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Fichamento – Stepan, A. Os militares na política.

Introdução
- O enfoque de análise mais abrangente é considerar os militares como um subsistema do sistema
político global – o qual reage a mudanças no conjunto do sistema político e não constitui um fator
autônomo;
- O papel “moderador” dos militares na política, no período anterior à 64, radicava na ideia de que
tinham os civis da função própria dos militares na sociedade;
- Neste padrão moderador dos militares na política anterior à 64, estes muitas vezes se colocavam
acima do Executivo, sem todavia assumir o poder político de fato;
- Tanto a propensão dos militares para iniciar golpes contra o presidente quanto o sucesso de tais
golpes estavam intimamente ligados com as atitudes civis relativas à necessidade ou não de tais ações
na época;
- Golpe de 64 entendido como uma consequência da mudança radical no sistema político, na qual um
padrão de relações entre civis e militares foi substituído por outro;

Cap. 6 – A crescente sensação de crise no regime, 1961-1964: seu impacto sobre o


“padrão moderador”
Introdução
- Crença generalizada na crise imanente desempenhou um papel decisivo na erosão dos limites do
ativismo militar;
- Papel “moderador” ⟶ mantém as regras gerais do jogo político, mas quando estas regras são
amplamente questionadas por muitos protagonistas políticos, esse papel torna-se inoperante;
- Papel moderador (mantedor do sistema) ⟶ papel dirigente (transformador do sistema);
- 1961-64 ⟶ agravamento dos conflitos econômicos, sociais, políticos e ideológicos, o que gerou em
certos oficiais um sentimento de insegurança institucional, atitudes autoritárias e desejos de
transformar o sistema;
- Mudanças do sistema político brasileiro 61-64:
- Crescente índice de reivindicações políticas e econômicas ao governo;
- Decréscimo da capacidade extrativa decorrente do declínio do crescimento econômico
- Decréscimo da capacidade política de conter as reivindicações em política concreta, devido à
fragmentação do apoio;
- Crescente retração do apoio ao próprio regime político;
O crescente índice de reivindicações
- Crescimento populacional; urbanização; aumento da participação efetiva no processo político através
do voto ⟶ consequente aumento no nível de reivindicações ao sistema político;
O decréscimo da capacidade extrativa: declínio econômico
- O aumento de mobilização social somado à queda do desenvolvimento econômico ampliaram as
exigências feitas à capacidade distributiva do governo no tocante a bens, serviços e pagamentos;
- Gerou-se a crença entre os militares de que o governo estaria estimulando as greves e a concessão de
grandes aumentos salariais os quais contribuíam para o aumento da inflação, da violência e a erosão de
seu próprio status e salários;
O decréscimo da capacidade de converter reivindicações em programas de governo: modelos
fragmentados de apoio
- Conversão relativamente baixa das reivindicações em programas que contassem com apoio
suficientemente forte ⟶ o executivo teve de enfrentar várias reivindicações bem articuladas, que ele
não pôde converter num programa desenvolvimentista apoiado por uma combinação de poder que
pudesse contar com o apoio mínimo necessário para sua execução;
A crescente retração da confiança civil no regime político
- A crise só se tornou total, pondo em questão a estrutura condicional e democrática do governo,
quando surgiu, tanto entre políticos de esquerda quanto de direita, a crença generalizada de que o
sistema político era inoperante;
- O episódio da renúncia de Jânio reforçou o sentimento de que o Brasil estava ingressando numa
etapa revolucionária a qual exigia uma nova ordem política;

Cap 7 – O impacto das crises políticas e econômicas sobre as Forças Armadas: expansão
dos temores institucionais, 1961-1964:
Introdução
- Crise econômica; mobilização de grupos até então marginalizados; tomada de consciência política
das praças dentro das Forças Armadas; desenvolvimento de novas ideologias em seguida ao êxito da
Revolução Cubana; organização política dos camponeses; autonomia política dos sindicatos; etc. ⟶
contribuiu para tornar a instituição militar mais insegura e autoritária;
- Militares sentiram uma ameaça à sua própria integridade institucional ⟶ surgimento do receio de
que a política tivesse atingido em estágio tal de radicalização e de que os partidos e grupos políticos
estivessem tão fragmentados que nenhum grupo dentro do governo teria competência para governar o
país;
Temor de destruição do quadro de oficiais: o impacto de Cuba
- Na Revolução Cubana, os líderes revolucionários destruíram o exército regular e o substituíram por
uma milícia popular;
- Temor do “comunismo” de estilo castrista;
Ativismo político dos sargentos e suas ligações com os sindicatos
- No final da década de 1950 e início de 1960, os sargentos (que tinham seus diretos políticos negados)
tornaram-se cada vez mais influentes e politicamente ativos dentro das Forças Armadas;
- A tomada de consciência por parte dos oficiais de que a crescente influência dos sindicatos militantes
sobre os praças estava destruindo a coesão institucional prejudicou a imagem dos militantes como
“classe de cima” – uma parte intrínseca da imagem de moderador que tinham antes de 1964;
Politização dos padrões de promoção
- De 61 a 64, crescia o ressentimento entre muitos oficiais superiores contra o fato de o presidente
Goulart usar excessivamente critérios políticos na promoção a general;
- As promoções no Brasil sempre tiveram um conteúdo político;
- Difusão no meio dos oficiais de que não só o governo de Goulart estaria encorajando a indisciplina
entre os sargentos, mas também estaria minando a hierarquia do Exército ao degradar visivelmente os
critérios profissionais de promoção;
Crescente rejeição dos limites tradicionais à ação militar
- Emergência de dois sentimentos ⟶ um de que haveria atores políticos importantes, tanto civis
quanto militares, adeptos ao comunismo e que estes deveriam ser removidos da política
semipermanentemente; o outro refere-se à crença de que os sistemas econômicos e políticos estavam
conturbados e de que estes necessitariam de uma mudança radical operada pelos militares por um
prazo suficientemente longo para que se completasse a reestruturação;

Cap 8 – O impacto das crises política e econômica sobre as Forças Armadas: a Escola
Superior de Guerra e o Desenvolvimento de uma nova ideologia militar
- Existia uma crença generalizada entre os oficiais, de que os militares, em comparação aos civis, não
possuíam capacidade (treinamento político e econômico) nem legitimidade para governar ⟶ foram
instrumentos na devolução do poder aos civis depois que os militares depuseram os presidentes em
1945, 1954 e 1955 ⟶ entretanto, as crises de 1961-1964, além de corroer a confiança civil na
estrutura democrática da política, também alterou a imagem anterior que os militares tinham de sua
relativa incapacidade e a ilegitimidade para governar o país;
- A partir da década de 1960 muda-se o caráter da natureza dos governos militares na América Latina,
passam a ser mais doutrinários, a receber apoios institucionais mais vigorosos e confiavam mais em
suas tentativas de dirigir e controlar as mudanças sociais e econômicas;
- Essa emergência de um novo modelo de regimes militares traz como respostas: temor ao comunismo
(devido à ascensão de Castro e um temor da ameaça ao exército regular); desenvolvimento de
doutrinas contra-insurreição e a convicção de que era necessária uma mudança básica para evitar a
revolução;
- Os militares começaram a preocupar-se com a ação cívica, com seu papel de “construtores da nação”
e com planos globais de desenvolvimento ⟶ a ideia de um papel político mais ativo para os militares
enraizou-se porque as instituições militares acharam que era relevante e adaptável aos problemas de
seus próprios países;
- Foi devido à ESG que, durante o aprofundamento da crise no país, os militares passaram a
aprofundar a ideia de que eles dispunham da estratégia mais apropriada e mais realista para
desenvolver o país, e dos tecnocratas mais qualificados para pôr em prática essa estratégia;
Fundação e organização da Escola Superior de Guerra
- Estabelecida, formalmente, no Governo Dutra em 20 de agosto de 1949;
A ideologia da ESG
- Foco intelectual no inter-relacionamento entre segurança e desenvolvimento nacionais (aspectos
inseparáveis);
- Centro do pensamento ideológico relativo à estratégia contrarrevolucionária no Brasil;
- Anticomunista desde sua fundação;
- Principal argumento recaia sobre a ideia de fortalecer o Executivo para proteger o país contra as
ameaças de subversão;
A ESG e a revolução de 64
- Durante e a crise de 61-64, difundiu-se entre os membros da ESG de que o presidente Goulart estaria
tolerando e implicitamente estimulando a anarquia e a subversão;
- Centro docente ativo da ESG tornou-se um centro importante da “conspiração defensiva”;
- Aumento do nível de confiança de que os militares possuíam capacidades políticas, econômicas e
intelectuais de governar o país, assim como legitimidade para comandar os rumos do país (escrito
meu);

Cap 9 – A tomada do poder – A revolução de 1964


Fatores que impediram os militares de assumir o poder
- Os militares passaram a achar cada vez mais que seu papel moderador destruía sua própria unidade e
integridade como constituição;
A estratégia de Goulart
- Goulart esperava mobilizar o apoio político das massas – através de manifestações e greves – além
de obter apoio passivo das Forças Armadas;
- Goulart achava que tinha boas relações com o exército, e depositava grande confiança nos ativistas
militares leais (que ele designara posições chave em seu governo), porém, os oficiais mais ligados à
ele, que o incitavam a prosseguir em sua tentativa de aumentar a pressão sob o Congresso, estavam
cada vez menos afinados com o núcleo do sentimento militar;
O comício de 13 de março e a reação civil-militar
- Goulart lançou campanha a favor de amplas reformas estruturais e políticas (“reformas de base”) ⟶
reforma agrária; nacionalizar as refinarias de petróleo particulares; conceder aos analfabetos o direito
ao voto; legalizar o partido comunista etc.;
- Em termos de estratégia, tática de liderança e sobrevivência política, pode-se dizer que a tática de
Goulart fez diminuir o apoio com que contava e tendeu a aumentar a possibilidade de um golpe militar
sustentado por grande parte da opinião civil;
- Goulart não contava com apoio organizado suficientemente forte para dar cabo às suas propostas de
reformas de base;
- O comício, além de elevar o nível da crise, tendeu a maximizar o número de opositores á Goulart
entre aqueles [latifundiários, militares, anticomunistas, congressistas, capitalistas estrangeiros,
industriais] localizados estrategicamente na estrutura de poder;
- A retórica da revolução, ao lado da inflação galopante, criou mais temor e insegurança entre as
classes médias;
- Pessoas que anteriormente seriam “pró-governo” mudaram sua posição para “pró-regime mas
antigoverno”, os conservadores “antigoverno” passaram a ser cada vez mais “anti-regime”;
Reação a 13 de março – os efeitos sobre as Forças Armadas
- Entre as tensões de finais de fevereiro de 64, vários fatores impediram que os militares tentassem
depor Goulart, entre eles:
- O fato de Goulart contar com uma razoável soma de apoio passivo simplesmente por ser o
presidente (os legalistas);
- O desejo dos políticos, sobretudo dos principais governadores que aspiravam à presidência,
de que as eleições fossem realizadas na data marcada;
- O fato de os militares ainda se acharem divididos o bastante para hesitarem em iniciar uma
operação militar sem um grande apoio da opinião pública;
- O ataque de Goulart à Constituição, taxando-a de arcaica e obsoleta, durante o comício, enfraqueceu
o apoio dos legalistas a ele;
A solução da crise – o motim naval dos marinheiros
- Indagação das forças legalistas, se seu “legalismo” implicava lealdade e obediência ao presidente e
se a obediência a ele ainda estava “dentro dos limites da lei”;
- A condução do motim por Goulart serviu de catalisador do drama revolucionário;
- Depois do motim dos marinheiros, a forma como Goulart conduziu o caso 9anistiou os marujos) a
questão da disciplina militar havia enfraquecido o apoio ativo do presidente;
- Quando o governo foi desafiado ativamente pelos conspiradores, o apoio militar ao presidente não
era suficientemente intenso para impedir a sua deposição;
- Goulart se cercou de elementos políticos pessoalmente tão identificados com ele que não eram
representativos das instituições de que provinham e não tinham influência dentro delas (referindo-se
aos militares com cargos no governo, ou aos conselheiros políticos do presidente);
A tomada do poder pelos militares
- Tomaram o poder;

Conclusão
- Variáveis significativas ao nível de sistema, que atuaram na mudança do modelo moderador do
relacionamento civil-militar para um governo militar direto:
- Grande incremento das reivindicações políticas;
- Ineficiência das formas parlamentares de governo na industrialização de uma sociedade cada
vez mais modernizada;
- Aumento da preocupação militar por ameaças à segurança interna, que os militares definem
como provenientes de um ineficiente, corrupto e injusto sistema social e parlamentar de classe média e
alta;
- Crença de que seu tradicional papel moderador de preservação do sistema não contribui para
a solução dos problemas de desenvolvimento;
- Aumento da confiança dos militares em que, através da Escola Superior de Guerra, eles
dispõem pela primeira vez de um quadro de especialistas e de um programa de desenvolvimento
superior ao dos políticos falidos e, portanto, ilegítimos;
- A experiência da instituição militar com a FEB na Segunda Guerra Mundial, seu intenso
anticomunismo depois de 1963 e seu temor de que os sindicatos se infiltrassem no quadro de
sargentos, juntamente com a inflação galopante, contribuíram para a criação de uma filosofia pró-
americana, a favor do capital estrangeiro e antitrabalhista, no primeiro governo do regime militar;
- Embora o quadro de oficiais no Brasil seja de classe média na composição social, os oficiais não se
consideram dotados de uma identidade de classe específica, estando acima dos conflitos de classe com
a missão de proteger os bens nacionais;
- Os militares são capazes de agir como força modernizadora quando se trata da entrada da classe
média no sistema político, mas tornam-se uma força repressora, preocupada com a manutenção do
status quo, quando o problema gira em torno das reivindicações da classe baixa ⟶ porém este
argumento não é totalmente válido, pois segundo Stepan, os militares são, acima de tudo, uma elite de
situação e não de classe ⟶ o poder e o prestígio dos oficiais latino-americanos decorrem de sua
filiação a uma instituição dotada de poder; quando tal elite institucional sente que os estilos de vida e
as práticas políticas da classe média e alta impedem o desenvolvimento, contribuindo para a
decomposição interna ou para a atividade de guerrilha que poderiam ameaçar o poder militar, é
possível que, no seu próprio interesse, os militares possam tomar medidas agressivas contra aqueles
aspectos da vida das classes média e alta que ameaçam sua posição institucional;

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Maria Cecilia Spina Forjaz

Os militares na política - as mudanças de padrões na vida brasileira

Por Alfred Stepan, Trad. Italo Tronca do original americano: The military in politics. Rio de
Janeiro, Editora Artenova S.A., 1975. Copyright The Rand Corporation.

Parte I: O militar na política: fundamentos institucionais

Nesta parte analisam-se aspectos institucionais, organizativos e sociais do Exército brasileiro.


A perspectiva do autor é a de que a análise desses aspectos institucionais não é suficiente para
explicar o comportamento político dos militares. De seu ponto de vista teórico, as Forças
Armadas devem ser encaradas como instituição política, o subsistema militar é parte
integrante do sistema político e está sujeito às mesmas pressões que atuam sobre ele.

No primeiro capítulo, o autor analisa inicialmente a estrutura de recrutamento das Forças


Armadas brasileiras e constata que, tradicionalmente, o Exército seguiu a política de recrutar
conscritos em zonas tão próximas quanto possível de cada guarnição e isso contribui para
manter neles uma mentalidade regional e não leva a uma orientação nacional.

E quanto aos soldados e oficiais de carreira? Ajustam-se à imagem do militar profissional,


sem laços com sua região de origem? Stepan considera que o Exército brasileiro possui
algumas das características de recrutamento próprias de uma milícia estadual; os oficiais
preferem servir em suas regiões de origem para ficar próximos às famílias e não existe um
sistema centralizado de recrutamento que selecione para as Forças Armadas uma amostra
representativa da população. Cada unidade militar recruta seus próprios integrantes na região
circunvizinha.
Essa estrutura de recrutamento tem grande importância política, pois a base local do Exército
brasileiro, somada ao fato de que os governadores estaduais sempre se escudaram nas milícias
de seus respectivos estados, precipitou em várias ocasiões crises de lealdade que
fragmentaram seções inteiras do Exército nacional: 1930, 1932, 1961. Por isso, não é possível
partir do pressuposto de que a instituição castrense, devido à sua missão e organização
específicas, é uma instituição perfeitamente unificada e de orientação exclusivamente
nacional.

Em seguida, no segundo capítulo, o autor analisa a magnitude do efetivo das Forças Armadas
e sua importância política. Nega a proposição de que o poder militar é função de sua
magnitude numérica e afirma que, frequentemente, as variáveis políticas são muito mais
importantes do que a quantidade de efetivos militares na determinação do papel que cumprem
as Forças Armadas na sociedade.

Com relação ao Brasil, afirma que a dispersão geográfica do Exército sempre refletiu
considerações de ordem política e estratégica. A fragmentação das unidades militares e sua
grande dispersão estão ligadas historicamente à necessidade de maior controle da população.
Além disso, essa fragmentação levou a uma dispersão muito grande do poder de decisão entre
os militares.

Quanto à extração social do Exército brasileiro, analisada no terceiro capítulo, o autor conclui
que a oficialidade provém preponderantemente da classe média; que há baixo recrutamento
nas classes altas e baixas, e que, devido ao aumento das exigências educacionais da Academia
Militar de Agulhas Negras e à incapacidade do sistema educacional brasileiro de atender à
explosão demográfica, houve pequeno aumento do recrutamento nas classes baixas, nas
últimas décadas.

Apesar de pertencerem à classe média, os oficiais brasileiros atribuem a si mesmos a


característica de "estrato desvinculado, relativamente sem classe" que "resume em si todos os
interesses sociais", que Mannheim atribui à intelligentsia. Essa visão de si mesmos, como
desvinculados de classe, leva os militares a legitimar sua intervenção política: são os mais
adequados para atuar em defesa dos interesses nacionais.

Stepan nega a tese de que a origem social é o determinante fundamental do comportamento


político do militar e afirma que os aspectos institucionais, organizacionais e burocráticos das
Forças Armadas têm grande peso na determinação do comportamento político dos militares.

Parte II: O "padrão moderador" das relações entre civis e militares: Brasil, 1945-1964

Depois de traçar uma tipologia de modelos de relações entre civis e militares, que segundo o
autor não se adapta à realidade latino-americana, passa a definir o modelo moderador, que
propõe como típico das relações entre civis e militares da América Latina: militares altamente
politizados, inclusive manifestando grande heterogeneidade de orientação política, porém
tentando manter a unidade institucional em interação com elites políticas que tentam cooptá-
los, sejam grupos situacionistas, sejam oposicionistas. Além de tentar cooptar os militares,
essas mesmas lideranças políticas legitimam a intervenção militar em momentos de crise,
exercendo um papel de árbitros. Solucionada a crise, as lideranças políticas latino-americanas
esperam a volta dos militares aos quartéis e não legitimam o exercício do poder pelos
militares de forma duradoura.
Analisa a seguir os aspectos civis do padrão moderador, ou seja, a forma pela qual tanto o
governo, quanto seus partidários e opositores apelam para a intervenção militar no processo
político, e mais do que isso, tentam usá-lo como instrumento de ação política.

Da análise acima depreende que a atitude dos civis para com os militares pode ser tanto ou
mais importante que a própria ideologia e objetivos castrenses na determinação da dinâmica
dos golpes militares na América Latina. A partir dessa constatação básica, formula duas
hipóteses que explicariam o funcionamento do modelo moderador:

a) a propensão dos militares para intervir politicamente aumenta quando diminui a coesão das
elites civis e vice-versa;

b) os golpes militares tendem a ser vitoriosos quando há elevado grau de legitimidade


outorgada por civis de relevância política à intervenção militar e reduzida legitimidade
outorgada por esses mesmos civis ao governo vigente. Os golpes tendem a fracassar nas
condições inversas.

Tenta comprovar suas hipóteses, no primeiro caso, relacionando o grau de coesão das elites
políticas da Primeira República e a participação militar no processo político, e, no segundo
caso, analisando os golpes militares de 1945, 1954, 1955, 1961 e 1964 no Brasil. Verifica que
os golpes triunfantes de 1945, 1954 e 1964, contra o Poder Executivo, ocorreram quando
houve baixo grau de legitimidade desse poder e alto grau de legitimidade dos militares para
interferir, ocorrendo a situação oposta por ocasião dos golpes frustrados de 1955 e 1961.

Parte III: A ruptura do "padrão moderador" das relações entre civis e militares e a
emergência do governo militar

Buscando os fatores determinantes da ruptura do padrão moderador com a revolução de 1964


no Brasil, Stepan pretende mostrar, em primeiro lugar, a relação básica que existe entre a
mudança do papel político dos militares e as mudanças globais do sistema político-econômico
brasileiro. Caracterizadas essas mudanças, o autor passa a descrever o efeito que elas
produzem nas Forças Armadas brasileiras: o temor da destruição do quadro de oficiais (a
influência da revolução cubana nesse temor); o ativismo político dos sargentos e suas ligações
com os sindicatos; a politização dos padrões de promoção; a crescente rejeição dos limites
tradicionais à ação militar.

Em segundo lugar, Stepan analisa o desenvolvimento de uma nova ideologia castrense na


Escola Superior de Guerra, como determinante básico do esgotamento do padrão moderador e
do surgimento de novos padrões de comportamento político das Forças Armadas brasileiras.
Mostra como a Doutrina de Segurança Nacional, elaborada pela ESG, é a ideologia
propulsora de uma nova concepção do papel político dos militares frente ao desenvolvimento
nacional, e, em última instância, como ela é a ideologia propulsora da revolução de 64.

Descreve a seguir a conjuntura política do Governo João Goulart e a tomada do poder pelos
militares.

Parte IV: Os militares brasileiros no poder, 1964-1968: um estudo de caso dos problemas
políticos do governo militar

Ao analisar os primeiros anos do regime militar brasileiro, o autor pretende questionar a tese
de que as Forças Armadas, por suas características organizacionais e tecnológicas, constituem
poderoso instrumento de desenvolvimento econômico e político. Não tem o objetivo de
examinar detalhadamente os programas políticos e econômicos da primeira fase da revolução,
mas a ênfase de sua análise recai sobre o estudo do governo militar na medida em que afetou
a organização interna e os propósitos da própria instituição militar.

Depois de mostrar o desgaste da coalizão cívico-militar que fez a revolução, e a perda de


apoio civil, o autor constata que os novos padrões de relações cívico-militares implicam novas
exigências para as Forças Armadas: unidade institucional e consenso em torno de um
programa político-econômico. A inexistência desses dois requisitos principais cria profundas
divergências internas na organização militar e produz um regime que, além de autoritário, é
bastante instável politicamente. A exclusão dos civis não elimina a "divisibilidade da política"
que penetra a instituição militar e torna-a muito mais fragmentada do que antes, quando não
tinha a responsabilidade do poder político.

Essa fragmentação mostra-se claramente no problema sucessório, que o autor analisa no


capítulo 11, assim como a descontinuidade entre os Governos Castelo Branco e Costa e Silva.
Indaga se essa descontinuidade se deve basicamente a experiências de carreira diversas entre
os assessores dos dois presidentes. Após examinar minuciosamente a formação dos principais
assessores de Castelo Branco, conclui que eles viveram uma experiência militar atípica que os
levou a uma orientação política também atípica e que os distingue da maioria da oficialidade
brasileira, assim como da orientação política do Governo Costa e Silva.

Este, embora não expressasse diretamente as posições dos nacionalistas autoritários mais
jovens (comumente denominados "linha dura"), "emergiu como líder porque era considerado
simpático aos desejos, algo inarticulados, mas poderosos, de um governo mais militante e
autoritário e de uma posição menos pró-americana e mais nacionalista", (p. 182)

Finalmente, no último capítulo, analisando as Forças Armadas como instituição e o contraste


com o papel que cumprem no governo, conclui que elas entraram em luta com os próprios
militares que exercem diretamente o governo, a ponto de criar uma fonte básica de
instabilidade.

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