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Introdução
- O enfoque de análise mais abrangente é considerar os militares como um subsistema do sistema
político global – o qual reage a mudanças no conjunto do sistema político e não constitui um fator
autônomo;
- O papel “moderador” dos militares na política, no período anterior à 64, radicava na ideia de que
tinham os civis da função própria dos militares na sociedade;
- Neste padrão moderador dos militares na política anterior à 64, estes muitas vezes se colocavam
acima do Executivo, sem todavia assumir o poder político de fato;
- Tanto a propensão dos militares para iniciar golpes contra o presidente quanto o sucesso de tais
golpes estavam intimamente ligados com as atitudes civis relativas à necessidade ou não de tais ações
na época;
- Golpe de 64 entendido como uma consequência da mudança radical no sistema político, na qual um
padrão de relações entre civis e militares foi substituído por outro;
Cap 7 – O impacto das crises políticas e econômicas sobre as Forças Armadas: expansão
dos temores institucionais, 1961-1964:
Introdução
- Crise econômica; mobilização de grupos até então marginalizados; tomada de consciência política
das praças dentro das Forças Armadas; desenvolvimento de novas ideologias em seguida ao êxito da
Revolução Cubana; organização política dos camponeses; autonomia política dos sindicatos; etc. ⟶
contribuiu para tornar a instituição militar mais insegura e autoritária;
- Militares sentiram uma ameaça à sua própria integridade institucional ⟶ surgimento do receio de
que a política tivesse atingido em estágio tal de radicalização e de que os partidos e grupos políticos
estivessem tão fragmentados que nenhum grupo dentro do governo teria competência para governar o
país;
Temor de destruição do quadro de oficiais: o impacto de Cuba
- Na Revolução Cubana, os líderes revolucionários destruíram o exército regular e o substituíram por
uma milícia popular;
- Temor do “comunismo” de estilo castrista;
Ativismo político dos sargentos e suas ligações com os sindicatos
- No final da década de 1950 e início de 1960, os sargentos (que tinham seus diretos políticos negados)
tornaram-se cada vez mais influentes e politicamente ativos dentro das Forças Armadas;
- A tomada de consciência por parte dos oficiais de que a crescente influência dos sindicatos militantes
sobre os praças estava destruindo a coesão institucional prejudicou a imagem dos militantes como
“classe de cima” – uma parte intrínseca da imagem de moderador que tinham antes de 1964;
Politização dos padrões de promoção
- De 61 a 64, crescia o ressentimento entre muitos oficiais superiores contra o fato de o presidente
Goulart usar excessivamente critérios políticos na promoção a general;
- As promoções no Brasil sempre tiveram um conteúdo político;
- Difusão no meio dos oficiais de que não só o governo de Goulart estaria encorajando a indisciplina
entre os sargentos, mas também estaria minando a hierarquia do Exército ao degradar visivelmente os
critérios profissionais de promoção;
Crescente rejeição dos limites tradicionais à ação militar
- Emergência de dois sentimentos ⟶ um de que haveria atores políticos importantes, tanto civis
quanto militares, adeptos ao comunismo e que estes deveriam ser removidos da política
semipermanentemente; o outro refere-se à crença de que os sistemas econômicos e políticos estavam
conturbados e de que estes necessitariam de uma mudança radical operada pelos militares por um
prazo suficientemente longo para que se completasse a reestruturação;
Cap 8 – O impacto das crises política e econômica sobre as Forças Armadas: a Escola
Superior de Guerra e o Desenvolvimento de uma nova ideologia militar
- Existia uma crença generalizada entre os oficiais, de que os militares, em comparação aos civis, não
possuíam capacidade (treinamento político e econômico) nem legitimidade para governar ⟶ foram
instrumentos na devolução do poder aos civis depois que os militares depuseram os presidentes em
1945, 1954 e 1955 ⟶ entretanto, as crises de 1961-1964, além de corroer a confiança civil na
estrutura democrática da política, também alterou a imagem anterior que os militares tinham de sua
relativa incapacidade e a ilegitimidade para governar o país;
- A partir da década de 1960 muda-se o caráter da natureza dos governos militares na América Latina,
passam a ser mais doutrinários, a receber apoios institucionais mais vigorosos e confiavam mais em
suas tentativas de dirigir e controlar as mudanças sociais e econômicas;
- Essa emergência de um novo modelo de regimes militares traz como respostas: temor ao comunismo
(devido à ascensão de Castro e um temor da ameaça ao exército regular); desenvolvimento de
doutrinas contra-insurreição e a convicção de que era necessária uma mudança básica para evitar a
revolução;
- Os militares começaram a preocupar-se com a ação cívica, com seu papel de “construtores da nação”
e com planos globais de desenvolvimento ⟶ a ideia de um papel político mais ativo para os militares
enraizou-se porque as instituições militares acharam que era relevante e adaptável aos problemas de
seus próprios países;
- Foi devido à ESG que, durante o aprofundamento da crise no país, os militares passaram a
aprofundar a ideia de que eles dispunham da estratégia mais apropriada e mais realista para
desenvolver o país, e dos tecnocratas mais qualificados para pôr em prática essa estratégia;
Fundação e organização da Escola Superior de Guerra
- Estabelecida, formalmente, no Governo Dutra em 20 de agosto de 1949;
A ideologia da ESG
- Foco intelectual no inter-relacionamento entre segurança e desenvolvimento nacionais (aspectos
inseparáveis);
- Centro do pensamento ideológico relativo à estratégia contrarrevolucionária no Brasil;
- Anticomunista desde sua fundação;
- Principal argumento recaia sobre a ideia de fortalecer o Executivo para proteger o país contra as
ameaças de subversão;
A ESG e a revolução de 64
- Durante e a crise de 61-64, difundiu-se entre os membros da ESG de que o presidente Goulart estaria
tolerando e implicitamente estimulando a anarquia e a subversão;
- Centro docente ativo da ESG tornou-se um centro importante da “conspiração defensiva”;
- Aumento do nível de confiança de que os militares possuíam capacidades políticas, econômicas e
intelectuais de governar o país, assim como legitimidade para comandar os rumos do país (escrito
meu);
Conclusão
- Variáveis significativas ao nível de sistema, que atuaram na mudança do modelo moderador do
relacionamento civil-militar para um governo militar direto:
- Grande incremento das reivindicações políticas;
- Ineficiência das formas parlamentares de governo na industrialização de uma sociedade cada
vez mais modernizada;
- Aumento da preocupação militar por ameaças à segurança interna, que os militares definem
como provenientes de um ineficiente, corrupto e injusto sistema social e parlamentar de classe média e
alta;
- Crença de que seu tradicional papel moderador de preservação do sistema não contribui para
a solução dos problemas de desenvolvimento;
- Aumento da confiança dos militares em que, através da Escola Superior de Guerra, eles
dispõem pela primeira vez de um quadro de especialistas e de um programa de desenvolvimento
superior ao dos políticos falidos e, portanto, ilegítimos;
- A experiência da instituição militar com a FEB na Segunda Guerra Mundial, seu intenso
anticomunismo depois de 1963 e seu temor de que os sindicatos se infiltrassem no quadro de
sargentos, juntamente com a inflação galopante, contribuíram para a criação de uma filosofia pró-
americana, a favor do capital estrangeiro e antitrabalhista, no primeiro governo do regime militar;
- Embora o quadro de oficiais no Brasil seja de classe média na composição social, os oficiais não se
consideram dotados de uma identidade de classe específica, estando acima dos conflitos de classe com
a missão de proteger os bens nacionais;
- Os militares são capazes de agir como força modernizadora quando se trata da entrada da classe
média no sistema político, mas tornam-se uma força repressora, preocupada com a manutenção do
status quo, quando o problema gira em torno das reivindicações da classe baixa ⟶ porém este
argumento não é totalmente válido, pois segundo Stepan, os militares são, acima de tudo, uma elite de
situação e não de classe ⟶ o poder e o prestígio dos oficiais latino-americanos decorrem de sua
filiação a uma instituição dotada de poder; quando tal elite institucional sente que os estilos de vida e
as práticas políticas da classe média e alta impedem o desenvolvimento, contribuindo para a
decomposição interna ou para a atividade de guerrilha que poderiam ameaçar o poder militar, é
possível que, no seu próprio interesse, os militares possam tomar medidas agressivas contra aqueles
aspectos da vida das classes média e alta que ameaçam sua posição institucional;
RESENHA BIBLIOGRÁFICA
Por Alfred Stepan, Trad. Italo Tronca do original americano: The military in politics. Rio de
Janeiro, Editora Artenova S.A., 1975. Copyright The Rand Corporation.
Em seguida, no segundo capítulo, o autor analisa a magnitude do efetivo das Forças Armadas
e sua importância política. Nega a proposição de que o poder militar é função de sua
magnitude numérica e afirma que, frequentemente, as variáveis políticas são muito mais
importantes do que a quantidade de efetivos militares na determinação do papel que cumprem
as Forças Armadas na sociedade.
Com relação ao Brasil, afirma que a dispersão geográfica do Exército sempre refletiu
considerações de ordem política e estratégica. A fragmentação das unidades militares e sua
grande dispersão estão ligadas historicamente à necessidade de maior controle da população.
Além disso, essa fragmentação levou a uma dispersão muito grande do poder de decisão entre
os militares.
Quanto à extração social do Exército brasileiro, analisada no terceiro capítulo, o autor conclui
que a oficialidade provém preponderantemente da classe média; que há baixo recrutamento
nas classes altas e baixas, e que, devido ao aumento das exigências educacionais da Academia
Militar de Agulhas Negras e à incapacidade do sistema educacional brasileiro de atender à
explosão demográfica, houve pequeno aumento do recrutamento nas classes baixas, nas
últimas décadas.
Parte II: O "padrão moderador" das relações entre civis e militares: Brasil, 1945-1964
Depois de traçar uma tipologia de modelos de relações entre civis e militares, que segundo o
autor não se adapta à realidade latino-americana, passa a definir o modelo moderador, que
propõe como típico das relações entre civis e militares da América Latina: militares altamente
politizados, inclusive manifestando grande heterogeneidade de orientação política, porém
tentando manter a unidade institucional em interação com elites políticas que tentam cooptá-
los, sejam grupos situacionistas, sejam oposicionistas. Além de tentar cooptar os militares,
essas mesmas lideranças políticas legitimam a intervenção militar em momentos de crise,
exercendo um papel de árbitros. Solucionada a crise, as lideranças políticas latino-americanas
esperam a volta dos militares aos quartéis e não legitimam o exercício do poder pelos
militares de forma duradoura.
Analisa a seguir os aspectos civis do padrão moderador, ou seja, a forma pela qual tanto o
governo, quanto seus partidários e opositores apelam para a intervenção militar no processo
político, e mais do que isso, tentam usá-lo como instrumento de ação política.
Da análise acima depreende que a atitude dos civis para com os militares pode ser tanto ou
mais importante que a própria ideologia e objetivos castrenses na determinação da dinâmica
dos golpes militares na América Latina. A partir dessa constatação básica, formula duas
hipóteses que explicariam o funcionamento do modelo moderador:
a) a propensão dos militares para intervir politicamente aumenta quando diminui a coesão das
elites civis e vice-versa;
Tenta comprovar suas hipóteses, no primeiro caso, relacionando o grau de coesão das elites
políticas da Primeira República e a participação militar no processo político, e, no segundo
caso, analisando os golpes militares de 1945, 1954, 1955, 1961 e 1964 no Brasil. Verifica que
os golpes triunfantes de 1945, 1954 e 1964, contra o Poder Executivo, ocorreram quando
houve baixo grau de legitimidade desse poder e alto grau de legitimidade dos militares para
interferir, ocorrendo a situação oposta por ocasião dos golpes frustrados de 1955 e 1961.
Parte III: A ruptura do "padrão moderador" das relações entre civis e militares e a
emergência do governo militar
Descreve a seguir a conjuntura política do Governo João Goulart e a tomada do poder pelos
militares.
Parte IV: Os militares brasileiros no poder, 1964-1968: um estudo de caso dos problemas
políticos do governo militar
Ao analisar os primeiros anos do regime militar brasileiro, o autor pretende questionar a tese
de que as Forças Armadas, por suas características organizacionais e tecnológicas, constituem
poderoso instrumento de desenvolvimento econômico e político. Não tem o objetivo de
examinar detalhadamente os programas políticos e econômicos da primeira fase da revolução,
mas a ênfase de sua análise recai sobre o estudo do governo militar na medida em que afetou
a organização interna e os propósitos da própria instituição militar.
Este, embora não expressasse diretamente as posições dos nacionalistas autoritários mais
jovens (comumente denominados "linha dura"), "emergiu como líder porque era considerado
simpático aos desejos, algo inarticulados, mas poderosos, de um governo mais militante e
autoritário e de uma posição menos pró-americana e mais nacionalista", (p. 182)