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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA

CATARINA
CAMPOS XANXERÊ
CIENCIAS DA VIDA E SAUDE

CIRURGIA BARIÁTRICA

Acadêmicas: Ariane Festugato


Benilza Damian
Heloisa Sirino
Leandro Lemes da Rosa
Maria Jovita Barbosa Gonçalves
Patrícia Dequigiovani
Disciplina: Avaliação Psicológica I
Profª: Leonora Vidal Spiller

Xanxerê

2019
1. INTRODUÇÃO

Atualmente a obesidade é uma doença crônica caracterizada pelo


acúmulo excessivo de gordura corporal, condição médica de etiologia
multifatorial, o tratamento envolve várias abordagens, bem como nutricional,
uso de medicamentos e prática de exercícios físicos. A Organização Mundial
da Saúde (OMS) classifica a obesidade baseando-se no Índice de Massa
Corporal (IMC) e no risco de mortalidade associada.

No entanto, vários pacientes não respondem as terapêuticas adequadas,


necessitando de uma intervenção mais eficaz, bem como a cirurgia bariátrica
que tem se mostrado uma técnica de grande auxílio para alguns casos de
obesidade. A intervenção nos dias atuais baseia-se numa análise mais
abrangente de múltiplos aspectos do paciente, sendo a psicoterapia um
exercício de persistência, porém não muda qualquer característica genética.
Nesta perspectiva, faz-se necessário uma mudança de hábitos via informação
que produzirá a aceitação de um novo paradigma, que possibilite ousar um
caminho diferente para uma vida de qualidade.

Este trabalho está organizado do seguinte modo: primeiramente expôs-


se um referencial teórico que norteou as discussões dos dados obtidos na
entrevista. Foram abordados os seguintes assuntos: Cirurgia Bariátrica e a
Obesidade, Tratamento da Cirurgia Bariátrica, Técnicas e Métodos utilizados, A
Importância do Acompanhamento Psicológico e Equipe Multidisciplinar.
Finalmente, foram apresentados os resultados, discussões e as considerações
finais desse estudo, seguidas, pelas referências bibliográficas.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Cirurgia Bariátrica e a Obesidade

Coadunado com Mason (1967) surgiram as primeiras gastroplastias com


resultados animadores por procedimentos gastro-restritivos, iniciando uma
nova era na cirurgia da obesidade. Na década de 60 surgiram os primeiros
trabalhos restringindo a cirurgia gástrica, através da gastroplastia e de
alterações distal do estomago, foram verificadas as mudanças de hábitos
alimentares e redução no consumo de alimentos sólidos. Inicialmente a
gastroplastia foi realizada no plano horizontal que dividia o estomago em dois
compartimentos de tamanhos diferentes. Em 1982, Mason foi o primeiro a
utilizar o plano vertical para redução da cavidade gástrica, essa técnica passou
a ser conhecida como gastroplastia vertical com bandagem.

A obesidade para Gilman (2004), são definições médicas nos dias


atuais, as quais podem mudar essas definições de uma cultura para outra com
o passar do tempo. O excesso de peso corporal é uma condição que sempre
acompanhou a história da humanidade e foi avaliado diferentemente de acordo
com cada período histórico e cultural. Durante muito tempo o ganho de peso, o
acúmulo de gordura representou saúde e prosperidade, o que na
contemporaneidade é considerado uma doença crônica que afeta todas as
faixas etárias, sem distinção de nível socioeconômico.

Aponta Almeida (2005), que a obesidade é uma condição estigmatizada


pela sociedade e associada a características negativas e preconceituosas, com
a possibilidade de que a obesidade seja a enfermidade metabólica mais antiga
que se conhece. A primeira monografia médica sobre o tema obesidade,
destacou ser esta uma doença relacionada a distúrbios de caráter e foi escrita
no século XVII. Atualmente a obesidade representa uma doença universal de
prevalência crescente e adquirindo proporções alarmantemente epidêmicas
nas sociedades modernas. Doença crônica, multifatorial que de um modo geral
pode ser caracterizada pelo excesso ou acúmulo anormal de tecido adiposo no
organismo, resultando em prejuízo para saúde do indivíduo.

A obesidade é definida pela Organização Mundial da Saúde BRASIL,


(2014), como acúmulo anormal ou excessivo de gordura relacionado a um
comprometimento no funcionamento fisiológico, que ultrapassa a origem
nutricional considerada uma condição de caráter multifatorial. Os estilos de vida
pouco saudáveis, a urbanização e o envelhecimento da população configuram
um cenário atual no Brasil, em que as doenças crônicas não transmissíveis
predominam sobre as doenças infecciosas causando a morbidade e
mortalidade. Considerada fator de risco independente para infarto do
miocárdio, hipertensão arterial, aumento de níveis de colesterol, diminuição da
tolerância à glicose hipertensão arterial, diabetes, doenças cardiovasculares,
apnéia do sono, doenças articulares, impotência, incontinência urinária,
infertilidade, câncer, depressão, problemas sociais, sexuais entre outras.

Halpern (2004), aponta duas razões básicas para essa discordância: a


heterogeneidade dos grupos e a dúvida quanto aos métodos utilizados para
investigar a ingestão calórica. O hábito alimentar compulsivo, pode estar
intimamente associado à tendência de ganhar peso, porém um fator importante
para variação do tecido adiposo é a oxidação de gordura e a existência de uma
tendência genética, que indivíduos com menor oxidação estejam predispostos
à obesidade. Percebe-se nessas sistematizações que a obesidade é uma
patologia muito complexa, na qual múltiplos fatores etiológicos, inclusive
genéticos, podem atuar isoladamente ou em conjunto.

Capitão e Tello (2006), discutem que os fatores endógenos são


responsáveis por apenas 1% da obesidade, pois está relacionada diretamente
ao estilo de vida do indivíduo, como a inatividade física, a ingestão excessiva
de dietas hipercalóricas, fatores estressores psicossociais responsáveis por
comportamentos autodestrutivos. A obesidade predispõe a várias
comorbidades que influenciam negativamente a qualidade de vida do sujeito.

Ades e Kerbauy (2002), relatam que no Brasil cinco em cada cem


crianças de até 14 anos têm peso excessivo. Na sociedade ser “gordo” pode
significar preguiça, descuido, falta de determinação e controle dos impulsos, o
que acarreta aos obesos um grande sofrimento. A maioria dos indivíduos
obesos mórbidos traz uma história de inúmeras tentativas de redução do peso,
orientadas ou não por técnicos de saúde, em grande parte trata-se de dietas e
uso de fármacos. Havendo inicialmente perda de peso, na maioria dos casos,
esta não é mantida e os pacientes recuperam em pouco tempo o peso perdido,
essa é uma realidade vivenciada por quase todos os obesos mórbidos.

2.2. Tratamento da Cirurgia Bariátrica

O tratamento clínico da obesidade é complexo, pois, segundo Cabral


(2004), não se trata somente do emagrecimento, mas principalmente da
manutenção da perda de peso, esta é quase impossível nos casos de
indivíduos obesos mórbidos. A recuperação de peso é um dos grandes
temores do paciente, no entanto, a redução feita através de dieta, atividade
física, tratamento medicamentoso desencadeiam alterações compensatórias no
apetite e no gasto energético.

Coadunando com Nasser e Elias (2004), a dificuldade em fazer um


tratamento clínico que seja efetivo, na maioria das vezes o paciente perde a
motivação de viver, pois trata-se de indivíduos obesos desde a infância, que
são obrigados a passar por vários tipos de restrições e tratamentos, inclusive
medicamentosos. O histórico de vários anos lidando com a obesidade, com
emagrecimentos conseguidos, mas não mantidos, geram muitas frustrações,
levando o paciente a sentir que é praticamente impossível perder peso. Além
da dificuldade de emagrecer e manter o peso, o paciente obeso ainda tem que
lidar com as várias comorbidades que surgem em decorrência da obesidade,
além das questões sociais, estéticas e culturais.

De acordo com Rasera Jr. e Shiraga (2004), o consentimento informado,


ou seja, um documento escrito, funciona como uma forma de orientar os
pacientes sobre o procedimento aos quais serão submetidos e as mudanças no
estilo de vida, de forma objetiva e direta. A capacidade do paciente em
compreender as implicações do tratamento cirúrgico é muito importante e
indispensável, pois torna-se imperativo o dever de informá-lo como requisito
prévio para o seu consentimento.

O Ministério da Saúde Brasil, (2000), por meio da Portaria 196/2000,


reconhece a obesidade como um problema de saúde pública em crescimento,
assim como a importância para os obesos mórbidos do tratamento cirúrgico,
incluiu a gastroplastia entre os procedimentos oferecidos pelo Sistema Único
de Saúde – SUS. Apontou os critérios clínicos para indicação da cirurgia a
Paciente portador de obesidade de grandes proporções, de duração superior a
dois anos, com Índice de Massa Corpórea (IMC) superior a 40 kg/m² e
resistente aos tratamentos conservadores como dietoterapêuticos, exercícios
físicos psicoterápicos, medicamentosos e continuamente, há pelo menos dois
anos. E também pacientes obesos com IMC superior a 35 kg/m², portadores de
doença crônica associada a diabetes, hipertensão, artropatias, hérnias de
disco, apnéia do sono, cuja situação clínica é agravada pelo quadro de
obesidade.

2.3 Técnicas e Métodos Utilizados

De acordo, com Pareja e Pilla (2004), as cirurgias para o tratamento da


obesidade mórbida podem ser divididas da seguinte forma, baseado no
princípio de funcionamento: restritivas; disarbotivas e mistas. Cirurgias
restritivas são técnicas que reduzem o volume de alimento sólido que o
paciente conseguirá ingerir nas refeições, pois ao comer menos alimentos
sólidos e pastosos, espera-se o emagrecimento consequente do paciente. Para
tanto, faz-se necessário ressaltar que o resultado dependerá da colaboração
do paciente, já que alimentos líquidos poderão ser ingeridos quase no mesmo
volume consumidos antes da cirurgia.

As técnicas restritivas aceitas pelo Conselho Federal de Medicina


(2005), são as seguintes: Balão Intragástrico, Gastroplastia Vertical Bandada
ou Cirurgia de Mason e Banda Gástrica Ajustável. As cirurgias disabsortivas
são técnicas que possibilitam ao paciente comer normalmente, levando uma
absorção menor dos nutrientes. As cirurgias mistas com maior componente
disabsortivo são: cirurgia de Scopinaro e de Duodenal-Switch. As vantagens
desses procedimentos é que não há restrição de alimentos, a perda de peso e
manutenção a longo prazo no reservatório gástrico é acessível aos métodos de
investigação radiológicas e endoscópicas. Os sujeitos submetidos a esses
procedimentos apresentam complicações nutricionais e metabólicas de difícil
controle, como a deficiência de vitamina B12, cálcio, ferro, desmineralização
óssea, incidência de úlcera de boca e aumento do número de evacuações
diárias. Os novos procedimentos para a cirurgia, garantidos pelo SUS, são
tratamento multidisciplinar composto por endocrinologistas, nutricionistas,
intensivistas, disioterapeutas, psicólogos e assistentes sociais.
Fobi (1989) e Capella (1991), foram os primeiros cirurgiões a descrever
a técnica que ficou conhecida como Técnica Bypass Gástrico ou Fobi-Capella.
A ampla divulgação deste procedimento, foi a partir da utilização pioneira na
disciplina de Cirurgia do Aparelho Digestivo do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, no início dos anos 90.
O método consiste na redução da capacidade gástrica, onde o estômago
remanescente, fica excluído do trânsito alimentar. O pequeno reservatório
gástrico é anastomosado a uma alça jejunal isolada em Y-de-Roux por
laparoscopia e esvaziamento limitado por um anel de silicone, distal à transição
esofagogástrica proximal à anastomose gastrojejunal. As secreções
provenientes do estômago e do duodeno exclusos desembocam no jejuno por
uma anastomose, distância que irá depender do IMC do paciente. A
modalidade de cirurgia bariátrica pela via laparotômica é a mais frequente
gastroplastia com derivação intestinal, técnica considerada padrão para o
tratamento, apesar do maior custo, é menos invasiva e proporciona um pós-
operatório menos complicado e uma recuperação mais rápida.

2.4. A importância do acompanhamento psicológico

No tratamento da obesidade Franques (2004), coloca a capacidade de


controle da ingestão alimentar visto com preconceito pelo próprio obeso, por
muitos profissionais da saúde, educadores e por psicoterapeutas. A maioria
dos obesos carregam a culpa e a responsabilidade de sua obesidade, em uma
sociedade que supervaloriza a magreza, julgamentos sociais negativos em
relação ao seu estado. Portanto, não é uma fraqueza de caráter, a obesidade é
uma doença que afeta o homem nos seus aspectos físico, emocional, psíquico
e social. Os pacientes obesos mórbidos que chegam para cirurgia bariátrica,
trazem alterações emocionais que podem estar presentes entre os fatores
determinantes, na obesidade exógena, ou entre as consequências na
obesidade endógena.

Para Franques (2004), a obesidade é desencadeada por situações que


provocam mudanças ou desequilíbrios emocionais, tendo cada aspecto um
significado particular como a menarca, casamento, nascimento de filhos, e
morte de pessoas próximas. As pessoas com dificuldades de elaboração
psíquica, estados emocionais abalados, dificuldades em tolerar frustrações, ao
comer compensa-os desta desestabilização psicológica, que tem como
estratégia aliviar tensões internas do indivíduo que deixou de sentir ansiedade
e compulsão antes da cirurgia, porém a dificuldade de lidar com as emoções
ainda permanecem. Na obesidade endógena geralmente a pessoa apresenta
excesso de peso desde o início da vida e tende a vivenciar e confundir os mais
variados desejos como a necessidade de alimento.

De acordo com Faria (2006), os serviços de psicologia oferecidos aos


pacientes de cirurgia bariátrica podem e devem incluir os seguintes aspectos:
avaliação psicológica inicial, suporte psicológico intra hospitalar, grupo de apoio
reunião com os pacientes e acompanhamento pós-operatório a longo prazo.
Ainda salienta que, para oferecer esse suporte psicológico de qualidade, é
necessário que o psicólogo trabalhe com a equipe multidisciplinar e dedique
parte da sua prática clínica ao atendimento dos pacientes bariátricos.

Franques (2004) ressalta a importância da avaliação psicológica e do


trabalho psicológico pré-operatório no prognóstico e na aderência do paciente
ao tratamento pós-operatório. Além da avaliação a continuidade do tratamento
e a psicoterapia são indicadas a todos os pacientes submetidos à cirurgia
bariátrica. No entanto, alguns aspectos podem surgir após a cirurgia ao qual
necessitam de um adequado tratamento psicológico para o êxito e sucesso do
tratamento cirúrgico.

Travado et al. (2004), destaca alterações psicopatológicas relacionadas


à obesidade, bem como: depressão, ansiedade, compulsão para comer,
distorção da imagem corporal, baixa autoestima, rejeição, exclusão social,
história de abuso sexual, perdas parentais, história de abuso de álcool, ideação
suicida, problemas familiares, sentimentos de vergonha, culpabilização,
agressividade, revolta, insatisfação, isolamento social, absentismo e
psicossomatismo. No ponto de vista psicológico, é importante destacar que o
obeso é visto como um ser bio-psicossocial e que essas dimensões não são
independentes, se entrelaçam e se refletem mutuamente.

Conforme Marchesini (2004), ao comer em excesso, o indivíduo tem


sensações incomodas, seguida de sentimento de culpa e arrependimento, que
acabam reforçando “um ciclo já instalado de deprimir e comer”. Esse tipo de
comportamento leva ao Transtorno de Compulsão Periódica ou Binge-eating,
que a qualquer sinal de esvaziamento gástrico o indivíduo recomeça a ciclo,
até que já não tenha mais sentimento de culpa e coma sem qualquer atitude
crítica. Os indivíduos submetidos à cirurgia bariátrica nos primeiros meses após
a cirurgia está numa perda progressiva de peso, com certo controle do
mecanismo compulsivo da ingestão alimentar, no entanto, podem estar
mascarando uma depressão e apresentando um sintoma solitário.

Segundo Cordás (2004), os critérios para compreensão do Transtorno


do Comer Compulsivo são: a presença de episódios bulímicos recorrentes,
sensação de falta de controle sobre a ingestão durante o episódio ou quando
estejam associados. O fato é que os pacientes com o Transtorno do Comer
Compulsivo têm maior frequência de recaídas após tratamentos para perder
peso, maior comorbidez com depressão, abuso de álcool e drogas, transtornos
de personalidade e insatisfação com a imagem corporal.

Salienta Moreno; Moreno; Ratzke, (2005), hipomania é um estado


semelhante à mania, com uma breve duração, menos de uma semana.
Caracterizado pela mudança no humor habitual do paciente para euforia ou
irritabilidade, reconhecida por outros, além de hiperatividade, tagarelice,
diminuição da necessidade de sono, aumento da sociabilidade, atividade física,
iniciativa, atividades prazerosas, libido e sexo, e impaciência.

Coloca Marchesini (2004), a grande maioria dos pacientes tem um


quadro Bipolar do tipo II (hipomania se alternando com depressão) ou misto
(hipomania mesclando-se com depressão). Nos casos de obesos mórbidos em
preparação para cirurgia, foi possível observar características de
comportamento sofríveis, prazer que envolve o sistema límbico e córtex, a
mesma via em que atuam as drogas com potencial de abuso, como a nicotina,
a cocaína e os opiáceos. É importante esclarecer ao paciente, profissionais da
equipe multidisplinar que atuam junto aos cirurgiões bariátricos que, ao reduzir
a capacidade gástrica, mexe na quantidade alimentar que o cérebro do
paciente estava programado e assim indicar a psicofarmacoterapia, na busca
de um novo equilíbrio.
3. ANALISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS

Com base no que foi elencado teoricamente e a observação mediante a


entrevista realizada, podemos perceber associações relevantes para nosso
estudo. Assim, para a discussão dos resultados traremos trechos importantes
da entrevista e o entendimento a partir da teoria.

A entrevista foi realizada em forma de uma conversa informal com a Sra.


Maria Das Graças De Jesus De Mattos, moradora da cidade de Chapecó, 67
anos de idade, fez a cirurgia bariátrica no ano de 2007.

A obesidade é definida pela Organização Mundial da Saúde BRASIL,


(2014), como acúmulo anormal ou excessivo de gordura relacionado a um
comprometimento no funcionamento fisiológico, que ultrapassa a origem
nutricional considerada uma condição de caráter multifatorial. Os estilos de vida
pouco saudáveis, a urbanização e o envelhecimento da população configuram
um cenário atual no Brasil, em que as doenças crônicas não transmissíveis
predominam sobre as doenças infecciosas causando a morbidade e
mortalidade. Considerada fator de risco independente para infarto do
miocárdio, hipertensão arterial, aumento de níveis de colesterol e diminuição da
tolerância à glicose.

Começamos nossa discussão a partir do primeiro relato da Sra. Maria,


na qual nos trouxe que foi após a sua segunda gestação que começou a
engordar e não importava quantos km fazia não conseguia perder peso, “ Eu
andava o dia inteiro de bairro a bairro e no máximo perdi 2 kg e isso me
frustrava e assim descuidei de vez passei a comer sem freio”, como o ganho
de peso foi grande, os problemas de saúde começaram a aparecer, ela era
diabética e sofria com pressão alta, em uma de suas consultas de rotina ao
oftalmologista descobriu estar com pressão no olho, “ quando meu médico
disse que teria que fazer um tratamento porque estava com uma pressão no
olho e com isso eu iria ficar com a visão cada vez mais comprometida eu me
assustei”.
Esse relato nos faz pensar o quão é a dificuldade enfrentada por
pessoas que ao se verem em tal situação não conseguem mudar o presente
estado de saúde em que estão, mesmo fazendo o que está ao alcance, o medo
que enfrentam pela suas vidas e por seus estilos de vida nada saudáveis, faz
com que muitos desistam, por terem o diagnóstico de saúde não satisfatórios e
correm sérios riscos, a obesidade mórbida torna a vida mais sofrida e a
frustração é inevitável.

Trazendo para o nossa segunda parte da discussão, segundo o autor Nasser e


Elias (2004), a dificuldade em fazer um tratamento clínico que seja efetivo, na maioria
das vezes o paciente perde a motivação de viver, pois trata-se de indivíduos obesos
desde a infância, que são obrigados a passar por vários tipos de restrições e tratamentos,
inclusive medicamentosos.

A Sra. Maria após a visita ao oftalmologista fica muito nervosa, o seu médico
então explica e sugestiona a ela a cirurgia bariátrica, “ quando ele me disse a Sra. já
pensou em fazer a cirurgia bariátrica, eu disse a ele que eu sempre quis fazer, mas meu
plano de saúde não cobria e eu não tinha condições financeiras em fazer, mas com o
passar dos dias corria atrás até conseguir fazer pelo meu plano de saúde”, então o
médico dela indicou a cirurgia devido aos problemas de saúde e como qualquer outro
tratamento seria algo no qual ela não teria resultados satisfatórios.

Nessa segunda discussão podemos observar que o médico já com sua


experiência e por se tratar de uma paciente de longa data, já acompanhava seu
sofrimento quando indica a cirurgia, sabe que independente dos esforços o único
tratamento eficaz seria a cirurgia, e perceber-se a força de vontade da Sra. Maria em
mudar a sua realidade, o que de fato já é um grande passo nesse longo caminho no qual
é muito difícil conseguir chegar aos objetivos, pois envolve várias etapas e dificuldades.

Fobi (1989) e Capella (1991), foram os primeiros cirurgiões a descrever a


técnica que ficou conhecida como Técnica Bypass Gástrico ou Fobi-Capella. A ampla
divulgação deste procedimento, foi a partir da utilização pioneira na disciplina de
Cirurgia do Aparelho Digestivo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo, no início dos anos 90. O método consiste na redução da
capacidade gástrica, onde o estômago remanescente, ficam excluídos do trânsito
alimentar.
De acordo com Faria (2006), os serviços de psicologia oferecidos aos pacientes
de cirurgia bariátrica podem e devem incluir os seguintes aspectos: avaliação
psicológica inicial, suporte psicológico intra hospitalar, grupo de apoio reunião com os
pacientes e acompanhamento pós-operatório a longo prazo. Ainda salienta que, para
oferecer esse suporte psicológico de qualidade, é necessário que o psicólogo trabalhe
com a equipe multidisciplinar e dedique parte da sua prática clínica ao atendimento de
pacientes bariátricos.

Nossa última parte a ser discutida aqui mas não menos importante, é aonde a
Sra. Maria relata que antes de fazer sua cirurgia ela passou por uma equipe
multidisciplinar composta por nutricionista, psicólogo, psiquiátrico além do médico
especialista que realizou a sua cirurgia sua preparação começou a seis meses antes da
cirurgia e que esse acompanhamento seguiu durante e seis meses após a cirurgia, a
técnica usada foi a Bypass, que é o implante do anel com o corte e desvio do intestino,
segundo ela “ o acompanhamento que tive com psicólogos e outros profissionais foi
muito importante para que eu pudesse fazer a cirurgia, sempre foi frisado a seguinte
pergunta você vive pra comer ou come pra viver, isso sempre fez eu ter muita força de
vontade em continuar, após eu passar pelo psiquiátrico que me deu o aval pra poder
fazer a cirurgia foi só conquistas, os contatos com pessoas que já haviam feito também
foi outro motivo que me fazia seguir em frente e que era aquilo que queria”.

Para finalizarmos nossa discussão esse trecho nos traz a importância da equipe
multidisciplinar em conjunto com o indivíduo, pois sua força de vontade tem que ser
muito grande além de estar fortalecendo o seu psicológico para que a cirurgia seja feita
e que tenha sucesso após a cirurgia, por isso a equipe trabalhando junto faz com que
tudo corra bem e seja eficiente, o paciente também tem que estar preparado
psicologicamente pois após a cirurgia tem que seguir os passos corretos de recuperação
pra que não possa voltar a ganhar peso novamente.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ser humano apresenta uma história de vida, que se iniciou e começou


a se constituir como sujeito, várias formas e estratégias para sua
sobrevivência. Desse modo, é que se pode compreender que determinadas
formas de estar no mundo, de estabelecer relações, de se eleger como pessoa,
ou mesmo obter privilégios, acerca do mundo ao qual estamos inseridos e uma
maneira de viver bem com saúde.

A obesidade mórbida é uma condição com alta mortalidade devido a


várias complicações clínicas associadas. A cirurgia bariátrica é considerada
uma importante ferramenta na perda e manutenção do peso a longo prazo.
Para favorecer esta perda de peso com saúde é preciso acompanhamento
clínico-nutricional especializado com o objetivo de evitar as carências
nutricionais no período pós-operatório.

A visão do psíquico e o orgânico não são campos separados, sendo


assim, as mudanças produzidas em qualquer um deles produz mudanças em
ambos. A importância do acompanhamento psicológico após a cirurgia, onde o
profissional da psicologia, como integrante da equipe interdisciplinar estará
auxiliando, num processo de simbolização, re-significação, re-qualificação do
que sentem, das angústias e desejos. O papel do psicólogo, na equipe
interdisciplinar, além do processo de avaliação para gerar demanda,
respaldado pela equipe, deverá fazer o acompanhamento psicológico no pós-
cirúrgico.

Considerando a necessidade de discussões em torno desse novo


procedimento, que é a cirurgia bariátrica, que pode vir a trazer, sem dúvidas,
muitos benefícios para a qualidade de vida do paciente. O tratamento
psicológico da obesidade é atualmente reconhecido como uma estratégia
eficaz que apresenta uma finalidade de induzir, manter, capaz de proporcionar
perda ou controlar as co-morbidades relacionadas à obesidade. Toda
intervenção terapêutica necessita de uma avaliação prévia eficaz em relação
aos riscos, o que deve ser feito minuciosamente com os candidatos à Cirurgia
Bariátrica.

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