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MANEJO DA

OBESIDADE
AVALIAÇÃO E TRATAMENTO
FARMACOLÓGICO
SUMÁRIO INTRODUÇÃO
IMPACTO DA OBESIDADE
AVALIAÇÃO
Definição e classificação
3
4
7
7
Avaliação inicial 9
Causas da obesidade 11
Consequências para a saúde 13
Motivação para o tratamento 14
TRATAMENTO 15
Alimentação e atividade física 17
Medicamentos 19
Sibutramina 20
Orlistate 21
Agonistas do receptor do GLP-1 22
Bupropiona-naltrexona 23
Outros fármacos 24
Tratamento cirúrgico 26
A ARTMED 28
REFERÊNCIAS 29
Manejo da Obesidade: Avaliação e Tratamento Farmacológico

INTRODUÇÃO
A obesidade é uma doença crônica complexa
e com consequências potencialmente graves.
Ela tem alta prevalência e, por isso, é causa de
morbidade e mortalidade significativa, bem como
gera custos elevados aos sistemas de saúde (1).
Embora haja controvérsias, especialistas defendem
a definição de obesidade como uma doença em vez
de apenas um fator de risco. Esse posicionamento
tem em vista o potencial de prejuízo à saúde,
assim como a facilitação de acesso a prevenção e
tratamentos (2).
Por isso, neste e-book, você vai saber mais sobre
essa condição e ter acesso a todas as ferramentas
para avaliar e indicar o tratamento farmacológico
correto aos pacientes.

Boa leitura!

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Manejo da Obesidade: Avaliação e Tratamento Farmacológico

IMPACTO DA
OBESIDADE
A prevalência da obesidade é crescente e triplicou nas últimas
décadas (3). De acordo com a Organização Mundial de Saúde, mais
de 2 bilhões de adultos têm IMC > 25 kg/m2, dos quais 650 milhões
são obesos (IMC > 30 kg/m2). O Brasil não fica de fora dessas
estatísticas: um a cada cinco adultos é classificado como obeso. No
cenário nacional, a condição está associada à menor escolaridade
e predomina em homens jovens e mulheres de meia idade (4). A
elevada prevalência também impacta em custos ao sistema de
saúde: estima-se que os custos diretos e indiretos somem 2% do
Quadro 1.
produto interno bruto de um país (5).
Fórmula para cálculo do índice
O excesso de tecido adiposo é a definição de obesidade - apesar de,
de massa corporal (IMC).
muitas vezes, a condição ser considerada apenas como “excesso de
Adaptado de (6).
peso corporal”. Isso se deve às dificuldades de distinguir aumento de
tecido adiposo do peso corporal total. Apesar desse desafio, o índice Peso
de massa corporal (IMC - Quadro 1) tem uma ótima correlação com
o percentual de gordura corporal e é considerado um bom marcador (Altura2)
para o diagnóstico de obesidade. Portanto, para fins práticos, o IMC
pode ser utilizado para classificação.
Peso em kg e altura em m

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Manejo da Obesidade: Avaliação e Tratamento Farmacológico

Do ponto de vista patofisiológico, ela se instala


por um desbalanço entre consumo e gasto
energético (7).
Um aspecto relevante é a crença (de pacientes
e profissionais) que esse desbalanço está sob
controle 100% racional; essa forma de pensar
promove estigmatização da obesidade como um
problema de “falta de vontade”. Biologicamente,
trata-se de um processo mais complexo,
com interação de genes e exposições com a
Mais de 200 genes estão associados
consequência final de acúmulo de gordura.
ao desenvolvimento da doença, grande
parte deles envolvido com a regulação do
apetite – o que pode auxiliar para reduzir
a culpabilização do indivíduo a respeito da
sua condição (2). Apesar da contribuição
genética, o ambiente ocupa um papel
fundamental na gênese da obesidade: a
oferta de alimentos (especialmente ricos
em carboidratos), o estilo de vida sedentário
e fatores como o isolamento social (6).

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Manejo da Obesidade: Avaliação e Tratamento Farmacológico

A relação entre IMC e mortalidade por todas as causas é independente de outros fatores de risco e se traduz em uma curva em J,
com elevação mais marcada a partir do valor do IMC > 30 kg/m2 (Figura 1) (8). Nesse ponto, também é necessário ressaltar que não
existe “obesidade saudável”: mesmo com outros marcadores de doença cardiovascular normais, o excesso de peso aumenta de forma
independente risco para eventos cardiovasculares.

Figura 1. Relação entre IMC e desfechos em saúde. Adaptado de (8).

HR - I.C. 95%: hazard ratio com intervalo de 95%. IMC: índice de massa corporal.

Devido ao impacto tão significativo, todo indivíduo adulto deve ser rastreado para obesidade, aconselhado sobre tratamentos
disponíveis e, se motivado (ver a seguir), ofertado tratamento (9,10). Mesmo indivíduos com sobrepeso (IMC > 25 kg/m2) podem
se beneficiar de tratamento, especialmente quando houver presença de comorbidades. Nos últimos anos, o cenário do tratamento
farmacológico se alterou rapidamente, com o desenvolvimento e lançamento de novos fármacos para perda ponderal (11).

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Manejo da Obesidade: Avaliação e Tratamento Farmacológico

AVALIAÇÃO
Definição e classificação
Como discutido, conceitualmente a obesidade
é o aumento da massa de gordura, mas,
do ponto de vista prático, o IMC é utilizado
como substituto. De acordo com o IMC da
pessoa, é possível classificar o indivíduo
em peso normal (eutrófico), sobrepeso e
obesidade com os seus diferentes graus (I, II
e III) (Tabela 1) (10,12). Essa categorização
deriva da associação progressivamente
maior do aumento do IMC com morbidade e
mortalidade por causas como infarto agudo
do miocárdio e acidente vascular cerebral
(Figura 1) (13).
Apesar dessa categorização, devemos lembrar
que, a partir do IMC > 25 kg/m2, a associação
é contínua e progressiva de risco; portanto,
indivíduos dentro da mesma categoria podem
necessitar de abordagens mais ou menos
intensivas conforme o contexto.

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Manejo da Obesidade: Avaliação e Tratamento Farmacológico

Tabela 1. Classificação por IMC conforme a Organização Mundial da Saúde. Adaptado de (10,12).

Índice de massa corporal (kg/m2) Classificação


<18,5 Baixo peso
≥18,5 a 24,9 Eutrófico
25,0 a 29,9 Sobrepeso
30,0 a 34,9 Obesidade grau I
35,0 a 39,9 Obesidade grau II
> 40 Obesidade grau III

Embora essa máxima seja aplicada a todos os indivíduos adultos, em idosos


o incremento de risco não parece ser reprodutível na mesma escala. Nestes
pacientes, ainda existe associação entre obesidade e risco cardiovascular, porém
em menor proporção do que em indivíduos de meia idade (13). Algumas correntes
propõem a discussão do “paradoxo da obesidade”, em que idosos com IMC entre
25-30 kg/m2 teriam inclusive menor mortalidade em relação aos demais (14).

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Manejo da Obesidade: Avaliação e Tratamento Farmacológico

Avaliação inicial
Figura 2. Contribuintes para sobrepeso e obesidade. Adaptado de (12).
Como discutido, rastreamento
de obesidade com medida
de altura, peso e cálculo
do IMC (Quadro 1) é
recomendada como medida
populacional (9). O cálculo
do IMC e classificação do
paciente conforme os estratos
apresentados na Tabela 1
também é o primeiro passo da
avaliação clínica. A avaliação
do adulto com sobrepeso ou
obesidade inicia com anamnese
e exame físico. As informações
principais são início do excesso
de peso, tentativas prévias
de emagrecimento, hábitos
alimentares, prática de atividade
física, uso de medicamentos e
tabagismo (12). Os principais
contribuintes para sobrepeso/
obesidade estão listados na
Figura 2.

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Manejo da Obesidade: Avaliação e Tratamento Farmacológico

Ao IMC, deve-se acrescentar a medida da circunferência abdominal (10,12).


Por meio dessa medida, é possível identificar a deposição central de gordura
(intra-abdominal e cutânea-abdominal), que tem relação com desfechos
adversos de forma independente do IMC. Portanto, a circunferência
abdominal é um parâmetro adicional para predição de risco, especialmente
quando IMC entre 25-35 kg/m2 (12,15). Quanto à técnica para aferição, não
existe definição homogênea na literatura, mas costuma-se utilizar o ponto de
maior circunferência no ponto médio entre a espinha ilíaca anterossuperior e
o rebordo costal inferior. Deve-se considerar obesidade central:

Homens com Mulheres com


Cintura > 102 cm Cintura > 88 cm

Em asiáticos, pode-se considerar usar pontos de corte mais estritos


(90 cm para homens e 80 cm para mulheres).

Quando se identifica um paciente com obesidade (seja pelo IMC, seja


pela circunferência abdominal), deve-se buscar entender a causa
do ganho de peso e pesquisar as consequências para a saúde,
especialmente a presença de comorbidades já estabelecidas (12).

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Manejo da Obesidade: Avaliação e Tratamento Farmacológico

Causas de obesidade
Conforme discutido, existe uma sobreposição de
causas genéticas, adquiridas e ambientais para a
obesidade. Apesar disso, hábitos não saudáveis
são considerados os principais determinantes
(Figura 2) (12). Outras causas secundárias,
como distúrbios endócrinos primários, também
podem contribuir para a condição. Quanto à
avaliação, deve-se investigar causas conforme a
suspeita clínica; algumas dicas são (12):

Aumento de extremidades e alargamento


da mandíbula sugerem acromegalia;
Irregularidade menstrual e hirsutismo são
sinais de síndrome dos ovários policísticos;
Face em lua cheia, estrias violáceas
e fraqueza muscular proximal são
manifestações de síndrome de Cushing.

Existe um grande número de medicamentos e


classes que promovem ganho de peso (Tabela 3),
muitos por efeitos intrínsecos ao seu mecanismo
de ação (12). Mesmo que isoladamente eles não
expliquem na totalidade a obesidade do indivíduo,
sempre que possível, deve-se tentar substituí-los por
medicamentos com menor efeito de ganho ponderal.

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Manejo da Obesidade: Avaliação e Tratamento Farmacológico

Tabela 3. Principais medicamentos causadores de sobrepeso e obesidade. Adaptado de (12).

Antipsicóticos
Antidepressivos tricíclicos, inibidores seletivos da recaptação
de serotonina, inibidores da monoaminoxidase e lítio
Anticonvulsivantes
Antidiabéticos (insulina, glibenclamida)
Contraceptivos orais
Betabloqueadores
Inibidores de protease
Corticoides
Anti-histamínicos
Anticolinérgicos

Avaliação sistemática genética, da taxa metabólica basal ou mesmo “painel endocrinológico” não são indicados. Deve-se considerar
causa monogênica de obesidade em pacientes que se manifestam desde o início da infância (12).

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Manejo da Obesidade: Avaliação e Tratamento Farmacológico

Consequências para a saúde


Em paralelo à obesidade, uma série de outros
prejuízos à saúde se desenvolvem, seja
como consequência direta do aumento de Figura 3. Principais condições associadas a
peso, seja pelos fatores de risco que ocorrem obesidade. Adaptado de (16).
de forma concorrente (Figura 3) (16). Não
existe recomendação de busca sistemática
da maioria dessas alterações com exames
complementares, mas o médico deve estar
atento às potenciais complicações e investigá-
las sempre que houver sinais ou sintomas
sugestivos (17). Além disso, como veremos a
seguir, a presença dessas complicações ajuda a
definir a intensidade do tratamento.
Em função da elevada prevalência em indivíduos
com sobrepeso e obesidade, deve-se dar
especial atenção para doença cardiovascular
(cardiopatia isquêmica, hipertensão e
insuficiência cardíaca), apneia do sono,
esteatose hepática, dislipidemia, depressão
e diabetes mellitus tipo 2. Do ponto de vista
laboratorial, recomenda-se a avaliação mínima
com TSH, glicemia (ou HbA1c), transaminases
e perfil lipídico (12), além da medida da pressão
arterial com esfigmomanômetro ajustado para
o diâmetro do braço.

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Manejo da Obesidade: Avaliação e Tratamento Farmacológico

Consequências
Figura 4. Algoritmo para avaliação dos estágios de
para a saúde mudança em relação à perda de peso. Adaptado de (10).
Como parte final da avaliação
e já começando a planejar o
tratamento, deve-se avaliar a
motivação do indivíduo. Sem
este passo, o profissional corre
o risco de gerar frustração para
o paciente e para si mesmo com
recomendações que o paciente
não está pronto para implementar.
Aqui, vale lembrar que cada pessoa
vive em um contexto peculiar e,
por vezes, existem prioridades
concorrentes ao tratamento da
obesidade. Em suma, o paciente
deve estar na fase de ação para
iniciar o tratamento da obesidade
(10,18). Para identificar a fase que
o paciente se encontra, sugere-se
a utilização do modelo expresso na
Figura 4, que permitem direcionar
melhor as ações e metas para o
momento. No modelo, o avanço de
fase reflete o sucesso do indivíduo
na etapa anterior (10).

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Manejo da Obesidade: Avaliação e Tratamento Farmacológico

TRATAMENTO
O objetivo do tratamento da obesidade é prevenir, tratar e reverter as
complicações da doença e melhorar a qualidade de vida minimizando
os efeitos adversos do tratamento (10,11,18). Perdas de peso de 5%
já são suficientes para atingir esse objetivo, mas alguns pacientes com
obesidade grau II ou III podem necessitar perdas maiores. Com ajustes
alimentares e atividades físicas, pode-se atingir 5-7%; a associação com
medicamentos pode levar a 10-15%; e cirurgia bariátrica pode atingir
valores tão altos quanto 30-50% (18).
Como se trata de uma doença complexa e cujo tratamento dependente
de mudanças comportamentais, é necessária uma abordagem
multifacetada, que envolve orientações sobre alimentação saudável e
mudança de hábitos, prática de atividade física e, por vezes, intervenções
farmacológicas ou até mesmo cirúrgicas (18). Sempre que disponível,
deve-se trabalhar em equipe multidisciplinar para este objetivo; além
disso, novas modalidades, com intervenções a distância e aplicativos,
são promissoras.

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Manejo da Obesidade: Avaliação e Tratamento Farmacológico

Apesar dos grandes avanços no assunto, as recomendações de intensidade do tratamento de acordo com o IMC são baseadas
principalmente em opiniões de especialistas; existem variações de pontos de corte, mas, em conjunto, todas são semelhantes
(18). O conceito é que, quanto maior a gravidade e o excesso de peso, mais intensa deve ser a intervenção – apresentamos uma
proposta de abordagem na Figura 5. Em todos os cenários, são indicadas mudanças de estilo de vida, como dieta e atividade física,
enquanto o uso de fármacos é reservado para pacientes de moderado a alto risco. O tratamento cirúrgico deve ser considerado em
pacientes de alto risco (18). Essa abordagem segue os estudos clínicos que avaliaram as intervenções individualmente.

Figura 5. Intervenções indicadas conforme o IMC e condições comorbidades. Adaptado de (18).

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Manejo da Obesidade: Avaliação e Tratamento Farmacológico

Alimentação e atividade física


Todo indivíduo com indicação de perda ponderal e em fase
de ação deve receber abordagem de mudança de hábitos
alimentares e realização de atividade física. Mesmo para
pacientes que utilizarão tratamento farmacológico, deve-se
ressaltar que ajustes na dieta e estímulo à atividade física são
parte da intervenção oferecida nos estudos que exploram os
efeitos de medicamentos para perda ponderal (18). Tende-se a
dar preferência para abordagem intensiva e multimodal, com
dieta hipocalórica e realização de atividade física. Intervenções
para mudança comportamental e com apoio multiprofissional,
buscando utilizar recursos e alimentos locais, são parte
das recomendações mais atuais (10). Além disso, deve-se
considerar ferramentas adicionais, como intervenções a
distância (18).
Muito já se estudou e ainda há muitas dúvidas existem quanto à
composição de macronutrientes (proteínas, gorduras, lipídeos) e
estilos (mediterrânea, DASH, jejum intermitente) mais adequada
para a perda de peso. No conjunto das evidências, e levando-
se em conta os resultados em longo prazo, a maioria das
estratégias promove perda ponderal modesta e semelhante (18).

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Manejo da Obesidade: Avaliação e Tratamento Farmacológico

Mais importante do que a proporção de macronutrientes que


compõem a dieta é a quantidade de calorias ingeridas. Para que haja
perda ponderal, a quantidade de calorias ingeridas deve ser menor que
a quantidade gasta (seja pelo metabolismo basal, seja por exercícios).
Isso é atingido em quase todos os adultos com consumo < 1000 kcal/
dia (18). Por outro lado, prescrições com menos de 800 kcal/dia não
têm benefício em perda ponderal e comprometem a adesão.
Na prática, o ideal é educar o hábito alimentar para uma restrição
calórica que possa ser sustentada a longo prazo e com consumo de
alimentos mais saudáveis (10,18).
Embora a restrição calórica tenha maior impacto no peso, a prática
de exercício físico é um importante preditor de manutenção da perda
ponderal, além de atenuar a perda de massa magra. Recomenda-se a
prática de pelo menos 150 minutos de exercício moderado a intenso,
que podem ser distribuídos em 30 minutos de atividade física de 5 a
7 vezes por semana. A estratégia recomendada é exercício aeróbico
complementado com treino de resistência, considerando preferências
individuais. A prática de atividades de alta intensidade, como
corrida, deve ser idealmente acompanhada por um educador físico,
considerando o risco de lesões osteomusculares e o desempenho
cardiovascular. Além do exercício focado, sugere-se reduzir atividades
sedentárias, como tempo de telas em geral (10,18).

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Manejo da Obesidade: Avaliação e Tratamento Farmacológico

Medicamentos
A história da farmacoterapia para
obesidade é repleta de medicamentos com
efeitos adversos graves e suspensão de
comercialização, desde o risco cardiovascular
das anfetaminas até o risco de suicídio
do rimonabanto. Talvez em função disso,
muitos profissionais têm resistência em
iniciar farmacoterapia para indivíduos com
obesidade. Um desafio adicional para a
seleção desses medicamentos é a falta de
bons estudos comparando-os diretamente.
Dessa forma, vantagens comparativas são
sempre indiretas e, portanto, mais frágeis.
Infelizmente, não existe uma abordagem
única para definir a escolha do fármaco:
utilizam-se alguns parâmetros como
preferência por monoterapia e levar em conta
comorbidades dos pacientes, custos e efeitos
adversos (18). O início de uso de todos
os medicamentos é usualmente realizada
na menor dose disponível com aumentos
graduais a cada 1-4 semanas – observando-
se tolerância e resposta. A seguir, serão
apresentadas as opções disponíveis e a
Tabela 4 resume suas características.

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Manejo da Obesidade: Avaliação e Tratamento Farmacológico

SIBUTRAMINA

Trata-se do fármaco antiobesidade com registro


válido mais antigo no Brasil – liberado para
uso desde 1998. Atua inibindo a recaptação
de noradrenalina e serotonina e é considerado
supressor do apetite. Tem potencial de perda
ponderal de 4,5 kg em relação ao placebo
(19). Seus principais efeitos adversos são
taquicardia, palpitações e hipertensão; insônia
e boca seca também são relatados. Deve-se
evitar o uso concorrente com outros inibidores
da recaptação da serotonina pelo risco de
síndrome serotoninérgica maligna.
Ele foi retirado do mercado nos EUA e Europa,
mas ainda é vendido no Brasil com restrições
recomendadas pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA) (20). Isso se deu
pelo aumento de risco de infarto agudo do
miocárdio e acidente vascular cerebral causado
pela sibutramina em pacientes com doença
cardiovascular pré-existente (21).
O medicamento é contraindicado para pacientes com história de doença arterial
coronariana, insuficiência cardíaca congestiva, arritmias ou acidente vascular cerebral.
Trata-se de um medicamento de baixo custo, com apresentações genéricas e várias
marcas no mercado nacional.

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Manejo da Obesidade: Avaliação e Tratamento Farmacológico

ORLISTATE

O principal mecanismo de ação do Orlistate


é a inibição da lipase pancreática e gástrica
e, assim, redução da absorção intestinal
de gorduras da dieta. Tem ação dose-
dependente e potencial de inibir absorção de
aproximadamente 30% dos lipídios da dieta.
Promove a perda de até 10% do peso habitual
em longo prazo: há estudos mostrando controle
de peso por até 4 anos de uso do medicamento.
Como aumenta o conteúdo de gordura fecal,
seu principal efeito adverso é a intolerância
gastrointestinal (cólica, flatulência, esteatorreia
e incontinência fecal). Os sintomas ocorrem
em 15 a 30% dos pacientes em uso do fármaco
e são dependentes da quantidade de gordura
ingerida, ou seja, pode ser atenuado com a
adaptação da dieta. Além disso, é necessário
reposição vitamínica no uso em longo prazo
(11).
Do ponto de vista cardiovascular, é seguro e
pode ter efeito adicional de redução da pressão arterial (tanto sistólica quanto diastólica).
Outros benefícios adicionais são a redução nos níveis de hemoglobina glicada e melhora
do perfil lipídico (11).

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Manejo da Obesidade: Avaliação e Tratamento Farmacológico

AGONISTAS DO RECEPTOR DO GLP-1

Os agonistas do GLP-1 (glucagon like peptide-1) mimetizam esse hormônio


gastrointestinal e agem reduzindo o esvaziamento gástrico e estimulando a
saciedade. Têm efeitos adicionais no metabolismo glicêmico, promovendo
secreção de insulina e aumentando sua sensibilidade (22).
No mercado norte-americano, tanto liraglutida quanto semaglutida são dispo-
níveis para tratamento da obesidade (11); no Brasil apenas a liraglutida tem
liberação para uso em obesidade. Deve-se destacar que as doses para obe-
sidade e tratamento de diabetes mellitus tipo 2 são diferentes, sendo as para
obesidade mais elevadas.
É a classe de medicamentos com efeitos mais marcados no peso (lembran-
do que a maioria das comparações é contra placebo). Quando se considera
semaglutida nas doses mais elevadas, atinge-se perda de 10% do peso corporal em até 75% dos pacientes tratados (23). A liraglutida
também tem bons resultados, atingindo média de 8 kg de perda de peso (11). Quanto aos efeitos adversos, os mais comuns são no trato
digestivo: náuseas, vômitos e diarreia (11). São medicamentos seguros do ponto de vista cardiovascular.
Os efeitos potencialmente mais graves não estão comprovados:

Existe apreensão com a ocorrência de neoplasia medular de tireoide, porém este efeito foi identificado apenas em roedores. De toda
forma, há a recomendação formal de não se usar o medicamento em pessoas com história pessoal ou familiar de neoplasia medular de
tireoide (esporádico ou associado à neoplasia endócrina múltipla tipo 2).
Há suspeitas não confirmadas de risco aumentado de pancreatite e câncer de pâncreas. Do ponto de vista clínico, a recomendação é
investigar pancreatite em pacientes que desenvolvem dor abdominal grave e persistente durante o uso do medicamento. Por outro lado,
não há recomendação de monitoramento de amilase e/ou lipase em pacientes assintomáticos – sua elevação é um evento esperado
com o tratamento. A apreensão com câncer de pâncreas não foi comprovada, mas é um evento monitorado por agências regulatórias.

É frequentemente considerada a primeira opção para tratamento farmacológico para obesidade pela sua eficácia elevada (11), em
especial a semaglutida. Entretanto, o custo elevado e a falta de liberação da semaglutida para tratamento da obesidade no Brasil são
as principais barreiras para o uso.

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Manejo da Obesidade: Avaliação e Tratamento Farmacológico

BUPROPIONA-NALTREXONA

A bupropiona é um inibidor da recaptação


da dopamina e a naltrexona é um
antagonista do receptor de opioides; a
combinação é eficaz para reduzir o apetite
em nível central. É capaz de reduzir entre
4-5% do peso corporal basal. Os efeitos
adversos mais comuns são cefaleia,
náuseas e constipação, insônia; tontura e
boca seca também podem ocorrer.
Existe apreensão com segurança
cardiovascular por elevar a frequência
cardíaca; um estudo de grande porte
avaliando a questão foi interrompido
precocemente e trata-se de um assunto
ainda em aberto. Não há, entretanto,
contraindicação absoluta ao uso em
caso de pacientes com doença cardíaca
conhecida.
Pode ser considerado apropriado
em cenários como desejo de cessar
tabagismo concomitante com obesidade
com motivação para terapia (11). Seu uso
foi liberado no Brasil pela ANVISA, porém
ainda não está disponível comercialmente.

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Manejo da Obesidade: Avaliação e Tratamento Farmacológico

OUTROS FÁRMACOS

Lorcarserina: atua no sistema serotoninérgico como inibidor do apetite. Sua comercialização


foi suspensa pelo fabricante tanto no Brasil quanto em outros países quando o estudo
clínico de longo prazo sugeriu aumento de risco de surgimento de neoplasias com o uso do
medicamento (24). O agente era comercializado no Brasil desde 2016, quando foi aprovado.
Apesar do incremento de risco, não é indicado rastreio de neoplasias adicional aos exames
de rotina recomendados para a idade em pacientes que utilizaram o medicamento (11).
Anfetaminas e combinações: agem ativando o sistema adrenérgico (assim como
a sibutramina) e reduzindo o apetite. Seu uso está proibido no Brasil, mas alguns
representantes (sendo o principal a fentermina) são disponíveis para uso nos Estados
Unidos. Têm efeito moderado no peso e são liberados para curto período de uso (12
semanas). Seus principais efeitos adversos e principais preocupações com segurança se
referem ao sistema cardiovascular (11).
Tirzepatida: trata-se de um fármaco que age em 2 vias do sistema incretínico; além de
estimular receptores GLP-1 (como os agonistas do GLP-1), também age em receptores de
GIP (Glucose-dependent insulinotropic polypeptide). Como esperado, seus efeitos adversos e
eficácia são semelhantes aos agonistas do GLP-1 mais potentes, atingindo a marca de 57%
dos pacientes com perda de 20% do peso corporal com 72 semanas de seguimento (11,25).
Ainda não foi liberada pela ANVISA, mas há perspectivas que isso ocorra em breve.
Topiramato: trata-se de um anticonvulsivante que foi associado com redução moderada
do peso (aproximadamente 6 kg) (26). Há recomendação mais clara de tratamento para
pacientes com binge eating. Os principais efeitos adversos são parestesias, redução da
atenção; em pacientes de risco, pode desencadear glaucoma de ângulo agudo. Deve-se
monitorar eletrólitos e evitar em mulheres usando anticoncepcionais orais (27).

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Manejo da Obesidade: Avaliação e Tratamento Farmacológico

Tabela 5. Principais medicamentos para tratamento de obesidade. Adaptado de (11,28).

Efeitos Aprovação da ANVISA Consta na


Agente Posologia Custo
adversos para obesidade RENAME

Sibutramina Um comprimido Taquicardia, Sim Não Baixo


10 ou 15 mg, hipertensão,
1 vez ao dia. palpitações, insônia,
boca seca.

Orlistate Um comprimido Esteatorreia e incon- Sim Não Moderado


60-120mg tinência fecal. Risco
3 vezes ao dia. de desnutrição se
não houver reposi-
ção de vitaminas.

Agonista Liraglutida SC diária. Dose Náuseas, vômitos, Sim - Não Elevado


GLP-1 alvo de 3 mg (aumento diarreia. Pancreatite liraglutida.
semanal de 0,6 mg). (risco não Semaglutida
comprovado). uso off-label
Semaglutida SC semanal.
Dose alvo de 2,4 mg
(aumento a cada 4
semanas de 0,25 mg).

Topiramato Comprimido Parestesias, redução Não, uso Sim Baixo


25, 50 e 100mg. da atenção, acidose. off-label

Bupropiona- Comprimido Cefaleia, distúrbios Sim Não Moderado*


naltrexona 90mg bupropiona + 8mg do sono, sintomas
naltrexona, gastrointestinais,
1 a 2 comprimidos 2 hipertensão.
vezes ao dia.

RENAME, relação nacional de medicamentos essenciais.


*Ainda não lançado no mercado nacional, estimativa com base no preço dos EUA.

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Manejo da Obesidade: Avaliação e Tratamento Farmacológico

Tratamento cirúrgico
Existem diversas modalidades de
tratamento invasivo atualmente, sendo
os mais utilizados a gastrectomia em
sleeve e o bypass gástrico com Y de Roux;
tratamento com balão e bandas gástricas
são consideradas como ponte para
procedimentos “definitivos” em pacientes
selecionados.
Como regra geral, são candidatos a esse
tratamento pacientes com IMC ≥ 40 kg/
m2 (ou ≥ 35 kg/m2 com comorbidades
não controladas) e falha a 2 anos com
tratamento conservador ou, ainda, IMC ≥
50 kg/m2 a qualquer tempo (Figura 5) (29).
Tem ótimos resultados para perda ponderal
e provavelmente gera, inclusive, benefício de
redução de mortalidade em longo prazo (18).

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Manejo da Obesidade: Avaliação e Tratamento Farmacológico

CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Obesidade é uma doença altamente prevalente, com extensas consequências para os indivíduos
e para as populações. Felizmente, seu diagnóstico e avaliação são baseados em recursos
baratos e amplamente disponíveis:

Aferição do peso e altura


Cálculo do IMC
Medida da circunferência abdominal

Deve-se estar atento a causas associadas a ganho de peso (Figura 2 e Tabela 3). Quanto ao
manejo, intervenção multicomponentes, com enfoque em mudança de hábitos, alimentação
saudável e prática de atividade física são a base. Em relação à farmacoterapia, trata-se de um
cenário em rápida e franca mudança, com os agonistas dos GLP-1 dominando rapidamente o
cenário – a principal restrição ao seu uso é o custo elevado.

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Manejo da Obesidade: Avaliação e Tratamento Farmacológico

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