo ao neutro, por isso são chamados de pH
dependentes, pois podem ser incompatíveis com alguns ativos que possuem pH
distante do neutro.

Tabela 1 – Gelificantes iônicos e não iônicos

Iônicos Não iônicos


Polímero de acrilato Hidroxietilcelulose
Goma xantana Hidroxipropilcelulose
Carragenas Hidroxipropilmetilcelulose
Carboximetilcelulose
Acriloildimetiltaurato de amônio/VP copolímero

É preciso lembrar que um gel só aceita a incorporação de ativos hidrofílicos


que irão conferir aparência transparente à formulação. Quando temos um ativo
lipossolúvel incorporado, a formulação irá ficar com aparência opaca, pois não
será solubilizada corretamente. Nesse caso, devemos optar por um gel-creme.

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2.4 Gel-creme

Esse tipo de base vem sendo amplamente utilizado nas formulações por
possuir características que se assemelham a uma emulsão, como a maciez e a
emoliência, porém com muito mais brilho que uma emulsão comum. Além disso,
ele ainda possui o sensorial leve e refrescante que se assemelha aos géis.
O gel-creme é um sistema formado por agentes gelificantes que estão
dispersos em água, emulsionantes e uma fase oleosa. Sua característica se deve
à grande concentração de água que forma a base, aliada a uma pequena fase
oleosa. Esse sistema consegue estabilidade graças aos polímeros hidrofílicos
presentes na formulação. Por possuir uma fase oleosa que é pequena, é possível
incorporar ativos que sejam lipossolúveis, porém, sem deixar a pele oleosa. É
indicado para todos os tipos de pele, mas normalmente não é uma base de
primeira escolha para quem possui a pele seca.
Normalmente, possui coloração branca, que pode variar de acordo com o
ativo incorporado, aspecto de brilho e sensorial agradável.

2.5 Pós

Alguns produtos cosméticos são preparados em forma de pó. Os produtos


mais conhecidos são da classe de maquiagens, como é o caso de sombras, pó
compacto, blush, entre outros. Contudo, esse tipo de base não é aplicado somente
nesse tipo de produto. Os pós são formados por uma mistura que envolve diversas
matérias-primas sólidas que são trituradas até ficarem bem finas e, depois, são
homogeneizadas. Este tipo de preparação pode ser aplicado diretamente na pele,
ou pode vir em um sistema para solubilização antes do uso, evitando que a
formulação perca sua estabilidade.

TEMA 3 – CONHECENDO AS MATÉRIAS-PRIMAS

Existe uma infinidade de matérias-primas disponíveis no mercado para


aplicação em cosméticos, as melhores costumam ser aquelas que possuem baixo
risco para quem as utiliza, ou seja, possuem pouco efeito tóxico, alergênico e
cancerígeno, resultando em matérias-primas com baixo grau de irritabilidade.
As matérias-primas podem ser classificadas de acordo com a sua origem,
sendo naturais aquelas que têm origem mineral, vegetal ou animal;
semissintéticas aquelas que partem de uma matéria-prima natural, porém, que
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sofrem alguma modificação química em laboratório e; por fim, sintéticas, que são
completamente produzidas em laboratório por meio de sínteses químicas.
Vejamos exemplos de cada uma das classes:

• Naturais: ceras, óleos, extratos vegetais, magnésio, silício;


• Semissintéticas: emolientes, espessantes, antioxidantes, emulsionantes;
• Sintéticas: polímeros, silicones, conservantes, filtros solares.

3.1 Água

A água é a matéria-prima mais utilizada em produtos cosméticos.


Conhecida como solvente universal, ela está presente nas mais diversas
formulações, como é o caso das emulsões, géis, tônicos, shampoos e
condicionadores. Mesmo com o tratamento tradicional para que a água se torne
potável, ela pode conter contaminantes inorgânicos, como minerais de sódio,
cálcio, ferro e manganês, ou contaminantes orgânicos, como é o caso de
proteínas e carboidratos derivados de vegetais e animais. Ela também pode
conter contaminantes microbiológicos, como fungos, leveduras ou bactérias, que
podem interferir na estabilidade dos cosméticos.
Portanto, a água potável apenas filtrada não pode ser utilizada no processo
de manipulação dos cosméticos. Ela deve passar por um processo de purificação
para que atenda às exigências físico-químicas e microbiológicas necessárias para
utilização. Para a purificação, a água pode passar por processos de ionização,
destilação ou osmose reversa, que irão garantir a eliminação dos agentes
contaminantes e a estabilidade dos produtos.

• Água destilada: neste processo, ocorre a eliminação de substâncias


químicas e microrganismos, porém, a destilação não é capaz de remover
os íons sólidos que já estão dissolvidos na água;
• Água deionizada: este processo é capaz de remover os íons presentes na
água, porém, não faz a remoção de contaminantes microbiológicos;
• Água de osmose-reversa: este processo é capaz de remover todo tipo de
agente contaminante, sendo considerado um processo de alta pureza
química e microbiológica.

Para a produção de cosméticos, devemos utilizar uma água purificada a fim


de evitar que haja qualquer tipo de reação entre os contaminantes presentes na

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água e outros ativos presentes na formulação, interferindo na estabilidade do
produto final.

3.2 Emolientes

Os emolientes são amplamente utilizados em emulsões na fase lipofílica.


Eles devem ser escolhidos para a formulação levando em consideração o objetivo
final do produto, como hidratação, espalhabilidade ou sensorial. Os emolientes
atuam como solventes lipofílicos para outros ativos e facilitam a permeação
cutânea de ativos.
Os emolientes formam uma barreira protetora na epiderme, evitando que a
pele perca água. Eles também garantem flexibilidade, maciez, elasticidade e brilho
à pele. Mas é necessário que o formulador tome cuidado com a mistura de
emolientes que estarão presentes na fórmula, pois essa matéria-prima costuma
estar associada ao nível de comedogenicidade e irritação da formulação.
Essa classe de matérias-primas pode ser categorizada de acordo com a
sua estrutura química, na qual a cadeia carbônica irá interferir nas propriedades
da formulação, e também de acordo com a sua polaridade, em que os emolientes
polares possuem características de sensorial leve e suave; já os emolientes
apolares possuem características mais pesadas e pegajosas.

3.3 Emulsionantes

Os emulsionantes, que também são chamados de tensoativos ou, ainda,


de surfactantes, são responsáveis por reduzir a tensão superficial de uma
formulação. Isso acontece porque essa matéria-prima é composta por moléculas
que possuem afinidade por água e também por óleo, uma vez que é constituída
de uma parte hidrofílica e uma parte lipofílica.
Quando uma formulação possui líquidos que são imiscíveis, ou seja, não
se misturam, temos a formação da tensão superficial, que impede que estes dois
líquidos se misturem. Quando adicionamos um emulsionante, ele irá agir na
interface, unindo estes dois líquidos de maneira estável.
Os emulsionantes são classificados de acordo com a sua carga elétrica:

• Iônicos: carga positiva (catiônico) e carga negativa (aniônico);


• Não iônicos: não possuem carga elétrica.

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Ao utilizar emulsionantes iônicos, é necessário verificar a compatibilidade
com outros ativos da preparação cosmética, isso porque tensoativos aniônicos
não são compatíveis com outros ativos que possuem carga positiva, e tensoativos
catiônicos não são compatíveis com ativos de carga negativa, podendo
desestabilizar o sistema da formulação.

3.4 Espessantes

Como o próprio nome sugere, esta matéria-prima irá conceder viscosidade


ao cosmético, fator importante para que o produto possa ter um sensorial
agradável. Podem ser adicionados tanto em fase aquosa quanto em fase oleosa,
de acordo com a matéria-prima escolhida, que pode ter origem natural ou sintética.
Os espessantes de fase oleosa são representados pelos ácidos graxos,
álcoois graxos, ésteres de álcoois e ácidos graxos, ceras vegetais e sílicas.
Já os espessantes de fase aquosa são representados por polímeros
sintéticos e polímeros naturais.

3.5 Conservantes

Todos os cosméticos possuem um prazo de validade que determina quanto


tempo o produto se manterá com suas características físico-químicas e
microbiológicas inalteradas ou dentro dos limites pré-estabelecidos. Os
conservantes são responsáveis por inibir o crescimento de fungos, leveduras e
bactérias durante todo o ciclo de vida do produto. Para que essa inibição seja
eficiente, os conservantes possuem características bacteriostáticas e
fungistáticas.
Para escolher o conservante mais adequado, deve-se levar em
consideração a composição química e pH da formulação, a fim de evitar
incompatibilidades, e também o processo de fabricação e embalagem (que pode
favorecer a contaminação do produto), bem como a legislação vigente, que
determina quais matérias-primas podem ser utilizadas no país.
Alguns cosméticos são classificados como “livre de conservantes”, isso
porque sua formulação não possui os conservantes tradicionalmente conhecidos,
mas possuem matérias-primas que possuem esse efeito de forma secundária,
evitando a proliferação de microrganismos. Alguns exemplos de matérias-primas
que possuem efeito bacteriostático secundário são alguns tipos de óleos

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essenciais e também o caprilato de glicerila, o pentilenoglicol, o ácido propiônico,
o caprilil glicol e o etil-hexilglicerina.

3.6 Umectantes

Os umectantes são matérias-primas com caráter higroscópico, ou seja,


conseguem absorver moléculas de água que estão livres no ambiente,
umedecendo a pele, por isso são utilizados nas formulações hidratantes. Os
umectantes podem ser inorgânicos, como o cloreto de cálcio, por exemplo, porém,
essa classe não é muito utilizada devido às incompatibilidades; e também podem
ser orgânicos, os quais costumam ser mais empregados na indústria, como o
propilenoglicol, o pentilenoglicol, a glicerina, o sorbitol, a ureia, entre outros.

3.7 Antioxidantes

O processo de auto-oxidação ocorre quando um cosmético acaba se


decompondo por algum motivo. Isso pode ocorrer por diversos fatores, mas está
associado principalmente ao uso de hidrocarbonetos com insaturações, como é o
caso de óleos e gorduras, ou outros produtos naturais. A oxidação costuma
ocorrer quando o produto fica em contato com o oxigênio do ar, Outros fatores,
como calor, luz e pH também costumam acelerar esse processo.
A oxidação compromete a estabilidade e a validade de um produto, que irá
perder suas características físico-químicas, como viscosidade, cor e odor, além
de comprometer a eficácia da função principal do cosmético. Os antioxidantes
entram na formulação com o objetivo de minimizar estes efeitos.
Os antioxidantes podem agir por meio de várias vias. Há antioxidantes que
atuam interrompendo as cadeias de radicais livres, antioxidantes que atuam
sofrendo oxidação e antioxidantes que atuam por mecanismos de prevenção.
Existem opções que podem ser incorporadas tanto em fase aquosa quanto em
fase oleosa.

3.8 Sequestrantes

Os sequestrantes ou quelantes, como também são chamados, são aquelas


matérias-primas que conseguem complexar íons metálicos impedindo que estes
íons desestabilizem as formulações e prejudiquem a sua qualidade. Embora a
água deionizada e matérias-primas e embalagens de qualidade já tenham

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passado por algum tratamento para eliminar os íons, o uso de agentes
sequestrantes conferem maior segurança ao produto, garantindo que sua validade
não seja prejudicada.
O quelante mais utilizado é o EDTA, que possui variações de acordo com
a quantidade de elementos químicos que estejam associados a ele. As variações
possuem pH diferenciados, o que possibilita a utilização na faixa de pH mais
próxima da formulação, evitando incompatibilidades no sistema.

3.9 Corantes

Os corantes têm como finalidade alterar a cor do cosmético, tornando-o


mais agradável para o consumidor. Para escolher o corante adequado, deve-se
levar em consideração a tonalidade que se deseja obter, o tipo de produto do qual
se deseja alterar a coloração e qual embalagem que será utilizada.
Os corantes podem ser solúveis tanto em meio aquoso quanto oleoso, bem
como em meio alcoólico. Antes de se adicionar a formulação, os produtos devem
ser submetidos a testes de luz e temperatura para certificação de resistência dos
corantes e também para avaliar o seu comportamento de acordo com a
embalagem escolhida, pois alguns corantes não podem sofrer incidência de luz.
Antes de fazer uso desse produto, ainda é necessário verificar se o corante
é destinado para a finalidade escolhida e se ele pertence à lista de corantes
autorizados pela Anvisa.

3.10 Corretores de pH

Para que um cosmético não cause irritação na pele, ele deve possuir seu
pH próximo ao pH do local em que será aplicado. Mas nem sempre a formulação
possui o pH adequado para a área indicada, dessa forma, para corrigir essa
diferença é preciso fazer uso dos corretores.
Quando se deseja obter uma formulação mais alcalina, é possível fazer uso
de trietanolamina, hidróxido de sódio ou aminometilpropano, e quando a
formulação está com o pH muito elevado e deseja-se deixar o meio mais ácido, é
possível fazer uso de ácidos fracos, como o ácido cítrico, ácido ascórbico ou lático.

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3.11 Fragrância

As fragrâncias estão atreladas ao lado emocional do consumidor e, por


isso, assumem um importante papel nos cosméticos. Quanto mais agradável é o
odor do produto, maiores são as suas chances de sucesso. As fragrâncias
também são utilizadas para mascarar o odor de algumas matérias-primas.
Podem ser divididas em naturais, animais, vegetais ou sintéticas. Em uma
única fragrância, podem existir até 300 matérias-primas.

TEMA 4 – INCORPORAÇÃO DE ATIVOS

Para se obter uma boa formulação, é necessário determinar qual a sua


finalidade de uso e qual o público-alvo que se deseja atingir. Em seguida, deve-
se escolher corretamente as matérias-primas, respeitando as suas funções,
características e também as características do produto final que se deseja obter.
Dessa forma, o formulador deve realizar um trabalho detalhado de todas as
matérias-primas que serão necessárias para a formulação, considerando a sua
função, e antes de incorporar um ativo cosmético – aquele que é responsável pela
função do produto – deverá realizar três perguntas norteadoras para definir se o
ativo deve ou não ser incorporado em sua formulação:

• Qual a solubilidade do meu ativo?


• Qual a composição da minha base cosmética?
• Qual a compatibilidade entre o meu ativo e a minha base?

Após responder a essas perguntas, o formulador saberá quais são as


possibilidades de erro no que diz respeito à estabilidade da sua formulação,
podendo antecipar problemas, evitando o desperdício de matérias-primas.
Os erros mais comuns na incorporação de ativos estão atrelados à
compatibilidade, ou seja, erro de tolerância ao pH, erro de carga iônica de ativos
e erro de solubilidade.

TEMA 5 – CLASSIFICAÇÃO DE INGREDIENTES COSMÉTICOS

Na cosmetologia, utiliza-se mundialmente o sistema internacional de


codificação da nomenclatura de ingredientes cosméticos, o International
Nomenclature of Cosmetic Ingredients, conhecido como INCI Name. Esse sistema
tem como objetivo a simplificação da nomenclatura dos ingredientes, uma vez que

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uma única matéria-prima pode possuir vários sinônimos. Com o INCI Name, todos
os ingredientes que podem ser utilizados em produtos cosméticos devem seguir
a mesma nomenclatura em qualquer lugar do mundo. Desse modo, todos eles são
agrupados em uma listagem de ingredientes em língua inglesa, e os fabricantes
devem utilizar no rótulo dos seus produtos o nome do ingrediente de acordo com
essa listagem, minimizando erros de leitura.
Essa nomenclatura permite que a população reconheça os ingredientes de
forma mais fácil, tendo em vista que todos os fabricantes utilizam da mesma
linguagem. Além disso, ela ainda permite que a comunidade científica e as
agências regulamentadoras possam ter maior agilidade no processo de
identificação dos ingredientes de forma mais clara e precisa.

5.1 CosIng

Para encontrarmos o INCI Name de um produto, podemos utilizar o site do


CosIng, um banco de dados da comissão europeia que possui não apenas a
nomenclatura dos ingredientes cosméticos, mas também informações sobre as
funções regulatórias dos produtos, ou seja, para qual função aquela matéria-prima
foi desenvolvida ou com qual objetivo ela deve ser utilizada.

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REFERÊNCIAS

BERMAR, K. C. O. Farmacotécnica – Técnicas de Manipulação de


Medicamentos. São Paulo: Saraiva, 2014.

GARÓFALO, D. A.; CARVALHO, C. H. M. de. Operações Básicas de


Laboratório de Manipulação – Boas Práticas. São Paulo: Saraiva, 2015.

PEREIRA, M. F. L. Cosmetologia. São Caetano do Sul: Difusão, 2013.

PINTO, M. S.; ALPIOVEZZA, A. R.; RIGUETTI, C., Garantia da Qualidade na


Indústria Cosmética. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2014.

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