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A ciência dos coloides se ocupa com sistemas nos quais um ou mais dos

componentes apresentam pelo menos uma de suas dimensões dentro do intervalo de 1 nm a


1000 nm, ou seja, ela se refere, essencialmente, a sistemas contendo tanto moléculas
grandes como pequenas partículas. O termo “microeterogêneo” constitui uma descrição
apropriada para a maior parte dos sistemas coloidais. Não existe, contudo, uma separação
nítida entre sistemas coloidais e sistemas não-coloidais, especialmente nas proximidades do
limite superior das dimensões do estado coloidal. Por exemplo, o tamanho das gotículas
presentes em emulsões é normalmente superior a 1000 nm; contudo é conveniente tratar as
emulsões como sistemas coloidais. (referência - 1.11)

Em muitos aspectos, a ciência dos coloides interliga diversos campos das ciências exatas.
Particularmente importante é o emprego de técnicas físico-químicas ao estudo de sistemas
naturais, principalmente proteínas. O campo dos altos polímeros sintéticos constitui outro
notável objeto de estudo da ciência dos coloides. Os fenômenos coloidais são encontrados
com frequência em processos industriais — plásticos, borracha, tintas, detergentes, papel,
análise do solo, produtos alimentícios, tecidos, precipitação, cromatografia, troca iônica,
flotaçâo, catalise heterogênea são apenas alguns exemplos de materiais e técnicas em que
assumem importância as substâncias de dimensões coloidais. Devido à grande
complexidade dos sistemas coloidais, o assunto não pode, muitas vezes, ser tratado com a
exatidão associada a certos ramos da físico-química; é essa falta de exatidão, e não uma
possível falta de importância, a responsável por uma injustificável tendência a desprezar-se
a ciência dos coloides durante os cursos universitários. (referência - 1.11)

Até as últimas décadas, a ciência dos coloides era algo mais ou menos autônomo, um
assunto quase inteiramente descritivo, que não se ajustava aparentemente ao esquema geral
da física e da química. O emprego de materiais de composição duvidosa, que introduzia
considerável incerteza em questões de reprodutibilidade e interpretação, era parcialmente
responsável por esse estado de coisas. A tendência atual é trabalhar, sempre que possível,
com materiais puros, que funcionam como modelos para os sistemas reais em estudo. Um
exemplo típico disso é o trabalho de McBain sobre sabões e detergentes. Apesar do grande
número de variáveis que devem frequentemente ser considerados, pesquisas desse tipo,
associadas aos progressos feitos na compreensão dos princípios fundamentais da física e da
química, tornaram possíveis a formulação de teorias coerentes, e mesmo prováveis, com
respeito a muitos aspectos do comportamento coloidal. (referência - 1.11)

DISPERSÕES

As partículas presentes numa dispersão coloidal são suficientemente grandes para


permitirem a existência de superfícies de separação definidas entre as partículas e o meio
no qual estão dispersas essas partículas. Dispersões coloidais simples, são, portanto,
sistemas de duas fases. As fases são conhecidas pelos termos fase dispersa (a fase
constituída pelas partículas) e meio de dispersão (o meio pelo qual se distribuem as
partículas) — veja Tab. 1.1. A natureza física de uma dispersão depende evidentemente dos
papéis exercidos pelas duas fases constituintes (referência - 1.11)
EMULSÕES E ESPUMAS

EMULSÕES DE ÓLEO EM ÁGUA E DE ÁGUA EM ÓLEO142' 143

Uma emulsão é um sistema disperso no qual as fases são líquidos imiscíveis ou


parcialmente miscíveis. Os glóbulos do líquido disperso apresentam geralmente diâmetros
entre 0,1 gm e 10 gm, sendo assim maiores do que as partículas encontradas em sóis.
(referência - 1.11)

Estes sistemas possuem baixa estabilidade termodinâmica, que é percebida através de


referenciais relevantes como o tempo decorrido para a separação de fases e fenômenos
relacionados, sendo classificadas como óleo-em–água (O/A) ou água-em-óleo (A/O).
(referência - 1.6)

Em quase todas as emulsões, uma das fases é a água e a outra é um líquido oleoso (no
sentido mais amplo desse termo), Se o óleo for a fase dispersa, a emulsão é chamada de
emulsão de óleo em água (O/A); se o meio aquoso for a fase dispersa, a emulsão é chamada
de emulsão de água em óleo (A/O). (referência - 1.11)

Figura 1 – Diferentes tipos de emulsão

Normalmente as emulsões, não se formam espontaneamente e suas propriedades dependem


não apenas de condições termodinâmicas como também das características, do método de
preparação e ordem de adição de cada componente. São sistemas estabilizados pela adição
de agentes tensoativos (referência - 1.6) o qual contribui para tornar a emulsão mais estável,
pois interpõe-se entre a fase dispersa e dispersante, retardando assim a sua separação, e que
constitui a interfase. (referência - 1.5)
Agentes emulsionantes e estabilidade das emulsões

Estabilidade das emulsões

A propriedade física mais importante de uma emulsão é provavelmente sua estabilidade.


(referência - 1.11)As emulsões apresentam uma tendência natural para separar-se em suas
duas fases constitutivas diminuindo a área interfacial e consequentemente a energia
interfacial. Uma emulsão é considerada estável quando pequena ou nenhuma mudança
ocorre no tamanho de gota da fase dispersa num determinado intervalo de tempo.
(referência - 1.4)

As emulsões são geralmente estabilizadas por emulsificantes (agentes ativos de superfície,


ou surfactantes) que se concentram na interface óleo-água formando filmes interfaciais.
Isso permite reduzir a tensão interfacial e promover a dispersão e emulsificação das gotas.
(referência - 1.3)

Teoria da emulsificação

Algumas teorias têm sido proposta na tentativa de explicar como os agentes emulsivos
promovem a emulsificação e mantêm a estabilidade da emulsão. Entre as teorias mais
prevalentes para explicar como os agentes emulsivos promovem a emulsificação estão as da
tensão superficial, da cunha orientada e do filme interfacial (referência - 1.5)

tensão superficial

Os líquidos têm a tendência de assumir a forma que produza menos área superficial
exposta, sendo essa a forma de uma esfera. Quando o líquido estiver em contacto com um
outro líquido no qual é insolúvel e imiscível, a força que faz com que cada um deles resista
à fragmentação em partículas menores é chamada de tensão superficial. substâncias como
tensoativos ou agentes molhantes reduzem essa resistência e facilitam a fragmentação em
gotas ou partículas menores, pois reduzem a tensão interfacial entre dois líquidos
imiscíveis, reduzindo a força repelente e a atração entre as suas próprias moléculas.
(referência - 1.5)

cunha orientada

A teoria da cunha orientada está baseada no pressuposto de que determinados


emulgentes se orientam na superfície e no interior do líquido, de modo que a sua
solubilidade seja refletida nesse líquido em particular. A fase na qual o emulgente é mais
solúvel vai-se tornar a fase externa da emulsão, ou seja emulgente com características mais
hidrófilas do que hidrófobas promoverá a formação de uma emulsão O/A pois penetra mais
na fase aquosa que se curvará envolvendo a fase oleosa e vice-versa(referência - 1.6)

filme interfacial

A teoria do filme interfacial descreve que o emulgente se encontra na interface entre o óleo
e água como uma fina camada de um filme adsorvido na superfície das mesmas. O filme
age evitando o contato e a coalescência da fase dispersa; entretanto quanto mais resistente e
flexível este for, maior será a estabilidade da emulsão(referência - 1.6)

COMPONENTES DAS EMULSÕES

ESPUMAS

As espumas são sistemas termodinamicamente instáveis que apresentam uma estrutura


tridimensional constituída de células gasosas envolvidas por um filme líquido contínuo.
Essa estrutura origina-se do agrupamento de bolhas geradas ao se dispersar um gás em um
líquido que contenha agentes espumantes, como surfatantes solúveis ou impurezas.
Moléculas do surfatante difundem-se na solução em direção à interface gás-líquido
formando uma monocamada adsorvida que estabiliza a bolha de gás e retarda sua rápida
coalescência. A destruição das bolhas é termodinamicamente favorável pois provoca
redução da elevada área superficial da espuma e expansão do gás contido nas células e,
consequentemente, redução da energia livre da espuma. (estabilidade da espuma imagem
fone)
O processo de dispersão do gás pode ser desencadeado por agitação ou batimento do
líquido e por borbulhamento do gás no líquido, e influi diretamente sobre as características
da espuma. Espumas formam-se também quando há redução de pressão ou aumento de
temperatura em soluções supersaturadas de gás. Pelo borbulhamento, é possível estimar o
tamanho das células geradas através da dimensão do borbulhador. A uniformidade na
distribuição e no tamanho de suas bolhas, grau de dispersão, está sujeita às irregularidades
do dispositivo através do qual o gás é introduzido. Entretanto, fatores como velocidade do
gás e concentração de surfatante nas células e, sobretudo, a natureza química dos agentes
estabilizantes são significativos na estruturação da espuma. Assim como o tamanho da
bolha, o volume de espuma formado em relação ao volume de solução utilizado para gerá-
la, ou coeficiente de expansão de uma espuma , é delimitado pela natureza química do
sistema e pelas condições em que é produzido. O coeficiente de expansão é um
parâmetro com o qual se pode relacionar intrinsecamente o volume de gás e o de
líquido presente na espuma. (estabilidade da espuma imagem fone)

Estabilidade de espumas

Com líquidos puros só é possível formar espumas transitórias (ou transientes); como no
caso de emulsões, é necessário um terceiro componente, tenso-ativo — um agente
espumante — para conseguir um nível razoável de estabilidade. Bons agentes
emulsificantes são em geral também bons agentes espumantes, já que os fatores que
influenciam a estabilidade de emulsões (frente à coalescência das gotículas) e a estabilidade
de espumas (frente à destruição das bolhas) são até certo ponto semelhantes. (referência -
1.6)

A estabilidade de uma espuma depende de dois fatores principais — a tendência dos filmes
líquidos de sofrerem uma drenagem e se tornarem mais finos, e sua tendência à ruptura em
conseqüência de perturbações aleatórias. 148 • 149

Por causa de sua elevada área interfacial (e energia livre de superfície), todas as espumas
são instáveis, de acordo com o ponto de vista termodinâmico. E possível, contudo, fazer
uma distinção entre estruturas de espumas instáveis e metaestáveis. Espumas instáveis são
exemplificadas pelas espumas formadas por soluções aquosas de ácidos ou álcoois
saturados de cadeia curta.

A presença dessas substâncias moderadamente tenso-ativas retarda até certo ponto a


drenagem e ruptura do filme, mas não impede a ocorrência contínua desses fenômenos, até
a destruição completa da espuma. As espumas metaestáveis podem ser exemplificadas por
espumas formadas de soluções de sabões, detergentes sintéticos, proteínas, saponinas, etc.
O equilíbrio de forças é tal que a drenagem de líquido cessa quando se atinge uma
determinada espessura de película, e na ausência de perturbações externas (como vibrações,
tensões, evaporação, difusão de gás de bolhas pequenas para bolhas grandes, calor,
variações de temperatura, presença de pó e outras impurezas) essas espumas permanecem
quase indefinidamente.

Ruptura da película

A estabilidade da espuma depende não só da drenagem do filme, mas também da


capacidade do filme de resistir a um adelgaçamento progressivo localizado, e de resistir à
ruptura como conseqüência de diversas perturbações ao acaso. Vários fatores estão
envolvidos nesses fenômenos, em maior ou menor grau, dependendo da natureza da
espuma em questão.

1. Efeito da elasticidade superficial de Gibbs-Marangoni — Este é um efeito de


estabilização, importante em espumas formadas a partir de soluções de sabões, detergentes,
etc. Se um filme for submetido a um estiramento localizado, como conseqüência de alguma
perturbação externa, o aumento de área daí resultante será acompanhado por um
decréscimo na concentração superficial de excesso do agente espumante; surge então um
aumento localizado da tensão superficial (efeito Gibbs). E necessário um certo tempo para
que as moléculas do agente tenso-ativo sofram difusão até essa região da superfície,
restaurando-se assim a tensão superficial inicial (efeito Marangoni); por esse motivo, a
tensão superficial
aumentada pode persistir durante um tempo suficiente para que a região do filme,
modificada por uma perturbação, possa restabelecer sua espessura original. Como uma
ampliação do efeito Marangoni, Ewers e Sutherland154 sugeriram um mecanismo de
transporte superficial, no qual o gradiente de tensão superficial criado pelo adelgaçamento
da película faz com que o agente espumante se “espalhe” pela superfície, arrastando
consigo uma parte significativa da solução subjacente,opondo-se assim ao processo de
adelgaçamento.

A razão principal para líquidos puros não formarem espumas é a ausência do efeito Gibbs-
Marangoni. Com relação a esse efeito, é interessante notar queespumas de soluções de
sabões, detergentes, etc., moderadamente concentradas, são em geral menos estáveis que as
espumas formadas por soluções mais diluídas. Nas soluções mais concentradas, o aumento
de tensão superficial, resultante de um adelgaçamento localizado do filme, é compensado
mais rapidamente pela difusão de moléculas de agente tenso-ativo, provenientes da solução.
Em conseqüência a compensação de variações na espessura da película pelas
correspondentes variações na tensão superficial será menos eficiente.

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