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Carlos Serrano *
SERRANO, C. Símbolos do poder nos provérbios e nas representações gráficasM abayaM an zan gu
dos Bawoyo de Cabinda-Angola. Rev. do M useu de A rqueologia e E tnologia, S. Paulo, 3:
137-146, 1993.
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SERRANO, C. Sím bolos do poder nos provérbios e nas representações gráficas M a b a y a M an zan gu dos Baw oyo de
Cabinda-Angola. Rev. do M useu de A rqu eologia e E tn ologia, S. Paulo, 3: 137-146, 1993.
Esquema:
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SERRA NO , C. Sím bolos do poder nos provérbios e nas representações gráficas M a b a y a M an zan gu dos Baw oyo de
Cabinda-Angola. Rev. d o M useu de A rqu eologia e E tn ologia, S. Paulo, 3: 137-146, 1993.
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SERRANO , C. Símbolos do poder nos provérbios e nas representações gráficas M a b a y a M an zan gu dos B aw oyo de
Cabinda-Angola. Rev. d o M useu de A rqu eologia e E tn ologia, S. Paulo, 3\ 137-146, 1993.
Fig. 1 - Panela de barro com tampa de madeira esculpida contendo provérbios utilizada pelos
Bawoyo pa ra envio de mensagens.
por vezes ao serviço dos chefes de linhagens denomina “re g a lia ” citarem os aqueles que
(nfumu nkandd). E, ao chefe o dever de mostrar m ais comumente encontram os nos M abaia
suas insígnias como diz o provérbio: Nzunga bem como seu significado na liguagem
proverbial.
"Chinkanda njeie biala chiau
ubeka nlongo, muna ukebila bantu
I- Texto da figura 2
"As insígnias, tu governas com elas
toma conta dos valores, para que possas A figura principal desta tampa é um
duplo sino (ngonge), símbolo do poder com o
tomar conta das pessoas
mesmo significado em várias regiões da África.
Entre os símbolos do poder ou insígnias Ele é utilizado para anunciar a presença do
de autoridade que na tradição ocidental se chefe nas reuniões oficiais, na adm inistração
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Cabinda-Angola. Rev. d o Museu de A rqu eologia e E tn ologia, S. Paulo, 3: 137-146, 1993.
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Cabinda-Angota. Rev. d o M useu d e A rqu eologia e E tn ologia, S. Paulo, 3: 137-146, 1993.
(bimpabas) com a kimpaba para ser respeitado Este provérbio recorda um acontecimento
ou obedecido. Diz-se: histórico de uma aldeia que teria sido queimada
Kimpaba: em guerra porque não respeitou a negociação
Ono ubika Kiau, nfumu nene. de paz que devia se realizar pela presença desta
insígnia. Por analogia também lembra que a
Kimpaba: família (nkcmda) protege-se mesmo que esteja
Quem a deixa (por herança) é sinal, distante.
de ter sido um chefe. Os provérbios desta tam pa em síntese
expressam a necessidade de reconhecimento da
N a outra extremidade do testo um outro autoridade ou da chefia que por extensão pode
sím bolo cham a-se m bondo-fula, espécie de ser o chefe da família (nkcmda). Na organização
embrulho das insígnias de chefia, envolvidas matrilinear dos Bawoyo compete ao tio materno
com um tecido chamado lubongo lufula, tecido este poder. Por isso, esta mensagem é provavel
vegetal da fibra de nkunza. Este embrulho, mente enviada a seu sobrinho ou restantes
mbondo-fula, tal como a kimpaba é um símbolo familiares lembrando seus deveres para com
que faz obedecer aquele que era seu portador, ele.
para resolver questões, por isso diz-se:
M onti na M uba mona Mbondo-fula, II - Texto da figura 3
kanu m a N tende ku siá v/á kó.
A representação é de duas braceletes de
Se M uba tivesse visto o Mbondo-fula, cobre (iluunga), usadas nos tornozelos, além
o povo (aldeia) Ntende nunca seria quei de adorno eram considerados,no passado, bens
mado. de prestígio feminino oferecidos pelo marido
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que têm valor e por isso devem ser tratadas sariamente o mais velho. No entanto, esta tampa
dignamente. analisada num outro contexto, isto é, quando é
enviada a um homem polígamo pode constituir
IV - Texto da figura 5 numa advertência na escolha dos favores de uma
delas em detrimento de uma outra. (Cornet,
E sta figura rep resen ta quatro pom bos 1980:40).
disputando o mesmo grão de amendoim. O A manipulação de signos e símbolos mate
provérbio diz: rializados que caracterizam e legitim am a
linguagem do poder para instaurar a ordem
Bana bcma bcmguli binucmina bueno
constitui uma constante nas diversas esferas da
Ona bela-tumba nandi wela baka buau.
vida social.
Como já afirmamos (Serrano, 1983:40), o
As crianças de uma mesma mãe disputam
imaginário social produzido pelo poder traduz a
a sabedoria: aquele que fo i escolhido,
associação metonimica com os ancestrais e
è aquele que a leva. metafórica com as forças naturais como meca
Esta figura não representa nenhum símbolo nismo legitimador que dá sentido aos símbolos
do poder mas materializa a disputa pelo poder, codificados e os toma eficazes na resolução de
faz alusão à sucessão da chefia dentro da família. conflitos.
É o tio matemo que detém esse poder que deverá, A linguagem proverbial materializada nos
quando velho, preparar o seu sucessor entre os símbolos das Mabaya Manzangu constituem um
diversos filhos de sua irmã, mas não neces exemplo estético do processo ritual anterior
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SERRA NO , C. Sím bolos do poder nos provérbios e nas representações gráficas M a b a ya M an zan gu dos B aw oyo de
Cabinda-Angola. Rev. do M useu de A rqu eologia e E tn ologia, S. Paulo, 3: 137-146, 1993.
mente referido na esfera das relações familiares entre os Bawoyo. O provérbio diz por si :
tradicionais. Porém, a importância cada vez
Ngoyo iéki muaia:
maior da família monogâmica e a diminuição lesiala ko nfumu ina itúma.
de poder dos chefes tradicionais, no contexto
moderno, tem conduzido ao desaparecimento O Ngoyo está vazio:
deste processo da troca simbólica de mensagens Não fico u chefe para mandar.
SERRANO, C. Symbols o f power in the proverbs and graphic representations M abaya M anzangu
o fth e Bawoyo o f Cabinda-Angola. Rev. doM u seu de A rqu eologia, São Paulo, 3: 137-146,
1993.
Referencias bibliográficas
R e c e b id o p a r a p u b lic a ç ã o em 21 d e ju n h o d e 1993.
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