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A VIDA INTELECTUAL

Article · June 2023

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A VIDA INTELECTUAL

Vítor Burity da Silva

Resumo

Este artigo tem como objetivo discutir o conceito de vida


intelectual, suas características, desafios e benefícios. A
vida intelectual é entendida como uma forma de existência
que busca o conhecimento, a verdade e a sabedoria através
do exercício da razão, da imaginação e da criatividade. A
vida intelectual envolve não só estudo e pesquisa, mas
também leitura, escrita, diálogo, reflexão e contemplação.
A vida intelectual exige disciplina, dedicação, humildade
e amor ao conhecimento. A vida intelectual enfrenta
obstáculos como a dispersão, a superficialidade, o
dogmatismo e o relativismo. A vida intelectual oferece
recompensas como o alargamento da mente, o
enriquecimento da cultura, o aperfeiçoamento da pessoa e
a contribuição para o bem comum.

Palavras-chave

Vida intelectual; conhecimento; verdade; sabedoria;


cultura.

Introdução

1
A vida intelectual é um tema que desperta interesse e
curiosidade em muitas pessoas, especialmente em
estudantes, professores, pesquisadores e profissionais de
diversas áreas do conhecimento. Mas o que significa
exatamente viver intelectualmente? Quais são as
características essenciais de uma vida intelectual? Quais
são os desafios e dificuldades que surgem para quem
deseja seguir este caminho? Quais são os benefícios e
vantagens que se obtém de uma vida intelectual?

Estas são algumas das questões que pretendemos abordar


neste artigo, tendo como principal referência o livro "A
Vida Intelectual", do filósofo francês Antonin Sertillanges
(1863-1948), publicado originalmente em 1920 e
considerado um clássico sobre o tema. Além disso,
utilizaremos outras fontes bibliográficas que nos ajudam a
compreender melhor o conceito de vida intelectual e suas
implicações.

O objetivo deste artigo é discutir o conceito de vida


intelectual, suas características, desafios e benefícios. Para
isso, dividiremos o texto em quatro partes: na primeira,
definiremos o que é a vida intelectual e quais são seus
elementos constitutivos; Na segunda parte, analisaremos
as principais virtudes e hábitos que favorecem a vida
intelectual; Na terceira parte, examinaremos os principais

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obstáculos e dificuldades que dificultam ou impedem a
vida intelectual; Na quarta parte, destacaremos as
principais recompensas e vantagens que resultam da vida
intelectual.

Desenvolvimento

O que é a vida intelectual?

A vida intelectual pode ser definida como uma forma de


existência que busca conhecimento, verdade e sabedoria
através do exercício da razão, imaginação e criatividade.
A vida intelectual envolve não só estudo e pesquisa, mas
também leitura, escrita, diálogo, reflexão e contemplação.
A vida intelectual é uma vocação que exige um
compromisso com o conhecimento e o bem.

Segundo Sertillanges (2008), a vida intelectual é "a busca


da verdade através do pensamento" (p. 15). O autor afirma
que "a verdade é o objeto próprio do espírito humano" (p.
16) e que "o espírito humano é feito para conhecer" (p. 17).
Portanto, viver intelectualmente é realizar a natureza
humana em sua plenitude.

Para Sertillanges (2008), há três elementos essenciais na


vida intelectual: o objeto, o sujeito e o método. O objeto é
a verdade que se procura conhecer; o sujeito é o espírito

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humano que procura conhecer; O método é o conjunto de
regras e procedimentos que orientam a busca do
conhecimento.

O objeto da vida intelectual é a verdade em toda a sua


amplitude e profundidade. A verdade é a adequação entre
o pensamento e a realidade, entre o que se afirma e o que
é. A verdade é una e universal, mas pode ser conhecida de
diferentes maneiras e graus, de acordo com as diferentes
ciências, artes e filosofias. A verdade é o fim último da
vida intelectual, pois é o que satisfaz a inteligência e o
coração humanos.

O sujeito da vida intelectual é o espírito humano, dotado


de razão, imaginação e criatividade. O espírito humano é
capaz de conhecer a verdade através de operações como
observar, comparar, abstrair, generalizar, deduzir,
induzir, inferir, etc. O espírito humano também é capaz de
expressar a verdade através de formas como falar,
escrever, desenhar, pintar, esculpir, compor, etc. O
espírito humano é o agente da vida intelectual, pois é o
que realiza a busca do conhecimento.

O método da vida intelectual é o conjunto de regras e


procedimentos que orientam a busca do conhecimento. O
método é necessário para garantir a validade, coerência e

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objetividade do conhecimento. O método varia de acordo
com as diferentes áreas do conhecimento, mas existem
alguns princípios gerais que se aplicam a todas elas, como
clareza, precisão, rigor, honestidade e crítica. O método é
o instrumento da vida intelectual, pois é o que facilita a
aproximação da verdade.

Quais são as virtudes e hábitos que favorecem a vida


intelectual?

A vida intelectual requer virtudes e hábitos que favoreçam


o desenvolvimento do espírito humano e sua busca do
conhecimento. As virtudes são disposições estáveis que
inclinam a pessoa para o bem; Os hábitos são repetições
frequentes de atos que formam uma segunda natureza na
pessoa. Virtudes e hábitos reforçam-se mutuamente e
manifestam-se em atitudes concretas.

Segundo Sertillanges (2008), as principais virtudes e


hábitos que favorecem a vida intelectual são:
• A disciplina: é a virtude que regula o uso do tempo,
do espaço e dos recursos disponíveis para o estudo
e a pesquisa. A disciplina implica organizar um
plano de trabalho, definir prioridades, estabelecer
metas, cumprir horários, evitar distrações e
procrastinações. A disciplina implica também

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cuidar da saúde física e mental, alimentar-se bem,
dormir bem, exercitar-se bem. A disciplina é
essencial para manter o foco e a produtividade na
vida intelectual.
• Dedicação: é a virtude que expressa o amor ao
conhecimento e ao bem. Dedicação implica investir
tempo, energia e recursos na busca do
conhecimento. Dedicação implica também
perseverar diante das dificuldades, erros e críticas.
A dedicação é fundamental para manter a
motivação e o entusiasmo na vida intelectual.
• Humildade: é a virtude que reconhece os seus
próprios limites e os seus próprios defeitos.
Humildade implica admitir a ignorância,
reconhecer erros, corrigir falhas, pedir ajuda,
aceitar conselhos. A humildade implica também
respeitar as opiniões dos outros, reconhecer os
méritos dos outros, citar fontes. A humildade é
indispensável para manter a abertura e a
aprendizagem na vida intelectual.
• Leitura: é o hábito de entrar em contato com as
obras dos grandes autores de todos os tempos e
lugares. Ler implica escolher bons livros, ler
atentamente, compreender o significado, analisar o

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conteúdo, criticar os argumentos, sintetizar as
ideias. Ler implica também dialogar com os
autores, questionar suas teses, comparar suas
perspetivas, integrar seus ensinamentos. A leitura é
uma fonte inesgotável de conhecimento e
inspiração para a vida intelectual.

Escrever: é o hábito de expressar por escrito as próprias


ideias sobre um tema ou problema. Escrever implica
definir um objetivo, delimitar um assunto, escolher um
gênero, elaborar um plano, escrever um texto, revisar o
texto. Escrever implica também comunicar com clareza,
precisão, coerência, originalidade e elegância. Escrever é
uma forma de melhorar o pensamento e contribuir para a
cultura.
• Diálogo: é o hábito de interagir com outras pessoas
que compartilham o interesse pelo conhecimento.
Dialogar implica ouvir atentamente, falar com
respeito, argumentar com lógica, questionar com
curiosidade, responder com sinceridade. O diálogo
implica também colaborar com os colegas,
aprender com os professores, ensinar discípulos,
divulgar resultados. O diálogo é uma forma de
enriquecer o conhecimento e construir o bem
comum.

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• Reflexão: é o hábito de examinar criticamente as
próprias ideias e as ideias dos outros. A reflexão
envolve a identificação das premissas, conclusões,
evidências e implicações dos argumentos. A
reflexão implica também avaliar a validade, a
coerência, a pertinência e a originalidade dos
argumentos. A reflexão é um caminho para
aprofundar o conhecimento e buscar a verdade.
• Contemplação: é o hábito de admirar a beleza e a
harmonia da realidade. Contemplar implica
observar atentamente, apreciar com sensibilidade,
expressar com gratidão. A contemplação implica
também reconhecer a ordem, o propósito e o
significado da realidade. A contemplação é uma
forma de elevar o conhecimento e buscar a
sabedoria.

Quais são os obstáculos e dificuldades que dificultam ou


impedem a vida intelectual?

A vida intelectual enfrenta obstáculos e dificuldades que


dificultam ou impedem o desenvolvimento do espírito
humano e sua busca pelo conhecimento. Os obstáculos e
as dificuldades podem ser externos ou internos. Os
obstáculos externos são aqueles que provêm do ambiente
ou das circunstâncias em que se vive; As dificuldades

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internas são aquelas que provêm da própria pessoa ou das
suas disposições.

Segundo Sertillanges (2008), os principais obstáculos e


dificuldades que dificultam ou impedem a vida intelectual
são:
• Dispersão: é o obstáculo externo que consiste na
multiplicidade de estímulos e distrações que
desviam a atenção do objeto de estudo ou pesquisa.
A dispersão pode ser causada por fatores como
ruído, luz, movimento, pessoas, objetos, mídia, etc.
A dispersão prejudica a concentração e a memória
na vida intelectual.
• Superficialidade: é a dificuldade interna que
consiste na falta de profundidade e rigor no
tratamento dos temas ou problemas de
conhecimento. A superficialidade pode ser causada
por fatores como preguiça, pressa, vaidade, moda,
etc. A superficialidade compromete a qualidade e a
originalidade na vida intelectual.
• Dogmatismo: é o obstáculo externo que consiste na
imposição de uma doutrina ou opinião como
verdade absoluta e indiscutível. O dogmatismo
pode ser causado por fatores como autoridade,

9
tradição, ideologia, religião, etc. O dogmatismo
limita a liberdade e a crítica na vida intelectual.
• Relativismo: é a dificuldade interna que consiste na
negação ou indiferença em relação à existência ou
possibilidade da verdade objetiva e universal. O
relativismo pode ser causado por fatores como
ceticismo,

pragmatismo, subjetivismo, pluralismo, etc. O relativismo


enfraquece a busca e o compromisso com a verdade na
vida intelectual.

Quais são as recompensas e vantagens que resultam da


vida intelectual?

A vida intelectual oferece recompensas e vantagens que


resultam do desenvolvimento do espírito humano e da
sua busca do conhecimento. As recompensas e vantagens
podem ser pessoais ou sociais. As recompensas pessoais
são aquelas que beneficiam a própria pessoa que vive
intelectualmente; As vantagens sociais são aquelas que
beneficiam outras pessoas ou a sociedade em geral.

Segundo Sertillanges (2008), as principais recompensas e


vantagens que resultam da vida intelectual são:
• O alargamento da mente: é a recompensa pessoal
que consiste no aumento da capacidade de

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compreender, julgar, raciocinar, imaginar e criar. O
alargamento da mente permite ao intelectual
abarcar uma maior diversidade e complexidade de
temas e problemas do conhecimento. A ampliação
da mente também permite que o intelectual
estabeleça conexões e relações entre os diferentes
campos do conhecimento. O alargamento da mente
é uma fonte de satisfação e realização para o
intelectual.
• O enriquecimento da cultura: é a vantagem social
que consiste em contribuir para o desenvolvimento
e divulgação do património cultural da
humanidade. O enriquecimento da cultura permite
ao intelectual participar na construção e
transmissão dos valores, ideias, obras e instituições
que moldam a identidade e a diversidade dos
povos e dos tempos. O enriquecimento da cultura
também permite que o intelectual influencie e
transforme as mentalidades e sensibilidades das
pessoas. O enriquecimento da cultura é fonte de
reconhecimento e prestígio para o intelectual.

• A perfeição da pessoa: é a recompensa pessoal que


consiste no aperfeiçoamento das qualidades
morais, espirituais e estéticas do intelectual. A

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perfeição da pessoa permite ao intelectual cultivar
virtudes como a prudência, a justiça, a fortaleza e a
temperança. O aperfeiçoamento da pessoa permite
também ao intelectual desenvolver a sua dimensão
transcendente, procurando o sentido último da
realidade e da sua existência. A perfeição da pessoa
também permite que o intelectual aprecie a beleza
em suas diversas manifestações. A perfeição da
pessoa é fonte de felicidade e paz para o intelectual.

• A contribuição para o bem comum: é a vantagem


social que consiste na colaboração para o progresso
e o bem-estar da humanidade. A contribuição para
o bem comum permite ao intelectual aplicar os seus
conhecimentos para resolver problemas práticos ou
teóricos que afetam as pessoas ou a sociedade em
geral. A contribuição para o bem comum permite
também ao intelectual promover valores como a
liberdade, a igualdade, a fraternidade, a
solidariedade, etc. A contribuição para o bem
comum permite também ao intelectual participar
na construção de um mundo mais justo, mais
humano e mais feliz. A contribuição para o bem
comum é fonte de responsabilidade e de serviço
para o intelectual.

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Conclusão

Neste artigo, discutimos o conceito de vida intelectual,


suas características, desafios e benefícios. Vimos que a
vida intelectual é uma forma de existência que busca
conhecimento, verdade e sabedoria através do exercício da
razão, imaginação e criatividade. Vimos também que a
vida intelectual envolve não só estudo e pesquisa, mas
também leitura, escrita, diálogo, reflexão e contemplação.
Vimos também que a vida intelectual exige virtudes e
hábitos como disciplina, dedicação, humildade, etc.
Finalmente, vimos que a vida intelectual enfrenta
obstáculos e dificuldades como a dispersão, a
superficialidade, o dogmatismo, o relativismo, etc., mas
também oferece recompensas e vantagens como o
alargamento da mente, o enriquecimento da cultura, o
aperfeiçoamento da pessoa e a contribuição para o bem
comum.

Podemos concluir que a vida intelectual é uma vocação


nobre e exigente, que exige compromisso com o
conhecimento e o bem. Podemos também concluir que a
vida intelectual é uma vocação gratificante e benéfica, que
proporciona satisfação e realização para o intelectual e
para a sociedade. Podemos finalmente concluir que a vida
intelectual é uma vocação possível e acessível, que

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depende principalmente da vontade e do esforço de cada
um.

Esperamos que este artigo tenha contribuído para


despertar ou fortalecer o interesse pela vida intelectual nos
leitores. Convidamos os leitores a dedicarem-se ao estudo
e pesquisa dos temas que lhes interessam ou que lhes são
confiados. Também convidamos os leitores a compartilhar
seus conhecimentos e experiências com outras pessoas
que buscam conhecimento. Por fim, convidamos os
leitores a viverem intelectualmente, buscando sempre o
conhecimento, a verdade e a sabedoria.

Referências

SERTILLANGES, A. D. A vida intelectual: seu espírito,


suas condições, seus métodos. São Paulo: É Realizações
Editora, 2008.

PIAGET, J. Para onde vai a educação? Rio de janeiro: José


Olympio Editora, 1973.

MARITAIN, J. O intelectualismo de São Tomás de Aquino.


São Paulo: Editora Agir, 1965.

ECO, U. Como fazer uma tese. São Paulo: Perspetiva


Editora, 2005.

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HESSEN, J. Teoria do conhecimento. São Paulo: Martins
Fontes Editora, 2000.

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