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Técnico Auxiliar de Farmácia

Professora Margarida Correia


2022/2023

Obesidade e Diabetes

Índice de Massa Corporal (IMC): ou Body Mass Index – BMI, em inglês, é um indicador
universalmente utilizado como forma de identificar, rapidamente, situações de Défice ou
Excesso de Peso, ou Obesidade. É uma medida de corpulência e define-se como a Razão
entre o Peso (em kg) e a Altura (em metros) ao quadrado (kg/m2) e tende a associar-se com
indicadores de composição corporal. O IMC é o teste recomendado para avaliação da
composição corporal, tendo como objetivo determinar se o peso está adequado à altura.

No entanto, um valor isolado de IMC NÃO é suficiente para tirar conclusões. Os valores
devem ser sempre comparados com Tabelas de Referência da OMS. A primeira tabela diz
respeito a Adultos (homens e mulheres) com idade > 20 anos e < 65 anos. Já o gráfico é
específico para Crianças.

Interpretação do IMC
→ Baixo Peso (IMC < 18,5): estes valores ocorrem, normalmente, em pessoas doentes –
hipertiroidismo ou diabetes, presença de parasitas, Doença de Crohn, intolerâncias

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alimentares ou doenças hepáticas; com transtornos alimentares (anorexia) ou em


pessoas idosas. Nestes casos, é importante acompanhar o aumento de peso e repor
alguma carência nutricional existente.

→ Peso Normal (18,5 < IMC < 24,9): este escalão está associado ao peso ideal, a uma maior
longevidade e menor incidência de doenças, sendo os valores recomendados para uma
vida saudável.

→ Excesso de Peso e Obesidade (25 < IMC): estes valores indicam que a pessoa está acima
do ideal. O excesso de peso e obesidade são considerados doenças crónicas, com
aumento progressivo da prevalência em adultos, adolescentes e mesmo em crianças,
de forma epidémica.

Um IMC elevado está associado a um risco cardiovascular elevado, assim como a


problemas metabólicos (diabetes) e osteoarticulares (ossos e articulações), o que diminui a
Esperança Média de Vida (EMV).

Assim, esta medida pode ser utilizada para estimar a prevalência da obesidade numa
população, bem como os riscos a ela associados. No entanto, o IMC NÃO tem em conta a
distribuição de gordura no corpo e as particularidades de cada pessoa. Exemplo: em atletas
o IMC não é uma determinação fiável pois não permite distinguir a causa do excesso de
peso.

Obesidade
A Obesidade é considerada pela OMS como a pandemia do século XXI. É um problema
de saúde pública e uma doença crónica, multifatorial e, acima de tudo, evitável. É definida
como a acumulação anormal ou excessiva de gordura corporal, que pode atingir graus
capazes de afetar a saúde.

Índice de Massa Corporal (IMC) ≥ 30 kg/m2

Apesar de se considerar obesidade acima de 30, esta classificação tem subdivisões, com
gravidade crescente e que devem ser abordadas de modo diferente, com opções
terapêuticas próprias. A classificação tem, ainda, em conta a mortalidade – os anos de vida
perdidos em cada grau: entre os 20-30 anos, perdem-se 5 anos de vida se o IMC estiver
entre 30-35 e 7 anos de vida entre os 35-40.

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Existe, ainda, uma relação forte entre as diferentes classes de obesidade e o risco de
desenvolver comorbilidades:

As consequências da obesidade na saúde dependem não só da quantidade de gordura


a mais, mas também da sua distribuição no corpo, que pode ser muito variável em pessoas
obesas. Indivíduos com excesso de gordura na zona intra-abdominal têm maior risco de
comorbilidades, sendo este mesmo um fator de risco. Assim, é importante distinguir entre:

. Distribuição Visceral ou Androide (Maçã): deposição de gordura abdominal.

. Distribuição Ginoide (Pera): menos grave, em que a gordura se distribui de forma mais
uniforme e periférica.

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A obesidade está associada a complicações como doenças cardiovasculares


(especialmente em pessoas com gordura abdominal excessiva), diabetes, cancro,
problemas intestinais, fígado gordo, cirrose, distúrbios reprodutivos e psicológicos. Um IMC
acima de 34 está, ainda, associado a morte prematura.

Epidemiologia
A prevalência da obesidade a nível mundial tem aumentado nas últimas décadas, sendo
tão elevada que a OMS considera esta doença como A Epidemia Global do século XXI.

Desde 1975, o número de pessoas obesas no mundo triplicou e, em 2020, cerca de 38%
da população mundial (18<) tinham excesso de peso. Destes, cerca de 650 milhões eram
obesos. Em 2019, 38 milhões de crianças com menos de 5 anos tinham excesso de peso ou
obesidade.

Em Portugal, 5,9 milhões de portugueses e 8 em cada 10 idosos têm excesso de peso,


sendo esta doença mais prevalente em indivíduos menos escolarizados. Apenas 41,8% da
população apresenta uma prática regular de atividade física ou desportiva.

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Etiologia (Causas)
A obesidade é uma doença multifatorial, ou seja, resulta de diversos fatores – genéticos,
bioquímicos, dietéticos e comportamentais -, que contribuem para a acumulação de
gordura corporal. Pode ser encarada como uma consequência de um Desequilíbrio
Energético: durante um longo período de tempo, a energia ingerida, em calorias, é maior
que a gasta – Balanço Energético Positivo.

Globalmente, é evidente o aumento do consumo de alimentos densos em energia, ricos


em gordura e açúcar, e um aumento da inatividade física, fruto de alterações ambientais e
comportamentais - vida cada vez mais sedentária e urbanização.
Outros fatores que podem aumentar a predisposição de uma pessoa à obesidade:
hereditariedade, problemas endócrinos, a microbiota intestinal, sono e fatores ambientais.

. Fatores Genéticos: a genética pode modificar várias moléculas e recetores importantes no


organismo, que são utilizados pelo Hipotálamo e pelo Trato Gastrointestinal para regular a

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ingestão de alimentos. Estes fatores podem ser herdados dos pais ou resultar de condições
no útero – Imprinting Genético. Os fatores genéticos também regulam o gasto de energia,
a termogénese (manutenção da temperatura corporal) e a distribuição da gordura no corpo.

A obesidade pode, também, resultar de níveis anormais de hormonas que regulam a


fome/saciedade ou de anormalidades nos seus recetores.

Exemplos de vias que regulam a ingestão de alimentos:


. GLP-1: hormona gastrointestinal que diminui a ingestão de alimentos.
. Grelina: secretada no estômago, aumenta a ingestão de alimentos.

Como sentimos Fome?

. Leptina: secretada pelo tecido adiposo, informa o cérebro de quanta gordura está
armazenada. A leptina vai inibir o apetite em pessoas com peso normal, sendo que níveis
altos desta hormona estão relacionados com maior gordura corporal. Os seus níveis podem
diminuir quando se perde peso. + Leptina = + Gordura.

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Em pessoas com compulsões alimentares, este sistema não funciona e a vontade de


comer é muito maior e mais frequente.

Exemplo: se o cérebro não tiver indicação que o estômago está cheio, não vai indicar que a
pessoa já não tem fome e esta continua a comer.

Exemplo 2: problemas do foro psicológico podem levar a compulsões com comida – comer
quando se está triste, nervoso…

Complicações
. Hipertensão
. Dislipidemia (Colesterol)
. Diabetes tipo II
. Doenças cerebrais e cardiovasculares (AVC, enfarte)
. Cancro (cólon, reto, próstata, mama, fígado e rim)
. Apneia do sono
. Doença do Refluxo Gástrico
. Desgaste das articulações
. Diminuição da autoestima, depressão
. Aumento do risco de morte prematura

Prevenção
Passa por ter uma alimentação saudável e praticar exercício físico. Podemos diminuir o
sedentarismo optando por andar a pé sempre que possível, levantar a cada 30min e utilizar
escadas em vez de elevadores.

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Sou Obesx, e agora?


O tratamento da obesidade passa pela modificação completa do estilo de vida. Deve ser
feito um plano alimentar com restrição calórica e um plano de exercício físico, com
acompanhamento psicológico para alterar comportamentos.

Se esta abordagem não mostrar efeitos - diminuição de 5% do peso em 3-6 meses -,


deve-se iniciar uma abordagem farmacológica. Atenção: os medicamentos, só por si, não
curam a doença; quando são descontinuados, os pacientes voltam à situação anterior.

Alguns medicamentos utilizados:


. Orlistato: diminui a absorção de gorduras no intestino. Entre os efeitos secundários temos:
flatulência, diarreia e diminuição de vitaminas A, D, E e K.

. Liraglutido: análogo do GLP-1, utilizado no tratamento da diabetes tipo 2. Este


medicamento aumenta a libertação de insulina pelo pâncreas, de modo a induzir o controlo
da glicémia. Também estimula a saciedade e reduz a ingestão de alimentos. O Liraglutido é
injetável e os principais efeitos secundários são náuseas e vómitos.

A Cirurgia Bariátrica é recomendada para Obesidade Grau IV ou Obesidade Grau II, com
complicações. Serve para tornar o estômago mais pequeno, dando a sensação de saciedade
e enfartamento com menos alimento, e diminuindo a absorção de calorias e nutrientes.
Existem 3 tipos:
. Banda Gástrica
. Sleeve Gástrico
. Bypass Gástrico

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Diabetes Mellitus
A Glucose é fundamental para o metabolismo das células, principalmente das nervosas.
Para que esta seja transportada até elas, o pâncreas produz Insulina, hormona que vai
permitir às células captarem a glucose do sangue, para ser utilizada como fonte de energia.
Quando isto não acontece corretamente, aparece a Diabetes.

A Diabetes Mellitus (DM) é uma doença metabólica crónica, com várias causas e que
provoca várias alterações fisiopatológicas, que conduzem a um aumento permanente da
Glicémia – concentração de açúcar no sangue.

Este aumento causa problemas no metabolismo dos nutrientes, e deve-se,


essencialmente, a:

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. Defeitos na ação normal da insulina: o organismo não responde de forma adequada –


Resistência à Insulina.

. Defeitos na Produção da insulina: o pâncreas produz insulina em quantidade insuficiente


ou não produz a hormona de todo.

Existem 3 tipos de diabetes:


Diabetes Tipo 1
Também conhecida como Dependente de Insulina, é mais rara – 10% dos casos de
diabetes - e atinge, na maioria das vezes, crianças e jovens, podendo também aparecer em
adultos e idosos. Resulta, essencialmente, da destruição súbita e irreversível das células β do
pâncreas, geralmente por Inflamação Autoimune, deixando de haver produção de insulina.
Este tipo NÃO está relacionado com estilo de vida ou alimentação.

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As pessoas com tipo 1 necessitam de insulina toda a vida.

Diabetes Tipo 2
É o tipo mais comum de diabetes (90% dos pacientes), normalmente diagnosticado na
pessoa adulta (geralmente após os 40 anos), e costuma estar associado à obesidade e
sedentarismo. É provocado por um desequilíbrio no metabolismo da insulina.

Existe falta de insulina e resistência à ação da mesma – é necessária maior quantidade de


insulina para a mesma quantidade de glucose no sangue. Assim, em pessoas com maior
resistência à insulina:

. Fase inicial - valores mais elevados de insulina, valores normais de glucose.

. No decorrer da doença - o organismo vai tendo maior dificuldade em compensar este


desequilíbrio, e os níveis de glucose sobem.

Embora com uma forte componente hereditária, a diabetes tipo 2 pode ser prevenida
controlando a alimentação e o exercício físico.

Diabetes Gestacional
Em cerca de 1 em cada 20 mulheres grávidas, o novo ambiente hormonal, associado ao
excesso de peso, sedentarismo e alimentação pouco equilibrada, podem provocar um tipo
de diabetes próprio da gestação – Diabetes Gestacional. Geralmente, é controlada apenas

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com dieta e atividade física, e desaparece quando a gravidez termina. No entanto, pode
existir necessidade de tratamento com insulina.

Os principais problemas deste tipo de diabetes, quando não controlada, são


complicações para o feto e no parto, e a possibilidade de que a doença não desapareça. É
muito comum o nascimento de bebés com mais de 4kgs à nascença e necessidade de
cesariana, podendo ocorrer abortos espontâneos.

Sintomas
Os sintomas são provocados pela quantidade de glucose no sangue, seja associado ao
seu aumento – Hiperglicemia -, ou à sua diminuição – Hipoglicemia.

Hiperglicemia: esta situação caracteriza a diabetes. As pessoas sem diabetes devem ter uma
Glicémia entre 80-110mg/dl em Jejum e entre 110-140mg/dl 2h depois das refeições. Uma
pessoa com diabetes deve tentar aproximar-se ao máximo destes valores.

Sintomas da Hiperglicemia: Poliúria (urinar em grande quantidade e mais vezes),


Polidipsia (ter sede constante e intensa), sensação de boca seca, Polifagia (fome constante
e difícil de saciar), cansaço, comichão no corpo (sobretudo ao nível dos órgãos genitais) e
visão turva.

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Hiperglicemias Ocasionais:

Quaisquer que sejam as causas da hiperglicemia, existe uma atitude básica e geral que
pode ser tomada – Aumentar a ingestão de água.
Hipoglicemia: é a diminuição do açúcar no sangue para níveis abaixo do limite inferior
normal – 70mg/dl. Geralmente, ocorre em diabéticos que utilizam medicamentos para
controlar a doença, sejam eles insulina ou antidiabéticos orais. Pode resultar da toma
excessiva ou incorreta da medicação, de jejum prolongado ou exercício físico inadequado.
Tem de se ter sempre muita atenção com a alimentação para que os níveis de açúcar não
desçam demasiado.

Sintomas de Hipoglicemia: fraqueza, sensação de fome, tremores, suores frios,


palpitações, ansiedade e irritabilidade. A falta de açúcar no cérebro provoca dores de
cabeça, visão turva, tonturas, confusão mental, amnésia, convulsões e coma. Quando a
hipoglicemia acontece durante a noite pode ser difícil de detetar e pode manifestar-se
apenas por suores noturnos, pesadelos e dores de cabeça matinais.

O tratamento desta situação é feito pela própria pessoa e passa por:


. Glicémia < 70mg/dl: ingerir 10-15g de açúcar (2 pacotes de açúcar) em água ou 150ml
de refrigerante com 1 pacote e meio de açúcar adicionado.

. Glicémia < 50mg/dl: ingerir 20-30g de açúcar (4 pacotes) ou 300ml de refrigerante com
3 pacotes de açúcar adicionados.

Em ambos os casos, a glicémia deve ser reavaliada ao fim de 10min.

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Diagnóstico
É feito tendo em conta os sintomas apresentados e é confirmado com análises de sangue,
onde se vê um aumento anormal de açúcar no sangue.

A pessoa tem diabetes se:

Existem outros valores importantes, para além da glicémia, que devem ser tidos em
conta:
. Glicosúria - Urina: medição do açúcar na urina. Em situações normais, a urina NÃO deve
apresentar glucose.

. Hemoglobina Glicada (HbA1c) - Sangue: forma da hemoglobina (glóbulos vermelhos) que


resulta da sua reação com a glucose. Este parâmetro é utilizado para monitorizar a glicémia
por períodos prolongados. Assim, a pessoa com diabetes deve fazer esta análise a cada 3
meses, visto que a HbA1c permite analisar a glicémia num período entre 60-90 dias. Este
valor deve estar abaixo dos 6,5%.

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. Albuminúria – Urina: fundamental para a avaliação da função renal, já que os rins são dos
principais órgãos afetados na diabetes. Mede a presença de albumina na urina. A albumina
é uma proteína do sangue que ajuda a regular os movimentos de água entre tecidos e
sangue. A presença desta proteína em excesso na urina indica que os rins não estão a
funcionar corretamente.

. Taxa de Filtração Glomerular (TFG) - Urina: é a quantidade de líquido que o rim


produz/minuto. São produzidos cerca de 125ml de filtrado/min = 180L/dia. Quanto mais
baixa for a TFG, menos o rim funciona.

Prova de Tolerância à Glucose (PTGO)


Este teste de diagnóstico está indicado para grávidas e quando os níveis de glicémia se
encontram acima de 126mg/dl em jejum e acima de 200mg/dl em medições ocasionais.
Para fazer PTGO é necessário um jejum de 8h.

. Diabetes: glicémia em jejum > 126mg/dl; glicémia pós PTGO > 200mg/dl.
. Prediabetes: glicémia em jejum entre 100-125mg/dl; glicémia 2h após PTGO entre 140-
199mg/dl.

Vigilância
Os valores da glicémia não são constantes ao longo do dia, dependendo de fatores como
alimentação, atividade física e medicação.

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A Autovigilância da Glicémia é a vigilância feita pela própria pessoa, ao longo do dia,


utilizando um Glucómetro.

A frequência da medição varia e depende do tipo de diabetes, do grau de controlo


pretendido e do tratamento que o paciente faz. Pode ser necessário medir a glicémia várias
vezes ao dia ou 1-2 vezes por semana. Medir a glicémia permite corrigir a alimentação e o
tratamento.

Tratamento
→ Diabetes Tipo 1: os 3 elementos fundamentais são a insulina, a alimentação equilibrada
e o exercício físico regular, complementados pela autovigilância das glicémias e pelo
autocontrolo.

Os diabéticos tipo 1 fazem tratamento com insulina – Insulinoterapia. A insulina é


administrada no organismo pelo próprio doente, através de injeção ou caneta de insulina,
várias vezes por dia, por via subcutânea, desde o início da doença.

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Tipos de Insulina
Atualmente, a insulina é sintetizada em laboratório. Existem variações desta molécula que
alteram a sua duração no organismo e o seu pico de atividade – altura em que atua de modo
mais eficaz.

. Insulina de Ação Rápida


É utilizada antes das refeições para gerir o aumento da glucose no sangue devido à
digestão. Pode ser administrada mesmo antes de iniciar a refeição. Exemplos: Actrapid,
Insuman Rapid, HuMulin Regular, NovoRapid. Podem ser administradas por via subcutânea
direta ou em perfusão contínua usando bombas de perfusão.

. Insulina de Ação Curta


Deve ser administrada 15-30 minutos antes da refeição. Pode ser administrada por via
intravenosa em perfusão contínua no tratamento de situações como Cetoacidose Diabética.
Exemplos: Actrapid, Humulin.

. Insulina de Ação Intermédia


Pode ser administrada 2x/dia. Exemplos: Humulin NPH, Insuman Basal, Insulatard. São
administradas por via subcutânea.

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. Insulina de Ação Prolongada


Mantém o nível de glucose baixo durante 24h ou um pouco mais – mimetizar os níveis de
insulina basais. Tem, sobretudo, a função de manter a glucose controlada ao longo do dia,
sendo administrada 1x/dia, sempre à mesma hora. Deve ser administrada por via
subcutânea. Exemplos: Lantus, Levemir.

A maioria das vezes, os diabéticos usam ao longo do dia uma combinação de insulina
rápida com uma mais lenta. Geralmente, são tomadas 3-4 doses de insulina por dia. Em
indivíduos com tipo 2 que necessitam de insulina, esta é administrada 1x/dia.

Vias de Administração / Dispositivos


A maioria das insulinas são administradas por via subcutânea. Apenas as insulinas de curta
ação podem ser administradas por via intravenosa. A via intramuscular NÃO é recomendada
por conduzir a uma absorção mais lenta e dolorosa.

. Seringa Convencional: utilizadas em meio hospitalar, estão graduadas em Unidades


Internacionais (UI), com capacidade máxima 100 unidades = 1mL.

. Canetas Injetoras: onde se insere uma recarga com a insulina, têm um botão doseador e
um visor. Foram desenvolvidas agulhas microfinas para uma administração indolor. Estes
dispositivos facilitam a administração de insulina, permitindo o seu uso em qualquer local.
. Seringas pré-cheias: sistemas descartáveis, semelhantes a canetas, mas que incluem a
insulina.

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. Bombas para Administração Subcutânea Contínua: a bomba tem uma pequena


seringa/reservatório de insulina de ação rápida e um sistema que a impulsiona. Os
diabéticos têm de medir frequentemente as glicémias e ajustar o ritmo de perfusão da
insulina.

A taxa de absorção é maior no abdómen. Existe a necessidade de alteração do local de


administração, devido à possibilidade de ocorrência de Lipohipertrofia – aumento da
gordura do tecido subcutâneo -, o que pode prejudicar a absorção.

Diabetes Tipo 2: os diabéticos controlam a glicémia com antidiabéticos orais. Pode não ser
necessária qualquer medicação já que, neste tipo, é possível controlar a doença através da
alimentação, da restrição calórica e fracionamento alimentar, e do exercício físico.

Relativamente aos Antidiabéticos Orais, o seu objetivo é baixar a glicémia. Alguns


exemplos são:
. Biguanidas – são a primeira linha de ação no combate à diabetes tipo 2 e o exemplo mais
conhecido é a Metformina. Ajuda no controlo da glicémia e na perda de peso.

. Inibidores de SGLT-2 – a Dapagliflozina atua a nível do rim, onde existem os


transportadores SGLT-2, responsáveis por transportar a glucose de volta ao sangue. Ao
inibirmos este transporte, a glucose não volta ao sangue, saindo pela urina, e a glicémia
baixa.

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. Inibidores da DPP-4 – o exemplo mais conhecido é a Sitagliptina. A DPP-4 é uma enzima


que participa no metabolismo da glucose, ajudando a diminuir a produção de insulina. Se
inibirmos esta enzima, a insulina continua a ser libertada pelo pâncreas, ajudando a reduzir
a produção de glucose pelo fígado.

. Glitazonas – aumentam a sensibilidade do fígado, da gordura e do músculo à insulina, ou


seja, as células são capazes de captar a glucose do sangue. Exemplo: Pioglitazona.

. Sulfonilureias – estimulam o pâncreas a produzir mais insulina. Exemplo: Gliclazida.

Complicações
Cetoacidose Diabética: complicação metabólica aguda da diabetes, mais comum na
diabetes tipo 1. Acontece quando as concentrações de insulina são insuficientes para as
necessidades do organismo.

A falta de insulina faz com que o organismo, que não consegue utilizar o açúcar, ative um
mecanismo de emergência para obter energia. Este mecanismo é a utilização das reservas
de gordura. Os Corpos Cetónicos são substâncias que resultam da utilização desta gordura
pelas células. Quando se acumulam na corrente sanguínea, os corpos cetónicos reduzem o
pH do sangue, tornando-o ácido. Podem ser detetados através da colheita de sangue –
Cetonemia –, com um Glucómetro e tiras-teste próprias e na urina – Cetonúria.

Os principais sintomas são: hiperglicemia, hálito com cheiro a fruta, semelhante ao cheiro
da acetona, sede e excesso de urina, perda de peso, náuseas e vómitos e dor abdominal. A
respiração torna-se profunda e rápida, já que o organismo tenta corrigir a acidez do sangue
expulsando mais dióxido de carbono. Sem tratamento, provoca coma e morte.

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. Cetonemia/Cetonúria Positivas + Glicémia < 140mg/dl: deve comer imediatamente ou


tratar a hipoglicemia, evitando jejuns prolongados.

. Cetonemia/Cetonúria Positivas + Glicémia > 250mg/dl: injetar insulina de ação rápida de


2-2h ou de 3-3h, manter e reforçar o fracionamento alimentar, aumentar a ingestão de
líquidos.

Outras Complicações da Diabetes a Longo Prazo: desenvolvimento progressivo de


Retinopatia Diabética (cegueira), Nefropatia (insuficiência renal) e Neuropatia (úlceras nos
pés, amputações, disfunção sexual). As pessoas com diabetes têm um risco aumentado de
doença cardiovascular, vascular periférica e cerebrovascular.

Pé Diabético
A diabetes é uma doença que afeta terminações nervosas, podendo afetar as dos pés.
Isto leva a uma perda lenta de sensações como pressão, dor e temperatura. A pele fica seca,
sem transpiração, mais grossa e sujeita ao aparecimento de fissuras. As fissuras podem
evoluir para feridas, que podem facilmente infetar. São feridas difíceis de tratar e, se não se
conseguir, podem originar complicações e amputações.

Também a circulação sanguínea é afetada originando pés frios, pálidos e má circulação.


A má circulação pode provocar dores nas pernas, que as pessoas diabéticas podem não
sentir devido à diminuição de sensibilidade.

Cuidados a ter:
. cortar as unhas dos pés
. escolher sapatos confortáveis
. manter os pés aquecidos
. não retirar calos ou cutículas
. observar os pés, pelo menos uma vez por dia
. lavar os pés diariamente, com água morna e corrente, secando os pés com toalha branca
de algodão – especial atenção entre os dedos dos pés
. hidratar os pés, EXCETO entre os dedos

Hoje em dia, muitas farmácias apresentam já a consulta do Pé Diabético, para ajudar os


utentes a controlar a doença e no tratamento adequado dos seus pés.

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