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Discurso

Bom dia! O tema que me proponho a apresentar hoje é o Sebastianismo ou, por outras
palavras a crença do retorno de D. Sebastião de Alcácer Quibira para Portugal.
Este trata-se de um messianismo adaptado às condições lusas e à cultura de Portugal e traduz-
se numa inconformidade com a situação política vigente de crise e uma expectativa de
salvação da nação, ainda que miraculosa, através do retorno de um morto ilustre, neste caso
Sebastião. Portanto, acreditava-se D. Sebastião voltaria para salvar Portugal dos problemas
desencadeados pelo seu desaparecimento.

Para perceber e entender melhor o assunto, é necessário, em primeiro lugar, mostrar como
este surge.
A fim de estabelecer o sonho de um império em Marrocos, visto que as terras nos
outros continentes mostravam-se difíceis de controlar e, em muitos casos, davam prejuízo ao
Reino, dá-se a batalha de Alcácer Quibir em 4 de agosto de 1578. Após a derrota e morte de
D.Sebastião, há a subida ao trono do cardeal D. Henrique, religioso sem filhos, que desponta
uma crise sucessória.
Tendo morrido D. Sebastião, e tendo sido Portugal anexado pela Espanha em 1580,
Portugal estava perante o período mais negro da sua História: perdera toda a opulência e
grandiosidade do início do século, perdeu o melhor da sua juventude e dos seus militares,
ficou endividado com o pagamento dos resgates e sofreu o domínio castelhano.
Daí surge então uma versão particular de messianismo, sobretudo de influência
judaica, o Sebastianismo: crê-se que toda esta opressão, todo este sofrimento, toda esta
miséria, toda esta crise será vencida com o aparecimento de D. Sebastião (numa manhã de
nevoeiro...), que libertará Portugal dos castelhanos e da sua opressão e lhe restituirá a antiga
grandeza. Defende-se que D. Sebastião não morreu nem podia ter morrido.
Assim, O Sebastianismo transforma-se num mito: quando há épocas de crise aparece
como uma esperança de melhores dias, de mais justiça e de maior grandeza.

Depois desta explicação toda, percebe-se que o Sebastianismo teve um impacto e influência
forte na literatura portuguesa.
Como é o caso de Frei Luís de Sousa de Almeida Garret, em que o Sebastionismo se
associa ao tema do patriotismo. As personagens centrais são patriotas, mas assumem posições
diferentes: Maria e Telmo anseiam pela chegada do Rei, que libertará Portugal, segundo eles;
ao passo que Manuel de Sousa Coutinho e D.Madalena inquietam-se com a ideia de regresso
de D.Sebastião, porque a associam ao regresso de D. João, que significaria o fim da família.
O Sebastionismo é perspetivado negativamente em Frei Luís de Sousa, visto que uma
crença saudosista condena o povo à inação e não permite a mudança necessária.

Deste modo, e na minha opinião, é possível encarar o sebastianismo não só como um mito,
mas também como uma forma de pensar, uma mentalidade. Na atualidade, apesar de não se
acreditar no sebastianismo, existe a esperança do aparecimento de uma solução miraculosa,
como se fosse algo divino que irá solucionar todos os nossos problemas.
Não sei se alguém daqui já teve este pensamento, a esperança de um milagre?

Podemos constatar inúmeros casos desta crença no nosso quotidiano, desde a esperança em
que um professor falte a um teste ou que este seja adiado até à esperança de ganhar o
euromilhões, e até mesmo no Governo, em que o plano de Recuperação Económico era visto
na pandemia como a chave para os problemas mais críticos………. Com isto, quero demonstrar
o que sem mudança não há resultados, e que este tipo de conduta/mentalidade condena-nos
à inação e à estagnação. Por outro lado, pode ser encarado como uma maneira de lidar com a
situação atual tem que ser superado.

Para terminar, queria mostrar um excerto de José Hermano Saraiva.

Espero que tenham gostado.

Obrigado pela vossa atenção.

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