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50 ANOS
(197-20)
Denilson Santos de Azevedo
Cristiane Aparecida Baquim
Elen Machado Tavares
ORGANIZADORES
No topo, formanda(o)s de1998, com servidores homenagea-
dos; à direita, formanda(o)s de 1975.
Capa:
Organizadores do livro
Diretoria de Comunicação
Institucional da UFV
Vários autores.
Bibliografia.
ISBN 978-65-84589-10-0
22-112306 CDD-378.98151
Viçosa, MG
Julho de 2022
2
PALAVRAS INICIAIS
E
m 25 de junho de 1971, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade
Federal de Viçosa autorizou a abertura de vagas no curso de Pedagogia, com efe-
tiva implementação no vestibular do início de 1972. Decorridos 50 anos desde esse
registro histórico, o curso contabiliza praticamente 2000 egressos que se distribuem por
diversos estados e cidades do país, atuando nas mais diversas áreas do campo educacional,
em espaços formais e não formais onde o fazer pedagógico se mostra necessário. Quer seja
na docência, que fundamenta a estrutura orgânica do curso, na gestão, na pesquisa e na
coordenação de sistemas, unidades e projetos educacionais em espaços escolares e não-es-
colaresÉoÉproWsinalÉpedagoÉformadÉpelaÉUFVÉseÉnotabilzaÉpelaÉsuaÉcompetênciaÉeÉ
capideÉdeÉinserçãoÉproWsinal
Ao longo deste período, o curso desenvolveu uma salutar interlocução com os sis-
temas de ensino de Viçosa e demais cidades da região, tanto da rede pública quanto da
rede privada, contribuindo com a melhoria da qualidade do ensino que se desenvolve nos
espaços escolares. Se notabiliza, também, pelas aprovações de seus egressos em processos
seletivos, concursos e pelo reconhecimento qualitativo proveniente das avaliações externas
aos quais é submetido.
Nesta trajetória, diversas foram as diretrizes curriculares e normativas que se alte-
ramÉeÉmarmÉo
odiWc sÉobjetivosÉdoÉcursoÉeÉoÉperWlÉdosÉseusÉegresoÉacompanhdÉoÉ
movimento histórico que determina os rumos da educação brasileira. Entretanto, o curso
sempre manteve o princípio de formar o educador comprometido com a universidade pú-
blica, gratuita e plural, respeitando os valores de uma educação democrática e inclusiva.
A reitoria da UFV parabeniza todos os docentes, servidores técnicos e estudantes,
atuais e egressos, que fazem parte da história de sucesso do curso de Pedagogia neste seu
jubileÉdeÉouroÉdesjandoÉqueÉaÉeducaçãoÉbrasileÉeÉaÉformaçãoÉdosÉproWsinaÉqueÉ
atuam em prol de uma educação de qualidade socialmente referenciada sejam cada dia
mais valorizadas e reconhecidas como fundamentais para o desenvolvimento do país.
3
Mensagem do Diretor do Centro
de Ciências Humanas, Letras e Artes
C
omemoramos os 50 anos do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de
Viçosa (UFV) com a publicação de 19 distintos capítulos organizados em uma
coletânea de experiências, histórias com uma diversidade que é peculiar e carre-
gadÉdeÉgrandeÉsignWcadoÉparÉoÉDepartmnoÉdeÉEducaçãoÉüDPEÉOÉCentroÉdeÉCiênciasÉ
Humanas, Letras e Artes (CCH), em 2021, buscou contemplar com um selo comemorativo
o jubileu de ouro do DPE com uma publicação que apresente as histórias e as trajetórias do
Curso de Pedagogia.
OÉcursoÉvisaÉaÉposibltarÉumaÉmelhorÉcomprensãoÉdeÉtodÉoÉprocesÉdeÉcriaçãoÉ
de formação e de atuação na UFV, considerando que se trata do primeiro curso da área de
Ciências Humanas na modalidade licenciatura propriamente dita, em uma universidade
quase centenária e que traz consigo, desde a sua gênese, um histórico com as Ciências
AgráriasÉOÉCursoÉdeÉPedagoiÉdaÉUFVÉinaugrÉaÉdemarcçãoÉnaÉdécadÉdeÉW_]VÉdaÉ
grande área que institucionalizaria o CCH alguns anos mais tarde, em decorrência da ne-
cessidade e da nova realidade da universidade em um momento pós-reforma universi-
tária, além da regulamentação para o Curso de Pedagogia e da federalização da outrora
Universidade Rural do Estado de Minas Gerais.
Cabe destacar que, desde então, o DPE protagonizou muitos momentos, passando
por períodos críticos de um governo federal autoritário, pelo processo de redemocratização
Épod ísa ÉaÉns Édsa vo zeirte i Écs Énseralucir u Éasiano ca Éfção
amro ÉdÉpe Édsiano s Wor Éea ção
acud É
até as atuais conjunturas políticas e sociais, não só por contribuir no ambiente universitário
para que todos pudessem ter uma melhor compreensão de todo o sistema de ensino em to-
dos os seus níveis, como também desenvolvendo um papel fundamental para a instituição
ÉàÉs
otnauq ção
arepu ÉdÉssa Édsau Épseda lucWi Éesacigó ade ÉpÉnodnapic tra Émsa Édsia Éisa re vi sn -
tâncias colegiadas superiores acadêmicas e administrativas. Não seria diferente na atualida-
de, considerando o número de cursos na modalidade licenciatura, o quanto o DPE participa
e contribui com suas disciplinas de código EDU, além das inserções em diversas Comissões
Coordenadoras, fazendo com que não nos esqueçamos que as questões administrativas de
uma instituição de ensino perpassam as dimensões pedagógicas e acadêmicas.
OÉDPEÉcontribuÉsobremaniÉnasÉdiscuõeÉdaÉautonmiaÉuersitárnv iaÉqueÉemÉ
muito evidenciou a necessidade do processo de consulta à comunidade para a escolha dos
seus dirigentes nos mais diferentes níveis de gestão da universidade.
4
ÉÉOsÉdocentsÉdoÉDPEÉsemprÉdiscutramÉaÉquestãoÉideológicaÉpresntÉnaÉforma -
çãoÉeÉnaÉdeWniçãoÉdosÉcurículosÉescolareÉpontuadÉasÉdiferntsÉhabiltçõesÉproWsi -
nais e as novas áreas de atuação, das adequações na matriz curricular nas últimas cinco
décadas, sempre considerando os contextos sociais ora delineados e as discussões e as
reformas nacionais nesse campo, embora uma parte considerável dessa trajetória tivesse
mantido inalterado na sua estrutura.
Aliado a isso, nos últimos 50 anos, o DPE explicitou práticas sociais formadoras de
aproximadamente 2 mil professores com sua inscrição histórica. A obra contempla, ainda,
as vivências de egressas e docentes e as funções sociais e estratégicas no ensino de jovens e
adultos, com o NEAD; e a demarcação e contribuição para o ensino no estado com diversos
projetos, dentre eles, o Veredas.
Neste sentido, o Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes sempre caminhou ao
lado do Departamento de Educação e esperamos que, ao iniciar o segundo século dessa
renomada universidade, possamos ter mais décadas e décadas com o curso de Pedagogia
cumprindo sua função primordial e de referência na formação de futuras gerações de edu-
cadores, para que possamos concretizar o Brasil como uma pátria educadora.
ProfÉOdemirÉVieraÉBaet
A
comemoração do aniversário de 50 anos do curso de Pedagogia da Universidade
Federal de Viçosa se coloca como uma necessidade histórica e social. Celebra-
mos meio século de existência e resistência diante das adversidades políticas,
sociais e econômicas vividas em nosso país. Este livro foi idealizado e escrito durante uma
pandemia, em uma situação de isolamento social, de trabalho remoto e de cortes orçamen-
tários que afetaram todos os níveis da educação brasileira.
A história do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Viçosa é relativamente
recente, como a história do ensino superior no Brasil. Ao contrário de nossos colonizadores
europeus, que possuem universidades seculares, ou dos nossos irmãos latino-americanos,
que criaram suas universidades desde o século XVI, o primeiro curso superior no Brasil sur-
giu em 1808, com a vinda da família real portuguesa. Privilegiou-se na época a formação dos
Élsiano s Worp Éesiarebi Émetn mlaiceps édÉesoci Éesoriehn g ÉeÉesat ila ceps Édm otier
5
A primeira universidade brasileira foi formalmente criada em 1912, pelo governo
do Paraná. Em 1920 foi criada a Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, a mais antiga
emÉfuncioametÉAmbasÉagreamÉasÉescolaÉproWsinaÉjáÉestabelcidÉsendoÉqueÉ
a proposta federal tinha como objetivo fomentar não só o ensino, mas também a pesquisa
cientíWcaÉemÉnosÉpaísÉeÉaÉautonmiaÉaaÉHdminstrv ojeÉchamdÉUersidaÉF
nv ed -
ral do Rio de Janeiro, fez 101 anos de existência em 2021. Nossas universidades são muito
jovens diante de uma perspectiva latinoamericana, assim como o curso de Pedagogia no
BrasilÉOÉprimeoÉsurgiÉemÉW_Y_ÉnaÉUersidaÉdnv oÉBrasilÉ
A UFV foi fundada em 1922, na época denominada Escola Superior de Agricultura
e Veterinária (ESAV), e a Pedagogia em 1971. Ela é nova em relação aos cursos das agrárias,
mas experiente diante dos cursos do Centro de Ciências Humanas.
OÉcursoÉdeÉPedagoiÉdaÉUFVÉestáÉvinculadoÉaamentÉadisrv oÉDepartmn -
to de Educação, junto com o Programa da Pós-Graduação em Educação, fundado em 2008,
e o curso de Educação do Campo, fundado em 2013. Atualmente todos eles funcionam no
segundo e terceiro andar do Prédio Anexo da Economia Doméstica.
OsÉdocentsÉdoÉcursoÉdeÉPedagoiÉtêmÉumÉperWlÉhistórcoÉdeÉlutaÉpelaÉeducaçãoÉ
pública e de qualidade dentro e fora das quatro pilastras. É um curso reconhecidamente
extensionista dentro da UFV, ajudando várias instituições de ensino e cultura na Zona da
Mata Mineira. Seu quadro de servidores e estudantes sempre marcaram presença nos mo-
vimentos sociais da região. Homens e mulheres trabalhadores, sonhadores, humanistas,
utópicos, esperançosos e conscientes de seu papel na sociedade mineira e brasileira.
Cada centímetro de espaço, todo mobiliário e equipamento do curso remetem aos
esforços dos admiráveis educadores e educadoras que trabalharam ou que continuam em
plena atividade. Do espelho no banheiro ao jogo de talheres na copa, há sempre uma his-
tória incrível de empreendimento coletivo que ajudou a melhorar as condições do curso.
Nada foi conseguido de maneira fácil e sem muito esforço.
Este livro é fruto do trabalho de educadores, educadoras, técnicas e estudantes da
Pedagogia. Um esforço conjunto para resgatar a memória do curso e divulgá-la para as
próximas gerações. São as nossas visões, nossas considerações, nosso legado para aqueles
que nos sucedem. Sem uma boa história não podemos ter um bom futuro. Esperançamos
continuar com uma educação pública, gratuita e de qualidade em um país que apresente
melhores condições de vida para todos os brasileiros no próximo meio século de existência.
Boa leitura!
6
Mensagem da Coordenadora do Curso de Pedagogia
A
gradeço aos autores e organizadores pela honrosa participação na obra “PE-
DAGOIÉUFVæÉ[VÉANOSÉdeÉmemóriasÉeÉdesaWoÉüW_]WÇÓVÓWBÉÉÉdeÉgrandeÉ
importância e representatividade a elaboração desta obra em celebração aos 50
anos de criação do Curso de Pedagogia e, ao mesmo tempo, a construção de conhecimento
sobre educação, pedagogias, trajetórias e histórias formativas.
AÉobraÉAPEDAGOIÉUFVæÉ[VÉANOSÉdeÉmemóriasÉeÉdesaWoÉüW_]WÇÓVÓWBÉretraÉ
um pouco das conquistas, experiências e superações de meio século de existência do Cur-
soÉtantoÉnoÉcotidanÉuersitárnv ioÉeÉacadêmicoÉquantoÉnasÉpolíticasÉpúblicasÉdeÉconWgu -
rações curriculares, alguns dos espaços formativos do Curso, as experiências e trajetórias
de docentes e estudantes que passaram pela Pedagogia da UFV.
Com base em Bourdieu e Wacquant (1992), celebramos os 50 anos do Curso de Pe-
dagogia da UFV em que “o modo de pensar relacional e analógico implicado pelo conceito
de campo permite compreender a particularidade dentro da generalidade e a generalidade
dentro da particularidade, forçando-nos a considerar o caso francês como um ‘caso parti-
cularÉdoÉposívB el
ComeraÉÉasÉcincoÉdécadsÉdoÉCursoÉdeÉPedagoiÉdaÉUFVÉsignWcaÉremoraÉ
tantas histórias de vidas que passaram pelo curso, que se formaram enquanto pessoas e
proWsinaÉdaÉáreaÉdaÉEducaçãoÉqueÉestabelcrmÉvínculosÉfortesÉdeÉamizadesÉeÉpro -
porcinamÉ aÉ construçãoÉ deÉ procesÉ formativsÉ queÉ armÉlev grandesÉ proWsinaÉ aÉ
fazerem a diferença na educação pelo o Brasil.
Particularmente, estou vinculada ao Curso desde o ano de 2006, como estudante e
hoje atuo como professora e coordenadora do Curso de Pedagogia, cheguei há pouco a essa
história tão bonita e intensa que já completa 50 anos. No entanto, o que considero é que são
incontáveis as contribuições do Curso de Pedagogia da UFV para tantas pessoas, muitas
vezes das classes populares, e que tiveram suas vidas transformadas pelas possibilidades
trazidas por este Curso de Graduação da universidade pública, gratuita e laica no interior
de Minas Gerais, a nossa querida Universidade Federal de Viçosa.
Neste breve texto, o que tenho é muita gratidão ao Curso, às/aos colegas de turma,
às/aos mestres, hoje, às/aos colegas de trabalho e, principalmente, a todas/os aquelas/es
que vieram antes de nós e que construíram este Curso e tudo o que ele representa em seus
50 anos de existência!
7
Que venham mais 50 anos! Que sejam anos de celebração, inspiração e também
de resistência para a manutenção da universidade pública, de qualidade e socialmente
referenciada.
MaísaÉAparecidÉdeÉOeiralv
Referências
BOURDIEÉPÉWAÉLCQUANT ÉRéponseÉÇÉPourÉuneÉanthroplgieÉréXexieÉPv a -
risæÉSeuilÉW__ÓÉ_[ZÉ
8
SUMÁRIO
Apresentação.................................................................................................................................... 7
ARTEÉIP
OÉPROCESÉDEÉCRIAÇÃOÉEÉAÉCONFIGURAÇÃOÉDOÉCURSO ...................................... 13
CAPÍTULOÉW ............................................................................................................................ 15
LicenaturÉemÉpedagoiæÉ muitas conquistas na superação dosÉdesaWo
Francisco Simonini da Silva
CAPÍTULOÉÓ ............................................................................................................................ 20
Pedagogia da UFVÉemÉcursoæÉ históraÉeÉresignWcaçãoÉüW_]WÇÓVV[É
Denilson Santos de Azevedo, José Henrique de Oliveira e Carlos Vasconcelos Farias
CAPÍTULOÉY ............................................................................................................................ 37
Um recorte na história do Curso de Pedagogia da UFV – pesquisando o currículo
doÉcursoÉdesdÉaÉsuaÉcriaçãoÉatéÉasÉDCNÉdeÉÓVV[æÉumaÉhistóraÉsocialÉdeÉdiscplnaÉ
escolares
Kelly da Silva, Rita Márcia Andrade Vaz de Mello e Maria das Graças Soares Floresta
CAPÍTULOÉZ ............................................................................................................................ 54
CursoÉdeÉLicenaturÉemÉPedagoiæÉ pragmatismo epistemológico e o alinhamento
neoliberal
Elen Machado Tavares, Paola Cardoso Purin, Marion Machado Cunha e
Carmen Lucia Bezerra Machado
9
ARTEÉIP I
ALNDOÉDF EÉNÓSB üDOCENTSÉEÉDISCENT
CAPÍTULOÉ[ ............................................................................................................................ 76
Narrativas de professoras e a pedagoiÉdaÉUFVæÉ temposÉhistórcoÉeÉsuasÉAtaugensB
Lucíola L. de C. Paixão Santos, Alvanize Valente Fernandes Ferenc e Bárbara Lima Giardini
CAPÍTULOÉÕ ............................................................................................................................ 94
Passos de aprendizado docente
Esther Giacomini Silva
CAPÍTULOÉ] ............................................................................................................................ 99
Pedagogia/UFV – memórias discente e docente
Flávia Russo Silva Paiva
10
ARTEÉIP I
AÇOESP SÉEÉTEMPOSÉFTIVOS RMA
ARTEÉIP V
OUTRASÉFORMAÇÕESÉEMÉCURSO
11
PEDAGOGIA UFV: 50 ANOS DE MEMÓRIAS E DESAFIOS (1971-2021)
12
APRESENT A OÇÃ
A
presente obra foi organizada em comemoração aos 50 anos de criação do Curso
de Pedagogia da Universidade Federal de Viçosa (PED/UFV), em 2021. Daí ser
composta por artigos e relatos que abordam esse Curso em seus diferentes tem-
pos, espaços e campos temáticos de formação e sua diversidade, em termos de abordagens
e enfoques teórico-metodológicos ao longo desse período, registrado em variados meios,
lugares de fala e espaços formativos os quais expressam uma pluralidade de concepções,
visõeÉeÉaçõesÉrelaciondsÉcomÉoÉperWlÉdeÉformaçãoÉacadêmicaÉeÉdeÉatuaçãoÉproWsinalÉ
ensjadoÉpeloÉCursoÉduranteÉesaÉtrajetóiÉbemÉcomÉsuasÉvaridsÉconWgurações
EseÉ mosaicÉ deÉ impresõÉ reXxõesÉ eÉ sitemazaçõesÉ sobreÉ oÉ CursoÉ deÉ eda P -
gogia, no geral, e o da UFV, em particular, está apresentado a partir de quatro temáticas
queÉtratãoÉdesdÉquestõÉWlosóWcaÉhistórcaÉeÉsociasÉÉÇÉeendoÉa
vl sÉpolíticasÉedu -
caionsÉoÉcurículoÉosÉespaçosÉeÉosÉtemposÉdeÉformaçãoÉproWsinalÉÇÉatéÉaspectoÉdoÉ
cotidiano dos sujeitos acadêmicos e suas memórias acerca do convívio pessoal e formativo
universitário e de projetos institucionais que, de algum modo, repercutiram na formação
da(o) pedagoga(o).
NoÉcontextoÉdesaÉabrangênciaÉtemáticaÉaÉprimeaÉparteÉdoÉlivroÉdenomiadÉAOÉ
procesÉdeÉcriaçãoÉeÉaÉconWguraçãoÉdoÉCursoBÉtratÉdaÉtrajetóiÉdoÉPED&UFVÉaoÉlongÉ
desÉcinquetaÉanosÉeÉosÉdesaWoÉparÉesaÉformaçãoÉnoÉpresntÉeÉestáÉdistrbuídoÉemÉ
quatro capítulos.
OÉ primeoÉ intuladoÉ ALicenaturÉ emÉ edagoiæÉ
P muitasÉ conquistaÉ naÉ supe -
raçãoÉdosÉdesaWoBÉtrazÉumÉdepoimntÉdoÉprofesÉaposentadÉdoÉDepartmnoÉdeÉ
Educação (DPE/UFV), Francisco Simonini da Silva, pedagogo e mestre em educação, sobre
oÉsurgimentoÉdoÉcursoÉdeÉPedagoiÉdaÉUÉnFV oÉqualÉeleÉrelmbraÉosÉpreconitsÉeÉdiW -
culdades iniciais e como foram superadas na consolidação de um dos primeiros cursos de
Ciências Humanas dessa Instituição, caracterizada por atividades acadêmicas, sobretudo,
na área das Ciências Agrárias.
13
OÉsegundoÉcapítuloÉdenomiadÉAedagoiÉd
P aÉUFVÉemÉcursoæÉhistóraÉeÉresig -
niWcaçãoÉüW_]WÇÓVV[BÉéÉdeÉautoriaÉdoÉprofesÉdoutrÉdoÉDPE&UÉDFV enilsoÉSantosÉdeÉ
AzeedoÉe
v ÉdosÉpedagosÉeÉmestrÉprofesÉaposentadÉJoséÉHenriquÉdeÉOeiraÉlv
e Carlos Vasconcelos Farias (In Memorian), então membros da Comissão Coordenadora do
CursoÉdeÉPedagoiÉentreÉÓVV[ÉeÉÓVV^ÉOsÉautoresÉnãoÉsóÉWzeramÉumaÉanáliseÉdaÉtrajetóiÉ
doÉcursoÉmasÉtambémÉumaÉreXxãoÉsobreÉsuaÉorganizaçãoÉcuriclaÉatéÉÓVV[Éprincpal -
mentÉnoÉqueÉseÉrefrÉaosÉpontsÉpolêmicosÉqueÉperpasmÉasÉpropstaÉoWciasÉdeÉW___É
e de 2005, consubstanciadas nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para o curso, e os
posicionamentos das entidades civis representativas da educação.
Uma análise sobre esse período também é objeto do terceiro capítulo, “Um recorte
na história do curso de Pedagogia da UFV – pesquisando o currículo do curso desde a
suaÉcriaçãoÉatéÉasÉDCNÉdeÉÓVV[æÉumaÉhistóraÉsocialÉdeÉdiscplnaÉescolareBÉescritoÉpelaÉ
professora da Universidade Estadual de Minas Gerais, egressa do PED/UFV, Dra. Kelly da
Silva, e pelas professoras doutoras Rita Márcia Andrade Vaz de Mello e Maria das Graças
SoaresÉFlorestaÉdoÉDPE&UÉtFV ambémÉformadsÉnoÉPED&UÉÉO
FV ÉestudoÉtratÉdoÉprocesÉ
de desenvolvimento curricular desse Curso desde sua criação, adequando-se ao modelo
nacional, fato que deve ser observado segundo a história da educação e os fatores socioe-
conômicos e culturais que se tornam difusores e implementadores de padrões curriculares
nacionais.
Já o quarto capítulo dessa primeira unidade, com o título “Curso de licenciatura em
edagoiæÉp
P ragmtisoÉepistemológcÉÉeÉoÉalinhametoÉneolibraBÉdeÉautoriaÉdaÉatualÉ
cordenaÉ doÉ PED&UÉFV aÉ DraÉ ElenÉ MachdoÉaresÉv T eÉ do&asÉ profes&asÉ doutr&
as Paola Cardoso Purin, do IFRS Carmen Lucia Bezerra Machado da UFRGS, e Marion
MachdoÉCunhaÉdaÉUÉoT NEMA aÉcbjetiv omprendÉcritcamenÉosÉprincípiosÉepistemo -
lógicos presentes na Resolução do CNE/CP n.01/2006, que instituiu as Diretrizes Nacionais
para os cursos de Graduação em Pedagogia, Licenciatura, considerando aspectos históri-
co-econômicos que hegemonizam as reformas educacionais no Brasil a partir de 1990 e os
principais aspectos das matrizes curriculares do Curso de Graduação em Pedagogia da
UFV, tendo como referência os anos 2002, 2008 e 2020. Além da citada Resolução, conside-
ra, ainda, a Resolução do CNE/CP n. 02/2019, o contexto da aprovação da Lei 13.415/2017
e da Base Nacional Comum Curricular, 2021. A epistemologia presente nas Diretrizes das
ResoluçõesÉanalisdÉexpresaÉaÉunidaeÉentreÉaÉAepistmolgaÉdaÉpráticaBÉoÉnilsmoÉ
cientíWcoÉeÉoÉrelativsmoÉgnosilógcÉcujaÉfusãoÉorientaÉaÉformaçãoÉdeÉumÉprofesÉpas -
sivoÉeÉaprisonadÉpelaÉaênpar ciaÉdaÉcotidaneæÉoÉpráticoÉ
14
AÉsegundaÉparteÉdoÉlivroÉdenomiadÉAFalndoÉdeÉnósBÉapresntaÉrelatosÉdeÉdo -
centes e discentes a respeito do Curso de Pedagogia e da UFV ao longo desses cinquenta
anos, sendo constituído por oito capítulos. Em “Narrativas de professoras e a Pedagogia
daÉUFVæÉtemposÉhistórcoÉeÉsuasÉtBÉa
atugens ÉexÇprofesaÉdoÉDPE&UFVÉÉÉeÉdocentÉ
aposentada pela FAE/UFMG, Lucíola Licínio de Castro Paixão Santos, e as professoras
doutoras Alvanize Valente Fernandes Ferenc e Bárbara Lima Giardini narram aspectos
daÉtrajetóiÉdeÉformaçãoÉeÉaÉatuaçãoÉproWsinalÉnoÉPED&UÉpFV ercondÉoÉperíodoÉdeÉ
1977 a 2021. Pauta-se na abordagem qualitativa de pesquisa e na utilização da narrativa
üautoÉbiográWcaÉtendoÉcomÉinstrumeoÉdeÉcoletaÉdeÉdadosÉumÉroteirÉdeÉentrevisaÉes -
truturada. Elucida elementos das experiências educacionais vividas, a partir de memórias
individuais/coletivas, narrando e analisando aspectos que permitem uma compreensão
histórica do curso de Pedagogia da UFV, no período citado.
NoÉcapítuloÉsextoÉintiuladoÉAasoÉd
P eÉaprendizadoÉdocentBÉaÉprofesaÉDraÉ
Esther Giacomini Silva faz um relato sobre sua trajetória de formação e atuação no curso
de Pedagogia da UFV. Essa trilha narrativa segue na reminiscência “Pedagogia/UFV - me-
móriaÉdiscentÉeÉdocentBÉfeitaÉpelaÉprofesaÉDraÉFláviaÉRusoÉSaÉP
ilv aÉs
iv obreÉsuaÉ
formação como pedagoga e a sua jornada docente no DPE/UFV, contida no capítulo sete.
No depoimento contido no capítulo oito, denominado “Saber da experiência e o cur-
Édos ÉPe Édaigo ade ÉUa ÉaBVF ÉpÉeago de ÉÉd
as erg Éco ÉJosru ÉEena ÉOasil ÉBramot Édekc u snome -
Éaart Éis ênuXn Édsaic Éfa ção
amro ÉiÉrlaic n Énadibec ÉPo &U
DE ÉdVF ÉW__YÉa
e ÉW__ÕÉnÉsa Étau Éairótejar
Éblanois Worp Éeodnacsu çaalertn Éor Évs árÉasoi Édsotceps Éco Évosru Çsodnela Éde Éco Édotiecno Éee x -
periência de Bondia (2002), para quem, ao sentir o que vivemos, experimentamos transfor-
çõam Érse ÉTsetna vel Étsia çõamrofsnar Étse émbma ÉsãoÉaÉpsad l nis Épsale ÉIsago de ÉClebas sir -
tina de Jesus Brandão e Viviane Maria Corrêa ao rememorarem seus tempos de formação, de
zeal Éer Écívvno Énoi Éro ÉAotale ÉesóN ÉoÉcÉdosru ÉPe Édaigo ade ÉUa ÉnBVF Éco ítpa Énolu Ée vo
UmaÉanáliseÉdeÉgêneroÉWcaÉevidencaÉnoÉcapítuloÉdezÉnoÉestudoÉdeÉMarcosÉAn -
tônioÉFernadsÉdeÉSouzaÉdaÉprofesaÉdoÉDPE&UÉDFV raÉHeloisaÉRaimundÉHernckÉeÉ
da mestre em educação Karen Laíssa Marcilio Ferreira, que traz o título “Quem são e onde
estãoÉosÉhomensÉqueÉseÉformaÉemÉPedagoiÉnaÉUFVæÉumÉrecortÉtemporalÉdeÉÓVV[ÉaÉ
ÓVW[BÉNoÉtextoÉapresntamÉoÉmapemntoÉdosÉespaçosÉocupadosÉporÉdezoitoÉegresoÉ
locaizadosÉeÉcontadsÉpelaÉredÉsocialÉFacebokÉparÉrespondrÉaÉumÉquestionárioÉOsÉ
resultados mostraram que somente três dos quatorze respondentes estão em sala de aula
na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, o que traz alguns indícios
sobreÉaÉatuaçãoÉproWsinalÉdoÉpedago
15
JáÉ noÉ capítuloÉ onzeÉ comÉ oÉ títuloÉ ACaminhosÉ percoidsÉ porÉ quemÉ aquiÉ pasouæÉ
históraÉqueÉseÉüentrecuzamBÉaÉprofesaÉDraÉCristaneÉAparecidÉBaquimÉtambémÉ
egressa do curso, apresenta alguns aspectos da história do PED/UFV, a partir de uma pes-
quisaÉcomÉegresoÉrealizadaÉpeloÉgrupoÉdoÉProgamÉdeÉEducaçãoÉTutorialÉemÉEducaçãoÉ
üPET&EDU&UFVÉ.ÉConexõesÉdeÉSabersÉComÉbaseÉnaÉhistóraÉoralÉosÉexÇalunosÉreprsn -
tantes de diversos períodos, abordaram temas como currículo, o que é ser pedagogo, os
desaWoÉdaÉformaçãoÉeÉdaÉproWsãoÉasÉmemóriasÉaasÉd
fetiv entrÉoutrosÉSãoÉrelatosÉqueÉ
expressam os caminhos percorridos por cada um, mas que se (entre)cruzam com os acon-
tecimentos, atores e história do próprio curso.
Essa unidade temática é encerrada pelo capítulo doze, com “Um relato prático de
experiênciaæÉpasÉderpctiv sÉe
eaWo ÉposibldaeÉdoÉcursoÉdeÉPedagoiBÉdeÉautoriaÉdaÉ
pedagoÉeÉmestrÉemÉeducaçãoÉpelaÉUÉT
FV alithÉEamÉM
stev oreiaÉCabrlÉqueÉanalisÉ
comÉoÉperWlÉdoÉpedagoÉseÉdesnhouÉaoÉlongÉdosÉanosÉeÉnarÉsuasÉvivênciasÉdeÉfor -
maçãoÉeÉdeÉexperiênciaÉemÉdersoÉc
iv amposÉdeÉatuaçãoÉproWsinalÉpropicadsÉporÉeseÉ
curso.
AÉterciaÉseçãoÉdoÉlivroÉqueÉcontemplaÉAEspaçosÉeÉtemposÉformativsBÉinicaÇseÉ
no capítulo treze, com o artigo “A história do ensino de história da educação no curso
deÉ edagoiÉP daÉ UFVæÉ inXexõesÉ eÉ posibldaeBÉ doÉ profesÉ DrÉ DenilsoÉ SantosÉ deÉ
Azevedo, que faz breve análise histórica a respeito da trajetória da disciplina de História
da Educação no Brasil - como área de ensino e de pesquisa - e analisa, particularmente, a
conWguraçãoÉdesaÉdiscplnaÉnoÉcursoÉdeÉPedagoiÉdaÉUÉa
FV oÉlongÉdeÉseusÉ[VÉanosÉ
propondo algumas ações pedagógicas para dar maior visibilidade a essa área na matriz
curricular do Curso.
No capítulo catorze, em outra perspectiva formativa, a professora do DPE/UFV,
DraÉMariÉdoÉCarmoÉCoutÉTeixeiraÉabordaÉnoÉartigoÉAOÉbrincaÉaÉformaçãoÉdeÉeducao -
resÉdasÉinfânciasÉeÉoÉcursoÉdeÉPedagoiÉdaÉUFVBÉreXxõesÉsobreÉesaÉativdaeÉhumanÉeÉ
cultural, cuja temática tem sido historicamente associada à ideia de infância e criança, mas
pode e deve estar presente na vida adulta. A despeito de todos os avanços obtidos no plano
das políticas públicas e da legislação, constata-se que o brincar ainda é tido como atividade
secundária na educação Infantil e periférica na formação de professores/as. Considera-se a
necessidade da experiência formativa do/a professor/a de educação infantil na perspectiva
da Pedagogia do Brincar.
No capítulo quinze, a professora Dra. Bethania Medeiros Geremias, do DPE/UFV,
reXtÉ sobreÉ aÉ relvânciaÉ daÉ pesquiaÉ emÉ ensioÉ noÉ artigoÉ ADasÉ teiasÉ deÉ leiturasÉ àsÉ tes -
16
situraÉdaÉpesquiaÉemÉinicaçãoÉcientíWcaÉnoÉcursoÉdeÉPedagoiÉdaÉUFVBÉtendoÉcomÉ
focÉ oÉ procesÉ deÉ açãoÇreXxãoÉ sobreÉ aÉ abordgemÉ deÉ textosÉ nasÉ práticasÉ pedagóicsÉ
ersitárunv iasÉaÉadaptçãoÉdaÉmetodlgiaÉASucosÉeÉTeiasBÉpropstaÉporÉDaminÉüÓVV^ÉeÉ
sua articulação com a análise de discurso e o pensamento freireano. Para a autora, tal ação
formativa trouxe resultados que indicam potencialidades para o trabalho com a leitura e a
escritaÉnoÉCursoÉdeÉPedagoiÉdaÉUFVÉeÉparÉasÉpesquiaÉdeÉinicaçãoÉcientíWcaÉ
OÉcapítuloÉdezeseiÉintiuladoÉAAÉformaçãoÉemÉPedagoiÉeÉoÉProgamÉdeÉEduca -
çãoÉTutorialÉüPET&EDUæÉumaÉaliançaÉqueÉenriquecÉnosÉprocesÉformativBÉtratÉdeÉ
umÉrelatoÉdeÉexperiênciasÉemÉqueÉtêsr ÉpedagosÉRitaÉdeÉCássiaÉdeÉSouzaÉPaulÉTatinÉ
Gomes Costa e Valdirene de Jesus Ferreira, formadas pela UFV, discorrem sobre o pro-
cesso de formação no curso de Pedagogia e as experiências vivenciadas no Programa de
EducaçãoÉTutorialÉdaÉEducaçãoÉüPET&EDUÉ.ÉConexõesÉdeÉSabersÉinferidoÉqueÉoÉcursoÉ
de Pedagogia disponibiliza ações inclusivas, especialmente, para aqueles provindos das
camdsÉpopularesÉcomÉaÉparticpçãoÉnoÉprogamÉPET&EÉo
DU ÉqualÉalémÉdisoÉéÉumÉ
grande aliado em aspectos pedagógicos e formativos do curso. Essa experiência oportu-
nizouÉumaÉinserçãoÉemÉeentosÉc
v ientíWcosÉdeÉoutrasÉáreasÉemÉpráticasÉacadêmicasÉeÉcul -
turais que ampliaram o olhar acerca da dinâmica de uma instituição do ensino superior e
das questões ligadas à atuação docente, potencializando, portanto, o processo de formação
das autoras.
OutraÉaçãoÉformadÉtratdÉnoÉcapítuloÉdezesetÉapresntaÉaÉexperiênciaÉdoÉde -
senvolvimento das ações do Núcleo Pedagogia, do PIBID/UFV/2020, a partir do formato
de ensino remoto, aderido devido ao distanciamento social exigido durante a pandemia da
Covid-19. A narrativa, de autoria da professora Dra. Flávia Russo Silva Paiva e do licen-
ciando em Pedagogia Alaércio Francisco Emídio Júnior, trazem o lugar de fala da coorde-
nadora do PIBID e de um pibidiano que, por meio da aplicação de um questionário, cole-
tou informações dos demais membros, que deram destaque às aprendizagens da docência
proporcionadas pelo desenvolvimento do Subprojeto do PIBID/Pedagogia, bem como os
desaWoÉeÉposibldaeÉvenciadosÉnv esaÉexperiênciaÉ
NaÉseçãoÉAOutrasÉformaçõesÉemÉcursoBÉoÉcapítuloÉdezoitoÉdeÉautoriaÉdaÉprofes -
raÉDraÉRosaÉCristnaÉPorcaÉintiuladoÉANúcleoÉdeÉEducaçãoÉdeÉAdultosÉüNEAdæÉumaÉ
história de parceria com o Curso de Pedagogia na formação docente dos licenciandos da
UFVBÉconstiuÉumÉestudoÉsobreÉaÉhistóraÉdesÉnúcleoÉNaÉdécadÉdeÉW_^VÉaÉAsociaçãoÉ
de Servidores Administrativos da UFV reivindicou um espaço para alfabetização dos fun-
cionáriosÉoÉqueÉfoiÉatendioÉemÉW_^]ÉcomÉumÉProjetÉdeÉAlfabetizaçãoÉdeÉAdultosÉÉOÉpro -
17
jeto se tornou um Núcleo, atendendo a jovens, adultos e idosos de Viçosa e se constituindo
como espaço de formação docente para os licenciandos da UFV e para os da Pedagogia,
emÉparticulÉcadosÉpmprv elaÉanáliseÉdocumentalÉdosÉTrablhosÉdeÉConclusãoÉdeÉCur -
so desenvolvidos sobre o NEAD em todos esses anos e por seus arquivos documentais.
Fechando o livro, o capítulo dezenove traz os caminhos cruzados entre a história
do Curso de Pedagogia e o Projeto Veredas, de autoria das professoras doutoras Maria
das Graças Soares Floresta e Rita Márcia Andrade Vaz de Mello, que demonstram alguns
impactos gerados no Curso após a implantação do Projeto Veredas – Formação Superior
de Professores, em parceria com o Governo de Minas Gerais (2002-2012), para a forma-
ção semipresencial de professores/as em serviço das redes públicas de ensino estadual e
municipais. Analisaram como o Projeto marcou a história do curso, resgatando registros
documentais e depoimentos de docentes do Departamento de Educação que atuaram con-
comitantemente nos dois cursos.
A comissão organizadora deste livro agradece a todas/os autoras/es que contribuí-
ram com artigos ou depoimentos, atendendo à chamada em homenagem ao jubileu come-
morativo dos cinquenta anos do Curso de Pedagogia da UFV, e informa que o conteúdo
dos capítulos, assim como as questões gramaticais e de referenciação, são de responsabili-
dade de cada autor/a.
A comissão também agradece à colaboração da técnica administrativa, Luciana Lo-
pesÉ MaWÉ secrtáriaÉ daÉ cordenaçãoÉ doÉ CursoÉ deÉ edagoiÉP daÉ ÉUFV queÉ foiÉ oÉ eloÉ deÉ
comunicação da comissão com os/as autores/as e viabilizou a realização da avaliação “às
cegasBÉdosÉartigosÉeÉrelatosÉsubmetidosÉalémÉdaÉpesquiaÉnasÉredsÉsociasÉdasÉfotsÉqueÉ
compõeÉaÉcapÉdoÉeÇbokÉeÉaoÉapoiÉdoÉatualÉchefÉdoÉDPEÉeÉdoÉdiretoÉdoÉCentroÉdeÉ
Ciências Humanas, Letras e Artes (CCH), respectivamente os professores Arthur Meucci e
OdemirÉVieraÉBaet
Esperamos que esse livro inspire novas investigações, estudos e escritas desse
Curso!
Boa leitura!
18
P A R T E ÉI
OÉPROCESÉDEÉCRIAÇÃOÉEÉAÉ
CONFIGURAÇÃOÉDOÉCURSO
19
PEDAGOGIA UFV: 50 ANOS DE MEMÓRIAS E DESAFIOS (1971-2021)
20
CAPÍTULO 1
Licenciatura em pedagogia:
muitas conquistas na superação
dosÉdesaWo
Francisco Simonini da Silva1
A
história do curso de Pedagogia começou, em 1969, com a transformação da en-
tão Universidade Rural do Estado de Minas Gerais (UREMG) – ex- Escola Supe-
rior de Agricultura e Veterinária (ESAV), criada em 1926 - na atual Universidade
Federal de Viçosa (UFV). Em função da federalização da instituição, houve a exigência
premente da criação de novos cursos, inclusive em áreas diferentes daquelas que origi-
naram a ESAV - ligadas principalmente às Ciências Agrárias. A partir da transformação
em universidade, o Bacharelado em Pedagogia, da área de Ciências Humanas, foi criado
emÉW_]WÉPorÉrazõesÉtécnicoÇWnaceirsÉemÉW_]ÓÉrealizouÉseuÉprimeoÉvestibularÉeÉcon -
sequentemente, também constituiu sua primeira turma naquele ano. Eram oferecidas três
habiltçõesæÉMagistérioÉAdminstraçãoÉEscolarÉeÉSupervisãoÉElarÉAsco ÉprimeaÉaulaÉqueÉ
ocorreu no dia 1º de março daquele ano, já prenunciava o diferencial que iria caracterizar
aÉlicenaturÉFoiÉumaÉaulaÉgeminadÉdeÉFilosWaÉminstradÉpeloÉprofesÉGuyÉdeÉCap -
deville, e de História da Educação, sob minha responsabilidade.
eÇsDv eÉresaltrÉqueÉnaÉestruaçãoÉdoÉcursoÉnaÉdeWniçãoÉdaÉmatrizÉcuriclaÉ
disciplinas e outras questões relacionadas, não havia qualquer participação dos alunos
nesse processo; as mudanças atendiam apenas à nova legislação. Nessa época, as coisas
eramÉimpostaÉdeÉcimaÉparÉbaixoÉEramÉosÉAAnosÉdeÉChumboBÉqueÉvigoramÉnoÉBrasilÉ
de 1964 a 1985.
No meu caso, não cursei minha licenciatura na UFV, mas sim na Faculdade de Filo-
soWaÉCiênciasÉeÉLetrasÉdeÉDivnópolsÉüatualÉunidaeÉdaÉUersidaÉdnv oÉEstadoÉdeÉMinasÉ
GeraisÉÇÉUEMGÉConcluíÉminhaÉlicenaturÉemÉcincoÉanosÉobtendoÉduasÉhabiltçõesæÉemÉ
Administração Escolar e Magistério. Com essa formação e com o mestrado, pode-se dizer
queÉAjogueiBÉemÉquaseÉtodasÉasÉposiçõesÉnaÉáreaÉdaÉEducaçãoÉHáÉmaisÉdeÉcincoÉdécadsÉ
1 Graduado em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Divinópolis - MG (1971), mestre em
Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba - SP (1978) e professor aposentado pela UFV.
21
PARTE I
O processo de criação e
a1conguração1do1curso
22
CAPÍTULO 1
Licenciatura em pedagogia: muitas
conquista1na1superação1dos1desao
WsionaÉextremantÉqualiWcdosÉvindosÉdeÉváriasÉregiõsÉdoÉBrasilÉparÉumÉprocesÉ
educacional avançado. Era a soma de culturas regionais ricas, sintetizadas em um projeto
educacional de vanguarda.
De acordo com o Catálogo de Graduação da UFV -1990/1991, o corpo docente do DPE
Éf
are Ép
odamr Ép
sole æÉA
sero f r ÉM
oniled ÉA
ol ras ÇMan ÉR
air ÉA
arieug ÇIuob ÉA
d Éoinôt
Mendes, Atílio Aléssio, Carlos Vasconcelos de Farias, Célia Maria de Freitas Alvim, Eneida
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ÉSad ÉGa vli ÉAgroe ÉRsuinot ÉGiksn mu yÉd
u ÉCe ÉIel iv dpa ÉGleno zzi
umi ÉdÉSa ÉIa vli ÉVefr Éarie
de Camargo, Ivone Vieira Moraes Lamas, José Carlos Costa, José Fagundes, José Henrique
ÉOed ÉJarie v l éÉM
so Édair ÉPe ÉLa vi Édade ÉBe 4ei ÉBtruocn ÉLariedn úcÉKoi 5ÉL
uer ÉLalóicu ínci Éoi
de Castro Paixão Santos, Manuel Dias Fraga, Maria Carmem de Castro Silva Araújo, Maria
Éad ção
iecnoC É ÉmiloR ÉseõmiS Éair M Éod ÉomraC Éirufa T Éogain P Éair M Éod Éor c S Éarie v lO
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ÉAol eM ÉRracnel ÉJotreb éÉC
so ypÉSonair Édainô ÉSa Éea vli ÉTzier Édahn ÉCe ohla vr
Alguns importantes professores, de outras áreas e departamentos, também mi-
nistraram aulas para a Licenciatura em Pedagogia. Exemplos desses docentes são Ary
eixeT iraÉ deÉ Olive ra É BenitoÉ ar nTtoÉ eÉ Esmerald É ThomazÉAfons É OutraÉ pes oaÉ extre -
mamente relevante para o Departamento de Educação e a licenciatura em Pedagogia,
bem como para outras questões educacionais da UFV, sem dúvida alguma, foi o reitor
Paulo Mário Del Giúdice. Para se ter uma ideia desse apoio, durante sua gestão, em
determinado momento, abriram 14 vagas para a contratação de professores em toda a
universidade, das quais oito delas foram destinadas ao DPE. No início da década de
1990, a necessidade da pós-graduação para o corpo docente ultrapassou os limites do
mestrado, naturalmente, com o crescimento das universidades públicas, passando a ter
o doutorado como prioridade.
Contribuições
23
PARTE I
O processo de criação e
a1conguração1do1curso
OutraÉ conquistaÉ foiÉ aÉ criaçãoÉ daÉ discplnaÉ FilosWaÉ daÉ CiênciaÉ obrigatóÉ parÉ
todsÉ osÉ cursoÉ daÉ ÉUFV bemÉ comÉ dasÉ discplnaÉ codiWasÉ noÉ DPEÉ üintegrasÉ daÉ
matriz curricular das demais licenciaturas da Instituição). Ela inseriu seus professores nas
câmarsÉcuriclaesÉdeÉcadÉcursoÉAoÉasumirÉaÉdiscplnaÉFilosWaÉdaÉCiênciaÉporémÉoÉ
departamento se viu obrigado, por necessidades funcionais, a abrir mão do projeto, pronto
e acabado, para a criação do curso de pós-graduação em Educação, em stricto-sensu. Entre-
tanto, essa atitude não afetou o oferecimento das disciplinas de pós-graduação que o DPE
já ministrava para outros programas da instituição.
ComÉaÉmaiorÉparticpçãoÉdoÉDPEÉnosÉdemaisÉcursoÉcrescuÉsamentÉoigWcv É
poder político de seus professores (assim como do prestígio da licenciatura em Pedagogia)
nos demais órgãos da Universidade, Além das Câmaras Curriculares, a participação au-
mentou também nos conselhos departamentais, Conselho Diretor, Conselho Universitário
üCONSUÉeÉnoÉConselhÉdeÉEnsioÉPesquiaÉeÉExtensãoÉüCEPÉdaÉUÉFV
Nesse período, seguindo as diretrizes da universidade, desenvolvíamos sistemati-
camente atividades na pesquisa e extensão, além do ensino. Particularmente, eu participei
não só dessas atividades, mas também na administração da universidade. Eu já atuava no
magistério e, como contador da então Escola Média de Agricultura (EMAF) –atual UFV
- Campus Florestal (MG) -, criei e implantei um sistema de Contabilidade Rural. Ele se ba-
seava na disciplina que eu lecionava e estava em harmonia com a chamada Contabilidade
Pública. Inclusive colaborei na fundação do Ginásio de Florestal, naquela cidade.
No trabalho didático em qualquer de suas áreas atuação, o DPE sempre buscava
umaÉeducaçãoÉconscietzadoraÉouÉsejaÉaÉformaçãoÉdeÉproWsinaÉparÉoÉsistemaÉedu -
cacional, público ou privado, do infantil à pós-graduação, conscientes, visando ultrapassar
osÉlimtesÉdoÉindivualÉparÉseÉatingrÉosÉlimtesÉdoÉcoletivÉeÉviceÇversaÉOÉobjetivoÉmaiorÉ
da licenciatura era a busca permanente e constante do ter mais, antecedida, porém, pela
busca permanente e constante do ser mais.
AsÉ ativdesÉ entraoÉ amÉultrpsv osÉ limtesÉ doÉ DPEÉ eÉ daÉ licenaturÉ OsÉ
professores participavam de diversos movimentos políticos, partidários e populares, em
integração com as comunidades universitária, local, regional e nacional.
Dentre essas bandeiras, estava a luta a favor da Autonomia Universitária. Esse mo-
vimento visava, por exemplo, à indicação, pela comunidade universitária, das listas trípli-
ces para reitor, a serem aprovadas pelos órgãos da Universidade, e enviadas à presidência
da República, para a escolha do primeiro nome. Da mesma forma, este seria o processo de
escolha dos diretores dos centros de ciências.
24
CAPÍTULO 1
Licenciatura em pedagogia: muitas
conquista1na1superação1dos1desao
OsÉprofesÉdoÉdepartmnoÉcontribuíramÉtambémÉparÉaÉtransfomçãoÉdasÉ
associações de Docentes do Ensino Superior (Andes) em sindicatos e na transformação da
Associação de Professores da Universidade Federal de Viçosa (ASPUV) em seção sindi-
cal. Além disso, colaboraram com a Associação dos Servidores Administrativos da UFV
(Asav), atuaram no Centro de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH/Viçosa) e compuse-
ramÉaÉdiretoaÉdoÉSindcatoÉdosÉProfesÉdoÉEstadoÉdeÉMinasÉGeraisÉüSINPRO&MG
Na verdade, a minha trajetória pessoal sempre foi marcada por vigorosa atuação po-
lítica, partidária e sindical e em campos diversos, como músico, desportista, comentarista
esportivo (por essa função, fui incluído na Enciclopédia do Rádio Esportivo Mineiro), escritor,
poeta, chargista e responsável pela publicação do semanário crítico viçosense Muzungu.
alÉpT osturaÉcomÉaÉcolabrçãoÉdeÉcolegasÉdoÉdepartmnoÉcontribuíaÉparÉoÉcrescimntoÉ
do prestígio do DPE e, consequentemente, da própria licenciatura em Pedagogia.
Como era de se esperar, a movimentação do departamento e de seus professores
nãoÉagradouÉaÉtodsÉOÉmomentÉhistórcoÉvivdoÉpeloÉpaísÉprincpalmetÉnasÉdécadsÉ
de 1960 e 1970, era muito pesado, respaldado pelo Ato Institucional (A.I.) nº 5 e pelo Decre-
to 477. Assim, o ambiente da ditadura, por exemplo, deu origem às ameaças que visavam
enxovalhar, desonrar e perturbar os trabalhos do DPE e da maioria de seus professores.
Eram comuns, portanto, telefonemas ameaçadores nas madrugadas e telefones particula-
res grampeados, com o apoio indireto de determinados professores e setores da instituição.
NoÉ entaoÉ tudoÉ isoÉ foiÉ superadoÉ comÉ diWculaesÉ eÉ certoÉ sofrimentÉ HojeÉ
porém, todos nós, participantes daqueles sonhos de criação e consolidação do curso de
Educação da UFV, comprovamos que construímos uma boa e consistente história, da qual
podemos nos orgulhar.
25
CAPÍTULO 2
Pedagogia da UFV em curso:
Éehistóra ÉresignWcaçãoÉüW_]WÇÓVV[É
Denilson Santos de Azevedo1
JoséÉHenriquÉdeÉOeiralv 2
1. Introdução
OÉ
Curso de Pedagogia da UFV, ao longo dos seus cinquenta anos de existência e
deÉcontribuçãoÉparÉformaçãoÉhumanÉproWsinalÉeÉpedagóicÉdeÉgestorÉ
educadores, docentes e pesquisadores, dentre outras ocupações que assumem,
sobretudo, em prol de uma sociedade brasileira mais escolarizada, inclusiva e com maior
justiça social, sempre esteve fundamentado em uma proposta pedagógica estruturada em
ideasÉconcepçõesÉeÉprincípiosÉqueÉposibltamÉanáliseÉeÉreXxõesÉsobreÉesaÉquestõÉ
básicasæÉQueÉsociedaÉeÉeducaçãoÉdesjamoıÉQueÉescolaÉquermosÉconstruiıÉQueÉpro -
WsionalÉdaÉeducaçãoÉquermosÉformaı
Éqsia T Éfseõt u Évmaro Éesiat ÉnÉdsarod etro Éie úmn Édsare Éaseõ ucsi álnÉese i ÉrxõeX Ése
demandadas pelo Departamento de Educação (DPE) e pela coordenação do Curso de Peda-
gogia, ao longo das primeiras décadas de sua história na UFV, sem, no entanto, merecer um
registro de forma sistematizada, que contivesse os planos ou o projeto político-pedagógico
do Curso de Pedagogia, cujos indícios encontram-se somente nas informações registradas
anualmente nos Catálogos de Graduação dessa Instituição Federal de Ensino Superior (IFES).
Daí a necessidade de historiar sucintamente o Curso de Pedagogia da UFV desde
sua criação, de modo a conhecer a matriz curricular concebida para a formação do peda-
1 Doutor em História da Educação e Historiografia pela FEUSP. Pós-doutorado na Universidade de Lisboa. Pro-
fessor titular do Departamento de Educação da Universidade Federal de Viçosa (DPE/UFV). Endereço de e-mail:
dazevedoufv@gmail.com, Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6269500390446677.
2 Mestre em Planejamento da Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Professor
(1975-2018) aposentado da Universidade Federal de Viçosa (DPE/UFV). Endereço de e-mail: jenrique.jho@
gmail.com.
3 Docente aposentado do DPE/UFV. In Memorian.
26
CAPÍTULO 2
Pedagogia da UFV em curso:
1ehistóra 1resigncação1ßW_]W,XVV[1
goÉnasÉdiferntsÉmodaliesÉdeÉhabiltçãoÉproWsinalÉofercidasÉnesÉCursoÉqueÉ
auxiliarmÉeÉfornecmÉelemntosÉparÉtraçarÉperWsÉdeÉformaçãoÉdoÉpedagoÉhabilt -
do nessa IFES e analisar os rumos tomados por esse Curso e essa formação na virada do
milênio e início do século XXI, à luz da legislação de ensino vigente e instituída no Brasil.
A reformulação curricular do Curso de Pedagogia, empreendida pelo DPE, referen-
dada pelos conselhos superiores da UFV em 1999 e implementada a partir dos anos 2000,
esteve pautada na versão preliminar das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de
Pedagogia, elaborada por uma Comissão de Especialistas da área, nomeada pela Secretaria
do Ensino Superior do Ministério da Educação (SESU/MEC), cujo trabalho, realizado entre
osÉanosÉdeÉW__^ÉeÉW___ÉteÉav ÉWnalideÉdeÉnorteaÉaÉorganizaçãoÉcuriclaÉeÉdeWnirÉumaÉ
cargÉhoráriaÉmínimaÉvisandoÉàÉhabiltçãoÉdoÉproWsinalÉdaÉeducaçãoÉemÉnívelÉsuperioÉ
em consonância com a Lei nº 9394/96, a chamada Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB).
Contudo, as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para o curso de Pedagogia,
elaboradas pela Comissão de Especialistas da área, até o ano de 2005, não haviam sido
aprovadas, em termos de resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE), ao mes-
mo tempo em que se assistia à proliferação de cursos destinados à formação superior de
docentes oferecidos, sobretudo, na modalidade de Curso Normal Superior, em regime de
oferta presencial ou à distância, sob os auspícios da LDB.
Não obstante esse fato, o Projeto Pedagógico do Curso de Pedagogia da UFV, apro-
adoÉe
v mÉW___ÉencampouÉoÉperWlÉcomuÉdoÉpedagoÉensejadoÉpelosÉespecialtÉqueÉ
elaboraram a proposta das DCN para o curso naquele momento. Considerando que o per-
WlÉdoÉpedagoÉprevistoÉnoÉProjetÉPedagóicoÉdoÉCursoÉdeÉPedagoiÉdaÉUÉnFV ãoÉdi -
feriuÉsubstancilmeÉemÉtermosÉdeÉemisãoÉdeÉdiplomaÉdasÉhabiltçõesÉproWsinaÉ
oferecidas na matriz curricular que a antecedeu, tornou-se relevante investigar, a despeito
doÉquadroÉdeÉmudançasÉqueÉveioÉseÉdesnhadoÉemÉfunçãoÉdaÉmaiorÉXexibildaeÉcuri -
cular impressa no curso e preconizada pela LDB e a legislação complementar em disputa
nas DCN e na sociedade brasileira, no início do século XXI.
AsimÉoÉartigoÉobjetivouÉreXtirÉsobreÉoÉcenárioÉdeÉformaçãoÉnaquelÉmomentÉaÉ
partiÉdasÉduasÉpropstaÉoWciasÉdeÉDCNæÉaÉdeÉW___ÉelabordÉpelaÉComisãoÉdeÉEspecia -
listas, e a outra, de 2005, dos legisladores do CNE, e do posicionamento das entidades edu-
cacionais, apontando e analisando as questões polêmicas a respeito das futuras diretrizes,
focalizando a discussão particular que veio sendo realizada sobre o Curso de Pedagogia da
UFV, a partir da análise do seu projeto pedagógico atual.
27
PARTE I
O processo de criação e
a1conguração1do1curso
ÓÉOÉCursoÉdeÉPedagoiÉnaÉUFVæÉorigemÉeÉconWgurações
OÉ CursoÉ deÉ GraduçãoÉ emÉ edagoiÉP daÉ UFVÉ foiÉ criadoÉ peloÉAtoÉ n7É W]&W_]WÉ doÉ
ConselhÉ deÉ EnsioÉ esquiaÉP eÉ ExtensãoÉ üCEPÉ WcandoÉ suaÉ ofertaÉ vinculadÉ àÉ EscolaÉ
Superior de Ciências Domésticas da UFV, constituída, por sua vez, pelos Departamentos
de Economia Familiar, Habitação, Pedagogia e Nutrição e Saúde que, até então, atendiam
predominantemente ao Curso de Licenciatura em Economia Doméstica, oferecido por essa
escola desde 1949, ano que marcou o início do funcionamento da Universidade Rural do
Estado de Minas Gerais (UREMG), instituição federalizada em 1969.
Conforme consta do Catálogo Geral da UFV de 1972 (p.57-58), para obtenção do
grau de licenciado no Curso de Pedagogia da UFV, o aluno deveria perfazer um total de
147 créditos (2400h), que se distribuíam pelas “disciplinas obrigatórias do primeiro ciclo,
comÉÓ[ÉcréditosÉApelasÉdiscplnaÉdoÉcampoÉprincpalÉdeÉestudoBÉcomÉZÓÉcréditosBÉApe -
lasÉ discplnaÉ complentarsÉ obrigatósBÉ perfazendoÉ umÉ toalÉ deÉ Z]É créditosÉ JáÉ asÉ
AdiscplnaÉdaÉáreaÉdeÉespecialzaçãoBÉseÉsubdivamÉemÉtêsr ÉcadÉumaÉcomÉÓWÉcréditosÉ
constituindo-se nas habilitações de Ensino Normal, Inspeção Escolar e Administração Es-
colar.
As disciplinas previstas no Catálogo Geral de 1972 constam do Quadro 1.
A matriz curricular da licenciatura em Pedagogia possibilitava ao aluno o direito de
escolhrÉemÉconfrmidaeÉcomÉseuÉProfesÉOrientadoÉentreÉasÉdiscplnaÉofercidasÉ
28
CAPÍTULO 2
Pedagogia da UFV em curso:
1ehistóra 1resigncação1ßW_]W,XVV[1
pelos outros Departamentos da UFV, as que seriam de seu interesse cursar, tendo em vista
sua formação complementar, perfazendo um total de 12 créditos em disciplinas de caráter
facultativo. A explicação da oferta de disciplinas facultativas aos alunos do Curso de Peda-
gogia, em um total de 12 créditos, foi um constante até o Catálogo de 1977.
OÉCatálogÉGeralÉdeÉW_]YÉapresntouÉalgumasÉmodiWcaçõesÉnoÉcurículoÉdoÉCursoÉ
em relação ao apresentado no ano de 1972, como a redução de 2 créditos para obtenção do
grau de licenciado em Pedagogia, que agora passou a totalizar 145 créditos, perfazendo
ÓW][ÉhorasÉdeÉativdaesÉdeÉensioÉTalÉreduçãoÉseÉdeuÉcomÉaÉsubstiçãoÉdasÉdiscplnaÉ
de Biologia Educacional (3-0) e de Estatística I e II (8-0), respectivamente, pelas disciplinas
de Biopsicologia (6-0) e Educação Contemporânea (3-0).
PodeÇseÉaWrmaÉqueÉaÉmatrizÉcuriclaÉdoÉCursoÉestaráÉconWguradÉnoÉCatálogÉ
Geral da UFV de 1974, o qual apresentou a instituição da Licenciatura Curta em Adminis-
tração e Supervisão para o Ensino de 1º grau, com um total de 114 créditos ou 1710 horas,
e a Licenciatura Plena também nessas duas habilidades, para o Ensino de 1º e 2º Graus,
totalizando 155 créditos ou 2325 horas. A habilitação em Magistério permaneceu sendo
ofercidaÉsomentÉnoÉâmbitoÉdaÉLicenaturÉPlenaÉTambémÉseÉdetcaÉqueÉaÉhabiltçãoÉ
em Inspeção Escolar é substituída pela Supervisão Escolar. Nenhum estudante chegou a se
formar em Inspeção Escolar na UFV.
A Licenciatura Curta e a Licenciatura Plena do Curso de Pedagogia possuíam o
mesmo tronco comum de disciplinas obrigatórias, perfazendo um total de 90 créditos. Em
relação ao Catálogo Geral de 1973, houve a redução de dois créditos da disciplina Redação
queÉforamÉutilzadosÉemÉumaÉnaÉd
ov iscplnaÉBiblotecaÉeÉTrablhoÉCientíWcoÉvisandoÉàÉ
orientaçãoÉinicalÉdoÉalunoÉparÉaÉrealizaçãoÉdeÉativdaesÉdeÉformaçãoÉcientíWcaÉTambémÉ
se detecta a criação de mais uma disciplina de Psicologia da Educação, com a mesma dosa-
gemÉdaÉdiscplnaÉTécnicasÉdeÉDinâmicaÉdoÉGrupoÉrecémÇcriadÉDeÉoutroÉladoÉasiteÇseÉ
à redução da carga horária das disciplinas de Didática e à suspensão das disciplinas Currí-
culos e Programas e Higiene Escolar.
Nas chamadas áreas de concentração, cada habilitação de Licenciatura Curta perfa-
zia um total de 24 créditos, enquanto cada uma das três habilitações da Licenciatura Plena
toalizaaÉ[YÉc
v réditosÉPorÉWmÉparÉcomplentarÉaÉcargÉhoráriaÉoÉlicenadoÉplenoÉtinhaÉ
a opção de escolher disciplinas facultativas, em um total de 12 créditos, com a anuência do
professor-orientador.
As disciplinas oferecidas para cada habilitação constam no Quadro 2.
29
PARTE I
O processo de criação e
a1conguração1do1curso
EsaÉmatrizÉcuriclaÉconWguradÉfoiÉnaÉesênciaÉaÉqueÉhabiltouÉoÉlicenadoÉemÉ
Pedagogia da UFV durante o último quartel do século XX. Nesse sentido, o Catálogo Geral
da UFV de 1975 assinala uma ampliação de carga horária no tronco comum, que passa a
totalizar 101 créditos, com a incorporação das disciplinas que até então estavam situadas,
na área de concentração, em Estatística Aplicada à Educação I e II (8-0), e Currículos e Pro-
gramsÉdeÉW7ÉGrauÉüYÇVÉnaÉáreaÉdeÉformaçãoÉbásicaÉPorÉoutroÉladoÉidentiWcaÇseÉaÉextinçãoÉ
dasÉdiscplnaÉdeÉRedaçãoÉüÓÇVÉBiblotecaÉeÉTrablhoÉCientíWcoÉüÓÇVÉeÉEducaçãoÉContem -
porânea (3-0) que foram substituídas, respectivamente, pelas disciplinas Comunicação e
ExpresãoÉüZÇVÉeÉHistóraÉdaÉEducaçãoÉIIÉüYÇVÉTambémÉseÉoaÉabserv ÉincorpaçãoÉdeÉumÉ
quarto crédito na disciplina Psicologia da Educação III.
PorÉconseguitÉveriWcouÇseÉumaÉreduçãoÉdaÉcargÉhoráriaÉemÉtodasÉasÉáreasÉdeÉ
concentração, em virtude do remanejamento de algumas disciplinas dessa área para o
tronco comum e a retirada da obrigatoriedade de cursar outras, como Educação Compara-
da, para habilitação em Administração Escolar, por exemplo, o que acarretou uma diferen-
ciação no número de créditos nas licenciaturas de curta duração. Nesse sentido, para o es-
tudante obter a Licenciatura Curta em Administração Escolar de 1º Grau, deveria perfazer
30
CAPÍTULO 2
Pedagogia da UFV em curso:
1ehistóra 1resigncação1ßW_]W,XVV[1
31
PARTE I
O processo de criação e
a1conguração1do1curso
32
CAPÍTULO 2
Pedagogia da UFV em curso:
1ehistóra 1resigncação1ßW_]W,XVV[1
A redução do tronco comum se deu com a extinção das disciplinas Sociologia II (3-
VÉBiopsclgaÉIÉeÉIIÉüÕÇVÉTecnolgiaÉdeÉRecursoÉAudiovsaÉüYÇVÉeÉInglêsÉIÉeÉIIÉüÕÇVÉeÉ
a criação das disciplinas de Psicologia (4-0) e de Didática III (5-0).
Por outro lado, a habilitação de Licenciatura Curta em Administração Escolar teve
umÉ aumentoÉ deÉ WZÉ créditosÉ naÉ parteÉ dasÉ discplnaÉ proWsinalzantesÉ toalizandoÉ Ó_É
créditos ou 480 horas, em relação à grade de 1975, com a incorporação das disciplinas
Economia da Educação I e II (8-0), Princípios e Métodos de Supervisão Escolar e Educação
Comparada, ambas com 3 créditos teóricos. A de Supervisão Escolar de 1º Grau teve um
acréscimo de 13 créditos, passando a totalizar 34 créditos ou uma carga de 555 horas, com
adição de um quarto crédito na disciplina Princípios e Métodos de Supervisão Escolar e de
uma segunda disciplina de Metodologia de Estudos Sociais, Comunicação e Expressão e
Ciências, cada uma com quatro créditos, o que proporcionou, portanto, um maior enfoque
nos métodos e nos conteúdos de ensino.
No âmbito dos cursos de longa duração, a Licenciatura Plena em Administração
EscolarÉincorpuÉaÉdiscplnaÉPsicolgaÉOrganizacionalÉüZÇVÉnoÉcurículoÉpasndoÉaÉ
ter 34 créditos adicionais, em relação à curta. A de Supervisão Escolar manteve-se com
30 créditos, tendo apenas uma mudança na grade, com a troca da disciplina Currículos e
Programas de 2º Grau pela de Metodologia de Pesquisa Pedagógica II, ambas com quatro
créditos teóricos. A de Magistério passou a ter 67 créditos, totalizando 1065 horas voltadas
parÉesaÉhabiltçãoÉproWsinalÉcomÉaÉinclusãoÉdaÉdiscplnaÉMetodlgiaÉdeÉPesquiaÉ
Pedagógica II, de uma terceira Metodologia de Estudos Sociais, de Comunicação e Expres-
são e de Ciências, de uma quarta desta última metodologia de ensino, além de um crédito
teórico e outro prático na disciplina de Práticas de Ensino de 1º e 2º Graus- Estágio.
AÉconWguraçãoÉdesaÉmatrizÉcuriclaÉindicaÉqueÉnaÉáreaÉdeÉtroncÉcomuÉheÉouv
uma valorização das disciplinas psicopedagógicas (Psicologia e Didática) em detrimen-
to das socioeducacionais (Sociologia, Economia da Educação), que somado ao reforço da
carga horária na área de concentração, sobretudo no que diz respeito às disciplinas de
métodos e de conteúdos de ensino de 1º Grau, confere uma diretriz de formação bastante
instrumental, em termos de formação técnica e pedagógica, principalmente na licenciatura
de curta duração. Nas licenciaturas de longa duração, consolida-se a oferta de duas disci-
plinas de pesquisa pedagógica para todas as habilitações.
A análise da trajetória do currículo de Pedagogia da UFV, ao longo da década de
W_]VÉasinalÉqueÉaÉcriaçãoÉoÉofercimntoÉdesÉCursoÉeÉoÉseuÉreconhimtÉoWcialÉaÉ
partir de 27 de janeiro de 1978, pelo Decreto nº 81260, foram resultantes do aumento do nú-
33
PARTE I
O processo de criação e
a1conguração1do1curso
34
CAPÍTULO 2
Pedagogia da UFV em curso:
1ehistóra 1resigncação1ßW_]W,XVV[1
aposentdriÉcomÉmaisÉdoisÉanosÉdeÉtrablhoÉqueÉveriWcamÉaÉimposibldaeÉdeÉcon -
cluir a Licenciatura Plena em menos de quatro anos.
Não obstante esses percalços de graduado(a)s, as possibilidades para um tipo de
formaçãoÉproWsinalÉcomÉcertoÉgrauÉdeÉsimltudeÉeÉdiferncaçãoÉpasmÉaÉserÉladsÉev
em conta somente nas propostas de formulação curricular de alguns cursos de Pedagogia
na década de 1990, ganhando maior relevância após a edição da Lei nº 9394/1996.
YÉOÉProjetÉPedagóicoÉdoÉCursoÉdeÉPedagoiÉdaÉUFV
35
PARTE I
O processo de criação e
a1conguração1do1curso
36
CAPÍTULO 2
Pedagogia da UFV em curso:
1ehistóra 1resigncação1ßW_]W,XVV[1
seriaÉapresntadoÉaoÉWnalÉdoÉCursoÉdeÉPedagoiÉcomÉresultadoÉdeÉumÉprocesÉdeÉestu -
do aprofundado e sistematizado sobre um tema ou experiência de interesse do estudante
no campo da formação pedagógica.
Em relação a essas novas atividades, constantes no Projeto Pedagógico, vale res-
saltrÉaÉimportânciaÉdeÉseÉrealizarÉumÉestudoÉidentiWcaoÉasÉprincpasÉáreasÉdeÉconhe -
cimento pedagógico, que vinham merecendo atenção especial dos estudantes do Curso,
sobretudÉnoÉqueÉseÉrefrÉaosÉEstudoÉIndeptsÉeÉaoÉTCÉAÉúnicaÉaalição
v ÉdeÉCur -
so realizada até então se deu em fevereiro de 2001, com a participação de um observador
externoÉqueÉdestacouÉosÉseguintsÉitensÉparÉorientaÉosÉtrablhosÉfutrosæ
W OÉCursoÉemÉsuaÉestruaÉderiaÉq
v ualiWcrÉoÉalunoÉemÉumaÉpropstaÉdeÉfor -
mação pedagógica não escolar;
Ó OÉTCÉderiaÉp
v rimaÉpelaÉreaçãoÉcomÉasÉgrandesÉquestõÉqueÉosÉalunosÉvi -
venciam na sua formação pedagógica;
Y OÉCursoÉderiaÉpv erÉuov maÉrelaçãoÉmaiorÉentreÉosÉEPIsÉosÉestágiosÉeÉasÉpráti -
casÉcomÉconexãoÉmaiorÉentreÉasÉhabiltçõesÉosÉEPIsÉeÉasÉmongraWs
Z OsÉprofesÉderiamÉtv rablhÉosÉEPISÉaÉpartiÉdasÉtemáticasÉcomÉênfaseÉnosÉ
aspectos formativos do currículo, devendo ser exploradas também as temáticas
que não se expressavam no currículo, como as novas tecnologias, educação ru-
ral, educação empresarial, movimentos sociais etc.;
[ OÉCursoÉderiaÉav eitarÉqpov ÉdosÉEstudoÉIndeptsÉemÉativdaesÉpeda -
gógicas extraescolares, ou seja, em estágios curriculares com outras instituições;
Õ ÉcO ícr u Édolu Éaaire v Écratnecs r údetno Ésso ÉPerbo ítlo ÉEsaci Éesiano ca ud ÉaÉRs rofe -
mas da Educação, como uma forma de politizar mais a matriz vigente na época.
ZÉOÉCursoÉdeÉPedagoiÉeÉoÉnovÉcenárioÉdeÉformação
37
PARTE I
O processo de criação e
a1conguração1do1curso
OÉcenárioÉcaÉiontiuv ndeWioÉeÉnebulosÉacaretndoÉperdasÉeÉtranstoÉparÉ
as Instituições de Educação Superior que oferecem o Curso de Pedagogia, ao mesmo tem-
po em que se assistiu à expansão desenfreada do Curso Normal Superior, respaldado pela
LDBÉüartÕYÉParÉseÉterÉumaÉideiaÉdesaÉexpansãoÉnoÉperíodoÉemÉtelaÉveriWcouÇseÉqueÉemÉ
2001, “tínhamos aproximadamente 500 cursos de Pedagogia, hoje (2005) temos 1732, além
de 716 Cursos Normais Superiores, sem considerar os inúmeros Institutos Superiores de
EducaçãoÉüISEÉeÉoutrosÉcursoÉdeÉlicenaturÉtambémÉcriadosÉnestÉperíodoBÉüANPEdÉ
et alii, 2005).
Diante desse quadro, principalmente as Instituições Universitárias com corpo do-
centÉmaisÉqualiWcdoÉeÉmaiorÉexperiênciaÉeducaionlÉrealizaramÉexercíciosÉantecipadosÉ
noÉsentidoÉdeÉrepnsarÉredWnirÉeÉredsnharÉaÉorganizaçãoÉcuriclaÉdoÉCursoÉdeÉPeda -
gogia, a partir da nova proposta de DCN, de autoria dos legisladores do CNE.
EnquatoÉisoÉasÉentidaesÉdaÉEducaçãoÉeÉasÉrasÉd
eprntiv osÉproWsinaÉdeÉ
EducaçãoÉseÉposicnarmÉWrmeÉeÉfrontalmeÉcontráriasÉaoÉprojetÉdeÉDCNÉdaÉPedago -
gia, uma vez que as concepções e os princípios que perpassavam os dispositivos propostos
emÉformaÉdeÉartigosÉforamÉumÉretrocsÉemÉrelaçãoÉàÉpropstaÉoWcialÉdeÉW___ÉeÉaosÉdocu -
mentos emitidos por tais entidades nos últimos anos da década de 1990 do século anterior
e nos primeiros anos do século XXI. Assim, é importante deixar registradas as propostas
deÉDCNÉparÉoÉCursoÉdeÉPedagoiÉanuciadsÉoWcialmentÉpelaÉSESU&MECÉemÉW___ÉeÉ
pelo CNE, em março de 2005, como também posicionamentos de algumas das entidades
educaionsæ
1. DCN de 1999: este documento foi produzido por uma Comissão de Especialis-
tas em Educação, designada pela Portaria SESU/MEC nº 146/03/98, cujo rela-
tórioÉfoiÉconcluídoÉemÉVÕÉdeÉmaioÉdeÉW___ÉOÉtextoÉWnalÉaborduÉWWÉitensÉcomÉ
destaque para o perfil comum do PedagogoæÉproWsinalÉhabiltdoÉaÉatuarÉnoÉensi -
no, na organização e gestão de sistemas, unidades e projetos educacionais e na
produção e difusão do conhecimento, em diversas áreas da Educação, tendo a
docênciaÉcomÉbaseÉobrigatóÉdeÉsuaÉformaçãoÉeÉidentiaÉproWsinaÉSãoÉ
áreasÉdeÉatuaçãoÉproWsinalæÉdocênciaÉnaÉeducaçãoÉinfatilÉnasÉsériesÉinicasÉ
do ensino fundamental e nas disciplinas da formação pedagógica do nível mé-
dio. Segundo essa proposta, o pedagogo poderá atuar ainda na organização de
sistemas, unidades, projetos e experiências educacionais escolares e não escola-
resÉbemÉcomÉnaÉproduçãoÉeÉdifusãoÉdoÉconhecimtÉcientíWcoÉeÉtecnológiÉ
do campo educacional e nas áreas emergenciais do campo educacional.
38
CAPÍTULO 2
Pedagogia da UFV em curso:
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5. Considerações Finais
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PARTE I
O processo de criação e
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CAPÍTULO 2
Pedagogia da UFV em curso:
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cursos de formação de professores não atraem mais os candidatos, e estes não desejam se-
guir o magistério. Em resposta a isso, os docentes da UFV estão apontando novos horizon-
tes para os estudantes. Há alguns anos, os alunos já podem estagiar no Núcleo Integrado
de Estudos de Gênero, no Núcleo de Jovens e Adultos, nas pesquisas de Escola Família
Agrícola e em hospitais da cidade, além de realizar estudos a respeito de novos campos do
trabalho do pedagogo, como eco Pedagogia e Pedagogia empresarial.
EsaÉnasÉár
ov easÉdeÉatuaçãoÉdoÉpedagoÉdãoÉumÉresignWcadoÉàÉdocênciaÉabrin -
do outras perspectivas de estudo e de trabalho no campo educacional e continuam sendo
osÉdesaWoÉdaÉformaçãoÉdesÉproWsinaÉnãoÉsóÉemÉrelaçãoÉàÉampliaçãoÉdosÉcamposÉ
de atuação, mas também à maneira como tal formação vem sendo concebida nas atuais
DCN do Curso e na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) de formação docente e
outras políticas educacionais de cunho neoliberal, constituindo-se em questões provocati-
vas para o(a)s docentes e discentes que hoje fazem parte desse jovem Curso de Pedagogia
cinquentão.
Referências
41
PARTE I
O processo de criação e
a1conguração1do1curso
LINHARESÉCÉFÉSÉTrablhdoesÉsemÉtrablhoÉeÉseusÉprofesæÉumÉdesaWoÉparÉaÉfor -
maçãoÉdocentÉInæÉAVESÉNL ildaÉüOrgÉ Formação de ProfessoresæÉPensarÉeÉfazerÉSãoÉ
Paulo. Cortez, 1995, pg. 09-36.
PINTOÉDÉMÉ O Curso de Pedagogia da UFVæÉAnáliseÉdeÉumÉprocesÉViçosaÇMGÉUÉFV
ÓVVVÉüMongraWÉdeÉEspecialzação
SESU/MEC/Comissão de Especialistas de Pedagogia. Proposta de Diretrizes Curriculares
para o Curso de Pedagogia. Brasília, 1998.
UFJÉRelatórioÉFinalÉInæÉIÉEncotrÉMineroÉdeÉCordenasÉdosÉCursoÉdeÉPedagoiÉ
Juiz de Fora, MG, abril/2005.
UFV/PRE. Catálogo Geral da UFV (1972-2005). Viçosa-MG, 1972 a 2005.
USP/FE. Manifestação da Congregação da Faculdade de Educação da Universidade Fede-
ral de São Paulo. São Paulo, 2005.
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CAPÍTULO 3
Um recorte na história do Curso de
Pedagogia da UFV – pesquisando o
currículo do curso desde a sua criação
até as DCN de 2005: uma história social
de disciplinas escolares
Kelly da Silva1
1. Introdução
OÉ
Curso de Pedagogia foi pauta de discussão entre os anos 2000 e 2006, período de
realização desta pesquisa, em um momento no qual o Ministério da Educação
deWniaÉdiretzesÉcuriclaesÉparÉaÉformaçãoÉdeÉproWsinaÉdaÉeducaçãoÉOsÉ
movimentos e organizações de educadores que vêm realizando o debate sobre os cursos de
edagoiÉeP ÉlicenatursÉexercemÉimportaneÉpapelÉnaÉlutaÉpelaÉvalorizaçãoÉdoÉproWsi -
nal da educação. Entretanto, conseguiram pouco em relação a medidas efetivas, pois, no
geral, as mudanças se resumiram a alterações na matriz curricular dos cursos, sem avançar
emÉquestõÉmaisÉespecíWcasÉAÉprimeaÉregulamntçãoÉdoÉcursoÉdeÉPedagoiÉnoÉBrasilÉ
ocorre em 1939, prevendo a formação do Bacharel em Pedagogia, conhecido como “técnico
emÉeducaçãoBÉAÉlegislaçãoÉposteriÉemÉatendimoÉàÉLeiÉN7ÉZVÓZ&ÕWÉüLDBÉmantémÉoÉ
curso de Bacharelado para a formação do Pedagogo (parecer CFE 251/62) e regulamenta as
1 Doutora em Educação UFJF; Docente da Universidade do Estado de Minas Gerais. Vice - Diretora da Unidade
UEMG–UBÁ. kelly.silva@uemg.br. http://lattes.cnpq.br/0266183874832749.
2 Doutora em Educação; Docente da Universidade Federal de Viçosa – UFV. Professora Titular da Universidade
Federal de Viçosa, Departamento de Educação. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas e Forma-
ção de Profissionais da Educação (GEPPFOR) http://lattes.cnpq.br/6268124799372996.
3 Doutora em Educação, Docente da Universidade Federal de Viçosa – UFV. Professora Associada da Universida-
de Federal de Viçosa, Departamento de Educação, Integrante dos Grupos de Pesquisa, Pesquisadora do Grupo
de Pesquisa Educação, Conhecimento e Processos Educativos (e do Grupo de Pesquisa Espaços Deliberativos e
Governança Pública.
43
PARTE I
O processo de criação e
a1conguração1do1curso
licenciaturas (parecer CFE292/62), cujo parecer CFE 252/69 revoga a diferença entre bacha-
relado e licenciatura, mas mantém a formação de especialistas nas várias habilitações. “As
iniciativas de reconsiderar ou propor novas bases para o curso de Pedagogia e as Licen-
ciatursÉsurgemÉnaÉsegundaÉmetadÉdaÉdécadÉdeÉW_]VÉeendoÉovl rganismoÉoWciasÉeÉ
entidasÉindeptsÉdeÉeducaoresBÉüANFOPEÉÓVVZÉpÉW^ÉAÉpartiÉdosÉanosÉW_^VÉ
destaca-se a atuação do movimento de reformulação dos cursos de formação do educador,
cujaÉativdaeÉperduaÉatéÉhojeÉnaÉAsociaçãoÉNacionlÉparÉaÉFormaçãoÉdeÉProWsinaÉ
daÉEducaçãoÉüANFOPE
As mudanças que ocorreram na sociedade, principalmente no processo de trabalho,
com a introdução de novas tecnologias, passaram a exigir a formação de um novo traba-
lhadorÉ maisÉ XexívelÉ eWcintÉ eÉ alentÉpoiv oÉ queÉ implcaÉ emÉ refomulaçãoÉ doÉ sitemaÉ
educaionlÉvisandoÉqualiWcrÉmelhorÉasÉpesoaÉparÉenfretamÉumÉmundoÉmaisÉcom -
petivoÉmaisÉaWnadoÉcomÉoÉmercadoÉ
Nesse sentido, nosso objetivo com este estudo foi sistematizar informações que nos
permitissem compreender a história do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Vi-
çosa (UFV), abordando, nesse âmbito, a constituição de desenhos curriculares como conjunto
Édotircse p Ése Éeser ba ÉPseralocs Éoar ÉdÉdotnemivlo nes Éto ÉWohlab r zeÉusom Éaam áln Édesi Ée
todas as matrizes curriculares do curso, desde sua criação até o ano de 2006 e, para melhor
compreensão da história do currículo do Curso de Pedagogia da UFV, entrevistamos um
professor que atuou em vários processos de reformulação do Curso, que foi escolhido na
época por estar atuando na gestão do Curso e coordenado a última reformulação. Dessa
forma, o Curso de Pedagogia da UFV, criado em 1971, em um contexto em que se discutiam,
Énme ívÉnle Étlanoica Éootna ÉcÉdopma Éco ícr u Écolu Éaom Éfção
amro ÉdÉpso Édsiano s Wor Éea acud -
ção, foi reconhecido pelo Parecer n.º 3.159/77, pela Portaria n.º 142, de 11.02.81, e Decreto n.
^WÓÕVÉdÉÓ]W]^ÉA
e ésvart ÉdÉaa áln Édesi Éco ícr u Épolu Édotircse ÉCes Éeosru ÉdÉmsa çõacWido Ése
nele ocorridas, desde o período de sua criação até a promulgação das DCN de 2005, propuse-
Çnom Éaso ÉeÉqradicul Éisiau Éssotcapm Érsia co ÉnmariteX Édo Écohnes Érralucir u zailae Éaodn Émis
Érmu Éhetagse Édocirótsi Éqo Éseu Éde ÉcuinWe Écom údetno Édo ÉCo Énosru Épel uqa íore od
OÉ CursoÉ deÉ edagoiÉP daÉ ersidaÉUnv FedralÉ deÉ içoV saÉ foiÉ umÉ dosÉ primeosÉ
cursos criados na área das Ciências Humanas da UFV. A sua criação tem expressiva im-
portância para esse campo de conhecimento e vem, ao longo de sua história, contribuindo
para uma diversidade de práticas educativas, não no município viçosense, mas preparan-
do educadores que se encontram espalhados por todo o território nacional, tendo em vista
melhorar a oferta de ensino para a população. Mais que um resgate histórico, objetivamos
44
CAPÍTULO 3
Um recorte na história do Curso de Pedagogia da UFV – pesquisando o currículo do curso
desde a sua criação até as DCN de 2005: uma história social de disciplinas escolares
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PARTE I
O processo de criação e
a1conguração1do1curso
tava a favor de uma teoria que levasse em consideração a dimensão prática do currículo.
aÇsTrtv eÉdeÉumaÉpaÉqerspctiv ueÉbaÉcuscv omprendÉosÉcontextosÉdeÉconslidaçãoÉdoÉ
currículo desde a sua prescrição até a efetivação nas salas de aulas.
OsÉ modelsÉ deÉ curículoÉ maisÉ divulgaosÉ noÉ BrasilÉ naquelÉ moentÉ distr -
buíam-se nas diferentes tendências do desenvolvimento curricular americano, tais como
Paradigma circular-consensual, Paradigma técnico-linear e Paradigma dinâmico-dialógi-
co. Quanto ao currículo escolar, Moreira (1990) relatava que a preocupação com a metodo-
logia de ensino supria a falta deste e oferecia diretrizes para a prática curricular. Autores
como Alves (2002) e Floresta (2005) apontavam que as escolhas feitas no currículo estariam
relacionadas com os interesses de grupos que têm poder sobre a educação. Além disso,
conhecimentos escolares estariam associados à aprendizagem de valores e comportamen-
tos que seriam considerados ideais do ponto de vista social, integrando-se, dessa forma, o
currículo ao controle social.
“Historicamente o currículo se caracterizou pela difusão e legitimação da cultura das
Éd
se alc Ée
setna imo Éd
m Éd
otnemirte Éd
sa Ée
siame xpÉc
seõ r ÉüS
Bsiarutl ÉÓVVÕÉp
LVA I ÉÓÓÉEÉ
Édas e ãosufi ÉpÉaa v s apre Éps átrÉdsaci Épso Édsiano s Wor Éea ção
acud ÉeÉdÉoa zainagr çãoÉdÉeso aps -
çoÉes ÉÉÉn
seralocs Éses Éqoditne Éaeu ÉiênuXn Ésaic Éoerbo Écícr u Épolu Éiius o Édes retn Éde Éso re vi
grupos sociais os quais tentam implantar mudanças na educação escolar (SILVA, 2006). A
distribuição das atividades curriculares ao longo de períodos de tempo preestabelecidos já
era vista como um dos mais importantes elementos de administração do pedagógico, via
currículo. Matriz Curricular, Grade curricular ou Plano Curricular eram entendidos como
“a organização de um conjunto de matérias que vão ser ensinadas e desenvolvidas em uma
escola, durante um período relativo à extensão do curso em si, exigido pela legislação ou
Éu
rop Éd
am ção
animret Éexpícl ÉüM
Bati ÉS
AL OGEN ÉÓVVWÉp
AN TNA WZÉoÉa
u Éu
adni Éam
érs Édei Éme érta Édsai ÉpsadinWe Éuar Égm Éduar Éee Éeonis Édsad rut s Éae Écodr c Éumo Énm úcÉoel
Éemu oc ÉuÉpam Édetra ÉDad cWisre vi Écsel Éoatsno ÉnúmÉdore Éhe Çasaro Éqalu Éceu Éaad Édonul Ée v
Épratneuq rf Éoar Éoretb ÉcÉdodacWitre Éce ãosulcno ÉdÉeel uqa ágts Édoi Éea zairalocs çãoÉEÉtmWn ar -
balhamos com a concepção de que o currículo escolar sintetiza metas, objetivos, conteúdos
e maneiras de organizá-los; atividades de ensino-aprendizagem e de avaliação; indicações
áWrgoÉeislabc ÉoÉrsortu Éaso ruce ÉsÉcre Éeoda ilosn Éum Édm Éeotnemuco Émotircs Édsia Éodahl te
ou mais esquemático; apresentar-se mais rico e mais pobre; mais progressista ou mais con-
servador; porém não deixaria de ser um conjunto de prescrições.
Essas formulações nos ajudaram a compor nosso quadro de análise sobre a estrutu-
ra curricular do Curso de Pedagogia da UFV, o que passamos a relatar agora.
46
CAPÍTULO 3
Um recorte na história do Curso de Pedagogia da UFV – pesquisando o currículo do curso
desde a sua criação até as DCN de 2005: uma história social de disciplinas escolares
ÓÉOÉCursoÉdeÉPedagoiÉeÉoÉCursoÉdeÉPedagoiÉnaÉUFV
OÉCursoÉdeÉPedagoiÉcriadoÉnoÉBrasilÉemÉW_Y_ÉjáÉfoiÉregulamntdoÉváriasÉvezesÉ
a nível nacional. A sua primeira regulamentação se deu através do Decreto-lei n.º1190, de
4 de abril de 1939, inicialmente o Curso estruturava-se em Bacharelado de 3 anos acresci-
do de um ano de didática, conhecido como esquema 3 + 1. A padronização do Curso de
edagoiÉeP mÉW_Y_æÉ
47
PARTE I
O processo de criação e
a1conguração1do1curso
OÉ CursoÉ deÉ edagoiÉP eriaÉdv destÉ modÉ formaÉ espcialtÉ atrvésÉ deÉ habil -
tações correspondentes a especialidades previstas na lei, ou através de habilitações
correspondentes a outras especialidades que o Conselho Federal de Educação julgasse
necessárias ao desenvolvimento nacional, dando às Instituições de Ensino Superior a
possibilidade de, de acordo com o artigo 18 da Lei, propor a criação de outros cursos
ouÉhabiltçõesÉqueÉatendsmÉàsÉnecsidaÉregionasÉdoÉmercadoÉdeÉtrablhoÉOÉ
queÉenvoliaÉaÉformaçãoÉdeÉespecialtÉdosÉsistemaÉescolareæÉplanejdorsÉsuper -
visoreÉadminstraoeÉinspetorÉeÉorientadosÉEstaÉmesmaÉdeWniçãoÉfoiÉmodiW -
cada com a Lei 5692/71, que devido à concepção e aos objetivos dos ensinos primário e
médio, conferiu a reformulação do Curso de Pedagogia. No entanto, isto não chegou a
ocorrer, pois os educadores pressionaram o Ministério da Educação e Cultura (MEC),
apontdÉestudoÉeÉdebatsÉaÉnívelÉnacionlÉüANFOPEÉÓVVZÉpW^
Em 1969, o Parecer CFE n°. 252, que delineava sobre o funcionamento do Curso
deÉ edagoiÉP recomnduÉ oÉcm objetivÉ doÉ CursoÉ formaÉ proWsinaÉ daÉ educaçãoÉ eÉ
garantir a possibilidade de obtenção do título de especialista, por meio da continuidade
dosÉestudoÉüANFOPEÉÓVVZÉ
No processo de desenvolvimento social e econômico do país, com a ampliação do
acesoÉàÉeducaçãoÉcrescamÉasÉexigênciasÉdeÉformaçãoÉdoÉprofesÉOandoÉàs
bserv Éexi -
gências do momento histórico, no início da década de 1980, várias universidades realiza-
ram reformas curriculares, formando no Curso de Pedagogia, professores para atuarem na
educaçãoÉinfatilÉeÉnasÉsériesÉinicasÉdoÉensioÉfundametlÉüANFOPEÉÓVVZÉ
Segundo a última versão do Parecer sobre as Novas Diretrizes Curriculares do Cur-
so de Pedagogia (2005), nos anos 1980, o debate nacional envolvendo a reformulação do
Curso de Pedagogia partia do Movimento Nacional e da Comissão Nacional dos Cursos de
Formação do Educador. Em 1983, esse movimento apontou que a licenciatura em Pedago-
gia deveria acrescentar a seu corpo de conhecimentos as teorias educacionais, a dinâmica
e organização brasileira e o processo de ensino-aprendizagem, envolvendo suas modali-
dades educativas.
A partir de 1986, aumentou a busca de identidade do Curso de Pedagogia, com-
postaÉdeÉreXxãoÉentreÉteoriaÉeÉpráticaÉNasÉár
ov easÉdeÉatuaçãoÉforamÉacresidaÉaoÉCursoÉ
comæÉEducaçãoÉPréÇEscolarÉAlfabetizaçãoÉdeÉadultosÉEducaçãoÉIndígenaÉEducaçãoÉRu -
ral e Educação Especial. No início dos anos 1990, apresentavam-se outras discussões para
oÉCursoÉdeÉPedagoiæÉumaÉqueÉcaÉaolcv ÉnecsidaÉdeÉreformulaçãoÉdoÉCursoÉatravésÉ
deÉumaÉconcepçãoÉdeÉeducaorÉcomÉproWsinalÉconscietÉbasedÉnaÉreXxãoÉcríticaÉ
da sociedade e da prática educativa. Buscava-se a superação da dicotomia teoria e prática
na construção da identidade do educador pelo trabalho conjunto, articulado com a gestão
democráticaÉAÉoutraÉvertnÉcaÉc
onsiderv omÉobjetivoÉdoÉCursoÉdeÉPedagoiÉaÉreX -
48
CAPÍTULO 3
Um recorte na história do Curso de Pedagogia da UFV – pesquisando o currículo do curso
desde a sua criação até as DCN de 2005: uma história social de disciplinas escolares
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PARTE I
O processo de criação e
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CAPÍTULO 3
Um recorte na história do Curso de Pedagogia da UFV – pesquisando o currículo do curso
desde a sua criação até as DCN de 2005: uma história social de disciplinas escolares
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PARTE I
O processo de criação e
a1conguração1do1curso
bÉResumoÉdoÉhistórcoÉdeÉextinçãoÉdeÉdiscplnaÉnoÉCursoÉdeÉPedagoiÉdaÉUFVæ
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CAPÍTULO 3
Um recorte na história do Curso de Pedagogia da UFV – pesquisando o currículo do curso
desde a sua criação até as DCN de 2005: uma história social de disciplinas escolares
A seleção dos conhecimentos para uma área de formação vai se delineando confor-
meÉoÉcontextoÉsocialÉeÉelaÉseÉdáÉatravésÉdasÉdiscplnaæÉnoÉCursoÉdeÉPedagoiÉdaÉUÉFV
foramÇseÉhistorcamenÉincluídosÉconteúdosÉtantoÉquantoÉextintosÉe&ouÉmodiWcasÉDeÉ
forma geral, as disciplinas criadas, supriam o conteúdo de uma disciplina extinta, pelo me-
nos na ementa. No entanto, o período de desenvolvimento deste currículo foi diminuindo,
oÉqueÉnãoÉsignWcaÉaançov sÉnaÉhistóraÉdasÉdiscplnaÉescolare
Na entrevista, semiestruturada, nosso objetivo foi buscar informações históricas
sobre o Curso que ainda não foram relatadas, tornando-se importante por resgatar a “me-
móriaÉhistórcaBÉdoÉCursoÉAÉentrevisaÉtambémÉnosÉpermituÉpercbÉcarcteísticasÉpró -
priasÉdoÉCursoÉtezÉc
alv onWguradsÉpelaÉregiãoÉondeÉseÉencotraÉaÉUÉN
FV oÉdecorÉdaÉ
entrvisaÉWcaÉclaroÉqueÉoÉCursoÉdeÉPedagoiÉdestaÉinstiuçãoÉsemprÉeeÉdstv eÉacordÉ
com as normas que regem a Educação Superior nacionalmente, sua estrutura curricular,
carga horária, habilitações, sempre estiveram respaldadas em lei. Nesta entrevista, colhe-
mosÉasÉseguintsÉinformaçõesÉsobreÉoÉqueÉhistorcamenÉtemÉseÉdeWnidoÉcomÉcurículoÉ
do Curso de Pedagogia na UFV.
De acordo o professor entrevistado, o Curso de Pedagogia de Viçosa sempre tra-
balhou com o Magistério das Matérias Pedagógicas, Supervisão Escolar de 1ª grau (Licen-
ciatura Curta), Supervisão Escolar de 1ª e 2ª grau (Licenciatura Plena), e a Administração
Escolar de 1ª grau (Licenciatura Curta), Administração Escolar de 1ª e 2ª grau (Licenciatura
lenaÉP eÉ duranteÉ Ó[É anosÉ oÉ CursoÉ nãoÉ sofreuÉ alterçõesÉ erávconsid eisæÉ AaÉ suaÉ estruaÉ
curilaÉmeÇsantv eÉinalterdB
AindaÉsegundoÉoÉprofesÉentrevisadoÉosÉsabersÉüconteúdosÉespecíWcosÉselcio -
nados e alocados em determinadas disciplinas para fazerem parte da matriz curricular do
Curso de Pedagogia da UFV foram organizados com o objetivo de atender às necessidades
das áreas em que se dividem o Curso, fundamentos, psicologias, etc. Já a criação de algu-
mas disciplinas (optativas) é conveniente à proposta de estudo que o professor desenvol-
veu no doutorado, “geralmente quando um professor chega de uma especialização ele cria uma
disciplina para trabalhar e ensinar sobre o conhecimento que mais se dedicouB
Nesse sentido, segundo Pessanha (2004), essa discussão deve se incorporar ao estu-
doÉdaÉhistóraÉdasÉdiscplnaÉescolareÉanalisdoÉcomÉsãoÉproduzidasæ
É preciso compreender essa discussão não apenas como um número cada vez maior
eÉdersiWcadoÉd
v eÉdiscplnaÉmasÉprincpalmetÉampliarÉaÉdiscuãoÉdesaÉhis -
tórias, incorporando a discussão sobre a cultura que as produziu e é produto delas
(PESSANHA, 2004, p. 58).
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PARTE I
O processo de criação e
a1conguração1do1curso
OÉnÉe
os ntrevisadoÉacresntouÉqueÉaÉduraçãoÉmínimaÉdoÉCursoÉemÉtermosÉdeÉ
carga horária se organizou segundo a legislação educacional nacional vigente, nesse pro-
cesso o conceito de Licenciatura Plena e Licenciatura Curta atenderam legalmente as ne-
cessidades impostas pelo Ministério da Educação e contemplaram a matriz curricular do
Curso de Pedagogia da UFV.
Através da análise do currículo do Curso de Pedagogia da UFV, entrevista realizada
eÉestudoÉjáÉdesnvolidÉnestÉtrablhoÉpercbmosÉqueÉaÉmaiorÉmodiWcaçãoÉocoridaÉnoÉ
Curso de Pedagogia da UFV se deu com a reformulação do ano 2000 e, segundo as docu-
mentações elaboradas no decorrer desse processo, essa reformulação tem início nos anos
1989/1990.
Em 1991, foi elaborada uma proposta para mudança no catálogo, mas não teve con-
tinuidade. Vale ressaltar que só no ano de 1995, devido a um tensionamento entre profes-
sores e alunos na tentativa anterior, uma nova Comissão de Reformulação de Curso é ins-
taurada e elabora proposta de reformulação de Curso, em 1996. Devido à promulgação da
Nova LDB (9394/96), o processo foi suspenso para aguardar as mudanças legais em nível
naciolÉOÉdocumentÉrelatÉaindaÉqueÉoÉDepartmnoÉdeÉEducaçãoÉüDPEÉparticpouÉ
de alguns fóruns para discussão das novas orientações para o Curso de Pedagogia nos anos
de 1997 e 1998.
Desde 1999, o DPE instaura uma Comissão Coordenadora de Reformulação do Cur-
so de Pedagogia, antecipando a Reformulação do Curso frente às discussões Nacionais. Essa
comissão encaminhou uma proposta de curso elaborada pelo colegiado do DPE, coordenou
uma Assembleia geral com os alunos do Curso de Pedagogia e, a partir de um questionário
respondido, fez uma avaliação do Curso e organizou propostas para o novo Curso.
Segundo o relatório de avaliação, várias atividades compuseram o quadro de tra-
balho para reformulação do Curso. Em um primeiro momento, foram realizados estudos
sobre as diretrizes curriculares para o Curso de Pedagogia, além da elaboração de ques-
tionários para os alunos, análise dos questionários no colegiado, assembleia geral com os
temas proposta de reformulação, resultado dos questionários, discussão das demandas e
das propostas.
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Um recorte na história do Curso de Pedagogia da UFV – pesquisando o currículo do curso
desde a sua criação até as DCN de 2005: uma história social de disciplinas escolares
AÉANFOPEÉüÓVVZÉaindaÉaWrmouÉqueÉparÉseÉtornaÉpedagoÉeseÉproWsinalÉ
precisa ter a docência como seu eixo de formação, mas ressaltou que a Pedagogia não se re-
sume na formação docente, ela vai além em relação ao referencial e à profundidade teórica.
Compreendemos que, quando a organização dos novos currículos pensou o per-
WlÉdoÉpalÉa
roWsin ÉserÉfÉf
ormad ezÉisoÉdeÉformaÉcompartiendÉAÉorganizaçãoÉdoÉ
novo projeto curricular foi realizada por meio de debates, os quais se deram por grupos
deÉtrablhoÉEseÉgruposÉseÉdivdramÉporÉaWnidaeÉdeÉdiscplnaÉtrablhdsÉcomÉporÉ
exemplo, o grupo das didáticas que discutiu o eixo das disciplinas práticas, o pessoal que
trabalha com as disciplinas de fundamentos que se organizou para decidir quais e como
estas disciplinas seriam lecionadas etc.
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PARTE I
O processo de criação e
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Assim, remetemos ao que Silva (2006, p. 21) discute sobre a “dimensão prática da
signWcaçãoBÉTratÇseÉdaÉformaÉcomÉinterpamosÉosÉcódigosÉpelosÉquaisÉosÉsignWcadosÉ
foram organizados e, dessa maneira, passamos a vê-los como discursos – como prática
discursiva e, sobretudo, como prática produtiva. “Essa produtividade, no entanto, não se
desvinculaÉdoÉcaráterÉsocialÉdosÉprocesÉeÉdasÉpráticasÉdeÉsignWcaçãoÉcolcandÉoÉcur -
rículoÉprincpalmetÉcomÉrelaçõesÉsociasB
VãoÉWcandoÉregistradoÉnoÉcurículoÉosÉtraçosÉdasÉdisputaÉporÉpredomínioÉcultraÉ
das negociações em torno das representações dos diferentes grupos e das diferentes
tradiçõesÉcultraisÉdasÉlutasÉentreÉdeÉumÉladoÉsabersÉoWciasÉdominatesÉeÉdeÉou -
tro, saberes subordinados, relegados, desprezados. Essas marcas não deixam esquecer
que o currículo é relação social. Mesmo que apareça em nossa frente como produto
acabado, como matéria inerte, o currículo, como outros conjuntos de matéria signi-
WcanteÉéÉsubmetidoÉaÉumÉnovÉtrablhoÉdeÉsignWcaçãoÉqueÉsóÉpodeÉserÉoutraÉvezÉ
realizado no contexto de relações sociais. Essas relações sociais são necessariamente
relações de poder (SILVA, 2006, p.22).
NesÉsentidoÉseÉemÉumÉprimeoÉmomentÉoÉentrevisadoÉdizÉqueÉWzeramÉaÉre -
forma para atender ao governo, em um segundo ele está dizendo que as mudanças saem,
ou não, a partir dos/as professores/as, de como estes se organizam. Então, se existe um
professor que discute um tema e que tenha força, pode ser que ele suscite essa discussão e
que, até, coloque-a no currículo.
OÉqueÉoÉprofes’entrevisadoÉnosÉapontaÉéÉumaÉsérieÉdeÉdiWculdaesÉnoÉcurí -
culo. Meyer (2005, p. 81) destaca que cursos e currículos de formação de professores/as
compõem um grupo chave de “sujeitos que estarão diretamente implicados com o proces-
so de produção, posicionamento e deslocamento das fronteiras e identidades culturais, no
âmbitoÉdosÉdiferntsÉgruposÉsiasBÉNoc esÉsentidoÉparÉaÉautoraÉéÉimportaneÉvoltarÉosÉ
olhsÉparÉesaÉinstiuçõesÉeÉseusÉcurículosÉaÉWmÉdeÉseÉoarÉqbsev ueÉAhistóraÉseÉprodu -
zemÉaíÉeÉcomÉseÉconstremÉosÉsentidosÉdeÉpertncimoÉeÉexclusãoBÉüibidÉEseÉtrablhoÉ
segundo Meyer (2005), permite-nos fazer uma leitura sobre quem tem voz para falar por
quemÉdeÉquemÉeÉemÉqueÉlugarÉseÉlocalizamÉesaÉvozesÉIsoÉseÉligaÉàÉfalÉdoÉprofes’
entrvisadoÉdoÉCursoÉdeÉPedagoiÉquandoÉeleÉconseguÉidentiWcarÉdiWculdaesÉparÉseÉ
introduzirÉnasÉt
ov emáticasÉOÉprofesÉfalÉqueÉaÉestruaÉengesaÉqueÉpasÉpeloÉpes -
soalÉtantoÉparÉintroduzirÉnasÉtov emáticasÉquantoÉparÉdiWcultarÉesaÉintrodução
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CAPÍTULO 3
Um recorte na história do Curso de Pedagogia da UFV – pesquisando o currículo do curso
desde a sua criação até as DCN de 2005: uma história social de disciplinas escolares
YÉConsideraçõesÉWnais
OÉprocesÉdeÉdesnvolimtÉcuriclaÉdoÉCursoÉdeÉPedagoiÉdaÉUersidaÉnv
Federal de Viçosa vem se estruturando, ajustado ao modelo nacional, desde sua criação,
ouÉsejaÉdeÉacordÉcomÉaÉHistóraÉdaÉEducaçãoÉnoÉPaísÉEleÉvaiÉseÉmodiWcanÉsegundoÉasÉ
Reformas Educacionais.
OÉCursoÉdeÉPedagoiÉdaÉUersidaÉFnv edralÉdeÉViçosaÉéÉcriadoÉapósÉesteÉterÉso -
frido, em decorrência da Reforma Universitária, nova regulamentação, através do Parecer
252/69. Essa nova regulamentação se inseriu no contexto de uma reestruturação geral dos
currículos mínimos até então existentes, tendo em vista os princípios da Reforma Universi-
tária, que proporcionava à graduação em Pedagogia a oferta de habilitações, ou seja, o Cur-
soÉjáÉnasceÉofercndoÉumÉmodelÉespecíWcoÉdeÉformaçãoÉasÉAtradiconsÉhabiltçõesBÉ
OÉCursoÉdeÉPedagoiÉdaÉUFVÉnãoÉvaiÉapresntaÉmodiWcaçõesÉsasÉe
ignWctv mÉ
seu currículo, as mudanças vão perpassar por um longo período à alteração, criação e ex-
tinção de disciplinas, fato que deve ser observado segundo a história da educação e aos fa-
tores socioeconômicos e culturais que se tornam difusores e implementadores de padrões
curriculares nacionais.
aÇsObserv eÉ tambémÉ umaÉ adequçãoÉ ouÉ criaçãoÉ eÉ modiWcaçãoÉ deÉ discplnaÉ deÉ
acordÉcomÉaÉchegadÉouÉsaídaÉdeÉumÉdocentÉnoÉCursoæÉgeralmntÉoÉnovÉdocentÉvaiÉ
criaÉumaÉdiscplnaÉoaÉqptiv ueÉenglobeÉdeÉformaÉmaisÉespecíWcaÉsuaÉáreaÉdeÉformaçãoÉ
o que se caracteriza como um relevante fator modelador da matriz curricular do Curso de
Pedagogia da Universidade Federal de Viçosa.
NoÉqueÉseÉrefrÉàsÉdiscplnaÉqueÉdeWnmÉoÉcurículoÉdoÉCursoÉdeÉPedagoiÉdaÉ
UFV, observa-se a predominância das disciplinas de fundamentos, as quais se dividem
emÉgruposÉcÉaom sÉpsicolgaÉWlosWaÉsocilgasÉeÉmgiasÉMetodl esmoÉquandoÉemÉ
nível nacional, o processo de desenvolvimento social e econômico do país e a ampliação
do acesso à escola assinalam exigências de preparação do professor e várias universidades
realizam reformas curriculares formando, no Curso de Pedagogia, professores para atua-
rem na educação infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental, a estrutura curricular
do Curso de Pedagogia não sofre alterações consideráveis.
Em um determinado momento, há uma preocupação em oferecer disciplinas de
metodologia para se trabalhar com as séries iniciais, mas o Curso de Pedagogia da UFV
não apresenta, em sua matriz curricular, a organização para formação de professores para
Educação Infantil.
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O processo de criação e
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Referências
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Um recorte na história do Curso de Pedagogia da UFV – pesquisando o currículo do curso
desde a sua criação até as DCN de 2005: uma história social de disciplinas escolares
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colares à história da cultura escolaræÉumaÉtrajetóiÉdeÉpesquiaÉRevistaÉBrasileÉdeÉ
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WÉedÉYreimpÉBeloÉHorizonteæÉAutênticaÉÓVVÕ
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59
CAPÍTULO 4
Curso de Licenciatura em Pedagogia:
pragmatismo epistemológico e o
alinhamento neoliberal
ElenÉMachdoÉTaresv 1
1. Introdução
E
steÉartigoÉescritoÉparÉcomprÉoÉlivroÉüeÇbokÉcomerativÉdosÉ[VÉanosÉdoÉCursoÉ
de Pedagogia da Universidade Federal de Viçosa (UFV)5, tem como objetivo geral
compreender criticamente os princípios epistemológicos presentes na Resolução
Conselho Nacional de Educação (CNE)/Conselho Pleno (CP) 01/2006, a qual estabelece as
Diretrizes Nacionais para os cursos de Graduação em Pedagogia, Licenciatura, consideran-
do aspectos históricos/econômicos que hegemonizam as principais orientações das refor-
masÉeducaionsÉnoÉBrasilÉaÉpartiÉdeÉW__VÉComÉobjetivoÉespecíWcoÉprocuaÉestabelcrÉ
relações entre a epistemologia presente nas Diretrizes Curriculares e os principais aspectos
da atual formulação curricular do Curso de Pedagogia da UFV.
É um texto endereçado, no qual as autoras e o autor, servidores de Instituições
Públicas, situadas em diferentes regiões do país, encontram e compartilham estudos sobre
os cursos de Pedagogia. Uma primeira aproximação ao texto foi escrita no ano de 2007
e apresentada no XV Seminário Internacional Formación de Profesores Mercosur-Cono-
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CAPÍTULO 4
Curso de Licenciatura em Pedagogia:
pragmatismo epistemológico e o alinhamento neoliberal
6 O resumo publicado intitulado “As Diretrizes Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura
no Brasil: uma práxis utilitarista”, com nossa autoria.
7 Registrado no CNPq, certificado pela UFRGS, o Grupo de Pesquisa de Formação de Professores para o MERCO-
SUL/CONE SUL tem como fundador o Professor Augusto Nibaldo Silva Triviños (UFRGS) e atualmente é liderado
pelas Professoras Carmen Lucia Bezerra Machado e Graziela Macuglia Oyarzabal “está concebido dentro da
problemática geral do projeto intitulado “A formação de professores para o MERCOSUL/CONE SUL (Argentina,
Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai, Uruguai e Venezuela): princípios, objetivos e modalidades. Perspectivas de uma
formação básica, comum, geral”, fundado em agosto de 1993, com sede na Universidade Federal do Rio Grande
do Sul – UFRGS, no qual participam professores pesquisadores dos sete países mencionados.” (Texto disponível
em: , https://www.ufsm.br/grupos/mercosulconesul> Acesso em 03/09/2021).
8 Resolução do CNE/CP n.01/2006.
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PARTE I
O processo de criação e
a1conguração1do1curso
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CAPÍTULO 4
Curso de Licenciatura em Pedagogia:
pragmatismo epistemológico e o alinhamento neoliberal
[...] as práticas dos grupos ‘neoliberais’ são expressões dos interesses conservadores
para o conjunto da sociedade e se manifestam sim, como ‘discurso da qualidade’ e
como ‘articulação do universo educacional e o do universo do trabalho’, mas mani-
festam-se também como prática social, como exercício de expropriação econômica e
de dominação política presente no mundo do trabalho, concretamente (1996, p. 200).
9 Conforme Chenais (1996), o capital financeiro expressa formas mais agressivas de exploração do trabalho
“aumentar a produtividade [...]Tal aumento baseia-se no recurso combinado às modalidades clássicas de apro-
priação da mais valia-valia, [...] [e o] aumento brutal do desemprego” (p. 16-17).
10 Chenais (idem) expressa que a “mundialização deve ser pensada como uma fase específica do processo de
internacionalização do capital e sua valorização [...]. A mundialização é resultado de dois movimentos conjun-
tos, estreitamente interligados, mas distintos. O primeiro pode ser caracterizado como a mais longa fase de
acumulação ininterrupta do capital que o capitalismo conheceu desde 1914. O segundo diz respeito às políticas
de [...] de privatização, [...] de conquistas sociais e democráticas, que foram aplicadas desde o início da década
de 1980, sob o impulso dos governos de Thatcher e Reagan.” (idem, p. 33-4).
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PARTE I
O processo de criação e
a1conguração1do1curso
NoÉ campoÉ educaionlÉ oÉ BrasilÉ sobÉ orientaçãoÉ daÉ UNESCOÉ BancoÉ MundialÉ
FMI, assumiu compromissos com as reformas educativas, consideradas vitais. Partindo
dosÉprincípiosÉdaÉEducaçãoÉParÉTodsÉü Education for All), um projeto coordenado pela
UNESCOÉemÉW__VÉnaÉTailândiaÉoÉgernoÉb
v rasileoÉderiaÉe
v stabelcrÉeÉasimÉoÉfezÉ
novas direções para a educação básica e atender às metas determinadas para o ano 2000.
Para essa viabilização, caberia desenvolver uma política educacional capaz de atender às
AnecsidaÉ básicasÉ deÉ aprendizagemÉ üNÉEBA deÉ criançasÉ ensÉjov eÉ adultosBÉ üSHIRO -
MAÉMORAESÉEAÉÓVVÓÉp
NGELIST V É[^ÉoÉqueÉnãoÉseÉconcretizou
Alia-se a esse panorama o relatório Jacques Delors, de 1996, no qual são apontados
problemasÉeÉdesaWoÉaÉsermÉvencidosÉparÉoÉséculoÉXXIæÉAaÉingresoÉdeÉtodsÉosÉpaísesÉ
no campo da ciência e da tecnologia; b) a adaptação das várias culturas e modernização
dasÉmentalidsÉàÉsociedaÉdaÉinformaçãoÉeÉcÉverÉd
iv ticamenBÉüS
or HIROMAÉ
MORAESÉEAÉÓVVÓÉp
NGELIST V ÉÕÕÉOsÉdesaWoÉeÉaducaions pontadsÉpeloÉrelatórioÉ
expressam uma linguagem comum aos documentos produzidos pelos agentes dos orga-
nismos internacionais, utilizando-se de termos que podem encontrar aderência na educa-
ção, uma vez que as proposições, aparentemente, direcionam-se à educação democrática.
No entanto, a compreensão de uma fonte documental, na perspectiva marxista, implica
consideraÉ oÉ procesÉ histórcoÉ políticoÉ eÉ econômiÉ elmntÉidsocav üSHIROMAÉ
AÉÓVW[
NGELIST V
As motivações do relatório de Delors não são novas. Freitas (2012) rememora a
estratégia de Ronald Reagan, então presidente dos Estados Unidos da América, e a publi-
cação do relatório A Nation at Risk, em 1983, o qual “apresentava um quadro de caos para a
educação americana que, segundo os reformadores empresariais, comprometeria sua com-
petivdaÉnoÉcenárioÉinteraciolBÉüIbidemÉpÉY^WÉparÉjustiWcarÉreformasÉeducaio -
nais e orientar as políticas da educação no país e o alinhamento aos interesses do mercado.
Na mesma direção, Campos (2005), em seu exame do documento da Comissão Eco-
Éacimôn Éarp ÉA
a érm Éaci ÉanitL üCÉLA PE ziudorp Éod Éme Éotnuj c Émoc Éa zainagrO çãoÉ Ésad
çõaN ÉUse Épsadin Éaar ÉEção
acud ÉaÉCêni Éeaic ÉaÉCÉüU
arutl ÉOCSEN Invertir mejor, para invertir
mas: finaciamento y gestión de la educación en América Latina y Caribe, lançado, em 2004, na 30º
sessão da CEPAL, em Porto Alegre, diagnostica a má gestão dos recursos públicos em Edu-
ção
ac ÉaÉqÉt
lau Ég
aire ÉA
odare ícdreps Év
soi Én
sodacWire Éi
o Éd
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constatação, orienta o poder público a otimizar Éfso Éesodnu ÉiÉWsotnemi v Épsoriecna úbil -
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64
CAPÍTULO 4
Curso de Licenciatura em Pedagogia:
pragmatismo epistemológico e o alinhamento neoliberal
pode pensar em que existe uma margem de intervenção para otimizar os recursos disponí-
veis. Daí, pois, a importância de se melhorar a gestão dos sistemas educativos e não apenas
Érratejni Éasoruce ÉüC
Bsianocd &U
LA PE ÉaOCSEN ÉCdup ÉÓVV[Ép
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ênic Éeaic ÉeáccW Épai Éamas ÉcÉaradilosn Éjs Épsa vitcW su Éoar Égs Épsota úbÉcsocil Éemo ção
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a Éa vita cin
privada, de tal forma que o mercado seja o objeto central das ações Estatais. As questões que
parecem inovadoras, na verdade, expõem o reordenamento político no qual inexiste o novo,
mas o recrudescimento e a expansão dos critérios mercantis de validação, ainda que sob os
slogans da democratização e da globalização. Veicula-se, nessa medida, a concepção ideologi-
camente constituída como sociedade aprendente (ARCE, 2001), sob a qual a educação deve
ÉeesA çarofs ÉpBr Édar Ésra Épsetropu Épsocigó ade Éqar Éoeu Éis ídvidn Éasou prendam a aprender.
A formação escolar é assumida pelo Estado Gestor como uma estratégia de presta-
çãoÉdeÉserviçoÉreguladoÉpelosÉparâmetrosÉdeÉeWciênciaÉeÉcompetênciaÉqualideÉeÉcom -
petivdaÉdeÉacordÉcomÉoÉAestadoÉdeÉideárioÉdoÉmercadoBÉcomÉdestacmÉShiromaÉ
Moraes e Evangelista (2002). Nas palavras de Machado, ao se referir à reforma universitá-
ria, desde a década de 1990, não há classes sociais, pois no
ArtÉ]7ÉOÉprogamÉaÉqueÉseÉrefrÉestaÉResoluçãoÉpoderáÉserÉofercidoÉindept -
mente de autorização prévia, por universidades e por instituições de ensino superior
que ministrem cursos reconhecidos de licenciatura nas disciplinas pretendidas, em
articulçãoÉcomÉoÉestabelcimnoÉdeÉensioÉfundametlÉmédioÉeÉproWsinalÉÉ
(BRASIL, 1997).
11 Em 1997, o CNE apresentou a Resolução n. 02/1997, para viabilizar programas especiais de formação pe-
dagógica de docentes. Essa resolução procurou normalizar e promover a formação de professores de forma
mitigada para portadores de diplomas de nível superior atuarem, em caráter especial, como habilitados para o
ensino nas séries iniciais do ensino fundamental, no ensino médio e na educação profissional.
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PARTE I
O processo de criação e
a1conguração1do1curso
YÉCursoÉdeÉPedagoiæÉespaçosÉformativsÉ
epistemologias e resistência à agenda neoliberal
Meu argumento é o de que, neste momento crucial para a compreensão das questões
sociais, em que o capitalismo produz forte degradação da vida humana, verifica-se
certa tendência de supressão do aprofundamento teórico nas pesquisas na área da educação,
com gravíssimas implicações políticas, éticas, além, naturalmente, das epistemológi-
casÉüMORAESÉÓVV_ÉpÉ[^]ÉgrifoÉnos
12 Sobre este tema, sugerimos: JINKINGS, I.; KIM D.; CLETO, M. (Orgs.). Por que gritamos golpe? para entender
o impeachment e a crise. São Paulo: Boitempo, 2016. Disponível em: <https://www.sinte-sc.org.br/files/1081/
Texto%201%20Porque%20Gritamos%20Golpe.pdf> Acesso em 10/09/2021.
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CAPÍTULO 4
Curso de Licenciatura em Pedagogia:
pragmatismo epistemológico e o alinhamento neoliberal
13 A Resolução do CNE/CP n.01/2006, em seu Art. 10 prevê a extinção das diferentes habilitações em Cursos de
Pedagogia a partir de 2007. (BRASIL, 2006).
14 A UFV foi criada pelo Decreto 6.053, de 30 de março de 1922, pelo Presidente do Estado de Minas Gerais,
Arthur da Silva Bernardes. Iniciou suas atividades em 1926, como escola Superior de Agricultura e Veterinária
(ESAV) e em 1969 foi federalizada e passou a se chamada Universidade Federal de Viçosa (UFV, s/d, s/p). O
Disponível em: https://www.ufv.br/historia/ Acesso em 03/10/2021.
15 Conforme o Projeto Pedagógico do Curso de Pedagogia (PPC) (2020, p. 6), entre os anos de 1988 e 1994,
houve oferta de licenciaturas de curta duração, “sendo que este último ano assinala a extinção das licenciaturas
curtas e um acréscimo da carga horária nas três habilitações de licenciatura plena”.
16 O Art. 62 dizia “A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso
de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como
formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino
fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal”. Este artigo sofreu duas reformulações, de tal
modo que a última, dada pela redação da Lei 13.415/2017: (BRASIL, 1996; 2017).
67
PARTE I
O processo de criação e
a1conguração1do1curso
68
CAPÍTULO 4
Curso de Licenciatura em Pedagogia:
pragmatismo epistemológico e o alinhamento neoliberal
portugêsÉasimÉcomÉaÉeducaçãoÉespecialÉAindaÉnesaÉmatrizesæÉPráticaÉdeÉEnsioÉemÉ
MatériasÉPedagóicsÉü[7ÉPeríodoÉdoÉCursoÉnoÉÕ7ÉperíodoæÉEstágioÉemÉGestãoÉEscolarÉeÉEs -
tágioÉemÉCordenaçãoÉPedagóicÉeÉnoÉ]7ÉperíodoæÉPráticaÉdeÉEnsioÉFundametlÉeÉEdu -
cação Infantil, cada uma com 120 horas destinavam-se às práticas. Em linhas gerais, o Cur-
so expressava uma tendência da formação de Pedagogas/os especialistas, ainda que como
licenciatura e anúncio da atuação docente. A amplitude da Carga horária de Psicologia
da Educação marca uma tendência formativa de psicologização dos cursos de Pedagogia21.
AÉpartiÉdeÉÓVVÕÉoÉalargmentoÉdasÉfunçõesÉproWsinaÉdosÉegresoÉdoÉCursoÉdeÉ
Pedagogia é reforçado pelo Art. 8º da Resolução do CNE/CP n.01/2006, o qual orienta que
os projetos pedagógicos das instituições para a integralização da formação, Inciso IV, os
estágios curriculares realizados ao longo dos cursos e sejam asseguradas experiências pro-
WsionaÉAemÉambientsÉescolareÉeÉnãoÇescolareBÉüibidemÉosÉquaisÉAfortaleçamÉatiudesÉ
eÉcompetênciasBÉüidemÉnaæÉ
KuenzerÉeÉRodriguesÉaWrmaÉqueÉaÉcomplexidaeÉdaÉeducaçãoÉescolarÉeÉnãoÉesco -
larÉWcouÉreduzidaÉàÉaçãoÉdocentæÉ
69
PARTE I
O processo de criação e
a1conguração1do1curso
23 O Curso possui uma Carga Horária total de 3255 horas, sendo 480 horas de Estágio, o 195 horas destinadas
ao Trabalho de Conclusão de Curso e 300 horas de disciplinas optativas. A Resolução do CNE/CP n.01/2006,
orienta 3.200 horas de efetivo trabalho acadêmico, como mínimo.
24 Conforme o atual Projeto Pedagógico do Curso, as disciplinas de formação geral tratam das “áreas e assuntos
relacionados com a educação, alicerçando a fundamentação necessária para os desdobramentos e aprofunda-
mentos sequenciais no curso” (2020, p. 19).
25 Dispostas desde o início do curso e objetivam a “construção de uma prática pedagógica reflexiva nos dis-
tintos níveis de atuações da docência e na coordenação pedagógica e gestão educacional” (UFV, 2020, p. 20).
70
CAPÍTULO 4
Curso de Licenciatura em Pedagogia:
pragmatismo epistemológico e o alinhamento neoliberal
71
PARTE I
O processo de criação e
a1conguração1do1curso
27 Sobre esse aspecto, sugerimos: WOOD, Ellen Meiksins; FOSTER, John Bellamy (Orgs). Em defesa da história:
marxismo e pós-modernismo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 1999.
28 Disso, é providencial esta compreensão no tempo em que o presente artigo é escrito, se considerarmos o de-
senvolvimento da epistemologia da prática e o niilismo científico na relativização da ciência e frente a gravidade
da pandemia da COVID-19, que reverbera em movimentos antivacina, com aderência social com o surgimento
do grupo de transvacinados, que se afirmam com o corpo já vacinado dispensando imunizantes, ampla divulga-
ção de fake news, cujos discursos sem incidência científica minimizam a letalidade do Coronavírus.
29 O Sistema de Apoio ao Ensino da UFV.
30 Conforme o PPC, o Curso de Pedagogia da UFV “está adequado às Diretrizes Curriculares Nacionais para Educa-
ção das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana (Resolução CNE/CP nº
01, 17/06/2004); às Políticas de Educação Ambiental (Lei nº 9.795, 27/04/1999 e Decreto nº 4.281, 25/06/2002);
às exigências legais referentes à Educação em Direitos Humanos (Resolução CNE/CP nº 1, 30/05/2012); atende
à exigência curricular da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS (Decreto 5.626 de 22/12/2005)” (UFV, 2020, p. 12).
72
CAPÍTULO 4
Curso de Licenciatura em Pedagogia:
pragmatismo epistemológico e o alinhamento neoliberal
por sua vez, resultam de lutas sociais cujas pautas não se reduzem a mera reprodução
acrítica do modo de produção.
De modo geral, o fundamento epistemológico presente nas Diretrizes que orientam
a formação em Pedagogia, conforme Moraes (2009), é marcada por uma concepção de prá-
ticaÉnaÉqualÉaÉepistemolgaÉcientíWcaÉéÉtolhidaÉAemÉsuaÉcapcideÉdeÉcapturÉasÉrelaçõesÉ
funcioasÉdosÉfenômosÉempíricosBÉüpÉ[_YÉ
A partir do Golpe de Estado de 201631ÉháÉumaÉintesiWcaçãoÉdaÉaação
prov ÉdeÉre -
formas de alinhamento do Brasil ao projeto neoliberal32. Essas ações, ainda que reservem
espciWdaÉimplicaÉserÉtratdsÉcomÉfundametosÉdeÉumaÉagendaÉcomu
No campo da educação, destacamos ações recentes nas quais há um aprofunda-
mento dos fundamentos já anunciados. As duas primeiras, compreendem a constituição da
Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2021) e a implementação da Reforma
do Ensino Médio (BRASIL, 2017a); a terceira refere-se à nova Diretriz orientadora da For-
mação Inicial de Professores que institui a Base Nacional Comum para a Formação Inicial
de Professores da Educação Básica (BNC da Formação de Professores) (BRASIL, 2019).
Cabe salientar que essas ações, em sua diversidade, reiteram a implementação e o fortale-
cimento da formação educacional, em seus diferentes níveis, alinhadas à uma perspectiva
de formação pragmática.
AÉBNCÉnoÉAdocumentÉnormativÉqueÉdeWnÉoÉconjutÉdeÉaprendizagensÉesen -
ciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Edu-
caçãoÉBásicaBÉüBRASILÉÓVÓWÉapesarÉdeÉjáÉherÉu
av maÉprevisãoÉlegalÉvoltadÉàÉcriaçãoÉdeÉ
uma base nacional comum33, somente em 2018 o Ministério de Educação (MEC) concluiu
a terceira versão da BNCC, referente ao Ensino Médio, integralizando o documento que
contempla a Educação Básica como um todo. Cabe salientar que este processo é anterior ao
31 Cabe ressaltar que antes mesmo do golpe há “uma nova governança educacional formada por fundações,
institutos e outros desenhos de organizações sociais, como o Todos pela Educação, já tinha se instalado no
País, assumindo o papel de articulação da agenda internacional para a educação defendida pela Unesco, OCDE
e Banco Mundial, em especial no que se refere à padronização de currículo e a consequente redução da au-
tonomia das instituições de ensino para decidir sobre seu projeto curricular e pedagógico, processo que se
intensificou no governo Temer na medida em que membros dessas organizações, com trânsito na esfera pública
e privada, passaram a ocupar o Conselho Nacional de Educação” (FELIPE, 2020, s/p).
32 Como a Emenda Constitucional n.95 (Emenda Constitucional nº 95, de 15 de dezembro de 2016); Reforma
do Ensino Médio (BRASIL, 2017a); a Reforma Trabalhista (Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017.); Reforma da
Previdência (Emenda Constitucional nº 103, de 12 de novembro de 2019); dentre outras ações.
33 O Art. 210 da Constituição Federal de 1988, afirma sobre a fixação “de conteúdos mínimos para Ensino
Fundamental, para assegurar uma formação básica comum (BRASIL, 1988)”. Em decorrência disso, a LDBEN,
Lei 9.394/96, no Art. 26, especifica que “os currículos do Ensino Fundamental e Médio devem ter uma Base
Nacional Comum” (BRASIL, 1996).
73
PARTE I
O processo de criação e
a1conguração1do1curso
A partir das análises que vêm sendo realizadas por pesquisadores, instituições e
representações educacionais comprometidas com a oferta de uma educação pública volta-
da à formação omnilateral34, a BNCC implica num movimento reducionista e de esvazia-
mento da formação ofertada na Educação Básica, pois, em sua constituição, os conteúdos e
conhecimentos passam a estar limitados aos objetivos de aprendizagem e às competências
(o saber fazer imediato) prescritos no documento, independentemente de suas particula-
ridades regionais; Língua Portuguesa e Matemática como únicos conteúdos obrigatórios;
dentre tantos outros fatores a serem problematizados e analisados.
A reforma do Ensino Médio, promulgada em 2017, assim como com a BNCC, pro-
vocou muitas críticas e questionamentos35, tanto pela forma como se originou (por meio de
medida provisória e de forma aligeirada) como pela perspectiva reducionista da proposta,
adequÉaosÉintersÉdoÉcapitlÉXexível .
36
34 A formação omnilateral foi cunhada por Marx (2004) para uma relação integral humano-sociedade, o traba-
lho, os meios e o objeto do trabalho, o ser humano e a natureza.
35 Sobre estas reflexões, sugerimos: SILVA, Mônica Ribeiro. A BNCC da Reforma do Ensino Médio: O resgate de
um empoeirado discurso. Educação em Revista. Belo Horizonte: V. 34, 2018.
36 “A aprovação da Lei Nº 13.415/2017 está em consonância com interesses mercadológicos e corrobora com
o esvaziamento e a precarização do ensino público. O texto da Lei mascara as reais intenções da reforma: o
aligeiramento e a descaracterização do Ensino Médio, conferindo-lhe um caráter excludente. A Lei favorece
a manutenção dos interesses e das demandas do empresariado, desconsiderando a importância da formação
humana integral e os fins formativos da Educação Básica e, assim, ao invés de superar, acirra a dualidade no
Ensino Médio, comprometendo a qualidade do ensino público e fortalecendo o ensino privado” (BRANCO,
BRANCO, IWASSE, ZANATTA; 2018, p. 66)
74
CAPÍTULO 4
Curso de Licenciatura em Pedagogia:
pragmatismo epistemológico e o alinhamento neoliberal
37 “Embora cruamente elitista, esse modelo é perfeitamente orgânico às novas demandas do mundo do traba-
lho flexível na sociedade globalizada, em que a ninguém ocorreria oferecer educação científico-tecnológica e
sócio-histórica continuada e de qualidade, portanto cara, aos sobrantes” (KUENZER, 1999, p. 180)
75
PARTE I
O processo de criação e
a1conguração1do1curso
Aqui se revela o papel inegável dos 50 anos do Curso, a materialidade de sua exis-
tência, que explicita práticas sociais formadoras de professores com sua inscrição histórica.
Dela dois movimentos devem ser explicitados, como dimensões necessárias e combinadas.
OÉprimeoÉdelsÉrefrÉaosÉsujeitosÉdeÉclaseÉqueÉestãoÉemÉumÉespaçoÉpúblicoÉdeÉesferaÉ
pública, em que se instituem coletivamente, mobilizados por uma unidade de interesse em
suaÉdersidaæÉa
v ÉformaçãoÉdeÉprofesÉeÉparÉaÉqualÉoÉcaráterÉhistórcoÉmediaÉasÉlutasÉ
eÉasÉmobilzaçõesÉdosÉseusÉdiretosÉeÉrefrmÉaosÉseusÉlugaresæÉtrablhoÉeÉeducaçãoÉOutroÉ
movimento, que combinado com o coletivo de classe, refere ao lugar da esfera pública de
formação na e para a qual este coletivo se encontra instituído. Esse espaço público imprime
oÉlugarÉdeÉumaÉformaçãoÉpúblicaÉdeÉprofesÉouÉsejaÉnosÉtermosÉdeÉFrancisoÉdeÉOli -
eiraæÉA
v ElaÉaÉlutaÉdeÉclaseÉsóÉéÉprocesadÉporÉrelaçõesÉpúblicasÉElaÉsaiÉdoÉleitoÉpadoÉriv
parÉaÉcenaÉpúblicaBÉüOLIVERAÉÓVWÕÉpÉWWÕÉDesÉdoisÉmovimentsÉseÉpotencialzaÉ
uma epistemológica da resistência em oposição a agenda neoliberal. Ela deve ser investi-
da por uma prática “[...] mais coerente e consistente [...] [e] quanto mais consistente for a
teoriaÉqueÉaÉembasBÉüÓVWWÉpÉ_WÉconfrmeÉsituaÉSavinÉasÉpráticasÉdeÉtransfomçõesÉseÉ
impõem como uma agenda coletiva. Nessa direção, a prática social também concorre para
o critério de verdade como ponto de partida para a teoria. São desses movimentos que os
50 anos do Curso de Pedagogia postula seu lugar na história, ou seja, uma epistemologia
da resistência e a materialidade de sua existência de um coletivo de classe.
YÉConsideraçõesÉWnais
76
CAPÍTULO 4
Curso de Licenciatura em Pedagogia:
pragmatismo epistemológico e o alinhamento neoliberal
A cisão entre teoria e prática promovidas pelas diretrizes que orientam as reformas
curriculares, seja em 2006 ou em 2019, promovem uma perspectiva de um viés neotecni-
cistaÉ üFASÉREIT ÓVWÕÉ NesaÉ direçãoÉ destacÇseÉ aÉ unidaeÉ entrÉ oÉ desnvolimtÉ daÉ
AepistmolgaÉdaÉpráticaBÉüMORAESÉÓVV_ÉoÉnilsmoÉcientíWcoÉeÉoÉrelativsmoÉgnosi -
lógico, cuja fusão encontra-se em princípios que orientam uma formação esvaziada, ainda
que, por vezes, se aproprie de slogans na utilização de termos aparentemente democráticos.
Não é por acaso que a epistemologia presente nas Resoluções CNE/CP 01/2006 e CNE/CP
VÓ&ÓVW_ÉapontaÉparÉumÉprÉp
ofes asivoÉeÉaprisonadÉpelaÉaênpar ciaÉdaÉcotidaneæÉ
o prático.
OÉCursoÉdeÉGraduçãoÉemÉPedagoiÉdaÉUÉaFV oÉcompletarÉ[VÉanosÉeÉgraduÉcercaÉ
de 1.944 Pedagogas e Pedagogos, instiga-nos a pesquisas futuras e práticas de resistência
na direção uma formação inicial, centradas na formação de professores em razão de sua
inscrçãoÉ histórcaÉ emÉ doisÉ movientsÉ necsáriosæÉ osÉ sujeitoÉ coletivsÉ deÉ claseÉ queÉ
revigoamÉsuasÉlutasÉeÉdisputaÉparÉaÉqualiWcçãoÉeÉaÉdispoçãoÉepistemológcaÉmobil -
zada para o professor
Quais as epistemologias embasarão as futuras reformas das matrizes curriculares
dos cursos de Pedagogia? Recuo da teoria? Esperar das reformas neotecnicistas a supres-
são dos estudos básicos que sustentam a compreensão histórica da relação educação-so-
ciedaÇtrablhoıÉAcolherÉoÉcaráterÉinstrumealÉtécnicoÉpráticoÉdoÉAcomBÉfazerıÉUmÉ
projetÉdeÉformaçãoÉfundaoÉnaÉepistemolgaÉcientíWcaÉhistórcoÇcríticaıÉResitênciası
PorÉWmÉéÉposívelÉanularÉaÉhistóraÉeÉtornaÉosÉprofesÉpasivoÉdianteÉdoÉin -
cesantÉataqueÉdoÉmercadoÉeÉdasÉreformasÉneolibrasıÉOÉqueÉesperaÉdaÉResoluçãoÉCNE&
CP 02/2019 e do futuro do curso de Pedagogia da UFV? Qual é o motor da história mesmo?
Referências
ÉRSENUT A ÉAÉGSE LV ÉAÉms çõatu Énse Émo Édodnu Éto Énohlab r Éea Édar Éma zaila dnu çãoÉdÉco ipa -
tal. Educ. Soc.ÉCÉvsanipma ÉÓ[ÉnÉ^]ÉpÉYY[ÇY[WÉAÉÓVVZÉD
og ívnopsi Éele æÉh
m 4pæ&&w
s w
scielobr&scielophıscript‰sciMar4extpid‰SVWVWÇ]YYVÓVVZVVVÓVVVVYlng‰enrm‰i -
`ÉÉA
os Éeos ec æÉVY&V^&ÓVÓVÉ
m
ARCEÉAÉCompreÉoÉkitÉneolibraÉparÉaÉeducaçãoÉinfatilÉeÉganheÉgrátisÉosÉdezÉpasoÉ
parÉseÉtornaÉumÉprofesÉreXxivoÉ Educ. Soc., Campinas, v. 22, n. 74, 2001.
77
PARTE I
O processo de criação e
a1conguração1do1curso
BRANCOÉ EÉ PÉ etÉ alÉ UmaÉ visãoÉ críticaÉ sobreÉ aÉ implantçãoÉ daÉ BaseÉ NacionlÉ ComuÉ
Curricular em consonância com a Reforma do Ensino Médio. Debates em Educação,
v. 10, n. 21, Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Alagoas, Maio/
Ago, 2018.
BRASIL. A BaseÉBaseÉNacionlÉComuÉCuriclaæÉEducaçãoÉéÉaÉbaseÉÓVÓWÉDisponívelÉ
emæÉh4pæ&&basenciolmugvbr&aÇbase`ÉAcesoÉemæÉV[&V_&ÓVÓW
_______. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 2006. Estabelece as Diretrizes e Bases da Edu-
caçãoÉNacionlÉDisponívelÉemæÉh4pæ&&wwplantogvbr&CCIVLMVY&LEIS&L_Y_Z
htmÉ`ÉAcesoÉemæÉVW&V_&ÓVÓW
_______. Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno. Resolução CNE/CP n. 1, de 15
de maio de 2006. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para Curso de Graduação
emÉ edagoiÉP licenaturÉ DisponívelÉ emæÉ h4pæ&&portalmecgvb&cne&arquivos&
pdf&rcpVWMVÕpdf`ÉAcesoÉemæÉVW&WV&ÓVV[
_______. Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno. Resolução CNE n. 2, de 26 de
julho de 1997. Institui e dispõe sobre os programas especiais de formação pedagógica
de docentes para as disciplinas do currículo do ensino fundamental, do ensino médio
eÉdaÉeducaçãoÉproWsinalÉemÉnívelÉmédioÉDisponívelÉemæÉh4pæ&&portalmecgvb&
cne&arquivos&zip&CNEVÓ_]`ÉAcesoÉemæÉVW&WV&ÓVV[
______. Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno. Parecer CP n. 5, de 13 de dezem-
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emæÉh4pæ&&portalmecgvb&cne&arquivos&zip&ÉCNEVÓ_]`ÉAcesoÉemæÉVW&WV&ÓVV[
______. Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno. Resolução CNE/CP Nº 2, de 20
de dezembro de 2019É DeWnÉ asÉ DiretzesÉ CuriclaesÉ NacionsÉ parÉ aÉ FormaçãoÉ
Inicial de Professores para a Educação Básica e institui a Base Nacional Comum para a
FormaçãoÉInicalÉdeÉProfesÉdaÉEducaçãoÉBásicaÉüBNCÇFormaçãoÉDisponívelÉemæÉ
É h4pæ&&portalmecgvb&docman&dezembroÇÓVW_Çpdf&WY[_[WÇrcpVVÓÇW_&Wle`É AcesoÉ
10/08/2021.
______. Lei n. 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Institui a Política de Fomento à Imple-
mentaçãoÉ deÉ EscolaÉ deÉ EnsioÉ MédioÉ emÉ empoÉT IntegralÉ DisponívelÉ emæÉ É h4pæ&&
wplantogvbr&ccivlMVY&MatoÓVW[ÇÓVW^&ÓVW]&lei&lWYZW[htm`É AcesoæW[&V_&ÓVÓW
CAMPOSÉRoselanÉFátimaÉ Fazer mais com menos – gestão educacional na perspectiva
da CEPAL e da UNESCOÉANPEDÉÓ^ÉReuniãoÉanualÉDisponívelÉemæÉwwanpedorg
br&reunios&Ó^&textos>V[>V[Ç]V^ÇÇIntrfÉÉAcesoÉemæÉW[&WV&ÓVV[
CHESNAIS, F. A mundialização do Capital.ÉSãoÉPauloæÉXamãÉW__Õ
78
CAPÍTULO 4
Curso de Licenciatura em Pedagogia:
pragmatismo epistemológico e o alinhamento neoliberal
AÉO
NGELIST V ÉÉSÉE
HIROMA ÉOÉ Trabalho e educaçãoæÉcontribuçõesÉdoÉmarxismoÉ
para análise documental. 37ª Reunião Nacional da ANPEd. Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, SC, 2015.
FELIPE, E. da S. Novas Diretrizes para a Formação de ProfessoresæÉcontiudaesÉatuali -
zaçõesÉeÉconfrtsÉdeÉprojetsÉüGTÉV^ÉANPEdÉÓVÓVÉDisponívelÉemæÉh4psæ&&ww
anped org b &news&noavsÇdiret izesÇpar Çformac oÇdeÇprofes oresÇconti u da esÇa -
tualizacoesÇeÇconfrtsÇde`ÉAcesoÉemæÉV]&V_&ÓVÓW
ASÉH
FREIT ÉCÉLÉdeÉAÉreformaÉdoÉEnsioÉSuperioÉnoÉcampoÉdaÉformaçãoÉdosÉproWs -
sionaÉdaÉeducaçãoÉbásicaæÉAsÉpolíticasÉeducaionsÉeÉoÉmovimentÉdosÉeducaoresÉ
Educ. Soc., Campinas, v. 20, n. 68, p.17-43, Dez. 1999.
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teóricosÉInæÉFRIGOTÉGÉCAÉMT A V IA ÉüOrgsÉT eoria e educação no labirinto do
capitalÉZÉedÉSãoÉPauloæÉExpresãoÉPopularÉÓVWÕ
KUENZRÉAÉZÉAsÉpolíticasÉdeÉformaçãoæÉAÉconstiuçãoÉdaÉidentiaÉdoÉprofesÉso -
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_________. I Seminário Regional Sul de Educação Profissional e Tecnológica. 2021.
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MÉRODRIGUESÉMÉdeÉFÉ As diretrizes curriculares para o curso de PedagogiaæÉ
uma expressão da epistemologia da prática. Universidade Federal de Santa Catarina,
CentroÉdeÉEção
duca ÉÓVVÕÉGTÉReformaÉdoÉCursoÉdeÉPedagoiÉDisponívelÉemæÉh4pæ&&
wcedufsbr&na&T
ov extos&Acaihtm`ÉAcesoÉemæÉVÓ&V_&ÓVVÕÉ
MACHDOÉ CÉ LÉ BÉ Desafios presentes na universidadeæÉ doÉ esplhoÉ doÉ pasdoÉ àÉ al -
aÉpterniv arÉoÉfutroÉTesÉüDoutradÉemÉEducaçãoÉ.ÉPUC&RSÉPortÉAlegrÉW__Õ
MARX, K. Manuscritos econômico-filosóficosÉSãoÉPauloæÉBoitempÉÓVVZ
MELOÉAÉAÉSÉdeÉOsÉorganismoÉinteraciosÉnaÉconduçãoÉdeÉumÉnovÉblocÉhistórcoÉ
InæÉNEVSÉLÉMÉWÉüOrgÉ A nova Pedagogia da hegemoniaæÉestraégiasÉdoÉcapitlÉ
parÉeducarÉoÉconseÉSãoÉPauloæÉXamãÉÓVV[
79
PARTE I
O processo de criação e
a1conguração1do1curso
80
P A R T E ÉI I
LANDOÉDF EÉNÓSB
üDOCENTSÉEÉDISCENT
81
CAPÍTULO 5
Narrativas de professoras e a
pedagogia da UFV:
tempos históricos e suas “tatuagens”
Lucíola L. de C. Paixão Santos1
1. Introdução
E
ste trabalho tem por objetivo narrar aspectos da trajetória de formação e a atua-
çãoÉproWsinalÉdasÉautorasÉnoÉCursoÉdeÉPedagoiÉdaÉUersidaÉF
nv edralÉdeÉ
Viçosa (UFV). Lucíola Santos atuou no Curso de Pedagogia como professora, no
período de 1977 a 1992. Alvanize Ferenc cursou Pedagogia no período de 1988 a 1992 e
atua nesse mesmo curso, como professora, desde 1998. Bárbara Giardini cursou graduação
em Pedagogia no período de 2004 a 2007 e atua como professora do referido Curso desde
2019. São professoras que possuem tempos de experiência docente que variam de 10 a
maisÉdeÉZVÉanosÉdeÉproWsãoÉeÉseÉencotramÉemÉdiferntsÉfaseÉnaÉcareiÉdocentÉaÉqualÉ
segundoÉHubermanÉüW__ÓÉpY]ÉseÉcompõeÉporæ
AÉopçãoÉpelaÉescritaÉcaÉdoletiv estÉtextoÉseÉjustiWcaÉpelaÉvivênciaÉdasÉautorasÉdeÉdi -
ferentes momentos do Curso, o que permite compreender um pouco da história do Curso
82
CAPÍTULO 5
Narrativas de professoras e a pedagogia da UFV:
tempos históricos e suas “tatuagens”
de Pedagogia que completou 50 anos, em 2021. Segundo Goodson (1992, p. 71-75), “ouvir
aÉvozÉdoÉprofesÉdeviaÉensiarÇnosÉqueÉoÉautobigráWcoÉaÉvidaÉéÉdeÉgrandeÉintersÉ
quandoÉ osÉ profesÉ falmÉ doÉ seuÉ trablhoBÉ NesÉ sentidoÉ aÉ retomadÉ deÉ nosaÉ vi -
vênciasÉnoÉpercusoÉdeÉformaçãoÉproWsinalÉeÉdeÉatuaçãoÉnoÉCursoÉdeÉPedagoiÉnosÉ
permite entender a história de nosso tempo e evidenciar “a intersecção da história de vida
comÉaÉhistóraÉdaÉsociedaÉB
Para a construção deste artigo, nos pautamos, metodologicamente, na abordagem
deÉ pesquiaÉ aÉqulitv eÉ naÉ utilzaçãoÉ daÉ aÉnrtiv üautoÉ biográWcaÉ aÉ WmÉ deÉ elucidarÉ
elementos das experiências educacionais vividas no Curso de Pedagogia, a partir de me-
mórias individuais/coletivas, utilizando um roteiro de entrevista estruturada como instru-
mento de coleta de dados, respondido por cada uma das professoras.
Éoom C ÉWzeÉFar ÉüW__[Éo
sedna re Épsomatp Éuro Éram Édarutiel Éne Éfas o ção
amro ÉeÉdÉe
Éa
as on ção
aut ÉpÉp
lanois Wor Ér
ar És
riteX Éo
erbo Éc
s Éa
atneuq i Éd
son ÉP
a Éd
aigo ade ÉU
a ÉIVF sn -
pirada na autora, propusemo-nos “a adentrar na memória do vivido, sabendo de nossa ca-
Édeda ic p Ére Éora ob le ÉvÉcodiv Éamo Écs Édsero Ého ÉcBejo Énmo Épsa o çõiso Ésse Épsa vitejbu Ésio
üÉl
A ÉéÉr
ra bme Çfe zea Énr ãoÉrÉÉÉa
re vi Érxão
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otie ÉdÉi
o Én
od ãoÉsÉm
au Ér
are ção
itep ÉüC
B ÍÉW__ZÉp
UAH ÉÓVÉ
Nesse sentido, ao rememorar os fatos vividos, o fazemos a partir de nossas posições atuais.
Assim este texto se encontra organizado em grandes temas afeitos ao Curso de Pe-
dagoiÉüaÉescolhaÉproWsinalÉeÉoÉconcursÉaÉentradÉeÉaÉsuaÉrealidÉaÉatuaçãoÉpro -
WsionalÉoÉperWlÉdosÉestudaneÉoÉperWlÉdeÉformaçãoÉeÉatuaçãoÉproWsinalÉosÉdesaWoÉ
enfrentados; as contribuições; as expectativas e a proposta de revisão das DCNs (2006)
para o Curso de Pedagogia), nos quais as histórias de cada uma das professoras são nar-
radas e analisadas. Iniciamos pela Professora Lucíola, em seguida Alvanize e concluímos
com Bárbara.
ÓÉAÉEscolhaÉproWsinalÉpeloÉCursoÉdeÉPedagoiÉdaÉ
UFV e a inspiração por realizar concurso para docente
deste Curso, nesta Instituição
83
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
decisõÉbemÉcomÉaspectoÉcomunsÉnasÉdiferntsÉtrajetóisæÉquestõÉlocais®ionasÉ
sociais-econômicas, familiares, experiências anteriores de formação e atuação, como rela-
tado nos depoimentos a seguir.
A escolha do curso de Pedagogia ocorreu inicialmente, por ter feito o magistério como
ensino médio. Então, a Pedagogia parecia uma sequência ‘natural’ na trajetória aca-
dêmica. Por outro lado, ao ouvir familiares e amigos, aquele me pareceu o curso no
qual a minha formação anterior me habilitaria para a concorrência no vestibular, me
possibilitaria o acesso ao ensino superior. Seguindo um percurso familiar de mãe e de
tias professoras, me apresentei para o vestibular em Pedagogia, que, à época, era com-
posto por habilitações (Supervisão escolar, Administração escolar e Magistério das
Matérias Pedagógicas). Foi quase uma determinação de classe e de gênero. Mesmo
tendo certo desconhecimento da Universidade Federal de Viçosa (a única informação
que tinha é de que essa era uma universidade de modelo americano), me inscrevi no
vestibular e fui aprovada na primeira tentativa. Meu percurso de escolarização foi
feito todo em escola pública. E essa escola me trouxe até a UFV. Naquele ano de 1988,
que eu saiba, fomos 5 pessoas de minha cidade a ingressar na UFV, sendo 3 na Peda-
gogia, 1 na Matemática e outra na veterinária.
AÉ entradÉ noÉ cursoÉ deÉ edagoiÉP emÉ meioÉ aÉ reXxõesÉ sobreÉ oÉ gostÉ peloÉ cursoÉ
emÉconfrtÉcomÉaÉnecsidaÉdeÉproWsinalzaçãoÉmeÉfezÉcontiuarÉnoÉcursoÉeÉ
construir o gosto pelo campo e pelo investimento em uma trajetória de escolarização
longa, seguindo, logo após a conclusão do curso de graduação, para o mestrado na
Universidade Federal de São Carlos. Esse percurso apresentou-me a possibilidade de
me tornar professora do Ensino Superior. A escolha da UFV se deveu ao fato de a
conhecer, na condição de estudante; de admirar o seu lugar na sociedade mineira e
brasileira, de ser uma instituição referendada socialmente. E, ainda, pelo fato de ter
família residente em uma cidade próxima a Viçosa. Contudo, antes do acesso à UFV,
como professora, passei pela Escola da Educação Básica, atuando como Pedagoga no
contexto escolar (supervisora e orientadora) e pela instituição privada de Ensino Su-
perioÉatuandoÉcomÉprofesaÉdeÉDidáticaÉeÉMetodlgiaÉCientíWcaÉnosÉcursoÉdeÉ
edagoiÉCP omunicaçãoÉSocialÉHistóraÉeÉGeograWÉsicÉüAanizelv
AÉescolhaÉproWsinalÉpeloÉCursoÉdeÉPedagoiÉdaÉUFVÉocoreuÉpeloÉfatoÉdeÉeuÉdes -
jar continuar os meus estudos em nível superior, e ser a UFV a instituição pública mais
próximaÉdeÉminhaÉcidaeÉnatlÉEraÉcomuÉosÉprofesÉdoÉensioÉmédioÉcientíWcoÉ
da escola estadual onde eu estudava, nos trazer à universidade para conhecermos os
cursos de graduação, em eventos promovidos pela Instituição. A escolha pelo Curso
deÉPedagoiÉfoiÉemÉfunçãoÉdaÉminhaÉidentiWcaçãoÉcomÉaÉáreaÉdeÉCiênciasÉHumansÉ
por gostar de ensinar e, pelo fato de que seria a opção mais viável no momento, em
termos de possibilidades de ingresso no ensino superior, considerando que era um
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CAPÍTULO 5
Narrativas de professoras e a pedagogia da UFV:
tempos históricos e suas “tatuagens”
curso com ponto de corte mais baixo e que eu não havia investido em cursinhos pré-
vestibulares para concorrer à seleção.
Desde o meu ingresso no Curso de Pedagogia, eu sonhava em ser professora uni-
versitária na UFV. Eu andava pelo campus, admirava a sua beleza e me imaginava
como professora. Em 2018, surgiu a oportunidade de me inscrever em concurso para
profesÉefetivoÉmeÉinscreviÉWzÉoÉprocesÉseltivoÉfuiÉclasiWcdÉeÉtomeiÉposeÉ
em 2019. Eu já havia atuado como professora substituta no DPE e em outras institui-
ções privadas de ensino superior, possuía experiência docente neste nível, desde 2011.
Soma-se a isto, a possibilidade de estar, de certa forma, próxima à minha família e à
família de meu marido, com distância entre as cidades menor que 100 quilômetros
[sic] (Bárbara).
No que diz respeito à escolha pela graduação em Pedagogia, Saraiva e Ferenc (2010,
p. 9) apontaram, a partir de uma pesquisa com 40 estudantes, que “dentre os motivos re-
laciondsÉàÉescolhaÉosÉmaisÉenfatizadosÉpelosÉdiscentÉforamæÉaÉaWnidaeÉpelaÉáreaÉdeÉ
educaçãoÉeÉaÉfacildeÉdeÉingresoÉnoÉCursoÉdeÉPedagoiBÉcomÉfoiÉoÉcasoÉdeÉAanizelv É
e Bárbara.
Na escolha da carreira, segundo Pimenta (1994), valores sociais, historicamente
construídos, se fazem presentes, corroborando para que muitas mulheres sejam encami-
nhadas a carreiras, que, em um determinado tempo, foram compreendidas como “car-
reiasÉfeminasBÉAsimÉAsubjacentÉàsÉescolhaÉüÉestáÉumÉlongÉprocesÉqueÉlaÉa
ev É
jovem a gostar de carreiras adequadas ao sexo feminino4ÉüBÉ
Em pesquisa desenvolvida por Fernandes (1995), a frequência com que as partici-
pantesÉ daÉpesquiaÉaWrmaÉterÉ sidoÉaÉ opçãoÉpeloÉ CursoÉdeÉPedagoiÉ adÉp
motiv elaÉ
formação em nível médio - o magistério - e respaldada no argumento da necessidade de
aperfeiçoar-se no campo em que já atuavam - professoras nas primeiras séries do ensino
fundamental I -, levou-nos à construção de uma sentença, à época Mulher-Magistério-Pe-
dagogia.
aleÉdV izerÉaindaÉqueÉoÉprocesÉdeÉescolhaÉproWsinalÉseÉencotraÉaesadoÉptrv orÉ
diferntsÉfatoresÉcomÉapontadÉporÉGa4iÉetÉalÉüÓVW_ÉpÉW[WÉtaisÉcomÉAaÉsuaÉposiçãoÉnaÉ
constelação familiar e a sua história de vida se entremeiam com as expectativas e valores
culturais dos grupos sociais a que pertencem, com o contexto educacional com que se de-
frontamÉeÉcomÉasÉinXuênciasÉmaisÉabrangetsÉdoÉcenárioÉsocialÉemÉqueÉestãoÉinseridoB
4 Cabe dizer que não defendemos posições que consideram a existência de carreiras adequadas ao feminino.
Apenas trouxemos a compreensão de um contexto histórico, em que a docência estava muito relacionada a
valores considerados maternos, afinando a uma dimensão do cuidado.
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PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
OÉqueÉguardoÉmaisÉnitdamenÉnaÉmemóriaÉéÉaÉimageÉdeÉumaÉsalÉcomÉumaÉmeiaÉ
dúzia de mesas onde trabalhavam todos os professores do DPE. D. Mariinha era a
chefe do departamento. Ela, com alguns professores do curso de Economia Domés-
tica foram designados para estruturarem o novo Departamento. Pertencia ao DPE,
alémÉdeÉDÉMarinhÉGuyÉCapdevilÉPadreÉMendsÉAnaÉMariÉAbouÇidÉeÉOlindaÉ
Noronha e Marta que ingressaram também perto da época que tomei posse do cargo
(julho de 1977). Essas duas tinham acabado de concluir o mestrado na FGV. Veja que
começavam a buscar pessoas com um melhor nível de formação acadêmica.
Gostaria de deixar registrado que a UFV, quando nela ingressei, era uma instituição
muitoÉcadorÉensev ÉbastneÉalinhadÉcomÉoÉregimÉpolíticoÉdoÉpaísÉEuÉqueÉWzeraÉ
o curso de jornalismo na UFMG, na segunda metade da década de 1960 e que fora mi-
litaneÉdoÉmovimentÉestudanilÉWaÉmcv uitoÉpoucÉconfrtávelÉemÉumaÉinstiuçãoÉ
queÉcaÉtomprtilhv ãoÉWelmntÉaÉideolgiaÉdosÉmiltaresÉsicÉüLucíola
EuÉingresiÉnoÉcursoÉdeÉPedagoiÉemÉW_^^ÉTraziaÉcomigÉumaÉreprsntaçãoÉumaÉ
imagem e expectativa sobre Universidade Pública e o Ensino Superior muito ampli-
WcadÉAaÉq creditv ueÉnoÉEnsioÉSuperioÉseÉtaÉc
rblhv omÉcentosÉm
hcim uitoÉ
soWticadÉabstraoÉoÉqueÉnosÉexigiraÉcompetênciasÉhabildesÉdiscplnaÉeÉdedi -
cação imensamente superiores ao ensino médio. Eu me deparei com professores com
formação em nível de mestrado e doutorado, cursados em universidades públicas
deÉrênefr ciaÉcomÉaÉUnicampÉaÉUFSCarÉeÉaÉPUCÉRioÉTudoÉisoÉraÉu eprsntv mÉ
conteamÉeÉaoÉmesmoÉtempoÉumÉdesaWoÉumaÉexpaÉd ectiv eÉiestimnoÉE
v É
sóÉcaÉaonWrmv sÉminhasÉexpasÉEectiv seÉprofesÉnosÉfamÉdlv eÉautoresÉantesÉ
desconhiÉnoÉcampoÉdaÉFilosWaÉüaÉlógicaÉAristoélicaÉaÉmaiêuticaÉSocráticaÉdoÉ
campo da Sociologia (a Reprodução em Bourdieu; Althusser, Baudelot, Establet), da
PsicolgaÉüPiagetÉVygotskyÉLuriaÉLeontivÉdaÉEducaçãoÉdaÉDidáticaÉdoÉCurículoÉ
üSavinÉLibâneoÉMagdÉSoaresÉTomazÉTadeuÉdaÉSaÉAilv ntôioÉFlávioÉBarbosÉEglêÉ
Franchi) e tantos e inúmeros mais. A cada dia o gosto por estudar os conteúdos do
curso de Pedagogia só aumentava. E os professores nos inspiraram a buscar, a sonhar
comÉ umaÉ educaçãoÉ públicaÉ deÉ qualideÉ aÉ terÉ AUtopiasBÉ aÉ lerÉ ThomasÉ MoreÉ porÉ
exemploÉHaviÉumaÉgrandeÉalegriaÉpeloÉconhecimtÉAÉdiWculdaeÉdeÉmeÉmanterÉ
na UFV, se dissipava frente às possibilidades de estar em uma universidade linda, que
inspirava. Inicialmente comecei a trabalhar no restaurante universitário para conse-
guir a alimentação. Então consegui a bolsa integral, que incluía alimentação e mora-
diaÉEÉaindaÉaÉUFVÉoferciaÉestágioÉemÉprojetsÉdeÉextensãoæÉoÉGilbertoÉMeloÉTrab -
lhávamos em escolas públicas, das cidades circunvizinhas, com acompanhamentos de
estudantes, elaboração de projetos etc. Quando retornávamos à UFV e o restaurante
estava fechado, recebíamos um recurso para que pudéssemos almoçar. Já no segun-
doÉanoÉdoÉcursoÉfuiÉcontempladÉcomÉumÉbolsaÉdeÉInicaçãoÉcientíWcaÉtendoÉcomÉ
orientadÉaÉprofesaÉLucíolaÉSantosÉAÉInicaçãoÉcientíWcaÉfoiÉumÉdivsorÉdeÉáguasÉ
na minha formação acadêmica; potencializou-a. Pela primeira vez no DPE havia um
grupoÉdeÉestudaneÉbolsitaÉdeÉInicaçãoÉCientíWcaÉcomÉWnacimetosÉdoÉCNPqÉ
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CAPÍTULO 5
Narrativas de professoras e a pedagogia da UFV:
tempos históricos e suas “tatuagens”
por exemplo, com uma sala, no próprio departamento, para todos esses estudantes
se dedicarem à pesquisa. Ainda não existia a Biblioteca Setorial, nem computadores
parÉosÉestudaneÉEramÉleiturasÉeÉelaborçãoÉdeÉregistroÉmanuisÉemÉWchasÉemÉ
cadernos, etc.; confecção de quadros e tabelas, com os dados de pesquisa, todos à
mãoÉOsÉprofesÉdoÉDPEÉqueÉoamÉacupv penasÉoÉsegundoÉandarÉdoÉprédioÉatualÉ
dividiam as suas salas. Esse andar tinha ainda um número de salas ocupadas pela
BiolgaÉAsÉ salÉ eramÉ bemÉ simpleæÉ umaÉ anihÉescrv comÉ cadeirÉ eÉ umaÉ estanÉ
para cada professor [sic] (Alvanize).
OÉingresoÉnoÉCursoÉdeÉPedagoiÉmeÉtrouxeÉumÉmistoÉdeÉalegriaÉeÉpreocupaçãoÉEuÉ
haviÉconseguidÉoÉacesoÉaoÉensioÉsuperioÉmasÉnãoÉtinhaÉcondiçõesÉWnaceirsÉ
parÉpermanênciaÉLogÉlogÉfuiÉbenWciadÉcomÉbolsaÉdeÉalimentaçãoÉeÉmoradiÉeÉ
a política de assistência estudantil da UFV me permitiu continuar e concluir os meus
estudos. A bolsa de alimentação era uma espécie de bolsa trabalho, onde era neces-
sária a dedicação de 10 horas semanais de apoio à alguma atividade na UFV. A coor-
denadora da Pedagogia na época, professora Marilene, me convidou para realizar
minhas atividades na Coordenação do Curso e eu ajudava a secretária naquilo que era
possível e isso me fez ter uma vivência mais intensa no Departamento de Educação.
Em termos de estrutura, o DPE contava com uma ala (2º andar) e meia (3º andar) do
prédio. Atualmente, as duas alas pertencem ao DPE. Lembro-me que a cozinha, secre-
tariÉeÉbiblotecaÉsetorialÉteramÉmiv elhoriasÉsasÉaignWctv oÉlongÉdoÉmeuÉperíodoÉdeÉ
graduação. Lembro-me também de uma pequena e modesta sala com computadores e
acesso à internet, disponível para estudantes, depois esta sala deixou de existir porque
foi construído um laboratório de informática do CCH, mais amplo e moderno.
Em 2009, eu ingressei no Mestrado em Educação. Como fui da primeira turma, não
havia uma estrutura própria para a pós-graduação. A minha turma tinha aulas no
Laboratório de Ciências do DPE. Aos poucos, a estrutura (sala de aula, sala de defesa,
sala da coordenação, secretaria) foi sendo criada no 3º andar.
Como professora, eu utilizo o PVA e o PVB para as aulas de graduação, assim como
na minha época de estudante e em termos de estrutura, isso pouco se alterou. Para o
exercício das minhas atividades docentes, divido sala com um colega professor, no
DPE, mas, há uma proposta de que cada docente tenha o seu gabinete de trabalho
individual [sic] (Bárbara).
87
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
ZÉAÉatuaçãoÉpnalÉnroWsi aÉUFVæÉasÉativdaesÉdeÉensioÉ
pesquisa, extensão e gestão
AbordaemsÉbemntÉa
rv spectoÉdaÉnosaÉatuaçãoÉproWsinalÉnaÉUÉc
FV onsi -
derando as atividades de ensino-pesquisa-extensão que sustentam o tripé da universidade,
bem como as atividades de gestão que são assumidas pelos docentes, em diversas funções
na UFV.
Logo depois de contratada como professora do DPE, saí para realizar o mestrado. Fui
liberada, ainda em estágio probatório, porque meu marido iria sair para fazer o mes-
trado e tive licença para acompanhá-lo. Como meu marido foi selecionado para fazer
o mestrado em São Carlos, na UFSCar, prestei exame para o mestrado em educação
daquela instituição. Foi uma decisão prática que se mostrou super acertada. Conside-
roÉoÉmestradoÉqueÉWzÉnaÉUFSCarÉumaÉdasÉmelhorsÉfaseÉdeÉminhaÉvidaÉemÉtermosÉ
acdêmicosÉTeÉeiv xcelntsÉprofesÉliÉeÉestudeiÉmuitoÉeÉteÉaiv ÉfelicdaÉdeÉestarÉ
em uma universidade de rica atmosfera política e cultural, onde havia grandes movi-
mentos de contestação ao regime militar.
As disciplinas que lecionei foram várias, desde Sociologia da Educação até Metodo-
logia de Português. Lecionava o que me solicitavam e como tinha uma formação de
mais amplo espectro, terminei lecionando diversas disciplinas.
Quando voltei do doutorado, apliquei e fui contemplada com uma bolsa de pesquisa
do CNPq, para uma pesquisa no campo do currículo e assim passei a ter uma quota de
bolsitaÉparÉesaÉpesquiaÉNesaÉpesquiaÉtrablhmÉAanizelv ÉeÉMarlucyÉTeÉiv
ainda outras bolsistas de pesquisa como parte de um projeto sobre alfabetização e
um grupo maior ainda de bolsistas de pesquisa e extensão que trabalhavam em um
projeto de pesquisa-intervenção no curso de Educação de Adultos, ministrado aos
funcionários da UFV. Nessa pesquisa, trabalharam Heloísa (hoje professora do curso
de Pedagogia do DPE) e outras estudantes. Consegui também bolsas institucionais do
CNPq para esse último projeto, além das bolsas de extensão.
Considero que o trabalho com as bolsistas de pesquisa e extensão teve como maior
resultado o despertar do interesse desses estudantes pelo campo acadêmico. Muitos/
muitasÉWzeramÉcursoÉdeÉpósÇgraduçãoÉeÉvários&váriasÉsãoÉprofesÉdeÉuersinv -
dade, onde trilham carreiras de sucesso [sic] (Lucíola).
Inicio a minha atuação como professora no DPE/UFV em 1998, 10 anos depois de ter
entrado na UFV na condição de estudante. À minha época, o concurso para professora
foraÉ abertoÉ parÉ mestrÉ EuÉ haviÉ conluídoÉ oÉ mestradoÉ noÉ WnalÉ deÉ W__[É EÉ desÉ
1996 eu trabalhava como pedagoga concursada da rede pública municipal de Betim e
comÉprofesaÉdeÉEnsioÉSuperioÉnoÉInstiuoÉCultraÉNewtonÉPaÉAiv indaÉqueÉ
euÉgostaeÉdoÉtrablhoÉnasÉduasÉinstiuçõesÉoÉdesaWoÉdeÉtrablhÉemÉduasÉcidaesÉ
(Betim e Belo Horizonte), de me movimentar por uma rodovia perigosa todos os dias,
gerava um grande cansaço e desgaste. E eu sentia muita falta de estudar. Buscava um
lugar em que eu pudesse me dedicar à pesquisa e não apenas ao ensino. Assim vi no
concurso da UFV essa oportunidade. A entrada na UFV foi feita com muito conten-
tamento. Retornar à instituição em que fora estudante, agora como professora, me
enchuÉdeÉsatisfçãoÉdeÉexpasÉO ectiv sÉprofesÉdoÉDPEÉemÉsuaÉmaiorÉeramÉ
novos para mim. Poucos daqueles meus professores se encontravam na instituição.
ElesÉhavimÉseÉaposentadÉnosÉanosÉdeÉW__VÉOÉDepartmnoÉaaÉa presntv lgumasÉ
mudançasÉ bastneÉ asæÉ
ignWctv umÉ planoÉ deÉ capitçãoÉ visandoÉ aÉ formaçãoÉ deÉ
doutores; curso de pós-graduação Lato Sensu, maior número de bolsas de iniciação
88
CAPÍTULO 5
Narrativas de professoras e a pedagogia da UFV:
tempos históricos e suas “tatuagens”
cientíWcaÉprofesÉemÉcursoÉdeÉdoutradÉsalsÉdeÉprofesÉaindaÉqueÉsendoÉ
divididas entre 2 professores, com um computador. Havia uma impressora para to-
dosÉosÉprofesÉdoÉDPEÉElaÉWaÉn cv aÉsecrtaiÉdaÉgraduçãoÉLogÉqueÉcheguiÉ
fui muito acolhida pelos professores, principalmente por alguns mais antigos, como
as professoras Rita Alencar e Maria Carmem. Logo me envolvi em projetos de pesqui-
sa, em orientações de pós-graduação Lato Sensu. Submeti no ano em que ingressei,
umÉprojetÉdeÉpesquiaÉaoÉCNPqÉtendoÉsidoÉaadoÉc prv omÉumaÉbolsaÉTeÉc
iv omÉ
primeaÉbolsitaÉaÉestudaneÉMariÉAliceÉTaresÉRv iberoÉEÉaÉpartiÉdaíÉoÉespaçoÉdaÉ
pesquisa foi se descortinando. Atuei em comissões de ensino e pesquisa; na comis-
são coordenadora do curso de Pedagogia, na Comissão Permanente de Avaliação de
discplnaÉdaÉUFVüCADÉsOP endoÉnomeadÉparÉcomprÉaÉcomisãoÉdeÉelaborçãoÉ
do projeto de avaliação de disciplinas da UFV; a Comissão Permanente de Vestibular
üCOPEVÉaÉcomisãoÉdeÉelaborçãoÉdoÉprojetÉdeÉformaçãoÉeÉdeÉdesnvolimtÉ
de professores da UFV. Esse projeto foi contemplado com recurso do REUNI. Fiz par-
te da comissão de pesquisa do DPE, seja como membro ou presidente. Fiz parte, desde
a criação do mestrado, da comissão coordenadora do curso, sendo atualmente a sua
cordenaÉTeÉp iv rojetsÉaadosÉp
prv elaÉFAPEMIGÉcomÉWnacimetoÉalémÉdaÉ
bolsaÉFuiÉTutoraÉdoÉGrupoÉPetÉEducaçãoÉ
Como fui concursada para a área denominada Avaliação e Pesquisa Educacional,
assumi disciplinas de Avaliação em Educação (antigas medidas educacionais) e de
Metodologia da Pesquisa em Educação (antigas Metodologia da Pesquisa Pedagógica
I e II). Posteriormente, essa área sofreu mudanças, sendo que algumas de suas disci-
plinas passaram a compor a área de Fundamentos da Educação. Além das disciplinas
citadsÉtrablheiÉcomÉasÉdiscplnaÉEconmiaÉdaÉEducaçãoÉFilosWaÉSocilgaÉdaÉ
EducaçãoÉEducaçãoÉeÉRealidÉBrasileÉPráticaÉdeÉFormaçãoÉAcadêmicaÉTrablhoÉ
deÉConclusãoÉdeÉCursoÉeÉMetodlgiaÉCientíWcaÉsicÉüAanizelv
89
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
gestão, planejamento e avaliação não ocorre da mesma forma quando se analisa professo-
res de universidades, centros universitários, faculdades e de instituições públicas e priva-
das. No que se refere à atuação das professoras do Curso de Pedagogia da UFV, observa-se
que há o envolvimento de Lucíola, Alvanize e Bárbara em todas estas atividades.
[ÉOÉperWlÉdosüdasÉestudaneÉdoÉCursoÉdeÉPedagoi
arÉfP alrmosÉdoÉperWlÉdosüdasÉestudaneÉdaÉPedagoiÉreXtimosÉsobreÉcarcte -
rísticas de gênero, cidades/regiões provenientes, questões socioeconômicas e condições de
estudo, como relatado a seguir.
OÉ cursoÉ nosÉ primeosÉ anosÉ sóÉ aÉfunciov àÉ noiteÉ permitndoÉ queÉ osÉ estudanÉ
trabalhassem de dia. Grande parte dos estudantes, a maioria, era egressa do curso
normal e lecionava durante o dia. Eram estudantes, a maioria mulheres, que moravam
em Paula Cândido, Ervália, Coimbra, Araponga, Ponte Nova, Goiabal, São Miguel do
AntaÉSãoÉGeraldoÉPedraÉdoÉAntaÉPortÉFirmeÉTeixeirasÉeÉUbáÉEramÉalunosÉqueÉvi -
nham em vans e micro-ônibus e retornavam às suas cidades após as aulas. Havia um
grupo menor de alunas/alunos que morava em Viçosa em repúblicas ou no alojamen-
to da universidade. Esse grupo tinha pessoas de Viçosa e de outras cidades mais dis-
tantes. Nesse último grupo, os estudantes geralmente não trabalhavam [sic] (Lucíola).
“No ano de 1988 ingressaram no curso de Pedagogia, por meio do vestibular, cinquen-
taÉalunosÉEsteÉgrupoÉdoÉqualÉeuÉfaziaÉparteÉeraÉbastneÉdersiWcadoæÉs
v ujeitosÉcomÉ
eÉsemÉexperiênciaÉnoÉmagistérioÉsujeitosÉqueÉWzeramÉoÉÓ7ÉgrauÉatualÉensioÉmédioÉ
em diferentes áreas, sendo a maioria no magistério; sujeitos que estavam atuando
nas escolas de 1º grau [atual ensino fundamental I] de Viçosa e região; sujeitos que
exerciamÉ ativdesÉ emÉ outrsÉ setorBÉ üFERNADSÉ W__[É EseÉ estudanÉ
eram preponderantemente de cidades de Minas Gerais, mas havia, também, estudan-
tes provenientes da Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro. Com a mudança das formas de
acesoÉaoÉensioÉsuperioÉemÉÓVWVÉporÉmeioÉdoÉSistemaÉdeÉSelçãoÉUniWcadÉüSiSUÉ
criado pelo Ministério da Educação (MEC), ampliou-se a possibilidade de acesso de
estudantes de diferentes regiões do país [sic] (Alvanize).
esquiaÉaP ceraÉdoÉperWlÉdosÉestudaneÉdasÉlicenatursÉdeÉmodÉgeralÉeÉdaÉPe -
dagoiÉemÉespecíWcoÉapontaÉparÉaÉpredominânciaÉfeminaÉnestÉcursoÉAlémÉdisoÉ
os estudantes, na sua maioria, são provenientes de famílias de classes baixas, com recebi-
90
CAPÍTULO 5
Narrativas de professoras e a pedagogia da UFV:
tempos históricos e suas “tatuagens”
ÕÉPerWlÉdeÉFormaçãoÉeÉAtuaçãoÉProWsinalÉnoÉCursoÉdeÉ
Pedagogia da UFV
NaÉdiscuãoÉsobreÉcursoÉdeÉformaçãoÉdeÉnívelÉsuperioÉéÉpertinÉindagrmosæÉ
quem é o egresso desse Curso? Qual o seu campo de atuação? Por isso, nos debruçamos a
pensarÉsobreÉqualÉera&éÉoÉperWlÉdeÉformaçãoÉdoÉpedagoÉdaÉUFVÉeÉquaisÉeram&sãoÉasÉsuasÉ
posibldaeÉdeÉatuaçãoÉproWsinal
OÉcursoÉfaÉmormv ajoritmenÉparÉsupervisoÉdeÉescolaÉsobretudÉdoÉensioÉ
fundamental. Havia habilitação em administração, mas essa não garantia o cargo, que
já foi uma escolha política e mais tarde um cargo preenchido por eleição [sic] (Lucío-
la).
AÉquestãoÉdoÉperWlÉdoÉpedagoÉeÉasÉposibldaeÉdeÉsuaÉatuaçãoÉproWsinalÉfoiÉ
discutaÉ noÉ meuÉ trablhoÉ mongráWcoÉ intuladoÉ ADiretzesÉ CuriclaesÉ Nacio -
naisæÉoÉprocesÉdeÉreformulaçãoÉdoÉCursoÉdeÉPedagoiÉdaÉUFVBÉüÓVV]ÉNasÉcon -
clusõeÉaponteiÉqueæÉiÉoÉperWlÉdoÉpedagoÉdeWnidoÉpelasÉDCNsÉéÉdoÉprofesÉdaÉ
educação infantil, anos iniciais do ensino fundamental, ensino médio na modalidade
normalÉeÉdoÉproWsinalÉcomÉconhecimtsÉpedagóicosÉqueÉpodeÉatuarÉemÉoutrasÉ
atividades que demandam este tipo de conhecimento; ii) mesmo com a aprovação das
DCNsÉoÉcampoÉdeÉatuaçãoÉdoÉpedagoÉnãoÉWcouÉclarmentÉdeWnidoÉoÉqueÉacar -
91
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
aÉo
retv pinõesÉdergntsÉa
iv ceraÉdeÉseuÉmercadoÉdeÉtrablhoÉiiÉespeciWamntÉ
sobre o Curso de Pedagogia da UFV, a opção foi pela docência, pesquisa e gestão,
conforme preconizado nas DCNs [sic] (Bárbara).
OÉperWlÉeÉcompetênciasÉpnaisÉd
roW oÉlicenadoÉemÉPedagoi&UFVÉestáÉdeWni -
do no atual Projeto Pedagógico de Curso (2020, p. 19) como aquele que está “apto a atuar
na docência da Educação Infantil, nos anos iniciais do Ensino Fundamental e na gestão dos
procesÉeducativosÉescolareÉeÉnãoÉescolareB
amÇsObserv eÉalteraçõesÉrasÉaeltiv oÉperWlÉeÉàÉatuaçãoÉplÉa
roWsina oÉlongÉdaÉtra -
jetória histórica do Curso de Pedagogia. “Seu formato assumiu diversas faces e sua iden-
tidaeÉveioÉaÉseÉmostraÉaÉpartiÉdosÉanosÉsesntaÉdoÉséculoÉpasdoÉumÉtantoÉambíguaBÉ
üGTIÉeA tÉalÉpÉÓ]ÉNotaÇseÉnoÉdepoimntÉdeÉLucíolaÉasÉcarcteísticasÉdeÉumÉcursoÉdeÉ
bachreldoÉNoÉrelatoÉdaÉAanizelv ÉaÉexistênciaÉdasÉlicenatursÉcurtaÉeÉplenaÉOÉrelatoÉdeÉ
BárbarÉdemonstraÉaÉdeWniçãoÉdeÉumÉcursoÉdeÉlicenaturÉaÉpartiÉdasÉDCNsÉüÓVVÕÉqueÉ
inclusive, extingue as antigas habilitações. No entanto, “se a identidade desse Curso já era
questionada anteriormente, essas Diretrizes contribuíram para que os questionamentos
contiuasemBÉüGTIÉeA tÉalÉpÉÓ^ÇÓ_ÉumaÉvezÉqueÉAaÉquestãoÉformaÉprofesÉparÉosÉ
primeiros anos da educação básica, ou formar um pedagogo de modo geral, ainda perma-
necBÉüGTIÉeA tÉalÉpÉÓ_
]ÉDesaWoÉenfretadosÉpeloÉCursoÉdeÉPedagoiÉdaÉUFV
OÉcursoÉdeÉPedagoiÉdaÉUFVÉnaquelÉperíodoÉtinhaÉaÉgrandeÉvantgemÉdeÉterÉprofes -
sores com experiência no ensino fundamental, ao lado de um grupo de ex-padres com
umaÉboaÉformaçãoÉhumanísticaÉTezÉu alv mÉgrandeÉdesaWoÉqueÉoÉcursoÉdeÉPedagoiÉ
tinha naquela época se ligava ao fato de ser um curso noturno, que reduzia as possi-
bilidades da vivência universitária, com a participação dos estudantes nos diferentes
espaços da instituição e de uma convivência mais próxima com colegas de diferentes
cursos, exceto para os estudantes que moravam no alojamento da universidade [sic]
(Lucíola).
AÉPedagoiÉveÉd iv esaWoÉdeÉdiferntsÉnaturezasÉUmÉdesÉdesaWoÉdizÉrespitoÉ
aÉsuaÉidentiaÉhistorcamenÉconstiuídaæÉAaÉidentiaÉaalentBÉAmbiv edagoÉP
EspecialtæÉIdentiaÉTecnistaBÉAedagoÉd P eÉidentiaÉcadæÉp onseu rofes -
sorÇpesquiadorÇgestorBÉüBRZEINSKÉÓVWWÉComÉtodÉoÉmovimentÉhistórcoÉaW -
nadoÉàsÉdemandsÉsociasÉoÉproWsinalÉveÉu iv maÉidentiaÉconWguradÉgestadÉ
92
CAPÍTULO 5
Narrativas de professoras e a pedagogia da UFV:
tempos históricos e suas “tatuagens”
VouÉmeÉrefriÉaÉumÉdesaWoÉqueÉacompanheiÉmaisÉdeÉpertoÉqueÉdizÉrespitoÉaoÉpro -
cesso de reformulação do Curso de Pedagogia da UFV, a partir da promulgação das
Diretrizes Curriculares Nacionais, em 2006. Era necessário repensar a estrutura do
curso e dialogar com as diferentes concepções dos professores e estudantes, para se
chegar a um novo projeto pedagógico e matriz curricular. Inclusive, o tema me des-
pertou tamanha atenção que se tornou objeto de estudo no meu trabalho de conclusão
deÉcursoÉAtualmenÉesteÉtambémÉéÉumÉdesaWoÉvenciadoÉpv eloÉCursoÉdeÉPedagoiÉ
no contexto nacional, uma vez que se propõe novas diretrizes e, estas são contrárias
à luta histórica dos educadores em termos da formação que se almeja para o Curso
[sic] (Bárbara).
De modo geral, no que diz respeito aos cursos de formação inicial de professores,
contiuaÉsendoÉumÉdesaWoÉnoÉcontextoÉdosÉcursoÉdeÉlicenaturÉdesnharÉumÉcur -
rículo formativo, que contemple, de forma equilibrada e coesa, as dimensões política,
ética, humana, estética, técnica e cultural. E, ainda, que prepare o futuro professor
para o exercício da docência em contextos favorecidos, ou não, visando a atender à
diversidade de necessidades de todos os alunos e, assim, promover uma educação
aÉüG inclusv TIÉeA tÉalÉÓVW_ÉpÉWW]
Ga4iÉüÓVW_ÉpWW]ÉelucidaÉosÉdesaWoÉaoÉdesnhoÉdeÉumÉcurículoÉAoÉoarÉa
bsev sÉ
narrativas, vimos que a falta de vivência universitária, o que corrobora a constituição de
umÉcapitlÉcultraÉpelosÉestudaneÉasimÉcomÉcontribuÉparÉaWliaçãoÉestudanilÉmaisÉ
rápida são explicitados. Em seguida, vimos a indicação de uma identidade marcada por
movientsÉhistórcoÉdeÉmudançasÉmasÉaindaÉnãoÉconWguradsÉhajÉvistaÉosÉdebatsÉ
atuais e os embates entre projetos advindos da sociedade, fruto de lutas históricas e os pro-
jetos gestados no seio de políticas de governo, com pouca aderência a um projeto de forma-
çãoÉmaisÉcríticoÉeÉreXxivoÉpendoÉparÉumaÉformaçãoÉaligeradÉeÉcomÉviésÉpraticsÉ
ADentrÉosÉcursoÉdeÉlicenaturÉosÉqueÉmaisÉtêmÉcrescidoÉsãoÉosÉdeÉPedagoiBÉeÉ
estes últimos, “iniciam o século com alto percentual de matrículas no setor privado (67,6%),
chegam em 2016 com 81,4%. Em 2016, mais da metade dos alunos da Pedagogia frequen-
93
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
tamÉcursoÉEaDÉnasÉinstiuçõesÉpadsÉü[Óm
riv BÉüGTIÉeA tÉalÉÓVW_ÉpÉYV[ÉAÉrealidÉ
doÉCursoÉdeÉPedagoiÉnoÉBrasilÉnosÉlaÉa
ev ÉreXtirÉsobreÉasÉcontribuçõesÉqueÉoÉCursoÉdaÉ
UFV oferece para a formação de professores e, consequentemente, para a educação básica.
No meu tempo, sobretudo no início dos anos 1990, o DPE colaborou muito com a
superintendência de Ponte Nova e com as Secretarias de Educação dos municípios
vizinhos promovendo cursos e atividades de formação em serviço [sic] (Lucíola).
ÉÉp
A ívs o Émle Étsa émbma ÉuÉnetn gr Éco xtetno Éao Éqlaut ÉmracWilau Éarohle Éfs çõamro Ése
Éssetn cod Éa
aje ÉiÉn
laic n Ég
sa çõaud r Éo
se Éa
u Éc
s Ép
sad unit o Éo
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s Ée
sero sefor Ée
m xeíccr ÉBoi
üGÉeIT A Éat ÉÓVW_Ép
l ÉYVZÉHáÉuÉvam Édeda ira Éae çõÉdse Épe Édsam rgo Épe Éfsotej r itamro -
Énsov Éco xtetno Édo Éusa ÉTseda isre zÉo
vin la ÉmÉdroia ÉsoWase Éeaje Éurec l bats Édm áli Écog Éamo És
instituições de educação básica, em que se encontram professores cujas formações advêm de
instituições, muitas delas, com qualidade questionada. As universidades ainda representam
çoapse Ébs Élme Épsodatim Éoar ÉaÉdos ec Éue Émm Énroia úmÉdore Épe ÉVsiano s Wor árÉmsoi nemivo -
Édsot Éae ção
ailpm ÉjáÉfÉfmaro ÉNsotie Émes Énotnemo Éeso Éesomartnoc Épm Édos ecor Ére xouXe É
94
CAPÍTULO 5
Narrativas de professoras e a pedagogia da UFV:
tempos históricos e suas “tatuagens”
Julgo que o curso de Pedagogia deva ter repercussão positiva no seu entorno, ajudan-
do as escolas e professoras da microrregião a melhorarem as condições de ensino,
reduzindoÉaÉinXuênciaÉdosÉfatoresÉintraescolÉqueÉatuamÉnamentÉngiv oÉdesm -
penho dos alunos [sic] (Lucíola).
Penso que é preciso, de fato, aproximar mais o ensino superior da educação básica, a
formação do professor de seu lócus de atuação, uma vez que a escola também é um
importaneÉlocalÉdeÉformaçãoÉOsÉdiálogsÉentreÉosÉprofesÉdoÉensioÉsuperioÉeÉ
da educação básica podem contribuir para uma sólida formação docente e para uma
prática pedagógica de qualidade [sic] (Bárbara).
5 Resolução CNE/CP 2/2019 que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Pro-
fessores para a Educação Básica e institui a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da
Educação Básica (BNC-Formação).
6 Resolução CNE/CP 1/2020 que dispõe sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Continuada
de Professores da Educação Básica e institui a Base Nacional Comum para a Formação Continuada de Professo-
res da Educação Básica (BNC-Formação Continuada).
95
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
Como me aposentei em 2014, conheço pouco da legislação atual, mas sou profun-
damentÉ desconWaÉ deÉ tudoÉ queÉ éÉ produzidoÉ noÉ atulÉ ernoÉgv umaÉ ezÉ
v queÉ oÉ
Ministério e os principais postos de liderança dos órgãos governamentais encarrega-
dos de assuntos educacionais estão sendo ocupados por pessoas que além da pouca
experiência no campo educacional compartilham uma visão atrasada da educação
eÉ deÉ suaÉ WnalidesÉ ensamÉP naÉ educaçãoÉ aÉ partiÉ deÉ umÉ viésÉ icstaÉeonm eÉ nãoÉ
compreendem que a educação é um processo de formação humana voltado para os
interesses sociais de criação de um mundo mais fraterno e mais justo.
OÉcursoÉdeÉPedagoiÉasumiÉmuitasÉresponabildÉConsiderÉqueÉaÉpartiÉdeÉ
uma formação básica comum, o curso deveria proporcionar pelo menos três trajetó-
rias – o do generalista em educação (o pedagogo propriamente dito), o professor das
séries iniciais e o professor da educação infantil [sic] (Lucíola).
emosÉu
ivV mÉpercusoÉhistórcoÉextremantÉdesaWntÉAtéÉbemÉpoucÉtempoÉpa -
recia que estávamos em uma situação de letargia, vendo os avanços dos ataques à
educação pública e à universidade pública sem nos movermos, mas isso não é verda-
de. Com todos os retrocessos representados pelas políticas dos últimos 4 anos, desde
oÉ golpeÉ emÉ queÉ culminoÉ comÉ aÉ saídaÉ daÉ presidntaÉ DilmaÉ RouseYÉ aÉ sociedaÉ
acadêmica tem sido aguerrida. Há muitas perdas, mas as lutas existem. É um tempo
que nos exige reinvenções cotidianas, o que, muitas vezes, exaurem as nossas forças.
Como nos diz Drummond “Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taci-
turnosÉmasÉnutremÉgrandesÉesperançasBÉsicÉüAanizelv
OÉ queÉ temosÉ adoÉbserv éÉ oÉ nteÉdsmo daÉ políticaÉ deÉ formaçãoÉ deÉ profesÉ queÉ
contraria as reivindicações e proposições que instituições, entidades e associações vêm
construindo, historicamente, em um movimento que se preocupa com uma formação
ampla, sólida e crítica. A BNC-Formação Inicial/Continuada e a proposta de reformu-
lação dos cursos de Pedagogia, traduzem elementos das políticas atuais, com forte
alinhamento entre formação, currículo e avaliação e consequente responsabilização
docente. As normativas em questão levam a uma perspectiva desanimadora da forma-
ção, portanto, meu desejo é que o movimento dos educadores consiga derrubar tais
normativas. Uma primeira vitória foi a prorrogação do prazo para a adequação dos
cursos à Resolução 2/2019. Que venham outras conquistas e um cenário político mais
favorável à formação de professores. Assim, no que diz respeito à proposta de revisão
das DCNs da Pedagogia, o meu desejo é que a proposta em discussão não avance, não
seja aprovada, não se efetive, uma vez que temos visto a mobilização das universida-
des em defesa dos cursos de Pedagogia, posicionando-se contrárias a esta proposta
que fragiliza e fragmenta a formação docente [sic] (Bárbara).
7 https://formacaoprofessor.com/author/helenafreitas/page/2/.
96
CAPÍTULO 5
Narrativas de professoras e a pedagogia da UFV:
tempos históricos e suas “tatuagens”
WWÉConsideraçõesÉWnais
OÉmovimentÉqueÉnosÉpropusemÉaÉfazerÉvaÉoisv lharÉparÉoÉCursoÉdeÉPedagoiÉ
com o qual nos relacionamos na condição de estudante e de professor, em uma perspectiva
aÉe
nrtiv ÉreXxiaÉM
v ergulhamosÉemÉnosaÉhistóraÉdeÉvidaÉhistóraÉdeÉvidaÉtópicaÉ
porque delimitamos um espaço de observação - as trajetórias de formação e de experiência
proWsinalÉÇÉparÉextraiÉdelasÉsentidosÉeÉsignWcadosÉatribuídosÉemÉumaÉdimensãoÉpes -
soal e coletiva, percorrendo os anos de 1977 a 2021. Então, nesses 44 anos em que estamos
nesse Curso, também o compusemos. Não fomos observadoras desse Curso, mas estive-
mos mergulhadas nele, nos imbricamos com ele. Então, quais são nossas aprendizagens
nesse percurso?
Aprendemos em um Curso em movimento, que lutou arduamente para que a socie-
daeÉosÉintelcuaisÉWzesemÉparteÉdeÉsuaÉconstruçãoÉdeÉformaÉdemocráticaÉdialogdÉ
referendada em um saber historicamente construído. No momento, vivemos situações de
tensionamentos, de embates em que territórios se encontram a ser delimitados. Infeliz-
mentÉvendoÉoiv sÉdesaWoÉqueÉnosÉimpõeÉaÉücomvivênciaÉcÉu
om mÉvírus 8
, alargada por
ausência de projetos e ações políticas coordenadas no contexto nacional, as políticas edu-
asÉctiv nãoÉ têmÉ sidoÉ AalimentdsBÉ peloÉ queÉ aÉ pesquiaÉ jáÉ produziuÉ EstamoÉ gastndoÉ
energias para evitar retrocessos.
8 Ao falarmos do vírus, estamos nos reportando ao novo coronavírus (SARS-CoV-2), que, desde o registro do pri-
meiro caso na china no final de 2019 , vem assolando o mundo e sendo considerado “um dos maiores desafios
sanitários em escala global deste século” (WERNECK; CARVALHO, 2020, p.1).
97
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
Referências
98
CAPÍTULO 5
Narrativas de professoras e a pedagogia da UFV:
tempos históricos e suas “tatuagens”
99
CAPÍTULO 6
Passos de aprendizado docente
Esther Giacomini Silva1
1. Introdução
I
niciei meu contato com o Departamento de Educação (DPE) da UFV em 1986, como
estudante do Curso de Pedagogia. A busca por esta formação começou com o exer-
cício da docência em turma de magistério do ensino médio, em uma escola pública,
onde lecionava Psicologia, minha primeira titulação. Encontrei a devida ressonância do
que aprendi na Pedagogia em minha atuação docente, na Coordenação Pedagógica na As-
sociação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Viçosa e, claro, no meu interesse em atuar
no ensino superior.
Em 1992, já formada em Pedagogia, uma colega de turma me informou de concurso
noÉDPEÉnaÉáreaÉdeÉPsicolgaÉMeioÉemÉdúvidaÉaWnalÉsóÉtinhaÉumÉ Lato Sensu em Educação
Especial, além das duas graduações e a experiência no ensino médio, resolvi fazer o con-
curso. Eu e outro colega fomos aprovados! Iniciava agora outra vivência com o DPE, como
docente da UFV.
Ao ingressar no DPE, fui me familiarizando com as várias atuações em ensino,
pesquisa e extensão. Em 1994, um projeto que formulei para o Fundo Nacional de Desen-
volvimento da Educação para uma Ludoteca2 foi contemplado. Nesse espaço em atuação
até os dias de hoje, o objetivo é incentivar a valorização da infância com atividades lúdi-
co-artísticas. No início da Ludoteca UFV, atuaram o professor Sílvio Ricardo da Silva, do
DepartmnoÉdeÉEducaçãoÉFísicaÉeÉaÉprofesaÉMariÉJoséÉdeÉOeiraÉFlv ontesÉdoÉDepar -
tamento de Economia Doméstica, ambos da UFV. Durante os mais de 25 anos de existên-
cia da Ludoteca UFV, os projetos de extensão contemplam as atividades lúdico-artísticas
1 Graduada em Psicologia (FMU, 1982), Pedagogia (UFV, 1991), Mestrado em Educação (PUC/SP, 1998), Dou-
torado em Educação (UNESP, 2008). Professora Associada do DPE/UFV na área de Psicologia atuando com a
Educação Especial. Coordena a Ludoteca UFV e o Programa Residência Pedagógica da UFV (2018-2022).
2 Ludoteca UFV – Vila Gianetti, casa 1 – fone: (31) 3216-3000; e-mail: ludoteca@ufv.br; @ludotecaufv Insta-
gram; Ludotecaufv YouTube.
CAPÍTULO 6
Passos de aprendizado
docente
com as crianças das escolas públicas e também uma formação aos seus professores sobre
o potencial da ludicidade na aprendizagem. Aos domingos, as atividades são voltadas à
comunidade, em que os familiares e suas crianças interagem em várias ações lúdicas. Cabe
salientar que outros canais de divulgação das atividades foram criados, como o Instagram
e o YouTubeÉdaÉLudotecaÉUÉd
FV ersiWcandoÉe
v ÉampliandoÉoÉcontaÉcomÉoutrasÉcriançasÉ
e lugares.
A partir da instalação da Ludoteca UFV, a minha perspectiva de investimento pro-
WsionalÉseÉdireconuÉaindaÉmaisÉparÉaÉEducaçãoÉEspecialÉporÉverÉpoucasÉoportunidaesÉ
parÉeseÉpúblicoÉnaÉcomunidaeÉAsimÉdeÉW__ÕÉaÉW__^ÉWzÉoÉmestradoÉemÉPsicolgaÉdaÉ
Educação na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com tema sobre a cognição
daÉpesoaÉcomÉdeWciênciaÉintelcuaÉEsaÉformaçãoÉmeÉoportunizouÉatuarÉcomÉorienta -
doraÉdeÉváriasÉmongraWsÉdoÉ Lato Sensu em Educação, iniciando uma linha de pesquisa
em Educação Especial no DPE, na qual, hoje, ainda atuo com ênfase na aprendizagem e
formaçãoÉdeÉprofesÉparÉatuaçãoÉcomÉpesoaÉcomÉdeWciênciasÉeÉdeÉÓVVVÉaÉÓVVWÉfuiÉ
Coordenadora do Lato Sensu em Educação da UFV.
OutraÉ vivênciaÉ aÉsignWctv parÉ minhaÉ formaçãoÉ docentÉ foiÉ terÉ sidoÉ utoraÉT doÉ
Projeto Veredas, iniciativa da Secretaria Estadual de Educação (MG), com o apoio da UFV
e outras instituições de ensino superior (IES) para formar, em nível superior, os professores
de educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental não titulados da rede pública
mineira. Atuei de 2002 a 2005 como tutora de 16 cursistas (professores) na modalidade se-
mipresencial. A convivência, por mais de quatro anos consecutivos com esses professores,
redimensionaram meu olhar para o aspecto pedagógico, a realidade das escolas, a impor-
tância da dinâmica professor-aluno, permitindo que eu iniciasse outra dimensão da minha
atuação docente, o estágio em educação especial/inclusivo no Curso de Pedagogia da UFV.
Após retornar do doutorado em Educação, em 2008, com a tese sobre o Perfil docente
para o inclusivo, a reformulação do Curso de Pedagogia da UFV foi implementada e essa
discplnaÉdeÉestágioÉfoiÉinseridaÉnaÉmatrizÉdeÉdiscplnaÉobrigatósÉTambémÉexerciÉaÉ
função de Coordenadora do Curso de Pedagogia da UFV no período de 2008 a 2011, am-
pliando meu olhar sobre as interfaces da administração e também da formação pedagógica.
Sendo a Educação Especial meu foco de formação e desenvolvimento de projetos,
nos anos de 2010 e 2011, a pedido da Pró-reitoria de Assuntos Comunitários e depois da
Pró Reitoria de Ensino da UFV, formulei ações para o Projeto Incluir do Ministério da Edu-
cação, com a proposta de iniciar um Núcleo de Acessibilidade na UFV, para dar suporte à
realizaçãoÉdeÉativdaesÉacadêmicasÉparÉalunosÉcomÉdeWciênciasÉingresoÉnaÉEducaçãoÉ
101
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
SuperioÉOÉprojetÉparÉoÉNúcleoÉInterdiscplaÉdeÉApoiÉàÉInclusãoÉüNIAÉfoiÉcontem -
plado com recursos para aquisição de equipamentos, como computadores com teclados
em contraste, impressora braile, regletes, cursos de iniciação à Língua Brasileira de Sinais
(Libras) e Braile para técnicos e professores. A implementação desse espaço e ações está
sendo contínua e, a partir de 2017, foi denominada Unidade de Políticas Inclusivas (UPI).
OutroÉ marcoÉ importaneÉ emÉ minhaÉ açãoÉ docentÉ foiÉ particÉ doÉ ProgamÉ deÉ
Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), uma ação da Política de Formação de Professores
do MEC e com bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES). Fui uma das Coordenadoras do Subprojeto Pedagogia da UFV, focando na Edu-
caçãoÉEspecialÉnoÉperíodoÉdeÉÓVWZÉaÉÓVW^ÉOsÉdezeseiÉpibdanosÉsobÉminhaÉCordenaçãoÉ
atuaram em escolas públicas de Viçosa, onde, na turma, havia pelo menos um aluno com
uma necessidade educacional especial, mas o propósito das ações foram sempre pauta-
das na inclusão de todos os alunos. Pensar em acessibilidade é uma construção que não
atende apenas quem tem uma necessidade educacional especial; é, sim, tornar acessível
o currículo. Foram muitos aprendizados nessa condução e construção de conhecimentos.
A dimensão pedagógica, a diversidade humana e potencial de cada pessoa impactaram a
minhaÉatuaçãoÉproWsinalÉnaÉformaçãoÉdeÉoutrosÉprofesÉFicouÉcadÉvezÉmaisÉnítidaÉ
a questão do diálogo de saberes e experiências para uma educação que seja de fato trans-
formadÉTodsÉaprendmÉeÉensiam
Em 2018, com o término do PIBID3 no formato como funcionava, a CAPES lançou
um Edital para a Residência Pedagógica para os alunos de licenciaturas a partir do 5º pe-
ríodo do Curso, com o objetivo de maior imersão na escola básica e ampliar as ações da sua
formação docente. Houve vários questionamentos, tanto na UFV como de outras IES, sobre
aÉWnalideÉdesÉProgamÉvistoÉporÉmuitosÉcomÉumÉdteÉd
smon oÉPIBDÉiênnterf ciaÉ
na atuação das Universidades sobre os estágios das licenciaturas e precarização do traba-
lho docente. Como professora de uma instituição pública, claro que trabalhar pela melhor
formação e qualidade da educação é a meta que sempre busco. Mesmo diante de várias
dúvidas, a UFV decidiu participar do Edital e eu assumi a Coordenação Institucional da
ResidênciaÉPedagóicÉüRPÉdaÉUÉOFV sÉnúcleosÉüsubprojetsÉqueÉparticpmÉdoÉEditalÉ
de 2018 foram dos dois campi da UFV, Viçosa e Florestal. Participaram os núcleos de Edu-
cação Física; Multidisciplinar de Biologia, Física, Química e Matemática; Arte-Pedagogia
(cursos de Dança, Educação Infantil e Pedagogia). A duração da RP foi de dezoito meses,
3 PIBID – Atualmente, no Programa, os licenciandos devem estar na primeira metade do curso para participar.
102
CAPÍTULO 6
Passos de aprendizado
docente
portanto, com uma dimensão muito ampliada de imersão nas escolas públicas onde as
ações ocorreram. Entre as ações, que totalizaram 440 horas foram desenvolvidas, a imersão
e conhecimento da realidade escolar, observação participativa das aulas dos preceptores,
planejamento e regência com ao menos 100 horas exigindo uma participação ativa dos resi-
dentes (licenciandos), seus preceptores (professores da escola básica), coordenada por um
DocentÉOrientadoÉüprofesÉdaÉUFVÉEsaÉvivênciaÉfaÉf
ormtiv oiÉrealizadaÉemÉescolaÉ
públicas de Viçosa, Florestal, Pará de Minas e Juatuba, tendo 192 residentes bolsistas, 18
prectosÉeÉseisÉdocentsÉorientadosÉOÉreXxoÉdoÉProgamÉnasÉescolaÉfoiÉmuitoÉsig -
niWcatvoÉinstigadoÉnovsÉaprendizadosÉmobilzandoÉosÉprofesÉaÉoutrasÉmetodl -
gias e permitindo aos residentes uma experiência de múltipla dimensão do fazer docente.
Neste momento, continuo à frente da Coordenação Institucional da RP da UFV,
participando do segundo Edital, com vigência de dezoito meses e que, diante da pandemia
de 2020, foi iniciado na UFV em outubro, com prazo de término em março de 2022. Esse é
outro dos muitos aprendizados que estou agregando à minha atuação docente. Um projeto
pensadoÉdeÉformaÉpresncialÉserÉtransfomdÉemÉmodÉremotÉfoiÉoutroÉdesaWoÉenfre -
tadoÉpelosÉDocentsÉOrientadosÉseusÉprecptosÉresidntÉeÉsemÉdúvidaÉasÉescolaÉ
Atuar em um cenário nunca antes visto e diferente do que uma educação à distância se
propõe exigiu de todos o compartilhamento de ideias, busca de formas alternativas de
interação como as mídias sociais - como Whatsapp e Instagram -, criação de canais em plata-
formas digitais, produção de material on-line; vídeoaulas, entre outras ferramentas. Nesse
contexto, a RP da UFV, que contempla os dois campi, teve uma ampliação dos núcleos ante
oÉprojetÉanterioÉcompstÉagoraÉporÉBiolgaÉEducaçãoÉFísicaÉGeograWÉMultidscp -
nar Física, Química e Matemática; Pedagogia, com bolsas para os 192 residentes, 24 pre-
ceptores e oito docentes orientadores. A minha prática docente e também administrativa
foi atualizada nesse cenário pandêmico. Reuniões on-line com as escolas campo da RP, o
que me permitiu, em poucas horas, estar em Viçosa e logo chegar a Florestal! Ver a cria-
tividade dos residentes em suas postagens de conteúdos, na comunicação com os alunos
dasÉescolaÉenWmÉverÉposibldaeÉeÉnãoÉseÉestagnrÉpelosÉobstáculosÉtemÉsidoÉaÉminhaÉ
visão de trabalho.
Essa atuação com a RP de forma remota também me auxiliou no desenvolvimento
deÉaulasÉonlieÉnaÉgraduçãoÉemÉorientaçãoÉdeÉTCÉporÉvídeoÉouÉ Whatsapp e o maior de-
saWoæÉacompanhrÉalunosÉdaÉPedagoiÉemÉestágioÉsupervisonadÉemÉeducaçãoÉespecial&
inclusiva. Cabe lembrar que as escolas públicas estão em formato remoto e, portanto, o
contato com os alunos se dá via mediação família-professor, ou seja, agora temos mais um
103
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
integraÉqueÉprecisaÉserÉativoÉnesÉprocesÉumÉfamilrÉÉÉdesaWntÉbuscarÉestraégiasÉ
de ensino e acompanhamento da turma pelos canais de Whatsapp, ver algum comentário
sobre a vídeoaula postada ou sobre a sugestão de atividade complementar ao material im-
presso. Mas a atuação docente não se faz no cenário ideal e sim no real, vendo dimensões
queÉporÉvezesÉnãoÉsãoÉvalorizadasÉOrientaÉestágioÉdeÉformaÉremotaÉtemÉdemandoÉdeÉ
todos os envolvidos uma busca constante de novas estratégias de ensino que, certamente,
serão enriquecedoras.
Neste momento, estou participando de um curso para professores da UFV ofereci-
do pelo Grupo de Estudos em Neurociências e Educação (GENE/UFV), do qual sou mem-
bro, intitulado Contribuições das neurociências para o processo de aprendizagem. Nesse curso,
buscamos todos ampliar nossas construções formativas com os estudos da área. Como do-
cente, mantenho sempre a perspectiva de aprender com o outro que se abre a compartilhar
sua experiência de vida.
104
CAPÍTULO 7
Pedagogia/UFV – memórias
discente e docente
Flávia Russo Silva Paiva1
1. Introdução
OÉ
exercício de escrita deste depoimento ocorre em meio a um sentimento de muita
gratidãoÉeÉalegriaÉpelaÉtrajetóiÉacadêmicaÉeÉproWsinalÉconstruídaÉjuntoÉaoÉ
Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Posso ousar di-
zerÉqueÉaÉPedagoi&UFVÉéÉumaÉdasÉmelhorsÉescolhaÉqueÉWzÉnaÉvidaÉqueÉmeÉconstiuÉ
discente e, hoje, me constitui docente desse Curso.
Sou natural de Viçosa e guardo boas lembranças dos momentos felizes da infân-
cia vivenciados junto a meus pais e irmãos nos espaços da UFV, principalmente das ma-
nhãs de domingo, em que brincávamos ao ar livre, andávamos de bicicleta e visitávamos
os animais no estábulo. Meu pai gostava de revisitar o seu passado narrando histórias
do tempo em que residiu nos espaços da universidade, na Vila Araújo, apresentando-nos
locais em que meu avô paterno trabalhou, à época em que era servidor da UFV, contan-
do-nos sobre a sua primeira experiência de trabalho, que também se deu em setores da
instituição, dentre outras experiências por ele vivenciadas e entrelaçadas à UFV. Assim,
desde cedo, a UFV integra a nossa vida. A partir desse contexto, senti-me incentivada,
pelaÉpróp iaÉvêniv ciaÉfamil arÉnaÉcida eÉdeÉViçosa ÉaÉmeÉdesaW rÉemÉmaisÉumaÉbuscaÉdeÉ
uma formação acadêmica, diante de uma Universidade próxima às minhas perspectivas
e expectativas de futuro.
Nesse sentido, a escolha pelo Curso de Pedagogia foi se constituindo em minha
vidaÉdesdÉcriançaÉquandoÉoÉbrincaÉdeÉAserÉprofesaBÉeraÉconstaeÉJáÉemÉidaeÉesco -
lar, a estratégia utilizada para estudar consistia em registrar o conteúdo em um quadro de
giz, simulando uma aula e imitando os professores que admirava. Além disso, outro fato
1 Licenciada em Pedagogia e Mestre em Educação pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Doutora em
Educação pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Professora do Departamento de
Educação da UFV. Contato: flavia.paiva@ufv.br
105
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
queÉmeÉdireconuÉparÉaÉescolhaÉproWsinalÉdocentÉfoiÉaÉexperiênciaÉdaÉnosaÉfamíliaÉ
em acompanhar a minha irmã Jaqueline em atividades na Associação de Pais e Amigos
dosÉ ExcepcionasÉ üAAEÉP Édes queÉ descobrimÉ aÉ suaÉ deWciênciaÉ NaÉ AEÉP Jaqueli -
neÉrealizaaÉa
v companhetÉcomÉeducaoresÉWsioterapuÉfonaudiólgsÉeÉoutrosÉ
proWsinaÉqueÉaamÉntuv aÉrefridaÉinstiuçãoÉNesaÉpaÉderspctiv eÉcuidaoÉeÉatençãoÉ
essa experiência perdurou desde quando ela era recém-nascida até os seus oito anos e nove
meses, momento em que, infelizmente, veio a falecer em detrimento de uma pneumonia.
Assim, percebi que esse contato sempre me despertou uma afeição e admiração em relação
aosÉpÉqroWsina ueÉtamÉnrblhv aquelÉinstiuçãoÉmaisÉespeciWamntÉsobreÉaÉatua -
ção dos educadores.
Já no ano de 2006, é chegada a hora de indicar um curso para concorrer a uma vaga
noÉ estibularÉv daÉ ÉUFV EsaÉ inclaçãoÉ parÉ aÉ atuçãoÉ proWsinalÉ naÉ áreaÉ daÉ educaçãoÉ
somadÉaÉorientaçõesÉdoÉmeuÉpaiÉWzeramÉcomÉqueÉescolheÉaÉPedagoiÉcomÉopçãoÉ
de curso. Para essa decisão, o meu pai destacava o fato de a Pedagogia ser uma área com
grandesÉchancesÉdeÉempregabildÉ eÉ tambémÉ meÉfaziaÉ reXtiÉ sobreÉ aÉ necsidaÉdeÉ
adequar a escolha à minha realidade, tendo em vista conhecer minhas insatisfações com
as pontuações obtidas no então vestibular seriado da UFV. Mesmo sendo uma boa aluna e
possuindo notas altas na escola pública em que estudei ao longo de toda a minha trajetória
escolar, esse resultado não se repetia nos exames realizados no vestibular seriado, por uma
sérieÉdeÉfatoresÉqueÉaoÉlongÉdoÉCursoÉdeÉPedagoiÉfuiÉcomprendÉeÉqueÉmeÉWze -
ram e fazem defender, ainda mais, a escola pública, ressaltando a sua importância e fun-
ção precípua de proporcionar o compartilhamento dos conhecimentos sócio-historicamente
construídos com os estudantes. Portanto, escolher um curso em que tivesse condições obje-
tivas de ser aprovada era necessário e a Pedagogia foi se tornando a opção mais adequada
para a minha realidade, pelo conjunto de motivos apresentados.
Assim sendo, posso dizer que escolha feliz! Ingressei na licenciatura em Pedagogia,
na UFV, em março de 2007, e, a partir desse momento, foi-me apresentado um mundo
novÉcomÉinúmerasÉpasÉderpctiv eÉcrescimntoÉpesoalÉeÉproWsinalÉqueÉeuÉadoreiÉco -
nhecer diante de cada passo dado na graduação. Nesse período formativo, durante os qua-
tro anos de curso, tive a oportunidade de vivenciar diversas experiências no âmbito do en-
sino, da pesquisa e da extensão, das quais destaco a realização de atividades junto a APAE
de Viçosa; projeto de pesquisa sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – Lei
Federal n° 8.069 de 13 de julho de 1990 –, juntamente a ações de extensão, junto a escolas
públicas da cidade de Viçosa, para divulgar essa legislação e discutir com os educadores a
106
CAPÍTULO 7
Pedagogia/UFV – memórias
discente e docente
107
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
108
CAPÍTULO 7
Pedagogia/UFV – memórias
discente e docente
se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para
transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo,
devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas
participar de práticas com ela coerentes (FREIRE, 2000, p.33).
109
CAPÍTULO 8
O saber da experiência e o curso de
Pedagogia da Universidade Federal de
Viçosa
JaneÉElisaÉOtomarÉBueck 1
1. Introdução
E
ste ano, para mim, vale ouro e prata. Enquanto o Curso de Pedagogia da UFV com-
pleta seu jubileu de ouro – 50 anos –, eu completo o meu jubileu de prata – 25 anos
deÉformadÉÉÉsemprÉcomÉmuitoÉorgulhoÉqueÉmeÉreWroÉaÉesaÉexperiênciaÉqueÉ
foi um divisor de águas na minha vida. Impossível imaginar quem eu seria sem vivenciar
aÉformaçãoÉobtidaÉnaÉUÉTFV ndoÉa
ma sÉideiasÉdeÉBondiaÉüÓVVÓÉparÉquemÉaÉexperiênciaÉ
é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca, posso considerar que o Curso de
Pedagogia da UFV me proporcionou, entre 1993 e 1996, bem mais que uma graduação
proWsinalÉmasÉsimÉumaÉexperiênciaÉfaÉormtiv
É necessário situar esse momento do Curso que, considerando sua idade atual, era
um jovem em formação, assim como eu. Porém, era um jovem antenado em seu momento
histórico, sempre ligado nos movimentos educacionais e exigências de formação, haja vis-
ta, por exemplo, as discussões sobre municipalização do ensino e a tramitação da nova Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), aprovada somente em dezembro de
1996, que permearam o Curso.
À época, poderíamos até pensar que o Curso era muito teórico, mas, ao longo da
minhaÉexperiênciaÉproWsinalÉsentiÉaÉimportânciaÉdeÉumaÉformaçãoÉfundametÉemÉ
teorias e/ou caminhos teóricos que me possibilitaram compreender melhor as realidades
que encontrei e a acompanhar intelectualmente as mudanças pelas quais a sociedade e o
campo educacional passaram ao longo desse tempo.
êsTr ÉaspectoÉfundametisÉmarcmÉaÉminhaÉexperiênciaÉfaÉO
ormtiv ÉprimeoÉ
seÉrefrÉàsÉdiscplnaÉdeÉfundametosÉeducaionsÉOÉfatoÉdeÉterÉcursadoÉesaÉdiscpl -
1 Licenciada em Pedagogia pela UFV. Mestra em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação da
Universidade do Estado do Pará. Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade
Federal do Pará. Atua como técnica pedagógica na UEPA. janebuecke@yahoo.com.br.
110
CAPÍTULO 8
O saber da experiência e o curso de
Pedagogia da Universidade Federal de Viçosa
nasÉ.ÉPsicolgaÉFilosWaÉSlogiaÉe
c ÉHistóraÉdaÉEducaçãoÉ.ÉduranteÉosÉtêsr ÉprimeosÉ
semestres do Curso foi crucial, inclusive para que, hoje, eu esteja na linha de frente em
defesa da valorização e presença dessas disciplinas, tão fortemente atacadas pelo governo
atual, nos currículos de formação docente, pois experimentei o papel desse conhecimento
naÉminhaÉpráticaÉproWsinal
OÉsegundoÉaspectoÉimportaneÉparÉmimÉforamÉasÉdiscplnaÉdeÉmetodlgiaÉ.É
Metodologia de Português I, II e III, Metodologia da Matemática I e II, Metodologia de
EstudoÉSociasÉIÉeÉIIÉeÉMetodlgiaÉdeÉCiênciasÉTodasÉeamÉlstv igadsÉaoÉDepartmnoÉ
deÉEducaçãoÉeÉporÉisoÉvamÇsoltv eÉparÉasÉreXxõesÉteóricoÇpráticasÉsobreÉoÉfazerÉpe -
dagógico cotidiano. Cada uma proporcionou, no seu campo, oportunidades de pensar a
atuação pedagógica voltada para a realidade do aluno, dentro de possibilidades tangíveis.
Construir um terrário nas aulas de metodologia das ciências e confeccionar material didá-
tico para o ensino de matemática, por exemplo, fazem parte desse conjunto de experiências
marcantes.
Por último, o núcleo das disciplinas voltadas para a formação em gestão escolar, à
época marcada pela divisão das habilitações – supervisão e administração –, mas, ainda
assim, permitindo uma visão da gestão de forma abrangente e integrada, foi basilar para o
inícioÉdaÉminhaÉvidaÉproWsinalÉAÉprofesaÉRosaÉPorcaÉfoiÉumaÉmestraÉnasÉorienta -
çõesÉsobreÉaÉrelvânciaÉeÉaÉconstruçãoÉdoÉprojetÉpedagóicoÉparÉaÉorganizaçãoÉeÉXuidezÉ
da vida escolar.
AÉpartiÉdesaÉexperiênciaÉinicalÉdeÉformaçãoÉeuÉpudeÉmeÉderÉp
snvol roWsi -
nalmente e pessoalmente nesses últimos 25 anos. Já havia iniciado minha carreira peda-
gógica ainda na graduação, visto que cursei o magistério, e já lecionava para o ensino
fundametlÉmenorÉTodaviÉminhaÉmaiorÉexperiênciaÉocoreuÉaoÉmeÉdeslocarÉdeÉMinasÉ
Gerais para o Pará, em 1998. Em 2000, apenas com 25 anos, assumi a direção de uma escola
pública municipal na qual permaneci por oito anos. Ali, eu recorria sempre ao que aprendi,
vivi e ouvi durante a graduação. Minha primeira iniciativa foi pensar na construção e im-
plementação do projeto pedagógico que não existia na escola. Foram anos de mobilização e
discussão para que a escola e a comunidade compreendessem a importância e necessidade
de ter um projeto para chamar de seu. Nesse período, entrei em uma especialização na qual
desenvolvi uma pesquisa cujo objeto de estudo foi justamente a participação docente na
elaboração do projeto pedagógico da escola. Imbuída da formação inicial obtida, eu insisti
no envolvimento dos professores nesse processo, mas me deparei com as lacunas em sua
formação, envolvendo-me, por isso, em um programa nacional de formação docente.
111
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
OutroÉrecursoÉobtidoÉnoÉCursoÉdeÉPedagoiÉeÉqueÉcareguiÉcomigÉnesaÉprime -
ra experiência na gestão escolar, refere-se à alfabetização, aspecto que demandou muito
esforço na busca por resultados melhores na escola. Mas o que eu aprendi na UVF, mais
espciWamntÉcomÉaÉprofesaÉMariÉCarmeÉAraújoÉéÉqueÉnãoÉaaÉcdintv hegarÉcomÉ
um discurso pronto de apresentação do método infalível de alfabetização, pois se trata de
um processo em que o docente tem papel relevante e que ele precisa ser envolvido e se
sentirÉseguroÉaindaÉqueÉemÉumÉmétodÉconsideraÉAarcioBÉValendoÇmeÉdesaÉvisãoÉ
instiguei os professores mais experientes nessa área a serem mentores dos menos experien-
tesÉaÉWmÉdeÉformaÉgruposÉdeÉreXxãoÉeÉrevisãoÉdaÉpráticaÉalfabetizadora
EmÉÓVV_ÉasumiÉaÉdireçãoÉdeÉoutraÉescolaÉdesaÉvezÉparticulÉeÉláÉWqueiÉporÉsetÉ
anos. Agora, já com certa experiência e mais maturidade, a minha formação na UFV perma-
necuÉrerbandoÉev mÉoutroÉsentidoÉNesaÉnaÉeov xperiênciaÉWcouÉpatenÉaÉnecsidaÉ
deÉformaçãoÉcontiuadÉdosÉdocentsÉeÉdasÉreXxõesÉsobreÉosÉfundametosÉeducaionsÉ
A escola adotava um sistema de ensino cuja proposta não era bem utilizada, porque faltava
melhorÉconhecimtÉsobreÉsuaÉfundametçãoÉWlosóWca
A partir de grupos de estudo e encontros formativos, a equipe foi se alinhando e
aÉpropstaÉpedagóicÉseÉajustandoÉTezÉe
alv saÉexperiênciaÉdeÉestudoÉtenhaÉreacndioÉ
em mim a vontade de me voltar para a pesquisa acadêmica que estava adormecida pelos
rumosÉqueÉaÉminhaÉvidaÉproWsinalÉtomuÉEntãoÉaÉpartiÉdeÉÓVWÕÉresolviÉretomarÉosÉ
estudos, começando como aluna especial do Programa de Pós-graduação em Educação da
Universidade do Estado do Pará. Inicialmente, intentava pesquisar sobre a formação de
professores, considerando toda a experiência escolar que havia acumulado, mas a discipli-
naÉASemináriosÉtemáticosÉdeÉHistóraÉCultraÉeÉEducaçãoBÉmeÉapontuÉoutrasÉposibl -
dades de pesquisa voltadas para o campo da História da Educação e, mais uma vez, minha
formação inicial me tocou ao me trazer à memória as aulas maravilhosas da professora
Wanda Lúcia, para as quais eu ia com muito prazer e curiosidade. Assim, voltei-me para
esse campo de estudo e hoje estou no doutorado na Universidade Federal do Pará, estu-
dando a História da Educação na Amazônia colonial. Parece uma guinada e tanto, não é?
Mas tudo isso começou em 8 de março de 1993, quando entrei no Pavilhão de aulas da UFV
(único que existia na época) pela primeira vez.
Conforme Bondia (2002), posso dizer que, no Curso de Pedagogia da UVF, vivenciei
oÉsaberÉdaÉexperiênciaÉqueÉinXuecioÉoÉmodÉcomÉrespondiÉaosÉaconteimsÉexperi -
mentadosÉaoÉlongÉdaÉminhaÉtrajetóiÉproWsinalÉdandoÉsentidoÉaÉeseÉaconteimsÉ
em um entrelaçamento indivisível com a pessoa que estou me formando.
112
CAPÍTULO 8
O saber da experiência e o curso de
Pedagogia da Universidade Federal de Viçosa
Referência
113
CAPÍTULO 9
Nós e o curso de Pedagogia da
Universidade Federal de Viçosa
Isabel Cristina de Jesus Brandão1
1. Introdução
P
ensar na nossa trajetória enquanto discentes do Curso de Pedagogia da Universi-
dade Federal de Viçosa (UFV) nos traz à memória os espaços de convivência com
osÉcolegasÉasÉtrocasÉdeÉcentosÉo
hcim sÉdocentsÉqueÉseÉWzeramÉpresntÉnes -
sa trajetória. Durante o Curso, adquirimos conhecimentos que foram e são fundamentais
parÉaÉnosaÉconstiuçãoÉcomÉsujeitosÉhistórcoÉeÉproWsinaÉdaÉeducaçãoÉ
OptamosÉporÉeerÉo
scv ÉtextoÉdeÉformaÉcaÉp
oletiv orqueÉoÉCursoÉdeÉPedagoiÉnosÉ
uniu também na moradia. Compartilhamos de 1994 a 1998 histórias, conversas e trocas de
materiais do Curso nas noites de estudos no Alojamento Velho.
Durante o Curso de Pedagogia, fomos marcadas pela teoria marxista, pelo pensa-
mento freireano, que era forte no Curso na década de 1990. Nesse contexto, tivemos como
profesæÉWilerÉGraçaÉRiberoÉWandÉMarisÉBi4arÉDenilsoÉRitaÉMárciaÉGraçaÉFlo -
restaÉLurdinhaÉEneidaÉAanizelv ÉTâniaÉMarilenÉ
Além das vivências em sala de aula, também tivemos a formação transpassada por
outras experiências, como o Estágio Interdisciplinar de Vivência realizado no ano de 1996
sobÉ aÉ cordenaçãoÉ doÉ profesÉ ilerÉW particçãoÉ naÉ oWcinaÉ deÉ materilÉ comÉ sucatÉ
coordenada pela professora Eneida. Além disso, a experiência de estágio realizado na Cre-
cheÉRebuscaÉdaÉIgrejaÉPresbitanÉcontribuÉsamentÉpigWcv arÉaÉescolhaÉdoÉobjetoÉ
de estudo e pesquisa sobre infância e educação infantil que tem direcionado o nosso tra-
1 Possui graduação em Pedagogia pela UFV (1997); Mestrado em Educação pela UFSCar (2003); Doutorado
em Educação pela Faculdade de Educação da UNICAMP (2009); Pós-doutorado em Educação pela USP (2016).
Professora Titular da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). icjbrandao2014@gmail.com.
2 Possui graduação em Pedagogia pela Universidade Federal de Viçosa (1998); Pós-graduação em Psicopeda-
gogia Clínica e Institucional (2002). Professora da rede pública de ensino de São Bernardo do Campo. viviane-
mariacorrea2@gmail.com.
114
CAPÍTULO 9
Nós e o curso de Pedagogia da
Universidade Federal de Viçosa
balho, bem como a experiência pelo período de dois anos na Associação de Pais e Amigos
dos Excepcionais (APAE) de Viçosa. Quanto aprendizado!! É imensurável o quanto apren-
demos com cada criança nesse trabalho voluntário. E contamos com o apoio de alguns
professores nessa trajetória de estágios transdisciplinares.
Durante o Curso, tivemos o privilégio de participar de um Simpósio de Paulo Frei-
reÉnoÉEspíritoÉSantoÉTudoÉqueÉaprendmosÉcomÉeseÉmestrÉprocuamsÉcolcarÉemÉprá -
tica na nossa atuação como professoras, pois, segundo Freire (1991, p. 79), “ninguém educa
ninguém, ninguém se educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo
mundoBÉ
Participar do Centro Acadêmico de Pedagogia foi uma honra e nos possibilitou um
maior conhecimento sobre a estrutura e funcionamento da universidade, bem como o en-
gajmentoÉnasÉdiscuõeÉeÉlutasÉsociasÉTambémÉposibltuÉaÉorganizaçãoÉdeÉativdaesÉ
e palestras para os alunos do Curso com temáticas variadas e interessantes, por meio das
quaisÉ emosÉbtiv signWcatvoÉ aprendizadosÉ parÉ aÉ vidaÉ eÉ leituraÉ deÉ mundoÉ SegundoÉ
Couto,
[...] a ideia de leitura aplica-se a um vasto universo. Nós lemos emoções nos rostos das
pesoaÉlemosÉoÉchãoÉlemosÉoÉMundoÉlemosÉaÉVidaÉTudoÉpodeÉserÉpáginaÉDepndÉ
apenas da intenção de descoberta do nosso olhar. Queixamo-nos de que as pessoas
nãoÉlêemÉlivrosÉÉoÉdéWcitÉéÉmuitoÉmaisÉgeralÉNãoÉsabemosÉlerÉoÉmundoÉnãoÉlemosÉ
os outros.
ÉMaisÉdoÉqueÉsaberÉlerÉseráÉqueÉsabemosÉaindaÉhojeÉcontarÉhistóraıÉOuÉsabe -
mosÉsimplesntÉescutarÉhistóraÉondeÉnosÉparecÉreinarÉapenasÉsilêncioıÉüCOUTÉ
2011, p. 103).
115
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
OÉCursoÉdeÉPedagoiÉestáÉligadoÉaoÉnosÉFelho stV 3
, à Nico Lopes4, ao premiado
Bloco 011 14 06 (1997) e às nossas memórias no Recanto das Cigarras, com maravilhosos 5
showÉ eÉ bandsÉ doÉ CineÉ CarcáÉ üumÉ cinemaÉ doÉ DiretóoÉ CentralÉ dosÉ EstudaneÉ queÉ
funcionava abaixo do Centro de Vivência). Quanta saudade!
É importante destacar que a nossa formação se deu em um contexto de efervescên-
cia das discussões políticas em torno da educação com a elaboração da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LEI 9394/96) e do Plano Nacional de Educação (PNE), o que
nosÉposibltuÉparticpÉdoÉIIÉCongresÉNacionlÉdeÉEducaçãoÉüCONEDÉrealizadoÉemÉ
Belo Horizonte no período de 6 a 9 de novembro de 1997, com o tema Educação, Democra-
cia e Qualidade Social. Um evento que nos permitiu ampliar o conhecimento em torno das
questões políticas, sociais e econômicas do país, bem como conhecer de perto autores que
foramÉrênefr ciasÉnaquelÉtempoÉhistórcoÉOÉtemaÉdoÉeentoÉf
v aziaÉumÉcontrapÉàÉpo -
lítica neoliberal de globalização de todos os setores da sociedade, e na educação imperava
deÉmaneirÉoaÉpsteniv orÉmeioÉdoÉdiscuroÉdaÉqualideÉtotalÉOÉmodelÉdeÉgestãoÉempre -
sarial no campo educacional e o fortalecimento de um Estado mínimo.
3 FestVelho era um festival realizado pelas/pelos estudantes que residiam no Alojamento Velho. Surgiu na
década de 1980 como movimento de resistência das mulheres que ocuparam o alojamento para que também
tivessem espaço de moradia na UFV, que naquele contexto tinha alojamento somente para os homens.
4 Nico Lopes é um movimento de protesto político e social promovido pelo Diretório Central dos Estudantes,
que surgiu em 1929. “A marcha Nico Lopes tem esse nome em homenagem a Antônio Lopes Sobrinho, a fol-
clórica figura de Viçosa que deu nome à festa. Nascido em 1850, o boêmio velhinho conquistou a simpatia dos
estudantes da antiga ESAV (Escola Superior de Agricultura e Veterinária), instituição que veio a se tornar a UFV.
A escola havia acabado de ser criada e havia apenas 50 alunos no ano de 1929. E foi neste ano que o estudante
Antônio Secundino de São José, juntamente com alguns amigos, criou a irreverente marcha. [...]Durante os
anos muitas mudanças foram ocorrendo. A partir de 1951, por exemplo, estudantes do sexo feminino, matri-
culadas no recém-criado curso de Economia Doméstica, começaram a participar. Durante o regime militar a
marcha foi proibida. [...].” Disponível em: http://www.overmundo.com.br/guia/marcha-nico-lopes. Acesso em:
29.09.2021
5 O Bloco 011 14 06 foi organizado pelas/pelos estudantes do Alojamento Velho no ano de 1997 como fruto de
um movimento de resistência à política da reitoria em tentar naquele contexto acabar com o alojamento “misto”
migrando as estudantes para o recém-reformado Alojamento Novo. Algumas estudantes permaneceram no alo-
jamento e juntamente com os meninos organizaram lanche cultural e reuniões no sentido de fortalecer aqueles
que permaneceram no Velho, culminando com a criação do referido bloco. É importante destacar que o nome
do bloco fazia alusão a uma propaganda do Walter Mercado, um tarólogo muito famoso na época e a ideia era
denunciar o sucateamento do Brasil que passava por um intenso processo de privatização de órgãos públicos.
116
CAPÍTULO 9
Nós e o curso de Pedagogia da
Universidade Federal de Viçosa
sarmos a luta pela democratização e fortalecimento da escola pública, que se faz presente
até hoje nas nossas ações e estudos, especialmente no atual momento de pandemia, que
veio escancarar as desigualdades sociais e econômicas da população brasileira, principal-
mente no acesso à escola.
[...] Sabemos que que um curso de graduação não tem condições de formar completa-
mentÉumÉproWsinalÉmasÉéÉdeÉsuaÉresponabildÉofercÉumaÉformaçãoÉbásicaÉ
adequÉeÉsuWcientÉparÉqueÉosÉqueÉdelÉsaimÉposamÉseÉinseriÉnoÉtrablhoÉcomÉ
condições de atuarem – e de se aperfeiçoarem constantemente – com base em bons
fundametosÉformativsÉinicasÉÉüGTIÉÓVWWÉp
A ÉYV[
UmaÉleituraÉdeÉmundoÉqueÉpermiaÉnosaÉaçõesÉdiáriasÉeÉnosaÉformaçãoÉproWs -
sional continuada.
Atualmente, a Viviane trabalha na rede municipal de São Bernardo do Campo como
profesaÉdoÉensioÉfundametlÉháÉquaseÉWVÉanosÉTrablhouÉtambémÉemÉSãoÉPauloÉporÉ
WÓÉ anosÉ emÉ umaÉ instuçãoÉ comÉ atendimoÉ aÉ criançasÉ eÉ adolescntÉ comÉ deWciênciaÉ
intelcuaÉnoÉInstiuçãoÉBenWctÉNosÉLarÉOÉintersÉporÉtrablhÉcomÉcriançasÉ
comÉdeWciênciaÉseÉdeuÉaÉpartiÉdaÉexperiênciaÉadquiraÉnoÉestágioÉrealizadoÉnaÉAAEÉdP eÉ
Viçosa durante a graduação e também motivou a formação lato sensu em Psicopedagogia.
Isabel Cristina trabalha na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)
como professora do Curso de Pedagogia. A vivência de estágio em creche durante a gra-
duaçãoÉinXuecioÉoÉpercusoÉdeÉformaçãoÉcontiuadÉ lato sensu e stricto sensu em pesqui-
sas e estudos sobre infância e educação infantil.
Agradecemos às professoras e professores do Curso de Pedagogia da UFV, bem
comÉaosÉnosÉcolegasÉqueÉumÉdiaÉWzeramÉparteÉdaÉnosaÉtrajetóiÉeÉhistóraÉacadêmicaÉ
e de vida. Saudades de uma época de aprendizagem e, acima de tudo, de intensa vivência!!
117
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
Referências
118
CAPÍTULO 10
Quem são e onde estão os homens que
se formaram em Pedagogia na UFV?
um recorte temporal de 2005 a 2015
Marcos Antônio Fernandes de Souza1
HeloisaÉHernck 2
Palavras iniciais
E
steÉartigoÉéÉparteÉdaÉpesquiaÉrealizadaÉparÉoÉTrablhoÉdeÉConclusãoÉdeÉCursoÉ
üTCÉdeÉumÉdocentÉhomeÉdoÉCursoÉdeÉPedagoiÉdeÉÓVWÕÇÓVÓVÉDesaÉformaÉ
a escrita aparecerá em primeira pessoa do singular quando tratar de experiências,
reXxõesÉeÉquestionamÉprópiasÉdoÉprimeoÉautorÉücomÉporÉexemploÉaÉIntrodu -
ção). Em outros momentos, utilizamos a terceira pessoa do plural nos espaços em que
segunda e terceira autoras produzem com o primeiro autor.
Por se tratar de um trabalho que se propõe a mapear e entender os espaços edu-
cacionais ocupados, ou não, pelos homens que cursaram a Licenciatura em Pedagogia na
Universidade Federal de Viçosa, acreditamos ser pertinente que ele componha o livro de
comemoração dos 50 anos do Curso de Pedagogia da UFV, especialmente em razão de esse
Curso ser o lócus desta pesquisa e de formação do primeiro autor. No recorte temporal de
WVÉanosÉüÓVV[ÉaÉÓVW[ÉcosÉs
nideram erÉoÉtempoÉposívelÉparÉumaÉpesquiaÉdeÉTrablhoÉ
de Conclusão de Curso e, ainda, considerarmos que egressos de 2015 já tiveram tempo
suWcientÉ parÉ escolhaÉ proWsinaÉ EstaÉ pesquiaÉ trazÉ contribuçõesÉ aÉ seÉ somareÉ àsÉ
pesquisas sobre a feminização do magistério da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensi-
noÉFundametlÉeÉescolhaÉproWsinaÉnoÉcampoÉeducaionl
1 Formado em Pedagogia pela Universidade Federal de Viçosa. Possui formação técnica em informática pelo
Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia Sudeste de Minas Gerais – Campus Rio Pomba (2007).
2 Doutora em Educação. Docente no DPE/UFV. Professora no PPGE (Programa de Pós-Graduação em Educação)
da UFV, linha de pesquisa Educação, Instituições, Memória e Subjetividade e do grupo de pesquisa Memória,
Instituições e Subjetividades e do grupo de estudos Cotidianos em Devir.
3 Possui graduação em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra (2016). Mestranda pelo Programa de Pós-
Graduação em Educação da Universidade Federal de Viçosa. É membra do grupo de estudos e pesquisas For-
mação do Educador e Práticas Educativas desde 2019.
119
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
1. Introdução
AÉproWsãoÉdocentÉeÉseuÉpercusoÉhistórcoÉéÉalgoÉqueÉmeÉaesaÉdtrv esdÉqueÉini -
ciei a graduação no Curso de Pedagogia, principalmente no que diz respeito à construção
da identidade docente do professor dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Às vezes,
me sentia um corpo estranho em sala de aula. Esse incômodo se dava pelos questionamen-
tosÉinterosÉaÉrespitoÉdaÉproWsãoÉeÉpeloÉolharÉsocialÉqueÉnelaÉpaÉc
irv olcandÉcomÉ
umÉAdomB 4
inato às mulheres ser professora, sobretudo dos anos iniciais.
NosÉanosÉinicasÉdaÉminhaÉeducaçãoÉaÉWguraÉfeminaÉeraÉpresntÉemÉtodsÉosÉ
espaços da escola. Não havia presença de homens e esse fato foi constante até iniciar os
anosÉ WnaisÉ doÉ EnsioÉ FundametlÉ quandoÉ entãoÉ meÉ depariÉ comÉ homensÉ ocupandÉ
oÉcargoÉdeÉprofesÉnasÉdiferntsÉdiscplnaÉqueÉcompõeÉoÉcurículoÉdosÉanosÉWnaisÉ
do Ensino Fundamental e Médio (são os tempos escolares que demandavam professores
especializados, por área de conhecimento).
Como estudante do Curso de Pedagogia pela Universidade Federal de Viçosa
(UFV), percebi que o estranhamento que sentia estava muito ligado às características femi-
niasÉqueÉaÉproWsãoÉtraziaÉsocialmentÉpoisÉàÉmediaÉqueÉeuÉaançav aÉnv osÉanosÉdeÉesco -
larizaçãoÉmenosÉcaráterÉdeÉAmaternidBÉapareciÉnaÉfunçãoÉdaÉprofesaÉAhajÉvistaÉ
queÉseÉentediaÉoÉtrablhoÉdeÉeducarÉcriançasÉcomÉumaÉextensãoÉdaÉfunçãoÉAmaternlBÉ
dasÉmulhersBÉüGOMIDESÉÓVWZÉ
No Curso de Pedagogia, quando comecei a estudar a temática de gênero ligada à
docência, deparei-me com autores como Sá e Rosa (2004); Gomides (2014); Lira e Bernar-
dim (2015) e Gonçalves e Carvalho (2017), que também desenvolveram pesquisas sobre o
afstmenoÉdosÉhomensÉdaÉproWsãoÉdoÉmagistérioÉqueÉaoÉlongÉdosÉanosÉseÉtornuÉumÉ
campoÉdeÉtrablhoÉmajoritmenÉocupadoÉporÉmulhersÉTaisÉpesquiaÉmeÉlarmÉaev É
conherÉeÉaÉestudarÉumÉfenômoÉqueÉéÉdenomiadÉAaÉfeminzaçãoÉdoÉmagistérioBÉDeÉ
acordÉcomÉpesquiaÉrealizadaÉporÉSáÉeÉRosaÉüÓVVZÉoÉmagistérioÉseÉtornuÉumaÉproWsãoÉ
majoritariamente ocupada por mulheres a partir do início do século XX em praticamente
todÉoÉBrasilÉTalÉfenômoÉocoreuÉemÉfunçãoÉdeÉdiferntsÉfatoresÉentreÉelesÉosÉbaixosÉ
salários praticados à época e a desvalorização do magistério, à medida que os homens
deixaamÉav ÉproWsãoÉdeÉprofesÉemÉbuscaÉdeÉtrablhosÉmaisÉbemÉremunradosÉnoÉpósÇ
4 Mauss (2003) afirma que o dom requer contra-dom. A partir do momento em que não há a retribuição da
sociedade, o contra-dom dos professores para com seus alunos deixa de ser voluntário. O suposto dom nada
mais é do que uma construção social.
120
CAPÍTULO 10
Quem são e onde estão os homens que se formaram em
Pedagogia na UFV? um recorte temporal de 2005 a 2015
guerra5. Aliado a isso, houve, ainda, um forte discurso vocacional, atrelando a prática do-
centÉcomÉaÉAmaternidBÉumÉprocesÉgenuiamtÉfeminoÉ
Conforme percebo os inúmeros fatores que contribuíram para a feminização do
magistérioÉobservoÉseusÉdesdobramntÉTalÉcomprensãoÉmeÉfezÉreXtirÉsobreÉcomÉasÉ
minhasÉexperiênciasÉnaÉdocênciaÉestãoÉsendoÉinXueciadsÉporÉeseÉfenômoÉ
DuranteÉ oÉ CursoÉ tambémÉ osÉ estágiosÉ trouxeramÉ experiênciasÉ deÉ estranhmoæÉ
desÉaÉpresnçaÉdeÉmãesÉnaÉescolaÉparÉAeriWcaÉa
v ÉpresnçaÉdeÉumÉhomeÉprofesBÉ
atéÉAinterogaósBÉfeitosÉpelaÉcordenaÉdaÉescolaÉsobreÉqualÉáreaÉiriaÉseguirÉTalÉ
questionamento carrega um estranhamento, uma vez que as pessoas se dirigiam somente a
mim, estagiário do sexo masculino, e não a minha colega mulher, que fazia dupla comigo.
Cabe, entretanto, ressaltar que o Curso de Pedagogia da UFV
confrmeÉ osÉ dispotvÉ constaeÉ nosÉ documentsÉ oWciasÉ adosÉprv peloÉ CNEÉ
e Ministério da Educação – MEC, em abril e maio de 2006, está focada na formação
inicial para o exercício da docência na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino
FundametlÉcomÉênfaseÉemÉpesquiaÉeÉgestãoÉescolarÉüPROJETÉPOLÍTICOÉPEDA -
GÓGICOÉDOÉCURSOÉDEÉPEDAGOIÉDAÉUÉÓVWÕÉp
FV Y
InformaçãoÉtezÉn
alv ãoÉconhecidaÉpelaÉcordenaÉdaÉescolaÉOÉfatoÉéÉqueÉaÉpou -
ca presença de homens na sala de aula do Curso de Pedagogia e nas escolas durante os
períodos de estágios despertou em mim o interesse de saber onde estão e o que fazem os
homens formados em Pedagogia pela UFV. Para realização dessa pesquisa, cuja escrita
foiÉWnalizadaÉemÉÓVW_ÉfoiÉfeitoÉoÉrecortÉtemporalÉdosÉsujeitosÉqueÉformaÉentreÉÓVV[ÉeÉ
2015. A escolha por esse período de 10 anos se deu por acreditarmos que, de 2015 até a data
da pesquisa, seria um tempo hábil para os egressos se estabelecerem na carreira ou busca-
rem continuidades. Essa pesquisa utilizou uma abordagem qualitativa e visou, por meio
dosÉdiscuroÉtrazidosÉporÉegresoÉdoÉCursoÉdeÉPedagoiÉdaÉUÉdFV eXagrÉosÉcaminhosÉ
traçados por esses ex-alunos e suas possíveis adaptações e reconstruções no ambiente da
docência na Educação Infantil e em Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
OÉinstrumeoÉutilzadoÉparÉaÉproduçãoÉdosÉdadosÉfoiÉumÉquestionárioÉcriadoÉeÉ
aplicado pelo Google Docs.6, com questões abertas e com acesso on-line, de forma assíncro-
na. Segundo Félix (2012), “as perguntas são enviadas pelo/a pesquisador/a para que o/a
informateÉrespondaÉquandoÉmelhorÉlheÉconvierBÉAÉinterÉcomÉcampoÉparÉseÉrealizarÉ
5 Período posterior à II Guerra Mundial em que o processo de industrialização ampliou também as oportunida-
des de emprego e de formação para os homens trabalharem em outras áreas (VIANNA, 2013).
6 Adami (c. 2006-2021) refere-se a um pacote de aplicativos com funcionamento baseado na plataforma da
internet, em contar que sua composição engloba um editor de formulário, planilha, apresentação e texto.
121
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
2. Feminização do magistério
7 Pandemia causada pelo novo coronavírus, SARS-CoV2, que, desde 2020, tem exigido distanciamento social.
122
CAPÍTULO 10
Quem são e onde estão os homens que se formaram em
Pedagogia na UFV? um recorte temporal de 2005 a 2015
MasÉ antesÉ deÉ esÉ fatoresÉ altermÉ aÉ dinâmicaÉ socialÉ daÉ proWsãoÉ aÉ educaçãoÉ
teve suas raízes atreladas à Igreja e conduzida por ela. Desde a colonização, a educação se
conetruÉnasÉmãosÉdaÉIgrejaÉeÉdaÉeliteÉbrancÉmasculinæ
[...] desde a chegada dos colonizadores o ensino concentrou-se nas mãos da Igreja,
[...]. Este ensino ministrado pelas ordens religiosas nas missões e nos colégios fundada
por elas destinava-se fundamentalmente à catequese e à formação das elites no Brasil.
Desde a primeira escola de ler e escrever, erguida incipientemente lá pelos idos de
1549, pelos primeiros jesuítas aqui aportados, a intenção da formação cultural da elite
branca e masculina foi nítida na obra jesuítica (DAVID, 2014, p. 186 apudÉSTOÉAM T
2002, p. 2).
percebe-se que a educação feminina no século XIX no Brasil ainda encontrava-se forte-
mente vinculada a mentalidade recebida da herança portuguesa, com os mesmos pre-
conceitos e limites impostos pela política reinol, na qual o acesso à instrução ainda era
considerado necessário apenas no sentido da preparação para o casamento, devendo
constituir-se este, a maior aspiração das mulheres.
123
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
SouzaÉeÉGiro4oÉüÓVW_ÉdÉq
estacm ueÉnaÉconstruçãoÉhistórcaÉsocialÉosÉpapéisÉesta -
belecidos para homens e mulheres dividiram-se em público ou privado, ou seja, à mulher8
só cabia atuar na esfera privada, e ao homem o trabalho na esfera pública. Por isso, a saída
da mulher para a esfera pública, num primeiro momento, é para trabalhos que sejam quase
que a extensão do ambiente familiar, como no caso do trabalho na escola, como professora
das primeiras letras. Antes, porém, de se tornar professora e adentrar a esfera pública, elas
precisaram conquistar seu espaço como discentes e o direito à educação escolar, a qual era
direito reconhecido apenas ao público masculino.
SegundoÉStam4oÉüÓVVÓÉaÉprimeaÉescolaÉnormalÉaÉformaÉmeniasÉnoÉpaísÉfoiÉ
em 1843, ou seja, assim como tardou o acesso às primeiras instruções também demorou o
direito à formação nas escolas normais.
OÉaumentoÉgradulÉdosÉefetivosÉfeminosÉnaÉredÉescolarÉpúblicaÉocoreuÉduranteÉ
o século XIX, quando estatisticamente havia uma menina para cada três alunos nas
escolaÉ públicasÉ aoÉ WnalÉ doÉ refidoÉ séculoÉAÉ criaçãoÉ dasÉ escolaÉ AmistaBÉ regidasÉ
porÉ profesaÉ noÉ WnalÉ doÉ ImpérioÉ fezÉ aumentrÉ amentÉsigWcv oÉ contraÉ deÉ
mulheres. Houve a regulamentação da carreira do magistério durante os governos
provinciais e o estabelecimento de escolas normais para a formação de professores
(as) nas últimas décadas do período imperial, que passaram a ser frequentadas quase
que exclusivamente por moças. Houve também a implementação dos grupos escola-
res, na primeira década do século XX, onde o corpo docente, neste momento, já era
predominantemente feminino autorização para as mulheres frequentarem as escolas
normaisÉüSTOÉÓVVÓÉp
AM T É]
ConfrmeÉRabeloÉüÓVW_ÉpÉÕVÉaÉproWsãoÉdeÉprofesaÉfoiÉduranteÉmuitoÉtempoÉ
a única permitida às mulheres, muito em função “da divulgação da ideologia de que este
era um trabalho feminino, uma continuação do exercido no lar, e que permitia conciliar as
funçõesÉdomésticasÉdaÉmulherBÉValeÉdestacrÉqueÉesaÉaWrmaçãoÉdizÉrespitoÉàÉWguraÉfe -
minina da mulher branca, uma vez que as mulheres negras já trabalhavam fora do seu lar,
entraoÉsemÉqueÉseuÉtrablhoÉfoseÉconsideraÉEseÉdestaquÉnosÉlaÉaev ÉreXtirÉsobreÉ
um possível apagamento dessas mulheres na história, uma vez que não são consideradas
quando se fala sobre a entrada das mulheres no mercado de trabalho.
Vasconcelos, Arruda e Souto (2013, n.p.) complementam que “as aspirações de mo-
dernização das classes dirigentes também se alinhavam à necessidade de escolarizar mini-
maentÉosÉtrablhdoesBÉcrescndoÉaÉdemandÉporÉmaisÉeducaçãoÉcontribudÉparÉ
8 De acordo com Medeiros e Frota (2011), foram as mulheres burguesas que cumpriram o papel de “rainha do
lar”. As mulheres pobres tiveram que trabalhar nas fábricas para garantir sua sobrevivência e contribuir para a
renda familiar, assim como as crianças.
124
CAPÍTULO 10
Quem são e onde estão os homens que se formaram em
Pedagogia na UFV? um recorte temporal de 2005 a 2015
YÉOsÉegresoÉdoÉCursoÉdeÉPedagoiÉdaÉUersidaÉnv
FedralÉdeÉViçosaÉeÉsuasÉtrajetóisÉproWsina
Dos 14 egressos que responderam ao questionário, apenas 1 (um) não seguiu car-
reiaÉnaÉáreaÉdeÉEducaçãoÉOutrosÉWYÉütrezeÉcontiuamÉnaÉáreaÉdeÉEducaçãoÉsendoÉqueÉ
YÉütêsr ÉocupandoÉcargosÉdeÉprofesÉdoÉEnsioÉFundametlÉnosÉanosÉWnaisÉWÉüumÉdeÉ
professor do Ensino Superior e 9 (nove) ocupando cargos de coordenação pedagógica, nas
superintendências regionais de educação e, na secretaria de educação.
Apresentamos os dados sobre os participantes no Quadro 1.
No que diz respeito à inserção desses sujeitos no mercado de trabalho e aos cargos
ocupados por eles, observa-se que apesar de a maioria dos egressos continuarem na área
da Educação, poucos (3) atuam como professor dos iniciais.
ConfrmeÉéÉposívelÉvisualzarÉWWÉüonzeÉdelsÉiestiramÉn
nv aÉcareiÉeÉWzeramÉaoÉ
menos uma especialização na modalidade de pós-graduação. Vale ressaltar que além das
três perguntas que deram origem à formulação do Quadro 1, o questionário deixou um
quarto campo para contarem um pouco sobre seu percurso para a entrada no mercado
125
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
126
CAPÍTULO 10
Quem são e onde estão os homens que se formaram em
Pedagogia na UFV? um recorte temporal de 2005 a 2015
de trabalho após a graduação, bem como sobre sua permanência, ou não, no mesmo. Essa
questão nos permitiu analisar os caminhos percorridos por esses ex-alunos.
OÉegresoÉWÉtrablhÉnaÉUersidaÉd
nv oÉEstadoÉdeÉMinasÉGeraisÉüUEMGÉeÉnãoÉ
destacouÉnenhumaÉdiWculdaeÉemÉsuaÉinserçãoÉnaÉáreaÉDepoisÉdaÉpósÇgraduçãoÉeleÉtra -
balhou como professor designado na UFV. Posteriormente, trabalhou como coordenador
durante alguns meses na cidade de Juiz de Fora (MG). No momento, cursa o Doutorado em
Educação paralelo à atividade de professor efetivo na UEMG.
OÉegresoÉÓÉparticpouÉdeÉumÉconcursÉpúblicoÉpeloÉEstadoÉdeÉMinasÉGeraisÉemÉ
ÓVWWÉeÉfoiÉnomeadÉcomÉAsitenÉTécnicoÉdaÉEducaçãoÉBásicaÉaoÉWnalÉdoÉanoÉdeÉÓVWÓÉ
cargo que ainda ocupa atualmente. Ele não fez nenhum curso de pós-graduação.
OÉegresoÉYÉrelatÉterÉtidoÉmuitasÉdiWculdaesÉparÉingresaÉnoÉmercadoÉdeÉtra -
balho. Conforme aponta, após concluir o Mestrado em Educação na UFV, em 2013, atuou
como professor na educação básica – no Ensino Fundamental e Médio – e no Ensino Supe-
rior. Além disso, passou em alguns concursos públicos e atualmente trabalha como Ana-
lista Educacional e Inspetor Escolar na Secretaria do Estado de Educação (SEE-MG). No
momento da realização da pesquisa, o egresso 3 nos disse que está cursando o Doutorado
na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
OÉegresoÉZÉapósÉterminaÉoÉMestradoÉemÉEducaçãoÉparticpouÉdeÉumÉprocesÉ
seletivo para atuar na coordenação do Curso de Pedagogia de uma instituição privada em
Minas Gerais. Foi aprovado e atua há três anos na mesma instituição, exercendo as mais di-
versas atividades. Pretende migrar para a esfera pública no próximo ano (2021), em função
das instabilidades inerentes à iniciativa privada.
OÉegres oÉ[Édis eÉqueÉnoÉprime roÉanoÉdepoisÉdeÉformado ÉemÉÓVWÕÉnãoÉconsegui É
se encaixar no mercado de trabalho. A partir de 2017, conseguiu, por processo seletivo,
alguns contratos em escolas do município em que reside, como professor substituto nos
AnosÉInic a sÉdoÉEnsi oÉFundamental ÉTambémÉnes Éperíodo Éatuo Écom Ébolsi taÉdoÉ
Programa Mais Alfabetização9. Em 2019, após passar no concurso para Professor do En-
sinoÉFundamentalÉemÉoutraÉcida eÉpróxima ÉláÉtrab lhouÉatéÉoÉWnalÉdoÉano ÉquandoÉfoiÉ
aprovado no concurso em sua cidade para Especialista em Educação (Supervisor Peda-
gógico). Atualmente, o egresso 5 faz pós-graduação em Gestão escolar e Coordenação
Pedagógica.
9 Programa criado pelo MEC que teve como objetivo a melhoria da aprendizagem dos estudantes do Ensino
Fundamental nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática, por meio da ampliação da jornada escolar
dos estudantes.
127
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
OÉegresoÉÕÉapósÉaÉconclusãoÉdoÉCursoÉdeÉPedagoiÉingresouÉnoÉMestradoÉemÉ
EducaçãoÉeÉteÉa
v sÉseguintsÉexperiênciasÉproWsinaæÉtrablhouÉcomÉbolsitaÉtécnicoÉ
em um projeto voltado para educação especial na UFV; em um curso preparatório na área
administrativa; como orientador educacional em um colégio particular; e, mais recente-
mente, como supervisor pedagógico na rede municipal de ensino.
OÉegresoÉ]ÉquandoÉeaÉn
stv oÉúltimoÉperíodoÉdoÉCursoÉdeÉPedagoiÉfezÉalgunsÉ
concursos, ao mesmo tempo em que estudava para o processo de seleção do Mestrado. Foi
aprovado em três concursos públicos e, no ano seguinte, foi chamado para assumir o cargo
na cidade de Suzano-SP. Decidiu, então, sair de Viçosa para morar em Suzano. No início,
a ideia era conciliar o trabalho com a vida acadêmica, entretanto, ele passou em outro con-
curso para atuação na prefeitura de São Paulo e acabou priorizando o mercado de trabalho.
Explanou que o sonho de seguir a jornada acadêmica continua vivo e que espera uma nova
oportunidade. Destacou também que faz uma pós-graduação em Pedagogias Humanísti-
casÉinicadÉemÉÓVW]ÉmasÉqueÉaindaÉfaltÉconcluirÉoÉTC
OÉegresoÉ^ÉpasouÉemÉumÉconcursÉnoÉseuÉúltimoÉanoÉdaÉgraduçãoÉFezÉoÉMes -
trado na mesma instituição em que se formou (UFV) e, quando saiu, foi direto para a sala
de aula dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Atualmente, trabalha como professor
concursado no Estado de Minas Gerais e como Coordenador de Extensão e Cultura em
uma faculdade privada.
OÉ egrsoÉ _É nosÉ primeosÉ anosÉ apósÉ WnalizarÉ oÉ CursoÉ deÉ edagoiÉP eÉtv suaÉ
experiênciasÉdeÉtrablhoÉintermisÉemÉespaçosÉdeÉensioÉparticulÉAoÉWnalÉdeÉÓVW]É
começou a atuar como Coordenador Pedagógico do Ensino Fundamental da Secretaria
MunicpalÉdeÉEducaçãoÉdeÉViçosaÉüMGÉTemÉduasÉespecialzaçõsÉee mÉandametoæÉEduca -
ção Especial e Psicopedagogia.
OÉ egrsoÉ WVÉ apósÉ seÉ formaÉ emÉ edagoiÉP noÉ anoÉ deÉ ÓVW[É pasouÉ aÉ darÉ aulsÉ
particulares para crianças e adolescentes do 3° ao 8° anos do Ensino Fundamental. Depois,
saiu para estudar fora de Viçosa, mas não permaneceu no Curso e nem na cidade. No ano
seguinte, entrou novamente em outra graduação, Ciências Sociais, formando-se em 2020.
Nessa área, ingressou no mercado de trabalho a partir de designações do Estado10, para
atuar como professor de Sociologia. No momento, trabalha de forma on-line, orientando e
auxiliando os estudantes de 1ª e 3ª série do Ensino Médio em uma escola estadual de Minas
GeraisÉOÉegresoÉWVÉposuiÉtambémÉumaÉespecialzaçãoÉemÉÉticaÉeÉFilosWaÉPolítica
10 Na rede pública estadual de Minas Gerais, as designações são o processo de contratação temporária de
servidores.
128
CAPÍTULO 10
Quem são e onde estão os homens que se formaram em
Pedagogia na UFV? um recorte temporal de 2005 a 2015
OÉegresoÉWWÉfoiÉaadoÉn
prv oÉconcursÉparÉprofesÉparÉoÉensioÉdoÉusoÉdaÉbi -
blioteca antes de se formar. Quando recebeu a convocação, foi para Viçosa apresentar sua
mongraWÉeÉcolarÉgrauÉAtuaÉemÉumaÉbiblotecaÉpúblicaÉdesdÉjaneiroÉdeÉÓVV_ÉDepoisÉfezÉ
Ciências Contábeis na UEMG, campus Abaeté (MG), em fevereiro de 2020.
OÉegresoÉWÓÉentrouÉnaÉredÉparticulÉcomÉtécnicoÉdeÉTecnolgiaÉdaÉInformaçãoÉ
üTIÉsubseqntmÉsendoÉCordenaÉPedagóicoÉSupervisoÉPedagóicoÉeÉprofes -
sorÉatéÉculminarÉnaÉatuaçãoÉcoÉp
m roWsinalÉliberalÉeÉconsultrÉTemÉumaÉempresaÉdeÉ
consultoria educacional, além de trabalhar na rede particular de educação. Fez pós-gra-
duação em Gestão Escolar e formações complementares na área de tecnologia.
OÉegresoÉWYÉnoÉsegundoÉanoÉdoÉCursoÉdeÉPedagoiÉfezÉconcursÉpúblicoÉemÉsuaÉ
cidade natal e foi aprovado em primeiro lugar. Continua atuando como professor até hoje
e pretende continuar, até que apareça outra proposta de trabalho que esteja vinculada à Pe-
dagoiÉFezÉumaÉpósÇgraduçãoÉemÉOrientaçãoÉEducaionlÉentreÉosÉanosÉdeÉÓVWVÉaÉÓVWW
OÉegresoÉWZÉasimÉqueÉentrouÉnaÉUÉcFV omeçouÉaÉtrablhÉmeioÉperíodoÉcobrin -
do férias de uma moça na área administrativa. Com o passar do tempo, foi gostando do
Curso de Pedagogia, principalmente da parte de gestão escolar. Formou-se, mas nunca
atuoÉnaÉeducaçãoÉAInfelizmentÉaÉproWsãoÉdeÉprofesÉéÉmuitoÉdalorizaesv daBÉdiseÉ
Em 2018, iniciou o Curso de Ciências Contábeis na UFV.
ZÉOÉqueÉeseÉdadosÉproduzidosÉnosÉdizemı
11 Não pesquisei mulheres, mas acredito que a feminização seja uma evidência do crescimento delas nas salas
de aula.
129
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
existem comportamentos, funções, vestimentas, dialetos, entre outros, que são considera-
dos masculinos ou femininos. No que diz respeito aos homens, esses foram e são vistos
como um ser viril, provedor e que reprime seus sentimentos, como aponta Connel (1995)
apud Gomides (2014, p. 64).
A respeito desse papel social do masculino, Connel (1995) apud Gomides (2014) con-
sidera que, historicamente, o comportamento do homem foi modelado, fazendo-o reprimir
seus sentimentos e levando-o a se opor não apenas ao feminino, mas, sobretudo, a todas
asÉWgurasÉqueÉarticulamÉreprsntaçõesÉconsideraÉdasÉd
tiver aÉexpresãoÉfeminaÉ
como a fraqueza, a impotência, a subordinação e a passividade.
TomandÉemÉpaÉeerspctiv saÉconstruçãoÉsocialÉdoÉidealÉdeÉmasculindeÉeÉfemi -
nilidade, passamos então a analisar como os papeis sociais construídos ao longo do tempo,
noÉqueÉdizÉrespitoÉàÉproWsãoÉdocentÉpodemÉterÉinXueciadoÉasÉtrajetóisÉdosÉpartic -
pantes desta pesquisa.
Iniciando pelo egresso 14, único participante que não seguiu carreira na educação,
devioÉàÉdalorizaesv çãoÉdaÉproWsãoÉdeÉprofesÉpodemsÉinferiÉqueÉoÉprocesÉdeÉfe -
minização e desvalorização docente foi um fator que contribuiu. Ferreira (1998) explana
queÉexisteÉforteÉrelaçãoÉentreÉaÉbaixaÉremunraçãoÉdosÉprofesÉeÉoÉfatoÉdeÉesaÉproWsãoÉ
ser predominantemente ocupada por mulheres. Ela coloca que
o fato de as professoras receberem salários baixos é visto pela sociedade como “natu-
ralBÉjáÉqueÉnãoÉdepndmÉdiretamnÉdaÉsuaÉrendaÉparÉserÉAobvi ÉremunraçãoÉ
serve apenas como um complemento da renda familiar, pois, por trás, está amparan-
doÇaÉsemprÉnoÉAedorBÉo
pv ÉhomeÉqueÉseráÉoÉresponávelÉWnaceirmtÉpelaÉ
família, mantendo o equilíbrio hierárquico das relações entre os sexos, bem de acordo
com a herança patriarcal. (FERREIRA, 1998, p. 51).
EsaÉtemÉsidoÉumaÉjaÉp
ustiWcv arÉaoÉlongÉdosÉanosÉasÉmulhersÉsermÉmenosÉ
remunadsÉdoÉqueÉosÉhomensÉnasÉmaisÉdiferntsÉproWsõeÉOsÉdadosÉdoÉInstiuoÉdeÉ
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), entretanto, nos mostram que essa não é realidade do
país na atualidade, uma vez que o percentual de domicílios brasileiros comandados por
mulheres saltou de 25% em 1995 para 45% em 2018. Segundo esse órgão, 10 milhões de
mulhersÉairamÉasu ÉcheWaÉdaÉfamíliaÉentreÉÓVWZÉeÉÓVW_ÉenquatoÉÓ^ÉmilhõesÉdeÉhomensÉ
perderam essa posição no mesmo período (PHELIPE, 2020).
DestacmoÉporémÉqueÉaÉdalorizaesv çãoÉdaÉproWsãoÉvemÉacompanhdÉdeÉou -
tros fatores, como as más condições de trabalho; o aligeiramento da formação docente, bem
como a desresponsabilização do Estado pela formação; o grande número de alunos por
130
CAPÍTULO 10
Quem são e onde estão os homens que se formaram em
Pedagogia na UFV? um recorte temporal de 2005 a 2015
Silva (2013) também avulta que homens continuam gozando dos privilégios na
hierarquia de cargos com maior prestígio em funções de atribuição de controle e poder,
ou seja, os cargos de liderança nas escolas e universidades geralmente são ocupados por
homens, enquanto às mulheres são destinados os trabalhos com menor prestígio social e
remuneração.
Essa ocupação por homens em cargos de poder não se dá somente dentro do campo
educaionlÉpoisÉsegundoÉmatériaÉdaÉrevistaÉÉPOCAÉNEGÓCIOSÉONLIEÉüÓVW^ÉparÉ
cadÉWÉüumaÉmulherÉemÉcargoÉdeÉcheWaÉexistemÉWVÉüdezÉhomensÉindicaoÉqueÉosÉho -
mens ainda ocupam cargos hierárquicos maiores em ralação às mulheres.
Segundo Bourdieu (1998, p. 15) “[...] incorporamos, sob a forma de esquemas in-
consietÉdeÉpercpçãoÉeÉdeÉapreciaçãoÉasÉestruaÉhistórcaÉdaÉordemÉmasculinB
OsÉdadosÉdaÉpesquiaÉapontamÉumÉpercntualÉdeÉ]WZÓmÉdosÉentrevisadoÉtrab -
lhando em carreiras de maior prestígio social e com maior poder na tomada de decisões,
percebendo-se que os egressos parecem seguir essa tendência social de ocupar cargos de
poderÉdentroÉdasÉinstiuçõesÉescolareÉouÉforaÉdelasÉDiscuroÉreaWrmdoÉdentroÉdasÉes -
colas e pelos dados aqui apresentados, pois é perceptível o número de egressos ocupando
cargos de maior poder de decisão e prestígio dentro da hierarquia escolar. Gomides (2014),
emÉsuaÉpesquiaÉdeÉmestradoÉintiuladÉATransitdoÉnaÉFronteiaæÉaÉinserçãoÉdeÉhomensÉ
naÉ docênciaÉ daÉ EducaçãoÉ InfatilBÉ mostraÉ porÉ meioÉ dasÉ falsÉ dos’osÉ entrvisado’asÉ
essas hierarquias de poder. Para ilustrar, transcrevemos a fala de Felipe, um de seus sujei-
tosÉdeÉpesquiaæÉAeuÉmeÉvejoÉcontribudÉmelhorÉcomÉmelhorÉdesmpnhoÉmaisÉêxitoÉ
131
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
naquilo que eu costumo chamar da área mais técnica do ensino que seria a coordenação,
aÉ superviãoÉ aÉ orientaçãoÉ educaionlÉ aÉ parteÉ maisÉ técnicaÉ maisÉ burocáticaBÉ üGOMI -
DESÉÓVWZÉpÉ][ÉEsaÉfalÉreaWrmÉoÉfatoÉdeÉqueÉnaÉEducaçãoÉInfatilÉosÉhomensÉqueÉseÉ
formaÉemÉPedagoiÉAtendmÉaÉWcarÉmaisÉconfrtáveisÉeÉestabilzadosÉnoÉteritóoÉdeÉ
contrleÉeÉdeÉmaiorÉracionldeÉnaÉescolaÉqueÉéÉoÉespaçoÉmaisÉgBÉüG
erncial OMIDESÉ
2014, p. 75).
A ocupação do Curso por mulheres também é evidenciada no trabalho de Gomides
(2014), que destaca que em sua turma havia 51 mulheres e 9 homens, fato que corrobora
com o baixo número de homens (32) em relação ao número de mulheres (552) que se for-
maram no período de 2005 a 2015, de acordo com a lista de formandos emitida pelo De-
partmenoÉdeÉEducaçãoÉdaÉUÉOFV ÉpanormÉdemonstradÉpelosÉdadosÉtambémÉvaiÉaoÉ
encotrÉdoÉPerWlÉdoÉProfesÉdaÉEducaçãoÉBásicaÉüCALHOÉÓVW^Éd
V AR estacndoÉoÉnú -
mero baixo de professores homens dentro das salas de aula na educação básica brasileira.
OsÉdadosÉaindaÉmostramÉqueÉdasÉtrajetóisÉanalisdÉosÉegresoÉWÉÓÉZÉÕÉeÉWÓÉ
já iniciaram suas carreiras em cargos de maior prestígio e hierarquia, corroborando com
osÉautoresÉcitadosÉnoÉqueÉdizÉrespitoÉàÉocupaçãoÉdesÉespaçosÉporÉhomensÉOÉegresoÉ
3 iniciou sua trajetória como professor do Ensino Fundamental e Médio, mas, após um
período, fez concursos e conseguiu mudar para a área de Analista e Inspetor Educacional,
ocupando, assim, um cargo de maior prestígio e poder. Aqui, apontamos a necessidade de
uma pesquisa mais aprofundada que busque compreender também os espaços ocupados
pelasÉmulhersÉeÉsuasÉtrajetóisÉproWsinaÉ
OÉ casoÉ doÉ egrsoÉ WVÉ eÉdscrv suaÉ diWculaesÉ parÉ aturÉ comÉ profesÉ dosÉ
Anos Iniciais do Ensino Fundamental após sua formação em Pedagogia, tanto que optou
por ingressar no Curso de graduação em Ciências Sociais. Assim, logo se ingressou na
proWsãoÉcomÉprofesÉdeÉSocilgaÉnoÉEnsioÉMédioÉNesÉsentidoÉFreitasÉüÓVW]Éar -
gumenta que os professores homens acabam por optarem por lecionar para faixas etárias
maioresæÉ
ÉWÉ.ÉaÉfaixaÉetáriaÉdosÉestudaneÉqueÉéÉmaiorÉeÉextrapolÉoÉperWlÉdosÉcuidaosÉma -
ternos; 2 – o tecnicismo dos componentes curriculares que, em tese, desprovidos de
carga emocional, ganham os contornos da racionalidade a que o homem precisa dar
corpÉNesÉperíodoÉaÉWguraÉdaÉAtiaBÉdesaprcÉdandoÉvidaÉaoÉAprofesBÉenWmÉ
OsÉ egrsoÉ ]É ^É eÉ WYÉ jáÉ vãoÉ naÉ contramãoÉ doÉ queÉ pesquiadorÉ comÉ GomidesÉ
üÓVWZÉFreitasÉüÓVW]ÉSaÉüÓVWYÉV
ilv enturiÉeÉThomasiÉüÓVWYÉentreÉoutrosÉapontamÉsobreÉ
132
CAPÍTULO 10
Quem são e onde estão os homens que se formaram em
Pedagogia na UFV? um recorte temporal de 2005 a 2015
a tendência de ocupação pelos homens de cargos mais valorizados e de maior poder deci-
sório. Eles ocupam o espaço da sala de aula, predominantemente feminino, demarcando
seu território, inferindo que os modos de ser homem podem e devem ser quebrados.
AÉformaçãoÉdeÉsv erÉumÉfatorÉimportaneÉparÉaÉproWsãoÉdocentÉeÉasÉcarcteísti -
casÉatribuídasÉaÉesaÉproWsãoÉnãoÉpodemÉserÉdeWnidasÉcomÉfeminasÉeÉsimÉcomÉcarc -
terísticas humanas. Concordamos com Lira e Bernardim (2015, p. 94) que “[...] é a formação
queÉcapcitÉparÉaÉatuaçãoÉeÉnãoÉoÉgêneroBÉ
AsimÉestaÉpesquiaÉpelosÉrecortsÉdeÉtemporalidÉeÉdeÉlocalizaçãoÉgeográWcaÉ
evidencia nos dados produzidos que os homens que se formaram entre 2005 e 2015 na UFV
vêmÉbuscandoÉocupaçõesÉemÉcargosÉdeÉmaiorÉpoderÉnoÉcampoÉeducaionlÉoÉqueÉjustiWcaÉ
o menor número de homens na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental,
nos momentos de estágio curricular do Curso, assim como o estranhamento dos pais e das
professoras diante um estagiário homem.
[ÉConsideraçõesÉWnais
133
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
Porém, diante dos dados produzidos e da realidade da maioria dos egressos, levan-
tamosÉduasÉquestõæÉatéÉqueÉpontÉasÉbareisÉdasÉdesÉd
iguald eÉgêneroÉdireconamÉ
nosaÉescolhaÉproWsinaıÉAtéÉqueÉpontÉesaÉdetrminaçõÉses ocialmentÉconstruídasÉ
são desconstruídas à medida que ocupamos esses espaços?
EntedmosÉqueÉemÉumaÉsadeÉm
oci achistÉcomÉaÉnosaÉqueÉdeWnÉpadrõesÉeÉ
lugares para homens e mulheres, é preciso resistir, desconstruir e produzir outra cultura.
DesaÉformaÉocuparÉespaçosÉproWsinaÉnãoÉpodeÉserÉcondicaÉàÉgenitáliaÉdaÉpes -
soa, pois desejo, formação e competência estão em primeiro lugar.
Referências
134
CAPÍTULO 10
Quem são e onde estão os homens que se formaram em
Pedagogia na UFV? um recorte temporal de 2005 a 2015
InæÉ SeminárioÉ InteraciolÉ FazendoÉ GêneroÉ WWÉ É WYthÉ WomensÉ WorldsÉ CongresÉ
2017, Florianópolis. AnaisÉÉFlorianópsÉÓVW]ÉDisponívelÉemæÉh4psæ&&oldiesbr&
Cms_Data/Contents/Portal/Media/arquivos/A-feminiza-o-da-educa-o-e-ocupa-o-dos-
-espa-os-de-poder-na-escola-a-for-a-do-discurso-sexista-e-a-atua-o-da-mulher-na-gest-
ÇoÇescolarMWYÇMundoÇdeÇMulhersÇÓpdfÉAcesoÉemæÉÓÕÉjunÉÓVÓW
GOMIDESÉ agnerÉW LuizÉ Transitando na fronteiraæÉ aÉ inserçãoÉ deÉ homensÉ naÉ docênciaÉ
da Educação Infantil. 2014. 87 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universida-
deÉ FedralÉ deÉ içoV saÉ içoV saÉ ÓVWZÉ DisponívelÉ emæÉ h4psæ&&wwlocusfvbr&bits -
tream&WÓYZ[Õ]^_&ÕÕ_[&W&textomÓVcompletdfÉAcesoÉemæÉÓÕÉjunÉÓVÓW
GONÇAVESÉJL osianeÉPersÉCALHOÉVV AR ivaneÉdeÉSouzaÉCoreiaÉdeÉProfesÉho -
mensÉeÉdesnvolimtÉdaÉcareiÉdocentÉemÉproWsãoÉvistaÉsocialmentÉcomÉfe -
minina. Olhar de ProfessorÉvÉÓVÉnÉWÉpÉZ_ÇÕZÉnovÉÓVW]ÉDisponívelÉemæÉh4psæ&&ww
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LIRAÉAliandrÉCristnaÉMÉB
esom ERNADIMÉGanÉdeov eÉPaulÉOÉproWsinalÉdoÉgê -
neroÉmasculinoÉnaÉEducaçãoÉInfatilæÉcomÉaÉpalvrÉpaisÉeÉprofesÉ Poiésis – Re-
vista do Programa de Pós-graduação em Educação, v. 9, n. 15, p. 80-97, jan./jun. 2015.
DisponívelÉ emæÉ h4pæ&&wwportaldeicsunb&indexphp&Poies&article&
view&Ó^W_&ÓWWÕÉAcesoÉemæÉÓÕÉjunÉÓVÓW
MAUSS, Marcel. Ensaios sobre a dádiva – forma e razão da troca nas sociedades arcaicas.
TraduçãoÉdeÉPauloÉNesÉSv ãoÉPauloæÉCosacÉNaifÉÓVVY
MEDIROSÉMoízaÉSiberaÉSaÉd
ilv eÉFAÉM
ROT ariÉHelnaÉdeÉPaulÉAÉascenãoÉdaÉmu -
lherÉàÉesferaÉpúblicaÉeÉaÉienção
trv ÉnoÉsocialæÉprimeoÇdoÉe
amis ÉasitênciaÉsocialÉ
InæÉENCOTRÉDEÉPESQUIAÉEÉPÓSÇGRADUÇÃOÉEMÉHUMANIDESÉÓÉÓVWWÉ
Fortaleza. AnaisÉÉFortalezaæÉUersidaÉF
nv edralÉdoÉCearáÉÓVWWÉDisponívelÉemæÉ
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OLIVERAÉAnaÉCarlÉMenzesÉdeÉAÉEvoluçãoÉdaÉMulherÉnoÉBrasilÉnoÉPeríodoÉdaÉColôniaÉ
aÉRepúblicaÉInæÉVIÉColóquiÉInteraciolÉEducaçãoÉeÉContempraidÉÓVWÓÉSãoÉ
Cristóvão. Anais É SãoÉ CristóvãoÉ ÓVWÓÉ DisponívelÉ emæÉ h4psæ&&riufsbr&bitsream&
riufs&WVW^Y&Ó_&WVYpdfÉAcesoÉemæÉÓÕÉjunÉÓVÓW
PHELIPE, André. Mulheres são responsáveis pela renda familiar em quase metade das casas.
Correio BrazilienseÉ WÕÉ Évef ÓVÓVÉívnopsiD Éle æÉ
me 4ph æ&&w
s ziarboier oc w moc esn il
br/app/noticia/economia/2020/02/16/internas_economia,828387/mulheres-sao-responsa-
Çpsie v Çrale ÇfadnÇeer il ma ÇqÇmesauÇdedat ÇcÉAsalmths a Éeos ec æÉÓ_Éj
m ÉÓVÓV
nu
135
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
RABELOÉ AmandÉ eiraÉOlv OÉ acesoÉ eÉ aÉ ocupaçãoÉ doÉ espaçoÉ docentÉ pelaÉ mulherÉ noÉ
ensino primário no Brasil e em Portugal. Revista Internacional de Formação de Profes-
soresÉvÉZÉnÉÓÉpÉWWÇ][ÉÓVW_ÉDisponívelÉemæÉh4psæ&&periodcstpfub&index
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ROSAÉ RenatÉ idcaÉV MarquesÉ daÉ FeminzaçãoÉ doÉ magistérioæÉ repsntaçõesÉ eÉ espaçoÉ
docente. Revista Pandora BrasilÉnÉZÉmarÉÓVWWÉDisponívelÉemæÉh4pæ&&revistapndor -
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SÁÉCarolinÉMafrÉdeÉROSAÉWalquíriaÉMirandÉHistóraÉdaÉfeminzaçãoÉdoÉMagistérioÉ
noÉBrasilæÉumaÉrevisãoÉbiblográWcaÉInæÉIIÉCONGRESÉDAÉSOCIEDAÉBRASILE -
RAÉ DEÉ HISTÓRIAÉ DAÉ EDUCAÇÃOÉ ÓVVZÉ CuritbaÉ Anais [...], Curitiba, 2004. Dis-
ponívelÉemæÉh4psæ&&docplayercomb&WZ]Õ^W[^ÇAÇhistoraÇdaÇfeminzacaoÇdoÇmagiste -
rioÇnoÇbrasilÇumaÇrevisaoÇbiblograWcÇihtmlÉAcesoÉemæÉÓÕÉjunÉÓVÓW
SILVA, Walter Lúcio da. Homens que educamæÉdesaWoÉdoÉnosÉtempoÉÓVWYÉÓ^ÉfÉTra -
balho de Conclusão de Curso (Graduação em Pedagogia) – Universidade Estadual da
aríbP aÉ CampinÉ GrandeÉ ÓVWYÉ DisponívelÉ emæÉ h4pæ&&dspacebudr&jspui&
bitstream/123456789/2156/1/PDF%20-%20Walter%20L%C3%BAcio%20da%20Silva.
pdfÉAcesoÉemæÉÓÕÉjunÉÓVÓW
ÉSAZUOS ÉTreb olua Édoisra ÉGe ÉKOT RI ênÉMai ÉRaicr ÉFohla vod zain me çãoÉdÉmo étsiga -
rio e os impactos na vida de professores nos ensinos infantil e fundamental (Pontal Minei-
ro). Revista Profissão DocenteÉvÉW_ÉnÉZWÉpÉWÇÓVÉm&a
oia ÉÓVW_ÉD
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ÇescolaÇbrasilÇcolniapdfÉAcesoÉemæÉÓÕÉjunÉÓVÓW
UNIVERSDAÉ FEDRALÉ DEÉ VIÇOSAÉ DepartmnoÉ deÉ EducaçãoÉ P rojeto Político
Pedagógico do Curso de Pedagogia. Universidade Federal de Viçosa. Viçosa-MG.
DisponívelÉ inæÉ h4pæ&&wwpedufvbr&wpÇconte&uploads&ÓVWW&V[&PPCÇPedagoiÇ
2016-FINAL1.pdf. Acesso em 03 de outubro de 2021.
ASCONELÉLV arisÉMoreiaÉARUDAÉSanÉdilv eÉLimaÉSOUTÉEmilayneÉFemin -
zaçãoÉdoÉmagistérioÉnoÉBrasilæÉentreÉasÉestraégiasÉdeÉsujeiçãoÉeÉasÉtáticasÉdeÉresitênciaÉ
InæÉIVÉSeminárioÉNacionlÉGêneroÉeÉPráticasÉCultraisÉÓVWYÉJoãoÉPesoaÉ Anais [...],
JoãoÉ esoaÉP ÓVWYÉ DisponívelÉ emæÉ h4pæ&&wwitapornge&genro&Z>VW&W[pdfÉ
AcesoÉemæÉÓÕÉjunÉÓVÓW
136
CAPÍTULO 10
Quem são e onde estão os homens que se formaram em
Pedagogia na UFV? um recorte temporal de 2005 a 2015
VENTURIÉÂngelaÉMariÉTHOMASIÉKatiÉBarosÉAÉfeminzaçãoÉnaÉeducaçãoÉinfa -
tilæÉumaÉquestãoÉdeÉgêneroÉ Revista Científica Digital da FAETEC: EDU.TEC, v. 1, n. 1,
pÉWÇW[ÉÓVWYÉDisponívelÉemæÉh4psæ&&docplayercomb&]ZÓZWÓ]ÇAÇfeminzacaoÇnaÇedu -
caoÇinfatilÇumaÇquestaoÇdeÇgenrohtmlÉAcesoÉemæÉÓÕÉjunÉÓVÓW
VIANÉClaudiÉPeriaÉAÉfeminzaçãoÉdoÉmagistérioÉnaÉeducaçãoÉbásicaÉeÉosÉdesaWoÉ
parÉaÉpráticaÉeÉaÉidentiaÉcaÉdoletiv ocentÉInæÉYÉS
ANOULS ilvaÉCristnaÉüorgÉ
TrabalhadorasæÉ análiseÉ daÉ feminzaçãoÉ dasÉ proWsõeÉ eÉ ocupaçõesÉ BrasíliaæÉ AbaréÉ
ÓVWYÉDisponívelÉemæÉh4pæ&&wwproducasb&handle&BDPI&ZZÓZÓÉAcesoÉemæÉÓZÉ
jun. 2021.
137
CAPÍTULO 11
Caminhos percorridos por quem aqui
passou: histórias que se (entre)cruzam
Cristiane Aparecida Baquim et al.1
WÉOsÉcaminhosÉdosÉautoresÉseÉüentrecuzam
OÉ
ProgamÉ deÉEducaçãoÉTutorialÉ üPETÉéÉ umÉprogamÉ doÉMinstérioÉ daÉEdu -
cação (MEC) que visa contribuir para a melhoria da qualidade do ensino na
educação superior. Foi criado em 1979 e busca estimular os discentes para que,
mediados por um professor tutor, desenvolvam atividades de ensino, pesquisa e extensão
para além do previsto no currículo do Curso (MEC, 2006). Atualmente o programa conta
comÉ^ZÓÉgruposÉdistrbuídosÉemÉWÓWÉinstiuçõesÉdeÉeducaçãoÉsuperioÉpeloÉBrasilÉüh4pæ&&
portal.mec.gov.br/pet)
ÉA ÉVFU Éaides Éoti Ésopurg ÉTEP Éodnes Ésel Ésod Ésovitcep r æÉA
soruc ção
artsin md É
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e ÉEserba egn -
nharia Agrícola e Ambiental, Engenharia de Produção e Nutrição, no campus de Viçosa; e o
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TEP ção
acud ÉnÉo campusÉdÉFe ÉElatsero Éúl
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omit ÉPm ÉiTE Éqranilpcsdretn Éieu Éoargetn És
cursos de licenciaturas existentes no campusÉTÉosod Égs Éssopur ãoÉcÉpsodaner ÉCole êÉ
timo
Local de Acompanhamento e Avaliação (CLAA), vinculados à Pró-reitoria de Ensino (PRE).
ÉgadC ÉPopur ÉpTE Éuiuso Étam Édairótej Édadicnerf Éae Écodrc Éamo Écs ísretca Ésacit
dos cursos que os sedia. Mas essas trajetórias são marcadas por todos os estudantes e tuto-
res que já compuseram seus quadros e construíram o caminho para os que ingressam hoje.
OÉgrupoÉPET&EDUÉ.ÉConexõesÉdeÉSabersÉposuiÉumaÉtrajetóiÉdeÉmuitoÉapren -
dizado e construção de conhecimento, sendo escrita com muito cuidado e compromisso
social há dez anos. Em dezembro de 2010, a Professora Wânia Maria Guimarães Lacerda
propôs à Universidade a criação do grupo, ligado ao Curso de Pedagogia, com 12 bolsistas
e 6 não bolsistas, apresentando como tema principal o “Acesso e permanência de estudan-
1 Este trabalho tem a coautoria de todos os petianos que atuam no grupo atualmente. Seus nomes podem ser
conferidos na última página deste trabalho.
138
CAPÍTULO 11
Caminhos percorridos por quem aqui passou:
histórias que se (entre)cruzam
tesÉdeÉcamdsÉpopularesÉàÉuersidaBÉA
nv oÉlongÉdesÉdezÉanosÉdeÉhistóraÉoÉPET&
EDU contou com três professoras do Departamento de Educação (DPE) como tutoras. A
primeira foi a professora Wânia, já citada (de dezembro de 2010 a maio de 2011 e de em
maio de 2012 até maio de 2018); a professora Alvanize Valente Fernandes Ferenc (de junho
de 2011 a maio de 2012) e a professora Cristiane Aparecida Baquim (de maio de 2018 até
os dias atuais).
Passaram pelo programa um total de 78 petianos e, atualmente, o grupo conta com
19 estudantes, sendo 12 bolsistas, 6 não bolsistas e 1 voluntária.
Contextualizar a história deste grupo é importante porque, ao mesmo tempo em
que o Curso de Pedagogia completa 50 anos, em 10 destes anos os estudantes do Curso
puderam contar com este espaço formativo e de convivência estreita com o tripé que sus-
tenaÉaÉuersidaæÉo
nv ÉensioÉaÉpesquiaÉeÉaÉextensãoÉSendoÉumaÉdasÉApernasBÉdestÉtripéÉ
aÉpesquiaÉtodsÉosÉpetianosÉdemÉu
snvol mÉprojetÉdeÉinicaçãoÉcientíWcaÉindivualÉ
mas também realizam coletivamente uma pesquisa sobre um tema de relevância para o
grupo. E considerando a aproximação do cinquentenário do Curso, este tem sido o tema
da pesquisa coletiva desde 2019.
AoÉlongÉdestÉperíodoÉoÉgrupoÉseÉreuniÉparÉestudarÉmaterisÉbiblográWcosÉqueÉ
contassem a história do Curso2, ouviu as histórias dos atuais docentes e fez uma busca por
egressos e ex-docentes cujos caminhos se (entre)cruzaram nos corredores do DPE para,
2 Nessa etapa da pesquisa, contamos com a colaboração do professor Denilson Santos de Azevedo, do DPE.
139
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
por meio da história oral, registrar seus percursos. Vamos, neste capítulo, contar um pouco
da trajetória dos egressos, colaboradores da pesquisa que compartilharam suas histórias.
OÉgrupoÉrealizouÉdezoitoÉüW^ÉentrevisaÉcomÉegresoÉdaÉPedagoiÉcujasÉforma -
turas perpassaram variadas décadas desde a sua criação.
aÇsObserv eÉqueÉaÉmaiorÉdosÉentrevisadoÉoptouÉpelaÉhabiltçãoÉemÉSupervisãoÉ
Escolar, quando o Curso ainda era dividido em habilitações. Após a publicação das Dire-
trizes Curriculares do Curso (DCN) de Pedagogia, instituídas pela Resolução CNE/CP nº
140
CAPÍTULO 11
Caminhos percorridos por quem aqui passou:
histórias que se (entre)cruzam
OÉLicenadoÉemÉPedagoiÉgraduoÉpelaÉUÉeFV stáÉhabiltdoÉparÉatuarÉnaÉAdmi -
nistração Escolar do Ensino Fundamental e Médio; na Supervisão Escolar do Ensino
Fundamental e Médio e no Magistério das Matérias Pedagógicas do Ensino Médio.
OÉLicenadoÉemÉPedagoiÉpoderáÉtambémÉatuarÉnaÉorganizaçãoÉdeÉsistemaÉeÉuni -
dades escolares, em projetos e experiências educacionais, na produção e difusão do
conheimtÉcientíWcoÉeÉtecnológiÉdaÉeducaçãoÉeÉnasÉáreasÉemergntsÉdoÉcampoÉ
educacional (UFV, 2006).
arÉWP nsÉdeÉatendrÉaoÉdispotÉnaÉResoluçãoÉqueÉinstiuÉasÉDCNÉoÉCursoÉpasouÉ
por uma reformulação de seu Projeto Pedagógico de Curso (PPC) e, em 2008, o catálogo já
aÉcWgurv omÉaÉseguintÉredaçãoæÉ
141
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
soÉaÉoutrasÉlegislaçõesÉcomÉéÉoÉcasoÉdaÉResoluçãoÉCNE&CPÉn7ÉÓ&ÓVW[ÉqueÉADeWnÉasÉDi -
retrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licen-
ciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura)
eÉparÉaÉformaçãoÉcontiuadBÉüMECÉÓVW[
OÉQuadroÉWÉsugerÉqueÉdentrÉasÉhabiltçõesÉqueÉexistiamÉantesÉdasÉDCNÉaÉsuper -
visãoÉeraÉaÉmaisÉprocuadÉpelosÉlicenadosÉoÉqueÉdemonstraÉconsânciaÉcomÉoÉperWlÉ
do mercado de trabalho que existia na época. Além de estar habilitado para o magistério
na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, quem escolhia a supervisão
encontrava mais vagas de emprego na rede pública e privada de ensino.
A habilitação em administração, que preparava para assumir um cargo de direção
nas escolas, estava subordinada a essa mesma lógica de mercado, porém na época não con-
tava com um dos princípios da gestão democrática que é a eleição do gestor. Estes cargos
eramÉdeÉconWaçaÉeÉutilzadosÉnaÉmaiorÉdasÉvezesÉcomÉmoedaÉdeÉtrocaÉnasÉdisputaÉ
políticoÇeleitorasÉdasÉcidaesÉoÉqueÉreduziaÉsamentÉa
igWcv sÉchancesÉdeÉatuaçãoÉ
na área.
EÉporÉWmÉaÉhabiltçãoÉemÉmatériasÉpedagóicsÉpaÉprepv arÉlecionarÉalgumasÉ
disciplinas no Curso de Normal (conhecido também como Magistério) de 2º grau (atual-
mentÉensioÉmédioÉOÉArtÉÕÓÉdaÉLDBÉ_Y_Z&_ÕÉestimuloÉqueÉaÉformaçãoÉdosÉprofesÉ
para atuar na educação infantil e anos iniciais passasse a ser realizada em cursos superio-
res, admitindo apenas como formação mínima a que ocorre no âmbito dos cursos Normal
de 2º grau, o que contribuiu para que, paulatinamente, os sistemas de ensino deixassem
deÉofertaÉesaÉformaçãoÉproWsinalÉeÉporÉconsequênciaÉesteÉdeixouÉdeÉserÉumÉcampoÉ
de atuação atraente para o pedagogo. A ex-aluna Verbena, quando questionada sobre o
seuÉpercusoÉproWsinalÉdestacÉesaÉquestãoæÉAüAtueiÉnaÉSupervisãoÉeÉdeiÉaulaÉparÉoÉ
magistério até em 1998, aí o Curso acabou, voltou, mas eu não voltei pra dar aula não. Aí
pasouÉparÉoÉmagistérioÉsuperioBÉsic
OÉegresoÉCravoÉremoraÉeseÉinícioÉdoÉCursoÉaÉpartiÉdoÉseuÉolharÉdeÉestudaneÉ
e, também, de servidor público que atuou na UFV. Vale a pena reproduzir, aqui, a sua
meóriaæÉ
OlhaÉnosÉcursoÉfoiÉumÉcursoÉqueÉinicouÉnesaÉuersidaÉn nv éÉAÉuersidaÉnv
incalmetÉ aÇschmv eÉ AEscolaÉ superioÉ deÉ agricultÉ deÉ içoV saBÉ ÉV ESA criadÉ
pelo Presidente na época Arthur Bernardes, que era de Viçosa. Mais tarde ela passa a
ersidaÉR AUnv uralÉdoÉEstadoÉdeÉMinasÉGeraisBÉUREMGÉEntreiÉparÉtrablhÉnaÉ
UREMG em 77, mais tarde ela passa a ser a UFV, e precisa criar-se cursos para que ela
pudesse se transformar em uma Universidade Federal. Foi então que criaram as licen-
142
CAPÍTULO 11
Caminhos percorridos por quem aqui passou:
histórias que se (entre)cruzam
ciaturas, porque até então, era curso de Agronomia, Economia Doméstica, [Engenha-
ria] Florestal, mais tarde então que foram criados dando a ela uma abrangência maior
da área de humanas. Educação física, Pedagogia, Letras e tantos outros cursos de li-
cenciatura. E hoje ela abrange muito mais, tem na área médica, veterinária, medicina
humana, então a Universidade hoje está projetada como universidade realmente fe-
deral, embora sua natureza, sua tradição rural, sua tradição de ciências da terra ainda
vão além-fronteiras, nós somos mais conhecidos em Viçosa como as ciências da terra.
As áreas de humanas, sociais, biológicas, não tem o mesmo grau de importância dada
a tradição da universidade que vem da ESAV, da UREMG, que passa para a UFV. Foi
montado um currículo com os professores da casa que já eram funcionários, funcioná-
rios não... formados, mas já pertencentes a Universidade. E eu me lembro, estou aqui
com a listinha com os nomes deles que iniciaram o curso, foram os meus primeiros
professores. Professor Dica Deville, que era da divisão de assistência da Universidade
eÉpasouÉaÉserÉprofesÉdeÉWlosWaÉOÉXicoÉSimonÉveioÉdeÉFlorestaÉqueÉpertncÉaÉ
UFV, tinha feito em Divinópolis, curso de Pedagogia e veio dar Estrutura do Ensino,
HistóraÉdaÉEducaçãoÉOÉpadreÉMendsÉqueÉeraÉcapelãoÉdaÉUÉf ersidanv oiÉdarÉparÉ
nósÉpsicolgaÉOÉdoutrÉArinÉmédicoÉdaÉUersidaÉdnv arÉBaÉqiopsclg ueÉéÉumaÉ
disciplina que eu acho que vocês não tem e é muito importante, foi muito importante.
A professora Maria da Conceição Rolim Simões da Economia Doméstica, mas dando
para nós técnicas de recursos audiovisuais. A professora Sônia da Silva dando Meto-
dologia da Pesquisa. A professora Esmeralda, dando inglês. Juraci Barros da Econo-
mia Doméstica dando Literatura, e outros professores que iniciaram com a gente nes-
saÉépocaÉOÉcurículoÉfoiÉmuitoÉbomÉeÉatenduÉaÉparteÉgeralÉeÉaÉespecíWcaÉdentroÉdasÉ
possibilidades, um curso que iniciava, foram feitas duas reformas depois, mas eu acho
que o primeiro não tem nada a desejar para as reformas que depois sucederam, acho
atéÉqueÉalgumasÉreformasÉdeixaramÉumaÉlacunÉnoÉmeuÉentedrÉüCRA VOÉsic
Quando eu fui escolher o curso, tentei serviço social em Juiz de Fora, mas preferi
Pedagogia pois atuaria em salas de aula. Já fui supervisora, professora, trabalhei em
uma escola que consegui perceber as realidades, me deparei pela primeira vez com
piolhsÉÉEmÉW__YÉWzÉumÉconcursÉnaÉprefituaÉeÉemÉW__ZÉeuÉpaseiÉeÉcomeciÉaÉ
trablhÉEraÉbemÉdifícilÉpoisÉnãoÉeaÉp
ncotrv esoaÉparÉcuidarÉdosÉmeusÉWlhosÉ
143
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
TrablheiÉporÉWÓÉanosÉcomÉprofesaÉmeÉafasteiÉparÉserÉdiretoaÉmasÉminhaÉatua -
ção era para professora dos anos iniciais. Após, em 2006 teve concurso para inspeção
e aí eu entrei. Aposentei como inspetora. Adoro a área. São muitas coisas boas que o
cursoÉnosÉtrazÉAÉproWsãoÉéÉmuitoÉgratiWcneÉüAÉsZALEI ic
NesaÉfalÉalémÉdaÉdÉn
ersidav oÉcampoÉdeÉatuaçãoÉéÉposívelÉidentiWcarÉumaÉ
outra característica do Curso de Pedagogia que é a questão de gênero. As mulheres repre-
sentaram e ainda representam a maioria dos estudantes deste Curso, o que coloca sempre
em evidência a necessidade de debater seus percursos considerando alguns fatores que,
por vezes, podem comprometer suas permanências, como a gestação, a maternidade, os
cuidaosÉdomésticosÉaÉsobrecagÉdeÉtrablhoÉoÉconXitÉdaÉvidaÉacadêmicaÉcomÉaÉreali -
dade doméstica, dentre outros.
Notoriamente, podemos constatar que os estudantes que dispõem de apoio familiar
e tempo para se dedicarem aos estudos, avançam com mais tranquilidade no Curso. A fala
daÉPlumériaÉreconhdÉoÉseuÉcontextoÉfavorávelÉseÉcompardÉàsÉcolegasÉéÉexpaæ
resiv
EntãoÉeuÉnãoÉposÉdizerÉqueÉeuÉtinhaÉmuitasÉdiWculdaesÉeuÉtinhaÉtempoÉparÉlerÉeÉ
erÉcscv oisaÉqueÉmuitasÉamigasÉnãoÉtinhamÉMuitasÉcolegasÉjáÉtinhamÉWlhosÉmuitoÉ
comuÉnéÉÉNaÉPedagoiÉéÉmuitoÉcomuÉterÉWlhoÉmuitaÉmulherÉqueÉatuaÉNósÉ
éramos 60 na época, 55 eram mulheres e deve ter rolado aí, nesses 4 anos, deve ter
rolado nesse meio tempo umas 15 crianças. Então eu tinha colegas que tinham muito
maisÉ diWculaeÉ terÉ WlhoÉ éÉ maisÉ difícilÉ éÉ maisÉ difícilÉ estudarÉ tendoÉ queÉ cuidarÉ deÉ
uma casa, eu morava com meus pais não precisava preocupar em fazer comida, é
muitoÉ maisÉ difícilÉ estudarÉ eÉ terÉ queÉ trablhÉ euÉ nãoÉ eÉtiv esaÉ adesÉiWcul üPLU -
MÉRIA) [sic].
3. As pedras no caminho
Não é fácil levar a termo um curso superior. Não é fácil passar pelo competitivo
procesÉseltivoÉseÉidentiWcarÉcomÉoÉCursoÉpermancÉsemprÉmadoÉptiv arÉasitrÉasÉ
144
CAPÍTULO 11
Caminhos percorridos por quem aqui passou:
histórias que se (entre)cruzam
aulas e desenvolver as inúmeras atividades que cada docente considera fundamental para
aÉcomprensãoÉdeÉsuaÉdiscplnaÉÉÉasimÉqueÉnaÉUÉt
FV emosÉu
iv maÉTaxaÉdeÉSucesoÉdaÉ
GraduçãoÉüTSGÉdaÉordemÉdeÉ[V_mÉemÉÓVW_ÉtaxaÉqueÉjáÉalcançouÉ^YÕmÉemÉÓVV^ 4
e foi
decrescendo, resultado de inúmeros fatores que não cabe debater nos limites deste texto.
Essa realidade não é diferente para os estudantes do Curso de Pedagogia, muitos
dosÉquaisÉtrablhmÉduranteÉoÉdiaÉeÉfrequntamÉasÉaulasÉnoÉperíodoÉnoturnÉOsÉegresoÉ
entrvisadoÉnaÉpesquiaÉapresntamÉalgumasÉdasÉApedrasBÉqueÉencotramÉnoÉmeioÉ
doÉcaminhoÉeÉqueÉWzeramÉoÉseuÉpercusoÉserÉumÉpoucÉmaisÉacidentaoæ
Acho que, um dos obstáculos de início, foi [...] de acostumar a ter ritmo de leitura, eu
não tinha. E a gente vê que a cada texto, a cada leitura que a gente vai fazendo, a gente
vai melhorando, o vocabulário vai aumentando. Porque no início eu... tinha texto que
euÉpaÉeegv ÉfaæÉA
lv meuÉDeusBÉEuÉtinhaÉqueÉWcarÉolhandoÉnoÉdiconárioÉeÉnãoÉente -
diaÉnadÉeÉàsÉvezesÉnãoÉéÉsóÉvocêÉolharÉnoÉdiconárioÉTemÉtodaÉumaÉquestãoÉaliÉosÉ
conceitos e fazer relação com a Pedagogia. E assim, acho que isso foi aos pouquinhos
mesmo. Acho que ao longo do curso todo (JASMIM) [sic].
Quando eu era caloura eu peguei uma cadeira da sala de estudos e levei para meu
quarto achando que poderia, e a moça que era dona da cadeira colocou cartaz no alo-
jamento inteiro procurando a cadeira dela (risadas) e a cadeira estava no meu quarto.
Essa é uma boa lembrança que eu tenho, pois representa a ingenuidade estudantil
da gente. Eu tenho boas lembranças de professores dedicados que eram muito pater-
nalistas no sentido de ajudar, encorajar, incentivar mesmo a estudar, porque a gente
acbÉ indoÉ parÉ içoV saÉ eÉ tendoÉ muitaÉ diWculaeÉ deÉ WcarÉ longeÉ daÉ famíliaÉ enWmÉ
muitas memórias boas, as amizades, tenho amizades em Viçosa que eu trouxe para
minha vida inteira, eu não tenho nenhuma lembrança ruim da UFV, nem de Viçosa
üLÓTUSÉsic
ObstáculosÉéÉconcilarÉaÉnaÉfov ormaÉdeÉgeriÉaÉvidaÉmoraÉforaÉcuidarÉdeÉvocêÉpagrÉ
aluguel, lavar roupa, essas coisas todas que no início da vida eu não tinha isso, morava
comÉminhaÉfamíliaÉentãoÉaÉprimeaÉcoisaÉéÉesaÉserÉresponávelÉTambémÉaÉprópiaÉ
estrutura, essa coisa de comer em bandejão, o que não é simples, acho que tudo é um
reaprender uma forma diferente de lidar. Conciliar no meu caso trabalho e a faculda-
de, o fato de ser a noite, eu nunca estudei a noite, com aulas até tarde, eu queria fazer
outras coisas a noite e até o fato de eu ter começado a namorar quem é hoje meu ma-
rido, e conciliar no sentido de não perder o foco no estudar. Eu diria maturidade para
lidar numa situação de autogestão. Não ser vencido pelas festas do DCE, não vencer
por outras questões, ou seja, ter responsabilidade para manter o foco naquilo que era
o objetivo (CALÊNDULA) [sic].
Essas falas das ex-alunas retratam o que Carneiro e Sampaio (2011) discorrem a res-
peitoÉdaÉaWliaçãoÉinstiucoalÉTodsÉosÉanosÉmilharesÉdeÉjensÉdov eixamÉoÉensioÉmédioÉeÉ
adentram os espaços das instituições de educação superior e isso impõe uma série de mu-
danças em suas rotinas de estudantes. Citando Coulon (2011, p. 53), as autoras concordam
que “tornar-se um estudante universitário é aprender um ofício, mesmo que temporário,
145
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
parÉnãoÉfrÉnacs oÉpercusoÉacadêmicoBÉOÉprimeoÉanoÉdoÉCursoÉéÉmuitasÉvezesÉdeW -
nidor desse percurso acadêmico e muitos desistem, mudam de curso, alteram seus planos.
AÉexÇalunaÉAmarílisÉrelatÉoutrosÉaspectoÉdesaÉadaptçãoæ
AÉgentÉtinhaÉesaÉdiWculdaeÉnaÉpesquiaÉPorqueÉoÉacesoÉqueÉaÉgentÉtinhaÉeraÉaÉ
biblioteca e o xerox. Ai… xerox, xerox e mais xerox que a gente tirava. Não tinha esse
acesso à internet de hoje em dia. Então às vezes a gente queria um livro, né. Falava de
algum autor, de algum livro, nossa... até você descobrir onde que tinha o livro, você
encomendar e o livro chegar você quase que já perdia o interesse pelo livro, de tanto
que demorava. [...] Mas tinha a biblioteca à nossa disposição que sempre foi excelente,
isso não resta dúvida (AMARÍLIS) [sic].
Essa fala apresenta uma característica importante do espaço físico adequado ao en-
sino que a UFV sempre buscou cultivar. Além da Biblioteca Central que, na atualização do
acervo de 31 de dezembro de 2019, contava com 191.043 exemplares de livros e 7.654 títulos
de periódicos5, bem como diversos outros materiais, o DPE dispõe de uma Biblioteca Seto-
rial com um importante acervo na área da educação. Dados do DPE informam que possui
cerca de 8.039 títulos com 10.776 exemplares, 353 periódicos, além de outros materiais. A
biblioteca conta ainda com sistema informatizado Pergamum interligado ao acervo da Bi-
blioteca Central, o que facilita o acesso às informações necessárias às pesquisas6.
É possível perceber que, logicamente, este acervo foi sendo ampliado ao longo do
tempo, permitindo que estudos e pesquisas fossem favorecidos pela atualização do mate-
rialÉdeÉapoiÉtantoÉbiblográWcoÉquantoÉtecnológiÉAÉegresaÉVerbnaÉqueÉseÉgraduoÉ
emÉW_^ZÉdemonstraÉemÉsuaÉfalÉaÉdiWculdaeÉqueÉeaÉdnfretv uranteÉoÉCursoæÉ
A falta de material de pesquisa, porque os materiais para fazer pesquisa eram em es-
panholÉEÉosÉcomputadresÉeramÉAunsÉtremÉgrandeBÉqueÉninguémÉsabiÉmexerÉfácilÉ
emosÉqTiv ueÉfazerÉalgumaÉcoisaÉprocuaÉalguémÉparÉajudarÉaÉgentÉtraduzirÉoÉqueÉ
nãoÉ conseguiÉ entdrÉ TínhamosÉ queÉ fazerÉ osÉ trablhosÉ aÉ mãoÉ tínhamosÉ umaÉ
máquina, mas era na base de fazer na mão (VERBENA) [sic].
146
CAPÍTULO 11
Caminhos percorridos por quem aqui passou:
histórias que se (entre)cruzam
oÉprocesÉdeÉaprendizagemÉcomÉWcaÉevidencaoÉnaÉfalÉdaÉexÇalunaÉBroméliaÉqueÉseÉ
graduoÉemÉW_]Õæ
ForamÉ asÉ diWculaesÉ queÉ oÉ cursoÉ aÉpresntv queÉ osÉ profesÉ vinhamÉ deÉ foraÉ
e às vezes não chegavam, já aconteceu acidente com uma das professoras, com esse
problemaÉWaÉo cv ÉhorárioÉvagoÉeÉtamÉv
ocv iolãoÉoÉcampusÉnãoÉtinhaÉatendimoÉ
nenhum de trailer ou restaurante. Às vezes dava tempo de jantar no refeitório, às
vezes levava lanche, no prédio principal tinha aula no subsolo, quando foram expul-
soÉdoÉprédioÉprincpalÉelesÉWcarmÉumÉtempoÉsemÉaulaÉporqueÉnãoÉtinhaÉlugarÉatéÉ
conseguirÉoÉespaçoÉnaÉFlorestaÉcomÉisoÉWcarmÉumÉtempoÉsemÉlugarÉparÉestudarÉ
üBROMÉLIA
NósÉcçaome mosÉnumÉprédioÉdeÉmadeirÉatéÉmuitoÉsoWsticadÉqueÉaÉescolaÉdeÉFlorestaÉ
tinha feito. Eram algumas salas, tinha algum problema de acústica por ser de madeira,
não tinha muitas salas, mas atendia. Dali nós mudamos para um prédio de alvenaria
da escola superior de Floresta, segundo andar. Já deu uma melhorada na parte física.
Dali, não me lembro de todas as mudanças, mas terminamos tendo a nossa própria
casÉemboraÉaindaÉligadÉaÉescolaÉsuperioÉdeÉEconmiaÉDomésticaÉTemosÉdiv uasÉouÉ
três salas e mais as nossas salas de aula, mais tarde apareceram o chamado PVA e de-
pois que eu tinha saído daí, o PVB. Então as condições físicas foram bem satisfatórias
simÉNoÉinícioÉnãoÉhaviÉaÉconstruçãoÉdeÉPAÉnV emÉPVBÉüCVOÉsRA ic
147
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
deÉposibltarÉaÉfrequênciaÉdosÉproWsinaÉdeÉensioÉprincpalmetÉdeÉViçosaÉeÉ
microrregião. Em 1978, a Escola Superior de Economia Doméstica é transformada em
DepartmnoÉ OÉ DepartmnoÉ deÉ EducaçãoÉ pasÉ entãoÉ aÉ terÉ aÉnov instucoal -
dade, se vinculando ao Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, criado também
nesÉ mesoÉ anoÉ OÉ períodoÉ entrÉ W_]^É eÉ W_^WÉ éÉ decisvoÉ parÉ aÉ conslidaçãoÉ doÉ
espaço do Departamento de Educação dentro da UFV, através da renovação do seu
quadro docente.
ArtÉYVÉExigirÇseÇáÉcomÉformaçãoÉmínimaÉparÉoÉexercícioÉdoÉmagistérioæÉ
a noÉensioÉdeÉW7ÉgrauÉdaÉW6ÉàÉZ6ÉsériesÉhabiltçãoÉespecíWcaÉdeÉÓ7Égrau
b noÉensioÉdeÉW7ÉgrauÉdaÉW6ÉàÉ^6ÉsériesÉhabiltçãoÉespecíWcaÉdeÉgrauÉsuperioÉaoÉ
nível de graduação, representada por licenciatura de 1º grau obtida em curso de
curta duração;
c emÉtodÉoÉensioÉdeÉW7ÉeÉÓ7ÉgrausÉhabiltçãoÉespecíWcaÉobtidaÉemÉcursoÉsuperioÉ
de graduação correspondente a licenciatura plena.
A turma era majoritariamente de mulheres, tendo apenas quatro homens em sua com-
posiçãoÉ NesÉ períodoÉ eramÉtiv mudançasÉ asÉignWctv noÉ curículoÉ umÉ exemploÉ
disoÉeraÉaÉdidáticaÉtinhaÉaÉdidáticaÉIÉIIÉeÉIIÉnoÉprimeoÉsemstrÉosÉalunosÉWcarmÉ
incomodados com a disciplina, o conteúdo era nitidamente importado de outros paí-
ses e não trabalhava com a realidade brasileira. No segundo semestre não foi possí-
vel observar mudanças, dessa forma, a turma inteira resolveu abandonar a disciplina
mesmo aqueles que já tinham passado, ninguém queria aquele conteúdo em seus his-
tóricosÉnãoÉeraÉnaquiloÉqueÉaamÉOcreditv ÉDepartmnoÉdeÉEducaçãoÉfoiÉacionadÉ
148
CAPÍTULO 11
Caminhos percorridos por quem aqui passou:
histórias que se (entre)cruzam
para resolver esse problema, a turma tinha conseguido fazer um reboliço na Universi-
dade, essa luta não foi em vão e os alunos conseguiram mudar o percurso trazendo a
signWcânciaÉdeÉumÉcurículoÉbrasileoÉWcarmÉconhecidsÉcomÉaÉturmaÉdeÉ^[ÉAlémÉ
disso, ocorreram algumas mudanças na matéria de Psicologia I e II, os alunos acre-
amÉqditv ueÉaÉdiscplnaÉnãoÉcabiÉnoÉcurículoÉdeÉPedagoiÉdaÉépocaÉüLÍRIOÉsic
Esse quadro apresentado por Lírio carrega as memórias afetivas de sua caminha-
da, permeada pelo espaço político formativo das reivindicações estudantis. Assim como
ele, outros/as egressos nos contaram sobre suas memórias mais marcantes na trajetória do
Curso.
NãoÉ souÉ umaÉ pesoaÉ inXuecávelÉ entãoÉ asÉ coisaÉ doÉ externoÉ euÉ tenhoÉ focÉ eÉ nãoÉ
chegamÉ aÉ meÉ inXuecarÉ MasÉ porÉ exemploÉ euÉ terÉ entradoÉ emÉ W__ÕÉ queÉ foiÉ numaÉ
época da transição de legislação na área da educação, que eu estava estudando. Então
eu estava entrando num curso onde a lei maior que rege a educação está sendo escrita.
EntãoÉeuÉacreditoÉqueÉisoÉmeÉinXuecioÉporqueÉaÉgentÉteÉu v mÉolharÉeÉeuÉvejoÉ
hoje pelas pessoas que formam em Pedagogia, ou que já ministrei aula em cursos de
Pedagogia, ou quando estamos dando uma palestra, as pessoas têm uma visão redu-
zida. E a gente estava no meio estava em um muro, então a gente tinha que estudar
tudo que estava para trás e para frente e estávamos vivendo aquela história. Isso que
eu acho importante é que a gente construiu uma base na questão da legislação, que
foi muito bem trabalhada com a gente e isso foi muito legal. Era o governo de FHC, as
universidades estavam todas temerosas de serem privatizadas, estava uma loucura, a
insegurança era grande, tivemos greve de alunos, foi a primeira greve de alunos por-
que a gente sempre teve greve de professores, e nessa época teve uma greve grande
deÉalunosÉporqueÉeaÉt stv udoÉaumentadoÉdeÉpreçoÉOÉAbandejãoBÉeaÉc
stv aroÉeÉosÉ
alunos não estavam aceitando. E essa biblioteca que existe hoje aí, essa biblioteca azul
marvilhosÉqueÉexisteÉaíÉnoÉmeioÉelaÉfoiÉserÉinaugrdÉüDÁLIA Ésic
149
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
Esse relato demonstra como o movimento estudantil sempre esteve presente, bus-
cando participar democraticamente da gestão da universidade, muitas vezes tensionando
oÉ debatÉ eÉ inXuecadoÉ nasÉ decisõÉ políticasÉ acdêmicasÉ eÉ pedagóicsÉ queÉ regmÉ aÉ
vida no campus.
NaÉ épocaÉ doÉancredoÉT esÉNv euÉ aÉestv aíÉ EuÉ lembroÉ queÉ noÉ diaÉ queÉ elÉ iaÉ tomarÉ
posse, 15 de março, era dia da passeata de Nico Lopes, ainda tem a passeata aí? Pois
é, no meu tempo era muito bom. Não teve a passeata porque choveu muito e teve a
confusãoÉsobreÉTancredoÉNesÉWv carÉdoentÉEuÉsaíÉparÉprocuaÉaÉpasetÉeÉsóÉtinhaÉ
eu na rua. Não teve a passeata, eu lembro disso. Ah teve uma vez, que a orquestra
sinfôcaÉ doÉ RioÉ eioÉv eÉ tocuÉ comÉ oÉ coralÉ deÉ OuroÉ PretoÉ comÉ oÉ coralÉ deÉ içoV saÉ eÉ
foiÉ bonitÉ demaisÉambémT É tinhaÉ semanÉ deÉ educaçãoÉ todÉ anoÉ tinhaÉ semanÉ daÉ
educação. Não me recordo de mais fatos já que saí em julho de 85 daí. Na época o úni-
co mestrado que podíamos era educação rural, não tinha outros cursos. Aí voltamos
parÉcasÉeuÉvolteiÉnormalÉminhaÉirmãÉvoltuÉdeÉAbocaÉabertaBÉqueÉnãoÉqueriaÉvirÉ
embora (VERBENA) [sic].
Essa fala acompanha o contexto histórico que foi marcado pela eleição no período
das Diretas Já, num processo de abertura política e redemocratização do país, que teve
comÉpresidntÉeleitoÉoÉmineroÉTancredoÉNesÉEv steÉnãoÉchegouÉaÉocuparÉoÉcargoÉvindoÉ
a falecer após a sua conquista, e o seu vice, José Sarney, se tornou o primeiro presidente
civil do Brasil depois de um longo período de ditadura militar.
Ela relata, também, a tradicional Marcha Nico Lopes que ocorria no campus da UFV,
e que tinha um forte apelo de luta e resistência por parte do movimento estudantil, sempre
apresentando pautas que visavam contestar perdas de direitos e garantir o espaço de atua-
ção institucional da universidade pública. Com o passar do tempo, o caráter contestatório
da Marcha foi perdendo força e, em seu lugar, uma roupagem mais festiva se evidenciou.
Atualmente, o Diretório Central dos Estudantes ainda promove a Nico Lopes, mas de fato,
observa-se que não há tanta mobilização em torno de pautas políticas quanto em anos
anteriores.
NaÉfalÉdeÉTulipaÉtambémÉpodemsÉpercbÉcomÉoÉmovimentÉestudanilÉcompu -
nhaÉaÉdinâmicaÉdaÉvidaÉacadêmicaæ
Nesse período existiam muitos movimentos estudantis, e eram muitos fortes. Acon-
tecuÉ umaÉ eÉgrv naÉ épocaÉ eÉ oÉ pesoalÉ WcouÉ alojdÉ emÉ frentÉ aÉ reitoaÉ fechandoÉ
alojmentsÉeÉrefitóroÉOutroÉfatoÉmarcnteÉeraÉaÉeleiçãoÉdoÉDCEÉqueÉmexiaÉcomÉaÉ
ersidaÉiunv nteiraÉüTÉsA ULIP ic
A egressa Rosa relembra, com muitos detalhes, a relação estabelecida com alunos
eÉprofesæ
150
CAPÍTULO 11
Caminhos percorridos por quem aqui passou:
histórias que se (entre)cruzam
E o que me chamou a atenção na UFV era que as turmas, a gente tinha os encontros,
tinhaÉexcelntsÉproWsinaÉexcelntsÉprofesÉcomÉumÉprofesÉdeÉpsicol -
giaÉoÉpadreÉMoacirÉGrosiÉfantásticoÉEraÉaÉprimeaÉturmaÉeÉeuÉWqueiÉmuitoÉamigaÉdeÉ
umÉpadreÉeraÉumÉpadreÉtambémÉmasÉnãoÉeraÉmeuÉprofesÉPesoaÉqueÉeuÉWqueiÉ
amiga e me deram muitas forças, [...] em aulas da educação que era no PVA, que a
gente tinha aula e no Salão Nobre, as primeiras, com aquele Salão nobre que enchia a
salÉdeÉalunosÉdeÉtodsÉosÉcursoÉaÉLETÉWVVÉEraÉumaÉloucraÉmasÉeraÉumÉmomentÉ
asimÉmuitoÉgostÉTinhaÉumÉprofesÉeÉoÉnomeÉdelÉeraÉGuiÉCapidevlÉfantás -
ticoÉ FilosWaÉ É eraÉ umÉ excelntÉ profesÉ masÉ asimÉ fantásticoÉ umÉ proWsinalÉ
excelntÉÉOÉprofesÉManoelÉEsaúÉqueÉmeÉmarcouÉmuitoÉEleÉnãoÉfoiÉmeuÉpro -
fessor ele já faleceu. E o relacionamento que eu tive com a professora Eneida Godim,
fantástico também que não foi da escola, foi assim como mãe de aluno nas escolas
queÉosÉWlhosÉdelasÉpasrmÉporÉminhasÉmãosÉentãoÉeuÉvejoÉcomÉmuitaÉfelicdaÉ
assim tem alunos de todos os jeitos e o que mais marcou é a questão humana que está
faltndoÉtantoÉhojeÉüRÉsOSA ic
AÉAquestãoÉhumanBÉqueÉaÉentrevisadÉapresntaÉaoÉfalrÉdaÉsuaÉrelaçãoÉcomÉosÉ
docentes do DPE surge também na memória afetiva de outros egressos, destacando as
amizades construídas, a formação que ocorria em outros espaços institucionais ligados ao
departamento e ao Curso, as práticas de extensão universitária, as alegrias da convivência
emÉespaçosÉdeÉlazeræ
Quando eu entrei já era a [professora] Rosa, o Edgar também, Edgar chegou a ter uma
participação, mas aí já estava mais em outros projetos, sabe?! Ainda conviveu bastan-
te. Então, no NEAD foi uma experiência que eu sempre quis ter. Desde quando eu
entrei na graduação, por ter tias que foram alfabetizadas lá eu tinha essa vontade de
trabalhar lá no NEAD, e eu sempre gostei da Educação de Jovens e Adultos também e
eu ainda tenho vontade de voltar a trabalhar com a EJA. E a minha experiência lá foi
muito boa porque eu dei aula pra alfabetização, dei para o seguimento, nem sei como
está chamando agora, mas é do sexto ao nono, eu dei aula de Língua Portuguesa e
trabalhei com a inclusão digital também [...]. E a minha experiência na alfabetização
foi muito boa, eu tinha aluno de 22 anos até, se eu não me engano, quase 80. Então, ex-
periências, conversas riquíssimas, foi um trabalho muito bom e as pessoas com quem
eu trabalhei lá também foram trocas ótimas (JASMIM) [sic].
OÉNúcleoÉdeÉEducaçãoÉdeÉJensÉe
ov ÉAdultosÉüNEADÉatuaÉcomÉesaÉmodalieÉdeÉ
ensioÉdesdÉoÉanoÉdeÉW_^]ÉeÉseÉconWguraÉcomÉumÉimportaneÉespaçoÉdeÉformaçãoÉparÉ
os estudantes não apenas do Curso de Pedagogia, mas também de várias outras licencia-
turas9.
OÉqueÉqueÉtinhaÉnaÉminhaÉépocaÉvocêsÉnuncaÉdemÉt
v erÉouvidoÉfalræÉextensãoÉdoÉ
Gilberto Melo. Era um programa que mandava pro campo sempre um pedagogo, um
agrônomo, um zootecnista. Ia uma Kombi cheia de gente. Então assim, o pedagogo ia
pra escola e os outros pro campo mesmo, para as fazendas, fazer pesquisa. No nosso
caso, [...] o trabalho da gente era pouco tempo de observação do professor, a gente
151
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
chegava na sala, na escolinha, porque era escolinha de roça, zona rural, mas aquela
zona rural lá mesmo, aquelas escolinhas bem no meio da zona rural. Então, o papel
nosso era observar as aulas e a gente discutia em grupo, os grupos de pedagogas que
estavam com esse trabalho de extensão, a gente discutia o que a gente via de esquisito
ali, por exemplo, eu assistia duas vezes a professora só, depois eu trabalhava na sala
de aula, então por exemplo eu via lá a professora gritando com o menino, ou dando
beliscão, porque antigamente isso era moda né, então eu discutia aquilo com o grupo
É eÉ aÉ gentÉ aÉpensv emÉ estraégiasÉ praÉ voltarÉ naÉ escolaÉ enquatoÉ AprofesaBÉ
porque aí eu ia fazer um estágio na escolinha e aí eu ia aplicar o inverso do que eu vi
de errado, entendeu? Então, não sei se todos da Pedagogia era assim, mas nossa turma
tinha isso e era muito legal (AZALEIA) [sic].
OÉProgamÉGilbertoÉMelo 10
, ligado à Pró-reitoria de Extensão e Cultura, foi criado
em 1980 e objetivava proporcionar uma formação mais prática para os estudantes, por
meioÉdaÉextensãoÉTambémÉnoÉcampoÉdaÉextensãoÉaÉegresaÉAmarílisÉapresntaÉsuaÉparti -
cipação no Projeto Rondon , pelo qual já passaram inúmeros estudantes e professores da 11
ÉTUFV ratÇseÉdeÉumÉreconhidÉprojetÉextensiotaÉcordenaÉpeloÉMinstérioÉdaÉDe -
fesa e visa “contribuir com o desenvolvimento da cidadania nos estudantes universitários,
empregando soluções sustentáveis para a inclusão social e a redução de desigualdades
regionasÉeÉvisandoÉaoÉfortalecimnÉdaÉSoberaniÉNacionlBÉüBRASILÉÓVÓW
AhÉeuÉWzÉprojetÉRondÉenquatoÉalunaÉdaÉuersidaÉt
nv áÉgentÉnãoÉseiÉseÉvocêsÉ
já ouviram falar do projeto Rondon. Nós fomos, eu e uma amiga minha, fomos em
Altamira, lá no Pará, no meio dos índios, foi maravilhoso, porque aí foi um grupo
da universidade de Viçosa e da universidade de Uberaba. Aí tinha dentista, médico,
tinha o pessoal da Pedagogia, a gente deu assistência à uma escolinha precária, mas
daquelas assim, fundo de casa, mas a professora era um amor de pessoa. A gente fez
placa pra escolinha, a gente ajudou com um monte de material, nossa mas foi super
divertido e já estava assim escrito pra ir, esqueci o nome da cidade agora, mas era um
outro lugar que tinha, mas aí fechou o convênio e a gente não pôde ir, foi uma expe-
riência assim, inesquecível, muito bom (AMARÍLIS) [sic].
DentrÉosÉfatosÉmarcntesÉBegôniaÉfazÉosÉseusÉdestaquæ
Mas tinha sim os amigos, os barzinhos da época [...]. Mas da universidade, a reta da
universidade é uma coisa maravilhosa, sentar esperando o bandejão, entrar no PVA,
aquele monte de aluno, são coisas que me marcaram muito.[...]
A aula inaugural da Universidade me marcou muito, pois foram abordados assuntos
sobre a sexualidade. E isso realmente foi uma preocupação, todos os alunos eram
muito novos. [...] Eu participava de tudo, mas nunca me envolvi com drogas e coisas
negativas. E aí isso era uma preocupação da Universidade. A questão da Ditadura
(BEGÔNIA) [sic].
152
CAPÍTULO 11
Caminhos percorridos por quem aqui passou:
histórias que se (entre)cruzam
Como é possível observar nessa fala, que também se repetiu nas falas de outros
entrevistados, os diversos espaços físicos da UFV também se tornam o cenário das relações
queÉforamÉseÉestabelcndoÉaoÉlongÉdosÉanosÉdeÉgraduçãoæÉaÉcaminhdÉpelaÉAretaBÉqueÉ
é a principal avenida que ladeia o campus e que leva o nome do professor que coordenou
a instalação do que viria a ser a Escola de Viçosa, Peter Henry Rolfs12É oÉ AbandejãoBÉ ouÉ
ARUBÉcomÉosÉestudaneÉdenomiaÉoÉRestaurnÉUersitárnv ioÉoÉABÉe
A PV ÉoÉAPVBÉ
que são os pavilhões onde está a maioria das salas de aulas utilizadas para ministrar as
disciplinas; dentre tantos outros espaços nos quais a vida da comunidade universitária
pulsa com vigor.
Lírio, um egresso que se formou em 1987, sintetiza como essas marcas históricas
seÉconstiuíramÉemÉlembrançasÉindeléveisÉqueÉnemÉY[ÉanosÉpasdoÉconsegumÉapagræ
A lembrança mais gostosa é da turma, a relação era tão boa que a maioria tem contato
até hoje, possuem até grupo no WhatsApp, mesmo depois de 35 anos de formados
ainda se falam e marcam encontros. Foi criada uma escola em Viçosa pela esposa
de um dos professores do curso, na época ela se chamava Monteiro Lobato, e dentre
quatorze professores da escola, doze eram da turma de 85. Nesse período o construti-
vismo estava sendo implantado no Brasil, essa escola foi uma das primeiras a adquirir
o movimento no país, foi um período muito legal. Além disso, é preciso lembrar de
moentsÉsignWcatvosÉnaÉFedralÉumÉexemploÉdelsÉforamÉosÉgrandesÉmovimentsÉ
estudantis, a marcha Nicolopes (onde tinham posicionamentos políticos muito inte-
resantÉeÉoutroÉmarcoÉimportaneÉfoiÉaÉtomadÉdaÉreitoraÉosÉalunosÉWcarmÉacam -
pados na reitoria por mais de uma semana para reivindicar melhorias na Universida-
de. Hoje esses movimentos são lembrados e carregados de muitas saudades, sendo
necessário também, enfatizar a importância de professores brilhantes que passaram
pelaÉgraduçãoÉüLÍRIOÉsic
TodasÉesaÉlembrançasÉcomÉnumÉmosaicÉmultifacedoÉqueÉseÉaranjÉparÉpro -
duzirÉumaÉimageÉcompletaÉconXuíramÉparÉformaÉnaÉpaÉd
erspctiv eÉcadÉentrevisa -
do, a imagem do que é ser Pedagogo/a.
[ÉOÉqueÉéÉserÉpedago&aæÉAoÉanelÉdeÉpratÉeÉoÉanelÉdeÉ
balB
153
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
154
CAPÍTULO 11
Caminhos percorridos por quem aqui passou:
histórias que se (entre)cruzam
OÉqueÉéÉserÉpedagoıÉEuÉachoÉqueÉéÉvocêÉterÉaÉposibldaeÉdeÉajudarÉasÉpesoaÉ
a enxergar o mundo com outro olhar, com um olhar mais crítico, ajudar as pessoas a
termÉumaÉaprendizagemÉsaÉq
ignWctv ueÉrealmntÉfaçaÉaÉdifernçaÉnaÉvidaÉdelasÉ
euÉachoÉqueÉéÉporÉaíÉüVÉsA IOLET ic
Ser pedagogo para mim é poder olhar a educação de outra forma, é ter uma perspecti-
va diferente, é ter um olhar mais abrangente de como as coisas realmente acontecem.
Porque algumas não dão certo, e umas dão certo demais. É você ampliar seu foco de
visão e ao mesmo tempo ter uma visão clínica. É você saber e entender as questões
políticas que envolvem a educação, e como as mesmas mudam através do tempo e
dos fatos. É ter capacidade de entender todo processo legal que envolve a escola e
a educação, é poder tomar decisões assertivas para resolver os problemas que nos
deparmosÉüDÉsÁLIA ic
Ser pedagogo é querer dar de tudo para que a educação tenha mais qualidade, seja
maisÉacesívelÉqueÉsejaÉumaÉeducaçãoÉigualitáriaÉüMAGNÓLÉsIA ic
Ser Pedagogo/a, antes de tudo, e de acordo com a compreensão das DCN em vigor
(Resolução nº 1/2006), é ter a docência como pilar de formação e sustentação, o que requer
o conhecimento da escola, o investimento constante em pesquisa e formação continuada,
a participação na gestão dos processos educativos, dentre tantos outros atributos. E ter a
docênciaÉcomÉbaseÉsignWcaÉseÉdeixarÉmarcÉoÉtempoÉtodÉpelasÉiençõtrv esÉaasÉfetiv
dosÉeducanosÉcomÉWcaÉregistradoÉnoÉrelatoÉdaÉHortênciaæ
Para mim pedagogo... Primeiro é minha essência, porque eu amo, né? E estar em uma
sala de aula, esse contato com outros professores é o que me faz crescer, o que me faz
pensar todo dia [...]. Pedagogia pra mim é vida. É o que eu respiro todo dia, desde
dezessete anos, então a Pedagogia pra mim é o meu trabalho, é o amor. E eu amo a
edagoiÉe
P ÉachoÉqueÉtodÉtodÉproWsinalÉqueÉéÉpedagoÉtemÉqueÉserÉumÉapai -
xonadoÉnãoÉsóÉpedagoÉnéÉgentıÉTemÉqueÉamarÉaÉproWsãoÉmasÉtemÉqueÉamarÉ
mesoÉOÉmédicoÉtemÉqueÉsairÉdeÉcasÉapaixonadoÉpeloÉhospitalÉSeÉnãoÉcomÉéÉqueÉ
elÉvaiÉrecbrÉseusÉpacientsıÉOÉlixeiroÉtemÉqueÉirÉpraÉruaÉcomÉseusÉinstrumeoÉdeÉ
trablhoÉeÉtemÉqueÉfazerÉaquiloÉcomÉamorÉporqueÉsenãoÉeleÉnãoÉvaiÉfazerÉbemÇfeitoÉOÉ
padeiro que não gosta de fazer pão, pelo amor de Deus, eu não quero comer o pão que
ele faz. Ele não vai colocar afeto ali e eu acho que tudo que a gente faz a gente tem que
fazerÉcomÉafetoÉcomÉamorÉmesmoÉOÉverdaioÉsentidoÉdaÉpalvrÉserÉpedagoÉéÉ
isso. Você vai lidar com a vida, porque são seres humanos que você lida diretamente e
tudo acontece na escola, tudo mesmo, tudo que a criança vive, tudo que o adulto vive,
ApiocaBÉláÉnaÉescolaÉeÉnaÉuersidaÉEnv ntãoÉvocêÉquerÉconhecrÉumaÉpesoaıÉVaiÉ
ser professor dela, que você conhece [...], pois tudo acontece numa escola gente, tudo.
AgoraÉ porÉ exemploÉ ElesÉ tãoÉ falndoÉ OsÉ psicólogÉ falmÉ queÉ casoÉ deÉ estuproÉ
estão acontecendo, abusos e que ninguém está dando conta? Porque não está tendo
aula13, porque o professor, ele olha para dentro do olho do aluno, ele olha pra alma
13 Em função da pandemia da Covid-19, desde meados de março de 2020 as aulas presenciais foram interrom-
pidas nas escolas de educação básica e nas instituições de educação superior de todo o país.
155
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
do aluno e ele compreende que está acontecendo alguma coisa com essa criança. E
isoÉéÉumaÉcoisaÉasimÉqueÉéÉimpresionatÉÉaÉgentÉjáÉfaÉclv omÉaÉmãeÉnoÉWnalÉ
daÉaulaæÉAOlhaÉhojeÉfulanoÉpasouÉaÉaulaÉinteiraÉcaldoÉdeÉt v erÉaconteidÉalgumaÉ
coisaÉprocueÉiestigarÉOnv ÉprofesÉtemÉqueÉserÉmesmoÉapaixonadoÉÉEuÉcomeciÉ
a trabalhar, eu dava aula numa escola da minha cidade, que era estadual e atendia lá
crianças de um padrão social elevado e crianças que não tinham o que comer em casa,
porque na minha cidade não tinha escola particular, estudavam todos na mesma esco-
la. Imagina né, uma coisa espetacular. E aí na minha sala de aula eu tinha alunos que
iamÉatéÉdoentsÉparÉcomerÉporqueÉnãoÉqueriaÉWcarÉsemÉaÉmerndaÉteÉu v maÉalunaÉ
minha que teve catapora, ela era proibida de ir, porque a catapora é visível, né? Então,
ela era proibida, mas o irmãozinho dela ia todo recreio, que era a hora da comida e
ele levava um caldeirãozinho e chegava lá na porta da escola com um caldeirãozinho
pra gente colocar a comida da irmãzinha dele. Então, e são coisas assim que a gente
via. Eu ganhei nesse ano, um anel de um aluno meu, ganhei um anel de prata, que eu
guardo até hoje, um anelzinho de prata; e no outro dia eu ganhei de outro aluno um
anelzinhoÉdeÉbalÉqueÉeuÉtambémÉguardoÉatéÉhojeÉOÉmenioÉmeÉdeuÉumÉanelÉdeÉpra -
ta dentro de uma caixinha muito bonitinha, aquela coisa toda, né? E no outro dia um
me deu um anel que vinha no chiclete, ou na bala, não é da época de vocês, mas tinha e
vinha uns aneizinhos e com a pedrinha colorida. Esse estava sem a pedra e ele colocou
na caixinha de fósforo, colocou algodão e me entregou, né? E eu não sei por que, mas
euÉguardeiÉosÉdoisÉeuÉtenhoÉatéÉhojeÉEseÉdoisÉEntãoÉasimÉfoiÉmuitoÉsignWcatvoÉeÉ
serÉprofesÉparÉmimÉéÉisoÉÉÉvocêÉencotraÉdepoisÉcomÉseuÉalunoÉeÉeleÉfalrÉasimæÉ
AnosaÉpÉqrofesa ueÉsaudeBÉComÉeuÉouviÉdeÉumÉalunoÉmeuÉAvocêÉtemÉcheiroÉ
deÉminhaÉinfânciaBÉIsoÉnãoÉtemÉpreçoÉgentÉüHORTÊNÉsCIA icgrfoÉnos
EÉHortênciaÉdizÉnãoÉsaberÉporÉqueÉguardoÉosÉdoisÉanéisæÉfoiÉporÉ AMOR
ÕÉOÉcaminhoÉcontiuaÉparÉaquels&asÉqueÉvirão
EsteÉ trablhoÉ nãoÉ temÉ umaÉ conlusãoÉ nãoÉ seÉ encraÉ nestaÉ linhasÉ OsÉ próiosÉ
petianos, alunos e alunas do Curso de Pedagogia de hoje, que colaboraram para o desen-
volvimento deste trabalho, serão os egressos de amanhã. São os/as estudantes de hoje que
estão trilhando o caminho que muitos pavimentaram com suas histórias, suas práticas,
suas construções e mediações. Para esses e os próximos que virão, os entrevistados deixa-
ramÉalgumasÉinterlocuçõesæ
a) A importância de valorizar o campo de atuação: compromisso que (re)começa com cada
Pedagogo/a
EsaÉ AcaixinhaBÉ queÉ muitasÉ dasÉ ezev sÉ nósÉ mesoÉ comÉ proWsinaÉ colamsÉ aÉ
edagoiÉpP rimeoÉporÉnãoÉvalorizarÉaÉproWsãoÉqueÉescolhemÉSegundoÉporÉnãoÉ
trazerÉ estÉ olharÉ ação inov É eÉ reXxãoÉ queÉ fazÉ parteÉ daÉ nosaÉ vidaÉAchoÉ queÉ nosaÉ
essência como formação, veja como a gente estuda, em termos de teóricos, de história,
psicolgaÉsocilgaÉtemosÉtantoÉumaÉbaseÉparÉconstruiÉumaÉestruaçãoÉproWs -
sional boa, e às vezes a gente se limita demais a nossa visão e a nossa atuação. Então
acho que está no nosso papel fazer isso [...]. Saber se posicionar sempre e acho que
não tem outra opção na vida que é continuar estudando e aprofundar em linhas que
156
CAPÍTULO 11
Caminhos percorridos por quem aqui passou:
histórias que se (entre)cruzam
você gosta, e incrementar o estudo que você acredita. E eu tenho muito orgulho de ser
pedagoga, e as pessoas tem que trazer isso como uma bandeira no sentido de orgulho,
daÉproWsãoÉdaÉformaçãoÉeÉdoÉconhecimtÉentãoÉparÉmimÉsãoÉesaÉbaseÉeÉcren -
ças que eu levo e gostaria de compartilhar com vocês (CALÊNDULA) [sic].
b) A base forte, alicerçada no Curso da UFV, necessária para uma práxis amorosa, respon-
sável e comprometida
Eu acho que assim, ter um olhar para o aluno, para o ser humano que você trabalha
com ele, um olhar de afeto, acho que isso é fundamental. Quando você tem um olhar
de afeto, você consegue ser simpático, você consegue ser enfático, e você consegue
ser mais humano. E aproveitem muito o curso porque esse curso é diferenciado. As
vezes que eu saí de Viçosa pra fazer curso fora, que eu junto com outros pedagogos,
eu notava assim que a UFV é diferenciada (AZALEIA) [sic].
OÉambientÉescolarÉéÉbemÉpesadoÉÉAgoraÉaoÉmesmoÉtempoÉéÉumÉternoÉmuitoÉ
fértil para a aprendizagem. [...] Além das formações teóricas e pedagógicas, esse en-
contro de mundos diferentes é fascinante! Esse é o maior presente para o educador.
Se adaptar a realidade dos alunos e despertar neles o desejo de conhecer coisas novas.
Fazer os alunos desvendarem o mundo (BEGÔNIA) [sic].
ÉtahlO Éq
odu Ée eu És u Ée uo Éd u Éaove ÉoÉd eda inutrop Ée
e Én
raduts ÉU
a ÉÉÉu
VF Él m Éoragu Éedn
se aprende de tudo, tanto pra vida acadêmica como pra sua vida geral. A gente tem a
oportunidade de conviver com tantas realidades num mesmo espaço, dos alunos que
estão à sua volta e que vieram de várias partes do país. E também você encontra pessoas
de outros países com outras realidades. Eu acho que essa visão que você tem, essa opor-
tunidade que a Universidade te dá de convivência, ela não tem preço. Isso te faz crescer
Éotium Éom c Éres Éonamuh Ée Élanois W rp Éeuqrop êÉ cov Éaripser Éarutl c ãoN É Émet Éom c
êÉW
cov Éarac íÉeÉnãoÉaÉaredn rp Écamugl ÉEasio Éqm Éereuqla çoaps ÉqÉveu êÉe co áÉt
ts Éume Éam
discussão que você tira alguma coisa importante. Então eu acredito que hoje eu me vejo
Éuom c Épam Éslanois W r Éqaruge Éqeu Éeodnau Étu Éuom Édam ãosice ÉnÉsa Édair te c Éue Ém
relatório que eu vou ler, de uma pessoa que eu vou contratar, eu tenho um embasamen-
to teórico. Por trás de mim tem isso tudo, e é por isso que eu tenho segurança nas coisas
que eu faço. E eu não tenho dúvida, eu devo isso à Universidade, aos professores, a pró-
pria estrutura, a própria forma de fazer a Educação chegar aos alunos, essa seriedade
Éaeuq ÉUÉpeda isre vin Épas Éaar ÉgÉaetn ÉgÉsetn Éceug Éemo Éaal ÉvÉtadi ÉüD ado ÉsAILÁ ci
d) Um campo de atuação que deve respeitar a diversidade, não fazer distinção de gênero e
lutar por igualdade profissional
Eu gostaria de falar também que a Universidade, o departamento passou por três mo-
mentosÉOÉprimeoÉmomentÉdoÉnosÉcursoÉcomÉsendoÉoÉprimeoÉcursoÉdeÉáreaÉdeÉ
157
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
humanas, e como noturno, às vezes eram chamadas até de corujas, era um momento
que éramos vistos como um curso complementar ao magistério, não sendo um curso
superior. Um curso de mulheres que se estranhava porque eu o Chico fazíamos esse
cursoÉPorqueÉnãoÉesperamoÉpraÉfazerÉumÉcursoÉAdeÉhomeBÉEraÉumÉcursoÉtipca -
mente feminino e da região como eu falei, então depois nós fomos ampliando, abrindo
isso e trabalhando numa outra raia, que é uma raia numa abertura onde Educação
não tem sexo. Educação se dá em todos os níveis com professores que devem ser
bem pagos, não só como Educação como um ato de amor, mas Educação que merece
respeito. Nós queremos que todos os educadores de todos os níveis tenham salário
digno, justiça, reconhecimento do seu trabalho mais do que hoje ele anda tendo, e que
nós possamos ser vistos em igualdade de condição com as demais áreas que fazem
curso superior, somos um curso superior sim, e com muito orgulho eu faria Pedagogia
outraÉvezÉüCVOÉsRA ic
enhoÉuT maÉgratidãoÉenormeÉporÉterÉestudaoÉemÉViçosaÉeÉéÉmuitoÉintersaÉpor -
que como estive em outras instituições também, a gente não tem no Brasil um cam-
pus, uma universidade como a gente tem em Viçosa, é muito bacana, só depois que
a gente vai embora é que a gente tem a real noção disso, porque é um trabalho muito
diferenciado, um movimento muito bacana e pra mim eu tenho essa gratidão. Não só
por tudo que eu vivi, mas pelo processo que eu construí, pela cidade que me acolheu,
é muito legal parar e pensar hoje na minha trajetória de 35 anos de formado, tudo que
euÉjáÉWzÉeÉtudoÉqueÉeuÉconquisteÉeuÉsouÉmuitoÉgratoÉaÉesaÉminhaÉhistóraÉeÉterÉvivdoÉ
emÉ içoV saÉ praÉ miÉ éÉ semÉ dúvidaÉ umaÉ dasÉ melhorsÉ ersidaÉunv doÉ mundoÉ OÉ
reconhecimento de falar que estudou na Federal de Viçosa é muito grande, vocês vão
ver isso quando estiverem no mercado de trabalho, a universidade tem uma referência
muitoÉgrandeÉnoÉBrasilÉeÉforaÉdelÉüLÍRIOÉsic
TodasÉesaÉreXxõesÉnosÉpermitÉaWrmaÉsemÉquaisqerÉdúvidasÉqueÉemÉseusÉ
cinquenta anos, o Curso de Pedagogia da UFV marcou muitas trajetórias de vida, desde
aqueles que se formaram em seus espaços, até os que são impactados pelo trabalho de-
senvolvido pelos mais de 2000 egressos. A contribuição desse Curso para a UFV e para a
sociedaÉbrasileÉestáÉemÉcadÉrealidÉmodiWcaÉemÉcadÉhistóraÉdeÉsuperaçãoÉemÉ
cada contribuição no ensino, na pesquisa e na extensão que visa manter de pé o ideário de
uma universidade pública, gratuita, inclusiva, para todos e todas.
Referências
158
CAPÍTULO 11
Caminhos percorridos por quem aqui passou:
histórias que se (entre)cruzam
159
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
Os&AsÉAutores&as
São estudantes de diversos períodos do Curso de Pedagogia que, no ano de 2021, fazem parte
doÉgrupoÉPET&EDU&UFVÉ.ÉConexõesÉdeÉSabersÉForamÉosÉresponáveisÉsobÉaÉtutoriaÉdaÉprofesaÉ
Cristiane Aparecida Baquim e apoio do professor Denilson Santos de Azevedo, pela realização e trans-
crição das entrevistas relatadas. Figuram, pois, como coautores deste trabalho.
160
CAPÍTULO 12
Um relato prático de experiência:
asÉdperctiv esaWoÉeÉposibldaeÉ
do curso de Pedagogia
alithÉET amÉMstev oreiaÉCabrl 1
1. Introdução
OÉ
presente artigo apresenta informações acerca do histórico do Curso de Pedago-
gia no Brasil e na Universidade Federal de Viçosa (UFV), bem como seu campo
de atuação, aliando teoria e fundamentos centrais desse Curso, obtidos através
deÉumaÉrevisãoÉbiblográWcaÉsobreÉaÉtemáticaÉeÉsuaÉaplicaçãoÉpráticaÉporÉmeioÉdeÉalgumasÉ
experiências vivenciadas durante e após a minha formação como pedagoga.
PretndÇseÉcomÉesaÉanáliseÉcomprendÉoÉhistórcoÉdesaÉproWsãoÉsuaÉestru -
turaçãoÉeÉperWlÉAliadoÉaÉisoÉseráÉapresntadoÉatravésÉdeÉumÉrelatoÉdeÉexperiênciaÉalgu -
mas das ocupações possíveis ao egresso do Curso de Pedagogia no mercado de trabalho,
haja vista que a docência com as crianças pequenas é o que mais se atribui à carreira desse
proWsinalÉNoÉentaoÉháÉoutrasÉoportunidaesÉparÉeseÉproWsinaÉqueÉprecisamÉ
ser mais difundidas e trabalhadas.
Acerca desse assunto, estudos mostram que a Pedagogia travou lutas, com a inten-
ção de consolidar a sua identidade real, da mesma forma as ações designadas ao pedago-
goÉqueÉpodeÉserÉdeWnidaÉemÉalgunsÉmomentsÉcomÉtécnicoÉouÉespecialtÉdaÉeducaçãoÉ
em outros como professor, ou talvez como um estudioso da educação. Nesse mote, preten-
deÇseÉaÉpartiÉdestÉartigoÉesclareÉesaÉposibldaeÉseusÉdesaWoÉeÉsuasÉperspcti -
vas atuais.
1 Pedagoga e mestre em Educação pela UFV. Atualmente, é professora do ensino básico de Minas Gerais e
professora adjunta da Faculdade Fundação Presidente Antônio Carlos. E-mail para contato: tcabralpedagogia@
gmail.com.
161
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
ÓÉOÉhistórcoÉdoÉCursoÉdeÉPedagoiÉnoÉBrasilÉeÉsuaÉ
criação e consolidação na UFV
OÉCursoÉdeÉPedagoiÉnoÉBrasilÉpodeÉserÉconsideraÉcomÉtendoÉsuaÉfundaçãoÉ
a partir de 1939, na Universidade do Brasil (atualmente Universidade Federal do Rio de
JaneiroÉdentroÉdaÉFaculdeÉdeÉFilosWaÉCiênciasÉeÉLetrasÉüFURLANÉÓVV[É
A princípio, a formação do Pedagogo era marcada pela fragmentação entre bacha-
relado e licenciatura. Desse modo, quem concluía o bacharelado tinha a habilitação técnica,
enquanto os licenciados poderiam atuar nas Escolas Normais e na Secundária. Nos anos
de 1940 e 1950 e em parte dos 1960, o Curso de Pedagogia não teve grandes mudanças e
aÉformaçãoÉdesÉproWsinalÉWaÉàÉm
cv ercêÉdoÉentedimoÉdasÉinstânciasÉsuperiosÉ
tendo como eixos norteadores citados através do Decreto-Lei nº 1.190 de 4 de abril de 1939,
asÉseguintsÉdiplnasæÉp
c sicolgaÉeducaionlÉadminstraçãoÉescolarÉfundametosÉbio -
lógicos da educação e fundamentos sociológicos da educação.
OÉanoÉdeÉW_ÕÓÉéÉmarcdoÉcomÉaÉaação
prov ÉdoÉparecÉCFEÉÓ[W&ÕÓÉdetrminadoÉ
uma nova proposta para o currículo mínimo do Curso. Apesar disso, foi mantida a duali-
dade bacharelado versus licenciatura, conforme nos apresentam em seus estudos autores
comÉNóvoaÉüW__[ÉBrzezinskiÉüW__ÕÉSaÉüW___Ée
ilv ntreÉoutros
NoÉanoÉdeÉW_Õ^ÉaÉLeiÉn7É[[ZV&Õ^ÉleiÉdaÉreformaÉuersitárnv iaÉWcouÉdeWnidoÉnoÉ
art. 30, que “[…] o preparo de especialistas destinados ao trabalho de planejamento, su-
pervisão, administração, inspeção e orientação no âmbito de escolas e sistemas escolares,
farÇseÇáÉemÉnívelÉsuperioBÉüBRASILÉW_Õ^ÉNoÉanoÉseguintÉ
162
CAPÍTULO 12
Um relato prático de experiência: perspectivas,
desao1e1posibldae1do1curso1de1Pedagoi
educaçãoBÉüW__ÓÉpÉ]WÉDesÉmodÉéÉposívelÉpercbÉnasÉt
ov endênciasÉparÉoÉCursoÉ
fortalecendo a formação com base na docência e indicando a gestão como possibilidade,
confrmeÉéÉposívelÉconWrmaÉatravésÉdeÉinformaçõesÉdoÉInstiuoÉNacionlÉdeÉEstudoÉeÉ
esquiaÉEP ducaionsÉAnísioÉTeixeiraÉüINEP
Nos anos que se seguem, questões básicas sobre o Curso seguiram sendo discutidas
eÉdesnvolidaÉnosÉencotrsÉnacionsÉAÉpropstaÉdeÉAformaÉoÉproWsinalÉdeÉPedago -
gia tendo a docência como base da identidade do pedagogo a partir de um núcleo comum
éÉmantidÉapenasÉmudaÇseÉoÉnomeÉparÉAbaseÉcomuÉnacionlBÉqueÉpasÉaÉconstiurÇseÉ
noÉcernÉdaÉpropstaÉparÉosÉcursoÉdeÉformaçãoÉdeÉeducaoresBÉüFURLANÉÓVV^ÉpY^Õ_É
Na década de 1990, os princípios empresariais foram transferidos com mais ênfase
para o campo educacional, transformando a educação em um produto em oferta no mer-
cadoÉNesÉviésÉtêsr ÉeentosÉs
v ignWcatvosÉmarcmÉaÉtransfomçãoÉparÉosÉprocesÉ
educaionsæÉUmÉdelsÉfoiÉaÉCênonfer ciaÉMundialÉdeÉEducaçãoÉparÉTodsÉemÉW__VÉemÉ
JomtienÉnaÉTailândiaÉOÉoutroÉfoiÉoÉdocumentÉdaÉComisãoÉEconômiaÉparÉAméricaÉLa -
tina e Caribe (CEPAL), no ano de 1992, e o terceiro foi o Relatório Delors, 1993-1996, da
UNESCOÉTodaÉesaÉmobilzaçãoÉemÉfunçãoÉdeÉumaÉtransfomçãoÉmundialÉemÉtornÉdaÉ
educaçãoÉresultoÉemÉumaÉmudançaÉnoÉperWlÉdoÉCursoÉdeÉPedagoiÉconfrmeÉcorbaÉ
SoklwsiÉüÓVWYÉpÉ_Væ
Esses três eventos trataram a educação como uma necessidade para o desenvolvimen-
to de qualquer país do mundo e como um dos principais determinantes da competi-
tividade entre os países. Impulsionaram, também, a preocupação com a formação de
professores, já que eles foram considerados agentes fundamentais para as mudanças
econômicas do século XXI.
EisÉqueÉchegamosÉaoÉanoÉdeÉW__ÕÉaindaÉenvolidsÉemÉconXitsÉdúvidasÉeÉpos -
sibilidades para o Curso de Pedagogia. Foi então que, a partir da promulgação da Lei de
DiretzesÉeÉBaseÉWcouÉdeWnidoÉqueæ
ArtÉZ7ÉOÉcursoÉdeÉLicenaturÉemÉPedagoiÉdestinaÇseÉàÉformaçãoÉdeÉprofesÉ
para exercer funções de magistério na educação infantil e nos anos iniciais do ensino
fundamental, nos cursos de ensino médio, na modalidade Normal, de Educação Pro-
WsionalÉnaÉáreaÉdeÉserviçosÉeÉapoiÉescolarÉeÉemÉoutrasÉáreasÉnasÉquaisÉsejamÉprevis -
tos conhecimentos pedagógicos.
Art. 62 A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível su-
perior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos
superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do ma-
gistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a
oferecida em nível médio, na modalidade Normal.
ArtÉ ÕYÉ OsÉ instuoÉ superioÉ deÉ educaçãoÉ manterãoæÉ IÉ .É cursoÉ formadesÉ deÉ
163
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
164
CAPÍTULO 12
Um relato prático de experiência: perspectivas,
desao1e1posibldae1do1curso1de1Pedagoi
OÉargumentoÉacimaÉreforçaÉeÉexplicaÉaÉexistênciaÉdosÉvaridosÉcamposÉdeÉatuaçãoÉ
do pedagogo, que iremos explorar no decorrer desse estudo. Vale ressaltar que, em meio a
tansÉposibldaeÉdeÉtrablhoÉeseÉproWsinalÉnecsitaÉestarÉemÉconstaeÉformaçãoÉ
continuada e experimentação dos campos de trabalho, para que não se torne obsoleto e
inadequado à prática do serviço educacional, seja ele em espaços escolares ou não.
Nesses meandros de transformação do Curso de Pedagogia em todo o Brasil, foi
criada tal graduação na Universidade Federal de Viçosa, onde concluí minha formação, e
conheci alguns dos campos de atuação do Pedagogo.
A fundação do Curso de Pedagogia na UFV aconteceu através do Ato nº 17/1971, do
Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão – CEPE. A princípio, essa graduação esteve vincu-
lada à Escola Superior de Ciências Domésticas (ESCD), formada pelos Departamentos de
Economia Familiar, Habitação, Pedagogia e Nutrição e Saúde que atendiam, principalmen-
te, ao Curso de Licenciatura de Economia Doméstica, oferecido desde 1949.
Ao realizar uma análise da trajetória do currículo do Curso de Pedagogia da UFV,
foi possível perceber que o reconhecimento desse Curso em 27 de janeiro de 1978, pelo
Decreto nº 81.260, gerou um aumento do número de docentes vinculados ao Departamento
de Educação (DPE) da ESCD.
De acordo com informações advindas do Departamento de Educação, no Projeto
Pedagógico,
IsoÉ demonstraÉ queÉ aÉ edagoiÉP daÉ UFVÉ aÉestv seÉ fortalecndÉ eÉ deWnioÉ suaÉ
identidade, acompanhando as alterações nacionais que vinham acontecendo.
165
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
NoÉdecorÉdosÉanosÉcomÉasÉmudançasÉnoÉperWlÉdoÉCursoÉfoiÉnecsárioÉqueÉasÉ
disciplinas também fossem atualizadas e adaptadas. Atualmente, no que tange à carga
horáriaÉelaÉestáÉasimÉdistrbuídaæ
YÉUmÉrelatoÉdeÉexperiênciaæÉosÉcamposÉdeÉatuaçãoÉdoÉ
pedagoÉ.ÉdesaWoÉeÉposibldae
166
CAPÍTULO 12
Um relato prático de experiência: perspectivas,
desao1e1posibldae1do1curso1de1Pedagoi
a área, atuando como auxiliar da Educação Infantil na escola em que eu estudava, em troca
de uma bolsa de estudos.
SentiÉgrandeÉaWnidaeÉcomÉoÉtrablhoÉdeÉcuidarÉeÉeducarÉcriançasÉpequnasÉeÉesaÉ
foiÉaÉprincpalÉmação
otiv ÉparÉaÉminhaÉescolhaÉproWsinalÉaÉqualÉnãoÉfoiÉmuitoÉbemÉaceitaÉ
por algumas pessoas próximas, inclusive professores, que me diziam que “eu tinha poten-
cialÉparÉmaisBÉouÉqueÉAprofesÉnãoÉéÉumaÉboaÉopçãoÉpagÉmalÉeÉnãoÉéÉreconhidBÉ
Apesar disso, segui com a minha decisão, fui aprovada e comecei a cursar Peda-
gogia na UFV, e novamente fui bastante criticada por alguns, uma vez que no município
em que sou nativa – Muriaé/MG – havia disponibilidade do mesmo Curso em instituição
adÉopriv ÉqueÉnaÉvisãoÉdesaÉpesoaÉnãoÉjaÉaustiWcv ÉsaídaÉdaÉminhaÉcidaeÉnatl
Mesmo com as objeções, em 2008, mudei-me para Viçosa/MG e comecei a gradua-
çãoÉ OÉ primeoÉ semtrÉ foiÉ umÉ períodoÉ deÉ adptçãoÉ àsÉ novidaesÉ trazidasÉ pelaÉ mu -
dança e pelos conhecimentos oriundos das aulas na universidade. Entre idas à Biblioteca
para estudar, Restaurante Universitário para fazer as refeições, momentos de descontração
em eventos no Diretório Central dos Estudantes, surgiu minha primeira oportunidade de
estágioæÉoÉprojetÉLudiDançaÉemÉparceiÉcomÉoÉDepartmnoÉdeÉDançaÉdaÉUÉaFV oÉqualÉ
WqueiÉvinculadÉatéÉdezembroÉdaquelÉanoÉ
OÉprojetÉsupracitdoÉtinhaÉporÉobjetivoÉeducarÉparÉeÉpelaÉdançaÉcriançasÉdaÉedu -
caçãoÉ infatlÉ porÉ meioÉ deÉ oWcinasÉ semaniÉ deÉ dançaÉ queÉ amÉtrblhv osÉ conteúdosÉ
espcíWcosÉdeÉformaÉlúdicaÉApesarÉdoÉfocÉestarÉnaÉdançaÉosÉmomentsÉcomÉasÉcriançasÉ
nasÉcrechsÉWlantrópicsÉdoÉmunicípioÉpropicamÉpráticasÉsasÉnignWctv aÉEducaçãoÉIn -
fantil, além de momentos de aprendizado com os professores e colegas da UFV, que eram
feitos periodicamente através de grupos de estudo.
É importante salientar que esse período da Educação Básica, a Educação Infantil,
passou por várias transformações no decorrer dos anos, a mais recente delas e, com gran-
de impacto, advinda da promulgação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), um
documento de caráter normativo que delibera o conjunto orgânico e progressivo de habili-
dades e competências que devem ser desenvolvidas pelos alunos no decorrer de sua vida
escolar, tendo como ponto de partida os direitos de aprendizagem e desenvolvimento,
conforme o Plano Nacional de Educação, PNE (BRASIL, 2018).
Estar incluída em um documento como esse foi muito representativo para a Edu-
caçãoÉ InfatilÉ umaÉ ezÉ
v queÉ duranteÉ muitoÉ tempoÉ esÉ segmntoÉ educaionlÉ WcouÉ àsÉ
margens do processo educacional, sendo visto apenas e simplesmente como um trampo-
lim para o Ensino Fundamental. Entretanto, essa prerrogativa da Nova Base de validação
167
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
da infância idealizada na teoria, nem sempre acontece na prática, e, além disso, pode ser
questionada no decorrer do próprio documento, pois
aÉBNCÉéÉlacunrÉincluidoÉaWrmaçõesÉgenéricasÉeÉpretnsamÉautoexpasÉlictv
como por exemplo a ideia de cuidar e educar, ou ainda, a ideia de campos de ex-
periência, ambas conceitualmente não desenvolvidas, além de uma sensível ruptura
entre os cânones da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, operando por uma
ruptaÉnoÉmodÉdeÉeducarÉasÉcriançasÉüCYÉRUR EISÉZANRDIÉÓVW^ÉpWV]
EseÉdesaWoÉeÉcontrapsÉapresntadoÉnaÉBNCÉreforçamÉoÉidealÉqueÉjáÉeraÉ
questionado naquele momento da minha formação inicial, em 2008, tanto no Curso de
Pedagogia da UFV bem como nos estudos com o projeto LudiDança. Então, posso dizer
que essa experiência agregou conhecimentos, reforçando o que eu já havia vivenciado en-
quanto auxiliar na escola em que estudava, e também estava alinhado com os conhecimen-
tos que vinham sido ensinados na universidade, através de disciplinas como Psicologia,
SocilgaÉeÉFilosWaÉdaÉEducação
Em 2009, tive a oportunidade de atuar, durante todo aquele ano, como monitora na
Educação de Jovens e Adultos, no Núcleo de Educação de Adultos da UFV, o NEAD. Esse
projeto tinha como objetivo oferecer turmas de alfabetização e letramento, de preparação
para exames de suplência em nível de Ensino Fundamental e Médio, e de Inclusão Digital
aos jovens e adultos, atendendo funcionários da UFV, familiares desses e demais pessoas
da comunidade viçosense.
Na oportunidade, experienciei o contato da docência com jovens e adultos, uma das
funções previstas para o pedagogo, que, nessa ação deverá ser o
Essa foi, particularmente, uma experiência muito positiva, uma vez que lidar com
adultos que estavam buscando o conhecimento por vontade própria era algo que tornava a
prática mais leve, pois eles estavam empenhados e dedicados nas aulas.
auloÉF
P reiÉnoÉseuÉmétodÉdeÉalfabetizaçãoÉqueÉWcouÉmundialmetÉconhecidÉ
comÉ enfoquÉ naÉ educaçãoÉ deÉ adultosÉ dáÉ umÉ signWcadoÉ aÉ esaÉ relaçãoÉ profes&alunoæÉ
ANinguémÉignoraÉtudoÉNinguémÉsabeÉtudoÉTodsÉnósÉsabemosÉalgumaÉcoisaÉTodsÉnósÉ
ignoramsÉalgumaÉcoisaÉPorÉisoÉaprendmosÉsemprBÉüFREIÉW_^_ÉpÉWÕÉ
168
CAPÍTULO 12
Um relato prático de experiência: perspectivas,
desao1e1posibldae1do1curso1de1Pedagoi
Isso corrobora com a ideia de que o pedagogo possui uma responsabilidade técni-
ca e também política no que tange ao direito à educação das pessoas que se encontram à
margeÉdaÉsociedaÉoÉqueÉreprsntaÉmuitoÉsobreÉesaÉproWsãoÉeÉoÉqueÉeuÉteÉoiv portu -
nidade de vivenciar durante essa experiência com a EJA.
Contudo, apesar de gostar muito dessa área, confesso que não me sentia preparada
para atuar nela naquele momento da minha carreira. Ainda estagiária, o contato que tinha
com a EJA me foi passado através de estudos no NEAd. Inclusive, no decorrer da minha
graduçãoÉ foramÉ poucasÉ asÉ discplnaÉ espcíWcasÉ parÉ traÉ desÉ temaÉ apesrÉ disoÉ
esse era um assunto transversal na ementa de outras disciplinas, que acabavam trazendo à
tona a discussão da importância da formação libertadora para nossos educandos.
Mais um semestre na universidade e, no ano de 2010, fui convidada pelo professor
Denilson Santos de Azevedo a iniciar minha vida de pesquisadora, na qual permaneci de
ÓVWVÉaÉÓVWWÉcÉb
om Éd
atsi lo ÉI
e ção
aic n ÉCíWtnei ÉN
ac Éo
a Éi
eda inutrop Éa
air Ém
radnuforp Ésue
Éssodutse Éobo ção
atneir ÉdÉeel ÉHm Édairótsi ÉEa ção
acud ÉmÉesia Éaetn macWi eps Écção
air ÉeÉcno -
solidação dos grupos escolares em MG, com ênfase nos municípios de Muriaé e Ponte Nova.
Eis, portanto, que, mediante essa nova experiência como estagiária de Iniciação
CientíWcaÉpudeÉconhecrÉmaisÉdoÉuersoÉa
niv cadêmicoÉparticpndoÉdeÉeentosÉp
v rodu -
zindo conteúdo tais como relatórios, apresentações orais/escritas, textos para revistas e
anais de eventos, entre outros.
EsaÉexperiênciaÉfortalecuÉaÉideiaÉdeÉqueÉaÉpesquiaÉcientíWcaÉcontribuÉparÉoÉde -
senvolvimento da sociedade, trazendo explicações para fenômenos e problemas, incen-
tivando sua evolução em busca de respostas e melhorias. Isso pode ser notado por mim,
ao lançar mão da história da educação como caminho para compreender a realidade da
educação que vivenciamos no presente.
NaÉvivênciaÉcomÉpesquiadorÉpaseiÉporÉváriasÉetapsÉentreÉasÉquaisæÉaÉoabserv -
ção, passando pela análise e proposição de hipóteses, e chegando às considerações e algu-
mas explicações. Para isso, me debrucei bastante em investigar o tema da minha pesquisa,
através de leituras, orientações com o professor Denilson e colegas da área, como a querida
professora Joana D’Arc Germano Hollerbach. Além disso, realizei visitas a arquivos e es-
colas, na tentativa de encontrar evidências que embasassem o que eu estudava nos livros.
Segundo Ivani Fazenda (2008),
169
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
tiva, em que exista uma pesquisa nuclear que catalise as preocupações dos diferentes
pesquisadores, e pesquisas-satélites em que cada um possa ter o seu pensar individual
e solitário. Na pesquisa interdisciplinar, está a possibilidade de que cada pesquisador
possa revelar a sua própria potencialidade, a sua própria competência (p. 10).
170
CAPÍTULO 12
Um relato prático de experiência: perspectivas,
desao1e1posibldae1do1curso1de1Pedagoi
171
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
OÉanoÉdeÉÓVWÓÉchegouÉeÉfoiÉnecsárioÉintesiWcarÉaindaÉmaisÉeseÉpotencialÉcomÉ
estudante, uma vez que iniciei o Mestrado em Educação na Universidade Federal de Viço-
sa, pesquisando sobre o adoecimento dos professores no início do século XX.
Essa Pós-graduação Stricto Sensu estava planejada para ter duração aproximada de
dois anos. No primeiro deles, 2012, cursei todas as disciplinas exigidas, debruçando-me
em alcançar os conhecimentos necessários em cada uma delas. Aliado às disciplinas, estava
esboçando minha dissertação, cujo tema seria uma continuação e um aprofundamento em
umaÉquestãoÉadvinaÉdaÉInicaçãoÉCientíWcaÉoÉadoecimntÉdocentÉ
Em 2013, fui convocada para assumir a vaga para a qual fui aprovada no concurso de
2011, eis que, então, iniciei minha carreira como professora da Educação básica e pública do
estado de Minas Gerais, função que desempenho até os dias de hoje. Lecionando, no decorrer
desses anos, para crianças entre 4 e 10 anos, pude experimentar diversas facetas do universo
da docência. No ano de 2015, passei em um novo concurso para a Educação Básica, na rede
municipal de Muriaé, e retornei à Educação Infantil, onde também permaneço ainda hoje.
AquiÉnesÉlugarÉdeÉprofesaÉpude&posÉvenciarÉav sÉAdoresÉeÉdelíciasBÉdaÉpro -
WsãoÉPortanÉéÉnecsárioÉmeÉfazerÉrefazerÉrentarÉtiv ranscedÉNaÉminhaÉprime -
ra turma como docente, por exemplo, senti uma grande insegurança. Achava que minha
formaçãoÉ nãoÉ tinhaÉ sidoÉ suWcientÉ queÉ haviÉ feitoÉ escolhaÉ eradsÉ comÉ proWsinalÉ
Apesar de hoje, com quase dez anos de formada, ter a consciência de que o professor se
faz na prática, acredito que os cursos de graduação poderiam oferecer mais momentos de
capacitação para o chão da sala de aula, local onde a maioria dos egressos encontrará seu
local de trabalho após a formatura.
SintoÉqueÉasÉdiscplnaÉespecíWcasÉdeÉdidáticasÉdeÉensioÉdosÉconteúdosÉprecisa -
riam ser mais concretas e práticas, nos dando noções aplicáveis de formas variadas de se
trabalhar os processos educacionais. Acredito também que os estágios demandam uma
atenção especial na sua execução, pois às vezes as escolas não nos recebiam bem, ou não
nos permitia as intervenções necessárias e esperadas.
Somado a esse sentimento de impotência do início da carreira, veio também o peso
daÉ responabildÉ queÉ euÉ viÉ sobreÉ aÉ minhaÉ práticaÉ pedagóicÉ endoÉT emÉ vistaÉ aÉ im -
portância desse fazer docente na educação das crianças pequenas, Arribas (2004, p. 30)
explicita que
o papel do educador é, sem dúvida, um dos mais importantes durante o longo pro-
cesso de escolarização dos meninos e das meninas de nossa comunidade educativa, já
que dele depende a aprendizagem de seus alunos. É preciso levar em conta que o pro-
fessor de crianças pequenas não apenas permanece grande parte do tempo com seus
172
CAPÍTULO 12
Um relato prático de experiência: perspectivas,
desao1e1posibldae1do1curso1de1Pedagoi
EngajrÉasÉcriançasÉeÉfazêÇlasÉaprendÉeraÉeÉéÉatéÉhojeÉumÉgrandeÉdesaWoÉMotivsÉ
nãoÉfaltmÉparÉesaÉdiWculdaeÉaÉcomeçarÉporÉumÉsistemaÉeducaionlÉfalidoÉcomÉexces -
so de burocracia e pouco suporte aos partícipes do processo. Soma-se a isso o desinteresse
dos estudantes e de suas famílias, o número de alunos e a heterogeneidade das turmas,
a vulnerabilidade social, além das más condições de trabalho do professor da Educação
Básica nas redes estaduais e municipais.
NãoÉobstaneÉparfsendoÉoÉWlósofÉcontemprâneoÉMárioÉSérgioÉCortelaÉsigoÉ
fazendo o melhor que posso nas condições que tenho, até que eu tenha condições para
fazer melhor ainda. E, com o tempo na docência, passei a me culpar menos e entender que
cada criança é um ser único, com suas vivências e tempo de amadurecimento, o que, obvia-
mente, não reduz a minha necessidade de oferecer o melhor a ela.
Sobre esse caminho como pedagoga em constante transformação, outro ponto que
vale ser citado é que minha posse no concurso se deu, desde o primeiro dia, em uma escola
aÉeinclusv ÉasimÉoÉmeuÉcontaÉcomÉcriançasÉcomÉdeWciênciaÉseÉestenduÉporÉtodaÉminhaÉ
trajetória, até os dias atuais – passando desde a presença desses alunos em minha sala de
aula (com ou sem um professor de apoio) e até mesmo um período de atuação em uma
escola de educação especial, a APAE. Essa é uma área que me sensibiliza muito e, apesar
deÉserÉumÉgrandeÉdesaWoÉtambémÉmeÉmeÉc
ov omÉprofesaÉeÉmeÉfazÉquerÉserÉumÉserÉ
humano melhor.
Além de essas escolas em que atuei até hoje serem inclusivas, também recebem
alunos em vulnerabilidade social, muitas vezes são crianças que foram abandonadas pelas
famílias, ou que vivenciaram situações extremas e precisaram ser retiradas do convívio
parental. Confesso que essa realidade também sempre mexeu comigo, me tornando mais
empática e compreensiva com as crianças, as vítimas de uma sociedade doente.
Em meio a essa intensa experiência como professora de crianças, pude atuar em al-
guns órgãos das escolas, tais como conselhos, colegiados, caixa escolar. Essas participações
meÉpermitaÉconhecrÉumÉpoucÉmaisÉsobreÉquestõÉespecíWcasÉdaÉgestãoÉeÉdemandsÉ
próprias para que se faça cumprir as exigências dos órgãos superiores, através da tomada
deÉdecisãoÉdemocráticaÉnoÉqueÉdizÉrespitoÉàÉorganizaçãoÉfísicaÉWnaceirÉpedagóicÉeÉ
burocrática das escolas.
173
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
ambémT ÉtrablheiÉcomÉtutoraÉdeÉumÉcursoÉdeÉformaçãoÉdeÉprofesÉoÉPactoÉ
Nacional de Alfabetização na Idade Certa (PNAIC). Esse foi um momento de conhecimen-
tos riquíssimos compartilhados com vários colegas, o que favoreceu muito o meu desen-
volvimento como pedagoga. Na oportunidade, veio à tona em mim um interesse ainda
disfarçadoæÉ aÉ contaçãoÉ deÉ históraÉ queÉ meÉ posibltuÉ melhoraÉ esÉ aspectoÉ naÉ minhaÉ
prática com as crianças pequenas, e o que viria a me auxiliar em ações posteriores, que
citarei mais adiante.
Ainda nesse contexto da docência, pude experimentar um outro cargo que, nas es-
colasÉ deÉ educaçãoÉ básicaÉ deÉ MGÉ podeÉ serÉ desmpnhaÉ peloÉ pedagoæÉ aÉ funçãoÉ deÉ
professor para ensino do uso da biblioteca.
Nesse espaço, pude me apropriar dos aprendizados para a contação de histórias,
realizar diversos projetos voltados para a leitura/escrita, auxiliar alunos que precisavam
de intervenção pedagógica, servir de apoio ao serviço de direção/supervisão em questões
como preenchimento de documentos, elaboração de ações pedagógicas e até mesmo,
sub ti u çãoÉdeÉproWs iona sÉfaltos ÉoÉque ÉnoÉmeuÉcaso ÉfezÉcomÉqueÉeuÉconhec s eÉaÉ
realid eÉ deÉ diversa É turmasÉ escolares É incluindoÉ atéÉ mes oÉ osÉ anosÉ WnaisÉ doÉ ensi oÉ
fundamental.
Confesso que essa experiência na biblioteca gera certo auxílio ao professor, princi-
palmentÉparÉcasoÉcomÉoÉmeuÉemÉqueÉvaÉa
enciv ÉAdobraBÉqueÉseÉtratÉdeÉumÉpro -
fessor que possui dois cargos como professor do ensino básico. Apesar disso, a incerteza e
falta de rotina do cargo podem causar algum desconforto e, em casos de atuação nos anos
WnaisÉparÉmimÉfoiÉumaÉexperiênciaÉmuitoÉruim
EnWm Étod sÉes e ÉanosÉnaÉdocência ÉWzeramÇme ÉeÉfazem Évibra ÉeÉdes jarÉumaÉ
prática docente mais crítica, ativa, mais interventiva, e o aluno, por consequência, um
aprendiz competente. Mas, para que isso aconteça, penso ser necessária uma reforma
sistemática do ensino, que valorize a educação e a coloque no centro dos ideais de uma
socieda ÉjustaÉeÉigualitária ÉTambémÉacreditoÉserÉnec s árioÉqueÉosÉcurso ÉdeÉformaçãoÉ
revejam seus currículos, dando maior ênfase às práticas de ensino, se apropriando, por
exemplo ÉdoÉconhecim ntoÉempíricoÉdeÉproWs iona sÉdaÉáreaÉqueÉdomine ÉosÉproces oÉ
pedagógicos.
Feitas as minhas considerações acerca da docência com as crianças pequenas, retor-
nemos ao ano de 2013, em que também assumi outro cargo como pedagoga, sendo tutora
de uma pós-graduação à distância, voltada para a gestão escolar, a Escola de Gestores,
atividade a qual me mantive vinculada até 2014. Meu papel era basicamente de
174
CAPÍTULO 12
Um relato prático de experiência: perspectivas,
desao1e1posibldae1do1curso1de1Pedagoi
provocar e orientar os alunos para o maior ganho educacional possível; [...] o papel
do tutor é de extrema relevância nesse processo. A presteza nas respostas ao aluno é
fundametlÉeleÉacompanhÉeÉmonitraÉativdaesÉsônicasÉc
r omÉosÉchatsÉwebÉ
sÉe TV ÉgincasÉeÉasÉaônicasÉc r omÉosÉfórunsÉdeÉdiscuãoÉTutoresÉdemÉt v erÉ
a capacidade de provocar nos alunos a vontade consciente de compartilhamento de
reXxõesÉeÉcomprensõÉeÉaÉaçãoÉnestÉsentidoÉeÉdesaÉformaÉinstigarÉaÉconstruçãoÉ
do conhecimento coletivo. Devem, ainda, provocar no aluno a compreensão de que se
ele não faz leitura prévia, se não realiza estudo individual e trabalhos em grupo, per-
deÉespaçoÉnosÉchatsÉAWnalÉaÉEaDÉexigeÉautodiscplnaÉliberdaÉacompanhdÉdaÉ
responabildÉÉÉdeÉrelvânciaÉestarÉatenoÉaÉalunosÉqueÉAdesaprcmBÉÉÉprecisoÉ
monitorar, chamá-los, incentivá-los a prosseguir. Demonstrar que se preocupa com
ele (VERGARA, 2007, p. 6).
Com essa experiência, pude adquirir vários aprendizados para orientar meus tuto-
rados em suas capacitações. Validamos, portanto, mais uma vez, a multifuncionalidade do
Pedagogo, uma vez que esse Curso abarca disciplinas diversas que contemplam as ques-
tões pedagógicas de didática e fundamentos como um todo, ampliando, assim, os saberes
desÉproWsina
Em 2019, passei em um processo seletivo para trabalhar como professora do ensi-
no superior da Fundação Presidente Antônio Carlos de Ponte Nova, na qual permaneço
também até os dias atuais, vivenciando outros tipos de experiência relacionadas à docên-
cia. Nesse cargo, acredito que tive boas inspirações, tanto pela formação formal do Curso
quanto pela postura de grandes mestres que passaram pela minha graduação.
Apesar disso, e sabendo que formar professores é uma grande responsabilidade,
no início, senti-me despreparada e frágil, uma vez que enfrentei algumas resistências e
desaWoÉContudÉcomÉoÉpasrÉdoÉtempoÉfuiÉadquirnoÉmaisÉsegurançaÉeÉconsciênciaÉdoÉ
cargo, sabendo gerenciar os prós e os contras em lecionar para adultos que estão em busca
de um lugar no mercado de trabalho. Não foi, nem é fácil, demanda de mim muito estudo
e disciplina, mas me sinto honrada em compartilhar meus conhecimentos e a educação que
acredito com pessoas que desejam dar continuidade ao trabalho do pedagogo.
SobreÉaÉminhaÉformaçãoÉemÉPedagoiÉsintoÉqueÉelaÉmeÉauxiliaÉsamentÉigWcv
em minha ação como docente no Ensino Superior. Além disso, ser professora do Ensino
Básico também é um diferencial para compartilhar com os graduandos.
No que tange a essa formação do professor das faculdades, estudiosos têm apon-
tadoÉalgumasÉdeWciênciasÉnoÉcorpÉdocentÉdesÉsegmntoÉeducaionlÉqueÉmuitasÉdasÉ
ezev sÉnãoÉposuiÉnoçõesÉpedagóicsÉbemÉconstiuídasÉoÉqueÉdiWcultaÉasÉrelaçõesÉeÉde -
sarticula os pilares centrais do ensino, da pesquisa e da extensão. Partindo desse princípio,
asconelÉeV ÉAmoriÉüÓVW[ÉnosÉapontamæ
175
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
176
CAPÍTULO 12
Um relato prático de experiência: perspectivas,
desao1e1posibldae1do1curso1de1Pedagoi
ano, fechou as instituições de ensino e transferiu nossa ação pedagógica para o ensino
remotÉ enciamosÉvV umÉ dosÉ maioresÉ desaWoÉ daÉ nosaÉ careiæÉ manterÉ nosÉ alunosÉ
tendo, minimamente, acesso ao conhecimento, apesar do distanciamento imposto pela si-
tuação mundial.
Lembro-me do dia em que fomos avisados que a escola fecharia por causa do ví-
rusÉTantoÉeuÉquantoÉmeusÉcolegasÉjamisÉpoderíamosÉimaginrÉqueÉoÉfechamntoÉduraiÉ
mais de um ano, como de fato aconteceu. Para nós, professores, a princípio, essa foi uma
realidade muito incerta.
As instituições de ensino demoraram um tempo para se adaptar, algumas chega-
ram a adiantar o recesso do meio de ano e outras folgas, o que acabou comprometendo o
calendárioÉescolarÉdosÉalunosÉeÉfezÉcomÉqueÉoÉMECÉüÓVÓVÉprecisaÉinterviÉXexibilzan -
do a exigência do cumprimento do calendário escolar ao dispensar os estabelecimentos de
ensino da obrigatoriedade de observância ao mínimo de dias de efetivo trabalho escolar,
desde que cumprida a carga horária mínima anual estabelecida nos referidos dispositivos.
Nesse contexto de transformação e adaptação ao novo modelo de educação remota,
em meio às adversidades impostas pelo momento completamente atípico, marcado por co-
branças, medos, incertezas, dúvidas e expectativas, os professores tiveram que reinventar
suas práticas.
asrmÉa
P ÉfazerÉparteÉdasÉnasÉf
ov unçõesÉdoÉprofesæÉcapcitçõesÉsobreÉasÉTec -
nologias e o novo sistema de ensino, gravação de vídeos, produção de conteúdo, preenchi-
mento de documentos burocráticos até então desconhecidos, contatos por redes sociais, tais
como Instagram, WhatsApp, Facebook, Google Classroom (ferramenta de sala de aula on-line
e gratuita), Zoom, Google Meet (ferramenta que possibilita reuniões por vídeo conferência),
Google Forms (aplicativo utilizado para a elaboração/aplicação de pesquisas, questionários
e formulários) e o Youtube.
Eu, como supervisora, professora do ensino básico público e superior privado, pos-
so dizer que vivenciei todas as experiências supracitadas, em níveis de exigência que osci-
lavam. Para os professores sob minha responsabilidade, reuniões por videoconferência e
atendimento via grupos de WhatsApp, assim também com os alunos da faculdade, através
de aulas síncronas e assíncronas.
Com as crianças da rede pública de ensino, criação de material de apoio, vídeos e
áudios com explicações sobre a matéria, além de muita força de vontade para não deixar
AniguémÉparÉtrásBÉApesarÉdeÉtodÉoÉesforçoÉisoÉnãoÉfoiÉposívelÉEmÉtodasÉasÉredsÉdeÉ
ensino tivemos perdas no que tange aos aspectos pedagógicos, além de muitos alunos que
177
PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
WcarmÉpeloÉcaminhoÉouÉdesitndoÉ.ÉdeÉfatoÉ.ÉouÉabandoÉasÉtarefsÉeÉAsumindoBÉ
realmente.
arÉeP seÉdtensÉai ÉAbuscaÉaaBÉftiv oiÉaÉsoluçãoÉofercidaÉpelosÉórgãosÉsuperio -
res, que se tratava de uma intensa abordagem de conscientização com os alunos e/ou suas
famílias para o retorno das atividades desses alunos evadidos, podendo ser acionado até
mesoÉoÉConselhÉTutelarÉemÉcasoÉextremosÉApesarÉdisoÉnenhumaÉaçãoÉmuitoÉeaÉfetiv
nesÉsentidoÉoeÉêxi
btv toÉpoisÉváriasÉpesoaÉjamÉo
ustiWcv ÉabandoÉescolarÉporÉcontaÉ
dasÉdiWculdaesÉdeÉacesoÉouÉdiWculdaesÉemÉalcançarÉoÉconhecimtÉviaÉatendimosÉ
remotos.
DeÉfatoÉeseÉfoiÉumÉmomentÉextremantÉdesaWdorÉparÉosÉdocentsÉarisqueÇ
me até mesmo na criação de um canal no Youtube para disseminação dos meus vídeos, a
WmÉdeÉalcançarÉmaisÉalunosÉe&ouÉprofesÉApesarÉdeÉnãoÉproWsinalÉesaÉaçãoÉtam -
bém demandou estudo e aperfeiçoamento na produção, edição e divulgação dos materiais
a serem disponibilizados. Como bem disse Freire (1996, p .88) e se aplica muito bem aos
dias atuais, “como professor devo saber que sem a curiosidade que me move, que me in-
quietaÉqueÉmeÉinserÉnaÉbuscaÉnãoÉaprendoÉeÉnemÉensioB
No momento da escrita desse trabalho, julho de 2021, estamos nos preparando para
o retorno semipresencial, ou modelo híbrido, como alguns especialistas designaram. Ain-
da não sabemos quais rumos a educação pública irá tomar, haja vista que muitos alunos
não tiveram acesso aos materiais e atendimentos mínimos nesse período, mas esse será as-
suntoÉdeÉumÉpróximoÉrelatoÉdeÉexperiênciaÉcomÉnasÉpov ercpçõesÉdesaWoÉeÉposiblda -
des, sempre na esperança de dias melhores para a educação brasileira. Por aqui, esperançar
é a palavra de ordem!
ZÉConsideraçõesÉWnais
OÉpresntÉtrablhoÉmostruÉaÉhistóraÉdoÉCursoÉdeÉPedagoiÉnoÉBrasilÉeÉmaisÉes -
peciWamntÉnaÉUersidaÉFnv edralÉdeÉViçosaÉinstiuçãoÉemÉqueÉmeÉformeiÉeÉmeÉdeuÉoÉ
embasamento para a atuação teórico-prática explanada através deste relato de experiência.
Foi possível compreender que a graduação aqui estudada passou por uma série de
modiWcaçõesÉeÉqueÉaindaÉhojeÉéÉmotivÉdeÉiestigação
nv ÉeÉdebatÉporÉformaÉumÉproWsi -
nal com tantas possibilidades de atuação. Essa condição pode ser positiva, pois abre mais
mercado de trabalho para o pedagogo, mas pode deixar a desejar na formação inicial, o que
178
CAPÍTULO 12
Um relato prático de experiência: perspectivas,
desao1e1posibldae1do1curso1de1Pedagoi
faz com que o licenciado tenha que se especializar e buscar cada vez mais uma formação
que não é oferecida plenamente nos anos de curso de graduação, apenas.
ApesarÉ dosÉ ezerv sÉ dosÉ desaWoÉ eÉ conXitsÉ queÉ existemÉ noÉ histórcoÉ curículoÉ
organização e aplicação do Curso, as possibilidades se mostram cada vez mais abertas
e variadas, o que reforça a importância da Pedagogia nas relações entre escola/família/
comunidaeÉeÉdemaisÉorganizaçõesÉeÉcomÉeseÉproWsinalÉpodeÉcontribuÉparÉoÉdesn -
volvimento cognitivo, social e cultural da nossa sociedade.
EmÉseÉtratndoÉespeciWamntÉdaÉminhaÉgraduçãoÉnaÉUÉa
FV pesarÉdoÉAchoqueÉ
deÉrealidBÉvenciadoÉa
v pósÉaÉchegadÉimediatÉaoÉmercadoÉdeÉtrablhoÉsintoÉqueÉteÉiv
uma boa base de formação, o que facilitou os aprendizados posteriores que a prática exige.
Assim, acho razoável que o curso de formação em Pedagogia busque melhorar em seu cur-
rículo as questões concretas relacionadas, principalmente, à sala de aula do ensino básico,
para que, assim, os pedagogos iniciantes se sintam mais preparados e aptos a transitarem
nesse campo de atuação.
Referências
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PARTE II
“Falando de nós”
(docentes e discentes)
180
CAPÍTULO 12
Um relato prático de experiência: perspectivas,
desao1e1posibldae1do1curso1de1Pedagoi
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Pedagógico do Curso de PedagogiaÉViçosaÉMGæÉDPE&UÉÓVÓV
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sobreÉaÉrelaçãoÉpedagóicÉÓVW[ÉDisponívelÉemæÉh4psæ&&docplayercomb&ÓYZW^^ÇAÇ
doceniaÇnoÇensioÇsuperioÇumaÇreXxaoÇsobreÇaÇrelacoÇpedagoichtmlÉ É AcesoÉ
emæÉWÕ&V]&ÓVÓW
ASCONELÉCV ÉdosÉSÉ Coordenação do trabalho pedagógicoæÉdoÉprojetÉpolíticoÇpe -
dagóicoÉaoÉcotidanÉdaÉsalÉdeÉaulaÉSãoÉPauloæÉLibertadÉÓVVÕÉ
VERGARA, S.C. Estreitando relacionamentos na educação a distância. Cad. Ebape. BR,
RioÉdeÉJaneiroÉvÉ[ÉnÉEspecialÉjanÉÓVV]ÉDisponívelÉemæÉh4pæ&&wwscielobr&scielo
phıpid‰SWÕ]_Y_[WÓVV]VVV[VVVWVsÇcript‰sciÉÉAcesoÉemæÉÓV&V[&ÓVÓW
WERNCKÉJÉdosÉSÉMÉdeÉOÉPedagoiÉEmpresailæÉUmÉestudoÉsobreÉasÉpráticasÉparÉ
a excelência organizacional. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conheci-
mento, ano 05, ed. 05, v. 01, p. 75-92, 2020.
181
P A R T E ÉI I I
AÇOESP SÉEÉTEMPOSÉ
TIVOSÉFRMA
182
CAPÍTULO 13
A história do ensino de história da
Educação no curso de Pedagogia da
UFVæÉinXexõesÉeÉposibldae 1
1. Introdução
OÉ
artigoÉpretndÉfazerÉumaÉreXxãoÉsobreÉoÉensioÉdaÉdiscplnaÉdeÉHistóraÉdaÉ
Educação e sua relação com o Curso de Pedagogia e uma análise sobre a traje-
tória dessa disciplina no Curso de Pedagogia da UFV, que comemora os seus
50 anos de criação em 2021, de serviços prestados à sociedade brasileira e, provavelmente,
muitas outras. Como já indicado na nota do título, por ter sido preparado para uma apre-
sentação, optei por manter a coloquialidade da fala no texto do artigo, adequando apenas
as datas e alguns tempos verbais da narrativa, para a publicação dessa edição comemora-
tiva, de jubileu pelo cinquentenário do Curso de Pedagogia da UFV.
Agradeço ao convite da comissão organizadora do evento para compor esta mesa,
sobre a história do ensino da história da educação. Este tema me é, ao mesmo tempo,
familrÉeÉestranhoæÉfamilrÉporÉlecionarÉestaÉdiscplnaÉdesdÉW__]ÉportanÉháÉmaisÉdeÉ
20 anos, e estranho porque, diferente dos colegas de mesa, que já tem realizado pesquisas
sobre esta temática, não havia realizado um estudo sistematizado sobre o assunto, e esse
desaWoÉserviuÉdeÉestímuloÉparÉfazerÉumaÉbeÉr
rv evisãoÉsobreÉaÉhistóraÉdoÉensioÉeÉdaÉ
pesquisa em História da Educação.
N e s e É l e va n t a m e n t o É ve r i W q u e i É a É e xi s t ên c i a É d e É d i ve r s a É p e s q u i s a É s o b r e É a É h i s -
t ó r i a Éd a ÉH i s t ó r i a Éd a ÉE d u c a ção Ée n g l o b a n d o Éo s Éc h a m d o s ÉA b a l n ço s B Éd a Ép r o d u ção Ée Éo sÉ
e s t u d o s Éd e ÉA c o n s t i u i ção Éd a Éár e a B Éc o m Éc a m p o Éd a Ép e s q u i s a Éq u e És e g u n d o ÉF a r i a ÉF i l h oÉ
üÓVW] ÉA a o ÉW n a l Éd a Ép r i m e i r a Éd éc a d Éd e s t e És éc u l o Éc o n t a v Éc o m Éq u a s e Ém e i a Éc e n t e n a Éd eÉ
1 Artigo apresentado na mesa redonda sobre a história do ensino da História da Educação ocorrida no X CO-
PEHE-MG (Congresso de Pesquisa e Ensino de História da Educação de Minas Gerais), realizado na Universidade
Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Diamantina-MG, em maio de 2019.
2 Doutor em História da Educação e Historiografia pela Universidade de São Paulo. Pós-doutor pela Universi-
dade de Lisboa. Professor titular do DPE/UFV. Endereço de e-mail: dazevedoufv@gmail.com, Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/6269500390446677.
183
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
e s t u d o s B É C o n s i d e r a n d o É q u e É j áÉ p e r c o r e m o s É p r a t i c a m e n t e É m a i s É d e É u m a É d éc a d É üm a i sÉ
adiante neste mesmo artigo, Faria Filho cita um trabalho de José Roberto Gomes Rodri-
gues de 2015, em que este autor apresenta um levantamento com 155 trabalhos sobre o
assunto), o que permite supor que as condições para uma história do ensino da Histó-
ria da Educação, enquanto um campo de pesquisa parece que já estão bem encaminha-
das em virtude deste quantitativo de dissertações e teses, de livros, artigos e trabalhos
apresentados em jornadas, simpósios e congressos acadêmicos locais, estaduais, nacio-
nais e internacionais.
Muitas dessas pesquisas e estudos tratam da origem e da natureza desta disciplina
em nosso país, sobretudo ao longo do século XX, que nos auxiliam a entender em parte o
cenário em que se encontra na atualidade, na qual essa disciplina vem perdendo gradativa-
mente carga horária, principalmente no Curso de Pedagogia, licenciatura responsável pela
formação do professor para a educação infantil e o primeiro segmento do ensino funda-
mental, a qual herdou essa atribuição das escolas normais e dos institutos de educação, na
qualÉaÉdiscplnaÉdeÉHistóraÉdaÉEducaçãoÉfoiÉinstiuídaÉnoÉcurículoÉnoÉWnalÉdoÉséculoÉXIXÉ
fazendo com que sua identidade, historicamente, estivesse diretamente vinculada com a
formação dos professores e dos pedagogos de uma maneira geral.
Nesse sentido, Myriam Warde (1990) corrobora essa assertiva ao indicar que a disci-
plina História da Educação não se instituiu a partir de um movimento interno da História
e não foi a ele incorporada, tendo sua gênese e desenvolvimento relacionados ao campo
daÉEducaçãoÉAsimÉeamentÉafiv ÉHistóraÉdaÉEducaçãoÉnãoÉseÉconWgurÉemÉsuaÉori -
gem, numa especialização temática da História, mas, sim, como uma ciência da educação
ou uma ciência auxiliar da Pedagogia que, por sua vez, teve sua história profundamente
marcdÉpelaÉpresnçaÉdaÉTeolgiaÉeÉdaÉFilosWaÉ
Esse caráter de ciência auxiliar da educação parece sofrer certo rebaixamento no
Brasil, com o advento e a difusão do ideário do movimento renovador, a partir da década
de 1920, na qual essa disciplina passa a ser vista apenas como um enfoque, uma aborda-
gemÉutiláriaÉlegitmadorÉdoÉpresntÉconfrmeÉmencioaÉWardeÉüW__VæÉquandoÉeseÉ
renovadores da Educação, na década de 20, consolidaram a ideia de que a Educação de-
mandÉ pelasÉ suaÉ singulardeÉ AteóricasBÉ eÉ ApráticasBÉ oÉ conursÉ deÉ váriasÉ ciênciasÉ
a História da Educação não estava aí computada, visto que eles já haviam dominado os
procedimentos mais atualizados de observação, experimentação e mensuração, o que lhes
permitiu, sem grandes volteios, eleger a Sociologia, a Psicologia e, através destas, a Biolo-
gia, como as ciências matriciais da Educação.
184
CAPÍTULO 13
A história do ensino de história da Educação no curso
de1Pedagoi1da1UFVæ1inexões1e1posibldae
AsimÉparÉesaÉautoraÉaÉHistóraÉdaÉEducaçãoÉfoiÉWlhaÉtardiÉdaÉideiaÉdeÉaportesÉ
múltiplos à Educação, não foi incluída, entre as ciências auxiliares, com o mesmo escopo
das matriciais, por supostamente não ter nada a oferecer para que o presente seja objeto
de controle, a sua utilidade é pensada como de natureza disciplinar, formadora, assumin-
doÉjuntameÉcomÉaÉWlosWaÉnestaÉimplantçãoÉcuriclaÉoÉqueÉelaÉdenomiaÉdeÉumaÉ
pragmatização moral (porque dela havia de se tirar alguma lição, algum ensinamento
doutrinário). Posteriormente, em torno das décadas de 1950 e 60, quando começaram a
surgir, efetivamente, estudos históricos relativos à educação brasileira, esta pragmatização
já instaurada foi secularizada.
Deste modo, os estudos históricos passaram a ser hegemonizados pelo que ela cha-
mou de presentismo pragmatista, ou seja, de um estudo que deveria ser utilitário, ser-
vindoÉapenasÉparÉrerÉpsolv raticmenÉumÉproblemaÉatualÉnoÉpresntÉaWrmandoÉ
ainda que nem o positivismo, que penetrou fracamente sob a forma de procedimentos
de consulta a fontes, foi uma concepção tão forte neste período. Para ela, esta caracte-
rísticaÉlegouÉumaÉmarcÉnoÉensioÉdeÉhistóraÉdaÉeducaçãoÉqueÉlheÉfoiÉconfrmadæÉ
aÉdeÉterÉnascidoÉparÉserÉútilÉeÉparÉterÉsuaÉeWcáciaÉmediaÉnãoÉpeloÉqueÉéÉcapzÉdeÉ
explicar e interpretar dos processos históricos objetivos da Educação, mas pelo que
ofercÉdeÉjasÉputiWcv arÉoÉpresnt
EsaÉconWguraçãoÉéÉendosaÉporÉNóvoaÉüW__ZÉpÉÓ^ÉaoÉaWrmaÉqueÉaÉdiscplnaÉ
atéÉ osÉ anosÉ W_ÕVÉ organizaaÇsv eÉ comÉ umaÉ reXxãoÉ nteÉscialm filosófica, baseada na
evocação das ideias dos grandes educadores, desde a Antiguidade até o período contem-
porâneo (século XIX), com um enaltecimento do passado e uma descrição da evolução
educativa rumo a uma marcha do progresso, com o objetivo de tirar do passado o máximo
de lições para o presente, com forte tendência a uma perspectiva progressista e romântica
da história da educação.
ambémT ÉdestacÉqueÉosÉconteúdosÉminstradoÉeamÉc
stv entradosÉnaÉhistóraÉdaÉ
educação ocidental, em uma visão eurocêntrica, na qual a ideia de história, educação e Pe-
dagoiÉperpasdÉeamÉu
videnc maÉvisãoÉtradiconlÉeÉevolucinstaÉdeÉsociedaÉOÉ
programa desenvolvido estava organizado segundo uma perspectiva cronológica; uma lógica
descritiva e/ou interpretativa das ideias, fatos educativos, projetos, da antiguidade clássica,
alÉrmediv enascçaÉatéÉosÉtemposÉmodernsÉüNÓVOAÉW__ÕÉNesÉsentidoÉosÉconteú -
dos, recorrentemente, baseavam-se em uma história geral da educação, tendo como objetos
de estudo a história da organização escolar, da legislação e do pensamento pedagógico.
Essas características da origem da disciplina e de sua trajetória relacionada à Peda-
goiaÉeÉaosÉcursoÉdeÉformaçãoÉdeÉprofesÉtambémÉdiWcultoÉsuaÉconstiuçãoÉcomÉ
185
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
uma área de pesquisa no Brasil. Conforme mencionam Lopes e Galvão (2001), “embora já
nas décadas de 1930 e 1940 algumas obras importantes tenham sido escritas, é sobretudo
aÉpartiÉdosÉanosÉdeÉW_[VÉeÉW_ÕVÉqueÉcomeçaÉaÉseÉconWguraÉumÉcampoÉdeÉpesquiaÉemÉ
HistóraÉdaÉEducaçãoÉcomÉaÉrealizaçãoÉporÉexemploÉdeÉlantmeoÉd
v eÉfontesBÉüpÉÓ_É
observando ainda que é “somente na década de 1970 que se inicia sistematicamente, nos
cursoÉdeÉPedagoiÉaÉintroduçãoÉdeÉumaÉdiscplnaÉespecíWcaÉqueÉtaÉdrtv aÉhistóraÉdaÉ
educaçãoÉbrasileBüpÉYYÉ
186
CAPÍTULO 13
A história do ensino de história da Educação no curso
de1Pedagoi1da1UFVæ1inexões1e1posibldae
com três créditos teóricos e 45 horas de duração cada uma, compondo o “campo principal
deÉestudoBÉjuntameÉcomÉaÉSocilgaÉPsicolgaÉeÉFilosWaÉdaÉEducaçãoÉalémÉdaÉDi -
dática.
A ementa da História da Educação I indica que os assuntos tratados estavam rela-
cionados com a educação pré-clássica, clássica, cristã, medieval, renascentista e humanista,
enquanto a segunda disciplina de História da Educação tratava do realismo e do naturalis-
moÉpedagóicoÉdaÉorientaçãoÉidealistÉeÉpsicológaÉemÉeducaçãoÉdaÉPedagoiÉcientíWcaÉ
e experimental, a revolução copernicana na Pedagogia e Escola Nova.
Vale ressaltar que os ingressantes nesse currículo de 1972 não tiveram apenas duas
disciplinas de História da Educação, visto que o Catálogo Geral de 1973 já assinala o acrés-
cimo da terceira disciplina desse conteúdo na matriz do Curso de Pedagogia da UFV, com
a criação da disciplina Educação Contemporânea, com três créditos teóricos, cuja ementa
abordava a educação e a Pedagogia no século XIX, a Educação no século XX, a Escola Nova,
a Pedagogia contemporânea e a Educação brasileira. A mudança do nome da disciplina
de Educação Contemporânea para História da Educação III foi formalizada no Catálogo
Geral de 1975.
Embora não tenhamos ainda obtido outras fontes sobre o conteúdo destas discipli-
nasÉdeÉHistóraÉdaÉEducaçãoÉcomÉplanoÉdeÉcursoÉouÉbiblograWÉpodeÇseÉdeprndÉaÉ
partir dessas ementas, que a proposta de trabalho aí contida refere-se à história da edu-
cação europeia de longa duração, da antiguidade à modernidade, com ênfase na história
dasÉideiasÉpedagóicsÉeÉnaÉhistóraÉdaÉorganizaçãoÉdosÉsistemaÉdeÉensioÉTambémÉseÉ
observa uma única unidade, a última da terceira disciplina, voltada à História da Educação
no Brasil.
NoÉCatálogÉGeralÉdaÉUFVÉdeÉW_]^ÉüpÉWZ_ÉidentiWcaÇseÉaÉampliaçãoÉdaÉcargÉho -
rária das três disciplinas obrigatórias de História da Educação, cada uma agora com quatro
créditos teóricos, sendo que a primeira apresentava os conteúdos de Introdução à educa-
ção entre os povos primitivos, a educação tradicionalista, os gregos e a Pedagogia da perso-
nalidade, os romanos e a Pedagogia da humanitas, a educação cristã primitiva e a educação
medieval. A segunda tratava da educação humanística, a educação religiosa da Reforma e
da Contra Reforma. A educação e a Pedagogia realista, o século XVIII e a educação estatal
e nacional e a terceira abordava as mesmas unidades da disciplina de Educação Contem-
porânea extinta em 1975.
Embora tenha ocorrido uma ampliação da carga horária das disciplinas de História
da Educação na década de 1970, que se manterá na década de 1980, o que se constata “na
187
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
matriz curricular é que na área do tronco comum do curso, houve uma valorização das
disciplinas psicopedagógicas (Psicologia e Didática) em detrimento das socioeducacionais
üSocilgaÉeÉEconmiaÉdaÉEducaçãoBÉüAZEVDOÉetÉalÉÓVV[&ÓVVÕÉconferidÉumaÉdi -
retriz de formação bastante instrumental, em termos técnico-pedagógicos, sobretudo na
licenciatura de curta duração.
As ementas dessas disciplinas na matriz curricular do Curso de Pedagogia da UFV
permaneceram inalteradas até o Catálogo de Graduação de 1988/89, visto que no catálogo
de graduação seguinte (1990/1991), as disciplinas de História da Educação II e III sofreram
mudanças, sendo que, na II, a abordagem da história geral da educação vai até o século
XVIII, com a inclusão na ementa de unidades sobre a Educação colonial I e II, enquanto a
III enfatizou a história da educação nos séculos XIX e XX na Europa e no Brasil.
Em 1994, essa disciplina permaneceu sendo oferecida nos três primeiros semestres
do Curso, cada um com quatro créditos teóricos, totalizando 180 horas/aulas. No entanto,
as ementas das disciplinas oferecidas no Curso de Pedagogia da UFV sofrem uma alteração
de foco, privilegiando a educação brasileira, uma vez que a primeira traz uma introdução
ao estudo da História da Educação e aborda basicamente, a Educação brasileira colonial (I
e II) e no Império. A segunda trata da educação e sociedade na Primeira República, Edu-
cação e Desenvolvimento Brasileiro (1930-1946) e Educação e Desenvolvimento Brasileiro
(1946-1964). Já a História da Educação III enfocava a educação brasileira no período após
1964. A educação no Brasil e o advento da Nova República. A educação brasileira nos úl-
timosÉanosæÉaÉpráticaÉemÉquestãoÉPropstaÉeÉpasÉa
erpctiv tuaisÉdaÉeducaçãoÉbrasileÉ
(UFV - Catálogo de Graduação 1994/95, p. 231-232).
É plausível supor que as alterações efetuadas nas ementas das disciplinas de Histó-
riaÉdaÉEducaçãoÉnaÉdécadÉdeÉW__VÉformalentÉreXtiramÉaÉinXuênciaÉdoÉmaterilsmoÉ
histórico nos estudos educacionais, que contribuiu para a renovação dos objetos de pes-
quisa, das abordagens e das fontes. Em função disso, a análise da educação passou a ser
realizada não mais de modo isolado, atomizado, mas como um fenômeno superestrutural,
contextualizado com as condições econômicas das diferentes formações sociais. No caso da
primeira mudança das ementas, tratou-se da inclusão de unidades que promoveram uma
apresntçãoÉdoÉcontextoÉeducaionlÉgeralÉparÉaoÉWnalÉinseriÉelemntosÉdaÉrealidÉ
educaionlÉnacionlÉenquatoÉnaÉsegundaÉalteraçãoÉWcaÉevidencaÉaÉcentralidÉqueÉ
a História da Educação Brasileira adquire nestas disciplinas.
aisÉT supoiçõesÉ ganhmÉ fundametoÉ quandoÉ seÉ aÉobserv nasÉ décadsÉ deÉ W_]VÉ eÉ
1980, o desenvolvimento e a consolidação de pesquisas na área de educação realizadas,
188
CAPÍTULO 13
A história do ensino de história da Educação no curso
de1Pedagoi1da1UFVæ1inexões1e1posibldae
sobretudo nos programas de pós-graduação que vão sendo criados nas universidades bra-
sileiras e que propiciou a difusão das pesquisas em história da educação através de grupos
de trabalho, como o da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação
(ANPEd), fundada em 1984, e os grupos de estudos e pesquisa, como o História, Sociedade
eÉEducaçãoÉnoÉBrasilÉüHISTEDBRÉqueÉinicouÉsuasÉativdaesÉemÉW__WÉdentrÉoutrosÉgru -
pos locais e regionais, no contexto do processo de redemocratização do país.
aisÉT asÉinctv noÉ campoÉ daÉ pesquiaÉ fomentarÉ umaÉ maiorÉ socialzaçãoÉ dosÉ
conhecimentos produzidos nacionalmente e internacionalmente, por meio de eventos re-
gulares, como o Congresso Ibero-Americano de História da Educação na América Latina
(CIHELA), fundado em 1992 e o Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação, cria-
doÉemÉW__ÕÉOÉaumentoÉdoÉdebatÉeÉdoÉintercâmbioÉentreÉpesquiadorÉeÉinstiuçõesÉdeÉ
ensino e pesquisa, contribuiu para a criação, em 1999, da Sociedade Brasileira de História
da Educação e para a renovação nas pesquisas em História da Educação, com o emprego
de novas fontes e novos objetos fundamentados pela Escola dos Annales.
A década de 1990 no Brasil também foi marcada com a aprovação da nova Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1996 e, a partir daí, pelo debate em torno das
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia. Antecipando-se à aprovação
destas DCN, no ano 2000, houve uma reformulação curricular no Curso de Pedagogia da
UFV, que representou a redução de um crédito em cada uma das disciplinas de História da
Educação, passando a ser de nove créditos no total, trazendo um rearranjo na ementa das
disciplinas, no sentido de condensar os conteúdos programáticos.
Em 2005, a disciplina de História da Educação I tornou-se obrigatória para a licen-
ciatura em Educação Infantil até 2009 e optativa para o curso de História até 2017. Já em
2008, como resultado da aprovação das DCN para o Curso de Pedagogia, em 2006, ocorreu
nova reformulação curricular, na qual a disciplina História da Educação III foi extinta,
voltando às Histórias da Educação I e II, a possuírem quatro créditos (60hs./a) cada uma, o
que acarretou a perda de mais um crédito obrigatório no total.
Na matriz curricular do Curso de Pedagogia da UFV, contida no Catálogo de Gra-
duação de 2008, a ementa da disciplina História da Educação I passou a contar com as
seguintÉunidaesæÉHistóraÉeÉaÉproduçãoÉdoÉconhecimtÉHistóraÉdaÉEducaçãoÉeÉdaÉPe -
dagoiÉFontesÉeÉHistóraÉdaÉEducaçãoÉHistóraÉdaÉEducaçãoæÉnovsÉtemasÉnasÉaov bor -
dagensÉAÉHistóraÉdaÉEducaçãoÉIIÉvaÉs
ersv obreÉaÉaWrmaçãoÉdaÉescolaÉcomÉinstiuçãoÉ
social e da educação pública no ocidente. Pedagogia, educação e a crise na modernidade.
A Educação Brasileira no século XX.
189
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
190
CAPÍTULO 13
A história do ensino de história da Educação no curso
de1Pedagoi1da1UFVæ1inexões1e1posibldae
licenadsÉeÉosÉlicenadosÉdaÉPedagoiÉAoÉqueÉparecÉeseÉcenárioÉdeÉinXexãoÉdoÉ
campo disciplinar não é um fenômeno exclusivo do Curso de Pedagogia da UFV.
Com o intuito de minimizar um pouco a perda de carga horária teórica nas discipli-
nas de História da Educação, foram criadas atividades práticas, que passaram a vigorar a
partir do ano de 2018, com a duração de 30 h/a ou dois créditos práticos em cada semestre
letivo. Na História da Educação I, a primeira atividade prática encontra-se na unidade
AfontesÉ eÉ HistóraÉ daÉ educaçãoBÉ naÉ qualÉ osÉ estudanÉ emÉdv vistarÉ duasÉ instuçõesÉ
queÉfuncioemÉemÉcaráterÉpermantÉsemÉWnalideÉlaÉa
ucrtiv ÉserviçoÉdaÉsociedaÉ
e de seu desenvolvimento, que seja aberta ao público, a qual adquire, conserva, pesquisa,
comuniaÉ eÉ exibeÉ evidênciasÉ materisÉ daÉ açãoÉ humanÉ eÉ deÉ seuÉ ambientÉ parÉ WnsÉ deÉ
pesquisa, educação e lazer.
ApósÉaÉescolhaÉdasÉinstiuçõesÉaÉsermÉvistadÉa&oÉlicenad&oÉdev eæ
• fazer um levantamento prévio sobre sua história, sua missão, as atividades de-
senvolvidas, se são acessíveis a pessoas especiais, dentre outras informações
que puder obter;
• relatÉduranteÉaÉvistaÉoÉacervoÉdaÉinstiuçãoÉosÉproWsinaÉqueÉnelaÉatuamÉ
eÉasÉfontesÉqueÉmaisÉlheÉdesprtamÉintersÉeÉosÉporÉquêsÉdestaÉidentiWcaçãoÉ
aÉpartiÉdaÉseguintÉquestãoæÉ o estudo da História permite uma reflexão sobre o passa-
do da humanidade e o tempo presente, que tem um significado importante na construção
de nossas identidades como indivíduos e grupos sociais.
ComÉbaseÉnesaÉaaÉfWrmtiv açaÉumÉrelatoÉjustiWcadoÉsobreÉasÉfontesÉqueÉmaisÉlheÉ
chamaram a atenção, em termos identitários, nos museus/arquivos visitados.
Para a realização dessa atividade, que se encontra registrada na ementa da discipli-
naÉcÉA
om viagemÉtécnicaBÉaÉUFVÉdisponblzouÉtranspoteÉcoletivÉqueÉviablzouÉnosaÉ
ida ao Rio de Janeiro, onde visitamos o Museu Nacional (Figura 1, em anexos) e o Museu
do Amanhã, em junho de 2018. Para aquela/es que não puderam viajar, a sugestão foi que
realizassem a visita, preferencialmente, em arquivos e/ou museus de suas cidades ou da
UFV, que fossem mais acessíveis.
191
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
No ano de 2019, a viagem técnica ao Rio de Janeiro ocorreu no dia 13 de junho, com
visita agendada ao Arquivo Nacional e ao Museu do Amanhã. Vale destacar que tanto no
Museu Nacional (Figura 2), quanto no Museu do Amanhã (Figura 3), a/os licencianda/os
identWcarmÉaÉpresnçaÉdeÉpedagosÉatuandoÉcomÉroteirsaÉeÉguiasÉdasÉvistaÉparÉosÉ
estudantes da educação básica. No Arquivo Nacional existe uma equipe pedagógica que
atua com a educação patrimonial, também destinada a receber estudantes. Já em 2020, essa
atividade foi realizada por meio remoto, o que permitiu a visita virtual da(o)s estudantes a
arquivos e museus de diferentes estados brasileiros e de alguns países.
Ainda no que se refere às fontes históricas, iniciou-se, no primeiro semestre de 2019,
algumas orientações relativas à história oral e documental, para que a/os licencianda/os,
comecem a pensar sobre o memorial sobre sua trajetória escolar e a escolarização de seus
parentes mais próximos (pais, avós, tios), que foi apresentado na disciplina do segundo
semtrÉ desÉ anoÉ alÉT antecipçãoÉ seÉ eÉdv aoÉ fatoÉ deÉ queÉ maisÉ daÉ metadÉ daüosÉ gra -
duanda(o)s residirem fora da microrregião de Viçosa e muitos realizarem essas entrevistas
ou visitas às escolas, no período do recesso acadêmico de julho. No caso da/os estudantes
que não têm contato com os familiares ou são órfãos, a sugestão é que desenvolvam uma
investigação sobre sua trajetória e levantamento de fontes a respeito da história das insti-
tuições em que estudou.
A investigação sobre a trajetória escolar pessoal e familiar, em muitos, casos tem a
ver com a história da educação local, e pode auxiliar a(o)s licencianda(o)s a analisar os dife-
rentes níveis da realidade econômica, política, social e cultural e estabelecer as mudanças,
conXitsÉeÉpermanênciasÉdeÉdiferntsÉelemntosÉdaÉcultraÉescolarÉnoÉtempoÉAÉrealizaçãoÉ
dessa atividade, analisada em seu conjunto, contribui para a construção de uma história
da educação mais polissêmica, menos homogênea, ao dar voz a diferentes sujeitos sobre
suas memórias e sentimentos a respeito do processo de escolarização e desperta o interesse
e a curiosidade de alguns acadêmicos em problematizar questões relacionadas com esse
campo de conhecimento.
A seguir, apresento algumas observações e comentários, que servem de orientação
para a realização dos próximos trabalhos e as compilações reproduzidas nos três anos em
que essa atividade foi produzida pela(o)s licencianda(o)s, incluindo o período de aulas
remotas, virtuais, do ano de 2020.
A história da educação é um campo de conhecimento que nos auxilia a desnatura-
lizar a escola e as relações entre os sujeitos escolares na história, a criar nossa historicidade
e identidade, por meio da nossa trajetória escolar individual e familiar.
192
CAPÍTULO 13
A história do ensino de história da Educação no curso
de1Pedagoi1da1UFVæ1inexões1e1posibldae
193
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
trado pelos pais, vizinhos, no terreiro. Escola como lugar de socialização, brin-
cadeiras, piques, de afeto, de músicas, teatro, mas também de bullying, por ser
proveniente do meio rural, medo e traumas da matemática, ausência por causa
do professor. Necessidade precoce de trabalho, de cuidar dos irmãos mais no-
vos. Não estudaram por serem trabalhadores ou fazendeiros. Pai estudou para
a leitura do evangelho. Questão de ser aluno popular. De crush (reunião de me-
ninas para conversar, falar dos meninos). No intervalo (recreio) toca axé ou rap.
• Materialidade escolar: falta de material escolar (livros); caderno era uma pedra
WnaÉtipoÉtábuaÉEspécieÉdeÉábacoÉparÉestudoÉdeÉmatemáticaÉAlunosÉsamÉentv
emÉcaixotesÉDiWculdaeÉemÉadquirÉlivrosÉDiWculdaeÉdeÉacesoÉaÉmaterisÉ
escolares (tipo canetas). Mochila de saco de arroz, embornal. Exigência do uso
deÉuniformeÉdeÉcalçadoÉpelaÉescolaÉEscolaÉnaÉcidaeÉdiWculdaeÉdeÉacesoÉ
• Geração, etnia e gênero:ÉpaiÉnãoÉqueriaÉqueÉaÉWlhaÉestudaeÉparÉnãoÉeerÉscv
cartÉparÉmeniosÉOutroÉnãoÉdeixaaÉa
v sÉWlhasÉestudaremÉporÉcausÉdoÉriscoÉ
de estupro ao longo do caminho. Avó não pode estudar para cuidar dos irmãos
maisÉnovsÉViglânciaÉdaÉmaÉd
edi aÉsaiÉfreiasÉveriWcamÉseÉasÉunhasÉdasÉ
meninas estavam pintadas. Medo de pedir para ir ao banheiro e fazer xixi na
roupa. Alunas/os (crianças) não serem gente ainda, alunas/os negras/os era mal
vistas/os em algumas escolas, preconceitos de uma religião em relação às ou-
tras. Carteiras para dois e o constrangimento de sentar menino e menina juntos.
• Modalidades e tipos de ensino: aulas com preceptores, regime de internato
üeducaçãoÉintegralÉestudoÉemÉorfantoÉnoÉMOBRALÉCESCÉemÉcursoÉtéc -
nicosÉ üCEFT&IÉFET SENAIÉ SENACÉ EscolaÉ alentsÉpoiv CursoÉ técnicoÉ porÉ
correspondência.
• Políticas educacionais: avô que estudou em 1925, só o 1º ano era gratuito; outro
avô vendia leite no caminho para a escola. Grupo de famílias na comunidade pa-
gava professora particular ou quem podia pagar. Menção à Caixa Escolar, pais
arcavam com a merenda da escola; alunos lavavam os pratos; falta de banheiro.
Biblioteca alugava livros mediante pagamento de uma taxa anual. Na década
de 1980, ainda não havia distribuição de material didático em algumas escolas.
Escola com médico, dentista, local para tomar vacinas. Sentar em carteira dupla
ou em bancos para 5, 6 alunos. Assentos de tijolos e tábuas.
• Cultura escolar: ajustes no calendário escolar, as férias eram no período de co-
lheita. Conceitos de A a E e notas de 0 a 100. Escola seriada na cidade separa os
194
CAPÍTULO 13
A história do ensino de história da Educação no curso
de1Pedagoi1da1UFVæ1inexões1e1posibldae
alunos por turmas A, B, C, conforme a origem social, a faixa etária. Cantar hino
naciolÉdiarmentÉHoraÉcívicaÉcomÉoraçãoÉantesÉdasÉaulasÉFormaÉemÉWlaÉ
para entrar na escola. Competição entre os alunos.
• História das disciplinas:É relatoÉ dasÉ DiscplnaÉ deÉ EMCÉ OSPBÉ ProgamÉ deÉ
SaúdeÉdeÉLatimÉFrancêsÉdeÉSondagemÉdeÉAptidõesÉeÉoutrasÉdiplnasÉpc roWs -
sionalizantes no currículo.
195
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
tecnisaÉüsemÉtipWcaçãoÉPercpçãoÉdoÉpapelÉdoÉprofes&pedago&educa -
dorÉ ImplentaçãoÉ daÉ ação
prov É automáticaÉ salÉ divaÉ aoÉ meioæÉ deÉ umÉ
lado, alfabetizados; de outro, a alfabetizar.
4. Considerações parciais
Embora esta investigação traga alguns propósitos de atividades práticas que foram
incorporadas às disciplinas de História da Educação no Curso de Pedagogia da UFV, te-
mos plena ciência de que a tendência apontada pelas DCN indica para a redução cada vez
maior da carga horária teórica dessa disciplina na matriz curricular dos cursos de Peda-
gogia, o que assinala uma crise da História da Educação como disciplina formativa tanto
nacionalmente como internacionalmente.
ambémT ÉéÉimportaneÉresaltrÉoÉgradtivoÉdeslocamntÉdaÉdiplnaÉdsc eÉHistóraÉ
da Educação para os programas de pós-graduação Stricto Sensu em Educação, sendo ofer-
196
CAPÍTULO 13
A história do ensino de história da Educação no curso
de1Pedagoi1da1UFVæ1inexões1e1posibldae
tada tanto nos cursos de mestrado quanto nos de doutorado, além dos inúmeros grupos
de pesquisa que, conforme cadastro no Diretório do CNPq, de agosto de 2015, o uso do
“descritor história da educaçãoÉconstamÉZÕWÉgruposÉcadstroBÉüBASTOÉÓVWÕÉpÉZÕÉeÉdeÉ
um conjunto de eventos regionais, nacionais e internacionais que reúnem os pesquisadores
dessa área de conhecimento.
DesÉ modÉ eriWcaÇsv eÉ queÉ aÉ HistóraÉ daÉ EducaçãoÉ comÉ áreaÉ deÉ pesquiaÉ temÉ
apresentado uma boa vitalidade, diferente de seu lugar no ensino dos cursos de forma-
ção de professores, no geral, e no Curso de Pedagogia, em particular. Nesse sentido, as
propostas com atividades práticas nas disciplinas de História da Educação oportunizam
aprendizados e experiências às (aos) estudantes dos dois primeiros períodos do Curso de
Pedagogia da UFV sobre uma série de conceitos históricos e pedagógicos imprescindíveis
para a sua formação acadêmica e docente.
Caracterizar a trajetória das disciplinas de História da Educação ao longo dos cin-
quenta anos do Curso de Pedagogia da UFV, seus percalços frente à onda neoliberal e
o projeto dessa sociedade do conhecimento instrumental daí derivada, permitiu elaborar
estaÉreXxãoÉeÉaçãoÉpedagóicÉqueÉesperoÉqueÉcontribuaÉcomÉoÉdebatÉsobreÉaÉfundame -
tação histórica da prática pedagógica e com o campo da história da educação.
Era isso que tinha a dizer e agradeço pela oportunidade.
ObrigadoÉ
Referências
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cularesÉnaÉeducaçãoÉsuperioæÉparÉqueÉcompetênciasıÉ Educ. Pesqui., São Paulo, v.
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BASTOÉMÉHÉCÉ O que é a história da educação no Brasil hoje?ÉTemposÉdeÉreXxãoÉ
DisponívelÉemæÉh4pæ&&repositrucb&dspace&bitsream&WV_ÓY&^Z]]&Ó&OMquea
197
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
emposMdrXxahitaucnBljT opdfÉAcesoÉemÉÓ_ÉdeÉ
setembro de 2021.
BORGESÉBÉGÉGTIÉJA RÉDÉEnsioÉdeÉHistóraÉdaÉEducaçãoÉnaÉformaçãoÉdeÉprofes -
resÉnoÉBrasilÉatualÉINæÉXXVIÉSimpósoÉNacionlÉdeÉHistóraÉ.ÉANPUHÉ Anais... São
Paulo, julho 2011.
ARIÉFF ILHOÉLÉMÉAbordagensÉnaÉpesquiaÉeÉnoÉensioÉdeÉHistóraÉdaÉEducaçãoÉInæÉ
GONDRAÉJÉGÉetÉalÉ História da Educação, Matrizes interpretativas e internaciona-
lizaçãoÉVitóraæÉEDUFESÉÓVW]
NÓVOAÉAntóioÉ História da EducaçãoÉLisboaæÉFaculdeÉdeÉPsicolgaÉeÉCiênciasÉdaÉ
Educação / Universidade de Lisboa, 1994.
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BrasilæÉaÉconstiuçãoÉhistórcaÉdoÉcampoÉüW^^V&W_]VÉ Revista Brasileira de História,
SãoÉPauloæÉANPUHÉvÉÓYÉnÉZ[ÉpÉY]Ç]VÉÓVVY
WARDE, Miriam Jorge. Contribuições da História para a Educação. Em aberto, Brasília,
INEP/MEC, ano 9, n. 47, jul/set.1990.
198
CAPÍTULO 2
Pedagogia da UFV em curso:
1ehistóra 1resigncação1ßW_]W,XVV[1
Anexos
Referências
199
PARTE I
O processo de criação e
a1conguração1do1curso
200
CAPÍTULO 14
O brincar, a formação de
educadores das infâncias e o
curso de Pedagogia da UFV
MariÉdoÉCarmoÉCoutÉTeixeira 1
1. Introdução
OÉ
presntÉartigoÉvisaÉtrazerÉàÉtonaÉreXxõesÉsobreÉoÉBrincaÉconcebidÉcomÉati -
vidade humana, simbólica, portanto, cultural, como direito das crianças e sobre
a importância da formação de educadores voltada para a defesa das infâncias e
da escola como o lugar de brincar.
Neste momento de comemoração dos 50 anos do Curso de Pedagogia da UFV, cabe
umaÉreXxãoÉsobreÉcomÉaÉabordagemÉdasÉinfânciasÉeÉdoÉBrincaÉfoiÉseÉaWrmandoÉaoÉlon -
go do tempo como objeto de estudo, pesquisa e extensão e como se tornou relevante na
formação do/a pedagogo/a, em consonância com as mudanças da legislação e das políticas
para a Educação Infantil.
Na década de 1980, o Curso de Pedagogia da UFV habilitava o pedagogo/a para o
magistério de 1ª a 4ª série, o magistério de matérias pedagógicas, a supervisão e a adminis-
tração escolar, não existindo o foco no/a professor/a de Educação Infantil, como é um dos
focos atualmente. Com exceção de alguns professores, a temática era abordada de forma
periférica.
No processo de conquista de espaço do brincar e das infâncias nesse Curso, cumpre
destacar algumas iniciativas que contribuíram, como a criação da Ludoteca, a casa de brin-
car da UFV, com o protagonismo de professores/as do Curso de Pedagogia. A criação da
Ludoteca representou uma iniciativa importante para a formação do educador brincante,
constituindo-se, atualmente, como um laboratório do Curso de Pedagogia destinado às
práticas do brincar, em suas múltiplas linguagens e aos estudos sobre as implicações para
o desenvolvimento infantil.
201
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
202
CAPÍTULO 14
O brincar, a formação de educadores das
infâncias e o curso de Pedagogia da UFV
fâncias. Nesse sentido, o objetivo deste artigo, no contexto da celebração dos 50 anos do
CursoÉdeÉPedagoiÉdaÉUÉéÉr
FV eXtirÉsobreÉaÉimportânciaÉdoÉbrincaÉparÉasÉcriançasÉeÉ
a necessidade de formar professores brincantes. Com base na teoria e na legislação que
garante o direito ao brincar, o artigo convida a pensar a escola como o lugar de brincar, o/a
professor/a como o mediador do brincar e a Pedagogia como a Pedagogia do Brincar. Mas
de que brincar estamos falando?
NestÉtópicoÉbuscoÉproblematizarÉoÉsignWcadoÉdeÉcriançaÉeÉdeÉinfânciaÉoÉbrincaÉ
como um direito garantido na legislação, a sua importância para o desenvolvimento in-
fantilÉbemÉcomÉosÉdesaWoÉeÉosÉriscoÉimpostÉpelaÉmoderniaÉaoÉbrincaÉlivreÉemÉ
todos os lugares, especialmente nas escolas de educação infantil. A problematização se dá
a partir do meu olhar como professora de Estágio Supervisionado em Educação Infantil,
coordenadora da Residência Pedagógica/núcleo Pedagogia, pesquisadora e militante do
brincar, além de mãe e avó de crianças pequenas.
A criança, vista numa perspectiva histórico-cultural, uma discussão pertinente e
emergente, não é um sujeito do vir a ser no futuro, um ser incompleto, pelo contrário, um
sujeito que já é no presente, e a infância não é vista apenas como uma faixa etária vinculada
àÉpasgemÉdeÉumaÉfaseÉparÉaÉvidaÉadultaÉmasÉéÉcdaÉn
ompreni aÉsuaÉespeciWdaÉ
como um momento inaugural em que a criança se inscreve no mundo.
A temática do brincar tem sido histórica e socialmente associada à ideia de infância
eÉcriançaÉNotadmenÉaÉpartiÉdaÉmoderniaÉaÉativdaeÉdoÉbrincaÉfoiÉidentiWcaÉàÉ
concepção de criança, opondo-se ao universo dos adultos, que foi marcado, desde então,
peloÉtrablhoÉNesÉsentidoÉoÉbrincaÉfoiÉsignWcadoÉcomÉativdaeÉmenorÉnãoÉsériaÉeÉ
imatura, entendida como mero passatempo.
No entanto, a relação entre o brincar e o desenvolvimento infantil foi alvo de es-
tudo de diversos teóricos, sobretudo no início do século passado e, até hoje, essa relação
tem sido amplamente discutida por especialistas de diferentes áreas do conhecimento que
trabalham com bebês e crianças, tais como psicólogos, pediatras, psicanalistas etc., em di-
ferentes contextos (hospital, escolas, abrigos etc.). De modo geral, os estudos têm apontado
para os benefícios cognitivos, sociais e emocionais da brincadeira na infância.
203
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
204
CAPÍTULO 14
O brincar, a formação de educadores das
infâncias e o curso de Pedagogia da UFV
tomou uma maior dimensão, incluindo o direito a expressar-se sobre os assuntos que lhe
dizemÉrespitoæÉAOsÉEstadoÇpartesÉreconhmÉoÉdiretoÉdaÉcriançaÉaoÉdescanoÉeÉaoÉlazerÉ
ao divertimento e às atividades recreativas próprias da idade, bem como à livre participa-
çãoÉnaÉvidaÉcultraÉeÉartísticaBÉüItemÉWÉdoÉArtigoÉYWÉdaÉCDCÉW_^_ÉpÓZ
JáÉaÉEmendaÉConstiucalÉn7ÉÕ[ÉdaÉConstiuçãoÉFedralÉüW_^^Épreconizaæ
OÉdiretoÉdeÉaÉcriançaÉbrincaÉnaÉescolaÉaparecÉnoÉRefrncialÉCuriclaÉNacionlÉ
para a Educação Infantil (RCNEI) de 1998 (BRASIL, 1998) e nas Diretrizes Curriculares Na-
cionais para a Educação Infantil (DCNEI) de 2009, representando um importante avanço
ao colocar a criança em foco e orientando a criação da Base Nacional Comum Curricular
para a Educação Infantil em 2017. A BNCC reforça e valida a ênfase das DCNEI nas intera-
ções e na brincadeira como eixos estruturantes do currículo, os princípios éticos, políticos
e estéticos que devem orientar a prática pedagógica na educação infantil e o marco concei-
tual da relação entre o cuidar e o educar.
A despeito de toda produção teórica e legal, há um reconhecimento, por muitos
estudiosos, que o brincar como direito está sendo violado e que a cultura material infantil
eÉtvi emposÉdeÉincertzasÉüSENTOÉÓVW]ÉO
ARM ÉcontextoÉatualÉéÉmarcdoÉporÉumaÉtrans -
formaçãoÉfulminateÉqueÉreXtÉnaÉfaltÉdeÉtempoÉeÉespaçoÉparÉoÉbrincaÉNaÉmodernia -
de, a dimensão do espaço institucional se efetiva mais e a educação infantil, nessa situação
global, reduz os tempos e os espaços de brincar. Em outras palavras, o brincar que era
antes misturado na vida da comunidade, com a modernidade passa a ser considerado em
opsiçãoÉàÉvidaÉadultaÉeÉaoÉtrablhoÉsendoÉportanÉdesqualiWcdoÉcomÉumaÉativdaeÉ
menor.
205
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
206
CAPÍTULO 14
O brincar, a formação de educadores das
infâncias e o curso de Pedagogia da UFV
veis posteriores. É uma realidade presente e regional e que, ao mesmo tempo, nos mostra
a precarização das atividades que são realizadas com as crianças de 0 a 5 anos de idade.
Segundo Lydia Hortélio, a brincadeira, como a linguagem universal da criança não
pode ser reduzida dentro dos programas curriculares na educação infantil. A crítica ao
brincaÉAescolarizadoBÉéÉfeitaÉdeÉformaÉcontudeÉporÉestaÉpesquiadorÉdoÉbrincaæÉ
ÉqualqerÉatiudeÉqueÉidentiWquÉoÉbrincaÉdentroÉdaÉcategoriÉdeÉbrinquedosÉpe -
dagógicos ou material didático irá comprometer sua essência, produzindo equívocos
que espelham uma postura reducionista, comprometendo a singularidade desse gesto
humano. A ausência de conhecimento e mesmo de uma literatura que reconheça a
existência de uma cultura da criança, contribui para as distorções a que assistimos na
maioria das instituições que lidam com educação infantil. A maneira brincante de se
apropriar do mundo e conhecer a si próprio não pertence ao sistema da lógica, presen-
te na linearidade das programações elaboradas para um espaço seriado por idade cro-
nológica. Ela pertence a uma inteligência interna, não lógica e qualquer tentativa de
torná-la externa no papel e, em programas detalhados, se transforma imediatamente
numaÉrotinaÉvaziaÉsemÉsignWcadoÉexpresivoÉeÉreprsntaivoÉoÉqueÉcarcteizaÉhojeÉ
umÉgrandeÉnúmeroÉdeÉaçõesÉditasÉpedagóicsÉüHORTÉLIOÉÓVW[ÉpÉÓ
Neste tópico, apresento algumas experiências, vivências ou ações com foco no brin-
car e na formação de professores no âmbito do ensino, pesquisa e extensão, relacionando o
brincar, a educação infantil e a formação do/a educador/a brincante, envolvendo a partici-
pação de professores do Curso de Pedagogia da UFV.
endoÉeT mÉvistaÉaÉlimtadÉpresnçaÉdoÉbrincaÉlivreÉemÉespaçosÉescolareÉsobretu -
do na educação infantil, foi planejada, como estratégia de inserir o brincar na formação de
professores, a criação de uma disciplina sobre o brincar, incluída na matriz curricular do
Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Viçosa, balizada por pesquisas e vivências
pertinentes. A disciplina teve como principal objetivo compreender a brincadeira na sua
perspectiva cultural humana, como direito e, por conseguinte, como eixo articulador do
207
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
208
CAPÍTULO 14
O brincar, a formação de educadores das
infâncias e o curso de Pedagogia da UFV
dial do Brincar, a Semana do Comer etc.; articulação com grupos, projetos e programas
da UFV e de outras universidades, como a participação na Semana da FACED/UFJF entre
outrasÉinserçõesÉAÉparticpçãoÉnaÉTrocaÉdeÉSabersÉtrouxeÉaÉimportânciaÉdasÉmemóriasÉ
ancestriÉ parÉ sonharÉ oÉ mundoÉ doÉ bemÉ erÉvi eÉ naÉ TroquinhaÉ üTrocaÉ deÉ SabersÉ parÉ
crianças), o debate foi sobre a ancestralidade do brincar e a importância de sonhar com as
crianças o mundo do bem viver. A participação na Cátedra Paulo Freire originou propos-
tasÉdeÉcursoÉdeÉformaçãoÉdeÉeducaoresÉdeÉcriançasÉnaÉpaÉf
erspctiv reianÉOsÉcursoÉ
deÉextensãoÉeÉoWcinasÉeeramÉa
nvol ÉtemáticaÉdoÉbrincaÉnaÉpaÉderspctiv oÉfortalecimnÉ
comunitário e da construção da Agroecologia como, por exemplo, intervenções brincantes
juntoÉaoÉProjetÉCurpiaÉeÉaoÉProjetÉCerÉdonvi oÉCentroÉdeÉTecnolgiasÉAasÉdlterniv aÉ
ZonaÉdaÉMatÉdeÉMinasÉGeraisÉüCAÇZT MÉ
Em 2018, durante o estágio de pós-doutoramento no Programa de Pós-graduação
em Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), pude desenvolver uma pes-
quisaÉsobreÉAOÉqueÉaÉbrincadeÉpodeÉrelarBÉcv ujosÉresultadoÉforamÉpublicadosÉnoÉRe -
latório Final que será transformado em livro. Durante o estágio, realizei atividades com
foco no brincar, como curso de extensão de 30 horas na UFJF, intitulado “A Poética da
InfânciaÉeÉaÉForçaÉdoÉBrincaBÉemÉparceiÉcomÉaÉprofesaÉDr6ÉAnaÉRosaÉMoreiaÉPican -
çoÉmincursoÉteóricoÉpráticoÉAOÉbrincaÉcomÉdiretoÉeÉndeBÉncsia aÉEscolaÉMunicpalÉ
BelmiroÉDuarteÉDiasÉdeÉJuizÉdeÉForaÉoWcinaÉABrincaÉcomÉaÉnaturezaBÉnaÉSemanÉMun -
dial do Brincar, na FACED/UFJF; Instalação Artística Pedagógica (IAP), “A força do brincar
comÉaÉnaturezaBÉnaÉIXÉTrocaÉdeÉSabersÉnaÉUFVÉparticpçãoÉnoÉSimpósoÉMineroÉdeÉ
Ensino de Solos na UFV, com apresentação de comunicação oral e publicação de resumo
completÉnosÉCadernosÉdeÉAgroecliaÉoWcinaÉsobreÉEducaçãoÉAmbientalÉparÉprofes -
sores e gestores no Fórum Regional de Educação Ambiental (ForEA), em São Geraldo/MG;
cineÇdebatÉACarmbÉcarmbolÉoÉbrincaÉtáÉnaÉescolaBÉnaÉSemanÉdaÉFACED&UFJÉpar -
ticpaçãoÉemÉbancsÉdeÉmestradoÉeÉpalestrÉcomÉdestaquÉparÉaÉAAÉpoéticaÉdoÉBrincaBÉ
no IX Intercâmbio cultural de creches de Juiz de Fora, em setembro de 2019.
NestÉ tópicoÉ encamihoÉ asÉ consideraçõesÉ WnaisÉ pensadoÉ naÉ tarefÉ urgentÉ doÉ
adulto defender a infância, o direito das crianças de brincar e a educação infantil como um
espaço e um tempo de desenvolver a cultura lúdica.
209
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
inco4ÉüW_][Ép
W É]_Ç^VÉnosÉfornecÉaÉpistaÉdeÉqueÉAéÉnoÉbrincaÉeÉtezÉa
alv penasÉ
noÉbrincaÉqueÉaÉcriançaÉouÉoÉadultoÉfruemÉsuaÉliberdaÉdeÉcriaçãoBÉNesÉsentidoÉper -
guntaÇseæÉqualÉaÉimportânciaÉdaÉliberdaÉeÉcomÉgarntiÇlaÉnaÉeducaçãoÉdasÉcriançası
É necessário ampliar o leque de pesquisas sobre a importância do brincar livre para
a criança e sobre o potencial da brincadeira na educação infantil escolar. É urgente apro-
fundar olhares para compreender as relações entre a criança e a natureza que se formam na
alegria de brincar a partir da ideia de que “a alegria é a substância do brincar e a natureza
oÉseuÉteritóoÉprimodalBÉüHORTÉLIOÉÓVW[
Para além dos espaços escolares, a brincadeira tem uma importância fundamental
nos processos de desenvolvimento e mobilização comunitária. Pesquisas sobre as relações
entre a criança e a natureza mostram que brincar com a natureza desenvolve na criança co-
nhecimentos, valores e afetos que, inicialmente são conhecimentos sensoriais, mas que são
aÉbaseÉparÉconhecimtsÉmaisÉsoWsticadÉnoÉfutroÉAsÉcriançasÉsãoÉapaixonadsÉporÉ
espaços livres e pela natureza, mas a condição de emparedamento4 em que se encontram
impede que elas tenham contato com a natureza.
2 O tema do emparedamento da infância é abordado pela pesquisadora Léa Tiriba, professora da UNIRIO.
3 A cultura lúdica é produto da interação social que lança suas raízes na interação precoce entre a mãe e o
bebê, mas a cultura não é simplesmente transferida, e, sim, construída na interação, sendo o indivíduo um co-
construtor (BROUGÈRE, 1998).
4 O termo emparedamento foi cunhado por Lea Tiriba para designar a condição em que as crianças permane-
cem horas a fio confinadas nas escolas, lugar obrigatoriamente frequentado por todas as crianças brasileiras a
partir dos quatro anos de idade.
210
CAPÍTULO 14
O brincar, a formação de educadores das
infâncias e o curso de Pedagogia da UFV
LeaÉTirbaÉnoÉprefácioÉdoÉlivroÉADesmpardntoÉdaÉInfânciaæÉaÉescolaÉcomÉumÉ
lugarÉdeÉencotrÉcomÉaÉnaturezaBÉorganizadoÉporÉMariÉIsabelÉAmandoÉdeÉBarosÉapon -
taÉaÉexistênciaÉdeÉconexõesÉentreÉesaÉcondiçãoÉinfatilÉeÉaÉdegradçãoÉambientalÉeÉindagæ
OÉqueÉseráÉdeÉumÉplanetÉcujaÉinfânciaÉeÉjentudÉc v rescmÉdistaneÉdaÉnaturezaÉ
sem a possibilidade de desenvolver sentimentos de amor e compreensão clara, exis-
tencial, do que são os processos de nascimento, crescimento e morte dos frutos da
eraBıÉÉA
T NaÉcontramãoÉdaÉalienaçãoÉdeÉsiÉeÉdoÉmundoÉéÉprecisoÉqueÉasÉpesoaÉ
tenham vivências amorosas para com a natureza para que possam tratá-la amorosa-
mente. Pois há relações entre sentimento de pertencimento ao mundo natural e ati-
tudesÉambientasÉfundametisÉàÉsustenabildÉdoÉplanetÉüBAROSÉÓVW^ÉpWÉ
assume uma centralidade na formação dos/as educadores/as do campo, aliada aos movi-
mentos sociais que lutam pela terra, território e pelo direito de viver com dignidade, pre-
servando a sua cultura e seus valores, no campo e em outros territórios de vida e trabalho.
A construção do conhecimento agroecológico começa com as brincadeiras na e com
a natureza, nos diferentes contextos das dinâmicas locais e territoriais. Nesse sentido, e
pensando no nexo de formação do sujeito agroecológico desde a infância, iniciamos um
diálogo entre professoras e estudantes do Curso de Pedagogia e da LICENA para pautar a
criação da Ciranda Infantil, uma iniciativa educacional oriunda dos movimentos sociais do
campo, voltada para a educação agroecológica das crianças que vivenciam, junto às suas
famílias, a agroecologia como prática, ciência e movimento.
Essa iniciativa traz novos olhares para as infâncias e a culturas lúdicas e pode con-
tribuir para novas perspectivas teórico-metodológicas no campo do ensino, pesquisa e
5 A agroecologia é um fenômeno relativamente novo que vem se caracterizando como um espaço de resistên-
cia à lógica capitalista no âmbito da agricultura e da sociedade. Como ciência, prática e movimento, a agroeco-
logia é multidisciplinar, redimensionado práticas tradicionais de manejo de agroecossistemas e se vinculando
às lutas camponesas (TEIXEIRA e PICANÇO, 2019).
211
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
212
CAPÍTULO 14
O brincar, a formação de educadores das
infâncias e o curso de Pedagogia da UFV
nais e atuais; deve desconstruir o atual discurso pedagógico e psicológico que, em geral,
encontra-se ainda carregado de uma compreensão utilitária do brincar, destituindo dele
seu caráter de liberdade e criatividade humana.
PorÉWmÉdestacoÉaÉurgênciaÉdeÉseÉpensarÉemÉumaÉPedagoiÉdoÉBrincaÉüHORNÉetÉ
al., 2017), que pensa a escola como um lugar de brincar e de construção de relações mais
amorsÉeÉrespitoaÉentreÉaÉsociedaÉeÉaÉnaturezaÉEsaÉéÉumaÉtarefÉpolíticaÉcientíWcaÉ
eÉideológicaÉqueÉbalizaráÉoÉtrablhoÉproWsinalÉeÉaÉaçãoÉpedagóicÉdosÉeducaoresÉdasÉ
infâncias.
Referências
213
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
214
CAPÍTULO 14
O brincar, a formação de educadores das
infâncias e o curso de Pedagogia da UFV
215
CAPÍTULO 15
Das teias de leituras às tecituras da
pesquiaÉemÉinicaçãoÉcientíWcaÉnoÉ
curso de Pedagogia da UFV
Bethania Medeiros Geremias1
1. Primeiras tessituras
P
ara comemorar os 50 anos do Curso de Pedagogia, do Departamento de Educação
da Universidade Federal de Viçosa, resolvi compartilhar uma experiência desen-
volvida em diferentes disciplinas que tenho lecionado, por acreditar que contribui
parÉaÉreXxãoÉsobreÉaÉminhaÉprópiaÉpráticaÉpedagóicÉparÉaÉqualiWcçãoÉdosÉproces -
sos de ensino-aprendizagem do Ensino Superior, para uma leitura mais crítica dos estu-
dantes frente aos textos trabalhados em sala de aula e para o fortalecimento da iniciação
cientíWcaÉfocalizadaÉnaÉpesquiaÉemÉensio
A questão da leitura e de suas tessituras na formação inicial de professores tem me
movido desde que fui estudante de Pedagogia, quando tive a oportunidade de me envol-
erÉev mÉativdaesÉdeÉpesquiaÉcomÉbolsitaÉdeÉinicaçãoÉcientíWcaÉnaÉdécadÉdeÉW__VÉEmÉ
minhas primeiras experiências como professora universitária comecei a buscar metodolo-
giasÉqueÉposibltaemÉaosÉestudaneÉleiturasÉmaisÉsasÉe
ignWctv ÉaÉproduçãoÉdaÉauto -
ria, valorizando o texto em seu contexto e, ao mesmo tempo, as experiências e memórias de
leitura dos/as estudantes. Nas disciplinas em que lecionei, observei que os atos de ler e de
escrever tornavam-se cada vez mais prazerosos, além de evocarem outros sentidos para as
palvrsÉlidasÉPartindoÉasimÉdeÉumaÉpaÉderspctiv aÉüO
iscurv RLANDIÉÓVV]ÉeÉfreia -
na (FREIRE, 2006), que consideram os saberes dos leitores como parte constitutiva do ato
de ler, busquei desenvolver diferentes estratégias metodológicas e avaliativas condizentes
a essa compreensão de leitura.
Nesse sentido, evoco Freire (2006), para contrapor a visão dicotômica entre o ensino
da leitura e da escrita. Conforme o autor, o ensino da língua portuguesa desde os anos
216
CAPÍTULO 15
Das teias de leituras às tecituras da pesquisa em
incação1cientíca1no1curso1de1Pedagoi1da1UFV
iniciais deveria mostrar, desde o princípio, o elo entre essas duas atividades, para que não
fossem compreendidas como “tabletes de conhecimentos que devessem ser engolidos pe-
losÉestudaneBÉüpÉW]ÉeÉaoÉcontrárioÉderiamÉm
v obilzarÉasÉsuasÉcuriosdaeÉepistemo -
lógicas, de maneira viva e dinâmica. Assim como o autor e, pautada numa compreensão de
leitura e de escrita como ações mobilizadoras de novos sentidos sobre os objetos a ensinar
e a aprender – independente da disciplina lecionada – não poderia em momento algum
exigir uma memorização mecânica dos textos.
Mergulhada nessas concepções amplas de leitura e de escrita e, de seu desenvolvi-
mento na formação de professores, propus em 2017 um projeto de pesquisa em edital de
fomentÉdeÉbolsaÉdeÉInicaçãoÉCientíWcaÉintiuladoÉ Efeitos de um trabalho com a intertextua-
lidade no Curso de Pedagogia: o caso da dinâmica Sucos e TeiasÉcomÉaÉWnalideÉdeÉanalisrÉasÉ
avaliações dos estudantes sobre as atividades de leitura e de escrita nos moldes de uma
dinâmicaÉdenomiadÉSucosÉeÉTeiasÉpropstaÉporÉDaminÉüÓVV^ÉparÉiestigarÉanv lgunsÉ
dos efeitos de sua efetivação no processo de construção do conhecimento envolvido no
conteúdo programático da disciplina de Didática I (EDU 150)2.
Ao escolher a socialização dessa pesquisa, nessa obra comemorativa, pretendo dar
visbldaeÉàsÉpesquiaÉdeÉInicaçãoÉCientíWcaÉdesnvolidaÉnoÉCursoÉdeÉPedagoiÉeÉ
denunciar as formas de silenciamento e de aniquilação governamentais que têm buscado
ceraÉ cadÉ ezÉ
v maisÉ osÉ projetsÉ queÉ emÉdv ouÉ nãoÉ serÉ WnacidosÉ pelosÉ organismÉ
de fomento, através da criação de dispositivos regimentais que excluem ou, no mínimo,
tenamÉ excluirÉ asÉ CiênciasÉ HumansÉ eÉ SociasÉ DestacoÉ aÉ PortaiÉ MCTIÉ nÉ WWÓÓÉ deÉ
W_VYÓVÓVÉ queÉ traÉ daÉ deWniçãoÉ deÉ ÁreasÉ deÉ ecnolgiasÉT PriotáriasÉ doÉ MinstérioÉ daÉ
CiênciaÉTecnolgiaÉeÉIaçõnov esÉrefrntsÉaosÉprojetsÉdeÉpesquiaÉpropstÉpelosÉpes -
quisadores universitários no período compreendido entre os anos de 2020 a 2023.
AoÉdizerÉqueÉAtenamÉexcluirBÉreWroÇmeÉaoÉfatoÉdeÉaparecÉnosÉeditasÉrecntsÉdeÉ
selçãoÉdeÉpropstaÉdeÉpesquiaÉdeÉInicaçãoÉCientíWcaÉaÉobrigatoedÉdeÉinserçãoÉnaÉ
capÉdosÉprojetsÉaÉáreaÉdeÉTecnolgiaÉPriotáriaÉnaÉqualÉoÉprojetÉseÉencaixaÉeÉdeÉjustiW -
car os motivos para tal escolha.
É irônico dizer que os proponentes dos projetos, advindos da área de Educação,
geralmntÉnãoÉadermÉàsÉáreasÉpriotáriasÉdeWnidasÉpelasÉchamdsÉatuaisÉAoÉmesmoÉ
2 O projeto foi contemplado com uma bolsa do Programa Institucional PIBIC/ CNPQ da Universidade Federal de
Viçosa- UFV. A estudante selecionada foi Priscila Stephanie Nigre Cavalcanti, graduanda do Curso de Pedago-
gia. Aproveito para agradecer novamente ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) pelo financiamento da pesquisa por meio de bolsa de Iniciação Científica.
217
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
tempo, é relevante mostrar que há resistências a esse assassinato das pesquisas em Ciências
Humanas e Sociais, tais como as inúmeras manifestações contrárias ao que se pode deno-
minar de um genocídio epistemológico. Ao utilizar tal conceituação, mobilizada por Grosfo-
guel (2016), para denunciar o racismo e o sexismo epistêmico, acrescento todos os outros
mecanisoÉbiológcsÉeconômisÉgeográWcosÉeÉpolíticosÉmobilzadosÉAparÉprivlegaÉ
projetsÉimperias&colnias&patricsÉnoÉmundoBÉüpÉÓ[É
Como exemplo de um tipo de denúncia e resistência a esses mecanismos de contro-
leÉsobreÉoÉqueÉéÉpriodaeÉnoÉcontextoÉdaÉpesquiaÉcientíWcaÉeÉtecnológiaÉnacionlÉtragoÉ
a Moção de indignação à definição de “áreas prioritárias” e em defesa do Investimento em ciência no
Brasil3ÉescritaÉpeloÉComitêÉInteroÉdeÉInicaçãoÉCientíWcaÉeÉTecnológiaÉüCoICTÉdaÉUni -
versidade Federal de São Carlos, em parceria com a Sociedade Brasileira para o Progresso
da Ciência (SBPC), a Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Associação Nacional dos
Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES) e as diversas associa-
çõesÉcientíWcasÉeÉuersidaÉq
nv ueÉemÉuníssonÉmanifestmÉaÉpreocupaçãoÉquantoÉaosÉ
critériosÉadotasÉpeloÉCNPQÉparÉasÉchamdsÉdosÉProgamsÉdeÉInicaçãoÉCientíWcaÉeÉ
ecnológiaÉüP
T ICTæÉ
• oÉProgamÉInstiucoalÉdeÉBolsaÉdeÉInicaçãoÉCientíWcaÉüPIBCÉn7ÉWV&ÓVÓVÉ
queÉdeÉmodÉgeralÉéÉdoÉàÉf
irecnad ormaçãoÉcientíWcaÉdeÉrecursoÉhumanosÉeÉ
aoÉestímuloÉdosÉestudaneÉparÉoÉdesnvolimtÉdoÉpensamtoÉcientíWcoÉeÉ
de atividades de pesquisa e à articulação entre a graduação e a pós-graduação;
• oÉProgamÉInstiucoalÉdeÉBolsaÉdeÉInicaçãoÉCientíWcaÉ.ÉAçõesÉAasÉWrmtiv
(PIBIC-Af) n°, 14/2020, resulta de uma parceria entre a Subsecretaria de Políticas
deÉAçõesÉAasÉd
Wrmtiv aÉSecrtaiÉEspecialÉdeÉPromçãoÉdaÉIgualdeÉRacilÉ
da Presidência da República – SUBPAA/SEPPIR-PR e o Conselho Nacional de
DesnvolimtÉCientíWcoÉeÉTecnológiÉdoÉMinstérioÉdaÉCiênciaÉeÉTecnol -
giaÉ.ÉCNPqÉ&ÉMCTÉeÉtemÉcomÉWnalidesÉaÉcomplentaçãoÉdeÉaçõesÉaWrma -
tivas nas universidades e o oferecimento aos estudantes bolsistas participar de
ativdesÉdeÉinicaçãoÉcientíWca
• oÉ ProgamÉ InstiucoalÉ deÉ BolsaÉ deÉ InicaçãoÉ emÉ DesnvolimtÉ ecno T -
lógicoÉeÉIação
nov ÉüPIBTÉn7ÉV^&ÓVÓVÉcriadoÉemÉlinhasÉgeraisÉparÉestimularÉ
estudantes do ensino técnico e superior ao desenvolvimento e transferência de
novas tecnologias e inovação.
218
CAPÍTULO 15
Das teias de leituras às tecituras da pesquisa em
incação1cientíca1no1curso1de1Pedagoi1da1UFV
EÉaindaÉcomÉrelaçãoÉaosÉProgamsÉInstiucoaÉdeÉBolsaÉdeÉInicaçãoÉCientíWcaÉ
PIBCÉPIBCÇAfÉeÉPIBTÉaÉmoçãoÉchamÉaÉatençãoÉparÉoÉfatoÉdeÉeseÉsermÉAosÉmaioresÉ
instrumeoÉdeÉfomentÉàÉinicaçãoÉcientíWcaÉeÉtecnológiaÉdoÉpaísÉeÉreprsntamÉaÉportaÉ
de entrada à pesquisa para muitos alunos de graduação. Excluir alunos desse processo
repsntaÉumÉretrocsÉnoÉprogesÉcientíWcoÉdoÉpaísBÉ
Ao destacar os efeitos previstos de tal mecanismo de seleção de projetos de pes-
quisaÉ emÉ InicaçãoÉ CientíWcaÉ eÉ deÉ segraçãoÉ entrÉ osÉ diferntsÉ cursoÉ ersitárunv iosÉ
busco dar ênfase ao trabalho formativo desenvolvido nos cursos da área de educação e que
pouco é valorizado, sobretudo frente às visões mecanicistas e tecnicistas de formação de
219
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
professores cada vez mais ativas nas políticas desenvolvidas pelo Ministério de Educação
do atual governo.
Assim, ao selecionar, para essa obra comemorativa dos cinquenta do Curso de Pe-
dagoiÉresultadoÉdeÉpesquiaÉdeÉInicaçãoÉCientíWcaÉeendoÉa
vl ÉtemáticaÉdaÉleituraÉ
e da escrita na formação de professores, reforço a relevância de que nossos estudantes
sejam cada vez mais formados para desenvolverem uma atitude investigativa e crítica, que
envolve, em meu ponto de vista, o reconhecimento da importância do ato de ler o texto e
seu contexto, que nas palavras de Freire (2006, p. 21) “implica sempre percepção crítica,
intepraçãoÉeÉrescritaÉdoÉlidoBÉbemÉcomÉAleituraÉcríticaÉdaÉrealidBÉeÉAaçãoÉcontra -
ÇhegmônicaB
2. A pesquisa4
4 Texto já publicado na íntegra e adaptado para esta publicação comemorativa dos 50 anos do Curso de Peda-
gogia da UFV. Os resultados dessa pesquisa foram apresentados no II Congresso Internacional Paulo Freire: O
Legado Global, com o seguinte tema: Leitura e escrita no Ensino Superior: intertextos freireanos (GEREMIAS;
CAVALCANTI, 2018) e, em sua forma mais aprofundada, publicados na Revista Ibero-Americana de Estudos em
Educação (RIAEE), com o título Efeitos de um trabalho com a intertextualidade na formação de professores do
ensino fundamental I (GEREMAIS; CAVALCANTI, 2018).
220
CAPÍTULO 15
Das teias de leituras às tecituras da pesquisa em
incação1cientíca1no1curso1de1Pedagoi1da1UFV
AÉpartiÉdeÉumÉolharÉdiscurvoÉparÉoÉtextoÉeÉseuÉcontextoÉüORLANDIÉÓVV_ÉÓVVVÉ
entendemos a compreensão leitora e a produção textual dos estudantes como um proces-
soÉdeÉconstruçãoÉpermantÉdeÉredsÉdeÉsignWcaçõesÉcompstaÉcomÉumÉtecidoÉIsoÉ
implica dizer que as leituras de mundo, no sentido freireano (FREIRE, 2006, 1996, 1987),
entram no jogo da construção da compreensão pelos estudantes dos textos trabalhados
pelos professores nas suas aulas, sejam esses em sua forma escrita, oral ou imagética.
Paulo Freire (2006), em sua obra A importância do ato de ler, invoca suas lembranças
da leitura da primeira infância como elementos constitutivos da aprendizagem das primei-
ras letras e palavras, ou seja, como textos que, ao se entrelaçarem aos outros textos da sua
primeira escola regular, contribuíram com o que o autor denominou de leitura da palavra
mundoÉAÉpalvrÉasimÉcomÉoÉtextoÉadquiremÉsignWcadoÉdinâmicoÉeÉvivoÉevocandÉaÉ
importância do conceito de intertextualidade, no qual a leitura mecânica, linear e solitária
cede espaço para o diálogo com outros autores, outras leituras, outros textos e contextos.
Concordamos com o autor em sua crítica ao excessivo número de textos listados
noÉrolÉdasÉrênefr ciasÉbiblográWcasÉdasÉdiscplnaÉdeÉgraduçãoÉpoisÉfocalizamÉnaÉquan -
tidaeÉ deÉ materilÉ aÉ serÉ meorizadoÉ engolidsÉ comÉ pastilhÉ üSNYDERSÉ W_^^É emÉ
detrimnoÉ deÉ umaÉ aproiçãoÉ maisÉ aÉcomprensiv críticaÉ eÉ reXxiaÉv pelosÉ estudanÉ
em formação inicial. Para Freire, a proposição de atividades de leitura compreensiva e,
intertextual, implica a construção de uma rotina intelectual, na qual a rigorosidade do
processo de formação docente requeiram a exigência e a produção de uma leitura e escrita
aprofundada dos textos lidos.
Essa preocupação é coerente com estudos e pesquisas em torno da temática abor-
daÉsocialzadosÉemÉeentosÉe
v specíWcosÉtalÉcomÉoÉSeminárioÉsobreÉleituraÉeÉproduçãoÉ
no Ensino Superior (SLEPES), que teve sua décima versão realizada em 2015. Apesar de
estarÉintegradoÉàÉAsociaçãoÉNacionlÉdeÉPesquiaÉnaÉGraduçãoÉemÉLetrasÉüAÉéÉ
NPOL
abertoÉaosÉproWsinaÉdeÉtodasÉasÉáreasÉqueÉiestigumÉanv sÉquestõÉdeÉleituraÉescritaÉeÉ
produçãoÉdoÉconhecimtÉOÉfocÉnaÉproduçãoÉdoÉconhecimtÉindicaÉaÉrelvânciaÉdeÉ
investirmos em dinâmicas que aprofundem a relação dos estudantes com os objetos de es-
tudo das diferentes disciplinas que compõem a grade curricular dos cursos de graduação.
NaÉsuaÉdécimaÉversãoÉoÉtemaÉgeralÉintiuloÇseÉAOsÉdesaWoÉdaÉproduçãoÉdeÉco -
nhecimtoÉnaÉuersidaÉc
nv ontemprâneaBÉParÉtantoÉforamÉelabordsÉasÉseguintsÉ
provcaçõesÉaosÉprofesÉeÉestudaneÉpesquiadoræÉiÉQuaisÉteoriasÉeÉreXxõesÉnósÉ
estamos produzindo em diferentes áreas? ii) Quais pesquisas e conhecimentos estamos
produzindo com vistas à formação de professores? iii) Como aliamos teoria e práticas? iv)
221
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
YÉSucosÉeÉteiasæÉdeWniçãoÉabordagemÉeÉrelaçõesÉteóricas
222
CAPÍTULO 15
Das teias de leituras às tecituras da pesquisa em
incação1cientíca1no1curso1de1Pedagoi1da1UFV
223
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
Remetemos essa prática a uma concepção pedagógica que valoriza a paráfrase (repetição)
em detrimento da polissemia, que implica a possibilidade de produção de novos sentidos
e de ampliação do conhecimento pelos estudantes, pois para que haja compreensão pelos
sujeitoÉdosÉtextosÉlidosÉnosÉensiaÉOrlandiÉüÓVV_ÉpÉ]Væ
oÉ leitorÉ eÉdv seÉ relacionÉ comÉ diferntsÉ procesÉ deÉ signWcaçãoÉ queÉ acontemÉ
em um texto [...] compreender como um texto funciona, como ele produz sentidos,
é compreendê-lo enquanto objeto linguístico-histórico, e explicar como ele realiza a
discursividade que o constitui.
AÉprobaildeÉdeÉasÉdesÉd
iWculda eÉleituraÉeÉproduçãoÉtextualÉpersitmÉapósÉ
a formação inicial é consideravelmente grande, se pensarmos em um curso para futuros
professores, no qual a escrita, a leitura e a compreensão de textos, principalmente os aca-
dêmicos, são usadas como base em quase todas as disciplinas da grade curricular. Então,
concordamos com Freire (1993, p. 37) que a leitura, amparada na compreensão ampla dos
textosÉAéÉumÉesforçoÉqueÉdeÉcv omeçarÉnaÉpréÇescolaÉintesiWcarÇseÉnoÉperíodoÉdaÉalfabe -
tizaçãoÉeÉcontiuarÉsemÉjamisÉparB
OÉmodelÉtradiconlÉpedagóicoÉdeÉleituraÉeÉescritaÉcentradoÉnaÉmemorizaçãoÉéÉ
criticado por Freire (1993) e, destacado por Damiani (2008, p. 4) “é ultrapassado e seus
resultadoÉnãoÉsãoÉsatisfóroBÉpoisÉrotulaÉoÉestudaneÉcomÉumÉaprendizÉpasivoÉqueÉ
nada faz para se apropriar do conhecimento, não considera o esforço do aluno e nem a
realidade a qual está inserido. A autora defende que o aprendiz é um sujeito ativo, pois
interage com o objeto que gera aprendizagem durante todo o processo do ler e escrever.
Portanto, há que se incentivar e valorizar práticas de leitura e escrita que prezem o
compartilhenÉdeÉideiasÉopinõesÉeÉvaloresÉComÉesaÉWnalideÉdemosÉe
crv Éana -
lisamos, posteriormente, resultados de pesquisa sobre os efeitos da dinâmica citada nas
aulas da disciplina Didática I (EDU 150) de um Curso de Pedagogia.
ZÉCaminhosÉdaÉpesquiaæÉresignWcadoÉpráticasÉeÉ
experiências
224
CAPÍTULO 15
Das teias de leituras às tecituras da pesquisa em
incação1cientíca1no1curso1de1Pedagoi1da1UFV
225
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
[ÉDiscuãoæÉosÉefeitosÉdaÉinterxtualideÉnoÉprocesÉ
de ensino-aprendizagem
226
CAPÍTULO 15
Das teias de leituras às tecituras da pesquisa em
incação1cientíca1no1curso1de1Pedagoi1da1UFV
Conteúdos da didática
a dinâmica facilitou o aprendizado e a apropriação dos textos pelos alunos. Os sucos e teias,
além de inovador, é totalmente aplicável em qualquer outra disciplina, pois me fez pensar a respeito
as minhas vivências e fazer conexões sem fim, entre os textos trabalhados, minhas experiências esco-
lares e pessoais (E13) [sic].
a dinâmica foi interessante e útil, pude ter novas concepções e desconstruir conceitos (E17)
[sic].
os sucos e teias me proporcionou o aprendizado que deve ser difundido e apropriado, e que
a didática de um professor é de extrema importância para o processo de ensino-aprendizagem, o
docente não deve ser um mero disseminador de teorias, é necessário que essas teorias virem objeto de
apropriação, formando saberes e resultando em uma prática de excelência [sic].
OutrosÉ seiÉ estudanÉ eramÉscv queÉ nãoÉ existeÉ umaÉ diáticaÉ masÉ simÉ váriasÉ
maneirsÉdeÉensiaræÉsabersÉdiferntsÉParÉFreiÉüW__YÉpÉÓ]ÉháÉumaÉrelaçãoÉentreÉoÉ
aprender e o ensinar, que vemos materializada na fala dos estudantes. Para o autor, há uma
relação direta e de troca entre o ensinante e o aprendiz, pois um contribui com o aprendi-
zado do outro. Essa compreensão tem relação com o modo como os estudantes relacionam
o texto lido com outras leituras e experiências. Para eles, a dinâmica proporcionou um
conhecimento maior dos textos trabalhados, na medida em que considerou as diferentes
formas do saber.
Além dessa relação com a experiência, os estudantes relatam uma transformação
no modo como percebiam o ensino e a avaliação, o que remete aos conteúdos presentes
227
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
nos textos trabalhados em sala de aula. Segundo os estudantes, a melhor compreensão dos
temas é um efeito da dinâmica investigada.
Compreensão do conhecimento
Uma melhor compreensão dos conhecimentos se sobressai nos dizeres dos estu-
dantesÉOsÉefeitosÉdeÉsentidoÉconstruídosÉporÉelesÉfazemÉmençãoÉàÉideiaÉdeÉconhecimtÉ
como uma construção. Relacionamos esse sentido ao envolvimento ativo do aprendiz no
seu processo de aprendizagem, concordando com Freire (2006, p. 70-71), de que as nossas
experiências de vida, a realidade a qual estamos inseridos é que contribui ou permite a
construçãoÉeÉaÉcomprensãoÉdeÉdetrminadoÉconhecimtæÉ
não podemos duvidar que a nossa prática nos ensina [...] conhecemos muitas coisas
por causa da nossa prática. Desde muito pequenos aprendemos a entender o mundo
que nos rodeia. Por isso, antes mesmo de aprender a ler e escrever palavras e frases,
já estamos lendo, bem ou mal, o mundo que nos cerca. Mas este conhecimento que
ganhamos de nossa prática não basta. Precisamos ir além dele. Precisamos conhecer
melhor as coisas que já conhecemos e conhecer outras que ainda não conhecemos.
A interação entre os grupos foi ótima, pois nos proporcionou uma troca de conhecimento e
notícias muito importantes. A relação aluno-aluno foi muito produtiva, pois a partir da dinâmica
pudemos interagir e aprender muito uns com os outros, sempre levando em consideração o ponto de
vista de cada um [sic].
228
CAPÍTULO 15
Das teias de leituras às tecituras da pesquisa em
incação1cientíca1no1curso1de1Pedagoi1da1UFV
a compreensão será tão mais profunda quanto sejamos nela capazes de associar, ja-
mais dicotomizar, os conceitos emergentes na experiência escolar aos que resultam da
cotidianidade. Um exercício crítico sempre exigido pela leitura e necessariamente pela
escrita é o de como nos darmos facilmente à passagem da experiência sensorial que
caracteriza a cotidianidade à generalização que se opera na linguagem escolar e desta
ao concreto tangível.
Exercício da criticidade
229
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
amosÉOberv oÉ exercícioÉ daÉ interdscplaÉ nesaÉ dinâmicaÉ poisÉ elaÉ nãoÉ seÉ
esgota em sua forma, pois faz com que os estudantes pensem para além do conteúdo estu-
dado, fazendo relações com o exterior.
Nove estudantes enfatizaram que a dinâmica trouxe a possibilidade do exercício
da criticidade, da objetividade, do resgate de memórias, de uma leitura de mundo mais
profundaÉeÉformaçãoÉdeÉopinãoÉcomÉpodemsÉdestacrÉnoÉtextoÉabaixoæ
A metodologia Sucos e teias nos ajuda e estimula muito a ler os textos, nos faz pensar no que
estamos lendo e também a articular com experiências pessoais, com o que já lemos no decorrer da
vida, com outras disciplinas etc. [sic].
Sua avaliação sobre a dinâmica vai ao encontro do que defende Freire (1993, p.29)
sobreÉaÉleituraÉdosÉtextosæ
estudar é, em primeiro lugar, um que-fazer crítico, criador, recriado, não importa que
eu nele me engaje através da leitura de um texto que trata ou discute um certo con-
teúdoÉqueÉmeÉfoiÉpropstÉpelaÉescolaÉouÉseÉrealizoÉpartindoÉdeÉumaÉreXxãoÉcríticaÉ
sobre um certo acontecimento social ou natural e que, como necessidade da própria
reXxãoÉmeÉconduzÉàÉleituraÉdeÉtextosÉqueÉminhaÉcuriosdaeÉeÉminhaÉexperiênciaÉ
intelectual me sugerem ou que me são sugeridos por outros.
Para ele, não há uma separação entre o ato de ler, a aprendizagem e a produção de
sentidoÉTodsÉdemÉa
v conterÉdoÉmodÉintegradoÉpoisÉenquatoÉoÉsujeitoÉlêÉeleÉtrazÉ
leituras do mundo que o rodeia. Suas experiências e memórias ajudam a conduzir a leitura
230
CAPÍTULO 15
Das teias de leituras às tecituras da pesquisa em
incação1cientíca1no1curso1de1Pedagoi1da1UFV
produzindoÉmúltiplosÉsentidosÉqueÉpodemÉfugirÉaoÉcontrleÉdoÉsujeitoÉüORLANDIÉÓVV_É
Por essa razão, o papel da mediação nos cursos de formação de professores é fundamental,
pois é na relação professor-aluno/aluno mediados pelo conhecimento que se dá a passa-
gem da leitura primeira para a compreensão mais elaborada dos textos lidos.
Relação professor-aluno/aluno-aluno
A dinâmica foi feita em[sic] cooperação com os demais companheiros de percurso, me per-
mitiram perceber cada colega como um mosaico de identidades, no qual um professor ou um aluno
é uma posição, uma identidade no interior deste mosaico, ou seja, isto se constitui um exercício de
alteridade (E1) [sic].
Essa leitura dos estudantes, sobre o trabalho realizado, retoma nossa discussão an-
terior sobre o papel da intersubjetividade, ou seja, sobre a construção coletiva dos conhe-
cimentos propostos na disciplina, acompanhada de um diálogo de saberes/experiências
dos sujeitos.
Nessa categoria, quinze estudantes consideraram a dinâmica gostosa, instrutiva,
estimulanÉeÉintersaÉVejamosÉalgunsÉexcertosÉdeÉsuasÉaaliçõv esÉaoÉqualÉdestacmoæÉ
O Sucos e Teias foi uma atividade gostosa e instrutiva, entender o contexto em que fui in-
serida na escola relembrando de professores, é fundamental para formação e para evitar ao máximo
que os erros se repitam com nossos futuros alunos. Além de ser um material riquíssimo que utilizo
em outras aulas. Ressalto que a didática utilizada foi de fácil compreensão, conseguiu prender minha
atenção, não tornou o conteúdo maçante e enjoativo, buscando sempre inovar nas aulas (E18) [sic].
231
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
Os Sucos e Teias é uma metodologia excelente e inovadora, que faz com que os alunos possam
interligar seus conhecimentos (E38) [sic].
com a dinâmica a forma de avaliação foi justa não baseada em decorebas, mas com métodos
que fato nos levaram à reflexão acerca de nosso futuro como educadores [sic].
De certo modo, esses efeitos relativos aos aspectos mais subjetivos e emocionais
foram repetidamente citados na avaliação. Por meio desses relatos, podemos analisar que a
dinâmica Sucos e Teias tornou a leitura dos textos atrativa, possibilitando aos mesmos anali-
sarem não somente a quantidade de conteúdo, mas a qualidade da proposta da disciplina.
Além disso, são evocados pelos estudantes a importância da comunicação entre professor e
Éeonula ÉdÉpa ção
arpe ÉpÉplanoisWr Éaar Épátr Édaci ÉSetnco ÉFodnuge ÉüW__YÉp
eri ÉÕ]ÉuÉm
aspecto que fundamental ligado à primeiras experiências docentes das jovens e a que
as escolas de formação, se não dão, deviam dar imensa atenção é o da formação das
profesandÉparÉAleituraBÉdaÉclaseÉdeÉalunosÉcomÉseÉestaÉfoseÉumÉtextoÉaÉserÉ
decifrado, a ser compreendido.
Nesse sentido, as cartas de Paulo Freire (1993), escritas na obra “Professora Sim, tia
nãoBÉlidasÉduranteÉaÉdiscplnaÉsãoÉmaterilÉdeÉreXxãoÉsobreÉaÉproWsãoÉdocentÉeÉseuÉ
papel no contexto da sala de aula, possibilitando uma compreensão do próprio processo
formativo dos estudantes.
ÕÉAÉanáliseæÉdiálogsÉentreÉoÉensioÉeÉaÉpesquiaÉ
232
CAPÍTULO 15
Das teias de leituras às tecituras da pesquisa em
incação1cientíca1no1curso1de1Pedagoi1da1UFV
EmÉsíntesÉaÉconstruçãoÉdasÉTeiasÉsuperoÉoÉcumprientoÉdoÉconteúdoÉdaÉdiscpl -
naÉdeÉdidáticaÉnaÉmediaÉemÉqueæÉiÉfavorecuÉasÉleiturasÉeÉreliturasÉdosÉtextosÉpropstÉ
no plano de curso; ii) possibilitou o entendimento e aprofundamento dos conceitos; iii)
contribuiu para o estreitamento das relações entre os próprios estudantes; e iv) norteou a
relação professor-aluno, abrindo oportunidade para que os estudantes expusessem suas
experiências, sentimentos e memórias.
Essas categorias, construídas por nós no processo de análise, corroboram em par-
te àquelas de Damiani (2008), tais como compreensão em maior grau de profundidade e
interalzaçãoÉmaisÉeWcientÉestabelcimnoÉdeÉintercoxõesÉcomÉoutrosÉconteúdosÉan -
teriomnÉtrablhdosÉeÉcomÉexperiênciasÉvenciadsÉbv emÉcoÉam ÉreXxãoÉsobreÉnovsÉ
conteúdos.
Contudo, acreditamos que novos modos de aplicação da dinâmica, com uma sele-
çãoÉmenorÉdeÉtextosÉemÉconjutÉcomÉasÉespeciWdaÉdaÉdiscplnaÉdeÉDidáticaÉpos -
sibilitaram outras compreensões sobre o trabalho realizado. Dentre essas, destacamos as
múltiplas produções de sentido materializadas durante as discussões das teias pelos estu-
dantes e no processo de análise e a importância de se estabelecer uma quantidade menor
de textos a serem trabalhos com esta dinâmica, pois acreditamos que isto leva a maior
aprofundamento dos conteúdos e comprometimento com a construção dos sucos e teias.
Além disso, percebemos um distanciamento do trabalho de Damiani, no que diz
respeito ao envolvimento e avaliação dos estudantes sobre a dinâmica, pois ela destaca
que somente a metade da turma realizou as avaliações e dessas, muitas expressaram como
ponto negativo a grande quantidade de textos e a frequência de elaboração.
EmÉnoÉt
s rablhoÉveriWcamosÉqueÉtodsÉosÉestudaneÉdaÉturmaÉparticpmÉdaÉ
dinâmicaÉeÉdaÉaalição
v ÉWnalÉnaÉqualÉexpresamÉsuasÉopinõesÉsobreÉaÉutilzaçãoÉefeitosÉ
e construção dos Sucos e TeiasÉAÉliberdaÉdeÉconstruçãoÉdeÉrelaçõesÉinWitasÉdeÉacordÉ
com os estudantes, permitiu que outras leituras, memórias, experiências, histórias, ima-
gensÉfotsÉWlmesÉetcÉEsaÉtambémÉpuderamÉserÉexpresaÉemÉdiferntsÉformatsÉcomÉ
textos, mapas conceituais, esquemas, tópicos, dentre outros.
Assim como um texto é lido diferentemente em tempos diferentes, em contextos
e pessoas diferentes, as metodologias de ensino, quando aplicadas em disciplinas e com
outros estudantes estão sujeitas a transformações, aportando novos modos e olhares sobre
a construir de conhecimentos pelos licenciandos em formação.
Nesse jogo de produção de sentidos sobre os textos lidos, convocamos três con-
ceitosÉimportanesÉparÉseÉpensarÉaÉconstruçãoÉdosÉconhecimtsÉdoÉEnsioÉSuperioæÉaÉ
233
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
Referências
234
CAPÍTULO 15
Das teias de leituras às tecituras da pesquisa em
incação1cientíca1no1curso1de1Pedagoi1da1UFV
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PARTE III
Espaços e tempos
formativos
236
CAPÍTULO 16
A formação em Pedagogia e o
Programa de Educação uT torial (PET/
EDU): uma aliança que enriqueceu
nosso processo formativo
Rita de Cássia de Souza Paula1
atinÉGT omesÉCosta 2
1. Introdução
C
onseguir uma vaga na educação superior é o sonho de muitos jovens. Entretanto,
muitos estudantes de camadas populares desistem desse sonho quando os seus
recusoÉWnaceirosÉsãoÉinsuWcietÉparÉgarntiÉaÉsuaÉmanuteçãoÉnaÉinstiu -
ção. De acordo com Portes (2014, p. 171), “a entrada do estudante pobre na universidade
produzÉumaÉsérieÉdeÉnesBÉqcida ueÉcolcamÉemÉriscoÉsuaÉpermanênciaÉeÉAquandoÉasÉ
necessidades econômicas se tornam críticas, o sujeito é obrigado a dar respostas à situação.
NormalentÉelesÉtendmÉaÉsolucinarÉaÉquestãoÉpelaÉviaÉdoÉtrablhoBÉüOpÉCitÉpÉW]ÓÉ
E quando conciliam graduação e trabalho, suas chances de participarem de eventos cientí-
WcosÉeÉpráticasÉacadêmicasÉextracuilesÉWcamÉlimtads
Esses alunos também podem apresentar defasagem acadêmica e cultural, se com-
parados com outros de camadas sociais mais elevadas. De acordo com Bourdieu (2010,
p. 45), “em todos os domínios da cultura, teatro, música, pintura, jazz, cinema, os conhe-
cimentos dos estudantes são tão mais ricos e extensos quanto mais elevada é sua origem
socialBÉDevidoÉaÉesaÉquestõÉsociasÉmotivuÇseÉaÉpropstaÉinicalÉdaÉcriaçãoÉdoÉPET&
Educação do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Ancorado
noÉnomeÉAConexõesÉdeÉSabersBÉeseÉPETÉpriozaÉatendrÉestudaneÉdasÉcamdsÉpo -
237
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
faz-se necessário enfatizar que os estudantes compõem sua trajetória acadêmica tam-
bém com as atividades não obrigatórias, o que favorece o desenvolvimento do pro-
WsionalÉdeÉensioÉcomÉumÉtodÉjáÉqueÉaÉformaçãoÉinicalÉdosÉprofesÉdeÉs
v erÉ
compreendida como um momento em que ocorrem trocas de conhecimentos entre os
formadores (de dentro e fora da universidade) e os que estão em formação.
238
CAPÍTULO 16
A formação em Pedagogia e o Programa de Educação Tutorial (PET/EDU):
uma aliança que enriqueceu nosso processo formativo
ÓÉOÉCursoÉdeÉPedagoiÉdaÉUFVÉeÉoÉPET&EDU
239
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
ÓÓÉOÉCursoÉdeÉPedagoi
OÉCursoÉdeÉgraduçãoÉemÉPedagoiÉdaÉUersidaÉF
nv edralÉdeÉViçosaÉfoiÉcria -
do em 1971, pelo ato nº17/1971, do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE). No
início, vinculou-se à Escola Superior de Ciências Domésticas, que era formada pelos De-
partamentos de Economia Familiar, Habitação, Pedagogia e Nutrição e Saúde. No entanto,
foi reconhecido no ano de 1978, 27 de janeiro de 1978, pelo Decreto nº 81.260 (UFV, 2020).
ApósÉ oÉ reconhimtÉ doÉ CursoÉ fatoresÉ importanesÉ marcÉ aÉ suaÉ históraæÉ
houve um aumento do número de professores vinculados ao Departamento de Educa-
ção-DPE, maior investimento e um crescimento do DPE e do próprio Curso de Pedagogia
daÉUÉOFV ÉCursoÉfoiÉcriandoÉasimÉautonmiaÉemÉrelaçãoÉàÉEolaÉS
sc uperioÉdeÉCiênciasÉ
Domésticas e, a partir de 1978, de acordo com a estrutura administrativa da UFV, deixou
o Departamento de Economia Doméstica, tornando-se ambos subordinados ao Centro de
Ciências Humanas, Letras e Artes (CCH), criado recentemente (UFV, 2020).
OÉ CursoÉ deÉ edagoiÉP aoÉ longÉ dosÉ anosÉ foiÉ pasndoÉ porÉ mudançasÉ emÉ suaÉ
matrizÉcuriclaÉNoÉanoÉÓVVVÉporÉexemploÉoÉCursoÉpasouÉporÉumaÉreformulaçãoÉOÉ
ProjetÉPedagóicoÉdoÉCursoÉeraÉvoltadÉparÉformaçãoÉdoÉproWsinalÉdaÉeducaçãoÉqueÉ
habilita para trabalhar no ensino, na organização e gestão de sistemas, unidades e projetos
educacionais e na produção e difusão do conhecimento, em distintas áreas da educação,
sendo a docência a base obrigatória de sua formação (UFV, 2020).
240
CAPÍTULO 16
A formação em Pedagogia e o Programa de Educação Tutorial (PET/EDU):
uma aliança que enriqueceu nosso processo formativo
ÓÓÓÉUmaÉexperiênciaÉinesqucívelæÉnosaÉpasgemÉpeloÉCursoÉdeÉ
Pedagogia
NosaÉpasgemÉpeloÉCursoÉdeÉPedagoiÉfoiÉextremantÉsaÉI
ignWctv nical -
mente, por ter sido a dinâmica do ensino em uma instituição de educação superior algo
totalmente novo e diferente para nós, foi um pouco difícil, tivemos que nos adaptar a tudo.
MasÉfelizmentÉoÉDepartmnoÉdeÉEducaçãoÉtinhaÉconhecimtÉdesaÉposíveisÉdiW -
culdaesÉeÉnosÉdeuÉtodÉsuporteÉnecsárioÉparÉpasrÉporÉeseÉprocesÉOsÉprofesÉ
amÉtcostuv ambémÉserÉmaisÉXexíveisÉeÉemÉgrausÉeÉdeÉformaÉdiferntsÉauxiliarmÇnosÉ
nesse processo.
A matriz curricular que cursamos, a forma como foram propostas as disciplinas,
como já foi antecipado, fez diferença na nossa formação. Na educação básica, apesar de
termosÉcursadoÉconteúdosÉdeÉsocilgaÉWlosWaÉeÉhistóraÉelasÉnãoÉnosÉderamÉoÉemba -
samento teórico que essas disciplinas no Curso nos propiciaram, assim como a disciplina
241
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
Psicologia da Educação. Dentre outras coisas, ter acessos a conteúdos logo nos primeiros
anos da graduação fez com que compreendêssemos a história da educação e da escola, as
asÉWperctiv losóWcaÉaceraÉdoÉmundoÉeÉdaÉsociedaÉasÉquestõÉsociasÉqueÉcontribuí -
ram e contribuem para a forma como nos organizamos hoje e o modo como a compreensão
queÉseÉtinhaÉsobreÉoÉserÉhumanoÉeÉsuasÉformasÉdeÉaprendizagemÉiamÉnnXueciv asÉmeto -
dologias de ensino.
NesÉ sentidoÉ alémÉ deÉ outrasÉ contribuçõesÉ esaÉ discplnaÉ nosÉ WzeramÉ perc -
berÉoÉquantoÉaÉsociedaÉporÉinXuênciasÉdersaÉf
iv oiÉseÉmoldanÉeÉqueÉtudoÉdeÉalgumÉ
modo, estava ligado, direta ou indiretamente, à educação. Então, já nos primórdios da
nosaÉformaçãoÉpercbmosÉqueÉatuarÉnesÉcampoÉseriaÉumÉdesaWoÉmasÉacimaÉdeÉtudoÉ
umÉdesaWoÉnecsárioÉ
As disciplinas teóricas que tinham como objetivo discutir assuntos relacionados
à escola e à prática docente, tais como planejamento, avaliação, didática, metodologias
do ensino, educação especial, bem como as disciplinas práticas, a guisa de exemplo, os
estágiosÉpropcinamÉoÉcontaÉcomÉoÉambientÉescolarÉeÉconsequtmÉWzeramÇ
nosÉenxergaÉaÉescolaÉeÉosÉprofesÉdeÉumÉmodÉdiferntÉresignWcadoÉnosÉolharÉ
acerca da instituição escolar e de ser professor.
Nesse sentido, percebemos que em nossa atuação docente não bastaria saber o con-
teúdo que seria ensinado e transmitido aos estudantes, era preciso mais do que isso. Era
necsárioÉ pensarÉ emÉ metodlgiasÉ queÉ atendsmÉ eÉ WzeÉsem sentidoÉ aosÉ estudanÉ
formas avaliativas que fossem coerentes com o que havia sido ensinado e que, ao mesmo
tempo, realmente avaliassem a compreensão dos alunos, em superar as limitações estru-
turais de muitas escolas, em adaptar os conteúdos aos estudantes com necessidades espe-
ciais, de modo a incluí-los, em atender as demandas dos alunos, ao mesmo tempo em que
eramÉatendiasÉasÉdemandsÉcuriclaesÉe&ouÉdaÉescolaÉenWmÉemÉqueÉteríamosÉdeÉserÉ
multifncoasÉdedicaosÉeÉdispotÉaÉenfretaÉtodsÉosÉdesaWoÉeÉproblemáticasÉqueÉ
nossos professores enfrentavam e nem sabíamos.
Assim, o Curso de Pedagogia nos mostrou a realidade da educação brasileira, pre-
parou-nos para o que poderíamos encontrar no cotidiano escolar. Com isso, quando fomos
realizar os estágios, apesar de estarmos receosos, de certo modo, sabíamos das problemá-
ticasÉqueÉpoderíamosÉencotraÉNãoÉestamoÉaWrmandoÉqueÉoÉqueÉaprendmosÉnoÉCursoÉ
nos preparou totalmente e que, em virtude dele, saberemos lidar com qualquer situação,
mas que ele fez com que tivéssemos conhecimento de que ser educador não é uma tarefa
fácil e que deveríamos estar preparadas para as adversidades.
242
CAPÍTULO 16
A formação em Pedagogia e o Programa de Educação Tutorial (PET/EDU):
uma aliança que enriqueceu nosso processo formativo
OÉProgamÉdeÉEducaçãoÉTutorialÉüPETÉéÉdesnvolidÉmediantÉgruposÉorgani -
zados por cursos de graduação de instituições de ensino superior no Brasil, em que esses
realizam atividades baseadas na tríade ensino, pesquisa e extensão. Esse programa é regi-
do pela Lei nº 11.180, de 23 de setembro de 2005, e pela Portaria MEC nº 976 de 27 de julho
deÉÓVWVÉsendoÉWnacidoÉpeloÉFundoÉNacionlÉdeÉDesnvolimtÉdaÉEducaçãoÉüFNDEÉ
(UFV, 2017).
Atualmente, existem no Brasil um total de 842 grupos, distribuídos entre 121 ins-
tiuçõesÉdeÉeducaçãoÉSuperioÉAosÉmembrosÉdoÉPETÉéÉpermitdoÉqueÉpermançamÉatéÉaÉ
conclusão da sua graduação e ao tutor, um período máximo de seis anos (BRASIL, 2018).
DentrÉ esÉ gruposÉ existenÉ noÉ BrasilÉ háÉ oÉ PET&EDU&UFVÉ .É ConexõesÉ deÉ Sa -
beres, vinculado ao Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Viçosa, no campus
Viçosa, sendo esse grupo composto por dezoito graduandos, dos quais doze são bolsistas
e seis não bolsistas, com a orientação de um (a) professor (a) tutor (a).
DeÉacordÉcomÉoÉsiteÉdoÉPET&EDU&UFVÉ.ÉConexõesÉdeÉSabersÉpublicadoÉemÉÓVWYÉ
o programa foi criado em 2010 por meio da proposta da Professora Doutora Wânia Maria
243
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
Guimarães Lacerda4ÉqueÉposuíaÉcomÉtemáticaÉAOÉacesoÉeÉpermanênciaÉdeÉestudaneÉ
oriundsÉdeÉcamdsÉpopularesÉnasÉinstiuçõesÉdeÉEnsioÉSuperioBÉPorémÉaoÉlongÉdeÉ
sua trajetória, o programa teve como tutoras, além da Professora Doutora Wânia Maria
Guimarães Lacerda (2010-2011; 2012-2018), duas professoras doutoras do Departamento
de Educação da UFV, Alvanize Valente Fernandes Ferenc5 (2011-2012), e a Cristiane Apa-
recida Baquim6, a atual tutora.
OÉPET&EDUÉvisaÉpropcinaÉaosÉestudaneÉdersaÉoiv portunidaesÉdeÉformaçãoÉ
OsÉgradunosÉrealizamÉativdaesÉrelaciondsÉaÉensioÉpesquiaÉeÉextensãoÉqueÉcon -
tribuemÉparÉvidaÉacadêmicaÉeÉparÉaÉvidaÉproWsinalÉDeÉacordÉcomÉManchurÉSuria -
ni, Cunha (2013), as atividades de extensão podem propiciar o desenvolvimento de uma
formação mais ampliada, que relaciona teoria com prática, propiciando uma comunicação
com a sociedade, possibilitando trocas de conhecimento. Nesse sentido, as atividades de
extensão englobam não só os acadêmicos como também a comunidade externa, podendo
ser realizados eventos relacionados a questões educacionais, de saúde, culturais e econô-
micas.
AsÉativdaesÉdeÉensioÉeramÉvoltadsÉpriotamenÉaosÉmembrosÉdoÉPETÉeÉ
havendo vagas, essas eram oferecidas tanto aos estudantes do Curso de Pedagogia quanto
aos estudantes dos demais cursos. Alguns exemplos dessas atividades de ensino são os
semináriosÉaÉleituraÉeÉdiscuãoÉliteráriaÉmincursoÉeÉoWcinasÉJáÉemÉrelaçãoÉàsÉativdaesÉ
de pesquisa, essas podiam ser realizadas de forma individual ou em grupos, sob orienta-
ção da tutora ou de um professor (a) do Departamento de Educação (UFV, 2013). Diante
do exposto, a seguir discorremos mais sobre essas atividades desenvolvidas no programa,
destacando as contribuições ao longo da nossa graduação.
4 Possui graduação em Pedagogia pela Universidade do Estado de Minas Gerais, Unidade de Carangola (1986),
Mestrado em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (1999). Doutorado em Educação pela Uni-
versidade Federal Fluminense (2006) e Pós-Doutorado pela Universidade Federal de Minas Gerais (2012). Atu-
almente é Professora Associada da Universidade Federal de Viçosa, atuando na graduação e no Mestrado em
Educação.
5 Possui graduação em Pedagogia pela Universidade Federal de Viçosa (1992). Mestra em Educação pela Uni-
versidade Federal de São Carlos (1995). Doutora em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (2005),
com estágio de Doutoramento na Universidade do Porto, Portugal. Pós-doutora pela FPCE da Universidade do
Porto, Portugal (2020) e pela FaE/UFMG (2014). Atualmente é Professora Associada 4 da Universidade Federal
de Viçosa e coordenadora do Programa de Pós- Graduação em Educação- PPGE/UFV.
6 Possui graduação em Pedagogia pela Universidade Federal de Viçosa (1999). Mestrado e Doutorado em Edu-
cação pela Universidade Federal de São Carlos (2008). Pós-doutorado em educação pela Universidade do Porto.
Atualmente é docente da Universidade Federal de Viçosa, na área de Gestão da Educação, tutora do Programa
de Educação Tutorial - PET/EDU/UFV e Assessora Especial da Pró-reitoria de Ensino.
244
CAPÍTULO 16
A formação em Pedagogia e o Programa de Educação Tutorial (PET/EDU):
uma aliança que enriqueceu nosso processo formativo
YÉAsÉcontribuçõesÉdoÉPET&EDUÉparÉoÉprocesÉdeÉformaçãoÉdocent
245
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
246
CAPÍTULO 16
A formação em Pedagogia e o Programa de Educação Tutorial (PET/EDU):
uma aliança que enriqueceu nosso processo formativo
247
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
fragmentdÉNesÉsentidoÉnosaÉformaçãoÉdocentÉsuperoÉeseÉdesaWoÉatravésÉdesaÉ
ações vivenciadas nesse programa.
Programas que se baseiam na indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão
são muito importantes para a formação do pedagogo. De acordo com Martins, Dias e Filho
üÓVWÕÉeseÉfatorÉvisaÉcontribuÉnaÉformaçãoÉautônomaÉeÉsaÉdignWctv esÉdocentsÉqueÉ
atuaram na educação básica, além de cooperar também para uma formação mais humani-
zadora, que se pauta ainda na relação entre teoria e prática.
Esses projetos se tornam um lugar de produção de conhecimentos essenciais. Mui-
tasÉvezesÉasÉativdaesÉpropicadsÉnosÉcursoÉnasÉuersidaÉW
nv camÉsomentÉdentroÉ
daÉuersidaÉOnv ÉPETÉéÉumÉprogamÉqueÉultrapsÉesaÉbareiÉmuitasÉvezesÉexisten -
te, e busca o contato com a comunidade, durante a formação.
Segundo Assis e Bonifácio (2011), ao falarmos sobre formação, devemos considerar
não só a formação para o trabalho, mas também para a vida cidadã, de modo que o sujeito
estjaÉprepadoÉparÉinterviÉnaÉrealidÉOÉPETÉnosÉpropcinuÉisoÉalémÉdeÉterÉsidoÉ
um mecanismo importante para a garantia da nossa permanência no Curso, constituiu-se
como um valioso instrumento de empoderamento socioeducacional e potencialização da
nossa formação docente.
OÉsaberÉdocentÉnãoÉéÉconstiuídoÉapenasÉporÉacumlarÉconhecimtÉmasÉtam -
bémÉemÉaçõesÉdoÉcotidanÉqueÉvisamÉqueÉoÉprofesÉposaÉtomarÉdecisõÉagirÉeÉreXtirÉ
sobre suas ações. Na trajetória do estudante na universidade é importante que se compar-
tilhe os conhecimentos adquiridos entre os discentes, docentes e comunidade, auxiliando,
asimÉaÉmelhorÉformaçãoÉdoÉestudaneÉüMARTINSÉDIASÉMARTINSÉFILHOÉÓVWÕÉNesÉ
sentidoÉoÉPET&EDUÉpropcinaÉaçõesÉbasedÉemÉtrocasÉdeÉexperiênciasÉeÉaquisçãoÉdeÉ
conhecimento através de atividades de ensino, pesquisa e extensão.
ZÉConsideraçõesÉWnais
248
CAPÍTULO 16
A formação em Pedagogia e o Programa de Educação Tutorial (PET/EDU):
uma aliança que enriqueceu nosso processo formativo
ComÉisoÉaÉparticpçãoÉnoÉProgamÉdeÉEducaçãoÉTutorialÉPET&EDUÉ.ÉConexõesÉ
de Saberes do Curso de Pedagogia complementou nossa formação, pois nos possibilitou
desenvolver habilidades e competências que foram fundamentais para a nossa constituição
proWsinalÉaoÉlongÉdaÉgraduçãoÉNesÉsentidoÉresaltmoÉqueÉéÉdeÉesencialÉimpor -
tânciaÉqueÉprogamsÉcomÉoÉPETÉsejamÉreconhidsÉpelaÉsociedaÉpelosÉgernatsÉov
eÉqueÉeseÉcontiuemÉsendoÉWnacidosÉpeloÉgernoÉp
v oisÉparticpndoÉdoÉprogamÉ
há a oportunidade de realizar outras ações que podem contribuir para o desenvolvimento
acdêmicoÉeÉproWsinal
OÉCursoÉdeÉPedagoiÉseÉmostruÉcomÉumÉCursoÉqueÉdispõeÉdeÉmecanismoÉin -
clusivos para seus alunos, principalmente, os provenientes das camadas populares, reco-
nhecendo que não basta abrir as portas das instituições, mas que é crucial dar condições
parÉqueÉeseÉalunosÉprospemÉeÉseÉproWsinalzemÉcomÉqualideÉespíritoÉcríticoÉeÉvo -
cação cidadã. Além do mais, muitas vezes, o estudante quer buscar formas de complemen-
tar sua formação, de participar de atividades extracurriculares, que não são obrigatórias
para a conclusão do Curso, embora sejam muito importantes para o processo de formação,
talÉcomÉtemosÉaiv travésÉdoÉPET&EDUÉdoÉCursoÉdeÉPedagoiÉ
Diante disso, frisamos a importância de o Curso de Pedagogia manter esse progra-
maÉeÉerÉxãoÉoÇloÉpoisÉeleÉseÉconWguraÉcomÉumÉaliadoÉnoÉqueÉdizÉrespitoÉaosÉaspectoÉ
curriculares do Curso, visto que, como já foi citado, por meio das leituras que realizamos
dentro dele – essas que não teríamos tempo de realizar nas disciplinas do Curso porque
nãoÉ eriaÉhv tempoÉ hábilÉ parÉ isoÉ .É nósÉ comprendsÉ umaÉ inWdaeÉ deÉ questõÉ eÉ
problemas sociais que poderiam impactar na nossa prática docente.
ÉC
O Éd
osru ÉP
e Ép
aigo ade Éq
uit mre Ép
eu ésdu Ée
some xpÉu
raicne r Ép
m Éd
ocu Éc
e Éom
Éaaires Épãos Wor ÉnÉpa átrÉpaci Émro Édoie Éeso ágtsÉooi Édsoirótagirb Édsa Étsanilp csi Éesaciróe Épár -
ticas, e também através da oportunidade de participar de uma atividade extracurricular. E
todas essas experiências vivenciadas nesse Curso permitiram que tivéssemos uma formação
Ébmoc Ésesa ÉCadiló Éimo Énos Ésso Éssomitne Épsaruge Éaar Éqram W Éoeu ÉCÉnosru Épso Éduorape Éa
Éfrohlem Épamro ívs o Éple Éaar Épátr Édaci Éeetn co Épas ãos Wor ÉtãoÉiÉpetna ropm Éaar Éseda ico
Portanto, em nossa formação obtivemos acesso ao ensino, pesquisa e extensão, o
CursoÉeÉoÉPETÉnosÉoportunizaramÉeseÉcontaÉAlémÉdisoÉpropcinamÉumaÉforma -
ção crítica, um preparo, para que nos tornássemos professoras conscientes de nosso papel
e de nossos direitos na sociedade e ainda nos fez compreender a importância de lutarmos,
sempre que preciso, nos diferentes contextos que vivenciamos, por justiça, pela equidade
e pelas garantias dos direitos.
249
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
Referências
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ed‰yÉA
w cesoÉemæÉÓ^ÉmaiÉÓVÓW
MARTINSÉRÉEÉMÉWÉDIASÉJÉMARTINSÉFILHOÉLÉJÉOÉcontextoÉdoÉensioÉpesquiaÉeÉ
extensão na formação docente na Faculdade de Educação da Universidade do Estado
de Santa Catarina. Ver. Educ. PUC-Camp., Campinas, v.21, n.2, p.243-254, maio/ago.,
250
CAPÍTULO 16
A formação em Pedagogia e o Programa de Educação Tutorial (PET/EDU):
uma aliança que enriqueceu nosso processo formativo
251
CAPÍTULO 17
Aprendizagem da docência no PIBID/
Pedagogia/UFV 2020: a experiência do
desenvolvimento das ações em tempos
de ensino remoto
Flávia Russo Silva Paiva1
1. Introdução
A
o falarmos em aprendizagem da docência é preciso considerar a complexidade
dessa questão, pois, conforme explicam pesquisadores que se debruçam ao es-
tudoÉdesaÉtemáticaÉüMIÉÓVVÓÉT
ZUKAM ARDIFÉÓVVÓÉdentrÉoutrosÉaÉapren -
dizagem da docência ocorre em diferentes espaços e tempos da vida dos sujeitos que se
constituirão docentes. Semelhantemente, podemos observar que a docência consiste em
umaÉativdaeÉcomplexaÉüCUNHAÉÓVVZÉMIZUKAMÉÓVWYÉSEVRINOÉÓVVÕÉeÉesaÉcom -
plexidade se dá, principalmente, pelo fato de que a sua prática, visando garantir a apren-
dizagem dos estudantes, exige um repertório de saberes pedagógicos que precisam ser
incorporados pelos professores, para além somente do saber disciplinar ou do conteúdo
espcíWcoÉaÉserÉensiadoÉüLIBÂNEOÉÓVWY
São vários os conhecimentos que os docentes utilizam para organizar o processo
deÉensioÉTardifÉüÓVVÓÉdestacÉalgunsÉdesÉcomÉoÉcentoÉs
hcim obreÉosÉconteúdosÉ
escolares a ser ensinado; saberes que possibilitam ao docente utilizar de estratégias didá-
tico-pedagógicas que favoreçam a condução do processo de ensino, desde a forma mais
adequada para organizar a sala de aula em determinados momentos até a decisão por
quais métodos utilizar para conduzir o ensino de cada conteúdo escolar e quais os recursos
didáticos são possíveis de serem elaborados ou encontram-se disponíveis para serem utili-
1 Licenciada em Pedagogia (UFV), Mestre em Educação (UFV), Doutora em Educação (UNIRIO). Professora do
Departamento de Educação (DPE) da UFV. Contato: flavia.paiva@ufv.br .
2 Licenciando em Pedagogia (UFV). Bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID/
UFV - Edição 2020-2022), integrando o Núcleo Pedagogia. Contato: alaercio.junior@ufv.br.
252
CAPÍTULO 17
Aprendizagem da docência no PIBID/Pedagogia/UFV 2020:
a experiência do desenvolvimento das ações em tempos de ensino remoto
253
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
254
CAPÍTULO 17
Aprendizagem da docência no PIBID/Pedagogia/UFV 2020:
a experiência do desenvolvimento das ações em tempos de ensino remoto
ÓÉOÉPIBD&UFV&PedagoiÉ.ÉEdiçãoÉÓVÓVÇÓVÓÓæÉaçõesÉemÉ
desenvolvimento em tempos de ensino remoto
OÉ SubprojetÉ doÉ NúcleoÉ edagoiÉP inserdoÉ noÉ ProjetÉ InstiucoalÉ doÉ PIBD&
UFV/Edição 2020-2022, foi apresentado para avaliação, pela CAPES, em fevereiro de 2020.
Após a aprovação da proposta, enquanto nos organizávamos (coordenação geral e os coor-
denadores dos Núcleos) para a seleção dos participantes (licenciandos e professores da
educação básica), bem como o cadastramento das escolas parceiras, fomos surpreendidos
pela pandemia da doença Covid-19, causada pelo novo Coronavírus (SARS-CoV-2) (BRA-
SILÉÓVÓWÉemÉnosÉpaísÉTratÇseÉdeÉdoençaÉdeÉcaráterÉinfeciosÉrespiratóoÉagudoÉoca -
sionadÉpeloÉvírusÉanteriomÉcitadoÉdeÉfácilÉpropagçãoÉeÉtransmiãoÉOÉisolamentÉ
social passou a ser uma das principais medidas a ser adotada para conter o avanço da
doença.
Diante dessa situação, foi necessário repensar a forma de condução da educação
escolar, em todos os níveis e etapas do ensino. Acompanhamos a suspensão das atividades
presenciais de ensino e o Conselho Nacional de Educação (CNE), emitiu o Parecer n. 5 de
2020 – aprovado em 28 de abril de 2020, homologado pelo MEC em 01 de junho do mesmo
ano – apresentando orientações para a reorganização do Calendário Escolar e da possibili-
daeÉdeÉcômputoÉdeÉativdaesÉnãoÉpresnciaÉparÉWnsÉdeÉcumprientoÉdaÉcargÉhoráriaÉ
mínima anual, em razão da pandemia da Covid-19.
255
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
organizado de acordo com o Currículo Referência de Minas Gerais (CRMG) e com o Plano
de Curso da unidade de ensino. Esses Planos são organizados no formato de apostilas,
para que os alunos e os professores trabalhem os conteúdos curriculares ao longo do pe-
ríodo de isolamento social. Em 2020, o material foi disponibilizado em volumes mensais.
JáÉnoÉanoÉletivoÉdeÉÓVÓWÉosÉPsÉpET asrmÉaÉserÉbimestraÉOÉacesoÉaÉeseÉmaterilÉocoreÉ
de forma virtual4 e os estudantes que não possuem acesso à internet podem solicitar o
material impresso à escola.
As atividades do Núcleo Pedagogia, do PIBID/UFV 2020-2022, iniciaram-se a partir
de um primeiro encontro online contando com a participação de todos da equipe – os licen-
3 Esses materiais foram produzidos por professores da rede estadual de ensino, com a parceria da União Na-
cional dos Dirigentes Municipais de Educação Seccional Minas Gerais (Undime-MG). Conforme informações
apresentadas pela SEE/MG, a Undime-MG auxiliou na elaboração do material voltado para a educação infantil
e os anos iniciais do ensino fundamental. Além disso, algumas universidades mineiras também participaram do
processo e contribuíram na revisão dos conteúdos. Informações estão disponíveis em: https://www2.educa-
cao.mg.gov.br/component/gmg/story/11394-plano-de-estudo-tutorado-foi-desenvolvido-para-garantir-edu-
cacao-com-equidade-de-acesso-a-todos-os-estudantes Acesso em 01 set. 2021.
4 Os Planos de Estudos Tutorados (SEE/MG) encontram-se disponíveis no site: https://estudeemcasa.educacao.
mg.gov.br/ e também podem ser acessados pelo aplicativo criado pela SEE/MG denominado “Conexão Escola”
– a sala virtual do aluno.
256
CAPÍTULO 17
Aprendizagem da docência no PIBID/Pedagogia/UFV 2020:
a experiência do desenvolvimento das ações em tempos de ensino remoto
ciando5ÉeÉasÉduasÉprofesaÉdasÉescolaÉparceisÉ.ÉqueÉocoreuÉapósÉaÉabertuaÉoWcial 6
do Programa, objetivando, dentre outros aspectos, explicar a forma como inicialmente se-
riam desenvolvidas as atividades do PIBID/Pedagogia no formato remoto, em substituição
àsÉativdaesÉpresnciaÉeÉemÉconsânciaÉcomÉasÉorientaçõesÉpresntÉnoÉPlanoÉdeÉTra -
balho do PIBID/UFV Remoto; dividir os (as) licenciandos (as) em duas equipes, cada uma
destinada para atuar em uma das escolas parceiras – Escola Estadual Santa Rita de Cássia
e Escola Estadual Madre Santa Face7; apresentar informações referentes à carga horária a
serÉdestinadÉparÉasÉativdaesÉsemanisÉdeWnirÉosÉhoráriosÉdasÉreuniõsÉsemanisÉdeÉ
toda a equipe com a coordenação do Núcleo Pedagogia; organizar o nosso planejamento e
o cronograma de atividades.
Após a divisão dos IDs para atuação em uma das escolas parceiras, sob a supervisão
de uma das professoras, também foram encaminhados para atuarem diretamente junto a
uma turma dos anos iniciais do ensino fundamental e com a respectiva professora regen-
teÉaÉWmÉdeÉmelhorÉdireconaÉasÉaçõesÉaÉsermÉdesnvolidaÉHáÉcasoÉemÉqueÉdoisÉIDsÉ
atuam de forma conjunta em uma mesma turma, isso ocorre principalmente em uma das
escolas parceiras, devido ao número de turmas dos anos iniciais do ensino fundamental ser
inferior ao número de Pibidianos que desenvolvem as atividades do Programa na escola.
Iniciamos as nossas atividades do Núcleo Pedagogia, atentos às orientações sobre
quais as ações podem ser desenvolvidas pelos IDs, de forma a cumprirem a carga horária
de atividades semanais (8 horas) previstas para o período de ensino emergencial remoto.
Essa carga horária semanal deve contemplar quatro horas de atividades junto às escolas
5 A equipe PIBID/UFV/Pedagogia 2020-2022, no início da edição, era composta por 16 Iniciantes à Docência,
bolsistas, e quatro voluntários. No momento da apresentação deste estudo, integram a equipe 16 IDs, todos
bolsistas. Quatro licenciandos se desligaram do Programa, devido a diferentes fatores, como incompatibilidade
de horários de atividades, obtenção de bolsa em outro Programa e desligamento da UFV (troca de instituição
e de curso).
6 A Cerimônia de Abertura Oficial do Programa ocorreu em 15 de outubro de 2020, juntamente com a abertu-
ra do Programa de Residência Pedagógica da UFV. O evento foi aberto a participação de toda a comunidade,
realizado com transmissão ao vivo pelo canal da PRE/UFV, no YouTube, e a solenidade contou com a palestra
“A contribuição do PIBID e da Residência Pedagógica na formação docente no contexto da educação presencial
e remota”, proferida pela professora Angélica Consenza Rodrigues, da Universidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF). A gravação da referida cerimônia de abertura oficial dos Programas PIBID e Residência Pedagógica pode
ser acessada em: https://www.youtube.com/watch?v=NpCJHk5gYLU.
7 Ambas escolas parceiras do Núcleo Pedagogia, do Projeto PIBID/UFV 2020, são estaduais e localizam-se na
cidade de Viçosa. Nessa edição do PIBID/UFV não puderem ser incluídas escolas da rede municipal de ensi-
no, bem como seus respectivos professores, como Supervisores, pois no momento em que o PIBID iniciou
as atividades, a rede municipal ainda não havia retomado às atividades escolares nesse formato de ensino
emergencial remoto. A CAPES, mediante Ofício n. 8/2020-DEB/CAPES, condicionou a execução do PIBID ao
funcionamento das escolas.
257
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
ümaisÉeentÉjspciWam untoÉàÉprofesa 8
regente da turma que o ID acompanha) e quatro
horas de atividades formativas para os IDs como participação nas reuniões semanais, ati-
vidades de estudo e preparo de aulas, dentre outras9.
Seguimos essa divisão de carga horária e conduzimos as nossas ações compreen-
dendo atividades junto às escolas parceiras, adicionadas a atividades formativas e socia-
lização dos conhecimentos e experiências com a comunidade acadêmica e com o corpo
docente das escolas. Realizamos reunião semanal da equipe e essas são organizadas da se-
guinteÉformaæÉalgumasÉcomprendÉ Reuniões de Planejamento e Acompanhamento das Ações
Desenvolvidas’ junto às escolas e outras dedicadas para ‘Encontros de Formação’ interna da
equipe.
Logo no início do desenvolvimento das nossas atividades foi necessário tempo de
estudo e realização de algumas ações que oportunizaram a ambientação da equipe com
asÉescolaÉparceisÉoÉqueÉseÉapresntouÉcomÉumaÉtarefÉdesaWdorÉtendoÉemÉvistaÉaÉ
imposbldaeÉdeÉpisarmoÉnoÉAchãoÉdasÉescolaBÉValeÉdestacrÉqueÉasÉescolaÉjáÉeramÉ
conhecidas por alguns integrantes da equipe, o que facilitou essa ambientação, que foi
realizadaÉmediantÉcontaÉcomÉdocumentsÉoWciasÉdaÉescolaÉcomÉoÉRegimntoÉEscolarÉ
eÉoÉProjetÉPolíticoÉPedagóicoÉOsÉdebatsÉsobreÉeseÉdtosÉb
cumen uscandoÉapresntaÉ
essas instituições escolares, principalmente para aqueles IDs que não as conheciam, foi
conduzido pela coordenadora do Núcleo, com o auxílio das professoras dessas escolas que
atumÉ comÉ SupervisoaÉ noÉ PIBD&PedagoiÉ consideraÉ tambémÉ reXxõesÉ impor -
tantes compartilhadas por Veiga (1998, 2009) e Vasconcellos (1995, 2002) sobre os referidos
documentos escolares.
Ainda nesse momento de ambientação, buscamos dialogar com as Supervisoras e
realizarmos estudos sobre os documentos orientadores do REANP10ÉdaÉSE&MGÉaÉWmÉdeÉ
comprendsÉcomÉasÉativdaesÉescolareÉeamÉostv corendÉdeÉformaÉremotaÉTam -
bém realizamos um encontro online entre a equipe PIBID/Pedagogia com as professoras
regentes das escolas parceiras para que pudéssemos nos conhecer (ao menos virtualmen-
te), dialogarmos sobre orientações e compartilharmos algumas informações importantes
8 Ao longo deste artigo, ao nos referirmos às professoras regentes de turmas das escolas parceiras, vamos
utilizar o substantivo no feminino, tendo em vista que todas as docentes que acompanham o trabalho dos (as)
IDs em suas respectivas turmas são mulheres.
9 Lembrando que essa carga horária pode ser readaptada pela coordenação do Núcleo.
10 Dentre esses documentos, destacamos o Documento Orientador e o Guia Prático, referentes ao ano letivo
2020 e, posteriormente, debruçamo-nos sobre aqueles referentes ao ano letivo 2021, todos disponíveis em:
https://estudeemcasa.educacao.mg.gov.br/guias-praticos . Acesso em: 01 set. 2021.
258
CAPÍTULO 17
Aprendizagem da docência no PIBID/Pedagogia/UFV 2020:
a experiência do desenvolvimento das ações em tempos de ensino remoto
259
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
XexõesÉdosÉprofesÉLuizÉCarlosÉdeÉFreitas 11
, Helena Costa Lopes de Freitas12 e Carlos
Roberto Jamil Cury (2016), dentre outros. Continuaremos a realizar essa ação formativa,
tendo em vista que compõe as ações do Projeto do Núcleo Pedagogia, do PIBID/UFV, na
atual edição.
ConcmitaeÉaÉeseÉexercícioÉdeÉestudoÉeÉreXxõesÉosÉPibdanosÉsãoÉorientadosÉ
a elaborarem os Planos de Ação Individual, documento que é confeccionado por cada ID,
direcionado à turma/ao ano escolar em que esteja acompanhando no ano letivo. Esse Plano
de Ação Individual consiste em uma estratégia de planejamento de ensino que estamos
utilizando para conduzir as nossas ações, bem como sistematizá-las. Deverá ser elaborado
pelos IDs, com a orientação das Supervisoras e da Coordenadora do Núcleo, considerando
os elementos principais de um planejamento de ensino e seguindo o formato apresentado
em um documento orientador, confeccionado pela professora coordenadora, apresenta-
dos sob o formato de Plano de Aula e Projetos Didáticos/Sequências Didáticas (no caso do
planejamento de um conjunto de aulas). Quanto ao conteúdo desses planejamentos, são
selcionadÉaÉpartiÉdeÉconteúdosÉapresntadoÉnosÉPlanosÉdeÉEstudoÉTutoradsÉemÉseusÉ
diferentes volumes e direcionados aos diferentes anos do primeiro segmento do ensino
fundamental. A seleção dos conteúdos a serem abordados pelos IDs ocorrerá a partir de
diálogos com a professora regente da turma em que estão acompanhando, bem como sob
a orientação das Supervisoras do PIBID.
Portanto, o referido Plano de Ação trata-se de um documento que o licenciando
elaborÉnãoÉvisandoÉaÉsuaÉapresntaçãoÉWnalÉmasÉsimÉtratÇseÉdeÉumÉplanejmtoÉparÉ
orientar as ações junto à turma acompanhada em determinados períodos (por exemplo,
parÉumaÉouÉmaisÉsemansÉparÉoÉbimestrÉeÉpasívelÉdeÉmodiWcaçõesÉaoÉlongÉdoÉtra -
balho. Em determinadas reuniões semanais, esse material é apresentado e todos da equipe
contribuem apresentando comentários e sugestões para o planejamento do colega. Além
disso, há a orientação para a elaboração de Produtos Didáticos – recursos didáticos – para
auxiliarem o trabalho com o conteúdo curricular abordado, dos quais, indicamos a ela-
boração de videoaulas, aulas narradas, cartilhas, guias, manuais, murais, podcasts, jogos,
poemas, músicas, dentre outros, que possam ser utilizados no contexto do ensino remoto.
aisÉT recusoÉ diáticosÉ emÉdv serÉ disponblzadosÉ mediantÉ umÉ linkÉ parÉ acesoÉ pelasÉ
11 Orientamos os estudantes a “navegarem” pelo “Blog do Freitas”, considerando a contribuição que suas refle-
xões apresentam para subsidiar nossas discussões nos Encontros de Formação: https://avaliacaoeducacional.
com/tag/bncc/. Acesso em 01 set. 2021.
12 Os estudantes também foram orientados a acessarem o “Blog da Helena”, disponível em: https://forma-
caoprofessor.com/author/helenafreitas/. Acesso em: 01 set. 2021.
260
CAPÍTULO 17
Aprendizagem da docência no PIBID/Pedagogia/UFV 2020:
a experiência do desenvolvimento das ações em tempos de ensino remoto
profesaÉregntsÉeÉpelosÉestudaneÉSendoÉeseÉnoÉformatÉdeÉvídeosÉWcamÉdisponí -
veis no canal do PIBID/Pedagogia13, no Youtube.
Importante ressaltar que essa alteração das atividades presenciais para o formato
emergencial remoto, decorrente da pandemia da Covid-19, se deu em curto intervalo de
tempo, sem possibilitar inicialmente formação ou preparo adequado para os professores,
além da carência de infraestrutura adequada e a necessidade de contar com bons equipa-
mentos para favorecer a adequação do planejamento e desenvolvimento das atividades, o
queÉtemÉseÉapresntadoÉcomÉumÉdesaWoÉparÉosÉdocents
Ao mesmo tempo, observamos a tecnologia sendo utilizada a favor do processo de
ensioÉaWnalÉsãoÉosÉrecursoÉtecnológisÉeÉasÉplatformsÉdigtasÉqueÉestãoÉposibltan -
do a realização do processo de ensino e aprendizagem pelos estudantes. Mas, é importante
pontuar que esse processo não é democrático, ao contrário, para os estudantes das cama-
das desfavorecidas economicamente, revela-se ainda mais perverso, devido aos inúmeros
desaWoÉ queÉ diWcultamÉ eÉ atéÉ mesoÉ imposbltaÉ deÉ acompnhrÉ asÉ ativdesÉ esco -
lares, tais como a falta de acesso à internet ou o acesso precário; a falta de equipamentos,
desde celulares, tablets, notebooks ou computadores; a carência de ambiente familiar e/ou
espaço apropriado que favoreça o estudo; a necessidade de orientação para a realização
das atividades, tendo em vista que em muitos casos, os responsáveis não estão em casa
para ofertarem esse auxílio; dentre outras fragilidades que neste momento demonstram e
intesWcamÉaÉdesigualdÉsocialÉeÉeducaionlÉemÉnosÉpaís
No contexto educacional, nesse período de pandemia, algumas expressões pas-
saram a fazer parte do nosso vocabulário, sendo utilizadas constantemente, como aulas
síncronas, assíncronas, chat, fóruns, lives, videoaulas, aulas narradas, sala de aula virtual,
ambiente virtual de aprendizagem, bem como nomes de aplicativos e ferramentas digitais,
como Classroom, Canva, PadLet, FreeCam, OBS Stúdio, Mentemeter, WordWall, dentre outros.
Diante dessa situação, em nossas atividades de formação interna da equipe, desenvolve-
mosÉoWcinasÉparÉaprendmosÉaÉutilzaçãoÉdesaÉferamntsÉdigtasÉoÉqueÉocoreuÉnosÉ
meses de janeiro e fevereiro de 2020. A experiência foi tão positiva que decidimos planejar
umaÉ oWcinaÉ parÉ serÉ ofertadÉ aosÉ profesÉ daÉ educaçãoÉ básicaÉ dasÉ escolaÉ parceisÉ
mas, diante da demanda, ampliamos para professores da educação básica interessados
naÉ formaçãoÉ eÉ estudanÉ daÉ ÉUFV emosÉTiv umÉ númeroÉ expresivoÉ deÉ inscrçõesÉ eÉ rea -
261
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
262
CAPÍTULO 17
Aprendizagem da docência no PIBID/Pedagogia/UFV 2020:
a experiência do desenvolvimento das ações em tempos de ensino remoto
sobre as aprendizagens proporcionadas pela vivência do PIBID para os IDs, bem como
para todos da equipe, tendo em vista que o nosso processo de formação docente é contí-
nuo, não se encerra após o término do curso de licenciatura.
arÉcP ontiuarÉoÉnosÉestudoÉperguntamoÇnosæÉquaisÉasÉaprendizagensÉdaÉdocên -
cia vêm sendo construídas ao longo do PIBID/Pedagogia 2020-2022? E quais os principais
desaWoÉvenciadosÉnv oÉprocesıÉÉÉoÉqueÉabordaemsÉnaÉpróximaÉseção
AÉWmÉdeÉrespondrmÉàÉquestãoÉapresntadÉaoÉWnalÉdaÉúltimaÉseçãoÉaÉpartiÉdoÉ
AolharBÉdosÉPibdanosÉdebruçamoÇnosÉsobreÉasÉrespotaÉapresntadÉporÉtodsÉelesÉaoÉ
responderem ao questionário apresentado, bem como ao relato de experiência elaborado,
aÉWmÉdeÉdestacrmoÉnaÉpaÉd
erspctiv oÉgrupoÉquaisÉasÉaprendizagensÉdaÉdocênciaÉpro -
porcionadas pela experiência do PIBID/Pedagogia.
Para apresentarmos a análise desenvolvida, de forma mais didática, buscamos
agrupar os relatos em categorias temáticas, conforme apresentado no Quadro 1, e tecermos
considerações sobre as experiências e as aprendizagens. Para preservarmos a identidade
dos licenciandos, esse s serão representados por letras iniciais do nome e algumas do so-
brenome.
Conforme análise dos relatos apresentados pelos Pibidianos, podemos observar
que a participação no PIBID/Pedagogia está proporcionando aprendizagens para além do
que o curso de graduação oferece. Dentre essas oportunidades, que foram sintetizadas no
QuadroÉWÉtemosÉoÉplanejmtoÉdeÉensioÉoÉusoÉdeÉTDICsÉüTecnolgiasÉDigtasÉdaÉInfor -
mação e Comunicação) no contexto da educação; a prática da comunicação; o trabalho em
equipe; a regência de aulas; o desenvolvimento da sensibilidade na docência; o desenvol-
vimento do senso crítico; e o diálogo entre teoria e prática.
No que diz respeito ao planejamento de ensino, essa formação foi conduzida nos
Encontros de Formação interna da equipe, como mencionado na seção anterior. E, no tocante
a esses encontros formativos, os Pibidianos destacaram que os diálogos, fundamentais e
sempre presentes nas reuniões semanais de formação interna, têm sido essenciais para que
seja possível a atuação e execução do planejamento, assim como é um facilitador para o
desenvolvimento do projeto como um todo. Vale mencionar que todos os IDs desenvol-
263
Quadro 1. Aprendizagens da Docência proporcionadas pelo PIBID/UFV/Pedagogia - Edição 2020-2022
“O planejamento e a organização são habilidades que desenvolvi através do
PIBID. Um planejamento de aula envolve pesquisa, organização de informa- “[...] habilidade de planejar uma aula, enfrentando os limites e possibilidades que o ensino
PARTE III
Planejamento
formativos
ções, ideias (...) Organizar essas ideias demanda tempo, um raciocínio lógico remoto nos oferece. Além disso, tenho aprendido a fazer esse planejamento tendo como
de Ensino
e progressivo. O PIBID me possibilitou vivenciar na prática este processo, que base a realidade e necessidade dos educandos” (Pibidiano M. A.).
Espaços e tempos
264
“[...] ministrar as aulas, pois no decorrer do Curso de Pedagogia eu já havia do isso ainda mais desafiador por estarmos atuando remotamente. [...] ao atuar no PIBID
Regência de planejado aulas para turmas fictícias, mas agora estou tendo a oportunidade posso sentir um pouco como realmente é ser uma professora, tendo que lidar com aconte-
Aulas de vivenciar isso na prática, me comunicando e interagindo com os estudan- cimentos e imprevistos que exigem uma tomada de decisão. Mas, dentre tantas possibilida-
tes” (Pibidiano M. A.). des que o programa tem me proporcionado, gostaria de destacar a alegria e satisfação que
é poder ministrar aulas e sentir a confiança dos alunos em nosso trabalho” (Pibidiano S. V.).
“Desenvolvi uma sensibilidade maior para entender as carências escolares
Sensibilidade e familiares no que se refere à educação, além de compreender e perceber
“Sensibilidade para lidar com os alunos” (Pibidiano M. F.).
na Docência estratégias mais atrativas para a participação dos alunos no retorno das ativi-
dades” (Pibidiano M. L.).
265
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
PorÉWmÉnoÉqueÉdizÉrespitoÉàÉexperiênciaÉemÉminstraÉaulasÉparÉaÉmaiorÉdosÉPi -
bidanosÉesaÉfoiÉaÉprimeaÉoportunidaeÉparÉAentraÉemÉumaÉsalÉdeÉaulaBÉmesmoÉqueÉ
remota, como educador e não como educando. Sendo assim, tal experiência contribui para
uma formação mais completa, alinhando a teoria da universidade com a prática da escola,
resultandoÉemÉumaÉuniãoÉdeÉdoisÉalicersÉ.ÉcomÉnosÉindicaÉTardifÉüÓVVÓÉ.ÉaÉrespitoÉdosÉ
saberÉ docentsæÉ osÉ saberÉ curilaesÉ eÉ osÉ saberÉ experincasÉAdemaisÉ confrmeÉ
relatado pelos IDs, a regência despertou uma sensibilidade para com o processo de ensino,
comÉaÉrealidÉdosÉalunosÉalémÉdeÉaXoraÉeÉderÉu
snvol mÉsensoÉcríticoÉaÉrespitoÉdeÉ
todo o processo. Senso crítico esse que, conforme destacaram, também é explorado durante
as reuniões semanais.
ContudÉ alémÉ dasÉ aprendizagensÉ aÉ equipÉ enciaÉv eÉ relatÉ desaWoÉAÉ WmÉ deÉ
manter a lógica de discussão e a didática utilizada, também agrupamos em categorias te-
máticasÉ osÉ desaWoÉ queÉ osÉ PibdanosÉ resaltmÉ aoÉ respondmÉ aoÉ questionárioÉ eÉ aoÉ
elaborarem o relato de experiência. Algumas dessas informações estão sintetizadas no
Quadro 2.
A respeito dos problemas técnicos e estruturais, vale ressaltar que é frequente em
Viçosa (MG) queixas dos usuários a respeito dos planos de internet que diversas vezes
WcamÉforaÉdoÉaÉSr endoÉasimÉnãoÉsóÉosÉPibdanosÉ.ÉsobretudÉosÉqueÉpermancÉnoÉ
referido município durante a pandemia de Covid-19 – enfrentam essa adversidade, como
também algumas crianças e professoras. Além disso, no que diz respeito à estrutura para a
realização satisfatória de um ensino remoto – mesmo que emergencial –, os IDs reforçaram
observação de que principalmente as famílias dos estudantes das escolas públicas carecem
de computadores ou notebooks exclusivos para acompanhar as aulas ou acessarem os ma-
teriais digitais. Relataram que a maioria dos alunos faz uso de um smartphone que pertence
aoÉresponávelÉdiWcultandoÉportanÉoÉusoÉparÉosÉestudoÉporÉdesconfrtÉeÉdispon -
bilidade em horário reduzido. Além disso, conforme mencionado por Pibidiano, alguns
dos computadores utilizados por ele mesmo também apresenta funcionamento aquém do
adequado para o ensino remoto.
SobreÉaÉadaptçãoÉàsÉTDICsÉtambémÉconsiteÉemÉaspectoÉapresntadoÉcomÉumÉ
dosÉ desaWoÉ doÉ ensioÉ remotÉ vistoÉ queÉ foiÉ necsárioÉ repnsaÉ oÉ progamÉ queÉ antesÉ
aÇspresntv eÉparÉoÉensioÉpresncialÉNoÉinícioÉtudoÉeraÉmuitoÉnovÉparÉtodsæÉparÉosÉ
IDs, para os professores e para os alunos. Conforme relatado pelos Pibidianos, atividades
que eram comuns no início do projeto, como atender alunos individualmente, deixaram
de acontecer por adaptação de metodologia e por conta das diferentes demandas. Ainda
266
CAPÍTULO 17
Aprendizagem da docência no PIBID/Pedagogia/UFV 2020:
a experiência do desenvolvimento das ações em tempos de ensino remoto
267
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
268
CAPÍTULO 17
Aprendizagem da docência no PIBID/Pedagogia/UFV 2020:
a experiência do desenvolvimento das ações em tempos de ensino remoto
ZÉOutrasÉconsiderações
269
PARTE III
Espaços e tempos
formativos
Referências
270
CAPÍTULO 17
Aprendizagem da docência no PIBID/Pedagogia/UFV 2020:
a experiência do desenvolvimento das ações em tempos de ensino remoto
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271
P A R T E ÉI V
OUTRASÉFORMAÇÕESÉ
EMÉCURSO
272
CAPÍTULO 18
Núcleo de Educação de Adultos
(NEAd): uma história de parceria com
o curso de Pedagogia na formação
docente dos licenciandos da UFV
Rosa Cristina Porcaro1
1. Introdução
OÉ
presente artigo apresenta um estudo sobre a história da Educação de Jovens
e Adultos (EJA) que se desenvolve na Universidade Federal de Viçosa (UFV)
desÉoÉWnalÉdosÉanosÉdeÉW_^VÉatéÉosÉdiasÉatuaisÉAoÉlongÉdesÉanosÉaÉEJAÉ
tem sido pouco valorizada no Brasil, geralmente vista como uma medida emergencial, su-
aÉvpletiv oltadÉparÉjensÉeov ÉadultosÉAincapzesBÉqueÉnãoÉfrequntamÉaÉescolaÉquandoÉ
crianças, ou abandonaram seus estudos. Entretanto, nos últimos trinta anos, alguns avan-
ços ocorreram no campo da Educação de Jovens e Adultos no Brasil que marcam, de forma
positiva, seu percurso até o momento.
SoaresÉüÓVWÕÉapontaÉumÉaumentoÉsignWcatvoÉdeÉpesquiaÉeÉpublicaçõesÉrelacio -
nadas ao tema e o reconhecimento legal do direito à educação para jovens, adultos e ido-
sos, ocorrido a partir da Constituição Federal de 1988, que estabelece o direito de todos à
educação, independentemente da idade. Porém, hoje, apesar dos estudos e pesquisas que
vêm ocorrendo ao longo das décadas e da conquista legal desse direito, ainda falta muito
para que a EJA alcance a valorização e o reconhecimento devidos.
DentroÉ desÉ contextoÉ emÉ nívelÉ naciolÉ aoÉ WnalÉ daÉ décadÉ deÉ W_^VÉ naÉ erUniv -
sidade Federal de Viçosa (UFV), foi criada a Associação de Servidores Administrativos
(ASAV), que iniciou suas ações apresentando inúmeras reivindicações à administração,
das quais fazia parte a solicitação de um espaço para a alfabetização dos funcionários que
1 Graduação em Pedagogia na UFV (1984), Mestrado em Extensão Rural na UFV (1993), Especialização em Su-
pervisão Pedagógica na PUC-MG (1996) e Doutorado em Educação na UFMG (2011); Professora da UFV. E-mail:
rporcaro@ufv.br
273
PARTE IV
Outras formações
em curso
ainda permaneciam analfabetos, cerca de 30% do quadro funcional. Essa reivindicação foi
estudada e atendida pela Reitoria em 1987, iniciando-se o desenvolvimento de um Projeto
de Alfabetização de Adultos a partir daí, sob a responsabilidade de professores do Depar-
tamento de Educação da UFV.
Desde esse tempo, o Projeto veio ampliando suas ações, tendo se tornado um espa-
ço de ensino, pesquisa e extensão dentro da instituição, atendendo, atualmente, não mais
somente a servidores da UFV, mas também a todas as pessoas da comunidade de Viçosa
que não tiveram acesso à escolaridade ou não puderam concluir seus estudos na infância
e na adolescência. Assim, tornou-se um Núcleo e, hoje, constitui-se espaço de formação
docentÉparÉosÉgradunosÉdosÉdiferntsÉcursoÉdeÉlicenaturÉdaÉUÉmFV aisÉespeciWa -
mente dos licenciandos de Pedagogia, por ter seu foco na alfabetização e no letramento de
jovens, adultos e idosos. Este espaço denomina-se Núcleo de Educação de Adultos (NEAd)
e tem sido coordenado pelo Departamento de Educação, funcionando em sede própria,
dentro do campus da UFV. Nesse Núcleo, atuam em torno de dez estagiários ao ano, sob
a orientação de professores do Curso de Pedagogia, tomando como base para sua prática
docente os pressupostos freireanos.
Esse trabalho completou, em 2017, trinta anos de existência, tendo como objetivos
alfabetizar e escolarizar jovens, adultos e idosos da comunidade viçosense e proporcionar
aos licenciandos da UFV, em especial aos estudantes da Pedagogia, uma complementação
para a formação docente na modalidade de EJA. Nesse contexto, surge um questionamen-
toÉqueÉvaiÉdireconaÉoÉpresntÉestudoæÉqualÉéÉaÉhistóraÉdaÉeducaçãoÉdeÉjensÉe
ov ÉadultosÉ
na UFV e qual é a importância da existência do NEAd dentro desta Instituição?
ComÉoÉintuioÉdeÉreXtirÉeÉrespondrÉaÉeseÉquestionamÉrealizouÇseÉumaÉpes -
quisa, estabelecendo-se como objetivo central o resgate da história do NEAd, tendo como
base os trabalhos acadêmicos desenvolvidos sobre esse e os arquivos documentais do Nú-
cleo. Este estudo se constitui uma pesquisa qualitativa, que se desenvolveu a partir de uma
análise documental. Como instrumentos de pesquisa, foram utilizados os documentos que
constamÉdosÉarquivosÉdaÉsecrtaiÉdoÉNúcleoÉdeÉEducaçãoÉdeÉAdultosÉeÉtodsÉosÉTCsÉ
que já foram produzidos na UFV sobre essa temática. A escolha da análise documental se
deu em função do documento escrito constituir-se uma fonte importante para o pesquisa-
dor nas ciências sociais. Cellard (2008, p.295) explica que
274
CAPÍTULO 18
Núcleo de Educação de Adultos (NEAd): uma história de parceria
com o curso de Pedagogia na formação docente dos licenciandos da UFV
Assim, para alcançar o objetivo de resgatar a história do NEAd durante seus mais
de trinta anos de existência, foi realizada uma análise documental dos seguintes trabalhos
deÉconclusãoÉdeÉCursoÉdaÉPedagoiÉüTCsÉeÉmongraWsÉdeÉconclusãoÉdeÉCursoÉdeÉpósÉ
graduação Lato SensuæÉ
• A trajetória da educação de jovens e adultos na UFV, de Roseli de Castro Paula
Pinto, 2000;
• AÉreptênciaÉeÉaÉeasãov ÉnoÉNEAdæÉencamihetosÉnecsáriosÉparÉaÉreduçãoÉ
dos índices encontrados, de Eliane Santos Campos, 2003;
• OÉprocesÉdeÉaalição
v ÉdeÉdesmpnhoÉescolarÉdoÉalunoÉadultoÉ&UÉdFV eÉMi -
riam Célia de Jesus, 2003;
• AÉ educaçãoÉ deÉ ensÉjov eÉ adultosÉ naÉ ersidaÉUnv FedralÉ deÉ içoV saæÉ históraÉ
cenários e perspectivas, de Patrícia Luiz da Silva, 2006;
• A trajetória dos educandos do Núcleo de Educação de Adultos na Universidade
FedralÉdeÉViçosaÉdeÉTelmaÉdeÉAsiÉBernadsÉÓVV]
• Núcleo de Educação de Adultos da Universidade Federal de Viçosa (NEAd/
UFVæÉumaÉhistóraÉdeÉexpansãoÉnoÉensioÉnaÉpesquiaÉeÉnaÉextensãoÉdeÉJoséÉ
Elias Garajau, 2009;
• OÉNúcleoÉdeÉEducaçãoÉdeÉAdultosÉdaÉUFVÉcomÉespaçoÉdeÉformaçãoÉdeÉeduca -
doresæÉdesaWoÉeÉposibldaeÉdeÉLetíciaÉdeÉPaulÉMesquitaÉÓVWW
• OsÉeducanosÉdoÉNúcleoÉdeÉEducaçãoÉdeÉAdultosÉdaÉUFVæÉanseioÉmaçõotiv esÉ
e realidade de vida, de Aparecida das Graças Silva Felício, 2013;
• AÉinXuênciaÉdaÉUFVÉnaÉformaçãoÉdoÉeducaorÉdeÉjensÉeov ÉadultosÉnoÉmunicípioÉ
de Viçosa-MG, de Paula Ferreira Martins, 2014;
• OÉCursoÉdeÉInclusãoÉDigtalÉdoÉNEAdÉeÉaÉinclusãoÉsocialÉdosÉjensÉeov ÉadultosÉdeÉ
Viçosa, de Lidiane Duarte, 2014;
• OÉensioÉdaÉlínguaÉportugesaÉnoÉNEAd&UFVæÉumaÉanáliseÉaÉpartiÉdoÉtrablhoÉ
pedagógico dos educadores e da experiência dos educandos, de Daniela Saraiva
MaWÉÓVWZ
• OÉprocesÉdeÉeasãov ÉnoÉNúcleoÉdeÉEducaçãoÉdeÉAdultosÉ.ÉNEAd&UÉdFV eÉJés -
sica de Freitas, 2014;
• NúcleoÉdeÉEducaçãoÉdeÉAdultosæÉtrintaÉanosÉdeÉformaçãoÉdocentÉnaÉUersinv -
dade Federal de Viçosa, de Edilene Pereira Guimarães, 2017;
• AÉ inXuênciaÉ doÉ NEAdÉ naÉ formaçãoÉ docentÉ doÉ gradunoÉ deÉ edagoiÉP daÉ
UFV, de Luciana Maria Honório, 2018;
275
PARTE IV
Outras formações
em curso
• entudÉe
Jv ÉterciaÉidaeÉnaÉEJAæÉumÉestudoÉcompartivÉentreÉasÉescolaÉdaÉ
rede pública de Viçosa e o NEAd, de Eloísa Aldaline de Sousa, 2019.
ambémT É foramÉ anlisdoÉ osÉ seguintÉ documentsÉ constaeÉ dosÉ arquivosÉ doÉ
NEAdæÉ
• Regimento do NEAd, de 2011;
• Fichas de Matrícula dos alunos do NEAd, de 1998 a 2018;
• Fichas de Inscrição dos estagiários do NEAd, de 1998 a 2018.
OÉProjetÉdeÉEducaçãoÉdeÉAdultosÉdaÉUersidaÉF
nv edralÉdeÉViçosaÉhojeÉtrans -
formado em um Núcleo de Educação de Adultos (NEAd), passou por uma determinada
trajetória, até ser nomeado como Núcleo. Pinto (2000) conta que, em outubro de 1984, foi
realizada na UFV a primeira Assembleia Geral da Associação dos Servidores Administra-
tivos (ASAV), com a presença de funcionários e autoridades da instituição. Nessa Assem-
bleia, discutiu-se a necessidade de criação de um projeto de alfabetização para atender
aos funcionários da Universidade que não tiveram acesso à escolarização antes de sua
admissão. Naquela época, 30% dos servidores eram analfabetos ou semialfabetizados, o
que correspondia a uma média de 1000 servidores.
Éc
as E ção
at sno ÉdÉa
o Én
omsitebafl n ÉU
a Ét
VF Éu
uom Éd
am ãosnemi ÉsÉe
a vitacWing ÉnÉo
ano de 1985, foi alvo de denúncia pelos funcionários da universidade. Em 1986, o Reitor Ge-
raldo Martins Chaves atendeu à reivindicação desses servidores, autorizando a liberação do
trabalho para esses funcionários, por duas horas diárias, para que fossem alfabetizados. A
partir daí, foi iniciado o Projeto de Educação Básica e Alfabetização de Adultos, numa parce-
ria entre a Associação dos Servidores Administrativos (ASAV), o Departamento de Educação
üDÉeEP ÉaÉUÉdeda in ÉAe ÉEoi p ÉüU
lanoica ud ÉdEA ÉUa ÉüR
VF ÉDOTNEMIG ÉNO ÉÓVWW
dAE
Em 1987, iniciaram-se as atividades e o Professor Euclides Redim, chefe do DPE,
asumiÉaÉcenação
ord ÉdoÉProjetÉpermancdoÉatéÉdezembroÉdeÉW_^_ÉüPINTOÉÓVVVÉ
Nos três primeiros anos, as aulas aconteciam em salas cedidas pelo Centro de Ensino e
Extensão da Universidade (CEE/UFV). As turmas eram heterogêneas, formadas por alguns
alunos que nunca tinham ido à escola e outros que já possuíam alguma escolaridade, o que
aÉodiWcultv ÉtrablhoÉdosÉestagiáriosÉdoÉCursoÉdeÉPedagoi
276
CAPÍTULO 18
Núcleo de Educação de Adultos (NEAd): uma história de parceria
com o curso de Pedagogia na formação docente dos licenciandos da UFV
EmÉW__VÉoÉProjetÉampliouÉsuaÉatuaçãoæÉtornuÇseÉalémÉdeÉlocalÉdeÉensioÉparÉ
os funcionários, espaço de pesquisa para professores e alunos do Curso de Pedagogia da
UFV. Nessa época, no período de 1989 a 1992, uma professora do Departamento de Edu-
cação, Professora Lucíola Santos, exercia a função de coordenadora do Projeto. Segundo
Pinto (2000), durante a coordenação desta professora, houve uma inovação no trabalho
desenvolvido, sendo dado ao Projeto um caráter de pesquisa, com o desenvolvimento de
estudos sobre a EJA, por meio de trabalhos desenvolvidos por estudantes do Curso de
Pedagogia, junto aos educandos do Projeto. Em 1990, foi criado um grupo de estudos so-
bre alfabetização de adultos e esse passou a desenvolver pesquisas sobre a temática, com
auxílioÉdeÉbolsaÉdoÉProgamÉdeÉBolsaÉdeÉInicaçãoÉCientíWcaÉ
Posteriormente, no início do ano de 1993, a coordenadora anterior foi substituída
pelaÉ profesaÉ RosemariÉ CostaÉ queÉ cordenuÉ oÉ ProjetÉ atéÉ W__[É üPINTOÉ ÓVVVÉ EmÉ
1993, essa coordenadora adquiriu recursos que lhe permitiram montar uma sede. Nesse
mesmo período, a UFV passava por um processo de desocupação e retomada das casas
daÉVilaÉGiane4iÉcediasÉatéÉentãoÉparÉmoradiÉdeÉpsÉd
rofe aÉUersidaÉE
nv saÉ
casas, à medida que iam sendo desocupadas, acolhiam projetos da instituição. Assim, foi
solicitada à Reitoria uma autorização de uso de uma das casas para o desenvolvimento do
Projeto de Alfabetização, o que foi permitido. A partir daí, então, o Projeto passou a funcio-
narÉnaÉcasÉYYÉdaÉVilaÉGiane4iÉondeÉpermancÉatéÉoÉpresntÉmomentÉAsimÉoÉProjetÉ
de Educação de Adultos ampliou seu atendimento, passando a oferecer também cursos
de preparação para exames de suplência do primeiro segmento do ensino fundamental
üMAÉÓVWWÉE
ESQUIT saÉampliaçãoÉseÉdeuÉtambémÉemÉrelaçãoÉaoÉgrupoÉdeÉestagiáriosÉdoÉ
Projeto que, até aqui, era apenas de licenciandos da Pedagogia e, a partir de então, passou
a envolver alguns licenciandos de outros cursos.
Éa
soN Éd
son ÉW__[Ée
e ÉW__ÕÉoÉCÉW
osru És
uoc Éa
bo Écção
anedro ÉdÉo
e Ép
artu Éd
aros efor Éo
Departamento de Educação, Professora Maria das Graças Floresta. Pinto (2000) explica que o
Curso atendia, nessa época, a cerca de 90 alunos ao ano, matriculados em turmas do primeiro
segmento do ensino fundamental. Em meados de 1995, a partir da demanda dos alunos, o
Projeto passou a oferecer também, além das turmas do primeiro segmento, algumas turmas
do segundo segmento do Ensino Fundamental. Ainda, alguns anos depois, foram abertas
turmas de preparação para os exames supletivos do Ensino Médio. Em decorrência de seu
crescimento, o Projeto alterou seu nome para Núcleo de Educação de Adultos (NEAd).
No início do ano de 1997, assumi a coordenação do NEAd, em substituição à Pro-
fessora Maria das Graças, que se afastou das atividades para cursar o doutorado. No iní-
277
PARTE IV
Outras formações
em curso
cio de minha coordenação, passei a fazer reuniões semanalmente com os estagiários, pois
aÉcprecisv onhecrÉeÉcomprendÉaÉorganizaçãoÉdoÉprocesÉdeÉensioÉaÉWmÉdeÉpropicaÉ
uma formação adequada a esses, discutindo possíveis soluções para minimizar problemas
no processo de ensino.
PintoÉüÓVVVÉapontaÉdentrÉasÉdiWculdaesÉdoÉtrablhoÉaÉlongaÉpermanênciaÉdeÉal -
gunsÉalunosÉnoÉNúcleoÉpelaÉlentidãoÉnoÉprocesÉdeÉaprendizagemÉTalÉfatoÉdaÉav bertuaÉ
para que fossem feitas insinuações maldosas a respeito do Núcleo, como, por exemplo, que
havia descompromisso dos alunos com a aprendizagem. Como forma de resolver tal situa-
ção, busquei integrar professores do Curso de Pedagogia ao trabalho do Núcleo, criando
asÉCordenaçõÉd
es eÉÁreaÉparÉqueÉeseÉpudesmÉorientaÉosÉestagiáriosÉemÉrelaçãoÉaÉ
diáticasÉeÉmetodlgiasÉespecíWcasÉparÉoÉensioÉdeÉcadÉconteúdo
Após dez nos de coordenação, precisei me afastar do trabalho para cursar o dou-
torado, e a coordenação do Núcleo foi assumida por outra professora do DPE, Professora
EtelvinaÉSilavÉünoÉperíodoÉdeÉÓVV]ÉaÉÓVV_ÉNoÉWnalÉdeÉÓVV_Éas umi ÉporÉpouc sÉmes É
a Professora Wânia Lacerda e, logo em seguida, em 2010, assumiu o Professor Edgar
Coelho, que se manteve nessa coordenação até que eu reassumisse o trabalho, em março
de 2011.
Nesses trinta e quatro anos de existência, o NEAd se expandiu e vem desenvolven-
do um trabalho de educação de adultos, envolvendo não só funcionários da UFV, como
tambémÉtodaÉaÉcomunidaeÉviçosenÉOÉNúcleoÉfuncioaÉemÉsedÉprópiaÉeÉcontaÉcomÉ
uma equipe de Apoio Administrativo, composta por um Secretário, responsável pelo pa-
trimônio, pela organização da documentação e pelo apoio operacional às atividades de-
senvolidaÉpelosÉestagiáriosÉeÉporÉumaÉTécnicaÉemÉAsuntoÉEducaionsÉqueÉseÉres -
ponsabiliza pelo apoio pedagógico à coordenação e aos estagiários, no desenvolvimento
de suas atividades, e pelo acompanhamento aos educandos no processo de aprendizagem
üREGIMNTOÉDOÉNEAdÉÓVWWÉ
OÉNúcleoÉatendÉaÉumaÉmédiaÉdeÉWVVÉaÉWÓVÉalunosÉaoÉanoÉabrangedoÉprincpal -
mente, a Alfabetização, mas também o Ensino Fundamental, o Ensino Médio e a Inclusão
Digital e conta com a participação de graduandos da Pedagogia e de alguns cursos de
licenciatura que, sob orientação da coordenação do Núcleo, assumem a regência de aulas.
OsÉ princasÉ objetivsÉ doÉ NEAdÉ atulmenÉ sãoÉ alfbetizarÉ eÉ escolarizarÉ oÉ educanoÉ
adultoÉeÉpropcinaÉaosÉlicenadosÉdaÉUFVÉmomentsÉdeÉestudoÉeÉreXxõesÉsobreÉaÉ
educação de jovens e adultos, constituindo-se em espaço de formação de educadores para
a modalidade de EJA.
278
CAPÍTULO 18
Núcleo de Educação de Adultos (NEAd): uma história de parceria
com o curso de Pedagogia na formação docente dos licenciandos da UFV
YÉOÉNúcleoÉdeÉEducaçãoÉdeÉAdultosÉdaÉUFVÉüNEAD&
UFV) nos dias atuais
279
PARTE IV
Outras formações
em curso
desaWoÉseÉpautmÉnaÉeasãov ÉdosÉalunosÉnaÉfaltÉdeÉrecursoÉeÉemÉaspectoÉrelaciondsÉ
aosÉalunosÉeendoÉivl daeÉdiWculdaeÉparÉconcilarÉosÉestudoÉcomÉosÉcomprisÉ
familresÉeÉproWsinaÉbaixaÉautoesimaÉeÉinseguraça
EseÉdesaWoÉvenciadosÉpv elosÉlicenadosÉnoÉNEAdÉsãoÉosÉmesmoÉenfretadosÉ
pelo educador de jovens e adultos em sua prática docente na rede pública de ensino. Na
prática docente, a evasão escolar acontece na EJA por diferentes motivos, dentre eles a falta
deÉmaterilÉdidáticoÉespecíWcoÉaÉmatrizÉcuriclaÉqueÉnãoÉatendÉàsÉexpasÉdectiv aÉrea -
lidade desses educandos; a falta de apoio e incentivo por parte dos órgãos governamentais,
a falta de lanche e de transporte para esses alunos e a diversidade etária dos educandos.
280
CAPÍTULO 18
Núcleo de Educação de Adultos (NEAd): uma história de parceria
com o curso de Pedagogia na formação docente dos licenciandos da UFV
281
PARTE IV
Outras formações
em curso
ÉrmE ção
ale ÉaÉdso ÉesoWa e Épsodatnerf Élsole Énsodnaic e i ÉNo úcÉcoel Éqsomat sno Éeu
esses se dão no âmbito pessoal e de formação. Scarfó (2009) aponta que a baixa autoestima do
educando, assim como outras atitudes de isolamento e expectativas que foram reduzidas no
presente, devido a acontecimentos passados vivenciados por ele, somadas à vulnerabilidade
cultural, demanda do educador uma postura diferenciada, com intuito de criar melhores
çõidnoc Épse Éqar Éoeu ÉpÉdos ecor Éae zaidnerp Édmeg Éeo Éoodnacud Édar oc Éfe Éeamro zÉ
acW
Freire (1996) fala sobre a necessidade de os educadores criarem as possibilidades
conretasÉparÉqueÉaÉ produçãoÉdoÉconhecimtÉseÉtorneÉ umaÉrealidÉGado4iÉüW__ÕÉ
acrescenta que se deve considerar a própria realidade dos educandos, pois só assim conse-
guirá promover a motivação necessária à aprendizagem, de forma que os mesmos se sin-
tamÉmaisÉconWatesÉeÉmadosÉntiv oÉdecorÉdoÉprocesÉdeÉconstruçãoÉdoÉconhecimt
Na formação do Curso de Pedagogia, por mais que os professores busquem rela-
cionar, em um sentido mais amplo, a teoria com a vivência prática da sala de aula, isso não
basta para deixar os licenciandos seguros quando estão diante de uma turma de EJA pela
primeira vez, por ser esta uma realidade diferenciada. Por isso, é importante para o educa-
dorÉterÉumaÉformaçãoÉespecíWcaÉparÉtrablhÉcomÉaÉmodalieÉvistoÉqueÉelaÉexigeÉdoÉ
educador uma metodologia diferenciada e uma relação apropriada entre professor e aluno;
do contrário, ocorrerá um estranhamento e uma insegurança por parte desses educadores.
arÉLP ibâneoÉüW__ÓÉpÉZ]ÉAoÉtrablhoÉdocentÉconstiuÉoÉexercícioÉproWsinalÉdoÉprofes -
sor e esse é o seu primeiro compromisso com a sociedade. Sua responsabilidade é preparar
os alunos para se tornarem cidadãos ativos e participantes na família, no trabalho, nas
asociçõesÉdeÉclaseÉnaÉvidaÉcultraÉeÉpolíticaB
MachdoÉ üÓVVÓÉ chamÉ atençãoÉ parÉ umaÉ espciWdaÉ dosÉ sujeitoÉ daÉ EJAæÉ es -
ses são mais sensíveis aos nuances do contexto escolar. Sendo assim, o autoritarismo de
alguns professores, o medo do fracasso e do isolamento dos colegas e o cansaço devido à
jornada de trabalho são alguns fatores que levam à interrupção da trajetória escolar desses
educandos.
AlémÉdesÉdesaWoÉprópiosÉdaÉrealidÉdaÉEJAÉexistemÉoutrosÉcomÉaÉdiWcul -
dade dos educandos em conciliar o tempo de estudos com suas atividades diárias; a hete-
rogeneidade desses no que se refere à idade e ao processo de aprendizagem; o abandono
dasÉaulasÉseguidasÉdeÉretornÉporÉparteÉdelsÉasÉdiWculdaesÉcasÉd
ognitv eÉalgunsÉEmÉ
relação à heterogeneidade dos educandos, Carbonell (2006) explica que é a marca maior
na educação de adultos, pois cada educando traz consigo singularidades – origens, idades,
vivências, valores e anseios – distintos.
282
CAPÍTULO 18
Núcleo de Educação de Adultos (NEAd): uma história de parceria
com o curso de Pedagogia na formação docente dos licenciandos da UFV
EmÉseÉtratndoÉdaÉinXuênciaÉqueÉesaÉvivênciasÉpropcinadsÉpeloÉNEAdÉtêmÉ
naÉformaçãoÉdocentÉdosÉestagiáriosÉidentiWcamosÉqueÉparÉelesÉoÉtrablhoÉnoÉNúcleoÉ
é considerado positivo, no sentido de proporcionar um maior aprendizado em relação a
práticaÉdocentÉcomÉumÉpúblicoÉtãoÉespecíWcoÉqueÉsãoÉosÉalunosÉdaÉEJAÉTaisÉinXuênciasÉ
se dão no âmbito de aprenderem a desenvolver um trabalho coletivo, pelo fato de o NEAd
ter se tornado um espaço de vivência docente. No que tange ao aspecto da coletividade,
Alonso (2002, p.25) explica a importância de aprender a trabalhar em conjunto com outras
pessoas, tendo em vista que é uma condição necessária para a formação do cidadão em
uma sociedade democrática. Para a autora, “o trabalho coletivo é uma meta a ser persegui-
da pelos dirigentes escolares, uma vez que o trabalho educativo, mais que qualquer outro,
éÉconstruídoÉporÉumaÉaçãoÉconjutaÉdosÉváriosÉpersonagÉqueÉatuamÉnesÉprocesB
NoÉqueÉseÉrefrÉàsÉpercpçõesÉaceraÉdaÉinXuênciaÉqueÉesaÉvivênciasÉpropci -
nadas pelo Núcleo têm na formação docente dos estagiários, podemos inferir que, após a
experiênciaÉdeÉatuaremÉnoÉNEAdÉosÉlicenadosÉtêmÉaÉconWrmaçãoÉdeÉqueÉquermÉserÉ
educadores, graças a empatia que vai se dando no decorrer do estágio. De acordo com
Freire (2000, p.103), “o clima de respeito que nasce de relações justas, sérias, humildes,
generosas, que a autoridade docente e a liberdade dos alunos se assumem eticamente, au-
tenicaÉoÉcaráterÉformadÉdoÉespaçoÉpedagóicoBÉIsoÉseÉevidencaÉnasÉpráticasÉaÉpartiÉdeÉ
um processo de cumplicidade entre educador e educandos, conquistado paulatinamente.
Da mesma forma, o NEAd possibilita experimentar o cotidiano escolar do plane-
jamento de aula e a frequência diária de trabalho, não tão comum em outros estágios. Ser
estagiárioÉdoÉNúcleoÉcontribuÉparÉaÉformaçãoÉtantoÉproWsinalÉquantoÉpesoalÉdoÉlicen -
ciando, a partir do contato com educandos de diferentes realidades e com uma perspectiva
de educação libertadora, vinculada às propostas de educação de Paulo Freire, que busca
desenvolver a consciência crítica nos educandos, por meio do diálogo e de uma educação
problematizadora.
DeÉformaÉgeralÉanalisdoÉosÉTCsÉqueÉfalmÉsobreÉasÉpercpçõesÉdosÉlicena -
dos que passaram pelo Núcleo durante esses mais de trinta anos de formação docente,
podemsÉconstarÉqueÉeseÉsÉexpresamÉosÉsentidosÉeÉosÉsignWcadosÉatribuídosÉàsÉsuasÉ
participações ao longo dos anos, reforçando o sentido da Universidade Federal de Viçosa
manter, entre seus inúmeros projetos, o Núcleo de Educação de Adultos.
DeÉmoÉg
d eralÉtodasÉasÉexperiênciasÉdesaWoÉeÉpercpçõesÉaceraÉdoÉtrablhoÉde -
senvolvido no Núcleo, aqui retratados, servem para reforçar que, apesar da conturbada
trajetória da constituição do Núcleo, precisando do empenho de dirigentes sindicais e do
283
PARTE IV
Outras formações
em curso
apoio de professores do DPE, para que o Curso tivesse condições mínimas de funciona-
mento, esse assumiu características que vão além do atendimento à educação dos funcio-
náriosÉnãoÉescolarizadosÉdaÉUÉTFV endoÉvencidoÉoÉanalfbetismoÉdentroÉdaÉinstiuçãoÉoÉ
NEAd, hoje, presta um serviço a toda a comunidade acadêmica, ao proporcionar aos alu-
nos e estudantes dos cursos de Pedagogia e Licenciaturas da UFV, um espaço de formação,
que dará a esse s condições de atuar futuramente na modalidade de ensino.
ZÉOÉolharÉdosÉlicenadosÉdaÉPedagoiÉsobreÉsuaÉ
vivência docente no NEAd
PorÉmeioÉdaÉanáliseÉdosÉTCsÉqueÉfalmÉsobreÉosÉlicenadosÉdaÉUFVÉqueÉpas -
ramÉpeloÉNEAdÉpodemsÉidentiWcarÉoÉolharÉdosÉmesmoÉsobreÉoÉtrablhoÉqueÉfoiÉdesn -
volvido no Núcleo. A partir dos dados constantes nos arquivos do NEAd sobre os estagiá-
riosÉtraçamosÉumÉperWlÉdesÉsæÉaÉmaiorÉéÉdoÉsexoÉfeminoÉü^VmÉcomÉidaesÉvarindoÉ
entre 24 e 48 anos de idade, com formação acadêmica, majoritariamente, em Pedagogia,
havendo também, em menor número, licenciandos em Letras, Matemática, História e Geo-
graWÉOÉtempoÉqueÉelesÉatuarmÉnoÉNúcleoÉvariÉdeÉumÉaÉtêsr ÉanosÉsendoÉemÉturmasÉdeÉ
alfbetizaçãoÉlínguaÉportugesaÉhistóraÉgeograWÉmatemáticaÉeÉinclusãoÉdigtal
Buscamos, no presente estudo, analisar o olhar dos licenciandos que atuaram no
Núcleo de Educação de Adultos da Universidade Federal de Viçosa, sobre suas vivências
asÉneductiv esÉNúcleoÉAÉpartiÉdaÉanáliseÉdeÉdepoimntsÉdesÉestagiáriosÉnosÉTCsÉ
pudemosÉidentiWcarÉsuaÉpercpçãoÉaceraÉdoÉtrablhoÉdidoÉAesnvl sÉfalsÉdesÉsÉestu -
dantes apontam que trabalhar no NEAd permitiu a eles desenvolver ações voltadas às ne-
cessidades cognitivas dos educandos jovens e adultos, buscando tornar suas experiências
prazerosaÉeÉadquirÉumÉconhecimtÉsignWcatvoÉnoÉcampoÉdaÉEJAÉAlémÉdisoÉalgunsÉ
licenciandos resgatam, em seus depoimentos, o momento histórico vivenciado em relação
à consolidação do Núcleo.
EmÉrelaçãoÉaosÉdesaWoÉenfretadosÉporÉeseÉestagiáriosÉduranteÉsuaÉexperiênciaÉ
docentÉidentiWcamosÉqueÉeseÉaconteiamÉconfrmeÉoÉperíodoÉemÉqueÉcadÉestagiárioÉ
desenvolvia suas atividades no Núcleo. Para os estudantes que atuaram no início da exis-
tênciaÉdoÉNúcleoÉosÉdesaWoÉseÉmostramÉmaisÉespecíWcosÉemÉrelaçãoÉàÉorganizaçãoÉeÉ
àÉestruaÉdoÉProjetÉOsÉaspectoÉmencioadsÉforamÉquantoÉaÉfaltÉdeÉfuncioáriosÉeÉ
de uma infraestrutura educacional para as aulas da EJA acontecerem, devido ao baixo
284
CAPÍTULO 18
Núcleo de Educação de Adultos (NEAd): uma história de parceria
com o curso de Pedagogia na formação docente dos licenciandos da UFV
285
PARTE IV
Outras formações
em curso
cimentos prévios dos educandos, tendo em vista que esses foram adquiridos ao longo de
sua história de vida. Ainda um dos estagiários aponta que, para além da teoria que abor-
dava a EJA, as relações de afetividade com os educandos foi a principal motivação para
continuar atuando no NEAd. A motivação é um fator fundamental para o trabalho com
esÉpúblicoÉTelfrÉeÉSanÉüW_^ÕÉa
w pudÉMOREIAÉW__]ÉpYÉsugermÉqueÉAoÉproblemaÉdaÉ
motivação do professor se situa no preenchimento de necessidades de alta ordem em uma
proWsãoÉondeÉosÉpadrõesÉdeÉcareiÉpodemÉserÉlimtadosBÉ
EmÉrelaçãoÉaosÉdesaWoÉenfretadosÉpelosÉlicenadosÉduranteÉoÉestágioÉnoÉNú -
cleo, esses se dão no âmbito pessoal e de formação. Alguns estagiários apontam que a baixa
autoestima dos educandos gera bloqueios em seu processo de aprendizagem, o que torna
seuÉtrablhoÉdesaWntÉParÉScarfóÉüÓVV_ÉaÉbaixaÉautoesimaÉdoÉeducanoÉasimÉcomÉ
outras atitudes de isolamento e expectativas que foram reduzidas no presente, devido a
acontecimentos passados vivenciados por ele, somadas à vulnerabilidade cultural, deman-
da do educador uma postura diferenciada, com intuito de criar melhores condições para
queÉoÉprocesÉdeÉaprendizagemÉdoÉeducanoÉocoraÉdeÉformaÉeWcazÉ
Além disso, uma das estagiárias apontou a resistência por parte dos educandos
quanto à metodologia utilizada, tendo em vista que esses pediam pelo ensino tradicional
eÉresitamÉemÉtrablhÉcomÉmaterisÉconcretsÉOÉpúblicoÉdaÉEJAÉposuiÉumÉgrandeÉdi -
ferencial, que é justamente a vivência social e cultural que possuem. Nesse sentido, Freire
(1996) destaca a necessidade de os educadores criarem as possibilidades concretas para
queÉaÉproduçãoÉdoÉconhecimtÉseÉtorneÉumaÉrealidÉGado4iÉüW__ÕÉargumentaÉqueÉseÉ
deve considerar a própria realidade dos educandos, pois só assim conseguirá promover a
ação
motiv ÉnecsáriaÉàÉaprendizagemÉdeÉformaÉqueÉseÉsintamÉmaisÉconWatesÉeÉmadosÉtiv
no decorrer do processo de construção do conhecimento.
UmaÉdasÉestagiáriasÉrelatouÉqueÉenfretouÉdesaWoÉnoÉâmbitoÉpesoalÉeÉdeÉforma -
ção. Ela explica que, por ser muito tímida, não se sentia preparada para exercer o papel
de ensinar. Considerava uma responsabilidade imensa e estudava muito para preparar
as aulas. Argumenta que a formação no Curso de Pedagogia, por mais que os professores
buscassem relacionar teoria e prática da sala de aula, não bastava para que ela se sentisse
segura diante de uma turma pela primeira vez. A partir de seu relato, podemos perceber
comÉ éÉ importaneÉ umaÉ formaçãoÉ espcíWcaÉ parÉ oÉ trablhoÉ comÉ aÉ EJAÉ vistoÉ queÉ esaÉ
modalidade de ensino exige do educador uma metodologia diferenciada e uma relação
afetiva entre professor/aluno, para que não ocorra um estranhamento e uma insegurança
por parte dos educadores.
286
CAPÍTULO 18
Núcleo de Educação de Adultos (NEAd): uma história de parceria
com o curso de Pedagogia na formação docente dos licenciandos da UFV
[ÉConsideraçõesÉWnais
OÉobjetivoÉcentralÉdoÉpresntÉestudoÉfoiÉoÉdeÉresgatrÉaÉhistóraÉdoÉNúcleoÉdeÉEdu -
cação de Jovens e Adultos na Universidade Federal de Viçosa. Analisamos, em síntese, a
importância de um Núcleo de Educação de Adultos para esta Instituição e para os licen-
ciandosÉqueÉaliÉteramÉm
iv omentsÉdeÉestudoÉreXxõesÉeÉexperiênciaÉacadêmicaÉsobreÉaÉ
educação de jovens e adultos. Constatamos que, desde 1987 até os dias atuais, o Projeto de
Educação de Adultos da UFV, hoje nomeado Núcleo de Educação de Adultos, passou por
um processo que hoje o constitui como importante espaço de formação docente na moda-
lidade de educação de adultos, pautado em princípios de Paulo Freire, envolvendo toda a
comunidade viçosense.
Em relação à percepção dos estagiários do NEAd acerca do trabalho desenvolvido
nesÉnúcleoÉveriWcamosÉqueÉparÉelesÉéÉumÉperíodoÉdeÉmuitoÉaprendizadoÉqueÉocoreÉ
aÉpartiÉdoÉenfretamoÉdosÉdersoÉdiv esaWoÉdesaÉvivênciaÉrelaciondsÉàÉeasãov ÉdosÉ
alunosÉàsÉdiWculdaesÉprópiasÉdaÉidaeÉdesÉàÉdiWculdaeÉdeÉconcilaremÉestudoÉeÉ
comprisÉfamilresÉeÉproWsinaÉeÉàÉbaixaÉautoesimaÉdosÉeducanosÉ
Ainda em relação à percepção desses estagiários acerca do trabalho desenvolvido
noÉNúcleoÉveriWcamosÉqueÉtodsÉconsideramÉumaÉricaÉexperiênciaÉdocentÉoÉperíodoÉemÉ
queÉpermancÉnoÉNEAdÉoÉqueÉreaWrmÉoÉNúcleoÉcomÉumÉespaçoÉefetivoÉdeÉforma -
çãoÉdocentÉparÉaÉmodalieÉdeÉEJAÉOutroÉpontÉesencialÉdesÉestudoÉfoiÉemÉrelaçãoÉàÉ
ação
motiv ÉdosÉlicenadosÉparÉaÉparticpçãoÉnoÉNúcleoÉtendoÉsidoÉidentiWcaosæÉbuscaÉ
deÉexperiênciaÉcomÉprofesÉformaçãoÉdocentÉespeciWamntÉnaÉmodalieÉdeÉEJAÉ
aprofundamento na teoria que embasa a prática docente na EJA e relações de afetividade
com os educandos.
IdentiWcamosÉaindaÉalgunsÉdesaWoÉenfretadosÉpelosÉlicenadosÉduranteÉoÉes -
tágio no Núcleo, relacionados à baixa autoestima dos educandos, à resistência por parte
desÉquantoÉàÉmetodlgiaÉutilzadaÉàÉdiWculdaeÉdeÉconcilarÉoÉtempoÉdeÉestudoÉcomÉ
a dedicação ao NEAd, à heterogeneidade etária e cognitiva dos educandos, ao abandono
dasÉaulasÉporÉparteÉdesÉeducanosÉàsÉdiWculdaesÉcasÉdognitv eÉalgunsÉeÉàÉnecsidaÉ
de conciliar as demandas dos exames supletivos com aulas que não têm foco na resolução
de exercícios programados.
QuantoÉàÉinXuênciaÉqueÉesaÉvivênciasÉpropcinadsÉpeloÉNúcleoÉtêmÉnaÉforma -
çãoÉdocentÉdeÉcadÉlicenadoÉidentiWcamosÉumaÉaprendizagemÉsaÉeignWctv mÉrelaçãoÉ
àÉpráticaÉdocentÉcomÉumÉpúblicoÉtãoÉespecíWcoÉcomÉosÉalunosÉdaÉEJAÉEsaÉexperiênciasÉ
287
PARTE IV
Outras formações
em curso
possibilitam uma prolongada vivência cotidiana da regência de classe, que não é comum
em outros estágios.
A partir deste estudo, podemos inferir que o Núcleo de Educação de Adultos, du-
rante mais de 30 anos de existência, passou por processos complexos e precisou do apoio
da administração da UFV para o desenvolvimento de suas atividades. Porém, embora, até
hoje, o NEAd ainda enfrente inúmeros problemas estruturais para o seu funcionamento,
tem conseguido fazer um trabalho diferenciado, tanto em relação aos educandos da EJA,
por meio de uma metodologia diferenciada, quanto para os licenciandos, que podem, nes-
seÉespaçoÉvenciarÉmv omentsÉdeÉestudoÉeÉreXxõesÉsobreÉaÉeducaçãoÉdeÉjensÉeov ÉadultosÉ
Constitui-se, portanto, um espaço efetivo de formação docente para a modalidade
de EJA. Nesse sentido, é parte essencial da história da UFV, do Departamento de Educação
e do Curso de Pedagogia, por constituir um importante pilar no processo de formação dos
proWsinaÉdaÉeducaçãoÉqueÉpasmÉporÉesaÉinstiução
Referências
AROYÉMiguelÉGonzalezÉCondiçãoÉdocentÉtrablhoÉeÉformaçãoÉInæÉSOUZAÉJÉVÉAÉ
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CELARDÉAndréÉAÉanáliseÉdocumentalÉInæÉPÉJART OUP eanÉetÉalÉ A pesquisa qualitati-
vaæÉenfoquesÉepistemológcÉeÉmetodlógicsÉPetrópolisæÉVozesÉÓVV^
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FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomiaæÉsabersÉnecsáriosÉàÉpráticaÉeaÉÓ[Ée
ductiv dÉ
SãoÉPauloæÉPazÉeÉTeraÉW__ÕÉ
FREIRE, Paulo. Educação e mudançaÉSãoÉPauloæÉPazÉeÉTeraÉÓVVV
288
CAPÍTULO 18
Núcleo de Educação de Adultos (NEAd): uma história de parceria
com o curso de Pedagogia na formação docente dos licenciandos da UFV
289
CAPÍTULO 19
A história do curso de Pedagogia e o
Projeto Veredas: caminhos cruzados
Maria das Graças Soares Floresta1
1. Sobre o texto
E
ste texto foi escrito para homenagear o Curso de Pedagogia da Universidade Fede-
ral de Viçosa (UFV), que completa 50 anos desde a sua criação, em 1971. Carece ser
também um registro do trabalho que docentes, técnicos administrativos e discen-
tesÉligadosÉàquelÉCursoÉrealizaramÉemÉseuÉâmbitoÉtraçandoÉumaÉintersaÉcartogWÉ
que deve ainda ser observada e analisada em termos da sua importância para a Educação
Brasileira. Ela própria, a história do Curso de Pedagogia, é de uma riqueza inconteste, não
somente pelas motivações pelas quais foi proposto esse Curso, mas pelas circunstâncias
sociais e políticas em que foi criado na UFV. Fizemos um recorte em sua história, entre os
anos de 2001 e 2012, período em que a UFV, sob a coordenação do Departamento de Edu-
cação (DPE), ofertou o Curso Normal Superior, no âmbito do Projeto Veredas – Formação
Superior de Professores (PV), em convênio com a Secretaria de Estado da Educação de
Minas Gerais (SEE/MG), cuja natureza, ideário e objetivos também estiveram, intrinseca-
mente, relacionados ao Curso de Pedagogia. Comungamos do entendimento de que, cada
vez que a UFV adere a algum programa de formação inicial ou continuada de professores/
as em serviço, seus cursos regulares e presenciais são impactados, dado o seu estilo de ges-
290
CAPÍTULO 19
A história do curso de Pedagogia e
o Projeto Veredas: caminhos cruzados
tão, com tentativas de organicidade e, diríamos, até mesmo unidade, entre os programas
especiais e os cursos regulares no campo da formação de professores. Aqui, vamos contar
uma pequena (mas grandiosa) cena desta história, em que a UFV tomou a decisão de par-
ticipar desse Projeto e proporcionou ao seu próprio ambiente interno uma alteração que
não será esquecida.
TratmosÉnestÉtextoÉdoÉregistroÉdeÉcomÉoÉPVÉmarcouÉaÉhistóraÉdoÉCursoÉdeÉPe -
dagoiÉdaÉUÉaFV lgoÉqueÉacreditamosÉeÉqueÉseÉconWrmaáÉaoÉlongÉdelÉorganizadoÉemÉ
duas Seções. Na primeira, trazemos um relato da história do PV, sua concepção, natureza,
a parceria entre o Governo de MG e a UFV e os princípios pedagógicos que o fundamen-
taram, princípios esses que foram absorvidos, de certa forma, pelo Curso de Pedagogia da
ÉNUFV aÉsegundaÉseçãoÉapresntamoÉalgumasÉreXxõesÉsobreÉcomÉoÉPVÉmarcouÉoÉCursoÉ
deÉPedagoiÉdaÉUÉrFV eXxõesÉestaÉrelatdsÉemÉdepoimntsÉespontâneosÉdeÉdocentsÉ
vinculados ao Curso de Pedagogia da UFV e que, concomitantemente, atuaram no PV.
ÓÉOÉProjetÉVerdasÉdaÉUFVÉ.ÉUMAÉhistóraÉDENTROÉ
DAÉHISTÓRIAÉ
A história que vamos contar aqui data de 2001, quando a UFV ingressou na Rede
Veredas (RV), a convite da SEE/MG para compor o grupo das dezoito Instituições de En-
sino Superior (IES) de MG, públicas e privadas, que passariam a implementar o PV, cujo
objetivo era a oferta do Curso Normal Superior (CNS). A nova proposta de formação que
se propunha teve uma característica especial, porque se pretendia oferecer uma formação,
exclusiva para professores/as em serviço, que atuavam na rede pública de ensino, atribuin-
doÇlhesÉumaÉcertiWcaçãoÉemÉnívelÉsuperioÉOÉobjetivoÉeraÉgraduÉnumaÉprimeaÉversãoÉ
cerca de 15 mil professores/as de escolas de Ensino Fundamental das redes públicas de
ensino estadual e municipal3, como destaca do documento citado abaixo.
3 Foi feita uma ampliação da oferta para a rede municipal, com a retenção da Quota Estadual do Salário Edu-
cação (QESE), antes repassada aos municípios, para financiar a formação dos/as professores/as municipais.
Isto durou até 2003. A partir de 2006, houve a oferta de outras turmas, mas com financiamento direto pelos
municípios. Esta foi a razão que levou ao esvaziamento do Projeto Veredas, vindo a ser encerrado.
291
PARTE IV
Outras formações
em curso
Em Minas Gerais, as estatísticas indicavam que no ano 2000 ainda existiam 60 mil
professores com habilitação de nível médio atuando nas escolas públicas, sendo 18
mil em escolas do Estado e 42 mil nas escolas municipais. Em função desses números,
a modalidade de educação a distância em um projeto de formação em serviço foi con-
siderada a política capaz de produzir um grande impacto na solução do problema. (...)
Sugerida na nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional como a formação
desjávelÉparÉosÉproWsinaÉdaÉeducaçãoÉemboraÉaindaÉadmitnoÉumaÉformaçãoÉ
de nível médio para a educação infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, a
formação em nível superior vem sendo considerada necessária para a mudança nos
padrõesÉdeÉqualideÉdaÉescolaÉpúblicaÉbrasileÉOÉprópioÉPlanoÉNacionlÉdeÉEdu -
cação estabeleceu como meta para dez anos a formação de 70% dos professores da
Educação Infantil e Ensino Fundamental em nível superior (MINAS GERAIS, 2004,
p. 6).
292
CAPÍTULO 19
A história do curso de Pedagogia e
o Projeto Veredas: caminhos cruzados
duas leis. Em fevereiro de 2001, é elaborado outro documento por uma nova Comissão
de Especialistas de Ensino de Pedagogia, em que a formação do pedagogo desdobrava-
se em duas alternativas, com projetos acadêmicos distintos, sendo que em qualquer um
deles a docência é indicada como base da organização curricular e, consequentemente,
de sua identidade. (...)Mesmo com muitas alterações, o Conselho Nacional de Educação
Éauov rpa ÉDs zeirte ÉNs Épsiano c Éoar ÉcÉdosru ÉPe Éeaigo ade Éqm ÉWeu Édac ÉqodinWe Éaeu É
formação oferecida deverá abranger, integralmente, a docência e também a participação
na gestão e avaliação de sistemas e instituições de ensino em geral e a elaboração e exe-
cução de atividades educativas (FURLAN, 2008, p. 11).
Não vamos aprofundar nessa análise, pois nosso objetivo aqui é analisar os impac-
tosÉdesÉprogamÉespecialÉdeÉformaçãoÉemÉumÉcursoÉregularÉeÉpresncialÉOÉdesnhoÉ
curricular construído para o PV deveria vislumbrar relações verticais, horizontais e espira-
ladas entre os Componentes, permitindo uma visão integrada e interdisciplinar dos prin-
cipais temas estudados. Deveria ir além de formar docentes para a função na sala de aula,
mas desenvolver a criticidade e a capacidade de apreender o processo educacional como
um todo, agregando conteúdos e práticas nos diversos campos do conhecimento, com de-
sign de Currículo em Rede4 que, fora do desenho modelar, já nos textos dos Guias de Estudo,
perderiam as dimensões vertical e horizontal, fazendo dialogar os Componentes uns com
os outros, com uma preocupação expressa de possibilitar uma formação geral, uma for-
maçãoÉespeciWaÉeÉumaÉformaçãoÉintegradoÉEseÉGuiasÉdeÉEstudoÉforamÉumÉgrandeÉ
diferencial na proposta pedagógica do PV, era neles que o conhecimento se tornava um só,
indo e vindo entre diferentes componentes e circulando no tempo do estudo desde o pri-
meiro texto lido até o último perto da conclusão do Curso5ÉOsÉGuiasÉnãoÉtraziamÉsomentÉ
textos teóricos, mas propunham atividades de análise de situações reais que aconteciam
nas escolas, solicitando que fossem analisadas e, a depender do caso, solucionadas. Estas
situações eram chamadas de Casos de Ensino. Dois Componentes Curriculares foram mui-
toÉimportanesæÉOÉMemorialÉeÉaÉMongraWÉambosÉorientadosÉtambémÉdentroÉdosÉGuiasÉ
de Estudo, com atividades a serem realizadas mês a mês, desde o primeiro dia do Curso.
udoÉdT eriaÉsv erÉumaÉconjugaçãoÉqueÉderiaÉev stimularÉaÉcriaçãoÉdeÉespaçosÉeÉtemposÉcur -
riculaesÉdiferncadosÉdesnvolidÉnoÉesquemaÉdeÉaçãoÇreXxãoÇaçãoÉintegraÉsabersÉ
cientíWcoÇpedagóicosÉformaisÉcomÉsabersÉproduzidosÉpelo&aÉprópio&aÉprofes&aÉemÉ
4 A expressão Currículo em Rede supõe a constituição de redes de conhecimento, compondo uma tessitura,
algo que em nada se parece com uma figura organizada, linear, mas com circuitos que se entrelaçam e se inter-
põem, formando uma imagem una e múltipla (ALVES, 2002).
5 A cada mês era enviado um livro com textos didáticos dos componentes curriculares daquele módulo, esse
que durava quatro meses. Foram 28 Guias ao longo do Curso. Os textos foram escritos por especialistas de
todo o Brasil. Era um material inédito, com linguagem e estrutura específicas para o PV que priorizou o mate-
rial impresso. Num levantamento descobrimos que de 1000 matriculados na UFV, apenas 92 tinham acesso a
computador e o usavam.
293
PARTE IV
Outras formações
em curso
sua prática na sala de aula, na escola e na comunidade. Vale destacar que os estudos eram
feitosÉcomÉacompanhetÉdeÉTutoresÉcujaÉfunçãoÉeraÉmediarÉoÉprocesÉensioÇapren -
dizagem, programar e coordenar as situações de aprendizagem, acompanhar o percurso
deÉcadÉprofes&aÉcursitaÉidentiWcarÉnecsidaÉdarÉapoiÉpedagóicoÉàsÉativdaesÉ
presenciais (encontros mensais nas cidades dos/as professores/as cursistas e nos Encontros
Presencias de início de Módulo na UFV) e a distância, incluindo acompanhamento da prá-
tica pedagógica na escola; recuperação da aprendizagem; elaboração de material de apoio;
orientaçãoÉdoÉMemorialÉeÉdaÉMongraW
OÉPVÉchegouÉàsÉuersidaÉi
nv andoÉn
v oÉsentidoÉdeÉnãoÉsomentÉdefndrÉqueÉ
profes&asÉderiamÉsv erÉcapzesÉdeÉtomarÉdecisõÉeÉderÉpsnvol rojetsÉTrouxeÉumÉ
discurso de que deveriam dominar seu instrumental próprio de trabalho e saberem fazer
usoÉdesÉinstrumealÉsermÉpensador&asÉcomÉcapcideÉdeÉüresignWcarÉcritcamenÉ
sua prática e as representações sociais sobre o seu campo de atuação. E foi exatamente aqui
queÉresidramÉalgumasÉdúvidasÉeÉaertêndv ciasÉqueÉseÉWzeramÉaoÉPVÉquandoÉfoiÉlançadoÉ
MuitasÉ críticasÉ vieramÉ àÉ suaÉ naturezaÉ formatÉ deWnioÉ conteúdoÉ establcidoÉ eÉ meto -
dolgiaÉpreviamntÉplanejdÉAÉperguntaÉfrequntÉeraæÉoÉqueÉpoderãoÉfazerÉasÉuerniv -
sidades para dar à formação a sua própria identidade? É certo que esteve durante muito
tempo no centro das atenções de críticos e idealizadores. Por outro lado, inegavelmente,
esÉProjetÉposibltuÉreaWrmÉaÉposibldaeÉdeÉaÉuersidaÉanv tuarÉdiretamnÉnaÉ
EducaçãoÉBásicaÉeÉnelaÉinterfiÉeÉpermituÉaÉcadÉumÉdos&asÉproWsinaÉnelÉenvolidsÉ
viver uma histórica experiência de participar de sua criação e consolidação como, também,
estáÉhojeÉnosÉdandoÉaÉoportunidaeÉdeÉreXtirÉsobreÉaÉdireçãoÉqueÉtudoÉisoÉtomuÉ
294
CAPÍTULO 19
A história do curso de Pedagogia e
o Projeto Veredas: caminhos cruzados
6 Durante uma semana, no início de cada Módulo (foram 7 Módulos em todo o Curso) os/as professores/as
cursistas vinham ao Campus da UFV, em Viçosa para participar conferências, palestras, mesas redondas, ativi-
dades culturais.
295
PARTE IV
Outras formações
em curso
OuÉ sejaÉ quandoÉ oÉ PVÉ foiÉ conebidÉ nosÉ gabinetsÉ daÉ SE&MGÉ emÉ mesaÉ deÉ discuãoÉ
envolvendo docentes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e técnicos/as da
próiaÉSE&MGÉoÉCursoÉdeÉPedagoiÉpaÉp
sv orÉumaÉresignWcaçãoÉimportaneÉqueÉ
veio a se consolidar nos Pareceres CNE/CP N. 5/2005 (BRASIL, 2005) e N.01/2006 (BRASIL,
2006) e na Resolução PNE/CP N.01/2006 (BRASIL, 2006).
As diretrizes que vieram logo em seguida, trouxeram esse mesmo formato de orga-
nizaçãoÉcuriclaÉemÉtêsr ÉnúcleosÉdeÉestudoæÉestudoÉcomunsÉbásicosÉümulticradeÉ
daÉsociedaÉbrasileÉrealidsÉeducaionsÉestudoÉdeÉaprofundametÉeÉdersiWv -
caçãoÉüáreasÉdeÉatuaçãoÉpnalÉp
roWsi rojetsÉpedagóicosÉdasÉinstiuçõesÉescolareÉdife -
rentes demandas sociais) e estudos integradores ( voltados para o enriquecimento curri-
cular ÉIsoÉestáÉpresntÉnoÉParecÉ[&ÓVV[ÉüBRASILÉÓVV[ÉOutraÉevidênciaÉqueÉtemosÉdoÉ
caráterÉpionerÉdoÉPVÉeÉdaÉsuaÉinXuênciaÉnaÉdiscuãoÉdoÉCursoÉdeÉPedagoiÉnaquelÉ
momento, vem de relatos como esse, obtido no Relatório encaminhado ao MEC, elaborado
em 2004, para reconhecimento do Curso, o que ocorreu em 2005.
êmT ÉsidoÉconstaeÉasÉsolictaçõesÉdeÉapresntaçãoÉdivulgaçãoÉeÉexplictaçãoÉdoÉpro -
jeto VEREDAS em todos os seus passos, o que evidencia o desejo de muitas entidades
e organizações de buscar novas alternativas para a educação brasileira. (MINAS GE-
RAIS, 2004, p. 4).
amosÉaV oÉsegundoÉaspectoÉanuciadoÉnoÉinícioÉdestaÉseçãoæÉanalisrÉcomÉaÉimple -
mentação do Curso Veredas marcou a história do Curso de Pedagogia da UFV. Quando a
SEE/MG anunciou, em 2001, a criação do PV, quando foram tomadas as providências junto
ao MEC para sua autorização, planejados os materiais instrucionais, realizada a licitação
parÉescolhaÉdasÉAFORÉorganizadoÉoÉexameÉseltivoÉdos&asÉprofes&asÉcursitaÉeÉain -
da, tomadas as demais providências para que o Curso fosse iniciado em janeiro de 2002.
NaÉUÉoFV ÉconviteÉparÉseÉcanditrÉcomÉumaÉAFORÉchegouÉnumÉmomentÉemÉ
que esta universidade, como a maioria da Instituições Federais de Ensino Superior (IFES)
viviam uma greve de docentes, coordenada pelo Sindicato Nacional (ANDES), iniciada em
ÓÓÉdeÉagostÉdaquelÉanoÉüÓVVWÉreivndcaoÉreajustÉsalrisÉreajustÉnasÉgratiWcçõesÉ
por desempenho e equiparação salarial entre professores/as do ensino superior e médio.
EsaÉconjutraÉinicalmetÉnãoÉfoiÉbenéWcaÉparÉaÉdiscuãoÉinteraÉsobreÉaÉadesãoÉdaÉ
UFV ao Projeto, sendo que a primeira reunião coordenada pelo Centro de Ciências Huma-
nas, Letras e Artes (CCH), para a qual foi convocado o DPE, não obteve êxito e a resposta
desse Departamento foi negativa. Relatos de docentes presentes à reunião com o Diretor
doÉCCHÉcamÉioprv soæÉ
296
CAPÍTULO 19
A história do curso de Pedagogia e
o Projeto Veredas: caminhos cruzados
Nós, professores do DPE, que estávamos presentes a esta primeira reunião, achamos
a proposta um pouco suspeita. Era a primeira vez que recebíamos um convite para
implantar um programa de formação de professores de escolas públicas, naquele mo-
mentoÉcomÉtantoÉdinheroÉprometidÉAchamosÉmesmoÉqueÉnãoÉdariÉcertoÉTambémÉ
achmosÉ estranhoÉ asumirÉ umÉ projetÉ comÉ umÉ formatÉ tãoÉ deWnitvoÉ eÉ comÉ umaÉ
proposta pedagógica que parecia aqueles enlatados que a gente já ouvia falar que
estavam sendo criados, sem espaço para nada, só para cumprir o que estava decidido.
Foi por isso que o DPE não aceitou da primeira vez. (Docente DPE/UFV 1) [sic].
Foto 2. Tutores do Projeto Veredas. Uma homenagem ao Professor Carlos Vasconcelos Farias
(detalhe), um dos Tutores do Projeto e docente do DPE, falecido em 2020.
Fonte: Arquivo pessoal.
297
PARTE IV
Outras formações
em curso
CerquiaÉüÓVV^ÉtambémÉanalisæ
Apesar de seus 85 anos de existência, a universidade contava com poucos projetos nessa
modalidade, iniciativas como consultas virtuais à biblioteca central, sistema informati-
zado de disciplinas on-line e cursos de verão somavam algumas dessas possibilidades,
encontrando no Veredas, sua maior abrangência. (CERQUEIRA, 2008, p. 34).
Essa visão, entre alguns docentes do DPE, rapidamente, disseminou-se entre es-
tudantes do Curso de Pedagogia que se mobilizaram para um contra ponto, não só acu-
sandoÉ aÉ aÉinctv replicandoÉ duasÉ reXxõesÉ anteriosÉ queÉ apresntmoÉ masÉ tambémÉ
por entenderem que não seria aceitável que um/a egresso/a do Curso Veredas pudesse ter
as mesmas oportunidades de trabalho de um/a pedagogo formado num curso de quatro
anos, presencial e com as exigências que eram consideradas muito maiores. Um relato de
umaÉexÇalunaÉdoÉCursoÉdeÉPedagoiÉdaÉUFVÉcaæÉ
omprv
Muitos estudantes diziam que o Veredas era uma forma encontrada pelo governo,
para que os professores que já atuavam nas escolas públicas pudessem se formar sem
terem feito o vestibular da UFV. E assim, com a formação no Veredas, os professores
poderiamÉatuarÉnasÉmesmaÉáreasÉoÉPedagoÉOsÉestudaneÉpamÉaensv simÉLem -
bro que muitos estudantes da Pedagogia, no início do Veredas, chegaram agora dizer
que quem trabalhava no Veredas estava traindo o curso de Pedagogia. Com o passar
do tempo, os estudantes foram entendo melhor o que era o Veredas, a formação que
estava sendo feita naquele momento e também entenderam claramente o campo de
atuação do Pedagogo (Estudante UFV 1) [sic].
CerquiaÉüÓVV^ÉtambémÉfalÉsobreÉisoæ
EntreaoÉaÉimplantçãoÉdeÉumÉCursoÉnasÉespeciWdaÉdoÉVerdasÉgerouÉestra -
nhamento e certo distanciamento por parte de alguns acadêmicos de cursos presen-
ciais, porque muitos desses não reconheciam a legitimidade dos cursistas como uni-
versitários da mesma instituição. (CERQUEIRA, 2008, p. 34).
298
CAPÍTULO 19
A história do curso de Pedagogia e
o Projeto Veredas: caminhos cruzados
Algumas ações foram realizadas na UFV como parte do esforço para legitimar o PV e
aproximá-lo do Curso de Pedagogia. Uma delas, foi a inserção de uma representação desse
Curso no Colegiado do Projeto Veredas, instituído por Resolução do Conselho de Ensino,
Ée
asiuq e P ÉExtãosne ÉüCÉp
EP Éd
ar Ém
ra Éi
sia Éa
eda il noicut sn ÉP
o Éd
otej r És
rinWe Ée
au xaÉat
zailaco çãoÉnÉe
a Éo
arut s zainagr Éd
lanoic ÉU
a ÉüB
VF ÉÓVVYÉO
LISAR ÉaÉWÓÉd
ogitr ÉR
a ção
ulose É
traz as atribuições do/a Coordenador/a do Curso de Pedagogia, especialmente, estabelecer o
necessário vínculo entre as atividades do Projeto e as atividades acadêmicas do Curso.
OutraÉaçãoÉdaÉequipeÉqueÉcaÉoordenv ÉProjetÉfoiÉfazerÉcirculaÉinformaçõesÉsobreÉ
oÉPVÉeÉsobreÉaÉsuaÉeeÉAspciWda ÉideiaÉeraÉgarntiÉqueÉaÉpropaldÉaproximaçãoÉcomÉ
o Curso de Pedagogia, um dos seus objetivos de origem, não fosse prejudicada por infor-
mações equivocadas como, por exemplo, de que os/as egressos/as do Curso Veredas, in-
justamente, ocupariam as vagas nas escolas do Ensino Fundamental. Esta análise não fazia
nenhum sentido, pois os/as professores/as cursistas já estavam em serviço nessas escolas, a
expaÉmresiv aiorÉcomÉcargosÉefetivosÉOÉtrablhoÉdeÉbuscaÉdeÉlegitmdaÉfoiÉfeitoÉnãoÉ
só atuando nas próprias salas de aulas do Curso de Pedagogia, como produzindo materiais
de divulgação, como um folder que, na capa, trazia “No Veredas UFV, professor de escola pú-
blica, é universitárioBÉEsaÉeraÉumaÉmensagmÉparÉlegitmarÉaÉoportunidaeÉqueÉprofes -
res&asÉteramÉdiv eÉseÉqualiWcrÉemÉumaÉUersidaÉPnv úblicaÉdeÉformaÉgratuiÉumÉdiretoÉ
à cidadania. Uma outra ação foi a criação de um jornal informativo de circulação interna no
campus da UFV e entre os/as professores/as cursistas, denominado Diadorim7ÉOÉobjetivoÉ
era que esse jornal, no formato de um Boletim, circulasse entre os/as estudantes, do Curso
de Pedagogia, possibilitando que conhecessem melhor o Curso e aproveitassem também o
seu conteúdo, voltado para a discussão de temas da Educação.
eÉt
Houv ambémÉumaÉimportaneÉaçãoÉrealizadaÉcomÉapoiÉdoÉPVæÉreformaÉinte -
gral da Biblioteca Setorial do DPE. Na UFV, além da Biblioteca Central, existem algumas
7 O nome Diadorim foi atribuído ao Jornal do Projeto Veredas em alusão ao personagem de João Guimarães
Rosa, no seu livro Grandes Sertões Veredas. O próprio nome Projeto Veredas já havia sido atribuído ao progra-
ma de formação em homenagem a este grande escritor mineiro.
299
PARTE IV
Outras formações
em curso
Eu entendo que a Biblioteca que foi reestruturada no DPE, sem dúvida, trouxe a pos-
sibilidade de um maior quantitativo de livros, o que contribuiu muito para os cursos
oferecidos pelo Departamento (Docente DPE/UFV 3 [sic].
Contudo, talvez o que tenha sido mais efetivo para que estudantes do Curso de
Pedagogia interagissem com o Projeto, compreendessem-no melhor e até mesmo a ele se
vinculassem, foi a possibilidade de nele atuarem, seja na secretaria da Coordenação Geral,
seja como auxiliares das Coordenações de Apoio a Aprendizagem, de Monitoramento e
300
CAPÍTULO 19
A história do curso de Pedagogia e
o Projeto Veredas: caminhos cruzados
Um impacto importante do Veredas teve a ver com a própria formação dos professo-
res que participaram das atividades nas Afor, como coordenadores ou tutores; este
trablhoÉ repsntouÉ numÉ excelntÉ mecanisoÉ deÉ formaçãoÉ contiuadÉ antoÉT osÉ
professores de cursos permanentes de formação de professores como os que foram
contratos especialmente para o Veredas aprenderam muito com esse trabalho. A lei-
turaÉdosÉGuiasÉdeÉEstudoÉoÉacompanhetÉdasÉmongraWsÉeÉmemoriasÉasÉre -
uniões destinadas a discutir a tutoria e as visitas às escolas para avaliar as práticas
pedagógicas representaram uma formação continuada que, certamente, os tornou
melhorsÉproWsinaÉnoÉexercícioÉdeÉsuasÉativdaesÉdeÉmagistérioÉMesmoÉnoÉcasoÉ
de professores com mestrado e doutorado que participaram como coordenadores ou
como tutores, foi possível supor que a leitura dos Guias de Estudo tenha servido como
atualização para muitos docentes, ou até mesmo representado uma formação conti-
nuada (MIRANDA et al., 2013, p. 203).
ElasÉprosegumÉreplicandoÉumaÉfalÉdoÉReitorÉdaÉUFVÉàÉépocaæ
301
PARTE IV
Outras formações
em curso
MoranÉüÓVV^ÉpÉ^ÉcontribuÉcomÉesaÉdiscuãoæÉ
Esses mesmos professores, ao voltar para as salas de aula presenciais, costumam ter
uma sensação de estranhamento, de que no presencial falta algo; de que o planeja-
mento é muito menos rigoroso, que as atividades em sala são muito menos previstas,
que o material poderia ser mais adequado e que a avaliação é decidida, muitas vezes,
ao sabor dos acontecimentos. Professores e alunos, ao ter acesso a bons materiais a
distância, costumam trazê-los também para a sala de aula presencial e isso vem con-
tribuindo para a diminuição da separação que ainda há entre os que fazem cursos
aÉ distânciaÉ eÉ osÉ presnciaÉ nasÉ ersidaÉunv UmÉ exemploÉ claroÉ daÉ inXuênciaÉ deÉ
um curso a distância no ensino presencial o testemunhei no reconhecimento do curso
erdasÉV üÉ TodasÉ asÉ pesoaÉ destacrmÉ aÉ importânciaÉ doÉ ProjetÉ erdasÉV parÉ aÉ
melhoria dos cursos presenciais de educação. Um impacto importante acontece na
relaçãoÉentreÉprofesÉeÉalunosÉüMORANÉÓVV^ÉpÉ^
OutroÉdepoimntÉmostraÉcomÉosÉdocentsÉdoÉDPEÉaalimÉa
v ÉexperiênciaÉdoÉPVÉ
parÉsuaÉpráticaÉnoÉCursoÉdeÉPedagoiæ
NoÉmeuÉcasoÉespecíWcoÉatéÉantesÉdaÉpandemiÉeuÉutilzaaÉmv ÉalgumasÉunidaesÉdaÉ
disciplina de História e mesmo da História da Educação, algumas partes, algumas
seções dos Módulos dos guias de estudo do Veredas. Incorporei também, numa dis-
302
CAPÍTULO 19
A história do curso de Pedagogia e
o Projeto Veredas: caminhos cruzados
ciplnaÉdeÉHistóraÉdeÉEducaçãoÉumaÉativdaeÉemÉqueÉos&asÉestudaneÉWzesemÉumÉ
Memorial, um Memorial Histórico, sobre a sua escolarização e dos seus familiares, um
estudo mais geracional. Sem dúvida esteve vinculado também a proposta do Memo-
rial que veio no Projeto Veredas (Docente DPE/UFV 3) [sic].
EseÉ depoimntÉ abixoÉ tambémÉ conWrmaÉ nosÉ entdimoÉ deÉ queÉ oÉ ProjetÉ
Veredas, ao ser implantado na UFV, chegou nas salas de aulas do Curso de Pedagogia,
marcndoÉsuaÉhistóraæ
OÉVerdasÉinXuecioÉmuitoÉnoÉCursoÉdeÉPedagoiÉsimÉMuitosÉdeÉnósÉpegamosÉosÉ
conteúdos dos Guias de estudo e aplicamos em nossas aulas no Curso de Pedagogia.
Na questão do Currículo de Ciências, o Veredas foi muito bom. Eu pude pegar alguns
conteúdos e trabalhar. Mesmo não sendo muito extenso, o conteúdo de Ciências nos
Guias, contribuiu muito com meu trabalho, me ajudou muito nas aulas, principal-
mente nos conceitos e nas teorias. Mas eu quero mesmo falar sobre uma outra contri-
buiçãoÉqueÉforamÉosÉACasoÉdeÉEnsioBÉatéÉnaÉminhaÉtesÉdeÉdoutradÉeuÉuseiÉestaÉ
técnicaÉporqueÉelaÉéÉsimplesntÉfantásticaÉelaÉtrazÉaÉteoriaÉparÉaÉrealidÉOsÉ
GuiasÉtraziamÉproblemasÉparÉsermÉresolvidÉoÉqueÉdaÉmesWv uitoÉo&aÉprofes&aÉ
a transpor o conhecimento teórico para a aplicação na sala de aula. Nesta metodolo-
giaÉeraÉposívelÉvenciarÉa v quelÉesquemaÉqueÉaÉgentÉencotraÉemÉmuitosÉlivrosæÉaÉ
açãoÇreXxãoÇaçãoÉEstaÉmetodlgiaÉpermitÉreXtirÉsobreÉoÉdiaÇaÇdiaÉeÉaÉpartiÉdestaÉ
reXxãoÉpartiÉparÉaÉaçãoÉqueÉeraÉnaÉsalÉdeÉaulaÉeÉisoÉfaÉa ciltv ÉaprendizagemÉ
das alunas; seria numa transposição do que ocorria no cotidiano, do que dizia a teoria
eÉdoÉqueÉderiaÉsv erÉmodiWcaÉnoÉcotidanÉOÉqueÉWcouÉfoiÉmuitaÉsaudeÉEraÉumÉ
trablhoÉ imensoÉ aÉ gentÉ aÉWcv muitoÉ cansdÉ masÉ eraÉ muitoÉ bomÉ üDocentÉ DPE&
UFV 4) [sic].
amentÉtNov emosÉaÉconWrmaçãoÉdoÉquantoÉoÉPVÉfoiÉmarcnteÉparÉos&asÉdocentsÉ
doÉDPEÉqueÉaamÉntuv oÉCursoÉdeÉPedagoiæÉ
Em relação à área em que atuo, o material didático do Projeto trouxe para mim e para
osÉestudaneÉdeÉPedagoiÉumaÉoportunidaeÉdeÉempoderantÉmuitoÉgrandeÉOÉ
conteúdoÉdosÉGuiasÉeraÉatualizadoÉbemÉcomÉasÉrênefr ciasÉbiblográWcasÉsugeridasÉ
Esses Guias eram lidos e estudados por mim, mensalmente, de forma sistemática, tam-
bémÉcÉuom maÉoportunidaeÉaÉmaisÉdeÉmeÉmanterÉatualizadaÉoraÉconWrmadÉoÉqueÉ
estávamos trabalhando em nossas aulas no Curso de Pedagogia, ora nos mostrando o
queÉderiaÉs v erÉmodiWcaÉFaloÉdeÉumÉmaterilÉmuitoÉricoÉcujaÉabordagemÉtraziaÉàÉ
tonaÉGeograWÉHistóraÉLínguaÉPortugesaÉDidáticaÉeÉoutrosÉcamposÉemÉconstaeÉ
diálogÉOsÉestudoÉqueÉWzemosÉparÉnosÉtrablhoÉdeÉTutoriaÉouÉdeÉCordenaçãoÉ
acabavam por complementar as nossas referências, a Literatura que indicávamos nas
disciplinas do Curso de Pedagogia, o que nos permitia ampliar nossos conhecimentos.
Muitas vezes, os conteúdos dos Guias iam ao encontro do que estávamos discutindo
com nossas turmas de Pedagogia. Por várias vezes, trouxe para minha sala de aula na
Pedagogia exemplos citados, não só nos Guias, mas também aqueles advindos da ex-
periência dos(as) cursistas, do que vivenciavam nas escolas. As cursistas e os cursistas
eram professores que tinham uma prática muito importante e interessante, colocada
à mostra em relatos que nos reportavam para dentro de salas de aulas do ensino fun-
damentlÉdasÉescolaÉverdaiosÉexemplosÉdeÉvidaÉproWsinalÉeÉpesoalÉNãoÉraroÉ
os diálogos mantidos nas disciplinas do Curso de Pedagogia traziam em seu cerne o
movimento que vinha dos cursistas, de suas práticas, dos textos que eles estudavam
303
PARTE IV
Outras formações
em curso
ConfrmeÉaWrmaosÉemÉseçãoÉanterioÉoÉCursoÉrecbuÉprofes&asÉqueÉpos -
suíamÉumaÉlongaÉeÉintesaÉexperiênciaÉproWsinalÉmuitos&asÉcomÉformaçãoÉdeÉmagistérioÉ
de nível médio. A prática pedagógica no PV é considerada como um pressuposto da forma-
çãoÉdeÉprofes&asÉeÉéÉdeWnidaÉcomÉumaÉpráticaÉsocialÉespecíWcaÉdeÉcaráterÉhistórcoÉeÉ
cultural. Assim, vai além da ação docente, das atividades didáticas dentro da sala de aula,
abrangendo os diferentes aspectos do projeto pedagógico da escola e as relações desta com
a comunidade e a sociedade. A prática pedagógica é ponto de partida para a teoria, mas se
refomulaÉaÉpartiÉdelaÉüMINASÉGERAISÉÓVVWÉOÉdepoimntÉacimaÉtambémÉresgatÉumÉ
aspectoÉimportaneÉdoÉPVæÉcompetiaÉaos&asÉtutor&asÉorientaÉos&asÉprofes&asÉcursitaÉ
emÉrelaçãoÉaosÉGuiasÉdeÉEstudoÉàÉelaborçãoÉdosÉmemoriasÉdasÉmongraWsÉeÉtambémÉ
realizar visitas às escolas onde esses atuavam, visando o acompanhamento das atividades
pedagóicsÉdesnvolidaÉNamentÉMov oranÉüÓVV^ÉpÉ_ÉnosÉajudaÉaÉentedræ
OÉconceitÉdeÉtutoriaÉdeslocaÉoÉfocÉdaÉaprendizagemÉparÉosÉalunosÉeÉexigeÉumÉcon -
tato frequente, um acompanhamento individual bem diferente da forma como ha-
bitualmente o professor age em relação aos alunos presenciais, onde costuma focar
o grupo, a maioria, a média. (...) Bons materiais, fáceis de compreender, de navegar,
faciltmÉientÉo msa ÉtrablhoÉdoÉalunoÉüÉOÉprofesÉnãoÉprecisaÉconcetraÉ
toda a sua energia em transmitir a informação. Pode disponibilizar materiais para
leitura individual e realização de atividades programadas, pesquisas, projetos, com-
binadoÉoÉseuÉpapelÉdeÉinformadÉcomÉoÉdeÉmediaorÉeÉoÉdeÉcontextualizadorÉOsÉ
cursos presenciais poderiam ter um mix de informação, pesquisa (individual e gru-
pal) e autoestudo. Ela nos faz descobrir como é importante estarmos juntos, e como,
ao estarmos juntos, podemos resolver facilmente os problemas de aprendizagem, as
dúvidasÉOÉestarÉjuntosÉfaciltÉaÉcriaçãoÉdeÉconWaçaÉdeÉlaçosÉafetivosÉDestacÉoÉpa -
pelÉfundametlÉdoÉtutorÉnaÉcriaçãoÉdeÉlaçosÉafetivosÉüMORANÉÓVV^ÉpÉ_É
elosÉrP elatosÉpodemÇseÉpercbÉmuitosÉreXxosÉdaÉparticpçãoÉnoÉPVÉnaÉpercp -
çãoÉsobreÉaÉproWsãoÉTambémÉdemosÉt
v erÉe
anscv seÉdepoimntÉqueÉnosÉconWrmaÉ
váriasÉdeÉnÉc
osa oncepçõesÉaoÉelabormsÉesteÉtextoæÉaÉvisãoÉqueÉtinhaÉese&aÉDocentÉ
sobreÉaÉproWsãoÉfoiÉafetadÉeÉseÉtransfomuÉnaÉmediaÉemÉqueÉfoiÉseÉaproiandÉdosÉ
conheimtsÉqueÉenvoliamÉaÉpráticaÉproWsinal
OÉfatoÉdeÉaÉPráticaÉPedagóicÉdosÉcursitaÉserÉumÉelemntoÉmuitoÉimportaneÉnoÉ
Projeto Veredas, o seu trabalho em sala de aula, em suas escolas, e ser considerada
oÉpontÉdeÉpartidÉnaÉreXxãoÉcríticaÉproblematizadoraÉeÉpaÉf ropsitv ezÉcomÉqueÉ
304
CAPÍTULO 19
A história do curso de Pedagogia e
o Projeto Veredas: caminhos cruzados
constaemÉoÉmovimentÉdeÉação&reXxão&açãoÉviesÉformandÉemÉminhasÉre -
XexõesÉumÉhábitoÉcadÉvezÉmaisÉforteÉdeÉürepnsarÉaÉminhaÉprópiaÉpráticaÉemÉsalÉ
de aula, com os estudantes do Curso de Pedagogia e eu passei a me preocupar mais
emÉalimentarÉaÉreXxãoÉsobreÉaÉfunçãoÉsocialÉdaÉaçãoÉdocentÉnoÉespaçoÉescolarÉNesÉ
sentido, os conteúdos dos Guias de Estudo, desenvolvidos em cada módulo, serviram
comÉ detonarÉ deÉ muitasÉ reXxõesÉ queÉ WzÉ acerÉ doÉ serÉ profesÉ üDocentÉ DPE&
UFV 6) [sic].
ZÉParÉfecharÉsemÉWnalizar
ÉéÉu
etsE Ét
m xte És
o ÉW
me ÉP
lan Éq
ecra Éa
eu ÉhÉs
airóts Éc
eug Éa
odnamrW Éc
sagitn pecno -
çõÉase Éoodnaretl Éesartu ÉsÉre Ésodna v e ÉOerpm ÉPÉcV Énaunito Éio árnigam Ésoi Édlaico ÉUa ÉVF
e, em especial, de docentes do DPE que nele trabalharam. Foi evidente a emoção e vontade
de recordar que encontramos nas pessoas que nos deram seus depoimentos. Conversas
longas que extrapolavam o tempo combinado, mas que traziam uma riqueza de memória
que nos fez crer que, trabalhos como esse devem ser repetidos, não só com docentes do
DPE, mas com estudantes egressos do Curso de Pedagogia e professores/as cursistas do PV.
OÉqueÉnosÉWcaÉchegandoÉaoÉpontÉdeÉWnalizarÉesaÉescritaÉéÉqueÉseÉmantémÉaÉcom -
plexidaeÉ daÉ formaçãoÉ deÉ profes&asÉ permadÉ porÉ conXitsÉ polêmicasÉ diferntsÉ
posicnametÉ eÉ problemáticasÉ alémÉ dosÉ desaWoÉ queÉ inXuecamÉ oÉ necsárioÉ apro -
fundamento dos conteúdos do campo educacional, especialmente quando a formação é em
serviço e não presencial. Para nós se mantém o necessário debate em relação à competência
técnica e ao compromisso político, à identidade docente, sendo fundamental manter nossa
capideÉdeÉreXxãoÉfrentÉaosÉdesaWoÉdaÉrealidÉmaterilÉdaÉvidaÉdoÉtrablhdoÉdaÉ
educação nessa sociedade. Estamos certas de que a experiência do PV trouxe para a UFV
aÉoportunidaeÉdeÉumaÉgrandeÉreXxãoÉumÉprocesÉricoÉdeÉproduçãoÉdeÉconhecimtsÉ
sobre seleção e organização de conteúdos curriculares, métodos e metodologias e sobre
como encaminhar decisões posteriores para a implementação de outras políticas de for-
mação.
Referências
VESÉN
AL ildaÉOLIVERAÉInêsÉBarbosÉdeÉMANHÃESÉLuizÉCarlosÉMACEDOÉEliza -
bethÉüOrgsÉ Criar currículo no cotidianoÉSãoÉPauloæÉCortezÉÓVVÓ
305
PARTE IV
Outras formações
em curso
306
CAPÍTULO 19
A história do curso de Pedagogia e
o Projeto Veredas: caminhos cruzados
MIRANDA, Glaura Vasquez de; CAIAFA, Umbelina; AMARAL, Ana Lúcia. Veredas –
CursoÉSuperioÉdeÉFormaçãoÉdeÉProfesÉ.ÉHistóraÉeÉEÉBstória rasíliaÉüDFæÉLivrosÉ
2013.
ÉJNAROM éÉM
so Éleuna Avaliação do Ensino Superior a Distância no Brasil. Escola de Co-
çõacinum Éese ÉAÉUsetr Édeda isre vin ÉSe ãoÉPÉ.ÉU
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UNIVERSDAÉFEDRALÉDEÉVIÇOSAÉConselhÉdeÉEnsioÉPesquiaÉeÉExtensãoÉ Re-
solução CEPE 08/2003 - Regimento da Coordenação e Gestão do Projeto VEREDAS.
içoV saÉ MGæÉ ÉUFV SOCÉ ÓVVYÉ DisponívelÉ emæÉ h4pæ&&wwufvbr&socufvbr&ıpageM
id‰WÕZ]Õ^ÉpÉAcesoÉemæÉYWÉJulÓVÓW
307
PARTE IV
Outras formações
em curso
Anexo
Quadro 1. Disciplinas do Curso de Pedagogia Ministradas por Docentes do DPE envolvidos com o
Projeto Veredas1
ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR – TEÓRICA E ESTÁGIO FILOSOFIA
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO FILOSOFIA DA CIÊNCIA FILOSOFIA DA EDUCA-
ANTROPOLOGIA E EDUCAÇÃO ÇÃO
AVALIACAO EM EDUCAÇÃO GESTÃO ESCOLAR – TEÓRICA E ESTÁGIO
CONCEPÇÃO FILOSÓFICA DA EDUCAÇÃO HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA - TEÓRICA E ESTÁGIO INFANCIA E ADOLESCÊNCIA NO BRASIL
CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO BÁSICA INFÂNCIA, LÚDICO E EDUCAÇÃO
DIDÁTICA E PRÁTICA .DE ENS. PORTUGUÊS – TEÓRICA E INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS PEDAGÓGICOS
ESTÁGIO LITERATURA INFANTIL
DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENS. DE CIÊNCIAS – TEÓRICA E MEDIDAS EDUCACIONAIS
ESTÁGIO MEIO AMBIENTE E EDUCAÇÃO
DIDÁTICA E PRÁT. DE ENS. DE GEOGRAFIA – TEÓRICA E METODOLOGIA DE ENSINO SUPERIOR
ESTÁGIO METODOLOGIA DE PESQUISA PEDAGÓGICA
DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENS. DE HISTÓRIA – TEÓRICA E MOVIMENTOS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
ESTÁGIO MUNDIALIZAÇÃO E REFORMAS EDUCACIONAIS
DIDÁTICA E PRÁT. DE ENSI. DE MATEMÁTICA – TEÓRICA NOVAS TECNOLOGIAS APLICADAS AO ENSINO
E ESTÁGIO PEDAGOGIA DE PROJETOS INTERDISCIPLINARES
DIDÁTICA ESPECIAL PARA PORTADORES DE DEFICIÊNCIA PESQUISA SOCIAL EM EDUCAÇÃO
E DE ALTAS HABILIDADES PLANEJAMENTO EDUCACIONAL
DIDÁTICA GERAL E METODOLOGIA DE ENS. – TEÓRICA E POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO
PRÁTICA PRÁTICA DE ENSINO NA ESCOLA DE 1º GRAU -
DIDTICA ESPECIAL E PRÁTICA DE ENSINO DE 2º GRAU ESTÁGIO SUPERVISIONADO
DINÂMICA DE GRUPO PRÁTICA DE FORMAÇÃO ACADÊMICA
ECONOMIA E EDUCAÇÃO PRÁTICA ENSINO EM MATÉRIAS PEDAGÓGICAS
EDUCAÇÃO COMPARADA PRINCÍPIOS E MÉTODOS DE SUPERVISÃO
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ESCOLAR
EDUCAÇÃO E RALIDADE BRASILEIRA PROCESSO EDUCACIONAL NO MEIO RURAL
EDUCAÇÃO ESPECIAL – TEÓRICA E ESTÁGIO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO
EDUCAÇÃO INTANTIL – TEÓRICA E ESTÁGIO PSICOLOGIA
EDUCAÇÃO NA TERCEIRA IDADE PSICOLOGIA APLICADA A ADMINISTRAÇÃO
EDUCAÇÃO RURAL PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
EDUCAÇÃO, ANTROPOLOGIA E ETNIA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO DA
EJA E DIVERSIDADE APRENDIZAGEM – TEÓRICA E PRÁTICA
ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM ENSINO FUNDAMENTAL PSICOLOGIA SOCIAL
ESTATISTICA APLICADA A EDUCAÇÃO SOCIOLOGIA
ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO ENSINO SUPERIOR TECNICAS EM DINÂMICA DE GRUPO
ESTUDOS COMPARADOS EM EDUCAÇÃO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
ESTUDOS INDEPENDENTES
ESTUDOS PEDAGÓGICOS INTEGRADOS
ÉTICA
ETNIA E EDUCAÇÃO NO BRASIL
Fonte: Secretaria do Departamento de Educação – UFV.
1 Essas informações foram adaptadas à elaboração do quadro, suprimindo algumas disciplinas cujos nomes
são diferentes mas os conteúdos são similares, isto porque foi pesquisado um período de tempo integral em
que o/a docente atuou/atua no Departamento de Educação. Sem prejuízo da análise que fazemos neste texto,
optamos por simplificar a apresentação deste levantamento.
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