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DOSSIÊ “TEORIA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 19, Nº 39: 17-34 JUN. 2011


POLÍTICA”

TEORIA POLÍTICA: UM BALANÇO PROVISÓRIO

Javier Amadeo

RESUMO

Um pressuposto fundamental para o desenvolvimento de uma Teoria Política vigorosa é a possibilidade de


proporcionar uma inteligibilidade reflexiva de seu próprio desenvolvimento, relacionando, para isto,
explicações que lhe são intrínsecas com uma história externa de seus êxitos e fracassos. O objetivo do
presente trabalho é realizar um balanço provisório dos desenvolvimentos, problemas e desafios da Teoria
Política nas últimas décadas, tentando analisar esses desenvolvimentos como parte de uma história intelectual
mais ampla. Para isso, é necessário retroceder à década de 1960, quando existia a percepção do declínio da
reflexão teórica; a partir desse momento parece haver um surpreendente “ressurgimento” da Teoria Política.
O texto busca sugerir uma reconstrução da Teoria Política das últimas décadas a partir da hipótese de uma
reconfiguração fundamental de seus pressupostos. Um dos elementos centrais desta reconfiguração tem
sido a progressiva divisão entre elementos filosóficos e históricos da construção teórica que nesta
reconstrução estão representados por duas das correntes teóricas surgidas na década de 1970: a Teoria
Política normativa e a história do pensamento político. Essa narrativa, portanto, propõe uma reconstrução
de um ponto de vista particular e enfatiza determinados aspectos da elaboração teórica das décadas
passadas, subtraindo análises de autores e formulações de importância substantiva que, no entanto, não
serão consideradas.
PALAVRAS-CHAVE: Teoria Política; Ciência Política; História do Pensamento Político; teoria normativa.

I. INTRODUÇÃO gimento” trouxe novos temas, problemáticas di-


versas e abordagens originais, no entanto essa
Como afirma Terence Ball, as periódicas
prosperidade pode pressagiar limites e problemas
reavaliações e reconsiderações do que herdamos
que devem ser colocados em questão.
dos autores que nos antecederam são empreendi-
das, e não podia ser de outra forma, sob a pers- Dessa forma, o texto busca propor uma re-
pectiva de nossos problemas e circunstâncias construção da Teoria Política das últimas décadas
(BALL, 2004). Um exame da Teoria Política no com base na hipótese de uma reconfiguração fun-
presente só poderia começar fazendo uma análise damental dos pressupostos a partir dos quais ela
dos desenvolvimentos nas décadas anteriores, para era elaborada. Um dos elementos centrais desta
entender como se chegou a este presente. reconfiguração tem sido a progressiva divisão entre
elementos filosóficos e históricos da construção
Um pressuposto fundamental para o desenvol-
teórica que nesta reconstrução estão representa-
vimento de uma Teoria Política vigorosa é a pos-
dos por duas das correntes teóricas surgidas na
sibilidade de proporcionar uma inteligibilidade re-
década de 1970: a Teoria Política normativa, for-
flexiva de seu próprio desenvolvimento, relacio-
mulada por John Rawls e a enorme literatura
nando, para isto, explicações intrínsecas de seus
surgida a partir da publicação de Uma teoria da
êxitos ou fracassos com uma história externa que
justiça (1971), e a história do pensamento políti-
a complemente. O objetivo do presente trabalho é
co desenvolvida – no mesmo período – pelos au-
realizar um balanço provisório dos desenvolvimen-
tores da Escola de Cambridge, particularmente
tos, problemas e desafios da Teoria Política nas
Quentin Skinner e J. G. A. Pocock. Esta narrati-
últimas décadas. Para isso é necessário retroce-
va, portanto, propõe uma reconstrução de um
der até a década de 1960, quando existia uma per-
ponto de vista particular e enfatiza determinados
cepção generalizada sobre a decadência desta re-
aspectos da elaboração teórica das décadas pas-
flexão teórica; a partir desse momento se produ-
sadas subtraindo a análise de autores e formula-
ziu um surpreendente “ressurgimento”, ou
ções de importância substantiva que, no entanto,
reconfiguração, da Teoria Política. Esse “ressur-
não serão consideradas.

Recebido em 15 de novembro de 2010. Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 19, n. 39, p. 17-34, jun. 2011
Aprovado em 31 de janeiro de 2011.
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TEORIA POLÍTICA: UM BALANÇO PROVISÓRIO

II. A TEORIA POLÍTICA FACE À REVOLUÇÃO de descolonização na Ásia, África, Oriente Médio
COMPORTAMENTALISTA e, especialmente, na América Latina. Os departa-
mentos de Ciência Política, e os incipientes pro-
As primeiras décadas do século XX e os anos
gramas de relações internacionais, expandiram-se
de pós-guerra constituíram um período fundamen-
rapidamente para adequar-se a essas novas ne-
tal para entender o estabelecimento da Ciência
cessidades e especialidades. Esses novos temas e
Política como disciplina acadêmica. Durante esse
problemas foram acompanhados pelo surgimento
período se construiu o consenso dominante – tanto
de uma nova perspectiva analítica para a Ciência
do ponto de vista teórico como do ponto de vista
Política2.
prático-institucional – sobre o estatuto da disci-
plina, seus objetivos, escopo e fundamentalmente Na primeira década do período pós-guerra,
sobre seu método. Uma das conseqüências mais Talcott Parsons e outros autores da mesma orien-
importantes foi o estabelecimento de uma tação teórica desenvolveram o conceito de siste-
dicotomia fundamental entre Teoria Política, en- ma para comparar tipos diferentes de sociedades
tendida como a história do pensamento político, e e instituições, partindo do trabalho de teóricos
Ciência Política, entendida como análise empírica como Weber e Durkheim. Com base nessa e em
das instituições políticas. Como sucede com a outras fontes, David Easton introduziu de forma
construção de todas as “histórias oficiais”, o re- original o conceito de sistema na Ciência Política
sultado final tendeu a naturalizar uma determina- (EASTON, 1953; 1965).
da concepção vencedora frente às alternativas
Easton, provavelmente o autor mais impor-
derrotadas nessa “luta pelo poder”1.
tante desta primeira geração de teóricos
Como afirma Gabriel Almond (1996), durante comportamentalistas, problematizou a enorme
o período pós-guerra houve um rápido crescimen- produção de dados quantitativos e qualitativos
to no processo de institucionalização e gerados pela ciência social da década de 1950, e
profissionalização da Ciência Política, em grande ao mesmo tempo detectou a ausência de uma te-
parte como resultado da experiência interdisciplinar oria sistemática para avaliar esses dados. Como
do período de guerra. Os currículos de Ciência conseqüência, era necessário o desenvolvimento
Política e os departamentos nas universidades se de uma ciência própria para os estudos políticos
expandiram rapidamente em resposta a uma nova que permitisse a produção de “um conhecimento
concepção da disciplina e à ampliação da educa- universal e confiável sobre os fenômenos soci-
ção superior. O estudo das relações internacio- ais”; “o propósito de um procedimento de acordo
nais, estimulado pelo novo papel dos Estados Uni- a regras científicas é fazer possível a descoberta
dos como potência hegemônica, passou a ocupar de uma teoria altamente generalizável” (EASTON,
um lugar central nos novos institutos de pesquisa 1953, p. 65-66). Na visão de Easton, uma “teoria
das principais universidades norte-americanas, geral” da Ciência Política deveria consistir em um
como Yale, Princeton, Columbia e Harvard. sistema dedutivo de pensamento, com um núme-
ro limitado de postulados, como pressupostos e
Novas especialidades como estudos de segu-
axiomas, um corpo de generalizações empirica-
rança, economia política internacional, opinião
mente validadas que poderiam ser deduzido em
pública e estudos culturais foram incorporados
às antigas sub-especialidades. O novo cenário in-
ternacional de pós-guerra levou os Estados Uni-
2 Três instituições norte-americanas foram especialmente
dos, de forma similar ao que aconteceu com as
importantes durante o período em questão. Em primeiro
antigas potências hegemônicas, a investir na for-
lugar a Universidade de Michigan, e seu Instituto de Pes-
mação de especialistas para analisar os processos quisa Social, influenciado por investigações no campo da
e problemas do desenvolvimento dos países em psicologia social; em segundo lugar, o Departamento de
desenvolvimento ou países surgidos do processo Pesquisa Social Aplicada de Columbia, fundado pelos soci-
ólogos Paul Lazarsfeld e Robert Merton; por último, o
Centro de Pesquisa de Opinião Nacional da Universidade
de Chicago, dirigida nos seus primeiros anos pelo sociólo-
1 Para uma análise sugestiva do estudo da política no go Cyde Hart. Estas instituições produziram e difundiram
século XIX e algumas das conseqüências de sua a literatura e formaram os pesquisadores que contribuíram
institucionalização no século seguinte, ver Collini, Winch e de forma substancial para a “revolução comportamentalista”
Burrow (1987). (ALMOND, 1996, p. 70).

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uma ordem descendente para especificar e pro- era necessário deixar de lado a preocupação com
ver explicações causais preditivas do comporta- o pensamento político pré-científico. A revolução
mento político (BEVIR, 2006, p. 592). comportamentalista, dessa forma, estabeleceu uma
linha de demarcação entre o estudo “científico”
O livro de Easton, O sistema político (1953),
do comportamento político e o estudo “histórico”
insistia no fracasso da Ciência Política da década
do pensamento político5 e, assim, pensamento e
de 1950 para construir teorias coerentes sobre o
ação eram separados analiticamente e não existia
fenômeno político, e para desenvolver técnicas
nenhuma relação entre ambos. David Easton, em
para coleta e análise de dados, com as quais fosse
O sistema político, criticava a abordagem prepon-
possível construir essas teorias. A definição mais
derante da política afirmando que “A Teoria Polí-
amplamente conhecida e usada sobre a política
tica hoje está interessada fundamentalmente na
foi colocada por Easton na sua definição de siste-
história das idéias” (BALL, 2001, p. 108-9; sem
ma político como a “distribuição autorizada de
grifos no original).
valores na sociedade”. Essa definição colocava
para os pesquisadores uma orientação fundamen- Essa separação entre estudo científico da po-
tal para delimitar o conteúdo da Ciência Política. lítica e uma perspectiva filosófica ou histórica,
como campos separados, levou a um clima de
Dessa forma surgia uma nova Ciência Políti-
época marcadamente hostil em relação à teoria e à
ca, baseada em uma epistemologia positivista3, que
filosofia política. Autores de tendências teóricas e
buscava analisar a partir de métodos estadísticos
posições políticas diferentes pareciam concordar
os processos de modernização e democratização
em um diagnóstico comum, a frase de Peter
e o desempenho governamental. Para estes auto-
Laslett em sua introdução à Philosophy, Politics
res era possível obter, a partir destes critérios ci-
and Society (1956) talvez sintetizasse da melhor
entíficos, um progresso significativo na compre-
maneira esse clima de época: “no momento, de
ensão do funcionamento dos grupos de interesse
qualquer maneira, a filosofia política está morta”
e no fenômeno do corporativismo, assim como
(LASLETT, 1956, p. vii; sem grifos no original).
uma melhor apreciação do papel fundamental dos
Leo Strauss, por sua vez filósofo político de ten-
partidos políticos no processo democrático
dência conservadora, com formação na
(ALMOND, 1996, p. 72-73; cf. também
GUNNELL, 1983; BEVIR, 2006; BALL, 2007).
Como afirma Terence Ball, uma das conse- 5 “If we were to model the history of political science in
qüências mais importantes da revolução
ages, it would properly begin in Greek political science,
comportamentalista das décadas de 1950 e 1960 make some modest gains in the Roman centuries, not make
foi o estabelecimento de uma separação clara e much progress in the Middle Ages, rise a bit in the
irreconciliável entre “ciência” política e o estudo Renaissance and Enlightenment, make some substantial
do pensamento político, e como conseqüência uma gains in the 19th century, and then take off in solid growth
desvalorização da segunda4. Para construir uma in the 20th century as political science acquires genuine
professional characteristics. What would be measured by
abordagem verdadeiramente científica da política
this curve is the growth and qualitative improvement in
knowledge concerned with the two fundamental questions
3 Exploraremos esse ponto com mais detalhe na próxima of political science: the properties of political institutions
and the criteria we use in evaluating them” (ALMOND,
seção.
1996, p. 50). [“Se fosse para considerarmos a história da
4 A primeira geração de cientistas políticos influenciados Ciência Política em época, ela começaria propriamente com
pelo comportamentalismo – David Easton, Robert Dahl e a Ciência Política grega, teria tido alguns ganhos modestos
David Truman – começou como estudantes de Teoria Polí- nos séculos romanos, não teria feito muitos progressos na
tica, e alguns dos primeiros trabalhos analisavam pensado- Idade Média, teria uma certa inflexão na Renascença e no
res importantes da tradição ocidental do pensamento polí- Iluminismo, teria obtido ganhos substantivos no século
tico. Textos importantes como: A History of Political XIX e então decolado com crescimento sólido no século
Theories de William Dunning, Growth of Political Thought XX, em que a Ciência Política adquire características pro-
de Charles McIlwain e especialmente A History of Political fissionais genuínas. O que deveria ser medido por essa
Thought de George Sabine foram as fontes intelectuais de curva é o crescimento e o desenvolvimento qualitativo do
todos esses cientistas políticos. No entanto, a necessidade conhecimento relativo a duas questões fundamentais da
de estabelecer critérios científicos para a análise dos fenô- Ciência Política: as propriedades das instituições políticas
menos políticos levou esses autores a rejeitar o suposto e os critérios que utilizamos para avaliá-las” (tradução dos
historicismo anacrônico de seus antecessores. revisores).]

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TEORIA POLÍTICA: UM BALANÇO PROVISÓRIO

fenomenologia de Husserl e Heidegger, afirmava, sas obras, Arendt problematiza o conceito de na-
em um texto clássico sobre os fundamentos da tureza humana, criticando o caráter apolítico da
filosofia política: “Hoje, a filosofia política está em filosofia política tradicional, e argumentando que
um estado de decadência, e quiçá de putrefação, é seus pressupostos e conceitos precisam ser radi-
que ainda não desapareceu completamente. Não calmente revisados para que se entenda os fenô-
só há um desacordo completo em relação a seu menos totalitários como o nazismo e o stalinismo.
objeto, método e função; sua própria existência Isaiah Berlin, por sua vez, publica uma série de
tem sido colocada em questão. O único ponto ensaios importantes entre os quais dois dos mais
sobre o qual os professores de Ciência Política influentes, e que se tornariam clássicos na refle-
concordam se refere à utilidade do estudo da his- xão política, são: “Two Concepts of Liberty”
tória da filosofia política” (STRAUSS, 1959, p. (1958) e “Does Political Theory Exist?” (1962).
17) 6. Nessas obras Berlin busca desafiar o monismo
moral de grande parte da filosofia política,
Se for verdade que o desenvolvimento de uma
enfatizando o pluralismo de valores morais, e de-
Ciência Política de caráter comportamentalista
lineando desta maneira uma forma moderna de
colocou severos questionamentos para uma re-
liberalismo, distintiva e altamente influente.
flexão de tipo filosófica sobre a política, é neces-
sário questionar, ou ao menos qualificar, o signifi- Nessas décadas observamos, do mesmo modo,
cado concreto desse suposta decadência da filo- o trabalho criativo e influente de filósofos políti-
sofia política, isto como passo necessário para se cos como Leo Strauss, C. B. Macpherson, F. A.
ter uma compreensão mais acabada do “ressurgi- Hayek, Karl Popper e Eric Voegelin; além disso,
mento” da filosofia política na década seguinte. trabalhos pioneiros sobre autores clássicos como
Hobbes, Locke, Mill, Kant e outros, que não pre-
Bhikhu Parekh (1996, p. 504), analisando o
tendiam ser comentários das obras dos autores
significado da morte da filosofia política atribuído
clássicos e, sim, obras de filosofia política,
por Laslett, afirma que a produção teórica das
reapropriando-se de maneira crítica de idéias e
décadas de 1950 e 1960 foi de uma enorme rique-
conceitos clássicos para pensar o mundo político
za intelectual. Alguns trabalhos são demonstrações
do período. Outra corrente teórica de fundamen-
evidentes desta avaliação: as obras de Michael
tal importância durante o período foi a tentativa
Oakeshott, a “Introdução” ao Leviatã de Thomas
sistemática de elaborar uma filosofia política mar-
Hobbes e Rationalism in Politics (1962), nos quais
xista a partir das obras de autores como Althusser,
o autor propõe uma nova concepção da natureza
Sartre, Habermas e Marcuse. O desenvolvimento
da filosofia política desafiando o racionalismo
de uma filosofia política marxista estimulou a crí-
dominante do pensamento ocidental responsável,
tica social e política e levou à elaboração de al-
na sua visão, pelas tragédias do período, e, ao
guns dos trabalhos mais importantes da tradição
mesmo tempo, oferecendo uma versão original
marxista.
do conservadorismo separada de sua tradicional
associação com a religião, a moral, o historicismo A teoria e filosofia política elaborada durante
ou o nacionalismo. Também, durante esse perío- das décadas de 1950 e 1960 tinham uma série de
do, assistimos à publicação das obras fundamen- características distintivas, no entanto para os pro-
tais de Hannah Arendt, que se transformariam em pósitos da nossa discussão podemos distinguir
textos seminais na filosofia política do século XX, duas características centrais e que servem para
como The Human Condition (1958), Between Past pensar o processo de reconfiguração da década
and Future (1961) e On Revolution (1963). Nes- seguinte7.
Em primeiro lugar, apesar de que os diferen-
6 No prefácio de seu influente livro Politics and Vision, tes escritores tiveram preocupações distintas, to-
Sheldon Wolin colocava uma apreciação similar: “Em mui- dos eles eram conscientes de que a disciplina es-
tos círculos intelectuais existe hoje uma marcada hostilida- tava sob uma severa crítica originada em fontes
de em relação, ou ainda um desprezo, à filosofia política na diversas como o positivismo lógico, a filosofia lin-
sua forma tradicional. Minha esperança é que este volume,
se não conseguir aclamar aqueles que estão ansiosos por
jogar fora o que ainda existe da filosofia política tradicional,
ao menos seja exitoso em deixar claro o que tem sido des- 7 Retomamos o argumento de Parekh (1996), mas
cartado” (WOLIN, 2004, p. XXIII). reconfiguramo-lo para sustentar nosso argumento.

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güística, a sociologia do conhecimento, o com- moral, a conexão inerente entre liberalismo e ca-
portamentalismo e o existencialismo. Em especial pitalismo, e do que consideravam uma visão ins-
no mundo anglo-saxão, que como veremos se trumental da política.
tornaria dominante em diferentes áreas do conhe-
Não é fácil entender as razões teóricas e prá-
cimento, particularmente na filosofia e na filoso-
ticas pelas quais as análises da época diagnostica-
fia política, existia uma visão amplamente aceita
vam a morte da filosofia política ou seu declínio
sobre a divisão entre elementos empíricos e
terminal, apesar da fecundidade teórica dos auto-
normativos da explicação social, e a filosofia polí-
res do período. Sem dúvida o triunfo da Ciência
tica tradicional definitivamente pertencia ao segun-
Política de caráter comportamentalista, a
do tipo de explicação. Partia-se do pressuposto
desqualificação destas perspectivas como não
de que os valores não podiam ser defendidos de
“verdadeiramente” filosóficas pelo positivismo, e
maneira objetiva, as perspectivas de caráter
a crença que o engajamento filosófico com os
normativo não eram mais preferências pessoais
autores do passado era “história das idéias” e não
que reivindicavam ilegitimamente validade univer-
filosofia política, cumpriram um papel relevante.
sal. Os teóricos que estamos analisando discor-
No entanto, de forma paradoxal, outro fator tam-
davam dessa avaliação e enfatizavam que a filoso-
bém teve importância fundamental, o surgimento
fia política era uma forma de investigação neces-
de uma perspectiva normativa, cada vez mais do-
sária e relevante; ela deveria ser universal no seu
minante, na filosofia política. A grande maioria dos
alcance, crítica na sua orientação e buscar dar uma
autores das décadas de 1950 e 1960 concebia a
perspectiva racional da vida política. Para esses
filosofia política como um questionamento refle-
teóricos a contribuição essencial da filosofia políti-
xivo e descritivo preocupado fundamentalmente
ca consistia em destacar as características funda-
em compreender ao invés de prescrever. Consi-
mentais da vida humana em geral e da vida política
derando que os escritos desses autores não pre-
em particular, criticar os projetos ideológicos
enchiam os estritos critérios estabelecidos pelos
irrealizáveis e clarificar as formas prevalecentes do
críticos do que deveria constituir uma “verdadei-
discurso político. A filosofia política deveria focar
ra” filosofia política, estes pronunciaram de for-
suas análises na interpretação crítica dos proces-
ma previsível a morte da disciplina (idem, p. 506-
sos sociais e políticos, e seu caráter prescritivo era
507).
derivado do processo anterior; as análises deveri-
am operar num nível de abstração que tornava com- Em resumo, parece que – ainda será necessá-
plexa a recomendação de instituições e políticas rio um aprofundamento deste diagnóstico – du-
específicas (PAREKH, 1996, p. 505). rante as décadas de 1950 e 1960 assistimos me-
nos a um processo de morte ou declínio da teoria
Em segundo lugar, os teóricos que escreve-
e da filosofia política e, sim, a um profundo pro-
ram durante esse período tinham vivido os horro-
cesso de “esgotamento” – aqui o termo talvez seja
res da Segunda Guerra Mundial, o surgimento do
excessivo ou impreciso – de determinadas pers-
nazismo e do stalinismo, e uma parte importante
pectivas analíticas que teve como conseqüências
de suas teorizações concentrou-se nas tendências
uma profunda reconfiguração, desde vários pon-
latentes na civilização ocidental que levaram a es-
tos de vista, da prática teórica.
ses horrores. Eles rastrearam as raízes destas ten-
dências no racionalismo (Oakeshott), no III. RETOMADA DA TEORIA POLÍTICA
historicismo (Popper), no monismo moral (Berlin),
Observamos, durante as décadas de 1960 e
no surgimento do animal laborans (Arendt), no
1970, um processo de “ressurgimento” ou de pro-
relativismo (Strauss) e da lógica do capitalismo
funda reconfiguração da teoria e da filosofia políti-
(Marcuse e outros pensadores marxistas). Não
ca. Várias explicações procuraram, porém nenhu-
obstante serem oponentes ferozes do comunis-
ma completamente satisfatória, entender e explicar
mo, a maioria dos filósofos políticos não-marxis-
esse “ressurgimento”. A explicação mais consensual
tas tinha uma visão crítica da democracia e da
sobre este processo é que a Teoria Política se de-
sociedade liberal. Como afirma Parekh (idem, p.
senvolveu porque seu principal adversário, o
506), estes autores eram, em muitos casos, ex-
comportamentalismo, entrou em crise.
tremamente críticos dos chamados valores libe-
rais, censurando a visão associal do individuo, a A Ciência Política comportamentalista tinha
visão anistórica da racionalidade, o subjetivismo retomado as categorias e distinções-chave de uma

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TEORIA POLÍTICA: UM BALANÇO PROVISÓRIO

filosofia particular, o positivismo filosófico, as- a Guerra do Vietnã e pela retirada das tropas
sim uma história adequada “revolução comporta- estadunidenses de lá. Esses acontecimentos cen-
mentalista” deve incluir, também, uma considera- trais da referida década colocaram uma série de
ção da ascensão e da queda de seus fundamentos assuntos que eram problemas políticos antes de
filosóficos (FARR, 1995). serem questões teóricas: a legitimidade do Esta-
do, os limites da obrigação política, a natureza da
Como afirma Terence Ball, o positivismo filo-
justiça e as preocupações com a consciência polí-
sófico teve uma função normativa particularmen-
tica da população.
te importante para o comportamentalismo; o
positivismo definia os parâmetros de uma elabo- Foi nesse contexto teórico e político que sur-
ração verdadeiramente científica, e o que a Ciên- giram novas obras teóricas fundamentais na tra-
cia Política deveria ser para que fosse considera- dição da Teoria Política e da história do pensa-
da ciência. Em primeiro lugar, a Ciência Política mento político. Foram nesses anos que John Rawls
deveria distinguir “fatos” e “valores”; em segun- desenvolveu as idéias centrais que cobrariam for-
do lugar, ela deveria privilegiar uma abordagem ma sistemática em Uma teoria da Justiça (1971),
“empírica” em detrimento de uma “normativa” e uma obra voltada ao exame de temas que ganha-
adotar, como conseqüência, uma abordagem de ram proeminência nos agitados anos sessenta:
caráter explicativo. Uma explicação científica, de políticas redistributivas, objeção de consciência,
acordo com esses pressupostos positivistas, de- e legitimidade do poder do Estado. Também, nes-
pendia da descoberta e desenvolvimento de leis se período, surgem com força no mundo anglo-
objetivas e universais. A Teoria Política “tradicio- saxão as contribuições de Quentin Skinner e da
nal”, por sua vez, não se adequava aos critérios Escola Contextualista do pensamento político
positivistas de significância cognitiva e suficiên- (também conhecida como “Escola de
cia explicativa; por esses motivos, ela era rejeita- Cambridge”).
da, considerada não-científica ou, no máximo,
O desenvolvimento dessas duas correntes te-
como pré-científica e, portanto, destinada a ser
óricas parece sintetizar o processo de “ressurgi-
superada. A Teoria Política deveria, continua Ball,
mento”, e reconfiguração, da Teoria Política a
concentrar seus esforços no estudo dos pensado-
partir da década de 1970. É possível, ainda que
res clássicos do passado e deixar que os proble-
de forma hipotética, tentar analisar algumas das
mas políticos contemporâneos fossem abordados
características dominantes destas novas formas
pela Ciência Política, estabelecendo desta forma
de teorização.
uma dicotomia básica entre os elementos
normativos e empíricos da explicação social. Her- Um primeiro elemento refere-se ao desloca-
deira como era de uma filosofia da ciência espe- mento geográfico da produção intelectual. Come-
cífica, o destino da Ciência Política ça a existir, a partir da década de 1970, uma cres-
comportamentalista esteve ligado à crise do cente hegemonia intelectual do mundo anglo-
positivismo filosófico. No entanto, seria incorre- saxão, e especialmente da produção norte-ameri-
to ou simplista relacionar o ressurgimento da Te- cana, no âmbito das ciências sociais. A ascendên-
oria Política exclusivamente com a crise do cia da filosofia analítica e da economia neoclássica,
positivismo filosófico e o declínio associado do ambas as disciplinas com certa tradição no mun-
comportamentalismo (BALL, 2004, p. 4). do anglo-saxão, são exemplos deste processo de
deslocamento8. O ressurgimento da Teoria Políti-
Um segundo elemento a ser considerado refe-
ca no período que estamos analisando esteve
re-se às relações entre elaboração teórica e o mo-
acompanhado deste novo predomínio da produ-
vimento do mundo político real. Durante a déca-
ção anglo-saxão, e em especial de autores norte-
da de 1960 assistimos a uma série de eventos fun-
americanos, e teve como conseqüência também
damentais para a fortuna da Teoria Política. A agi-
uma mudança importante na própria abordagem
tação política serviu como fundamento da ativi-
da disciplina.
dade teórica; alguns dos eventos mais importan-
tes foram, só para nos concentrar nos Estados Em segundo lugar, podemos ver uma
Unidos, o movimento pela liberdade de expressão reconfiguração da Teoria Política do próprio pon-
na Universidade da Califórnia em Berkeley, o mo-
vimento pelos direitos civis e os protestos contra 8 Sobre esse deslocamento geográfico, ver Anderson (1990).

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to de vista político. Como analisamos anterior- Uma das teses centrais da filosofia analítica em
mente, a maioria dos teóricos das décadas anteri- sua crítica ao positivismo lógico é a inadequação
ores era de pensadores conservadores ou críticos da formalização tradicional para o estudo dos enun-
profundos da democracia e dos valores liberais. ciados éticos; a concepção global que grande parte
Ainda que o liberalismo fosse hegemônico do ponto dos lógicos tem da linguagem natural é, segundo
de vista dos valores políticos e sociais, não o era esta interpretação, falsa ou pelo menos parcial, o
do ponto de vista da Teoria Política. Foi só a par- que levaria a uma perspectiva reducionista. Para a
tir da década de 1970 que a Teoria Política se trans- filosofia analítica o uso descritivo da linguagem não
formou em hegemonicamente liberal; apesar da era o único uso, nem o mais importante.
existência de outras correntes de pensamento não-
As pesquisas de Wittgenstein e de Austin leva-
liberal, como os comunitaristas, somente para ci-
ram a questionar a noção segundo a qual a única e
tar um exemplo.
principal função das palavras é “descrever” algu-
Por último, assistimos a uma mudança pro- ma coisa, e expuseram a idéia central de que na
funda do ponto de vista epistemológico, caracte- maioria das vezes “atuamos ao falar”. A filosofia
rizada pela crise do positivismo filosófico e pelo analítica não pretendia negar a função teórica e des-
surgimento da filosofia analítica. Uma análise de- critiva da linguagem natural, nem reduzir a uma
talhada da filosofia analítica está fora das possibi- função exclusivamente pragmática, seu objetivo era
lidades do presente trabalho, no entanto é possí- restabelecer o equilíbrio entre as diversas formas
vel considerar algumas das críticas, temas e con- de comunicação lingüística e em particular reco-
ceitos que influenciaram de forma marcante as nhecer aquelas descuidadas pelos filósofos (idem).
duas correntes da Teoria Política que estamos
A crítica levada adiante pela filosofia analítica
analisando.
cumpriu um papel-chave no processo de
Um dos elementos centrais se refere à relação reconfiguração da Teoria Política a partir da dé-
da filosofia analítica com a lingüística; a crítica cada de 1970. Por uma parte, dando à linguagem
da utilização do formalismo lógico permitiu a vol- e à filosofia da linguagem um lugar central na sua
ta da linguagem ordinária ao centro das análises elaboração teórica, e colocando uma série de con-
(ordinary language). A crítica do formalismo per- ceitos que seriam reapropriados pelos historiado-
mitiu recuperar os aspectos semânticos e prag- res do pensamento político para redefinir os ter-
máticos da linguagem, por oposição ao aspecto mos nos quais as pesquisas eram realizadas. Por
sintático, e para isso foram centrais as obras de outra, a crítica da filosofia analítica permitiu avan-
Wittgenstein, de J. L. Austin (particularmente How çar da análise redutora para a análise neutra, pos-
To Do Things with Words, de 1962) e também de sibilitando que a ética, e os juízos morais, não fos-
J. R. Searle (Speech Acts, de 1969). Esses textos sem tratados como um discurso inferior ao dis-
também serviram como ponto de partida para que curso teórico, e afirmado a tese de que o discurso
autores como Skinner pudessem recolocar a iden- prático, isto é, o discurso ético, era distinto do
tidade histórica da Teoria Política. discurso teórico.
Outro elemento de fundamental importância Desta forma, a crítica do positivismo lógico
se refere ao tema das proposições éticas. O realizada pela filosofia analítica preparou o cami-
positivismo lógico em sua crítica à metafísica, e nho para o ressurgimento da Teoria Política e da
que englobava também a moral, afirmava que as história do pensamento político, no entanto com
proposições éticas não eram verificáveis características bastante diferentes das teorias de-
empiricamente, e alguns positivistas, inclusive senvolvidas nas décadas anteriores; assim o res-
Ayer, sustentam sua crítica às proposições surgimento implicou de fato uma profunda
metafísicas a partir de questões lógicas afirman- reconfiguração do método e do objeto da prática
do que elas não estão “bem-formuladas”. No en- teórica.
tanto, a pergunta que o positivismo lógico não
O objetivo daqui em diante é realizar uma re-
conseguia responder era que: Se os enunciados
construção dos principais desenvolvimentos teó-
de natureza moral simplesmente não tinham sen-
ricos das últimas décadas partindo-se desse pres-
tido, por que desempenhavam um papel tão im-
suposto de um processo de profunda
portante no pensamento e na vida dos homens
reconfiguração.
(cf. BELAVAL, 1981)?

23
TEORIA POLÍTICA: UM BALANÇO PROVISÓRIO

IV. A OBRA DE RAWLS cimento da obra de Rawls, e de outras obras de


liberais igualitários, nos anos 1970, parecia pro-
A publicação de Uma teoria da Justiça foi re-
ver com argumentos satisfatórios, do ponto de
cebida como o tratado de filosofia política mais
vista intelectual, para defender no debate político
importante do século XX, e considerada uma re-
esse processo de expansão.
tomada da discussão política distanciando-se da
indiferença apolítica da filosofia analítica desen- A visão de Rawls representou algumas mu-
volvida até então9. A filosofia política, a partir de danças importantes no discurso sobre a justiça,
uma perspectiva analítica, demonstrava que po- que ilustravam como a tradição filosófica tinha
dia enfrentar os problemas sociais do momento, estabelecido laços com a economia e com a teoria
defender direitos iguais e oferecer uma série de jurídica; construindo desta forma um novo tipo
princípios orientadores para a distribuição dos re- de filosofia política, com algumas características
cursos econômicos. Rawls procurava desenvol- particulares: seu alto nível de abstração, sua com-
ver uma concepção especificamente liberal da plexidade técnica e sua moderação do ponto de
política, como surgia do título de sua segunda obra visto político.
fundamental Liberalismo político (1993). Para
Uma teoria da Justiça adotava os principais
Wolin (2004), a motivação do projeto estava im-
elementos da problemática liberal, as tensões en-
plícita em certa justaposição da terminologia,
tre liberdade e igualdade, a distinção entre as di-
Rawls estava propondo uma solução liberal para
mensões políticas e econômicas da vida social e
o que ele considerava como a evidente crise da
uma base consensual da sociedade como pressu-
democracia constitucional moderna10.
posto político fundamental.
A primeira obra de Rawls foi uma tentativa de
Colocando a justiça como a primeira virtude
prover uma justificativa filosófica para o Welfare
de todas as instituições sociais, Rawls aponta sua
State liberal-democrático do pós-guerra. De fato,
intenção de abordar a questão da desigualdade. A
como afirma Kymlicka (2002), esta ligação com
concepção de justiça é formulada primordialmen-
o Welfare State ajuda a explicar a ampla influência
te em termos econômicos como “a forma na qual
das teorias políticas do liberalismo igualitário. Os
as principais instituições sociais distribuem direi-
anos 1950 e 1960 presenciaram a enorme expan-
tos e deveres e determinam a divisão das vanta-
são do Estado na maioria das democracias oci-
gens da cooperação social” (RAWLS, 1971, p.
dentais, no entanto não existia nenhuma elabora-
7). A teoria da justiça era concebida como parte,
ção teórica, do ponto de vista filosófico, que ser-
talvez a mais significativa, da teoria da escolha
visse de justificativa para esse processo. O apare-
racional. O ponto de partida não será o cidadão
virtuoso e sim o indivíduo racional da teoria eco-
nômica; de forma congruente, o princípio definidor
da cidadania é a reciprocidade, o que leva a uma
9 “Rawls’s book had an immense impact and enabled mo-
importante mudança na idéia tradicional de con-
ral and political philosophy to stop seeing themselves as
trato social, de uma solução política contra o po-
purely (or at least primarily) descriptive approaches: they
could now claim an active role in the discussion and der arbitrário passa a privilegiar uma concepção
resolution of public problems” (NEHAMAS, 1997, p. 217). de negociação.
[“O livro de Rawls teve um impacto imenso e permitiu que
a Filosofia Moral e Política parasse de ver-se como aborda-
A centralidade atribuída à economia, como afir-
gens puramente (ou, pelo menos, primariamente) descriti- ma Wolin, tem importantes conseqüências políti-
vas: ela poderia agora reivindicar um papel ativo na discus- cas para Rawls. O papel da administração é am-
são e na resolução dos problemas públicos” (T. R.).] Para pliado, enquanto a governança é concebida
uma análise do impacto da obra na filosofia política con- tecnocraticamente, reduzida a um Estado autôno-
temporânea, ver também Klymlicka (2002). mo altamente centralizado independente dos po-
10 Retoma-se nos pontos fundamentais a interpretação de deres econômicos e sociais que supostamente deve
Sheldon Wolin sobre Rawls. O objetivo não é fazer uma regular. Para Rawls os arranjos de livre mercado
análise exaustiva da obra de Rawls, o que ficaria fora das devem ter lugar dentro de um marco de institui-
possibilidades do presente texto, e, sim, oferecer alguns
ções jurídicas que regulem as tendências gerais
elementos que permitam entender os desenvolvimentos da
Teoria Política das últimas décadas. Para uma interpreta- dos sucessos econômicos e conservem as condi-
ção diametralmente diferente da obra de Rawls ver, dentro ções sociais necessária para a justa igualdade de
da literatura brasileira, cf. Vita (2000). oportunidades. Rawls concebe a autonomia regu-

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 19, Nº 39: 17-34 JUN. 2011

ladora do Estado, e seu poder para transformar as nhecer o sistema econômico como um sistema
desigualdades sócio-econômicas, sem examinar de poder ou conjeturar sobre qualquer meio de
a estrutura econômica da sociedade que concen- resistência popular a ele, a visão rawlsiana da jus-
tra tanto riqueza como poder. Seu silêncio sobre tiça evita qualquer desafio direto ao sistema capi-
as estruturas do poder econômico não é uma talista e a sua política concentradora (WOLIN,
omissão, mas um gesto de legitimação (WOLIN, 2004, p. 532-533).
2004, p. 531).
Desde o momento de sua publicação Uma te-
A justiça rawlsiana baseia-se em dos princípi- oria da Justiça recebeu numerosas críticas, às
os básicos. O primeiro princípio exige direitos e que Rawls tentou responder em uma diversidade
obrigações iguais para todos. O segundo estipula de escritos; nestes trabalhos Rawls começou a
que as desigualdades podem ser consideradas desenvolver uma reformulação radical de sua con-
como justas se, e somente se, elas “produzem cepção de justiça, recortando suas pretensões
benefícios compensatórios para todos” e “em par- “universalistas” e rasgos “metafísicos” para
ticular para os menos avantajados da sociedade” convertê-la em uma doutrina “meramente” políti-
(RAWLS, 1971, p. 14-15). A desigualdade é ca11. A publicação de sua segunda obra central,
identificada fundamentalmente como distribuição Liberalismo político, em 1993, representou o pon-
desigual de recursos básicos e oportunidades de to mais importante deste processo de
forma tal que impedem ou debilitam o exercício reformulação, um dos problemas centrais era que
dos direitos. sua teoria não representaria uma concepção real-
mente neutral frente às distintas concepções de
Sob o segundo princípio, a desigualdade é
bem sendo, portanto, uma teoria incapaz de asse-
considerada sistêmica, no entanto potencialmente
gurar as bases da própria estabilidade. O desafio
benéfica para os menos avantajados e como con-
era elaborar uma concepção de justiça, e abordar
seqüência não existe necessidade de uma reforma
a difícil questão da política, de um ponto de vista
radical. A desigualdade é inerente, mas pode ser
estritamente liberal.
mitigada. Em outros momentos de sua obra Rawls
sugere que as causas da desigualdade são exter- Para Wolin, Liberalismo político é menos uma
nas ao sistema, aqui a desigualdade é caracteriza- continuação das preocupações centrais de Uma
da como um resultado desafortunado das condi- teoria da Justiça e mais uma obra que implica
ções sociais imprevisíveis ou talentos naturais in- algumas mudanças fundamentais do ponto de vista
dividuais que são impossíveis de controlar total- teórico. O discurso centrado em temas econômi-
mente ou de eliminar. No entanto, o argumento cos, administrativos e de políticas públicas, junto
evita atribuir a origem das desigualdades à estru- com o problema da desigualdade, praticamente
tura de classes, preconceitos históricos de raça desaparece e é substituído pela ênfase na orto-
ou gênero, políticas públicas desiguais, ou mu- doxia política, a importância da cultura política e
danças tecnológicas que produzem populações no papel do cidadão (WOLIN, 2004, p. 539). A
supérfluas. Apesar de a justiça rawlsiana focar-se mudança mais significativa é que o conflito de
no melhoramento da sorte dos menos avantaja- doutrinas passou a ser a preocupação central no
dos, não existe nenhuma promessa de que a justi- lugar das desigualdades sócio-econômicas. Esse
ça implique em erradicar a desigualdade. tema representado pelas doutrinas abrangentes, afir-
ma Rawls, coloca um perigo para a própria exis-
A desigualdade é, desta forma, atribuída à or-
tência da sociedade democrática. As doutrinas com-
dem do irracional ou do contingente, ou à loteria.
preensivas são definidas como um sistema de cren-
Os benefícios compensatórios da desigualdade não
ças que “abrange todos os tipos de assuntos, desde
parecem desafiar as desigualdades estruturais do
a conduta individual, as relações pessoais até a or-
sistema de poder. Ao mesmo tempo, Rawls é cé-
ganização da sociedade como um todo e o direito
tico sobre o valor da participação como meio de
da gente” (RAWLS, 1993, p. 13).
contrarrestar a influência das corporações eco-
nômicas. Os direitos econômicos, como a parti-
cipação dos trabalhadores nas decisões das em-
presas, são excluídos explicitamente e desta for- 11 Em particular, “Justice as Fairness: Political not
ma se evita a questão crucial das conseqüências Metaphysical” (1985) e “The Domain of the Political and
políticas da organização econômica. Ao não reco- Overlapping Consensus” (1989).

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TEORIA POLÍTICA: UM BALANÇO PROVISÓRIO

A principal tentativa de Liberalismo político é nas quais o homem é um animal social, e mesmo
mostrar que é possível construir, num contexto político, cuja essência natural é plenamente
de existência de um “pluralismo razoável” de con- alcançada em uma sociedade democrática na qual
cepções de bem, uma concepção de justiça com- existe uma generalizada e vigorosa participação
partilhada e que funcione; para isso Rawls busca na vida política (RAWLS, 1988). A participação,
evitar os desacordos entre a multiplicidade de dou- Rawls observa criticamente, é proclamada não
trinas existentes e identificar as bases possíveis meramente como um direito, mas como o locus
de um acordo suficientemente amplo e profundo. privilegiado da boa vida. Uma concepção de de-
Com esta finalidade, Rawls apresenta sua teoria mocracia mais ampla, menos formal e mais subs-
como uma concepção “política” da justiça. O fato tantiva implicaria, na visão de Rawls, entrar no
de defender uma concepção “política” de justiça âmbito das doutrinas compreensivas. Mas, de fato,
não significa que ela seja complemente distinta de o liberalismo político rawlsiano não seria também
uma concepção moral; como afirma Rawls, a uma forma de doutrina compreensiva (WOLIN,
concepção política de justiça é uma concepção 2004, p. 549).
moral (idem, p. 11), porém elaborada em relação
Como afirma Wolin, é possível ver como a
com um objeto específico da estrutura básica da
mudança de ênfase das obras reflete problemas e
sociedade.
preocupações diferentes enfrentados por Rawls.
Rawls apela à idéia de um consenso sobre- É possível considerar que a primeira das obras
posto (overlapping consensus) destinado a tornar expressa um contexto histórico e político especí-
possível que concepções compreensivas razoá- fico, uma conjuntura que surge com a instaura-
veis e opostas confluam em certos acordos bási- ção do New Deal – enquanto Estado regulador e
cos. Segundo Rawls, o overlapping consensus faz de bem-estar social –, com sua confiança na re-
referência a um acordo entre pessoas razoáveis, solução dos problemas sociais mediante uma com-
que só aceitam doutrinas compreensivas razoá- binação de administração e políticas específicas,
veis (idem, p. 139). Nesse sentido, o consenso até a proposta de Great Society de Lyndon Johnson,
sobreposto aparece como a única forma de per- cujos principais objetivos de reforma social eram
mitir que, em um contexto pluralista, cada indiví- a eliminação da pobreza e o fim da discriminação
duo chegue a concordar com uma concepção racial. Dessa forma, Uma teoria da Justiça, com
pública de justiça; esse consenso só será possível sua ênfase econômica na distribuição de recursos
uma vez que a concepção pública em questão apa- e política no valor fundamental dos direitos, refle-
reça como razoável aos olhos de todos. Assim, o tia a tradição do Welfare State e a luta pelos direi-
overlapping consensus é uma expressão do que tos civis das décadas anteriores. Em contraposição,
se denomina “razão pública compartilhada” pelo sua obra posterior, Liberalismo político, repre-
conjunto da sociedade. A idéia de razão pública senta o liberalismo em uma era de crescente pre-
resulta especialmente importante na explicação de domínio conservador, e de “guerras culturais”, um
como é possível defender uma constituição justa liberalismo que se inclina para o centro e que como
e estável dentro de uma sociedade pluralista. conseqüência deixa de lado o problema de tentar
resolver a relação entre desigualdades econômi-
De alguma forma, o ideal de razão pública vem
cas e sociais e igualdade política. Esta última obra
a desenvolver o critério liberal de acordo com o
de Rawls desloca o problema da democracia do
qual um governo democrático não deveria justifi-
âmbito material, para recolocá-lo no âmbito cul-
car suas políticas apelando a valores religiosos
tural ou ideológico (WOLIN, 2004, p. 530).
(GARGARELLA, 1999).
V. A ESCOLA DE CAMBRIDGE
O liberalismo político, proposto por Rawls,
aceita a democracia como um princípio formal de Durante a década de 1960 foram publicados
cidadãos livres e iguais, e ao mesmo tempo con- uma série de trabalhos de caráter metodológico
dena explicitamente outras tradições políticas que colocaram as fundações do trabalho dos his-
como o humanismo cívico, uma forma de tam- toriadores das idéias. Três desses trabalhos fo-
bém desaprovar uma concepção de democracia ram de particular relevância: John Pocock publi-
entendida como participação política. O cou o ensaio “The History of Political Thought: A
humanismo cívico e a democracia participativa Methodological Enquiry” (1962); John Dunn, “The
são denunciados como doutrinas compreensivas Identity of the History of Ideas” (1968); em 1969

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 19, Nº 39: 17-34 JUN. 2011

aparecia “Meaning and Understanding in the balho editorial sobre os textos de Robert Filmer e
History of Ideas”, de Quentin Skinner, o mais in- John Locke (cf. LASLETT, 1949; 1960). Esses
fluente dos textos metodológicos desSa nova trabalhos colocaram os fundamentos históricos e
historiografia12. teóricos que deveriam guiar as pesquisa dos his-
toriadores do pensamento político. A partir des-
O objetivo central desses trabalhos era ques-
ses elementos começava a tomar forma uma
tionar a abordagem tradicional da Teoria Política
historiografia com ênfases características. Em
e sustentar a identidade histórica da Teoria Polí-
primeiro lugar, sobre a variedade das linguagens
tica; o método apropriado para desenvolver seu
em que o debate político podia ocorrer; em se-
estudo era o método histórico, e o significado dos
gundo lugar, sobre os participantes do debate po-
conceitos e idéias-chave dos textos centrais da
lítico, vistos como atores históricos, reagindo uns
Teoria Política deveria ser entendido partindo-se
em relação aos outros em uma diversidade de con-
da noção de um significado historicamente cons-
textos históricos, e particularmente lingüísticos,
truído (HAMPSHER-MONK, 2001, p. 159-60).
conferindo uma textura extremamente rica à his-
As origens desse processo de reformulação tória, que podia ser resgatada (POCOCK, 2003a,
devem ser buscadas na análise lingüística, um dos p. 24-25).
desdobramentos da filosofia analítica, como tem-
Como afirma Pocock (idem), as formulações
se analisado, adotada por alguns teóricos da Uni-
teóricas de Thomas Kuhn e o fim do predomínio
versidade de Cambridge na década anterior – 1950
de popperismo, tiveram ampla importância nesse
–, e nas teorias dos atos de fala (speech-acts) de-
processo de reformulação, no entanto foi na me-
senvolvidas em Oxford. O foco principal destas
tade da década de 1960, com a publicação dos
visões se concentrava na ampla variedade de coi-
textos metodológicos de Skinner13, que os histo-
sas que podiam ser reconhecidas como ditas, e
riadores do pensamento político começaram a
especialmente na diversidade de contextos
mostrar a lógica de sua própria pesquisa e a
lingüísticos que iriam determinar o que poderia
aprofundá-la nas áreas em que ela se aproximava
ser enunciado e que, ao mesmo tempo, podiam
da filosofia da linguagem.
ser modificados por essas enunciações. Os histo-
riadores do pensamento político apropriaram-se Quentin Skinner tomou como ponto de parti-
dessas concepções e desenvolveram uma análise da de sua elaboração teórica a aplicação de uma
crítica com relação aos fundamentos posição filosófica particular, a análise dos atos de
epistemológicos de suas pesquisas. Como afirma fala (speech acts) de Austin. O trabalho inicial de
Pocock, era curioso que a série Philosophy, Pocock, por sua vez, baseava-se numa tradição
Politics and Society, publicada por Peter Laslett a de prática intelectual que explorava uma varieda-
partir de 1956, se dedicasse quase inteiramente de de fundamentos metodológicos, porém articu-
ao exame e investigação de problemas políticos, e lados de forma crescente e original no conceito
escassamente à definição de seu status histórico de linguagem. Podemos ver, portanto, posições
ou à historiografia do debate político; talvez uma contrastantes, Skinner partiu de uma posição
demonstração das dificuldades de estabelecer um metodológica desafiante, específica e combativa
diálogo construtivo entre filosofia e história. Uma (SKINNER, 2002b), e em contraste Pocock ten-
exceção fundamental dessa tendência, de signifi- tou um tipo de explicação mais branda, reconhe-
cativa importância, foram os textos de Pocock, cendo o caráter exploratório do estudo da história
Dunn e Skinner também publicados nessa série. do pensamento político. Pocock parte de uma
aproximação de tradição, inspirada em Michael
De forma paradoxal, ao mesmo tempo em que
Oakeshott, que permite entender tanto o objeto de
Laslett anunciava que “a filosofia política estava
análises como as recomendações de como abordá-
morta”, a história do pensamento político come-
lo. Teorizar em diálogo com uma tradição implica
çava um processo de profunda reformulação, em
necessariamente um processo de abstração dela.
grande medida como conseqüência do próprio tra-
O equívoco na história do pensamento político
balho de Laslett – em particular graças a seu tra-

13 De particular importância é “Meaning and


12 Sobre essa nova historiografia do pensamento político Understanding in the History of Ideas”, de 1967 mas pu-
ver, entre outros, Silva (2009a; 2009b). blicado em 1969.

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TEORIA POLÍTICA: UM BALANÇO PROVISÓRIO

consiste na tentativa equivocada de apresentar a a difícil noção de intenção. Skinner formula seu
história de uma tradição discursiva não estabele- apelo à historicidade de uma interpretação em ter-
cendo evidências históricas para suas continuida- mos de recuperação da intenção do autor. Como
des conceituais, mas sim por meio da identifica- conseqüência, um dos elementos centrais de uma
ção especulativa das conexões ou, ainda pior, cons- abordagem histórica do pensamento político será
truindo exemplos canônicos mediante a abstração enfatizar a importância de resgatar as intenções
filosófica (POCOCK, 2003a, p. 160-161)14. que um autor teria ao elaborar seu texto. A ênfase
nas intenções do autor leva Skinner a analisar o
O trabalho de Skinner tem combinado desde
contexto no qual aquele escreve; as intenções do
o começo com um trabalho substantivo sobre o
autor não podem existir de forma independente
pensamento político moderno (SKINNER, 2009),
da linguagem em que o texto é construído.
tendo uma preocupação metodológica marcante.
Sua posição tem acentuado uma característica Como afirma Skinner (idem), o contexto apro-
fundamentalmente lingüística do trabalho do his- priado para entender as expressões de determina-
toriador do pensamento político. do autor será sempre qualquer contexto que per-
mita apreciar a natureza da intervenção constituí-
Alguns conceitos centrais dos trabalhos de
da por suas expressões; para recuperar esse con-
Ludwig Wittgenstein – Philosophical Investiga-
texto em qualquer caso particular será necessário
tions – e de J. L. Austin – How to Do Things with
realizar uma pesquisa histórica extremamente
Words – são retomados na análise de Skinner. Em
ampla, tanto no seu espectro como em seus deta-
relação a Wittgenstein, retoma a idéia de que os
lhes. Se o historiador for capaz de identificar esse
significados das palavras não podem ser pensa-
contexto com suficiente precisão, será possível
dos isoladamente, seu significado deve ser com-
interpretar o que o escritor estava fazendo ao di-
preendido dentro de jogos de linguagem específi-
zer o que ele diz.
cos e, de forma mais geral, dentro de formas de
vida particulares; de Austin retoma a idéia de que O autor, nessa visão, habita um mundo histo-
para analisar o significado das palavras é funda- ricamente determinado, que é apreensível somen-
mental entender que elas também são fatos, e que te por meios disponíveis graças a uma série de
é possível fazer coisas com as palavras15. linguagens historicamente constituídas. Os mo-
dos de discurso disponíveis dão-lhe as intenções
Ambos os autores, segundo a leitura de
que ele pode ter ao proporcionar-lhe os únicos
Skinner, sustentam que para compreender qual-
meios de que ele poderá dispor para efetuá-las.
quer enunciado sério é necessário captar alguma
Neste ponto, a análise busca entender a relação
coisa que vai além e está por cima do sentido e da
existente entre contexto lingüístico e os atos de
referência dos termos utilizados para expressá-lo.
fala. O método analítico proposto por Skinner
Seria necessário, na formulação particular de
aponta na direção tanto do resgate da linguagem
Austin, encontrar os meios para recuperar aquilo
do autor quanto das intenções, bem como de tratá-
que o agente poderia ter feito ao dizer aquilo que
lo como um habitante de um universo lingüístico.
ele diz e, portanto, entender o que o agente teria
Para Skinner isso não implica reduzir o autor a
desejado significar ao utilizar uma expressão com
um mero porta-voz de sua própria linguagem.
esse exato sentido e referência. Dessa forma as
Quanto mais complexo, e até quanto mais contra-
intuições de Wittgenstein e Austin oferecem uma
ditório o contexto lingüístico em que ele se situa,
hermenêutica excepcionalmente valiosa para os
mais ricos e ambivalentes serão os atos de fala
historiadores intelectuais (SKINNER, 2002b, p.
que ele terá condições de emitir e maior será a
103-104).
probabilidade de que esses atos atuem sobre o
No momento da fala e da escrita o autor tam- próprio contexto lingüístico e induzam modifica-
bém está realizando uma performance discursiva ções no interior dele. Nesse momento, a história
e isso é particularmente válido no caso da ação do pensamento político torna-se uma história da
política. Aliada a essa noção de performance está fala e do discurso, das interações entre a fala do
autor e o contexto lingüístico no qual habita. Sus-
tenta-se não somente que essa história do pensa-
14 Essa crítica também está presente em Skinner (2002a).
mento político é uma história do discurso, mas
15 Outra influência importante no trabalho de Skinner foi que ela tem uma história justamente em virtude de
a filosofia da história de R. G. Collingwood. tornar-se discurso (POCOCK, 2003a, p. 27-28).

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 19, Nº 39: 17-34 JUN. 2011

Por sua vez, na interpretação de Pocock – político na forma em que se encontravam dispo-
seguindo Oakeshott – a Teoria Política pode ser níveis na cultura e na época que o historiador está
abordada por diferentes enfoques, pode ser pen- estudando: identificá-los à medida que aparecem
sada como modos de experiência, históricos ou na textura lingüística de uma determinada obra e
práticos, ou a partir de disciplinas rivais; uma aná- saber o que eles comumente teriam tornado pos-
lise deste tipo parece destacar a tensão fundamental sível ao autor do texto “dizer” aquilo. Em certo
entre o histórico e o filosófico. A análise de Pocock grau o processo de aprendizado é um processo
tem combinado dimensões lingüísticas e socioló- de familiarização, mas o intérprete não pode per-
gicas; na visão do autor cada sociedade desenvol- manecer meramente passivo e receptivo à lingua-
ve um determinado vocabulário político estável gem que lê, com freqüência será necessário em-
compreendendo uma série de conceitos agrupa- pregar certos procedimentos de detecção que tor-
dos em um domínio interno formado pela gramá- nem possível construir e validar hipóteses, no sen-
tica e sintaxe e com repertório de associações. A tido de estabelecer que tais e tais linguagens esta-
existência de vários grupos suficientemente se- vam sendo empregadas e podiam ser empregadas
gregados dentro de uma sociedade pode levar ao de tais e tais maneiras. Nessa linha de trabalho, o
desenvolvimento de dois ou mais vocabulários historiador das idéias terá inevitavelmente de se
(HAMPSHER-MONK, 2001, p. 161). confrontar com problemas de interpretação, de
tendência ideológica e com o círculo hermenêutico
Como conseqüência, afirma Pocock, uma das
(POCOCK, 2003a, p. 33).
tarefas centrais do historiador do discurso políti-
co é estabelecer a linguagem ou linguagens em Em um de seus primeiros trabalhos impor-
que determinada passagem do discurso político tantes – The Ancient Constitution and the Feudal
estava sendo desenvolvida. Essas “linguagens” Law (POCOCK, 2004) – Pocock identificou a
serão na realidade sub-linguagens, idiomas e retó- existência de conflito entre duas linguagens fun-
ricas mais do que linguagens no sentido estrito; damentais na Inglaterra do período: a linguagem
essas linguagens também variam no seu grau de da common law, de acordo com a qual a busca do
autonomia e estabilidade. A tarefa do historiador é precedente como forma de argumentar politica-
buscar os modos de discurso estáveis o suficien- mente implicava a existência de um passado inal-
te para permitir seu uso por parte de mais de um terável; e a linguagem baseada na feudal law, a
locutor e para apresentar o caráter de um jogo de- partir da qual era discernível uma estrutura dife-
finido por uma estrutura de regras para mais de um rente do passado inglês. Para ambas as lingua-
jogador. Isso possibilitará considerar o modo pelo gens o passado exercia uma autoridade sobre o
qual os jogadores exploram as regras uns contra pressente e, portanto, os autores que utilizavam
outros, e ao mesmo tempo, como atuam sobre as essas linguagens procuravam conhecer a verdade
regras com a conseqüência de alterá-las. Essas lin- sobre o passado como forma de estabelecer ou
guagens variam também na origem e, por conse- contestar a legitimidade do presente.
guinte, em conteúdo e caráter. Algumas podem ter
Pocock entende que a primeira tarefa de cará-
sua genealogia nas práticas institucionais de deter-
ter interpretativo do historiador do pensamento
minada sociedade: como os jargões profissionais
político deve ser identificar e construir essas lin-
de filósofos, teólogos, juristas, comerciantes, ou
guagens e suas transformações no tempo. Expli-
aqueles que se tornaram reconhecidos como inte-
car a produção de um autor determinado implica
grantes da prática política ou como formuladores
identificar sua relação com a linguagem ou lin-
do discurso político. Para o autor pode-se apren-
guagens que o autor utiliza na sua argumentação.
der muito sobre a cultura política de uma determi-
Este segundo elemento de apresentação da lingua-
nada sociedade nos diversos momentos de sua his-
gem sempre coloca o perigo de que a exegese se
tória, observando-se que linguagens assim origina-
apresente como coerente quando não o é. Cha-
das foram sancionadas como legítimas integrantes
mando a atenção sobre a dificuldade de resistir à
do universo do discurso público (POCOCK, 2003a,
tentação de se comprometer com a (como oposto
p. 31; ver também POCOCK, 1962).
a escrever história da) Teoria Política, Pocock
Grande parte da prática do historiador do pen- explica a lamentável, contudo constante tendên-
samento político, continua Pocock, consiste em cia dos historiadores da Teoria Política de tornar-
aprender a ler os diversos idiomas do discurso se filósofos (HAMPSHER-MONK, 2001, p. 161).

29
TEORIA POLÍTICA: UM BALANÇO PROVISÓRIO

Essa corrente da história do pensamento polí- do mundo social presente. Na sua aula inaugural
tico, representada por Skinner e Pocock, tem le- proferida na Universidade de Cambridge como
vado a uma renovação extraordinária na história Regius Professor de História Moderna, analisando
das idéias e tem tornado possível o diálogo entre a ascensão e a queda do que denominou como
historiadores e filósofos, no entanto os elementos uma compreensão neo-romana da liberdade civil,
de caráter inovador colocados por estes autores Skinner afirma que tornar-se consciente de nosso
parecem chocar-se com os próprios limites inter- passado político é parte da compreensão do nos-
nos. so presente. Recuperar a forma a qual os concei-
tos e argumentos ainda em uso foram definidos
Algumas críticas têm sublinhado que esta nova
no passado é uma maneira de “evitar cair sob o
metodologia – a insistência do significado
feitiço de nossa própria herança intelectual. Quan-
contextual das afirmações teórico-políticas – é
do analisamos e refletimos sobre nossos concei-
politicamente impotente já que a abordagem é tão
tos normativos, é fácil nos deixarmos enfeitiçar
irreparavelmente histórica que seus conceitos são
pela crença de que as maneiras de pensar sobre
inadequados para os debates da Teoria Política
eles que nos foram transmitidas pela corrente prin-
contemporânea (idem).
cipal de nossas tradições devem ser as maneiras
Esta conseqüência distintiva da abordagem de pensar sobre eles” (SKINNER, 1999, p. 93;
metodológica proposta não tem passado de for- cf. também SKINNER, 2002c, p. 6).
ma inadvertida pelos próprios autores. Skinner e
Sem dúvidas as aspirações intelectuais colo-
Dunn de maneira mais explícita, no caso de John
cadas por Skinner são centrais para o desenvolvi-
Pocock de modo mais implícito, têm alertado para
mento de uma Teoria Política vigorosa, e devem
a inconveniência de utilizar argumentos e concei-
ser recuperadas em qualquer projeto futuro. É
tos construídos sobre locuções históricas para os
necessário reconhecer os avanços intelectuais
propósitos de uma discussão política contempo-
colocados por esta nova abordagem do pensamento
rânea.
político, porém tendo cautela sobre seu caráter
Entre as proposições polêmicas colocadas por potencialmente despolitizador; esses desenvolvi-
Skinner, uma das centrais se refere à inexistência mentos, por enquanto, não se têm reconciliado
de idéias políticas duradoras que possam ser ob- com os fundamentos filosóficos sobre os quais a
jeto de uma análise histórica apropriada. E ainda versão mais rigorosa desta nova história do pen-
se pudessem existir, em um nível adequado de samento tem se construído, e não parece existir
abstração, questões duradoras em Teoria Políti- nenhuma revisão metodológica em andamento, ao
ca, o tipo de respostas colocadas teriam uma menos com um grau comparável de sofisticação
especificidade historicamente determinada, desta técnica daquela que estabeleceu a posição original
forma não seriam relevantes para nossas preocu- (HAMPSER-MONK, 1984)16.
pações presentes, e de forma mais geral, não se
VI. CONSIDERAÇÕES FINAIS
deveria esperar aprender nada diretamente aplicá-
vel ou relevante para nossa situação de um estudo O desenvolvimento dessas duas correntes te-
propriamente histórico da Teoria Política óricas – a Teoria Política normativa e a História
(SKINNER, 2002). De fato, considerando a es- do Pensamento Político – parece sintetizar o pro-
trutura teórica do argumento de Skinner é possí- cesso de “ressurgimento”, e reconfiguração, da
vel afirmar que a desqualificação de qualquer ele- Teoria Política a partir da década de 1970.
mento diacrônico dos conceitos políticos ou das
A crítica realizada pela filosofia analítica cum-
teorias não só corresponde com as intenções do
priu um papel-chave nesse processo de
conjunto complexo de atos de fala na sua ofensi-
reconfiguração. Por uma parte, dando à lingua-
va metodológica, mas eles são também uma
gem e à filosofia da linguagem um lugar essencial
conseqüência estrita e lógica deles (HAMPSHER-
na sua elaboração teórica, e por outra, afirmando
MONK, 2001, p. 167).
a centralidade da discussão normativa. No entan-
No entanto, isso não equivale a negar que exis- to este ressurgimento implicou de fato numa pro-
tam lições que possam ser aprendidas da história.
Para Skinner o trabalho do historiador do pensa-
16 Ver também sobre essa crítica Miller (1990) e Castiglione
mento político deve contribuir para o entendimento
(1993).

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 19, Nº 39: 17-34 JUN. 2011

funda reconfiguração do método e do objeto da entanto isso pouco se reflete nas elaborações dos
elaboração teórica com importantes conseqüên- teóricos políticos. Seria, neste ponto, possível
cias práticas. retomar a crítica feita por Leo Strauss à Ciência
Política comportamentalista e aplicá-la hoje à Te-
Nas últimas décadas a Teoria Política conti-
oria Política. “Somente um grande tolo poderia
nuou a se desenvolver, e ainda parece continuar
chamar a nova Ciência Política de diabólica; ela
com uma importante força inovadora, mas a mu-
não tem nenhum atributo peculiar dos anjos caí-
dança na fortuna da Teoria Política também pare-
dos. Não é sequer maquiavélica, os ensinamentos
ce acarretar problemas centrais para seu futuro
de Maquiavel eram refinados, sutis e vívidos. Nem
desenvolvimento, ainda que um balanço dos pro-
é neroniana. Alguém poderia dizer que ela brinca
blemas presentes seja sempre uma empresa mui-
enquanto Roma está em chamas. Mas ela está
to provisória.
desculpada por dois motivos: ela não sabe que
Um dos problemas centrais que aparece no brinca e não sabe que Roma está em chamas”
horizonte é um processo de gradual despolitização (STRAUSS, 1962, p. 327).
da Teoria Política. Esse processo de despolitização
O liberalismo igualitário buscou construir uma
da Teoria Política se caracteriza por uma progres-
justificação filosófica à existência do Welfare State
siva separação entre elementos históricos e
e as possibilidades de um processo redistributivo
normativos da explicação social; por um lado, le-
no interior das economias capitalistas avançadas.
vando a uma naturalização dos processos sociais
O vínculo entre a filosofia política igualitária e as
presentes, como verificado nas correntes
políticas do Welfare State era tão forte que alguns
normativas da Teoria Política; e por outro, a ênfa-
teóricos chamavam o liberalismo igualitário de “li-
se em uma abordagem histórica do pensamento
beralismo do Welfare State” e descreviam Rawls
político tem deixado de lado as questões teóricas
como oferecendo “uma apologia filosófica para
e políticas relevantes do ponto de vista contem-
um tipo igualitário de capitalismo de Welfare
porâneo.
State”. No entanto, este vínculo tem sido forte-
Como afirma Terence Ball, o recém-encon- mente questionado; não é mais evidente que a
trado orgulho da Teoria Política pode ser o pres- implementação do liberalismo igualitário leve à
ságio de sua queda; para o autor a Teoria Política construção de qualquer tipo de Welfare State. O
estaria seguindo uma trajetória bastante parecida próprio Rawls tem reconhecido as limitações do
com a que a Ciência Política comportamentalista Welfare State para alcançar a igualdade liberal, mas
percorreu de meados da década de 1950 até fim infelizmente provendo meramente uma descrição
dos anos 1960. Para o autor, várias são as mani- de uma alternativa viável: uma democracia de pro-
festações de que a Teoria Política pode encontrar prietários. Em suma, os compromissos
um destino semelhante. Uma manifestação fun- institucionais de liberalismo igualitário não têm
damental desse processo seria o crescente isola- estado à altura de seus desafios teóricos.
mento da Teoria Política com relação ao seu tema
Para Kymlicka (2002, p. 92-93), uma das ra-
natural, a saber, a própria política. Como conse-
zões do acuamento das propostas dos liberais igua-
qüência, a Teoria Política estaria desenvolvendo
litários é que estes perderam a confiança na capa-
algumas características singulares: em primeiro
cidade do Estado de prover justiça. A obra inicial
lugar, uma crescente especialização e
de Rawls é do começo da década de 1970, quan-
profissionalização da prática teórica; em segundo
do o Welfare State era visto como essencialmente
lugar, um aumento da preocupação dos teóricos
exitoso, e com resultados concretos em relação
políticos com questões de método e uma propen-
aos problemas da pobreza e da divisão de classes.
são a engajar-se em disputas metodológicas e/ou
No entanto, nas últimas décadas essa confiança
metateóricas. Em suma, a Teoria Política estaria
tem desaparecido; a recessão do começo dos anos
tornando-se o tipo de criatura que outrora critica-
1970, a crise do petróleo e o aumento dos déficits
va (BALL, 2004, p. 6).
governamentais levam a pensar que as políticas
Para Ball, a Teoria Política sempre encontrou de bem-estar eram insustentáveis. Paradoxalmente
um campo fecundo de elaboração teórica quanto quando a necessidade de políticas ativas do Esta-
esteve estreitamente ligada à política, particular- do para combater as desigualdades na renda tem
mente às crises políticas e sociais intensas, hoje aumentado consideravelmente, as teorias liberais
parece haver abundância desse tipo de crises, no igualitárias parecem ter perdido, cada vez mais, a

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TEORIA POLÍTICA: UM BALANÇO PROVISÓRIO

confiança na capacidade do Estado de remediá- compromisso político. Como conseqüência, o tra-


las, e suas propostas, como conseqüência, têm balho teórico deve ser uma parte fundamental do
perdido o horizonte teórico. processo cívico. O conhecimento, dessa forma,
deixa de ser uma atividade individual e passiva e
Por outra parte, os termos dentro dos quais
se transforma numa forma de ação coletiva; o tra-
tem se desenvolvido o debate metodológico nos
balho intelectual é per se uma forma de prática
Estados Unidos e na Inglaterra têm levado auto-
política. É uma forma de compressão política que,
res como Skinner e Pocock a estabelecer uma
pela sua contribuição na elucidação das contradi-
conexão sistemática entre a construção de uma
ções, participa na tentativa de definir o que per-
philosophia perennis e todas as visões filosóficas
tence propriamente ao domínio político. O que
que buscam entender o vínculo existente entre os
está no centro da discussão é a conexão entre
temas passados e presentes. As condições e pres-
erudição e compromisso; a Teoria Política deve
supostos sob os quais esses autores desenvolve-
ser capaz de forjar os instrumentos para analisar
ram sua crítica da forma tradicional de aborda-
o mundo político e desenvolver as ferramentas
gem da história das idéias têm impedido de dar
do envolvimento prático. O objetivo é alcançar o
um passo decisivo para elaborar uma história filo-
ponto no qual a distinção entre conhecimento e
sófica da política. Sua contribuição de todas ma-
ação desapareça. Isso significa participar no pro-
neiras continua a ser inestimável
cesso através do qual a sociedade deixa de esta-
(ROSANVALLON, 2001, p. 203).
belecer uma separação entre conhecimento da
Dessa forma, a abordagem proposta parece própria ação e conhecimento das causas que con-
condenada a certo elemento despolitizador, por não tribuem com ela (idem, p. 198-199).
conseguir distinguir entre o problema dos temas
Assim, o projeto de uma Teoria Política críti-
eternos da filosofia e as questões filosóficas e polí-
ca, o que na presente perspectiva deve ser a pró-
ticas relevantes do ponto de vista contemporâneo.
pria definição de Teoria Política, deve estar base-
Para Rosanvallon, considerar o papel da teo- ado em uma tese central: implica em reelaborar a
ria da política no momento atual nos deve levar a relação entre trabalho intelectual e prática política
reconsiderar a relação entre trabalho intelectual e sobre novas bases, uma reelaboração que parta
envolvimento político e cívico. A força da Teoria do pressuposto de um compromisso político da
Política está relacionada com considerar a experi- elaboração teórica com as necessidades sociais e
ência acadêmica como parte integrante da experi- particularmente com as necessidades dos setores
ência cívica. Isto deve levar a uma nova forma de subalternos.

Javier Amadeo (javier.amadeo@unifesp.br) é Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Pau-
lo (USP), Pós-Doutor no Departamento de História da mesma instituição e Professor de Teoria Política
do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

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