Você está na página 1de 10

R ev. d o M u seu d e A rq u e o lo g ia e E tn o lo g ia , S. Paulo, 3: 137-146, 1993.

SÍMBOLOS DO PODER NOS PROVÉRBIOS E NAS


REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS MABAYA MANZANGU DOS
BAWOYO DE CABINDA-ANGOLA

Carlos Serrano *

SERRANO, C. Símbolos do poder nos provérbios e nas representações gráficasM abayaM an zan gu
dos Bawoyo de Cabinda-Angola. Rev. do M useu de A rqueologia e E tnologia, S. Paulo, 3:
137-146, 1993.

RESU M O : O au to r an alisa alguns sím bolos do poder asso ciad o s a


representações gráficas esculpidas em tampas de panela {Mabaya M anzangu) e
a enunciação de provérbios utilizados entre os Bawoyo de Cabinda (Angola)
como processo ritual de solucionar tensões e conflitos familiares.

UNITERMOS: Cabinda (Angola) - Bawoyo - Representações gráficas -


Símbolos do poder - Provérbios.

N a m aioria das sociedades tradicionais cerca. Porque o homem é o suporte privilegiado


africanas, sociedades orais, a transmissão de da força vital que anim a a palavra e neste
toda herança cultural tornou vital a im por­ princípio podem os com preender m elhor o
tância do elo que une o homem à palavra. É contexto mágico religioso e social no qual se
pela palavra que se pode reconstituir a história situa o respeito pela palavra nas sociedades de
tradicional de um povo, mas também a própria tradição oral.
coesão da so cied ad e depende do valor e Em alguns trabalhos atuais de Antropologia,
respeito à palavra. analisa-se a religião e a magia como crenças e
Nas tradições africanas, a palavra falada, técnicas de manipulação do mundo e do homem,
além de seu valor moral fundamental, possui que só adquirem sentido quando relacionadas a um
um caráter sagrado que associa à sua origem conjunto mais amplo: toda a concepção do mundo
divina e às forças ocultas nela depositadas. e da sociedade elaborada por um grupo humano.
Sendo agente mágico por excelência e grande Ultrapassou-se assim o plano dos fatos mágico-
vetor de “forças etéricas”, não pode ser usada religiosos, que são apenas o aspecto mais espetacular
le v ia n a m e n te , com o nos en sin a A m adou de uma “realidade” ideológica bem mais ampla.
Hampaté Bâ. Segundo a tradição africana, a pa­ M auss referindo-se à noção de “m ana” ,
lavra que retira do sagrado seu poder criador e localiza o conceito de força espiritual (não
operativo, encontra-se em relação direta tanto cofundir com força vital) como a essência do
com a m anutenção como com a ruptura da mágico, comparável ao nosso conceito de “força
harmonia, seja do homem seja no mundo que o mecânica”, e capaz de assimilar o mágico ao
mais geral princípio de causalidade (Tambiah,
1968:202).
(*) Departamento de Antropologia da FFLCH e Museu Como Tambiah, podemos analisar os rituais,
de A rqueologia e E tnologia da Universidade de São como uma linguagem dirigida aos participantes
Paulo. e os usos da técn ica com o te n ta tiv a s de

137
SERRANO, C. Sím bolos do poder nos provérbios e nas representações gráficas M a b a y a M an zan gu dos Baw oyo de
Cabinda-Angola. Rev. do M useu de A rqu eologia e E tn ologia, S. Paulo, 3: 137-146, 1993.

reestruturar e integrar os pensamentos e emoções e a enunciação de provérbios a eles associados.


dos atores. A técnica combina comportamentos Os Bawoyo são um grupo étnico situado na
verbais e não verbais explorando suas pro­ África Central, na margem direita da foz do rio
priedades específicas. Zaire, na província angolana de C abinda.
A eficácia da magia se assenta na crença Constituiu até meados do século XIX o pequeno
coletiva do poder da força vital contida na reino de Ngoyo que durante o tráfico de escravos
palavra, na ação ritual que a desencadeia e ainda para o Brasil, sobretudo no século XVIII teve seu
nos suportes biológicos— o homem, ou nos apogeu (ver mapa anexo). Este grupo étnico que
suportes materializados —objetos rituais criados deu entrada no B rasil foi conhecido como
por ele. Cabindas, nome do porto mais conhecido daquela
Quaisquer formas de utilização das pala­ região de onde provinham (Serrano, 1983).
vras usadas num só sentido, isto é unilateral e É sobretudo em reuniões públicas, entre os
não publicamente são condenadas e produzem Bawoyo, onde se usa com frequência o enun­
uma eficácia restrita a certos limites sociais. ciado de provérbios que m elhor podem os
M ary Douglas dá-nos um bom exemplo analisar esse problema. Neste espaço e tempo
referindo-se à crença na feitiçaria: “o feiticeiro ritual a relação entre as forças vitais a invocação
é o mágico que tenta transformar o caminho dos dos ancestrais e o sistema simbólico se rela­
eventos através de decretos simbólicos. Pode cionam e se in stru m en talizam a tra v é s da
usar gestos ou palavras em feitiços ou encanta­ palavra.
mentos. Agora, as palavras são o momento No início da discussão de uma questão
próprio de comunicação entre as pessoas. Se há (diambu) ou de um julgamento público (funda-
uma idéia de que palavras ditas corretamente são nkanú), o chefe invocando os an cestrais e
essenciais à eficácia da ação, então embora a abrindo a sessão fala:
coisa dita não possa recrutar, há crença num tipo Ba tata, ba mama, si anu: ioh!
lim itado de com unicação verbal unilateral”
Pais, mães (homens, mulheres), dizei: ioh!
(Mary Douglas, 1976:108).
(Sim!)
Somente a palavra exata, não rompendo com
a harmonia cósmica, nas sociedades africanas, A assistência repete a inteijeição final. Na
cum pre em sua forma ritual com a função disposição do assunto o discurso é diversas vezes
integradora e dinâmica. interrom pido para a enunciação de vários
Diz o adágio: “Quem estraga a sua palavra provérbios que obedecem à mesma estrutura de
estraga-se a si mesmo”. comunicação entre o orador e assistência, como
O adágio é uma dessas fórmulas rituais que o anterior, segundo o seguinte esquema:
integra os indivíduos dentro da sociedade,
invocando a ordem estabelecida, a autoridade Provérbio no contexto do discurso público
dos an cestrais (princípios m íticos) e seus Orador: Batuma ke fum u
intermediários viventes: os chefes.
Coro: Kumanga ko
É entre os Bawoyo que pretedemos funda­
mentar nossa análise sobre alguns símbolos do Quando és mandado po r um chefe,
poder em relação às suas representações gráficas Deves obedecer.

Esquema:

Enunciado interrom pido------------->(•••)---------->completado (...)------ >

orador >(•■)--------- > público (...)------ >

138
SERRA NO , C. Sím bolos do poder nos provérbios e nas representações gráficas M a b a y a M an zan gu dos Baw oyo de
Cabinda-Angola. Rev. d o M useu de A rqu eologia e E tn ologia, S. Paulo, 3: 137-146, 1993.

Tempo ritual e eficácia simbólica

>[continuação do discurso] >[nova interrupção] ( ...) ---------->

->[retomo à totalidade] >[ a comunidade expressa]------->


[(...) (ancestrais)] [ o todo e a harmonia ]

Exemplo: representações icônicas enunciando provérbios.


Nestes discos, os símbolos provérbios distri­
A benu sianu abu ti ioh! (...) Ioh! Ioh!
buem-se da seguinte forma: o símbolo principal
Ioh, ioh ibika ba (...) Bakulu! situa-se no centro do disco rem etendo ao
B akulula (...) N hiundu! provérbio principal e outros símbolos menores
situam-se periféricamente àquele enunciando
O gente dizei todos sim ! (...) Sim! Sim! provérbios complementares.
O que deixaram os nossos (...) Antepas­ As representações icônicas elaboradas por
sados'. este sistema operam pela transmissão direta, ou
m ais frequentem ente por um processo que
N ossos antepassados (...) Opinem!
procede pela analogia, pela m etáfora, pela
Se tais processos correspondem àquilo que metonimia ou pela homofonia. A maior parte
o poderíamos chamar de "situações-microcos- das representações e dos símbolos referem-se
mos”, por analogia temos os “objetos-microcosmos” a um provérbio, cujo contexto sócio-cultural
que podem cumprir as mesmas funções rituais. fornece seu valor à função sem ântica desse
A palavra tom a-se silenciosa, mas está sistema (Maensen, s/d).
presente, ela é incorporada, materializada em Entre os Bawoyo, o provérbio é um dos
objetos, esculturas, representações gráficas, seu meios de comunicação que melhor expressam
novo suporte. Como muito bem explica Cartry: seu pensamento, sua visão de mundo, pelo seu
“os signos comandam as ‘coisas’, e o artesão uso constante. Há provérbios para todos os
dos signos, longe de se tornar um sim ples momentos da sua vida. São enunciados, muitas
imitador, completa sua obra que lembra a obra vezes, em m om entos de ten são com o de
divina” . recriminação ou recom endação de um dado
O provérbio expressa em si uma forma de comportamento.
m em orizar a experiência hum ana, com fins É o caso do momento em que é ofertado o
moralizadores, no que se pode denominar um alimento, em uma panela de barro coberta por
saber mnemônico (Comet, 1980:24). O recurso uma tampa de madeira esculpida com um ou
a práticas mnemotécnicas são comuns a quase mais símbolos, à pessoa à qual se quer enviada
toda a África tradicional para fixar o saber de determinada mensagem com aquela finalidade
seus ancestrais. No entanto, entre os Bawoyo (ver figura 1). Esta oferta se faz publicamente
esse sistema de transmissão de provérbios se porque normalmente o consumo de alimento
revela eficaz se analizado através de suas também se dá desta forma. Ao se explicitar
representações gráficas. ritualmente a tensão existente procura-se evitar
A expressão mais adequada deste suporte que se gerem conflitos maiores, futuramente.
da palavra proverbial, entre os Bawoyo, é nos Estas tampas de madeira (esculpidas g eral­
fornecida pelos discos de m adeira (mabaya mente em C rossopterixfebrífuga), são usadas
nzunga, singular: libayp linzunga), que contêm pelos membros de uma fam ília (nkanda), ou

139
SERRANO , C. Símbolos do poder nos provérbios e nas representações gráficas M a b a y a M an zan gu dos B aw oyo de
Cabinda-Angola. Rev. d o M useu de A rqu eologia e E tn ologia, S. Paulo, 3\ 137-146, 1993.

Fig. 1 - Panela de barro com tampa de madeira esculpida contendo provérbios utilizada pelos
Bawoyo pa ra envio de mensagens.

por vezes ao serviço dos chefes de linhagens denomina “re g a lia ” citarem os aqueles que
(nfumu nkandd). E, ao chefe o dever de mostrar m ais comumente encontram os nos M abaia
suas insígnias como diz o provérbio: Nzunga bem como seu significado na liguagem
proverbial.
"Chinkanda njeie biala chiau
ubeka nlongo, muna ukebila bantu
I- Texto da figura 2
"As insígnias, tu governas com elas
toma conta dos valores, para que possas A figura principal desta tampa é um
duplo sino (ngonge), símbolo do poder com o
tomar conta das pessoas
mesmo significado em várias regiões da África.
Entre os símbolos do poder ou insígnias Ele é utilizado para anunciar a presença do
de autoridade que na tradição ocidental se chefe nas reuniões oficiais, na adm inistração

141
SERRANO , C. Sím bolos do poder nos provérbios e nas representações gráficas M abaya M anzangu dos B aw oyo de
Cabinda-Angola. Rev. d o Museu de A rqu eologia e E tn ologia, S. Paulo, 3: 137-146, 1993.

Fig. 2 - Tampa esculpida, libaya linzungu. Foto M useu de Etnologia, Lisboa.

da ju s tiç a , nas com unicações reais, num Ntanda zi mpungi:


anúncio de luto de gente importante, ou de uma Bakúlu b ’ami babika.
investidura real. Como diz o provérbio:
Fila de trompas:
M bem bo fu m u mu siku Deixaram-me os meus antepassados.
A voz do chefe, é a dos instrumentos Para os tambores pequenos (kula), temos:
Este provérbio refere-se não só ao duplo Abu bisikila ikula
sino m as a todos os instrum entos que são Fumu to, nfiote ve.
insígnias do poder, trom pas de m arfim (zi
mpungí), tambores pequenos (kula) e tambores A quem se tocam os kula:
grandes (ngoma) que também aparecem nesta E um chefe grande, não é a pequeno.
tampa. Uma outra insígnia do poder presente neste
Existe, porém, um provérbio para cada um testo é a kimpabala (também kimpaba) ou faca
dos elementos, assim temos para o duplo sino: da chefia, espécie de cutelo de metal (também
Ono ke ngonge nfumu nene existe de marfim) com diferentes recortes num dos
ono u kambua ngonge chi nfumu nene ko gumes conforme a linhagem nobre a que pertença.
Sua designação parece p rovir do verbo
Quem tem duplo sino é chefe grande kimpakubala que em kikongo significa: poder ou
Quem não tem duplo sino não é chefe grande. faculdade de se tomar invisível. Por analogia
parece ser o seu verdadeiro significado porque o
As trompas de marfim (zi mpungí), enuncia chefe, detentor desta insígnia, não necessitava
um provérbio complementar que completa ou estar presente para dar ordens ou resolver
reforça o sentido do principal: questões. Enviava um ajudante ou emissário

142
SERRA NO , C. Sím bolos do poder nos provérbios e nas representações gráficas M a b a y a M an zan gu dos Baw oyo de
Cabinda-Angota. Rev. d o M useu d e A rqu eologia e E tn ologia, S. Paulo, 3: 137-146, 1993.

Fig. 3 - Tampa esculpida, libaya linzungu. FotoM .R.A.C. Tervuren.

(bimpabas) com a kimpaba para ser respeitado Este provérbio recorda um acontecimento
ou obedecido. Diz-se: histórico de uma aldeia que teria sido queimada
Kimpaba: em guerra porque não respeitou a negociação
Ono ubika Kiau, nfumu nene. de paz que devia se realizar pela presença desta
insígnia. Por analogia também lembra que a
Kimpaba: família (nkcmda) protege-se mesmo que esteja
Quem a deixa (por herança) é sinal, distante.
de ter sido um chefe. Os provérbios desta tam pa em síntese
expressam a necessidade de reconhecimento da
N a outra extremidade do testo um outro autoridade ou da chefia que por extensão pode
sím bolo cham a-se m bondo-fula, espécie de ser o chefe da família (nkcmda). Na organização
embrulho das insígnias de chefia, envolvidas matrilinear dos Bawoyo compete ao tio materno
com um tecido chamado lubongo lufula, tecido este poder. Por isso, esta mensagem é provavel­
vegetal da fibra de nkunza. Este embrulho, mente enviada a seu sobrinho ou restantes
mbondo-fula, tal como a kimpaba é um símbolo familiares lembrando seus deveres para com
que faz obedecer aquele que era seu portador, ele.
para resolver questões, por isso diz-se:
M onti na M uba mona Mbondo-fula, II - Texto da figura 3
kanu m a N tende ku siá v/á kó.
A representação é de duas braceletes de
Se M uba tivesse visto o Mbondo-fula, cobre (iluunga), usadas nos tornozelos, além
o povo (aldeia) Ntende nunca seria quei­ de adorno eram considerados,no passado, bens
mado. de prestígio feminino oferecidos pelo marido

143
SERRANO , C. Sím bolos do poder nos provérbios e nas representações gráficas M abaya M an zan gu dos Baw oyo de
Cabinda-Angola. Rev. d o M useu de A rqu eologia e E tn ologia, S. Paulo, 3: 137-146, 1993.

Fig. 4 - Tampa esculpida, libaya linzungu. Foto M useu de Etnologia, Lisboa.

à mulher. A enunciação do provérbio esbelece Um caixão de três pontas:


um diálogo entre os dois: aquele que é enterrado com ele é chefe de
- Botula iluunga ke sizina: família.
- miinu muntu , miinu lendeze. O caixão de três pontas não só lembra o dever
dos mais novos darem um enterro condigno a seus
- Tire os braceletes, têm piolhos.
mais velhos (mukuluntos) mas também a origem
- Eu homem, me ofendes.
e posição social de um dos elementos que envia a
A esposa ao enviar este testo ao seu marido mensagem, o provérbio com plem entar vem
recrimina de suas discussões por motivos futeis e refoçar esta idéia:
desrespeitoso enquanto ela cumpre com os seus Titi chi Lelele i titi chi Nkamba
deveres. Lembra-lhe assim sua origem social e
Monti ku sié zaba kó tumuna,
seu tratamento adequado.
mé tumuna china chi ké mbongo.
III - Texto da figura 4 Planta Lelele e planta Nkamba
O provérbio principal está materializado nesta Quando não a distingues,
tampa num caixão de três pontas só usado pelos és capaz de arrancar a que serve para comer,
chefes. Diz-nos: (e deixar a erva daninha)
Lukata la matumbi matatu: A mensagem é a de saber aquilo a que
ona wiziamina luau nfumu kcmda. realmente deve ser dado valor. Quais as pessoas

144
SERRA NO , C. Sím bolos do poder nos provérbios e nas representações gráficas M a b a y a M an zan gu dos Baw oyo de
Cabinda-Angola. Rev. d o M useu de A rqu eologia e E tn ologia, S. Paulo, 3: 137-146, 1993.

Fig. 5 - Tampa esculpida, libaya linzungu. Foto Museu de Etnologia, Lisboa.

que têm valor e por isso devem ser tratadas sariamente o mais velho. No entanto, esta tampa
dignamente. analisada num outro contexto, isto é, quando é
enviada a um homem polígamo pode constituir
IV - Texto da figura 5 numa advertência na escolha dos favores de uma
delas em detrimento de uma outra. (Cornet,
E sta figura rep resen ta quatro pom bos 1980:40).
disputando o mesmo grão de amendoim. O A manipulação de signos e símbolos mate­
provérbio diz: rializados que caracterizam e legitim am a
linguagem do poder para instaurar a ordem
Bana bcma bcmguli binucmina bueno
constitui uma constante nas diversas esferas da
Ona bela-tumba nandi wela baka buau.
vida social.
Como já afirmamos (Serrano, 1983:40), o
As crianças de uma mesma mãe disputam
imaginário social produzido pelo poder traduz a
a sabedoria: aquele que fo i escolhido,
associação metonimica com os ancestrais e
è aquele que a leva. metafórica com as forças naturais como meca­
Esta figura não representa nenhum símbolo nismo legitimador que dá sentido aos símbolos
do poder mas materializa a disputa pelo poder, codificados e os toma eficazes na resolução de
faz alusão à sucessão da chefia dentro da família. conflitos.
É o tio matemo que detém esse poder que deverá, A linguagem proverbial materializada nos
quando velho, preparar o seu sucessor entre os símbolos das Mabaya Manzangu constituem um
diversos filhos de sua irmã, mas não neces­ exemplo estético do processo ritual anterior­

145
SERRA NO , C. Sím bolos do poder nos provérbios e nas representações gráficas M a b a ya M an zan gu dos B aw oyo de
Cabinda-Angola. Rev. do M useu de A rqu eologia e E tn ologia, S. Paulo, 3: 137-146, 1993.

mente referido na esfera das relações familiares entre os Bawoyo. O provérbio diz por si :
tradicionais. Porém, a importância cada vez
Ngoyo iéki muaia:
maior da família monogâmica e a diminuição lesiala ko nfumu ina itúma.
de poder dos chefes tradicionais, no contexto
moderno, tem conduzido ao desaparecimento O Ngoyo está vazio:
deste processo da troca simbólica de mensagens Não fico u chefe para mandar.

SERRANO, C. Symbols o f power in the proverbs and graphic representations M abaya M anzangu
o fth e Bawoyo o f Cabinda-Angola. Rev. doM u seu de A rqu eologia, São Paulo, 3: 137-146,
1993.

ABSTRACT: This article analyses some symbols of power in graphic


representations sculptured in top lids (Mabaya Manzangu) and the enunciation
of proverbs used among the Bawoyo of Cabinda (Angola), as the ritual process
for solving the tensions and conflicts in family relations.

UNITERMS: Cabinda (Angola) - Bawoyo - Graphics Representations -


Symbols o f Power - Proverbs

Referencias bibliográficas

COELHO, José Gonçalves (1 9 5 0 ) A m aterialização dos e os H o m en s d o M a r. S ão P au lo, F FL C H /U SP


provérbios entre os negro-africanos e especialmente (Coleção de Antropologia, 2), 175 p.
entre as gentes de Cabinda. M ensário Adm inistrativo, S O U S B E R G H E ,(L .) S .J .(1 9 5 5 ) L’É tude du droit
5 7 -3 2 :4 1 -5 4 . coutum ier indigène, méthode et obstacles. Z a ire,
CORNET, Joseph (F.S.C.) ( 1 9 8 0 )P icto-graphies. Woyo. Bruxelles, 7A-2:339-357.
M ilano, A ssociation “ PORO”, 141 p. (Quaderni TAMBIAH, S. J. (1 9 6 8 ) The M agical Power o f Words.
PORO, 2) M an, 3 (2): 176-208.
D IC IO N Á R IO PR Á TIC O (1 9 4 7 ) P ortu gu ês-F iote, VAZ, Pe. José Martins (s.d .) T estos d e P a n e la d o s
Cabinda, Edição da Tipografía da Missão Evangélica C abin das em M useus A m erican os. Lisboa, Editorial
de Angola, 105 p. LIAM.
HAMPATE BÂ , A (1 9 7 9 ) A palavra, memória viva da — (1 9 6 9 ) F ilosofia T radicional d o s C abin das. Lisboa.
África. O C o rreio da U nesco. Rio de Janeiro, 1 0 / AGU. 2v.
77:17-23. — (1 9 7 6 ) L es C o u v e rc le s S c u lp té s d e s C a b in d a is
KARREM ANS,R. (1 9 7 1 -2 ) É tu des d ’une collection de (M a b a ia m a N zu n g u ) M o y e n d e c o m u n ic a tio n
co u vercles Woyo, mémmoire de licence dirigé par fa m ilia le . Thèse de Doctorat du 3e. cy cle, Paris,
m on sieu r L uc de H eu sch. H isto ire de l ’Art et EHESS, 306 p.
Archéologie, Année académique 1971-2. Université VERGANI, Teresa (1 9 8 8 ) Um discurso conjugal em
Livre de Bruxelles, 73 p. relevo: para uma descodifïcação posicionai das figuras
M AESEN, A (s.d.) Commentaire des planches: disque à escu lp id as nos M a b a ia M a n za n g u de C abinda.
proverbes. Um bangu (Art en B elgique, 3), MRAC. R evista In tern acion al de E stu dos A frican os, 8:93-
M ARTINS, Pe. Joaquim (1 9 8 0 ) S a b ed o ria C abin da. 155.
Lisboa, JIU, 2v. Z O L A N icolas (1 9 6 0 ) Proverbes des Bawoyo. C arn ets
MCGUIRRE, H. (1 9 8 0 ) Woyo Pot Lids. A fricans A rts, N gon ge, Kinshasa, 4:2.
XIII, 2, février: 54-6. — (1 9 6 5 ) Proverbes des Bawoyo. C a rn ets N g o n g e,
SERRANO, Carlos M.H. (1 9 8 3 ) O s S en h ores d a Terra Kinshasa, 79:4.

R e c e b id o p a r a p u b lic a ç ã o em 21 d e ju n h o d e 1993.

146

Você também pode gostar