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OBESIDADE

CONTROLADA
Par a você entender
uma nova f orma de c l assificar a obesidade,
base ada na trajetória do peso

E s ta é Uma
p u bl icaç ão
OBESIDADE
CONTROLADA
Par a você entender
uma nova f orma de c l assificar a obesidade,
base ada na trajetória do peso

REA L I Z AÇÃO

Edição Lúcia Helena de Oliveira

P r o j e to g r á f i c o G u i l h e r m e F r e i ta s

D e s i g n A r i e l B e r th o l d o
E - B O OK Obesidade controlada

Índice

04 13
Introdução Quando se perde
um pouco de peso
05
O que é obesidade 15
A proposta baseada
07 na trajetória do peso
O desafio de manter
o resultado 17
diversos cenários
10 21
A classificação 19 Observações Considerações
da obesidade muito importantes finais

ABESO | SBEM 3
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Introdução

D
esde os anos 1970, quando Aliás, justamente porque o IMC tem lá
foi adotado pela Organização suas limitações, surgiram outras formas de
Mundial da Saúde, o índice de classificar a obesidade nos últimos tempos.
massa corporal, ou IMC, vem sendo E atenção: a nossa proposta, a da obesidade
a forma mais utilizada para classificar controlada, não pretende substituir nenhuma
a obesidade. Mas ele tem algumas delas e, sim, complementá-las.
limitações, que este e-book mostrará Ela pode, no entanto, ser muito útil
mais adiante. no tratamento clínico. Só que, para
No que diz respeito à obesidade, talvez isso, os profissionais de saúde e os
o maior problema seja a ideia equivocada próprios pacientes precisam entendê-la.
de que o objetivo do tratamento sério Acreditamos que isso facilitará um acordo
dessa doença seria “normalizar” o IMC, ou sobre metas de tratamento capazes de
seja, o seu cálculo teria de, um dia, ficar visar o que é realmente mais importante:
abaixo de 25 kg/m², quando na verdade o bem-estar e a saúde como um todo.
não é bem assim. Gostaríamos de, por fim, lembrar que o
Por isso, a Abeso e a SBEM (Sociedade documento em que este e-book se baseia,
Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) “Proposal of an obesity classification based
resolveram propor uma nova forma on weight history: an official document by
de classificar a obesidade, baseada the Brazilian Society of Endocrinology and
na trajetória de peso de cada pessoa, Metabolism (SBEM) and the Brazilian Society
considerando como uma informação for the Study of Obesity and Metabolic
extremamente relevante o peso máximo Syndrome”, foi publicado na Archives of
que ela já atingiu em algum momento Endocrinology and Metabolism. E estes
ao longo de sua vida. são os seus autores:

Bruno Halpern, Rodrigo Nunes Lamounier, Theodore Kyle, farmacêutico,


médico endocrinologista, médico endocrinologista, diretor especialista em inovação
presidente da Abeso. clínico do Centro de Diabetes de em saúde com foco na prevenção
Belo Horizonte, em Minas Gerais. e no tratamento da obesidade,
Marcio Mancini, fundador da ConscienHealth,
médico endocrinologista, Rodrigo de Oliveira Moreira, em Pittsburgh, Estados Unidos.
chefe do Grupo de Obesidade médico endocrinologista
e Síndrome Metabólica do do Instituto Estadual de Diabetes Cintia Cercado,
Hospital das Clínicas da Faculdade e Endocrinologia Luiz Capriglione, médica endocrinologista do
de Medicina da Universidade no Rio de Janeiro. Hospital das Clínicas da Faculdade
de São Paulo. de Medicina da Universidade de
Mario Kehdi Carra, São Paulo. Ex-presidente da Abeso.
Maria Edna de Melo, médica médico endocrinologista do
endocrinologista, chefe da Liga de Grupo de Diabetes do Hospital Cesar Luiz Boguszewski,
Obesidade Infantil do Hospital das das Clínicas da Faculdade de médico endocrinologista, professor
Clínicas da Faculdade de Medicina Medicina da Universidade de da Universidade Federal do Paraná.
da Universidade de São Paulo. São Paulo. Ex-presidente da Abeso. Ex-presidente da SBEM.

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O que é

O que é obesidade
Ela é uma
doença crônica

Logo, não tem É, ainda,


cura, mas pode ser recorrente ou
controlada, como recidivante
tantas outras doenças
crônicas (hipertensão, Isso quer dizer
diabetes…) que, se alguém com
obesidade interrompe
o tratatamento
(seja ele com ou
É uma doença sem medicações),
progressiva volta ao ponto
de origem, havendo
Se nada é feito, reganho de peso.
a tendência é agravar.

No Brasil

1 em cada Crescimento
4 adultos Proporção de brasileiros
adultos com obesidade.

2002 2019 E no
mundo inteiro?

São mais de
41,2 milhões 1 bilhão de pessoas
de pessoas acima com obesidade,
de 20 anos convivem 12,2% 26,8% sendo 650 milhões
com a obesidade. São: de adultos e o restante,
crianças e adolescentes.
Homens Mulheres Ano a ano, esse número

22,8% 30,2% não para de crescer.

(Organização Mundial da Saúde/ 2022)


Crédito: Dados da Pesquisa Nacional de Saúde, 2019

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O que é

Uma doença que causa


ou agrava outras doenças

Este é o grande problema: Câncer


as complicações provocadas lugar. Sim, a obesidade
pela obesidade estão por está associada a
trás de alguns dos males Infartos 13 tipos de cânceres.
que mais matam no país e e AVCs
no mundo. Entre eles… 1ª lugar
entre as causas Diabetes
Crédito: SIM (Sistema de Informações de
de mortes mellitus
Mortalidade) / Ministério da Saúde, 2022). no Brasil 5ª lugar

A obesidade é capaz de reduzir a expectativa de vida.

Causas complexas e multifatoriais

Ao contrário do que muitos ainda


Genes
imaginam, até por conta de uma
boa dose de estigma e preconceito,
ninguém tem obesidade por uma
questão de escolha do estilo de vida. E Ambiente
a maioria dos pacientes não consegue obesogênico
perder bastante peso e manter só com
mudanças no comportamento.
Por ser multifatorial e tão complexa, Metabolismo
a obesidade não pode ser resolvida de
um jeito simples, diferentemente do
que a sabedoria popular acredita. Seu
Alimentação
tratamento é difícil e o objetivo é muito materna
mais amplo do que baixar o ponteiro durante a
da balança e satisfazer o que, muitas gravidez
vezes, é um desejo social de ser magro.
Aliás, infelizmente muita gente
desiste e abandona o tratamento Outras questões Hábitos
porque a perda de peso atingida foi ambientais alimentares
menor do que as suas expectativas
— expectativas que, muitas vezes,
são criadas também pelos médicos Sedentarismo
e por outros profissionais de saúde.

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Reganho de peso

O desafio de manter
o resultado

E
ste talvez seja o aspecto mais Lança mão de diversos mecanismos,
complicado de tratar a obesidade: inclusive diminuindo o seu gasto energético.
toda vez que um indivíduo com Além de gastar menos energia, ele tende
excesso de adiposidade perde peso, seu a buscar mais calorias. Entenda, a seguir,
organismo faz de tudo para recuperá-lo. a hipótese de como isso aconteceria.

1. Hipotálamo

Essa pequena
região cerebral
controla o nosso peso,
regulando sinais
que disparam a
fome e a saciedade.

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Reganho de peso

Sinais Sinais Sinais


saciedade
saciedade de fome
Sinais
de fome
100 90
quilos quilos

Leptina
Em uma conta simples
e aproximada, para cada
1 kg de peso perdido,
o apetite aumenta em
100 kcal, enquanto
o gasto energético
é reduzido em 30 kcal.

2. Antes de perder peso


3. Após o emagrecimento
O hipotálamo considera que o peso
do indivíduo com obesidade sem tratamento Para voltar ao set point, o hipotálamo
é aquele que precisa ser defendido fará a pessoa sentir até mais fome do
a todo custo. No exemplo acima, que antes. E, ao mesmo tempo, ela terá
os 100 quilos seriam o chamado set point maior dificuldade para se sentir saciada
hipotalâmico, isto é, o seu ponto de ajuste. após se alimentar.

4. Reganho de peso

Esta é a tendência natural, se os


esforços feitos para a perda de peso não 100
forem mantidos. E aí é que está: mantê-los
quilos
nunca é fácil, porque diversos hormônios
ficam alterados, principalmente a leptina,
que caiu quando corpo estava mais
magro. Ela seria responsável por aumentar
a queima de energia e provocar a
saciedade após a ingestão de alimentos.

Não há evidências de que, mesmo depois


de um bom tempo com o novo peso,
o organismo se adapte e deixe de defender
aquele peso maior do passado.

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Reganho de peso

Duas coisas que todos precisam saber

Uma notícia não tão boa: Uma ótima notícia:


como o corpo insiste incansavelmente diversos estudos deixam claro
em recuperar o peso perdido, que perdas mais modestas na
nem sempre se consegue “normalizar balança e, portanto, mais viáveis
o IMC" e, com isso, “resolver a já reduzem uma série de riscos
obesidade”, por melhor e mais sério para a saúde, independentemente
que seja o tratamento clínico. E, mesmo do peso ao final do tratamento.
quando isso acontece, é raro sustentar E é nisso que se baseia a
esse resultado por muito tempo. ideia de obesidade controlada.

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IMC

A classificação
da obesidade

O
IMC é uma boa ferramenta para Peso (em Kg) dividido por
predizer riscos populacionais.
Mas, olhando para um indivíduo,
ele pode ter alguns vieses. Altura (em m) x altura (em m)

Resultado
≤ entre entre entre entre ≥
18,5 18,6 e 25 e 30 e 35 e 40
kg/m² 24,9 29,9 34,9 39,9 kg/m²
kg/m² kg/m² kg/m² kg/m²
Abaixo Obesidade
do normal Normal Sobrepeso Obesidade Obesidade grau 3
grau 1 grau 2

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IMC

Quais as limitações?
O IMC não aponta a distribuição de gordura.
Desse modo, podemos ter duas pessoas com índice elevado
e com essa distribuição completamente diferente.
Compare duas pessoas com excesso de gordura:

IMC IMC
32 kg/m² 32 kg/m²

IMC 32 kg/m² IMC 32 kg/m²


Nesta, há muita gordura visceral: Nesta, a maior quantidade de
concentrada entre os ógãos gordura é subcutânea. E essa
do abdômem, ela está envolvida gordura sob a pele não aumenta
com maiores riscos à saúde. tanto os riscos à saúde.

Uma pessoa com muita gordura e outra muito músculo

Uma pessoa pode ter esse IMC Outra pessoa pode ter esse
que indica obesidade grau 1 porque, IMC que seria o de obesidade grau 1
de fato, acumula excesso de gordura porque pratica halterofilismo, por
em seu corpo e é ele, basicamente, exemplo, ou outro esporte qualquer que
que faz o seu peso ser maior, faça a sua massa muscular ficar muito
dando esse resultado no cálculo. desenvolvida, pesando na balança.

Por causa dessa imprecisão, outras fórmulas já foram propostas — a da medida


de circunferência abdominal é uma delas. Mas nenhuma, até então, tinha levado em
conta um parâmetro importantíssimo, que é a trajetória do peso ao longo da vida.

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IMC

Um pouco de História

O matemático belga Adolphe 1950, alguns estudos começaram a


Quételet (1796-1874), em seus notar uma associação entre excesso
estudos de antropometria, foi o de peso e mortalidade. E, como a
primeiro que estabeleceu relações situação parecia crescer, nos anos
estatísticas entre tabelas de peso e 1960 surgiram outros trabalhos para
altura e, precisamente em 1832, criou validar a fórmula criada cem anos
o Índice de Quételet para analisar antes. Na década seguinte, ela seria
padrões de trabalhadores. adotada pela Organização Mundial
No entanto, esse cálculo ficou de Saúde, já com o nome como a
praticamente esquecido por mais conhecemos agora: IMC, ou índice de
de um século até que, lá pelos anos massa corporal.

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Benefícios à saúde

Quando se perde
um pouco de peso

P
or causa daqueles mecanismos grandes perdas de peso em tratamentos clínicos.
fisiológicos que já foram descritos, é No entanto, perdas pequenas já podem ser
muito difícil para um indivíduo manter benéficas e fazer diferença para a saúde.

Diminuição de

5% a 10% do peso
— além de diminuir ainda
mais a resistência à insulina
e a glicemia, uma perda de peso
nessa faixa melhora outros marcadores,
como os níveis de colesterol.

3%
Alivia as dores articulares
e pode melhorar significativamente
a mobilidade. A função sexual
a menos no peso é outra que sai ganhando. Por fim,
— embora pareça uma a perda de peso acima de 5%
perda quase irrisória na balança, é capaz de reduzir a depressão
ela já reduz a resistência e talvez o risco cardiovascular
à insulina e melhora a glicemia. e a mortalidade a longo prazo.

Ao redor do mundo, muitas diretrizes de


sociedades médicas para o tratamento da obesidade
preconizam a perda de 5% a 10% do peso.
Mas, sem ter consciência de tantos ganhos
para a saúde, o paciente que consegue uma perda
de peso assim geralmente se sente frustrado,
porque desejava ter emagrecido ainda mais.

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Benefícios à saúde

Um exemplo

Maria tem Maria tratou


1,65 m a obesidade
de altura e ficou com
e pesava 89 quilos,
100 quilos uma perda
de 11% do
peso inicial

IMC IMC
36 kg/m² 32 kg/m²

Redução importante
de vários fatores de risco
e aumento da expectativa
de vida.

Perdas acima de Após o tratamento,

10%
— são aquelas em que se vê
uma pessoa pode continuar
com um IMC de obesidade
os maiores benefícios, com e, mesmo assim,
redução de até 20% de infartos,
AVCs e mortes. obter muitos benefícios.

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Nova classificação

A proposta baseada
na trajetória do peso

A
nova classificação proposta pela O ponto de partida sempre será
Abeso e pela SBEM serve tanto o peso máximo alcançado em toda
para pacientes e médicos analisarem a vida, ou seja, o o que, na linguagem da
as suas expectativas e pensarem juntos em Medicina, costuma ser apontado pela sigla
qual seria o alvo na balança quanto para do inglês MWAL (“maximum weight attained
acompanhar os resultados do tratamento. at life”).

Para quem tem IMC


máximo entre 30 e 40

Perdas de Perdas acima de

5 a 10%
serão consideradas
10%
serão consideradas
obesidade reduzida. obesidade controlada.

Lembre-se do detalhe de que estamos falando


do IMC máximo, aquele do maior peso alcançado
em algum momento da vida e não do IMC atual,
que pode ser menor.

Para quem tem IMC


máximo entre 40 e 50

Perdas entre Perdas acima de

10 a 15%
serão consideradas
15%
serão consideradas
obesidade reduzida. obesidade controlada.

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Nova classificação

De 5% em 5%

Atenção! Para usar essa classificação, é Assim, vamos imaginar: um homem de


assim que a porcentagem de peso perdido 1,75 metro de altura e que dois antes estava
deve ser anotada: de 5% em 5%. com 118 quilos.

Se ele perder 10 quilos com o tratamento


antiobesidade, isso corresponderá a 8,4%
do seu peso máximo e, na anotação, você
sempre arredondará para menos, de 5% em
5%.Logo, ele terá perdido mais de 5% e terá
IMC obesidade reduzida.
máximo
38 kg/m² Agora, se ele perder 15 quilos,
ou 12,7% daquele peso que tinha
há dois anos, ele será considerado
uma pessoa com obesidade controlada.

O grau de obesidade não muda


Vamos continuar com o exemplo anterior.

Este IMC corresponde


à classificação de

IMC
obesidade grau 2.
Mesmo que ele
já tenha perdido peso, máximo
será para sempre
uma pessoa com…. 38 kg/m² Obesidade grau 2
controlada, se perder
mais de 10% do peso.

Obesidade grau 2
reduzida, se perder de
5% a 10% do peso.

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Exemplos

diversos cenários

P
ara você entender direito a proposta, veja como ficaria a nova classificação, pegando
como exemplo o mesmo homem de 1,75 metro de altura e MWAL de 118 quilos. Pela
classificação antiga, quando alcançou esse peso, ele seria simplesmente uma pessoa com
obesidade grau 2.

Se ele perde 3 kg Se ele perde 10 kg

Perda de Perda de
2,5% 8,4%
IMC do MWAL IMC do MWAL
de 37,7 de 35,2

Pela nova classificação, apesar Pela nova classificação, ele tem


de ter emagrecido um pouco e, obesidade 2 reduzida em 5%.
com isso, ter obtido algum benefício Isso porque o registro é de 5% em
para a saúde, ele é um indivíduo 5%, lembra-se? Então, esses 8,4%
com obesidade 2 inalterada. são arredondados para baixo.

Se ele perde 15 kg
Mas com um IMC igual
ou menor a 34,9 esse
Perda de
homem teria uma obesidade
12,7%
IMC do MWAL grau 1, certo? Errado. Pela
de 33,6
nova classificação, o grau de
obesidade será sempre aquele
do MWAL, ou seja, aquele
Pela nova classificação,
ao qual o organismo tenderá
ele tem obesidade 2 controlada a voltar. Portanto, apesar do
em 10%. Outra vez: como o IMC menor, ele continuará
registro é de 5% em 5%, os 12,7%
sendo um paciente
são arredondados para 10%
com obesidade grau 2.

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Exemplos

Se ele perde 20 kg

Perda de
16,9%
IMC do MWAL
de 32

Arrendondando os 16,9%,
a nova classificação
aponta uma obesidade
grau 2 controlada em 15%.

Uma comparação com a hipertensão

Se é uma doença crônica, o tratar, sua pressão arterial voltará a


fundamental é a gente compreender subir. E é a mesma coisa aqui.
que ela não tem cura. Uma pessoa A nova classificação deixa
com hipertensão que toma remédios claro o seguinte: alguém que já
para controlá-la pode ficar com teve IMC igual ou maior do que
uma pressão de 120x80mmHg, que 30 kg/m² pode até ficar com
seria, digamos, uma medida normal. esse índice abaixo dos 25. Mas
No entanto, ela continua sendo continuará sendo um indivíduo
hipertensa. Se um dia parar de se com a doença obesidade.

A classificação não é uma “diretriz”: há sem dúvida pessoas que


perderam acima de 10% do peso e ainda podem precisar perder
mais. Por isso, inclusive, que se recomenda colocar a porcentagem do
peso perdido, e não apenas se é obesidade reduzida ou controlada.
Assim como existem pessoas que podem ficar bem com perdas
menores. A nova classificação apenas ajuda na tomada de decisão
entre médico e paciente.

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Observações

Observações
muito importantes

A nova classificação
foi feita para adultos
Não serve para o paciente
que fez cirurgia bariátrica Ou seja, para pacientes acima de
18 anos. Ela não vale para obesidade
A classificação apresentada infantil, embora a premissa de que o
aqui vale para tratamentos clínicos. organismo tende a recuperar o excesso
Se o indivíduo é submetido à cirurgia de peso continue valendo.
bariátrica e metabólica, é possível
que ele tenha perdas de peso maiores.
E, então, os critérios para decidir
se esse tratamento cirúrgico
obteve sucesso devem ser outros.

Cautela com os idosos

Afinal, essa classificação continua


usando o IMC, que não leva em
consideração a composição corporal.
E o sobrepeso? E, no caso de idosos, há sempre o risco
de a perda de peso refletir muito
Essa classificação é para mais uma diminuição da massa magra.
a obesidade. Mas pessoas Sem contar que é mais difícil distinguir
com sobrepeso e com alterações perdas voluntárias, quando o indivíduo
metabólicas poderiam ser avaliadas resolve tratar a obesidade, de involuntárias,
com critérios semelhantes. provocadas por algum problema de saúde.

ABESO | SBEM 19
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Observações

Outras situações
para ser cauteloso

Devemos avaliar se determinado Desconsidere


peso máximo alcançado na vida não períodos de exceção
foi consequência do uso, muitas vezes
necessário, de medicações obesogênicas, Para dar um exemplos:
aquelas que podem fazer o ponte a gravidez, quando é normal e
da balança subir. Ou se não reflete esperado que a mulher ganhe peso.
a fase de cessação do tabagismo, E lógico que a informação de quanto
se a pessoa era fumante, ou outros pesava aos 9 meses de gestação não
problemas, como o hipercortisolismo, deve ser considerada o seu MWAL.
em que há níveis muito elevados Também não valem situações
do hormônio cortisol no organismo, agudas, isto é, muito momentâneas,
favorecendo o acúmulo de gordura. como o retorno das férias.

PERGUNTE SEMPRE O PESO


MÁXIMO NA VIDA

Essa proposta também tem como objetivo lembrar a todos que peso
máximo alcançado na vida é um informação vital, que deve ser levantada
durante a consulta — e a maioria das pessoas sabe dizer qual foi o seu
peso máximo! Assim, se alguém chega para se tratar a obesidade e já
está longe de seu peso máximo, ele terá uma resposta ao tratamento
muito diferente, possivelmente menor. E, se isso não for levado em
consideração, um bom tratamento poderá ser considerado fracassado.

Quando o paciente está perto do seu MWAL,


maior pode ser a resposta ao tratamento.
Porém, quando ele está distante do seu MWAL
— sinal de que já perdeu algum peso —,
menor tende a ser essa resposta.

ABESO | SBEM 20
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Considerações finais

Considerações finais

É
importante enfatizar que essa Como já mencionado, essa é uma
classificação é uma ferramenta expectativa que gera ansiedade e frustração
a mais e que ela não deve ser nos pacientes e que, para completar, faz com
usada isoladamente. que muitos médicos e outros profissionais
Mas, sem dúvida, ela é uma forma de saúde exijam deles perdas de peso ainda
simples de juntar premissas importantes e maiores do que aquelas alcançadas, sem
que vinham sendo um pouco deixadas de enxergarem os benefícios já conquistados.
lado no tratamento da obesidade. Precisamos, acima de tudo, motivar quem
Esperamos que o seu conhecimento tem obesidade a se cuidar, mostrando que a
e, principalmente, o seu uso após a leitura sua doença é crônica, que ela não tem a ver
deste e-book, ajudem a esclarecer todo com sua força de vontade, mas que, com
mundo que o objetivo de tratar essa doença tratamentos sérios, é possível reduzi-la ou,
não é normalizar o IMC. ainda melhor, controlá-la.

ABESO | SBEM 21

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